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OPINIÃO
TRIBUNA
FERNANDO VICENTE
Sincronizado com a abertura da terceira Bienal e do Prêmio de Romance que leva meu
nome em Guadalajara (México), em 27 de maio de 2019 circulou pela Espanha e pela
https://brasil.elpais.com/brasil/2019/06/13/opinion/1560443841_951481.html 1/6
22/07/2019 Feminismo: Novas inquisições (II) | Opinião | EL PAÍS Brasil
O texto falseava alguns números. Dizia que nos “painéis” participariam treze homens e
apenas três mulheres. Na verdade, as participantes foram sete e seu desempenho foi
excelente, a julgar pelos aplausos que mereceram dos novecentos estudantes de quase
todo o México convidados a participar da Bienal pela Feira do Livro de Guadalajara (à
qual aproveito para agradecer pela excelente organização do evento). O manifesto, por
outro lado, silenciava o fato de que oito escritoras, que haviam sido convidadas,
declinaram por várias razões; sua presença teria, sem dúvida, contribuído para tornar a
presença feminina mais proporcional na Bienal. E é extraordinário que três das
convidadas que não puderam comparecer tenham aparecido assinando o manifesto que
nos acusava de “discriminar” e “invisibilizar” (sic) as mulheres.
Gostaria de discutir o espírito que fundamenta esse documento e que, creio eu, em vez
de apoiar a muito justificada defesa da mulher contra as limitações de que é vítima e
contra a violência de gênero – causas que merecem toda a minha solidariedade –,
prejudica essa batalha indispensável do nosso tempo introduzindo nela um fanatismo
sectário e truculento que é contraproducente em relação aos fins que se querem atingir.
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Não se trata de uma guerra entre homens e mulheres na qual elas lutam por sua
sobrevivência; trata-se de corrigir uma injustiça secular e acabar com as postergações e
excessos que metade da humanidade sofreu e continua a sofrer por causa da religião,
dos preconceitos e dos maus costumes ancestrais. Essa não é uma batalha das
mulheres contra os homens, mas de todos os homens e mulheres conscientes e
responsáveis, contra as minorias (às vezes maiorias) que se opõem a isso. O objetivo é
estabelecer realmente uma igualdade que não apenas reconheça a lei (como acontece
no mundo ocidental), mas que se reflita na vida cotidiana e no emprego, onde ainda
existe uma discriminação flagrante e raramente se respeita o princípio do trabalho igual,
salário igual entre homens e mulheres.
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Em seu mais recente artigo no The New York Times, Martín Caparrós pergunta, a
propósito desse assunto, se as vítimas de ontem não estariam se tornando os algozes
de hoje. E conta o recente caso de um escritor que, em uma reunião literária na Costa
Rica, teve de fugir do local sem dar a conferência que estava programada porque um
comando feminino o ameaçou com um escracho. Acusaram-no de “violência conjugal”,
sem lhe dar a oportunidade de se explicar ou se defender. O texto de Martín Caparrós
termina de uma maneira que vale lembrar: “É uma alegria e um alívio para – quase –
todos, e pode servir para mudar muitas coisas que precisam ser mudadas; entre elas,
deixar para trás a lógica do bando. Procurar o post Me Too para que as decisões que
devem ser pensadas e tomadas por consenso por muitos não sejam privilégio de uns
poucos; definir faltas e crimes e decidir as punições que merecem; permitir às suas
vítimas concretas e potenciais uma generosidade que a situação anterior não permitia.
Para recuperar a lei da razão, a razão da lei, a tolerância. Para não cobrar olho por olho,
mordisco por mordisco: para mudar seriamente certas coisas”.
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No que me diz respeito, posso garantir que, enquanto a Bienal e o Prêmio de Romance
que levam meu nome existirem, não haverá quotas aritméticas de homens e mulheres e
o único critério com o qual se continuará convidando os participantes será o da
excelência literária.
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Vargas Llosa, 2019.
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