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É isso que acontece no efeito Zenão quântico. Um exemplo seria um núcleo radioativo.
Se após uma hora medíssemos quantos átomos decaíram em uma amostra, suponha
que 50% deles o tenham feito. Porém, se medíssemos a cada minuto, no final (após uma
hora) menos de 1% teria decaído! E no limite, se observássemos continuamente o
núcleo radioativo, ele nunca decairia!
O efeito já tinha sido previsto por alguns físicos na década de 1960, mas foi com o
trabalho de Misra & Sudarshan, em 1976, que o efeito passou a ser discutido, e seu
nome foi dado.
Zenão foi o filósofo grego que lançou vários paradoxos para mostrar que, racionalmente,
o movimento não pode ser compreendido. Por exemplo, o corredor Aquiles nunca
poderia atingir a linha de chegada, pois haveria infinitos pontos para ele passar antes de
chegar. Outro nome dado ao efeito Zenão quântico é “efeito da panela observada”.
Alguns filósofos, como o argentino Mario Bunge, atacaram a veracidade do efeito, pois
não admitiriam que uma mera observação pudesse mudar a realidade. Porém, ele
acabou sendo comprovado experimentalmente em 1990, por Itano e seus colaboradores.
O ponto a ser ressaltado é que uma “observação” não é uma mera contemplação
apolínea, distante, mas que ela envolve um forte distúrbio no átomo sendo observado.
Nesse sentido, as dúvidas de Bunge puderam se dissipar, pois o experimento não
desafia a sua postura filosófica “objetivista”.
A chave para entender o efeito Zenão quântico é lembrar que a cada observação ou
medição ocorre um colapso da onda quântica. Os sistemas em questão envolvem uma
lenta transição de um estado para outro. Ao observar constantemente um tal sistema,
provocam-se colapsos constantes para o estado inicial, e ele nunca completa a transição
para o outro estado.
Um átomo pode ser descrito em um estado que envolve duas posições diferentes, X1 e
X2. Antes de efetuar uma medição neste sistema, não se pode dizer que o átomo está
localizado em uma posição definida. Pode-se dizer que ele está “potencialmente” em
duas posições, e que é só após a medição (de posição) que ele se “atualiza” (colapsa)
em uma posição bem definida.
Para quem quiser entender melhor a notação, aí vão dois exercícios simples.
Pois muito bem, chega de exercícios colegianos! Vamos para o caso que nos interessa.
Em certos processos atômicos, pode ocorrer uma lenta transição entre os estados X1 e
X2. De início, o estado é apenas X1, ou seja, o coeficiente c2 tem valor 0. Mas aos
poucos, a probabilidade de X2 vai aumentando, de tal forma que c2 aumenta com o
tempo t, por exemplo: c2 = at, onde a é uma constante pequena.
Suponha que depois de uma hora resolvemos medir a posição do átomo, e suponha que
a probabilidade de obter X2 tenha subido para ½. Assim, se houver muitos átomos,
aproximadamente 50% deles serão encontrados no estado X2. Neste caso, o valor da
constante a é 0,71 (em unidades de hora).
Em suma, se fizermos apenas uma medição após uma hora, 50% dos átomos terão feito
a transição. Se medirmos a cada minuto, ao final de uma hora menos de 1% terão feito a
transição. Se medirmos continuamente, nenhum átomo faz a transição. Eis o efeito
Zenão quântico!