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Resumo
Existe uma série de classificações oficiais e teóricas do que seja urbano, rural,
campo e cidade. Uma parcela destas classificações está voltada para a objetivação de
políticas públicas, de levantamento censitário, enfim, tem como objetivo oficial de
assessorar o Estado (levantamento de dados quantitativos, densidade demográfica, etc.).
Outro campo de debate, que não necessariamente está separado do anterior, é o da teoria
sociológica, geográfica, urbanística e da própria filosofia, e que analisa de forma
qualitativa e processual os conceitos de rural e urbano, campo e cidade. Compreender a
teoria de Henri Lefebvre, identificando suas contribuições e seus equívocos para a
análise da realidade é importante para dar conta do atual debate.
Existe na teoria da sociedade urbana uma concepção muito clara quanto aos
modos como operam as transformações sociais, econômicas e políticas na história. Esta
concepção possui como base a teoria marxista que analisa a história como “um processo
cumulativo, em que o desenvolvimento técnico corresponde a divisão do trabalho e da
socialização” (FERREIRA, 2010). Nesse sentido, o processo de industrialização toma
potencialidades muito grandes, tendo em vista uma maior complexidade da divisão do
trabalho, utilização de técnicas mais avançadas, etc. Já a economia camponesa, de
características domésticas e de produção familiar, é tomada como incompatível com a
sociedade comunista, pois esta funcionaria através de unidades auto-sustentáveis e com
baixo desenvolvimento de forças produtivas.1
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Neste estudo de FERREIRA (2010) pode-se ver de forma mais desenvolvida as críticas à teoria da
História de Marx, além de apresentar a concepção bakuninista da aliança operário-camponesa e como ela
está estruturada com as categorias Trabalho e Ação.
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Cabe salientar a visão de Lefebvre de que o Estado pode vir a cumprir a missão de acabar com a
oposição campo-cidade: “Por si só, a existência de tais lógicas, de tais sistemas unitários no nível do
Estado, mostra que a velha separação “cidade –campo” está a caminho da desaparição. Isso não significa
Segundo Marx, a revolução industrial inglesa não só trouxe a aglomeração de
grandes massas trabalhadoras para os centros urbanos, como também é ela própria a
principal propulsora da revolução do proletariado, ou seja, as bases da destruição do
capital:
que ela esteja superada. Pode-se mesmo perguntar se o Estado, que pretende assumir essa missão é capaz
de levá-la a contendo” (Lefebvre, 1999, p. 77).
Lefebvre passa ao entendimento da teoria de Marx sobre a industrialização como
um processo que se fecha em si mesmo, que já resolve quase que “naturalmente”,
evolutivamente o problema da emancipação dos trabalhadores. Partindo desse
pressuposto, Lefebvre vai criticar não as raízes desta teoria da história, mas afirmar que
é preciso dar prosseguimento a ela através da incorporação de acontecimentos não
previstos por Marx, ou seja, a urbanização:
Seguindo esta mesma linha teórica, existe uma mudança nos objetivos históricos
do proletariado quando Lefebvre associa a emancipação deste a conquista da “sociedade
urbana”, através da “revolução urbana”. Perde-se a perspectiva do socialismo, ou este
torna quase um sinônimo de urbano. Ao mesmo tempo coloca a classe trabalhadora
mais refém ainda do Estado e da burguesia enquanto classe detentora dos meios de
produção e reprodução da vida, no sentido que: esta mais uma vez possui a capacidade e
o protagonismo histórico de construir a “emancipação humana” através do
desenvolvimento do tecido urbano e da industrialização. Um etapismo erigi-se ainda
mais forte, identificando que as periferias do capitalismo devem passar por todas as
etapas/eras, criando e preparando a base material/espacial (industrialização-
urbanização) única capaz criar uma nova relação social, ou pior, a identificação lógica
deste processo de urbanização com o próprio desenvolvimento da revolução que há de
emancipar os trabalhadores.3
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Tal questão fica clara quando Lefebvre discute a condições preliminares para a realização da Sociedade
Urbana: “As condições, as preliminares? São conhecidos: um alto nível de produção e de produtividade,
rompendo com a exploração reforçada de minoria relativamente decrescente de trabalhadores manuais e
intelectuais altamente produtivos.” (LEFEBVRE, 1991, p. 126)
No campo da transformação ideológica da sociedade, oriunda da revolução
urbana, Lefebvre faz um verdadeiro combate a economia e modo-de-vida camponês.
Segundo o filósofo, com a morte do velho humanismo (clássico, burguês), um novo
humanismo urbano a de se erigir, através de uma “nova práxis e de um outro homem, o
homem da Sociedade Urbana.” (Lefebvre, 1991, p. 108). Porém, para que essa “práxis
urbana” floresça, ela tem que acabar com os restos do modo de vida camponês:
A Era agrária
A Era industrial
A Era Urbana
O processo citado acima de conflito na cidade da era industrial tem haver com os
parâmetros/visão de cidade que esta ainda retinha do período feudal, ou seja, local de
criação, de valor de uso. Com o desenvolvimento da industrialização um novo
movimento sócio-espacial surge com maior força na arena do debate e da realidade. A
realidade urbana, segundo Lefebvre, tende a superar as barreiras industriais e cada vez
mais se constituir em totalidade social global. Uma das principais características dessa
nova era seria o retorno da cidade como “Obra”, como valor de uso, como local
privilegiado de produção cultural e de festa, ao contrário da lógica produtivista e
economicista do período industrial.
Esta nova configuração do urbano tem relação com o processo que Lefebvre
designa de “implosão-explosão” das cidades. Explosão por que as cidades tendem a
cada vez mais se expandirem horizontalmente no espaço, criando subúrbios, unindo
cidades que antes estavam separadas, num totalidade que é o tecido urbano, a malha da
cidade, a megalópole. Inversamente, ao mesmo tempo, as concentrações urbanas
tornam-se gigantescas, expandindo verticalmente, “as populações se amontoam
atingindo densidades inquietantes (por unidade de superfície ou por habitações)” (pag.
18, direito a cidade). Este processo dialético é um dos principais efeitos do surgimento
da Era Urbana.
Porém, a era urbana e a sociedade urbana a que fala Henri Lefebvre deve ser
entendido como um trajeto ao qual tende a humanidade, mas que encontra uma série de
obstáculos e que existe ainda apenas como virtualidade, como possibilidade: “O urbano
é o possível, definido por uma direção, no fim do percurso que vai em direção a ele.
Para atingi-lo, isto é, para realizá-lo, é preciso em princípio contornar ou romper os
obstáculos que atualmente o tornam impossível.” (LEFEBVRE,1999).
Segundo o filósofo, o tecido urbano não é uma simples morfologia, ele também
é um modo de vida: a sociedade urbana. Ele é totalizante, de forma que o modo de vida
não se restringe aos “muros” das cidades, ele penetra também nos campos, subvertendo
a antiga vida camponesa, através de “sistemas de objetos e sistemas de valores”
(Lefebvre, 1991, p. 19). Os objetos são a água, a eletricidade, o gás, o carro, a televisão,
utensílios de plástico, mobiliário moderno , serviços. Os valores são os lazeres urbanos
(danças, canções), os costumes, as rápidas adoções das modas urbanas. Preocupações
com segurança, com o futuro, significam para Lefebvre uma “racionalidade” divulgada
pela cidade.
Porém, a cidade aqui mais uma vez é colocada de forma abstrata como detentora
de vontades e valores próprios, homogêneos, que estariam sendo “divulgados” e
penetrando no campo. Mas, afinal de contas, quem impõe de maneira “difusa e
combinada” a moda, a cultura e a racionalidade não é a burguesia enquanto classe
dominante? Estes valores não são impostos tanto aos trabalhadores da cidade quanto
aqueles do campo? Tal é o que obscurece essa concepção de Lefebvre. A própria
propagação de preconceitos e estereótipos que separam os trabalhadores do campo e da
cidade é um dos efeitos/manifestação da oposição campo-cidade na consciência de
classe e segundo a teoria bakuninista uma das bases determinantes de manutenção da
dominação burguesia na sociedade (FERREIRA, 2011).
Segundo Lefebvre:
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“Em resumo, o rural, o industrial, o urbano, sucedem-se.” (LEFEBVRE, 1999)
Tal tese de desaparecimento do campesinato não é nova na tradição marxista, ela
foi defendia por importantes teóricos, tal como Kautsky5. Em contraposição a ela, a
comunista alemã Rosa Luxemburgo, em seu livro “A acumulação de capital”, irá
desenvolver alguns apontamentos teóricos importantes para entender a dinâmica do
capital e persistência de modos não-capitalistas de produção no seio do capitalismo:
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Ler “Os camponeses e a práxis da produção coletiva” (MARCOS; FABRINI, 2010)
o capitalismo engendra formas arcaicas de exploração e opressão (muitas vezes nos
pólos mais dinâmicos e/ou periféricos da economia) para o seu próprio
desenvolvimento. O próprio florescimento da revolução industrial no século XVIII
ocorre sob estas circunstancias de expansão colonial, escravidão.
6 – Considerações finais