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O GRUPO FOCAL COMO TÉCNICA DE COLETAS DE DADOS NA PESQUISA

EM EDUCAÇÃO: ASPÉCTOS ÉTICOS E EPISTEMOLÓGICOS.

Rafaela Cristina da Silva Santos1

Adjane da Costa Tourinho e Silva2

Maísa Pereira de Jesus3

GT10- Práticas Investigativas na Educação Superior

Resumo: O presente artigo é resultado de uma pesquisa bibliográfica que objetivou a compreensão
da técnica de Grupo Focal como uma técnica de coleta de dados dentro dos instrumentos de
pesquisas utilizados na Educação Superior. Essa pesquisa nos fez perceber que o GF não é uma
técnica muito utilizada no meio acadêmico nas pesquisas da área de educação e de ensino. Assim,
este trabalho tem por objetivo principal transpor para o leitor a possibilidade de incluir este
instrumento de pesquisa em seus trabalhos acadêmicos, a partir da exposição dos benefícios que a
sua abordagem metodológica permite, contemplado sua definição e seus aspectos éticos e
epistemológicos, requisitos essenciais em qualquer pesquisa, seja ela quantitativa ou,
principalmente, qualitativa.
Palavras – Chave: Grupo focal, Técnica de coleta de dados, Instrumentos de pesquisa.
Abstract: This article was the result of a bibliographic research that aimed to use the
focus group technique as a data collection technique within the research tools used in
higher education. This research made us realize that the GF is not a research technique and
data collection is not widely used in the academic world in the fields of educational
research and teaching. This work has the main objective to transpose the reader the
possibility of including this research tool in their academic work from the exhibition of the
benefits that its methodological approach allows contemplated its definition, and its ethical
and epistemological aspects, essential requirements in any research, whether quantitative
and mainly qualitative.
Key - Words: Focus Group, collections Technical data, research instruments.

1
Licenciada em Química pela Faculdade Pio Décimo (2011), atualmente estudante do curso de Pós-
Graduação Latu- Sensu do curso de Educação Química – Faculdade Pio Décimo e da aluna de Pós –
Graduação em Stricto- Sensu em Ensino de Ciências e Matemática – NPGECIMA.- Universidade Federal de
Sergipe; Estudante no Grupo de pesquisa em práticas educativas e aprendizagem n educação básica (GPEA),
da Universidade Federal de Sergipe (UFS). Emil: crisquimica@outlook.com
2
Licenciada em Química pela Universidade Federal de Sergipe (1989); Mestre em Educação pela
Universidade Federal de Sergipe (2000) e Doutora em Educação pala Universidade Federal de Minas Gerais
(2008). Atualmente é professora do Colégio de Aplicação da UFS e do Núcleo de Pós- Graduação em Ensino
de Ciências e Matemática- NPGECIMA- desta universidade. É pesquisadora do Grupo Linguagem e
Cognição em Salas de Aulas de Ciências (UFMG) e Líder do Grupo de Pesquisa em Práticas Educativas e
Aprendizagem na Educação Básica (UFS). Emil: adtourinho@terra.com.br

3
Licenciada em Química pela Faculdade Pio Décimo (2013), atualmente estudante de Pós – Graduação em
Stricto- Sensu em Ensino de Ciências e Matemática – NPGECIMA.- Universidade Federal de Sergipe;
Estudante no Grupo de pesquisa em práticas educativas e aprendizagem n educação básica (GPEA), da
Universidade Federal de Sergipe (UFS). Emil: maisaquimica@hotmail.com
Introdução

A interação entre os sujeitos, a forma como se expressam, dialogam, debatem,


concordam e discordam entre si, a maneira com a qual argumentam para defender suas
ideias possibilitam uma aprendizagem construída pelo próprio sujeito. Acreditando nessa
produção de conhecimento possibilitada pela interação, é que optamos pelo uso de
entrevistas grupais, ou seja, pela técnica de grupo focal como instrumento metodológico da
pesquisa de mestrado que vimos desenvolvendo, uma vez que, segundo Gatti (2005),
propiciar a exposição ampla das ideias e perspectivas, permite o surgimento de respostas
mais completas e possibilita ao pesquisador verificar a lógica ou as representações que
conduzem às respostas que, com outros meios, poderiam ser difíceis de captar. Os dados
fundamentais, utilizados na análise dessa interação, são as transcrições das discussões do
grupo (TEIXEIRA; MACIEL, 2009). No dizer Gatti de (2005, p. 25) ao se fazer uso da
técnica de grupo focal, “há interesse não somente no que as pessoas pensam e expressam,
mas também em como elas pensam e porque expressam”, daí a importância da técnica de
grupo focal como instrumento de coleta de dados.

De acordo com Bauer e Gaskell (2002, p.79) o grupo focal (GF) “é um debate
aberto e acessível a todos porque os assuntos são de interesse comum, não levando em
consideração diferença de status entre os participantes do grupo, e o fundamento é uma
discussão racional”. Racional no sentido de ser condizente com os pensamentos e opiniões,
uma vez que toda opinião é aceita numa discussão. “Grupos Focais são um tipo de
pesquisa qualitativa que tem como objetivo perceber os aspectos valorativos e normativos
que são referência de um grupo particular. São, na verdade, uma entrevista coletiva que
busca identificar tendências” (COSTA, 2005 In: BARROS; DUARTE, 2005, p. 181). Para
Costa, esta técnica busca compreender e não deduzir e generalizar.

Grupo focal é uma técnica de pesquisa formulada especialmente numa abordagem


qualitativa, não diretiva, que coleta e analisa dados por meio das interações pessoais em
forma de grupos que, ao discutirem sobre um determinado tema em comum, sugerido pelo
pesquisador, permite aos entrevistados exporem suas ideias e estabelecerem opiniões sobre
o tema pesquisado, possibilitando o aprofundamento do tema, ou a descoberta de algo que
esteja sendo objeto de investigação; dependerá apenas do objetivo principal da pesquisa.
Giovanazzo (2001) explicita a finalidade do GF, sendo este apropriado quando o
objetivo é explicar como as pessoas consideram uma experiência ou uma ideia e, durante a
reunião, possam ser obtidas informações sobre o que as pessoas pensam ou sentem ou
ainda sobre a forma como agem. Gatti (2005) também enfatiza que o GF pode ser
caracterizado como um instrumento capaz de promover a construção de percepções,
personalidades, atitudes e conceitos sociais numa abordagem coletiva. Nesta técnica o
objetivo principal é a compreensão das concepções dos entrevistados por meio da
participação de cada indivíduo com o meio social, ou seja o grupo. Nesta perspectiva, a
particularidade principal dessa ferramenta é a intensa influência mútua entre os
participantes e o pesquisador, que visa colher dados a partir do debate focado em assuntos
específicos, por isso é chamado grupo focal, promovendo a construção do conhecimento
em conjunto.

Por não ser uma técnica tão comum no campo da pesquisa em educação e,
principalmente, no que se refere à educação no ensino de ciências, por ter se desenvolvido
e amadurecido fora da metodologia tradicional da pesquisa qualitativa, muitos
pesquisadores não simpatizam com a utilização desse método (OLIVEIRA, FILHO,
RODRIGUES 1998). Deve ser atribuído a esse fato a pouca quantidade de material nas
áreas citadas. Mesmo ainda havendo esse tipo de resistência em relação a técnica, a mesma
é considerada por seus adeptos como sendo muito útil e bastante significativa no processo
de coleta e análise de dados para pesquisas em gerais, pois ocupa, como técnica, uma
posição intermediaria entre a observação participante e a entrevista de profundidade.

Conforme Bauer e Gaskell (2002) o que difere uma entrevista individual de uma
entrevista grupal é a mudança qualitativa na natureza da situação social. Em uma entrevista
em profundidade, as respostas do entrevistado são exploradas em detalhes, é a sua
construção pessoal do passado. O entrevistado está no centro das atenções. Na entrevista
grupal, o entrevistador tem o papel de moderador entre os participantes. O objetivo é
estimular os integrantes da equipe a falarem e reagirem àquilo que é dito pelos outros
participantes. Em atividades grupais, as pessoas têm que aprender a trabalhar com a
divergência. Para tal, podem fazer uso da criatividade e da capacidade de argumentação. O
moderador poderá utilizar estímulos do tipo projetivo.

A característica principal das técnicas de projeção é a apresentação de um objeto,


atividade ou indivíduo que seja ambíguo e não estruturado, que deva ser interpretado ou
explicado pelo respondente, de forma a levá-lo a se projetar na tarefa. É conveniente a
ambiguidade do estímulo, de forma a revelar sentimentos e opiniões escondidas. Essas
técnicas costumam ser utilizadas para dinamizar e instigar ainda mais os integrantes do
grupo, quando os respondentes não pretendem admitir certas coisas que possam ferir sua
auto -imagem, porque as pessoas podem não ter consciência dos seus sentimentos ou
opiniões.

Podemos sintetizar as características centrais da técnica de grupo focal:

1. Uma sinergia emerge da interação social. Em outras palavras, o


grupo é mais que a soma de suas partes.
2. É possível observar o processo do grupo, a dinâmica da atitude
e da mudança de opinião e a liderança de opinião.
3. Em um grupo pode existir um nível de envolvimento
emocional que raramente é visto em uma entrevista a dois
(BAUER E GASKELL, 2002, p.76)

Segundo Oliveira e Freitas (1998), os grupos focais possuem destaque na pesquisa


qualitativa porque propiciam riqueza e flexibilidade na coleta de dados, normalmente não
disponíveis quando se aplica um instrumento individualmente, além do ganho em
espontaneidade pela interação entre os participantes. Por outro lado, exige maior
preparação do local assim como resulta em menor quantidade de dados (por pessoa) do que
ocorre na entrevista individual. A observação participante, por sua vez, permite ao
moderador participar da pesquisa instigando os participantes e observando atentamente
falas e expressões.

Abaixo apresentamos uma tabela onde encontram-se sintetizadas as características


da pesquisa individual e da pesquisa grupal. Por causa dessas diferentes vantagens e
limitações, alguns pesquisadores utilizam os dois métodos em conjunto no mesmo projeto,
chamado de enfoque multimétodo.

Quadro 01- Síntese da indicação de entrevistas em profundidade e grupais

Entrevista individual Entrevista grupal


Quando o Explorar em profundidade o Explorar o espectro de atitudes,
objetivo da mundo da vida do indivíduo. opiniões e comportamentos
pesquisa é para: Fazer estudo de caso com Observar os processos de
entrevistas repetidas no tempo. consenso e divergência
Testar um instrumento, ou Orientar o pesquisador para um
questionário (pesquisa campo de investigação e para
cognitiva) linguagem local
Adicionar detalhes contextuais a
achados quantitativos
Quando o tópico Experiências individuais Assuntos de interesse público ou
se refere a: detalhadas, escolhas e biografias preocupação comum, por
pessoais exemplo, política, mídia,
comportamento dos
Assunto de sensibilidade
particular que podem provocar consumidores, lazer, novas
tecnologias
ansiedade.
Assuntos e questões familiares
de natureza relativamente não
familiar ou hipotética
Quando os Difíceis de recrutar; por Não pertencentes a origens tão
entrevistados exemplo pessoas de idade, mães diversas que possam inibir a
são: com filhos pequenos, pessoas participação na discussão do
doentes tópico.
Entrevistados da elite ou de alto
status
Crianças menores de sete anos
Fonte: BAUER; GASKELL; 2002, p. 78.

A seguir um quadro comparativo entre entrevistas individuais e grupo focal,


proposto por Silva (2007)

Quadro 02- Grupo Focal e Entrevistas Individuais

GRUPO FOCAL ENTREVISTAS INDIVIDUAIS


Flexibilidade no tópico- guia Perguntas pré-fixadas sem flexibilidade
Interação entre os participantes Não há interação
Troca de experiências Não há troca de experiências
As ideias são desafiadas As ideias não são desafiadas
Há influencia entre os participantes Não há influencias
Profundidade das respostas Respostas mais superficiais
Grande quantidade de informações em Grande quantidade de informações
pouco tempo e baixo custo necessita muito tempo e alto custo
Uso de material motivacional Uso de material motivacional
Interessam as percepções Interessa o comportamento
O moderado pode conduzir várias sessões A fadiga ou a desmotivação podem
sem se cansar ou de desmotivar aparecer caso o campo seja muito amplo
Pode ser difícil recrutar muitas pessoas É mais fácil agendar entrevistas
ao mesmo tempo individuais.
Fonte: SILVA, 2007

A partir desse quadro é notável que o grupo focal possui vantagens em relação a
entrevista individual, mas esta técnica não é completa, por isso a opção de combina-las
para uma melhor qualidade da pesquisa.

A utilização dessa técnica permite ao pesquisador compreender os sujeitos


envolvidos na pesquisa a partir das interações coletivas que surgem durante a troca de
ideias, promovendo resultados inesperados que dificilmente se obteria em uma entrevista
comum ou em uma aplicação de questionário. O trabalho com o grupo focal permite a
compreensão de contraposições, contradições, diferenças e divergências (GATTI,2005).

Esta técnica pode ser utilizada de maneira satisfatória durante todas as etapas do
procedimento investigativo, pois possibilita a interação entre os participantes no momento
do diálogo, quando uma pessoa fala e a outra escuta, quando uma argumenta e os demais
concordam ou discordam, mas sempre expondo o porquê da posição tomada. “Quando
exponho minha opinião ... recebo com a entonação, com o tom emotivo dos valores deles...
e pela reação do outro formo a representação que terei de mim mesmo”. (BAKTIN,1992,
apud KRAMER, 2003p.66).

O grupo focal ao mesmo tempo que possibilita o pesquisador coletar dados, instiga-
o a refletir de forma mais detalhada sobre as concepções de comportamentos e de
avaliações internas e externas ao objeto pesquisado, possibilitando até a ocorrência de
mudanças que possam ser sugeridas pelo próprio grupo, a depender da pesquisa, devido à
experiência e à concepção dos entrevistados. Placco (2005) alerta que é preciso cuidado
para que o GF não seja considerado como representativo de certo universo de pessoas num
dado contexto específico, e, portanto, não há, nesta técnica, propósitos de generalização.

Características operacionais de um grupo focal

Para obtenção de uma melhor coleta de dados, é necessário que o GF ocorra dentro
de uma discussão informal, pois promove a liberdade e a confiança nos participantes, que
sentem-se seguros para expor seus pensamentos.
O grupo deve ter um tamanho reduzido para evitar dispersões e permitir que todos
tenham possibilidades de interagir, resultado numa obtenção em profundidade dos
conteúdos relacionados ao caráter da pesquisa. O pesquisador deverá apenas favorecer a
discussão, estabelecer propostas para problematizar e não, promover uma entrevista
diretiva grupal, pois a técnica do GF consiste em analisar não apenas as respostas faladas,
mas sim as características psicossociais que surgem na interação de opiniões sobre o tema.

O grupo focal na pesquisa em educação

Segundo Gomes (2005), por muito tempo o grupo focal foi utilizado apenas como
uma técnica de entrevista de marketing e, dentro da ciência, ele era posto a segundo plano.
A partir de 1980, surgiu a preocupação em utilizá-lo na investigação científica e, somente
no final do século passado, houve um desenvolvimento de modo sistemático do grupo
focal como técnica de pesquisa nas ciências sociais em geral (GATTI, 2012). Utilizado
essencialmente em pesquisas qualitativas, o grupo focal é “uma técnica de pesquisa na qual
o pesquisador reúne, num mesmo local e durante um certo período, uma determinada
quantidade de pessoas que fazem parte do público-alvo de suas investigações, tendo como
objetivo coletar, a partir do diálogo e do debate com e entre eles, informações acerca de um
tema específico” (CRUZ NETO; MOREIRA; SUCENA, 2002, p. 5).

O grupo passa a ser um recurso metodológico que está sendo cada dia mais
utilizado como instrumento de captação de dados em pesquisas qualitativas de diversas
áreas, visto que essa abordagem, ao mesmo tempo em que permite a
aproximação/interação dos indivíduos, possibilita captar os significados que os
profissionais da educação dão a si mesmos, a outros e às coisas que fazem parte da
realidade do dia-a-dia em seu trabalho (SANTOS, 2012). Gatti (2005, p. 12) define o grupo
focal como “uma técnica de levantamento de dados muito rica para capturar formas de
linguagem, expressões e tipos de comentários de determinado segmento”.

Especificamente na educação, o GF marca sua presença a partir de meados da


década de 1990. Antes, porém, como já mencionado, era uma técnica mais empregada no
ramo da publicidade/ marketing e de recursos humanos, visando avaliar a possibilidade de
aceitação ou satisfação do público a um produto, bem como a aceitação pessoal
(ZIMMERMANN, MARTINS, 2005). Os grupos focais são também muito utilizados em
pesquisas da área da saúde, porém, nas últimas décadas, seu uso se ampliou em áreas como
sociologia, psicologia e educação (RESSEL et al, 2008). Essa ampliação ocorreu de
maneira tímida, uma vez que, ainda não se tem uma quantidade relativa de trabalhos que
utilizaram essa técnica de pesquisas em educação e no ensino de ciências naturais. O GF
como técnica de coleta de dados na educação, serve não apenas para coletar dados, mas
para promover interações de pessoas que possuem um objeto em comum, reflexões e
autorreflexões sobre o tema abordado e expressões de sentimentos e ideias.

Partindo-se do pressuposto que as pesquisas em educação buscam respostas a


problemas que dizem respeito à sociedade, percebemos nos grupos focais uma forma de
criar condições para que os participantes possam analisar, inferir, fazer críticas e se
posicionar acerca da temática para o qual foram convidados a conversar coletivamente
(GATTI, 2012). Por ser uma técnica de pesquisa desenvolvida fora dos parâmetros comuns
na área educacional, esta técnica ainda sofre a resistência de alguns pesquisadores. Seu
lento desenvolvimento, torna esta técnica considerada como uma novidade da área da
educação, apresentando- se como a união de técnicas qualitativas já existentes.

Aspectos Éticos

A ética é questão crucial para a qualidade da pesquisa. O pesquisador deve ser ético
e fiel aos resultados obtidos em suas pesquisas. De acordo com Bauer, Gaskell e
Allum(2002), os critérios para se avaliar a qualidade da pesquisa qualitativa devem ser o
quanto ela permita uma compreensão da realidade, a autorreflexão e a ação emancipatória.
Assim, o grupo focal possibilita ao pesquisador um resultado satisfatório, pois o mesmo
consegue atender a esses critérios. O pesquisador deverá aproveitar o momento do GF para
convidar os participantes a juntamente com ele fazer uma autorreflexão sobre sua posição
frente ao tema pesquisado.

O grupo focal promove uma discussão de pensamentos e ideais entre os


participantes, na qual torna-se possível chegar a uma conclusão para o objetivo pesquisado,
bem como possibilita o pesquisador novas instigações, que podem surgir durante a troca de
ideias dos participantes, promovendo uma construção ou reconstrução de conceitos
individuais por meio de uma interação grupal. Para Ressel e Cols (2008) conduzir os
participantes a um pensamento crítico e a desalienação é uma das vantagens da técnica.
Sem falar, na capacidade de organização de significados existentes. Rodrigues (1999)
refere que as experimentações grupais e as tentativas de apreensão teórica das mesmas são
parte integrante de alguns dos movimentos mais inovadores no campo da saúde mental, da
educação, do trabalho e da luta política.

Diante de tudo exposto acima, pode-se concluir que a escolha pela técnica de GF
principalmente na área de pesquisa em educação é desafiadora, inovadora e tentadora.

Segundo Gomes (1993) há o risco de se perder no trajeto e nada sugerir, mas se


bem planejada e conduzida, ocorre a possibilidade de obtenção de uma pesquisa autêntica,
distante das obviedades corriqueiras. O pesquisador deve possuir uma postura participativa
durante todo o procedimento, uma vez que é praticamente impossível a ocorrência da
neutralidade. Como referem Denzin e Linconln (1994), até se isso fosse possível, não seria
desejável fazê-lo, pois o pesquisador é um facilitador do processo de investigação e,
portanto, está implicado na construção do grupo, coordenação e em todo o processo
vivenciado nele.

O pesquisador comprometido com o paradigma que defende, influência de maneira


direta todas as etapas da pesquisa. Sendo assim, Denzin e Linconln (1994) salientam que
os aspectos éticos são intrínsecos a este tipo de abordagem de pesquisa. A técnica pode ser
considerada uma via de mão dupla, na qual o pesquisador aprende ao mesmo tempo em
que encontra respostas e proporciona algumas soluções. Assim ela será verdadeira para
aquele grupo, não importando se serão usadas as análises de conteúdo e ou de discurso que
estão disponíveis ao pesquisador (GONDIM,2002).

Em termos mais práticos, outros dois aspectos éticos que devem nortear a conduta
do pesquisador também merecem ser citados: Em primeiro lugar, a ética na preservação
dos direitos dos participantes, ou seja, o sigilo, bem-estar, ambiente acolhedor, preservação
da identidade, e primordialmente, a preocupação com o significado dos conteúdos que
serão trabalhados no grupo e como eles poderão afetar a vida de cada um dos participantes.

Aspectos epistemológicos

É certo que existam aspectos epistemológicos que influenciam na hora da escolha


do GF como técnica de coleta de dados numa pesquisa. Para compreender esses aspectos
epistemológicos, primeiramente faz-se necessário a compreensão do conceito de
paradigma. Segundo Guba e Lincoln(1994), paradigma é um conjunto de crenças básicas
que tratam de princípios elementares ou mais profundos e representa a visão do mundo que
cada um tem, da sua natureza e do lugar que o ser humano ocupa no mundo. Por sua vez, a
epistemologia é voltada para a compreensão de diversas maneiras pela qual se torne
possível compreender o mundo e a relação existente entre pesquisador e objeto de
pesquisa. Neste sentido, entende-se que a epistemologia destina-se a construção e a
compreensão de abordagens temáticas, que podem ser facilmente identificadas na técnica
de grupo focal, no momento de reorganização e construção do conhecimento.

Nesse contexto, não existe uma verdade a priori para ser descoberta como no
positivismo e sim, uma verdade a ser construída na relação que se estabelece no percurso
da pesquisa. Assim, se pressupõe que são múltiplas as possibilidades de “verdade”, assim
como múltiplas e complexas são as manifestações do ser humano (DENZIN &
LINCONLN, 1994; RASERA & JAPUR, 2001). As bases epistemológicas que definem o
modo de construção do conhecimento são uma consequência imediata da definição de
realidade(Gomes,1993). Ao escolher utilizar o GF, o pesquisador espera que as concepções
referentes ao objeto de pesquisa sejam formuladas no próprio grupo, durante a socialização
do conhecimento, no contexto da realidade dos pesquisados.

O objeto de estudo não é visto como originado na mente individual de cada


participante, mas é entendido como produzido nas relações entre os membros do grupo
(Rasera & Japur, 2001). Nessa perspectiva, as implicações epistemológicas apontam que o
grupo focal constrói a realidade que o pesquisador busca conhecer. De acordo com esse
paradigma, há uma multiplicidade de realidades resultantes da construção do ser humano.
Portanto, a escolha da técnica de GF, fundamenta-se na crença de alcançar o conhecimento
esperado, da reorganização das ideias e da formação de concepções reais condizentes com
a literatura. Na escolha da metodologia, o pesquisador revela também sua base ontológica,
considerando que ela é a forma como se olha a realidade e o que se acredita ser possível
saber sobre ela. O conhecimento deve, segundo Rasera e Japur (2001) ser coerente, trazer
consequências práticas e ser ético.
Considerações Finais

A técnica de Grupo Focal discutida neste trabalho a partir de um levantamento


bibliográfico, nos permite afirmar de maneira segura, que essa técnica é viável e
significativa num processo de coletas de dados, uma vez que ela possibilita não apenas
uma interação entre as respostas dos participantes, mas sim um envolvimento crítico e uma
interação de ideias, pensamentos e sentimentos, que são descobertos pelo moderador do
agrupo e até por seus próprios participante, uma vez que eles acabam por estabelecer
critérios para defender a sua ideia que pode ser divergente da ideia do colega, assim o GF
não apenas permite coletar dados, mas também promove uma construção sequencial do
saber ao qual se mantem o enfoque da pesquisa, possibilitando que os sujeitos da pesquisa
tornem-se participantes ativos e contribuintes na qualidade e veracidade dos fatos
descobertos.

Apesar de ser apresentada como uma ótima ferramenta de pesquisa, o GF não é


adequado em todas as situações, assim, faz-se necessário que o desenvolvimento da
pesquisa seja condizente com a aplicação dessa técnica, caso contrário, poderá surgir a
aparência de que está técnica não seja funcional. Como já foi citado no corpo do texto,
também é necessário que não haja desvio do foco, que o moderador tenha conhecimento
suficiente sobre o tema que será abordado na pesquisa e sobre a técnica, para evitar o
desvio de objetivo e assim, afetar a qualidade da pesquisa.

Por fim, como toda técnica de pesquisa de cunho qualitativo a utilização do GF


desse ser feita de maneira bem fundamentada e leal, com os participantes, com o objetivo
da pesquisa e principalmente com os resultados coletados.

Referências

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