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Este trabalho se constitui de uma análise baseada na semiótica francesa, na qual se propõe
analisar duas toadas do Boi-Bumbá Caprichoso, compostas em um espaço de tempo de quinze
anos, onde há descrita a performance narrativa do caboclo, que se locomove de canoa pelas
vias hidrográficas da região amazônica, ora figurativizado como “canoeiro” em “Saga de um
canoeiro”, composta em 1993, ora como “proeiro” em “Sabedoria de um proeiro”, de 2008.
O objetivo principal é identificar como é significada a figura do “canoeiro/proeiro” e como
são construídas as relações juntivas entre canoeiro/proeiro, a natureza e enunciador (o
compositor da toada). Definem-se assim, pois, os objetivos específicos do trabalho: verificar,
em cada toada, como é significada a figura do canoeiro/proeiro; como é significada a relação
entre canoeiro/proeiro e natureza e, mais especificamente, o rio; como é significada a relação
entre o enunciador do discurso manifestado na toada e seus elementos (canoeiro e natureza);
finalmente, comparar a maneira como tais elemento se apresentam nas duas toadas. O método
adotado consistiu na análise semiótica desses discursos, considerando-se as figuras e as
isotopias figurativas utilizadas pelo enunciador para significar o sujeito “caboclo amazônico
que locomove-se de canoa”, figurativizado como “canoeiro” na toada lançada em 1993,
“Saga de Um Canoeiro”, e como “proeiro” em 2008, na toada “Sabedoria de um proeiro”,
ambas pertencentes ao Boi-Bumbá Caprichoso. Os resultados da análise semiótica foram os
seguintes: Na primeira toada, “Saga de Um Canoeiro”, constatou-se que a relação juntiva
entre canoeiro e rio baseia-se no plano sensorial mais corporal, isto é, na dimensão tátil
(inclusive muscular), uma vez que a vivência entre os dois sujeitos é física. O caboclo é
figurativizado como “canoeiro” que se deixa levar “pelos braços do rio”, uma metáfora usada
para simular o encontro em que o canoeiro e rio entram em conjunção na dimensão tátil.
Assim, há a performance narrativa dos dois sujeitos que interagem: “Vai um canoeiro/nos
braços do rio”. A segunda figura apresentada é a do “Velho canoeiro” para euforizar a
experiência, a rotina de vida na qual a relação juntiva com o rio é recorrente na vida do
canoeiro: “Velho canoeiro, vai/(Já vai canoeiro)”. O enunciador neste verso aponta mais uma
relação juntiva entre o canoeiro e o rio, desta vez no segundo plano sensorial, o auditivo, já
que o murmúrio exige a atenção do canoeiro, seu silêncio e audição aguçada: “Vai um
canoeiro/no murmúrio do rio”; há também o momento no qual o canoeiro entra em conjunção
com a natureza figurativizada como “mata”, num plano sensorial auditivo: “No silêncio da
mata, vai/(Já vai canoeiro). Dessa forma, a relação juntiva homem/ natureza/ rio, se dá
também na dimensão sensorial auditiva, porém não se encerra aí; estreita-se no plano físico
através do contato da canoa e remo, elementos que são extensão do canoeiro, a natureza na
figura da mata e o rio. O elemento remo também traz a figura do ser direcionador do caminho
do canoeiro nas vias aquáticas: “Já vai canoeiro/ nas curvas que o remo dá/(Já vai canoeiro).
O contato físico fica claro ao evidenciar o efeito que tem a relação conjuntiva água (rio)/canoa
e remo do canoeiro, baseada no plano sensorial tátil-muscular, resultante do remanso
(redemoinhos e banzeiro deixados na água pelo remo e canoa): “Já vai canoeiro/ no remanso
da travessia/(Já vai canoeiro). A dimensão física fica explícita também na performance
narrativa do embate entre canoeiro/rio, é a figurativização de um segundo momento da
viagem em que o rio apresenta seu banzeiro, a isotopia do sujeito rio que demonstra força e
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