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NO QUE OS BUDISTAS ACREDITAM?

Aqui no site, budavirtual.com, publicamos ensinamentos budistas com um enfoque


secular, visando um beneficio para todas as pessoas, como diz o Dalai Lama ”Eu não
estou interessado no surgimento de mais budistas. Meu interesse é apresentar conceitos
budistas que sejam aceitáveis e úteis para pessoas de todas as crenças religiosas e para
aqueles sem qualquer fé religiosa.” porém achamos pertinente apresentar um post como
este abaixo, que esclarece questões sobre o budismo em geral e os budistas.

”Esse Dharma que conquistei”, disse Gautama ao relatar sua descoberta naquela noite
sob a ramagem da árvore original, ”é profundo, difícil de ver, difícil de despertar em
nós, sereno, excelente, livre da constrição do pensamento, sutil, só percebido pelos
sábios. Mas as pessoas gostam de seu lugar, é nele que se deleitam e repousam. Não é
fácil, para quem repousa e se deleita com gosto em seu lugar, perceber esta esfera da
condicionalidade, do surgir condicionado”.

Esse é o relato de um homem que empreendeu uma jornada e chegou a seu destino. O
que viu era muitíssimo estranho, difícil de conceituar ou por em palavras. Ao mesmo
tempo, compreendeu que outros talvez já tivessem passado pela mesma experiencia.
Pois aquilo para o qual despertou, a ”condicionalidade” – coisas específicas geram
outras coisas específicas – era, em um certo sentido, bastante obvio. Todos sabem que
sementes dão origem a plantas, que ovos dão origem a galinhas. No em tando, insistia,
esse ”surgir condicionado” é bem difícil de perceber.

Por que? Porque as pessoas ignoram a contingencia fundamental da vida


apegando-se a seu lugar. O lugar de alguém é aquele a que esta mais fortemente
ligado, o alicerce sobre o qual todo edifício de sua identidade pessoal se ergue.
Consiste na identificação com um sitio físico e uma posição social, nas crenças
religiosas e politicas, na convicção instintiva de que se é um eu solitário. Meu lugar
é aquele onde estou e onde me defendo de tudo quanto possa desafiar o que é
”meu”. Representa minha atitude frente ao mundo, abrangendo o que se encontra
deste lado da linha divisória entre ‘mim’ e ‘você’. Semelhante apego gera a
sensação de que estou fixo e segura numa existência que é tudo, menos segura e
fixa. Sua perda, receio muito, mergulhará no caos, na falta de significado ou na
loucura as coisas que mais valorizo.

A busca de Gautama levou-o a por tudo de lado tudo quanto se relacionava ao seu
lugar – rei, pátria, posição social, deveres de família, crenças, convicção de ser um
eu dotado de corpo e espirito – mas não provocou nele uma crise psicótica. Pois,
abandonando seu lugar (alaya), ele conquistou um chão (tthana). Mas esse não é o
chão aparentemente solido de um lugar – é o chão precário, transitório, ambíguo,
imprevisível, fascinante e aterrador chamado ”vida”. A vida é um ”chão sem
chão”: logo que surge, desaparece para se renovar, entrar em colapso e
desaparecer de novo. Flui incessantemente como o rio de Heraclito, que não se
pode travessar duas vezes. Se você tentar segura-lo, ele escorrerá por entre seus
dedos.

Não se deve confundir esse chão sem chão com ausência de apoio. Ele dá apoio de
uma maneira diferente. Enquanto o lugar prende e paralisa, o chão solta e deixa ir.
Não fica parado um instante. Mas, para merecer seu apoio, você precisa se
relacionar com ele de um modo diferente. Em vez de permanecer em pé, firme,
com os punhos cerrados para se sentir seguro em seu lugar, terá que deslizar por
sua superfície liquida e cintilante como uma libélula, vencer sua corrente como um
peixe veloz. Gautama comparou mesmo essa experiencia a ”entrar num rio”.

O despertar de Gautama envolveu uma mudança radical de perspectiva, não


apenas a conquista do conhecimento privilegiado de uma verdade superior. Ele
jamais empregou as palavras conhecer e verdade para descreve-lo. Só falou em
despertar para um plano contingente – a esfera da ”condicionalidade, do surgir
condicionado”- que até então, fora obscurecido por seu apego a uma posição fixa.
Embora possa induzir a uma reconsideração daquilo que ”conhecemos”, o
despertar, em si, não constitui primordialmente um ato cognitivo. Trata-se antes de
um reajustamento existencial, de uma acomodação sísmica no interior da própria
pessoa e no trato com os semelhantes. Longe de fornecer a Gautama um rol de
respostas prontas as grandes questões da vida, permitiu-lhe encarar essas questões
de um ponto de vista inteiramente novo.

Para viver em terreno assim tão movediço, precisamos antes de tudo calar a
obsessão com o que aconteceu ou acontecerá e permanecer mais atentos ao que
acontece agora. Isso não significa negar a realidade do passado e do futuro, mas
sim estabelecer um novo relacionamento com o caráter transitório e temporal da
existência. Em vez de remoer o passado e especular sobre o futuro, devemos ver o
presente como o fruto do que foi e o germe do que será. Gautama não prescrevia o
recuo para um agora mistico e fora do tempo, mas um contato direto com o mundo
mutável tal qual se desdobra momento a momento.

Ter consciência do que sucede no presente exige o cultivo da atenção plena, que
Gautama definia como ”caminho unico” para se alcançar a presença concentrada e
a sensibilidade sem as quais não nos manteremos firmes num chão sem chão. Com
efeito, ele explica a atenção plena (sati) como algo enraizado (patthana) no corpo,
sentimentos e mente da pessoa, tanto quanto no mundo que a cerca. Ficamos
atentos quando percebemos o que acontece, e o contrario é deixarmos que as coisas
aconteçam como se estivessem envoltas numa neblina ou fossemos premidos por
acontecimentos com tamanha intensidade que reagíssemos antes de refletir.

A atenção plena se concentra inteiramente nas condições especificas da experiencia


diária. Nada tem a ver com coisas transcendentes ou divinas. Serve como antidoto
para o teísmo, como cura para a compaixão sentimental e como bisturi para
remover o tumor da crença metafísica. ”Quando um monge respira fundo, ele
sabe: ‘Estou respirando fundo’; quando respira superficialmente, ele sabe: ‘Estou
respirando superficialmente”’, diz o Buda. ”Essa pessoa age com atenção absoluta
ao olhar para a frente e para trás, ao flexionar e estender os braços, ao vestir suas
roupas e carregar sua tigela, ao comer, beber e degustar, ao defecar e urinar, ao
caminhar, ficar de pé, sentar-se, dormir, acordar, conversar e manter silencio”.

Não há nada suficientemente vil ou mundano para merecer nosso descaso. A


atenção plena aceita como objeto de pesquisa tudo aquilo que surge em seu
horizonte de percepção, não importa quao penoso ou inquietante seja. Não convém
que busquemos ou esperemos achar uma grande verdade por trás do véu das
aparências. O que aparece e como você reage ao que aparece; só isso que importa.

Atentando bem para o que acontecia dentro e fora dele, Gautama despertou para o
vasto campo aberto dos fatos possíveis. Seu despertar não resultou apenas na
teorização intelectual, mas também no enfoque meticuloso na trama da
experiencia. O nível que alcançou incluía ainda a nova perspectiva de vida que se
abriu dentro dele graças a exposição ao ”surgir condicionado”. Quem ”repousa e
se deleita com gosto em seu lugar”, continua Gautama, ”acha difícil também
perceber esse lugar: o arrefecimento das compulsões, desapego, cessação e
nirvana”.

Algo bem no intimo de Gautama parece ter cessado. Estava agora livre para não
mais viver neste mundo a partir da limitada perspectiva de seu lugar. Podia
permanecer inabalável diante do fluir desordenado dos acontecimentos sem que os
desejos e medos dai oriundos o agitassem. Jazem no amago dessa visão uma
serenidade profunda, uma renuncia definitiva de hábitos contumazes – e a
ausência, ao menos momentaneamente, de ansiedade e conflito. Ele encontrou uma
maneira de viver no mundo sem estar condicionado pela cobiça, pelo ódio ou pela
confusão. Isso era o nirvana. Agora, poderia encarar o mundo da perspectiva do
desapego, do amor e da lucidez.

A chave do despertar de Gautama deve ser buscada em sua aceitação plena da


transitoriedade. ”Quem ve o surgir condicionado” diz ele ”vê o Dharma. E quem
ve o Dharma, vê o surgir condicionado”. Reconhecia que tanto ele mesmo quanto
o mundo a sua volta eram formados por fatos fluidos e acidentais nascidos de
outros fatos acidentais e fluidos – mas que não precisavam ter acontecido.
Houvesse feito outras escolhas, tudo seria diferente. ”Esquece o passado”
recomendou ao viandante Udayin. ”Esquece o futuro. Ensinar-te-ei aquilo que
aparece. Quando isto não existe, aquilo não vem a ser; com a cessação disto, cessa
aquilo”.

Sidarta Gautama rejeitava a ideia de que liberdade e salvação dependem do acesso


privilegiado a uma fonte ou plano eterno, imutável, quer se chama Atman ou Deus,
Consciência Pura ou Absoluto. Ter liberdade, para ele, significa eximir-se da cobiça, do
ódio e da confusão. Essa liberdade (nirvana) além do mais, não se alcança pela fuga do
mundo, mas pelo mergulho até o proprio cerne do efêmero.

Os bramanes, na época de Gautama, sustentavam que o ser humano era animado por um
espirito eterno ou um eu (atman) cuja natureza se identificava com a realidade perfeita e
transcendente de Brahman (Deus). Essa crença é bastante sedutora, pois implica que
aquilo que somos realmente jamais perecerá. Além disso, parece confirmada por uma
convicção profunda de sermos testemunhas perenes de um fluxo incessante de
experiencias. A visão de um bando de pássaros voando pelo céu, o gosto de uma fruta
ou a melodia do Concerto de Brandeburgo, de Bach, podem surgir e desaparecer, mas a
consciência de conhecermos essas coisas persiste.

Desde a mais remota infancia, alimento a convicção intuitiva de que uma mesma
consciência testemunhou e continua a testemunhar cada acontecimento da minha vida.
Se olho uma fotografia de quando era bebe ou avalio quando cresci e mudei ao longo
dos anos, concluo que essa testemunha atemporal não pode identificar-se com o menino
confuso, o adolescente rebelde, o jovem monge ou devoto ou o homem de meia idade
cético. Todos esses aspectos de mim mesmo são, ao que parece, apenas manifestações
diferentes de meu ”ego” ou ”personalidade” e nada tem a ver com o eu essencial,
imutável, que conhece e rememora essas coisas..

Ao mesmo tempo, uma de minhas lembranças mais inquietantes foi uma ocasião em que
minha mãe abalou minha certeza instintiva de ser ”eu”. Era Natal e eu deveria ter 16
anos. Ela e sua irmã, folheavam um álbum de fotos na mesa da cozinha e depararam
com a foto de um homem em uniforme militar, apertando os olhos para o sol com um
cachimbo. Mamãe me disse ”Se tudo tivesse acontecido de outra foram, ele poderia ser
seu pai”. Pensei então: ”Mas, se esse homem fosse meu pai, eu seria eu?” Raciocinei: se
outro das miriades de espermatozoides de meu pai verdadeiro houvesse fecundado o
ovulo de minha mãe, o fruto dessa mistura de cromossomos teria sido eu? E se o mesmo
espermatozoide encontrasse o ovulo do próximo ciclo de minha mãe, eu seria o bebe
que dai nascesse?

A despeito desses vislumbres enervantes de minha própria incerteza, a convicção de ser


uma testemunha permanente e atemporal continuou tão solida e indiscutível pra mim
quanto a visão do sol erguendo-se toda manha a leste, cruzando o céu e pondo-se a
oeste. Parece que fui programado para experimentar a mim mesmo e ao mundo dessa
maneira. Mas, apesar da evidencia inegável de meus próprios olhos, sei muito bem que
a terra é que nasce e se poe, não o sol. Gautama fez para o eu o que Copérnico fez para
nosso planeta: colocou-o em seu devido lugar, embora ele continuasse parecendo o que
antes parecia. Gautama não negava a existência do eu, como Copérnico não punha em
duvida a existência da terra. Bem ao contrario, em vez de de vê-lo como um ponto fixo
e não acidental a cuja volta tudo o mais girava, concluiu que cada eu é um processo
fluido permanente – como todas as outras coisas.

A tese de que o ser humano consiste num espirito puro e eterno, mas ligado
temporariamente a um corpo corrupto e efêmero, era generalizada no mundo antigo.[…]
Gautama declarou que sua percepção do caráter fortuito da vida ocorreu ”contra a
corrente”, desafiando a intuição, isto é, o senso instintivo de sermos testemunhas
atemporais de nossa própria experiencia. Impugnou a crença numa alma eterna, e
implicitamente, na realidade de um Deus transcendental Gautama instava seus
seguidores a dar o máximo de atenção ao mundo em si dos fenômenos. A maneira como
definiu a pratica da meditação virou de cabeça para baixo a sabedoria cultivada na
época. Não instruiu os discípulos a voltar-se para dentro, a fim de perceber a natureza
de sua alma, mas sim tomar consciência plena de seu corpo. Desse modo, com
serenidade, notariam o que porventura lhes estivesse afetando os sentidos a cada
momento, o modo como surgia e desaparecia, seu caráter fugaz, sua impessoalidade, sua
alegria, sua tragédia, seu fascínio, seu terror.

As metáforas que empregou para descrever a pratica da atenção plena são simples
e praticas. Comparou as pessoas que meditam a carpinteiros ou açougueiros
habilidosos, profissionais que aprenderam a fazer uso de suas ferramentas com
extraordinária precisão, podendo assim desbastar um pedaço de maneira ou
retalhar uma carcaça de animal com esforço minimo e eficiência máxima. A
percepção acurada não é descrita como concentração passiva num objeto único e
fixo, mascomo envolvimento sutil num mundo complexo e mutável. A atenção
plena é uma habilidade que pode ser aperfeiçoada. Trata-se de uma escolha, um
ato, uma resposta que brota da inteligencia serena, mas curiosa. É solitária e
sensível a textura peculiar do sofrimento próprio e alheio.

“Não acreditem no que eu digo, testem por si próprios.” Buda

O que Gautama ensinou contrariava as ortodoxias da época. Não admira, pois, que haja
percebido após seu despertar quão ”fatigante e arriscado” seria para ele instruir os
outros. Afinal, as pessoas querem ser eternas e não aceitam facilmente a realidade
inevitável da morte, aspiram a felicidade e fogem da contemplação da dor, insistem em
preservar o senso do eu, evitando fragmenta-lo em seus componentes vagos e
impessoais. Vai contra os ditames da intuição aceitar que a imortalidade possa ser
vivenciada a cada instante quando nos livramos do abraço letal da ganancia e do ódio e
que só nos tornamos pessoas plenamente individuadas depois de renunciar as crenças
num eu essencial.

Sidarta Gautama era um dissidente, um iconoclasta. Nao queria de forma alguma se


envolver com a religião sacerdotal dos bramanes. Para ele, a teologia dessa religião
era ininteligível seus rituais eram inúteis e a estrutura social que legitimava era injusta.
No entanto, compreendia bem seu apelo irresistível, sua tirania sobre a mente e o
coração humano. Recusou-se a fazer o papel do guru iluminado, que exige submissão
tácita antes de iniciar seus discípulos em doutrinas reservadas a uma elite espiritual.
Mas, ainda assim, não podia permanecer calado. E chegou a hora que teve de entrar em
ação. Constatou que pelo menos algumas pessoas, ”com pouca poeira nos olhos”, o
compreenderiam. Abandonou, pois, sua árvore em Uruvela e foi para Baranasi, onde
sabia que alguns de seus antigos companheiros, um grupo de cinco brâmanes de Sakiya,
estavam instalados no parque dos Cervos, perto da aldeia de Isipatana. …

– Stephen Batchelor

“Não há razão para se supor que o mundo tenha tido um início. A idéia de que as
coisas devam ter um começo é realmente algo devido à pobreza de nossos
pensamentos” (Bertrand Russel).

Há três escolas de pensamento com relação à origem do mundo. A primeira escola de


pensamento afirma que esse mundo veio a existir pela natureza e que a natureza não é
uma força inteligente. Entretanto, a natureza funciona de um modo próprio e sempre
mutável.

A segunda escola de pensamento diz que o mundo foi criado por um Deus todo
poderoso, o qual é responsável por tudo. A terceira escola de pensamento diz que o
início do mundo e da vida é inconcebível pois não tem nem início nem fim. O
Buddhismo está de acordo com essa terceira escola de pensamento. Bertrand Russel
concorda com essa escola de pensamento dizendo: ‘Não há razão para se supor que o
mundo tenha tido um início. A idéia de que as coisas devam ter um começo é realmente
algo devido à pobreza de nossos pensamentos”.

A ciência moderna diz que há alguns milhões de anos a recente terra esfriada era
sem vida e que a vida se originou no oceano. O Buddhismo nunca proclamou que o
mundo, o sol, a lua, as estrelas, o vento, a água, os dias e as noites foram criados
por um deus poderoso ou por um Buddha. Os buddhistas acreditam que o mundo
não foi criado de uma só vez, mas que o mundo é criado milhões de vezes a cada
segundo e isso continuará a acontecer por si mesmo e terminará por si mesmo. De
acordo com o Buddhismo, os sistemas mundiais sempre aparecem e desaparecem
no universo.

H.G. Wells, em A Short History of the World, diz que: ‘É universalmente reconhecido
que o universo em que vivemos, tem toda a aparência de ter existido por um enorme
período de tempo e possivelmente por um tempo sem fim. Mas que o universo em que
vivemos existiu somente desde uns seis ou sete milhões de anos pode ser julgado como
uma idéia totalmente ultrapassada. Nenhuma vida parece ter surgido de repente sobre
terra’.

Os esforços feitos por muitas religiões em explicar o início e o fim do universo são
realmente mal-concebidos. A posição das religiões que propõem a visão de que o
universo foi criado por deus em um ano fixo exato, se tornou difícil de se manter à luz
do conhecimento moderno e científico.

Os cientistas, historiadores, astrônomos, biólogos, botânicos, antropólogos e grandes


pensadores de hoje têm todos contribuído com um conhecimento vasto e novo sobre a
origem do mundo. Essas últimas descobertas e conhecimentos não estão de modo algum
em contradição com os Ensinamentos do Buddha. Bertrand Russel, novamente, diz que
respeita o Buddha por não fazer falsas declarações como outros que se comprometeram
com uma visão particular sobre a origem do mundo.

As explicações especulativas sobre a origem do universo apresentadas por várias


religiões não são aceitáveis aos cientistas e intelectuais modernos. Mesmo os
comentários das Escrituras Buddhistas, escritos por alguns escritores buddhistas, não
podem ser desafiados pelo pensamento científico em relação a essa questão. O Buddha
não perdeu Seu tempo com esse assunto. A razão para seu silêncio foi a de que esse
assunto não tem valor religioso para atingir a sabedoria espiritual. A explicação sobre a
origem do universo não é um problema da religião. Tal teorização não é necessária para
se viver um modo de vida correto e para dar uma direção à nossa vida futura.
Entretanto, se alguém insiste em estudar esse tema, então deverá investigar as ciências,
a astronomia, a geologia, a biologia e a antropologia. Essas ciências podem oferecer
mais informações confiáveis e testadas sobre esse tema do que podem oferecer
quaisquer religiões. O propósito de uma religião é cultivar a vida aqui nesse mundo e no
próximo, até que a libertação seja atingida.

Aos olhos do Buddha, o mundo nada mais é que samsara – o ciclo de repetidos
nascimentos e mortes. Para Ele, o começo e o fim do mundo estão no samsara. Uma
vez que elementos e energias são relativos e interdependentes, não tem sentido
especificar qualquer coisa como sendo o início. Seja qual for a especulação que
fizermos sobre a origem do mundo, não haverá uma verdade absoluta nesse nosso
conceito.

‘Infinito é o céu, infinito é o número de seres,

Infinitos são os mundos no vasto universo,


Infinito em sabedoria o Buddha ensina assim,

Infinitas são as virtudes Dele que assim ensina’. (Sri Ramachandra)

Um dia um homem chamado Malunkyaputta se aproximou do Mestre e pediu que ele


explicasse a origem do universo. Ele até o ameaçou de parar de ser seu seguidor se a
resposta do Buddha não fosse satisfatória. O Buddha calmamente respondeu que não
tinha importância se Malunkyaputta o seguisse ou não, pois a Verdade não precisava da
ajuda de ninguém. Então, o Buddha disse que não discutiria sobre a origem do universo.
Para Ele, obter o conhecimento sobre tais temas era uma perda de tempo porque a tarefa
de um homem era se libertar do presente, não do passado ou do futuro. Para ilustrar
isso, o Iluminado relatou a parábola de um homem que fora atingido por uma flecha
envenenada. Esse homem tolo se recusou a ter a flecha removida antes de saber tudo
sobre a pessoa que atirou a flecha. Quando seus assistentes descobriram esses detalhes
desnecessários, o homem já havia morrido. Similarmente, nossa tarefa imediata é atingir
o Nibbāna, e não o se preocupar sobre nossos começos.

Fonte: http://noqueosbuddhistasacreditam.wordpress.com/2006/11/20/a-origem-do-
mundo/

Monge Genshô – 16.02.13

Em minha família, todos que ficaram mais velhos tiveram doença de Alzheimer.
Isso nos leva à uma questão interessante: “O que é que nós somos”? E o que
seremos depois? Alguém me perguntou na entrevista: “E depois da morte, acaba
tudo”? E minha resposta foi que, dada a maneira como nosso universo funciona, é
impossível que alguma coisa acabe.

A primeira Lei da Termodinâmica, é a Lei da conservação de energia, ou seja, a


energia é constante e só pode ser transformada. A energia pode ser condensada,
por exemplo, condensada e transformada em matéria. Matéria, portanto, é energia
condensada. Nós somos energia condensada, mas em permanente transformação.

Em outra palestra usei o exemplo do riacho. Sempre que olhamos para o riacho
ele parece ser o mesmo, mas todos sabemos que não é o mesmo. A cada segundo
uma nova água se apresenta e passado suficiente tempo, os riachos cavam buracos
e mudam de curso. Assim é com todo o universo, em constante transformação.

A vida está sempre mudando, sempre se transformando. Poucos minutos atrás


estava chovendo, depois abriu um sol, depois chuva e sol e agora somente sol, todo
o tempo é assim, nada é estável, tudo é impermanente e está em constante
mudança. Existem duas situações que o Budismo não aceita: uma é o “niilismo”,
condição em que nada existe. A outra é “eternalismo”, ou seja, as coisas continuam
para sempre e imutáveis. O mundo não é assim.

É absurdo para o Budismo o termo “alma eterna”, um “eu” que continua para
sempre, por toda a eternidade. A vida eterna é um desejo antigo do ser humano, já
existiram inclusive expedições em busca da fonte da juventude. A idéia é adquirir
uma substância que forneça a juventude e, com isso, a vida eterna, sem doenças e
mortes. Muitas religiões criaram o conceito de um “eu” eterno, uma alma que
nunca morre, que acumula experiências e lembra de tudo. Eu não consigo
imaginar um castigo mais terrível, continuar preso à esse “eu” com essas exatas
memorias, sem poder apagar e me livrar de coisas erradas do passado. Penso que
não seria uma boa idéia.

Para o Budismo, todas as coisas são impermanentes e cíclicas. Da mesma forma,


para o Budismo uma coisa não pode desaparecer, só existe continuidade. A partir
desse raciocínio, só podemos pensar que nós somos continuidade de algo ou
alguém, porque não existe consequências sem causas.

Esse copo por exemplo, que aqui está, não veio sozinho, alguém o trouxe da
cozinha. Para chegar até a cozinha foi preciso alguém leva-lo até lá, foi preciso
alguém comprar e outro alguém fabricar. Podemos ir recuando e sempre
encontraremos uma causa para um acontecimento. Mesmo que eu chegue até o Big
Bang da física moderna, ainda poderei fazer o seguinte questionamento: “mas e
antes do Big Bang”? O tempo não existia, poderia ser a resposta. Pode ser que
outro universo de alguma forma tenha condensado energia e dado origem ao Big
Bang, não sei. Mas a essência do que estamos falando é que, se é lógico que somos
continuidade, senão não estaríamos aqui, também é lógico que existirá uma
continuidade de nós. Mas o Budismo declara que este “eu” que acredito ser minha
identidade, é temporário, pois ele depende de determinados agregados que são
temporários, por exemplo, a memoria. Só com memória posso saber quem eu sou,
somente com memória pode-se sustentar um “eu” continuado.

Pois bem, se a memória não sobrevive a uma doença como Alzheimer, como
sobreviveria ao evento da morte? Sabemos portanto, que nosso “eu” é temporário
mas que nossa continuidade é certa, assim como a continuidade do riacho. Mesmo
que mude a água, o riacho continua. Seria muito tolo perguntarmos para uma
nuvem: “você irá morrer”? A resposta da nuvem com certeza seria: “não, eu me
transformo em chuva”. Mas e a chuva, ela morreria quando chegasse à terra? Não,
ela se transforma em riacho. O riacho se transforma em rio e o rio em mar e
eventualmente a água novamente evapora. Novamente teremos uma nuvem. É a
mesma nuvem? Não. Mas é a mesma nuvem, a mesma água.

Existe outro símile usado por Hakuin, grande mestre Zen da Escola Rinzai, que diz:
“Com argila nós fazemos telhas, incensários, Budas e castiçais. Sou capaz de dizer que
essas peças são minhas, mas não digo que essa é minha argila, no entanto a argila está
atrás de tudo”. Ela, a argila, só foi transformada em objetos, mas ainda é argila. Nós que
atribuímos identidades ao incensário, ao castiçal e à telha, lhes dando nomes, funções e
funcionamento.

Enxergar nossa verdadeira natureza é enxergar a argila que está atrás de nós, essa não
tem identidade e pode manifestar tudo e em tudo se transformar. Se não me engano foi a
Cris que disse que quando encontrou o Egídio pela primeira vez, ele tinha uma camiseta
com a inscrição: “Não sou uma criação, sou uma manifestação”, uma frase do mestre
Zen Thich Nhat Hanh.

Se conseguíssemos perceber que cada um de nós é uma manifestação da mesma coisa


e, que portanto somos um, seria maravilhoso. Se nos damos as mãos nesse momento e
respiramos no mesmo ritmo, não temos a sensação de unidade? Um único ser, todos
juntos, somos uma coisa só, mas iludidos de sermos pequenas manifestações separadas.
A chuva é uma unidade ou cada gota é separada? Cada gota de chuva não é ela a própria
chuva? A chuva não é ela própria a água? As gotas não são as manifestações da chuva?
Enquanto a gota se pensa gota, ela é gota e como gota nasce na nuvem e morre na terra,
mas como água, como unidade, ela é um ciclo, cai, escorre, junta-se ao rio, evapora, cai
e não está sujeita a nascimento e morte.

É pelo entendimento de nossa unicidade e apontando a ilusão de nossa individualidade,


que o Zen Budismo destrói a idéia de nascimento e morte. A nossa verdade é a
unicidade e nela, que lugar existe para a raiva, orgulho ou vaidade, que lugar existe para
isso tudo se só o que faço é me dissolver, surgir para novamente me dissolver? Que
grande bobagem é o pensamento de “eu” ou “meu”. Que grande bobagem é o
pensamento de ódio e irritação com outra pessoa se eu e ele somos uma unidade.
Quando eu conseguir me ver na unidade, conseguirei me livrar desses sentimentos nas
relações com outras pessoas.

Por isso o sesshin é um treinamento de unidade. Não fale, para não manifestar
você mesmo. Não dê opiniões e não critique, nem mesmo dentro de sua mente.
Quando fazemos tudo juntos e sem julgamentos, podemos começar a nos sentirmos
“unos”. Quando caminharmos, procurem ter esse sentimento de unidade. Como
somos unos com nossos irmãos praticantes, seus olhos e seus ouvidos são meus
olhos e meus ouvidos, tudo que eles vêem e escutam, eu vejo e escuto. Só estou
separado deles quando penso, quando sento para meditar e surgem minhas
memórias, meus pensamentos e minhas fantasias, isso é o que me separa do grupo.
Na unidade não existe conflito. Por isso o sesshin e sua disciplina são desse jeito.

Todo o sofrimento do sesshin é valido, pois sem ele não conseguimos resultado algum.
Imaginem um retiro onde todos pudessem conversar, discutir, expor opiniões e à noite
ligássemos a televisão e assistíssemos ao jornal para podermos ter assunto para
protestos e reclamações. Como as notícias não chegam até nós pela distância que
estamos do mundo e como estamos somente nós, é mais fácil aparecer a noção de
unidade, pois nossas mentes não são mobilizadas. O mais perfeito resultado é obtido
quando conseguimos nos livrar do lixo de nossas mentes. Quando finalmente o lixo
some tem lugar o som do riacho, dos pássaros e das cigarras. Essa é a verdadeira vida, o
restante é ilusão construída com nossas interpretações. Por isso precisamos descartar as
interpretações, julgamentos e críticas. Se conseguirmos descartar o lixo e aceitar as
coisas tais como são, tudo se resolve. Não haverá pensamentos de gosto e não gosto,
bom e ruim, certo e errado e sim, somente aceitação.

Dessa forma cria-se um espaço mental para a experiência espiritual. A experiência


espiritual só acontece em uma mente liberta. Enquanto sua mente estiver agitada não há
espaço. Todo esse treinamento é a base para criar o terreno para as experiências. São
essas experiências que temos que buscar. Pensem na seguinte imagem: um homem vai
por um caminho e em seu bolso tem algumas moedas de ouro. Ao passar por uma ponte
em que estão muitas pessoas, suas moedas caem. Imediatamente, sem pensar nas outras
pessoas ou em tudo que acontece em seu redor, ele volta-se imediatamente para
procurar suas preciosas moedas. Se pensarmos que o problema de nossa morte que se
aproxima e a busca pelo esclarecimento e despertar são o mais importante, nos
voltaremos imediatamente para esse objetivo e todo o resto deixará de perturbar nossas
mente. O despertar é como as moedas de ouro que caíram. Para aquele que as deixou
cair, nada é mais importante do que juntá-las.

O problema do despertar e de estarmos perdidos numa ilusão, de precisarmos


despertar para enxergar nossa verdadeira natureza para então nos livrarmos de
toda dor e sofrimento, é o mais importante de todos os problemas para um homem
solucionar. É como as moedas que caíram no chão. Quando vocês sentam, toda dor
e todo desconforto só têm um sentido – estamos procurando as moedas. Os
problemas da vida e da morte são os verdadeiramente importantes e não
queremos aceitar uma ilusão fácil. Não desejamos uma crença, só podemos aceitar
raciocínios lógicos, defensáveis e verificáveis. Nada de mágico, sobrenatural ou
extraordinário. Já é extraordinário demais estarmos aqui falando, comendo,
andando e ouvindo, isso é pura mágica, é sobrenatural e muitas pessoas não
enxergam isso. Um copo de água é sobrenatural. Isso é pura mágica. Como pode
ser que eu pegue um copo e tome água? O despertar traz essa consciência. Beber
um copo de água é magico, extraordinário, fantástico, inacreditável, como posso
estar nesse mundo e ter esse corpo e beber água? Meus parabéns por terem
chegado até aqui, agora despertem.

1. Eu não consigo entender esse conceito de unidade, durante a caminhada eu


olhava para um árvore e percebia varias manifestações diferentes, até aí
tudo bem, mas não me sinto parte disso.

Monge Genshô – Você não sente, mas racionalmente você sabe que é. Qual a substância
mais presente no seu corpo? Carbono. E na árvore? Bom, na verdade é água, hidrogênio
e oxigênio. E na árvore? A mesma coisa, não é? Você exala carbono e a árvore absorve
carbono. Vocês são profundamente interdependentes. Vocês são manifestações da
mesma coisa, mas você não consegue ver sua unidade com ela, mesmo que você coma
os frutos. Mesmo que o fruto da árvore circule em seu corpo, ainda sim você se vê
separada. E isso acontece em tudo, essa relação de separação também acontece nas
relações filhos e pais. Você olha para seu filho ou para sua mãe ou seu pai, você tem os
mesmos genes, a mesma programação genética, no entanto você ainda os vê como
separados. Seu pai, sua mãe e você, todos separados. Mas somos continuidade, você
poderia dizer que são os genes que desejam continuar, então eles têm uma estratégia
para gerar um novo corpo e ter uma continuidade. Essa qualidade de sermos
continuidade da raça humana, nos vemos como identidade separada, no entanto, somos
nossos pais e nossos filhos, somos nós continuando, só isso.

O fato de você se dar conta de que é a Cris provém unicamente do funcionamento de


sua mente. Porque você tem uma mente que pensa, é ela quem diz: “eu sou separada da
árvore, tenho um funcionamento separado”. Mas olhando todas as evidências, somos a
mesma coisa, as mesmas substâncias químicas, mesma continuidade genética e a mesma
tentativa de propagação de uma espécie. Buda quando enxergou isso disse para seu
“eu”: “Você não me enganará mais”. O que acontece é que sua noção de você mesma,
sua noção de um “eu” é quem está enganando você. Todo o tempo você está unida,
junta, mas o engano está em sentir-se separada. Isso é uma delusão, uma ilusão tão
nítida que parece real.

1. Um desespero que ocorre sempre durante o sesshin: a busca do despertar,


como o Senhor mesmo colocou, tem algo de egóico. É um desespero vir para
um sesshin ou seguir completamente esse caminho e abandonar meu filho,
meus pais e tudo que as pessoas ao redor pensam, o mundo. Isso aqui é uma
ficção, uma fantasia que criamos. O que devemos fazer nesse mundo, quais
são os papeis, porque me parece que a busca do despertar tem um lado de
puro egoísmo.

Monge Genshô – Essa semana Saikawa Roshi esteve em nossa casa e falei para ele de
um problema no mundo dos negócios. Ele disse: “A vida é como uma moeda que possui
dois lados. De um lado, a vida diária é cem por cento dualidade. Na vida diária tem eu e
você, ganho e perda, certo e errado, abundância e escassez, emprego e desemprego. Do
outro lado, existe um mundo absoluto onde não existe sujeito e objeto, ou eu e você.
Tudo é unidade”. Mas é uma moeda, tem cara e coroa. Quando você está na vida diária
existe a dualidade, quando você olha através do tecido da vida diária você vê a
unicidade. Você não ver isso é tão tolo quanto alguém pegar gelo na geladeira e dizer
que não pode ser água. Gelo é um estado diferente de água assim como vapor. Quando o
gelo se desmancha na água você não se admira, porque você enxerga a unicidade da
água no gelo.

O que acontece conosco é que nesse exemplo simples nós entendemos. Entendemos
com facilidade que riacho é água, nuvem é água e chuva é água. Mas não somos
capazes de ver a unicidade por trás das nossas vidas, eu olho para uma pessoa e a vejo
separada, um ser com outra mente. Isso não é verdade. Nós somos a mesma água, só
estamos em um estado de manifestação em que existe uma diferença. A manifestação
dele, agora, é assim e a minha, é esta. Mas por trás disso somos uma unidade. Se eu vir
com clareza a unidade, sentirei que a dor dele dói em mim. Quando alguém vem e me
conta um sofrimento e esse sofrimento me toca e choramos juntos, isso é unicidade.
Mas os dois lados existem, as duas coisas são verdadeiras, os dois lados da moeda. De
um lado a vida dual, somos separados. Do outro lado somos unidades e não existe
diferença entre sujeito e objeto. Se eu conseguir entender a moeda e viver cada lado no
seu momento, mas sem nunca deixar de enxergar o outro lado, eu tenho uma mente
desperta.

Nossa mente está desperta em relação à água, sabemos que água e gelo são a mesma
coisa em estados diferentes. Se não pudermos enxergar isso, é porque somos iludidos,
cegos como um homem que diz que água é água e gelo é gelo. E se dissolvermos o gelo
e o transformarmos em água, ele pensará que é magica, pois é incompreensível para ele.
Existem muitas histórias assim e, se para você algo é incompreensível, você pensará que
é magico, sobrenatural.

Uma vez um explorador em uma tribo na África colocou um antiácido num copo e
tomou. Toda a tribo ficou espantada e o teve como um grande feiticeiro que fervia água
sem fogo e a tomava sem queimar a garganta. Somos tão ignorantes quanto esses
nativos com relação às coisas que não compreendemos. Percebemos bem a questão da
água e do gelo, mas não vemos sobre nossas identidades, por isso a confusão. Mas as
duas coisas estão juntas. Embora todos os anos dia após dia a mesma explicação seja
dada a pessoa não compreende, só consegue ver um lado da moeda. Não enxerga que é
uma moeda só.

Agora é hora de praticar, quando estiver com os filhos você é mãe. No trabalho existe
isso é certo e isso é errado, aqui, nem nas cerimônias e rituais existe certo e errado. Se
alguém disser durante um ritual que isso é certo ou errado ele não entendeu o Zen. Nos
rituais do Zen não existem certo e errado. Tudo está certo, se for feito com harmonia.
Dizer certo e errado num ritual do Zen é não entendê-lo. É o que é, pura vida
acontecendo. Sempre eu digo isso: no Zen não existe certo ou errado, mas sempre tem
alguém que me diz, “mas no manual tal em tal lugar esta escrito que é assim”.

1. Sobre esta questão de continuidade, me lembro de uma entrevista que o


Senhor deu numa unidade espírita de Florianópolis onde o Senhor falou
sobre o amor por seu filho e disse que apesar da inexistência de uma alma,
esse amor não estava perdido. O senhor poderia falar um pouco mais sobre
isso?

Monge Genshô – Nesse dia falávamos sobre as consciências. Essas consciências foram
muito estudadas pela Escola Yogacara. Um dos conceitos da Escola Yogacara fala das
oito consciências e do “Depósito das Consciências do Universo” ou “Alayavijnana”.
Como eu falei anteriormente que nada está perdido e tudo se transforma, também em
termos de memórias nada está perdido no universo. Mesmo que você morra, seu
relacionamento com seus filhos e seus amores têm registro nesse depósito e pode ser
acessado em determinadas condições. Esse acesso explica determinado tipo de
lembranças que uma pessoa possa ter mesmo que um “eu” não sobreviva. Por isso tem
um Sutra que diz que quando Buda se iluminou, lembrou-se de quinhentas vidas em que
fora pessoas diferentes, com personalidades diferentes. Apesar de não estar em sua
mente, está registrado no universo.

É mais fácil de entender quando a gente se volta para a física. Se eu perguntar para o
nosso professor de física aqui, se a radiação de fundo do Big Bang que aconteceu há
quinze bilhões de anos é possível de ser acessada, ele responderá que sim. Quando você
liga o rádio e ouve um ruído de fundo, que não vem de lugar algum, são os ecos do Big
Bang que aconteceu há quinze bilhões de anos. Os ecos de uma explosão ocorrida há
quinze bilhões de anos podem ser ouvidos hoje e suas irregularidades vistas. Os ecos do
Big Bang estão se propagando no universo e não cessam. As emissões de televisão e
rádio feitas na Terra no último século estão se afastando do planeta na velocidade da
luz, ou seja, no entorno da Terra existe uma bolha com todas as comunicações já feitas,
todos os telefonemas, musicas, emissões de TV e rádio que estão contidas nessa bolha.

Na velocidade da luz, ela está a cem anos da Terra e atingiu um milésimo do diâmetro
da Via Láctea. Os cientistas já contaram centenas de bilhões de galáxias no universo.
Para nós o que interessa é que nada foi perdido, logo, não é de se admirar esse antigo
conceito Budista de um Depósito de Consciências. Nada está perdido e tudo pode ser
acessado, basta ter o receptor adequado. Temos que deixar claro que todas essas
considerações são muito interessantes, mas não são nenhum artigo de fé para o
Budismo.

1. O senhor falou em aparelho e na palestra de ontem surgiu a questão do


espiritismo. Um médium dentro do espiritismo, ele não teria então um
acesso à um “eu”, mas sim a essa “memória” de um ente que já teria vivido
e essa memória ainda estaria em condições de ser acessada?

Monge Genshô – A questão para o Budismo é: “pode ser”. Mas não temos nenhuma
evidência verificável, clara. Alguma coisa eu posso dizer: quaisquer pessoas que sejam
receptoras, nunca revelaram para a humanidade nada que a humanidade não soubesse.
Só platitudes, mas nunca, jamais, em tempo algum, uma entidade veio e disse: “a cura
da AIDS é este remédio”. A questão então é da utilidade, qual a utilidade de se saber
sobre o passado? Não há nada de novo. Existe uma frase famosa que gosto muito: “se
existem quaisquer seres se manifestando nesse mundo, estão tão perdido quanto nós”.

1. Mas não estou falando de manifestação, estou na linha de raciocínio que o


Senhor colocou do Alayavijnana. Os espíritas podem acreditar numa alma e,
se nós podemos inventar um aparelho que capta o eco do Big Bang, a
pergunta é: não poderia haver pessoas que seriam capazes de ouvir essas
memorias?

Monge Genshô – O problema aqui é que por trás da pergunta vem uma indagação de
“como o Budismo explica isso”? Simples. O Budismo não se preocupa em dar
explicações sobre coisas não verificáveis. Tudo que posso dizer é: “pode ser, não
sabemos”. Uma coisa nós sabemos: não é útil. Seria muito útil se alguém aqui da
Sangha pudesse ver o futuro. Nem precisa ser muito, basta vinte quatro horas e nos dê
os seis números da mega sena para que possamos ter dinheiro para construção de nosso
mosteiro. Essa sempre foi a atitude dos mestres Budistas – “tem utilidade isso? Não,
então não interessa”.

Buda em seu famoso Sutra no momento de sua morte proíbe os monges de ler cartas,
fazer adivinhações, astrologia etc. O interesse do Budismo é o despertar e o fim do
sofrimento, sendo que todas essas especulações científicas podem ser interessantes, mas
não são nosso objetivo. Primeiro, não estamos interessados em dar explicações;
segundo, todas as coisas mágicas ou sobrenaturais desse tipo nos afastam do caminho.
Um monge do Zen deve ter os pés no chão.

1. O nosso objetivo ao participar de um sesshin é a libertação e a nossa


estratégia é o zazen, o pouco sono, pouca comida, dor e sofrimento. Com
essa estratégia nós não estaríamos tornando mais evidente ou robustecendo
a idéia de separação? A pessoa que suporta o calor, as dores e sofrimentos,
não estaria tornando o ego ainda mais forte?

Monge Genshô – Se você tiver esse tipo de pensamento, então será dessa forma. Mas se
você estiver sentado com dores e pensar que não aguenta mais, porém resiste pelos
outros, para não abandonar seus colegas, você começa a penetrar no sentimento de
unidade. Se você pensa só em você, você levanta e vai embora, não se importa com os
outros. Como criamos um senso de corpo, de unidade, esse compromisso com os outros
faz com que ganhemos uma força que é do grupo. Eu não acredito que alguém sentaria
dessa forma sozinho. Porque estamos juntos é que suportamos. Se não fosse vocês eu
não faria sesshin.

1. Com essa historia que o Senhor contou da moeda, me veio à mente a


computação, que é um sistema binário, é um ou zero, verdadeiro ou falso.
Nesse um ou zero binário a gente constrói um mundo inteiro. Antigamente
para a ciência, esse um ou zero era o que valia, se não existisse essa
separação racional não valia nada. Hoje, numa leitura mais moderna
entrou o quântico, o bit quântico, o computador quântico, que não é um,
não é zero. Parece que quando entra para esse nível quântico surge uma
mágica, que nem mesmo a ciência é capaz de explicar. Não se se essa minha
analogia está correta ou válida…

Monge Genshô – Acho interessante, mas o que acontece é que não estou preparado para
discutir esse assunto sobre bits. O que eu não quero é que nossa palestra, que sobre o
Dharma, vá se transformando em algo mais mundano.

1. Voltando à minha pergunta. A pessoa que está sentada deve então pensar
que vai suportar a dor pelos outros e não por ela mesma. Essa seria a forma
correta de pensar?

Monge Genshô – Você não precisa pensar. Simplesmente fique. Não desista, fique pelos
outros. Uma coisa que Saikawa Roshi comentou comigo quando esteve aqui essa
semana é que a tradição no Zen é “olhe e viva”, não explique ou busque explicações. No
ocidente os alunos querem muitas explicações. Querem raciocinar, explicar e detalhar.
Todos somos assim. Eu, como ocidental, explico muitas coisas. Muitas vezes até tiro a
oportunidade do aluno perceber sozinho. Isso que você está perguntando deveria ser
descoberto por você mesmo. Porquê não fui embora? Porquê não desisti? Porquê ainda
estou aqui? O que em mim faz com que eu fique? A única coisa que posso dizer é que
existe uma utilidade nesse sofrimento e somente através dessa experiência que
chegaremos a algum lugar.

1. O senhor descreveu todos esses fenômenos, chuva, gelo e água. Mas em


termos práticos a existência de tudo isso é necessariamente vinculada à
percepção de um observador. É preciso alguém que presencie esse fenômeno
para que ele exista. No despertar, tem que haver necessariamente uma
consciência e que tipo de consciência é essa?

Monge Genshô – A existência de um observador é postulada na Escola Yogacara, mas


essa escola não existe sozinha, sozinha ela morreu, mas como foi muito brilhante
filosoficamente, ela influenciou as outras escolas, podemos dizer que o Zen tem uma
estética que vem do Yogacara. Mas para o Zen, as coisas existem. Você pode
desaparecer, mas essa casa continua.

Aluno – Mas se não vejo, é como se não existisse…

Monge Genshô – Para você ela não existe. Ela existe independente de você. Na física
moderna o observador influencia o experimento. Enquanto tem um observador na
meditação, existe um “eu”. Tem um “eu” que observa. Tem um famoso koan de um
mestre, ele chega para um aluno e pergunta: “O que você está fazendo”? “Eu observo a
mente”, responde o aluno. O mestre então diz: “Que mente observa, qual mente é
observada”? Nesse conflito o aluno desperta. Você não pode dizer que tem uma mente
observadora e outra que funciona independente dela, qual observa qual? A mente não
pode observar a si mesma, assim como o olho não pode ver a si mesmo, ele vê seu
reflexo no espelho. Você deve resolver esse que é mais um problema da unidade. O
observador é um “eu”. Por isso que eu digo que a meditação Vipassana, que é aquela em
que você vai observando e tomando consciência de todo seu corpo, é preparatória.
Shikantaza, que é o que fazemos, é um passo além. Enquanto tiver um observador,
existe um “eu” que observa. Você deve descartar esse “eu” e simplesmente estar aqui.
Quando estivemos lá em cima em zazen eu disse para vocês observarem os sons do
riacho, mas, na verdade, vocês devem dar um passo além disso, um passo pequeno, mas
enorme. Enquanto você ouvir o riacho, será você aqui e ele lá. Você não observa ou
ouve o riacho, você é o riacho.

Fonte: http://www.daissen.org.br/hp/index.php?id=0&s=textos&txt_id=159

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