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22/07/2019 As meias verdades | Atualidade | EL PAÍS Brasil

ATUALIDADE

TRIBUNA

As meias verdades
Independentistas catalães têm liberdade na Espanha para expressar suas
ideias e convicções. O que não podem fazer é transgredir a lei e cometer
um golpe de Estado, como tentaram em outubro de 2017
MARIO VARGAS LLOSA

19 JAN 2019 - 21:00 BRST

FERNANDO VICENTE

Como ex-presidente do PEN Internacional (entre 1977 e 1980) e


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atual presidente emérito dessa organização de escritores que,
fundada na Inglaterra no século passado, travou tantas batalhas a
favor da liberdade de expressão e do direito de crítica no mundo,
tenho que declarar minha tristeza e minha vergonha pelo texto A
Troubling Trend: Free Expression Under Fire in Catalonia (“uma
tendência preocupante: liberdade de expressão sob ataque na

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Premiê espanhol Catalunha”), que o PEN de Nova York acaba de publicar em seu
ironiza Bolsonaro ao
criticar extrema
boletim informativo. Infestado de meias verdades − mentiras
direita: “São os dissimuladas −, o texto exagera e distorce o que ocorre na Espanha
voxonaros da
com o movimento independentista catalão e dá a impressão de que
Espanha”
é um país no qual se restringe a liberdade de pensamento,
pisoteiam-se direitos democráticos elementares, impede-se o voto
dos cidadãos e onde juízes insones proíbem aos cantores e
comediantes as zombarias e os excessos toleráveis em todas as
sociedades abertas do resto do mundo.

O governo dos juízes Os autores do texto − Alyssa Edling e Thomas Melia − que o centro
nova-iorquino publica recordam que o PEN norte-americano “não
toma posição sobre o tema da independência catalã”, para depois
endossar todas as patranhas que o centro catalão do PEN (que eu
ajudei a ressuscitar durante minha presidência!) divulgou, como
órgão militante do movimento de independência, sem submetê-las à
mais mínima verificação, e, pior ainda, ocultando fatos básicos, de
atalunha celebra seu
Dia Nacional com modo que uma entidade de prestígio e de impecáveis credenciais
manifestação democráticas aparece difundindo pelo mundo o que são,
massiva pela
simplesmente, invenções e calúnias da propaganda política.
independência

Quando afirma que o referendo de 1º de outubro de 2017 foi


“disrupted” (interrompido) pela polícia que confiscou as urnas e dispersou os votantes
“em ações brutais”, exagera muito: de onde saem essas 893 pessoas feridas que
menciona, se apenas duas pessoas com ferimentos passaram pelo hospital? O mais
grave é aquilo que oculta: que o referendo em questão era completamente ilegal,
proibido pela Constituição e pelas leis vigentes na Espanha, ou seja, um golpe de Estado.
O Governo da Espanha tem o direito e a obrigação de impedir um ato de força como
esse, da mesma forma que os Estados Unidos teriam se o Texas ou a Califórnia
pretendesse se tornar independente e romper a União através de uma consulta local.
Não foram as autoridades que “declararam” ilegal a consulta catalã. É a Constituição
espanhola em vigor − aprovada com a imensa maioria dos votos dos catalães − que
exclui que uma província ou região da Espanha possa se tornar independente por meio
de uma consulta local. Todos os espanhóis devem se pronunciar, como é lógico, sobre o
rompimento de uma unidade territorial formada há cinco séculos.

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O texto sustenta que é uma “restrição inaceitável à expressão pacífica e livre” dos
catalães o fato de que tenham sido impedidos de votar naquela ocasião. Como se, desde
que a atual Constituição está em vigor (1978), não tivessem existido dezenas de
ocasiões em que catalães em particular, e espanhóis em geral, votaram em eleições
locais, nacionais e europeias! Mais uma vez, a astuta omissão – a de que aquele
referendo era delituoso − permite apresentar a Espanha como uma sociedade na qual
um Governo autoritário priva seus cidadãos da mais elementar garantia democrática.

Com mentiras dissimuladas, o PEN de Nova York exagera e deforma


o que ocorre na Espanha e na Catalunha

Para o texto, os músicos e comediantes que foram processados (e, muitas vezes,
absolvidos de qualquer culpa, como aquele que limpou o nariz com uma bandeira da
Espanha) por iniciativa de organismos da sociedade civil ou por procuradores e juízes
(aqui tão independentes como nos Estados Unidos) são indícios dessa “tendência
preocupante” de privar os espanhóis da liberdade de se expressar e de exercer a crítica.
Para alguém que vive na Espanha como eu, tal caricatura tem pouco a ver com a
realidade deste país, que é um dos mais livres do mundo e permite em seu seio a crítica
e os protestos até extremos delirantes. Aqui são lançados panfletos contra o Rei e a
monarquia e insultados sem escrúpulo os líderes políticos, habitualmente submetidos a
uma vigilância implacável por seus adversários e por uma imprensa independente capaz
de invadir a intimidade a tal ponto que é possível afirmar que na Espanha o “privado” já
não existe. No domínio político, as razões e críticas se confundem frequentemente com
injúrias ferozes.

Os independentistas catalães têm na Espanha a mais absoluta liberdade para expressar


suas ideias e convicções, assim como jornais, rádios e canais de televisão que as
difundem e defendem. O que não podem fazer é, em nome delas, transgredir a lei e
cometer um golpe de Estado, que foi o que tentaram em 1º de outubro de 2017. Por esse
suposto delito serão julgados vários políticos catalães, que foram detidos
preventivamente a fim de evitar o risco de que fugissem, como fizeram alguns de seus
cúmplices, que escaparam para ficar sob proteção da Bélgica em uma região dominada
pelos nacionalistas flamengos ultrarreacionários, que, é claro, sentem-se solidários com
o movimento de secessão catalão.
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A transformação da Espanha, graças à Transição, assombrou ao


mundo por ter sido tão pacífica e profunda

Trabalhei muito quando fui presidente do PEN Internacional com o centro nova-iorquino,
quando este era dirigido pela historiadora e ensaísta norte-americana Frances
Fitzgerald. Era uma época de ditaduras abundantes em toda a América Latina e fizemos
campanhas denunciando os crimes que eram cometidos pelos militares argentinos,
uruguaios, chilenos, brasileiros, et cetera, assim como contra a censura e os atropelos
da liberdade de expressão no resto do mundo. Como escritor e latino-americano, sei
muito bem os abusos que os regimes autoritários de esquerda ou de direita cometem e
fui vítima da censura em muitos lugares. Aqui, por exemplo, na Espanha, quando, na
época de Franco, foi publicado meu primeiro livro de contos, tive que levar o manuscrito
à censura, uma casinha anódina e sem nenhuma placa, onde se entregava o texto a um
sujeito anônimo e se passava, dias depois, para recolhê-lo. O censor tinha marcado com
um lápis vermelho as frases e palavras − às vezes capítulos − que deveriam ser
suprimidos ou emendados.

Daquela Espanha, felizmente, resta muito pouco. A transformação vivida por este país,
graças à Transição, assombrou o mundo por ter sido tão pacífica e profunda. Com o
colapso da ditadura de Franco, e encorajadas pelo rei Juan Carlos, todas as forças
políticas, de conservadores a comunistas, concordaram em acabar para sempre com a
Guerra Civil e coexistir em liberdade, em um regime democrático e sob uma
Constituição, a mais livre que a Península Ibérica já teve em toda sua história. Desde
então, a Espanha desfruta de uma liberdade que nunca conheceu antes e que muito
poucas sociedades no mundo têm.

O PEN de Nova York faria muito melhor se se preocupasse com os crimes contra
escritores e jornalistas cometidos debaixo de seus narizes na Venezuela, em Cuba ou na
Nicarágua – onde, além de jornais, rádios e estações de televisão serem fechados, são
presos, torturados e assassinados opositores − em vez de servir de caixa de ressonância
para as mentiras dos separatistas catalães.

Direitos mundiais de imprensa em todas as línguas reservados a Edições EL PAÍS, SL, 2019.

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© Mario Vargas Llosa, 2019.

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