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ANÁLISE BASEADA NA SEMIÓTICA FRNCESA DE DUAS TOADAS DO BOI BUMBÁ

CAPRICHOSO: “SAGA DE UM CANOEIRO” DE RONALDO BARBOSA, 1993 E


“SABEDORIA DE UM PROEIRO” DE ENÉAS DIAS, MARCIA COSTA, MOISÉS COLARES
E JOÃO KENNEDY, 2008.
FIGUEIREDO Carly Anny Barros1; CATALÃO Antonio Heriberto Junior 2

Este trabalho se constitui de uma análise baseada na semiótica francesa, na qual se propõe
analisar duas toadas do Boi-Bumbá Caprichoso, compostas em um espaço de tempo de quinze
anos, onde há descrita a performance narrativa do caboclo, que se locomove de canoa pelas
vias hidrográficas da região amazônica, ora figurativizado como “canoeiro” em “Saga de um
canoeiro”, composta em 1993, ora como “proeiro” em “Sabedoria de um proeiro”, de 2008.
O objetivo principal é identificar como é significada a figura do “canoeiro/proeiro” e como
são construídas as relações juntivas entre canoeiro/proeiro, a natureza e enunciador (o
compositor da toada). Definem-se assim, pois, os objetivos específicos do trabalho: verificar,
em cada toada, como é significada a figura do canoeiro/proeiro; como é significada a relação
entre canoeiro/proeiro e natureza e, mais especificamente, o rio; como é significada a relação
entre o enunciador do discurso manifestado na toada e seus elementos (canoeiro e natureza);
finalmente, comparar a maneira como tais elemento se apresentam nas duas toadas. O método
adotado consistiu na análise semiótica desses discursos, considerando-se as figuras e as
isotopias figurativas utilizadas pelo enunciador para significar o sujeito “caboclo amazônico
que locomove-se de canoa”, figurativizado como “canoeiro” na toada lançada em 1993,
“Saga de Um Canoeiro”, e como “proeiro” em 2008, na toada “Sabedoria de um proeiro”,
ambas pertencentes ao Boi-Bumbá Caprichoso. Os resultados da análise semiótica foram os
seguintes: Na primeira toada, “Saga de Um Canoeiro”, constatou-se que a relação juntiva
entre canoeiro e rio baseia-se no plano sensorial mais corporal, isto é, na dimensão tátil
(inclusive muscular), uma vez que a vivência entre os dois sujeitos é física. O caboclo é
figurativizado como “canoeiro” que se deixa levar “pelos braços do rio”, uma metáfora usada
para simular o encontro em que o canoeiro e rio entram em conjunção na dimensão tátil.
Assim, há a performance narrativa dos dois sujeitos que interagem: “Vai um canoeiro/nos
braços do rio”. A segunda figura apresentada é a do “Velho canoeiro” para euforizar a
experiência, a rotina de vida na qual a relação juntiva com o rio é recorrente na vida do
canoeiro: “Velho canoeiro, vai/(Já vai canoeiro)”. O enunciador neste verso aponta mais uma
relação juntiva entre o canoeiro e o rio, desta vez no segundo plano sensorial, o auditivo, já
que o murmúrio exige a atenção do canoeiro, seu silêncio e audição aguçada: “Vai um
canoeiro/no murmúrio do rio”; há também o momento no qual o canoeiro entra em conjunção
com a natureza figurativizada como “mata”, num plano sensorial auditivo: “No silêncio da
mata, vai/(Já vai canoeiro). Dessa forma, a relação juntiva homem/ natureza/ rio, se dá
também na dimensão sensorial auditiva, porém não se encerra aí; estreita-se no plano físico
através do contato da canoa e remo, elementos que são extensão do canoeiro, a natureza na
figura da mata e o rio. O elemento remo também traz a figura do ser direcionador do caminho
do canoeiro nas vias aquáticas: “Já vai canoeiro/ nas curvas que o remo dá/(Já vai canoeiro).
O contato físico fica claro ao evidenciar o efeito que tem a relação conjuntiva água (rio)/canoa
e remo do canoeiro, baseada no plano sensorial tátil-muscular, resultante do remanso
(redemoinhos e banzeiro deixados na água pelo remo e canoa): “Já vai canoeiro/ no remanso
da travessia/(Já vai canoeiro). A dimensão física fica explícita também na performance
narrativa do embate entre canoeiro/rio, é a figurativização de um segundo momento da
viagem em que o rio apresenta seu banzeiro, a isotopia do sujeito rio que demonstra força e
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Acadêmica do 5º período de Comunicação Social/Jornalismo do ICSEZ/UFAM.


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O orientador é Doutorando em Linguistica e Língua Portuguesa pela UNESP, Professor do Instituto
de Ciências Sociais, Educação e Zootecnia – ICSEZ/UFAM.
testa a persistência do canoeiro ansioso por entrar em conjunção com outro objeto-valor,
“descanso” localizado num “porto distante”, e que precisa enfrentar os obstáculos impostos
pelo sujeito rio: “Enfrenta o banzeiro nas ondas do rio/e nas correntezas vai um desafio/(Já
vai canoeiro)”. Há a representação do pensamento do caboclo ao enfrentar os obstáculos da
viagem, a sua chegada e uma nova viagem pretendida, pois esta é a essência do canoeiro
“estar sempre em conjunção com o rio”: “Da tua canoa o teu pensamento/ Apenas chegar/
apenas partir/(Já vai canoeiro)”. Neste trecho é reforçado a relação juntiva física entre
canoeiro e rio, da qual apresenta-se a conseqüência de um encontro sensorial tátil muscular na
performance dos sujeitos que produzem cansaço da grande viagem feita pelo caboclo, bem
como o resultado da relação juntiva canoeiro/remo/rio, no ato de remar nas longas distancias
que este percorre: “Seu corpo cansado de grandes viagens/(Já vai canoeiro) /Tuas mãos
calejadas de remo a remar/(Já vai canoeiro)/Das tuas viagens de tantas remadas”. O
enunciador aponta neste verso “o descanso” como objeto-valor do canoeiro, localizado num
porto distante, para onde o rio o “leva nos braços”, mas como a toada narra uma viagem real,
tem começo, meio e fim cheio de obstáculos e, há a simulação em três momentos: O começo
da viagem com a relação juntiva canoeiro/rio onde o rio o recebe; um segundo momento onde
o rio demonstra sua força ao canoeiro e apresenta os obstáculos da viagem exigindo do
canoeiro força, persistência e coragem, além de representar a intimidade entre os sujeitos
canoeiro e rio; e por último a chegada, o fim da viagem, o momento de o canoeiro entrar em
conjunção com o objeto-valor, “o descanso e a reiteração da vivência física situar-se na
dimensão tátil mais interna, a muscular. A primeira toada termina com o enunciador
manifestando euforia pela postura do canoeiro, em que há a identificação do próprio autor
com o ser e os valores do canoeiro: “Eu sou, eu sou/Sou, sou, sou, sou canoeiro / Canoeiro
vai/ Eu sou, eu sou / Sou, sou, sou, sou canoeiro / Canoeiro vai”. Já na segunda toada,
“Sabedoria de Um Proeiro”, a figurativização do canoeiro é como “proeiro”, o caboclo que se
posiciona no banco da frente da canoa (na proa, portanto) para remar. Este proeiro é
figurativizado como desbravador, dominador da natureza: “Um cenário encantador a
desbravar/ Onde as lágrimas beijam as matas emolduradas pelo vento/ verde amazônico”; a
outra figura apresentada é de descobridor dos segredos que a mata, sua fauna e sua flora
escondem em sua extensão: “Segredos que se estendem além da imensidão”. A natureza passa
a ser figurativizada como beiradão para simular os elementos que se situam às margens do rio;
explicita-se uma relação juntiva entre natureza e os lugares conhecidos pelo proeiro: “Na
harmonia do proeiro e do beiradão”. O enunciador afirma que a sabedoria do proeiro é
adquirida pelo relacionamento harmonioso entre homem e natureza. A natureza aqui
figurativizada como uma mulher, pois o enunciado explicita características femininas como
“curvas”, o “mostrar-se aos olhos do outro”, “oferecer-se à contemplação do outro”. Ao
mesmo tempo em que esta “mulher” entrega seus segredos ao proeiro, se deixa dominar por
ele e aceita seu domínio: “Revelando ao caboclo a sabedoria/O conhecimento de suas curvas”.
A relação conjuntiva proeiro, natureza-rio é estabelecida também ao mencionar “curvas”
para referir-se à natureza e ao mesmo tempo ao caminho deixado pelos paranás, as linhas
formadas pela passagem da água pelos canais aquáticos. Vale à pena ressaltar que a relação
juntiva apresentada baseia-se no plano sensorial, na dimensão visual, o primeiro sentido,
considerado mais superficial; o proeiro apenas olha, vê não tem contato físico com a natureza:
“ Corre mureru, corre canarana”. Esta conjunção sensorial visual entre proeiro e rio, onde o
rio Amazonas é mencionado com a figura “força barrenta”que se deixa conhecer, entrega
seus mistérios ao olhar do proeiro: “Corre mureru, corre canarana / que a força barrenta se
entrega ao olhar”. O enunciador euforiza a relação juntiva visual ao citar o olhar do canoeiro
caracterizado como “doce olhar”, diferenciando este do olhar ganancioso de ver a natureza;
entretanto, ao caracterizar o olhar do proeiro como “sedutor”, o enunciador simula a conquista
Acadêmica do 5º período de Comunicação Social/Jornalismo do ICSEZ/UFAM.
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O orientador é Doutorando em Linguistica e Língua Portuguesa pela UNESP, Professor do Instituto
de Ciências Sociais, Educação e Zootecnia – ICSEZ/UFAM.
do homem sobre a natureza feminilizada, do qual o rio faz parte: “Ao mais doce olhar sedutor
do canoeiro remador”. Levanta-se a hipótese de usar o lexema “sedutor” para rimar com
“canoeiro remador”, outra figura para proeiro e que explica a canoa e o remo como extensão
do proeiro. O percurso narrativo aludido euforiza o proeiro com a figura “conhecedor dos
labirintos”, que lhe atribui experiência em navegar pelos caminhos aquáticos, idéia reforçada
pela expressão “prático destino”, pois prático, segundo o Dicionário Aurélio, “é aquele que
conhece bem os acidentes hidrográficos de áreas restritas e conduz embarcações através dela”,
figura usada para especificar a atividade do proeiro. Ao figurativizar o proeiro como “herói
navegador”, há a euforia da atitude do proeiro que não agride a natureza, já que seu domínio
restringe-se ao plano sensorial visual. O enunciador procura, neste trecho, especificar as
figuras que compõem os mosaicos naturais, isotopias de natureza, ao mesmo tempo em que
expõe a relação juntiva natureza/rio/proeiro: “Dos mosaicos naturais, banco de areia ( figura
das praias), ponta de pedra (terreno à beira do rio composto por rochas), banco de canoa
(extensão do proeiro), beira de rio (parte da terra que entra em conjunção com o rio). Os dois
últimos versos figurativizam o proeiro de modo distinto: “Caboclo proeiro (caboclo que se
locomove de canoa sentado na proa), matreiro (esperto). No último verso o proeiro é
figurativizado como “cismado, aquele que desconfia e está atento”, o autor euforiza o fato de
o proeiro estar atento e confirma a dimensão sensorial visual, contudo, no final da toada, o
enunciador apresenta uma nova figura, “anjo bravio”, cuja presença no enunciado não me
parece explicável; por isso, levanta-se a hipótese de que o enunciador privilegia a sonoridade
em detrimento do sentido, ou seja, privilegia-se um efeito no plano da expressão, em
detrimento do plano do conteúdo. Chega-se à conclusão de que as duas toadas seguem planos
discursivos bem distintos, pois em “Saga de um canoeiro” a relação juntiva é mais próxima
porque se dá no plano sensorial na dimensão tátil muscular. Já “Sabedoria de um proeiro”
apresenta relação juntiva na dimensão visual. Na primeira toada a relação homem natureza se
estreita e é concreta, na segunda há apenas a contemplação do homem para com a natureza;
por fim, a primeira toada prioriza o conteúdo enquanto a segunda prioriza a expressão. As
duas músicas de boi- bumbá, nesse intervalo de quinze anos, podem indicar mudanças de
discurso, já que a primeira demonstra uma preocupação com o conteúdo, onde é citado o
caboclo no seu universo real e, a segunda por sua vez, enfatiza mais o Plano da Expressão e,
no Plano do Conteúdo, apresenta o caboclo a partir de comportamentos idealizados, portanto,
mais distantes do seu cotidiano. Esse fato autoriza questionamentos: será que o tempo e suas
inovações influenciam no enunciado de outras toadas? Haverá uma tendência de,
contemporaneamente, as toadas priorizarem a expressão ao invés do conteúdo?

Acadêmica do 5º período de Comunicação Social/Jornalismo do ICSEZ/UFAM.


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O orientador é Doutorando em Linguistica e Língua Portuguesa pela UNESP, Professor do Instituto
de Ciências Sociais, Educação e Zootecnia – ICSEZ/UFAM.

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