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Projeto

PERGUNIE
E
RESPONDEREfVIOS
ON-LlNE

Apostolado Verltatis Splendor


com autorização de
Dom Estêvão Tavares Bettencourt, osb
(in mamariam)
APRESENTAÇÃO
DA EDiÇÃO ON-UNE
Diz sao Pedro que devemos
estar preparados para dar a razão da
nossa esperança 8 todo aquele que no-Ia
pedir (1 Pedro 3,15).
Esta necessidade de darmos
conta da nossa esperança e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
" ... visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrárias à fé católica. Somos
assim IncHados a procurar consolidar
nossa crença católica mediante um
aprofUndamento do nosso estudo.
Eis o que neste sita Pergunte e
Responderemos propõe aos seus leitores:
aborda questOes da atualidade
controvsnldas. elucidando-as do ponto de
vista cristAo a 11m de que as dúvidas se
. .: dissipem e a vivência católica. se fortaleça
~ .
no Brasil e no mundo. Queira Deus
abençoar este trabalho assim como a
equipe de Veritatis Splendor que se
encarrega do respec1ivo site.
Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.
Pe. Estevão Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convênio com d. Estevão Benencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico • filosófica ·Pergunte e
Responderemos·, que conta com mais de 40 anos de publicação.
A d. Estevão Bettencourt agradecemos a confiaça
deposi1ada em nosso Irabalho, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
Índice
....
PEREGRINO 00 ABSOLUTO ........ _. ...... . . • . 165

"Pal.IOIO • dl,culldo :
"JESUS DE NAZAR~~ de Franco Z.fUralll

Ecos d. Cortln. de FIm :


DUAS CAAT~S PROV ENIENTES DA. U.R . S.S. 193

M.m6rl.. d. um uc.rdote 1\1..0:


AS CON'llERSAS VESPERTINAS 00 PA.DRE OMITRIJ DUOKO .... .. 204

DepollNftto pteClolO :
" EU FUI TESTEMUNHA DE JEOVA" por QOnth.r Pape . . . . ..• .... 2150

LIVROS EM ESTANTE 227

C:OM APROVAÇlO ECLEIIUTICA

• • •

NO ,16XIMO NOMIIO I

Contestar o Papa : sim ou não? - A nova legislação sobre


o divórcio. - "~ ... " de Mlllor Fernandes. - "0 poder do
subconsciente" de Joseph Murphy.

x --

« PERGUNTE E RESPONDEREMOS .

Assinatura anual ............ . ......... .. ... Cr$ 100.00


Número avulso de qualquer mês Cr$ 10,00
REDACAO DE PR ADMINISTRAQAO
caln Po.tal 2.866 Llvrarl" I'lIulonArla Eclltnra
Ru_ "I~rlco. 181-B (CufAl,,_
W<O ZCI.OOO Rln de .JI1"fllro (RJ)
1!Q 000 RI" de Janeiro (RJ') TeJ.: 2'24.00156
PEREGRINO DO ABSOLUTO
Nas obras dos grandes pensadores, encontram-se interes-
santes depoimentos sobre o ser humano e suas aspirações. Á
guisa de introdução em mais este fasclculo de PRo se1eclona-
remos e c<>mentaremos dois de tais testemunhos.
O Mahatma Gandhl, famoso a diversos tltulos. se auto.
defirúa nos seguintes tennos:
"Sou Ip.n . . .Igu,", que procur. I V,RI.d., Julgo 1er .ncoftttado ._
caminho que • ,I. ooncluz, • cr.lo ullr fazerlClo todo o meu poahel IM"
aU""lr I m.tL Mal con,..to que .lnda nIo ch.guer',
Com estas palavras, Gandhi apontava, como ideal de sua
vida, a procura e o encontro da Verdade... Verdade que
não é material, corpórea, nem ê diretamente lucrativa, nem
palpável como tal, mas ,que responde Q uma anseio incoer-
cível e Inato em todo homem. A Verdade é um valor apto
a atrair apaixonadamente os homens; não somente Gandh1,
mas outros multos consagraram a vida inteira à procura da
Dama Verdade.
Este fato sugere, entre outras, Q seguinte reflexão: Se
a Verdade é algo de imaterial ou não corporal, d~tro do
homem deve haver um prlnelpio não material ou espiritual
capaz de conhecer e amar a Verdade. lI: nisto, aliãs, que o
homem se diferencia do an1ma) irracional; este não é apto a
consagrar a sua vida à procura da Verdade. mas contenta-56
com a descOberta desta ou daquela verdade que lhe entra
pelos olhos ou pelos ouvidos. _. Ele não consegue conceber a·
n<>cão de Verdade, para poder apaixonar-se por ela.
Outro depoimento Que interessa mencionar. ê o de Henrl
Bergs.on, o pensador judeu que, falecido em 1941, alimentava
grande simpatia peJo Clistianismo, mas não quis oficialmente
aderIr a este, alegando que preferia ser solidário com os
israelitas perseguidos pelo nacional-socialismo. Referindo-se
ao Evangelho. dizia:
"O Cf'I. ma Impntalonou am Jnus, foi o .... programa d. CM11"hU'
18fItPC'I' plra a 'n"I•. '. Da tal maneira que se pod.rla dla.r que o at.mellto
•• "val do C,I.Uanl.mo • • ordem da nulte8 pa,.,....
Foi certamente o sennão da montanha (Mt 5·7) que
inspirou esta observacão de Bergson: Jesus ai exorta os seus
discípulos a procurar cuma justiça melhor. , 'OU se:fa. um
tipo de vida mais perfeito do que a dos eperfeitos). dos tem-
pos de Cristo: imitem o Pai celeste, que dá o sol e a chuva
aos bons e aos maw (Mt 5,44-48)... Dispensem qualquer
-'-185 -
tipo de juramento, porque a simples palavra do cristão deve
ser tio veridica que não precise de reforto algum (Mt
5,33-37). Em suma, não se contentem com as aparências da
santidade, mas cultivem o âmago da mesma santidade, a
qual tem seu modelo consumado no Pai Celeste. Na busca
dessa meta, o cristão. nunca pára; nunca se dã por satisfeito
ou crealizado_, mas ~ sempre séquioso de mais verdade,
mais amor, mais vIda •.. até atingir a plenitude destes valo.
res na eternidade. AliAs, o ApOst<llo São Paulo diz muito a
propósito;
"NIO que .u .. tenha chet8do • mea.. ou que li ..I.. perfeito, m_ 'IOU
ptoaMlUlnclo ,.,. "r .. o 1fC8n~. pois !Que tlmb"" I' 1\11 ..can~ado ,of
CrIMe! J..... N~ Irml"; RIo MIO qu. lU I' lenh. IICII~O, m.. um.
coI •• 'avo: ~ndcHn. do que llca par. tru, umlnho reto par. dlanta,
pf'OIIqulndo em demendo do .....0 ... " (R " 1&).

Por conseguinte, o que impressionou Bergson, foi a


demanda do Absoluto, que taz dos dlsclpulos de Jesus os pere-
grinos do Absoluto. Seguindo tal programa, os cristãos pro-
curam viver, de maneira evangélica, o Ideal proposto por
Gandhi. Este, ao fatal' da Verdade, formulava em termos
filosóficos, a mesma meta a que os cl'istãos tendem quando
procuram a Deus, . .. Deus que se revelou como Pai.
Pois bem. Tel' consciência de nunca haver chegado, estar
dlsponlvel para atender a qualquel' Imprevisto na caminhada.
estar livre para um Sbn generoso a tudo que possa sadiá-
mente quebrar a rotina . .. , Isto requer, da parte do peregrino,
forte capacidade de perseverar. São João da Crtl2 dizia:
cSe bem que o caminho seja lIso (! suave para as pessoas de
boa vontade, pouco e dificilmente se adiantará. aquele que
não tiver boas pernas. coragem e constância virib (<<Dizeres
e Máximas, 3).
Todavia é precisamente nessa Insegul'ança cheia de ris·
cos, mas heróica, que resIde o segredo da felicidade e o atl'a-
tlvo do Ideal cristão· Ê por incitar o homem a crescer sem-
pre, ultrapassando.se constantemente, que o Cristianismo pode
pedir a palavra e falar a todos os homens.
Seri. que os propdos cristãos têm plena consciência
disto? . .. Consciência não apenas teórica, mas ericaz e con·
creta 1. .. Possa o mês de maio, que transcorre sob o signo
do Espirlto de Pentecostes e o soniso da Virgem Mãe, Inci-
tar os cristãos a cultivarem a sua vocação de peregrinos do
Absoluto, sacudindo roUna e torpor pal'a respondel' magna-
nimamente aos apelOS sempre renovados de Deus e dos
homens!
E.R .
-186 -
" PERGUNTE E RESPONDEREMOS ..
Ano XIX - N' 221 - Maio d. 1978

Aperatoeo • dlscutfdo:

I, jesus de nllzaré"
de Franco Zem",m
Em alnt... i Franco ,_'"relll 6 o lulor do filme "Jesus de Naur6",
cuja prlmelr. perte ..ti .endo •• tblela no 8ra," (apresenta l<:onleclmentOli
dtada I) nalclmanlo ele Joio Batllla a'6 • primeira pradl~lo da Palxlo).
A pellcula 6 ric. em plrsonagana, c81\6,108, coloridos e lone, o que. torna
puJanta a Impreu'onanll. Todavia apre.entll Maria a sofrer II dore. do
parto - o qye , amb/ouo. Ouer 1110 algnlllcllr que Uarla tol mie como ..
oulras mulheres, sem ter conseNedo o '8U titulo de virgindade antes do
parto, no parto • dlpols do parto? Ou qlHlr Zefllrelll apena Indicar qUII
Maria, Ilcando vlrSlm perpétua, comp,artllhou o sofrimento de todas 8S
mias? A eltule. tradlQ:'o cat611ca ..mpr. rep,.,.antou Maria lsenhl dU
do.... do parto, • 11m d. acentuar plenamenle a perpétua virgIndade dI!
Sanla Mie de Deu • . o. tulo, a IlInçlo du dorel do parto em Maria nade
tem que ver com a Imaculada Cone.lçlo da mMma Senho,,"
Pod.1O também obaervar que o filme de ZefflreUl é pouco tranapa-

mas antes I.
rente ao Tren.candenlal e Divino em Je,uI. AI6m do que aprel8nta um
Crtslo cuJas atttude. "mllllleaa" nem liWnpre lembram aa do Crialllnllmo.
Ulemalham 1. de oult.1 fontas de 8flplrftualldade. Todavia
a.I' 1 dois ponto. I.m pouel Import'ncl, am confronto com o que ..
refare ao palio de Marl. 55.

Nlo obstanle, reeonhlettnos que o filme Iprannla cenu grandlosU


a que, abalraçlo feita do raferldo epl. 6dlo, poder' .er útil ao. e.pactaclol'Ol.

• • •
Co!mentárlo: O diretor de cinema italiano Franco ZeffirellJ.
autor de «Romeu e Julieta> t'! cIrmão Sol, Innã Lun, é reg.
ponsável outrossim pelo fUme «Jt'!Sus de Nazaré:t, wna pellcula
cuja prImeira parte está percorrendo o BrasU, devendo a
segunda parte .ser exibida em jUlho. Visto que O "diretor se
tornou famoso e o filme tem suscItado controvérslas, propo-
mo·nos, a seguir, comentA·lo swnarlamente.
-187 -
4 _PERGUNTE E RESPONDEREMOS. 221/1978

1. «J..... de Ncnaré. 111


A primeira parte da pelicula compreende os a'COnteci·
mt:ntos que vio desde os imediatos antecedentes do nascImento
de João Batista atê a primeira predição da Paixão por parte
do Senhor, durando a sua exibição duas horas e meia.
A pellcula foi fUmada no Marrocos, na Tunisia e na
Turquia, desde 29 de setembro de 1975 até 28 de maio de 1976.

Franco Zetrlrelli consultou eclesiásticos e especialistas


para reproduzir da melhor maneira posslvel as cenas dos quatro
Evangelhos que ele selecionou segundo critérios vãlldos : a
natividade de João Batista, a de Jesus, a pregaçiio do Batista,
o sermão das bem.aventuranças, a parábola do filho pródigo e
outras, o episódIo da pecadora anônima (que Zeflirelli Impro-
priamente identifica com Maria Madalena), o demoniaco de
Gerasa, a pesca milagrosa, a ressurreiCão da tUha de Jairo, a
multiplicação dos pães, a confissão de Pedro ...
As cenas não são apresentados por Zeftlrelli na ordem
mesma segundo a Qual se encontram nos Evangelhos ... Em
um ou outro caso, o autor fugiu da letra do texto sagrado,
acrescentando-lhe algum tópico ilustrativo, que não diminuJ o
vaJor da peLlcula; assim, por exemplo, apresenta moleques a
ameaçarem de incêndio a casa da pecadora (supostamente
Maria Madalena); por ocasião da multiplicação dos pães, no
filme é a multidão que se precipita sobre o depósito de pães e
peixes re~m-produzidos, ao passo que o Evangelho diz que
Jesus mandou à multidão que se sentasse sobre a relva, onde
lhe seriam distribuidos os viveres. Após o perdão conferido à
pecadora, Jesus lhe entrega um vaso de óleo que serviria para
embalsamar o seu corpo (o que mescla as cenas de Lc 7
e Jo 12).
Em geral, o filme se apresenta rico em personagens,
coloridos, música, som ... ~ fortemente movimentado; exibe
cenârlos grandiosos de desertos, dunas, aldeias, etc., o que
bem corresponde ao estilo de Zeftlrelli. Em conseqüência, o
espectador não pode deixar de admirar o aspecto artistico da
pe11cula, o qual é eloqüente e digno de apreco. pergunta.se.
porém: como julgar a mensagem transmitida pelo filme?
.l!.: o que tentaremos dizer a seguir.
-188-
______________~cl~ES~U~S~D~E~N~AZA~~mb~______________"5 '

2, R.fl.Hnclo ",
Proporemos três pontos mais salientes, sublinhando de
novo que é ditlcU aprecJar de maneira exata O fUme enquanto
nio se tem o conhecimento da segunda. parte (que, entre
outras coisas, apresentaré. o final da vida de CrIsto) .

2.1. Opoddad.. tranllpClrlnda

Todo fUme é geralmente concebido em vista de uma tese


que o autor Quer sugerir; por Isto. o produtor estlllza, realçando
um ou outro tópico que ele julgue mais importante para o
seu propósito. Principalmente um filme sobre Jesus hA de ser
transparente Ià mensagem respectiva. sem, porém, ser piegas
ou adocicado. Ora o filme cJesus de Nazaré» nos pareceu
tnsuficientemente transparente: os penonagens e as cenas que
apresenta, são marcados por variedade de cores. sons, movl~
mentos, vestes que impressIonam profundamente o espectador,
m~ que pouco ou nada insinuam de transcendente. Talvez uma
maior sobriedade dos cenários facllltasse a percep~o do outro
lado da realidade ou do mistério de Deus feito homem. Allãs.
O próprio Zeftirelli declarou:
"Esteu lnl.,....do no •• pacto humano de Crlslo, de Marla e 60e
demef.. .. atgo nunea anle. apl'8lenlado num filma. Cristo tem aldo mo..
Irado como urna crlalura IntoCi...." luper-dlYlna ou como um 'hlpple' rebelde;
Orll emba.l alo concepç6n q~ ficam lotalmen,. alheias ao meu roteiro"
(ProlPectO dlllrlbur60 pela "Condor").

Na verdade, é importante frisar o aspecto humano de


Jesus, pois a salvação que Ele. velo trazer se baseou na
Encarnação e na partilha do humano com os. hpmens: todavia.
para ser fiel à verdade, é preciso que o autor saiba também
deixar transparecer, através do humano, o Transcendental ou
o Divino em Jesus. . .

2.2. A figura cs. Cristo como tal


A ffgura de Cristo apresentada por Zeffirem nada tem
de Jdpple (Como t&tvez o tenha o Cristo de .Bufiel em <A VIa
Ucteal; também é bem distante' do tipo de Ude. lindleal e
chefe de . massas que Pasollnl insInua no cEvangelho segundo
S. Mateus•. Um tanto tora de propósIto, o CrIsta de Zettlrelll
assume àt:l.tudes místicas que lembram fontes de ··eSp1r1tuali.
- 189--
6 cPERGUl"ITE E RESPONDEREMOS, 22Ul978

dade diversas das da mlsUca cristã. Com efeito, durante 8


multlpllcaçio dos pães Jesw se coloca em atitude imóvel,
com a mão levantada e o olhar fixo no fenômeno; tal gesto é
amblguo, pois lembra o do mago ou o do prestidigitador ...
Quando Judas se checa a Jesus pela primeira vez. encontra·o
a orar de olhos fechados, de tal modo que Jesus não responde
de Imediato a Judas ; nlo haveria uma analogia entre tal
atitude e a do gora (mestre) indiano absorvido em oração,
disposto a se alhear ao mundo e aos homens sistematicamente?
Tal atitude dificUmente corresponde ao que geralmente se
pensa a respeito de Jesus Cristo, que foi certamente um
grande Qrante (como homem) I mas outrossim um amigo dos
homens, aberto a todas as suas necessidades. Em suma, O
artista Robert Powell, no papel de Jesus, não foi de todo
feliz.

2 .3 . As cloNS do parto

Um dos pontos do fIlme mais controvertidos é o das dores


do parto que Zetf1reUl atribui a Maria SS. O autor assim
justifica a sua opção:
"pa,.. mim, .... n••clmento 101 tio Importante que eu llve de mostrar
que a n.tMdecia nlo .ta o ~atto 8arad''''1 qua • ueullmlnla mostrado
em 111m.. e plnluraa. Marli te.,. um parto cSeteaparado, com multai 40.....
as ' - o filho, como ume alma pobre e abandOnada, multo J(MIm a .am
qualquer ajuda a nlo .., a do a.poso Jou" (Ib .).

"MoslNl o nllclmento da CrIsto da maneira mais realista polSl-


vai" (lb,l .

Pergunta·se: essas dores de parto pretendiam slgnüicar
apenas que Maria e ;Jesus compartilharam a condição sofre·
dora doa homens até llS últimas conseqüências? Ou não
slgnliIcam também que Maria foi mie como as demais mu-
lheres, isto é, sem O titulo da VIrgindade que a té lhe atribui
antes do parto, nQ; parto e depois do parto! Se esta insinuac;ão
é a que ZeU1re1l1 teve em vista. então realmente o seu f time
destoa da mensagem da fé católica. A Igreja, visando a
afirmar a virgindade de Maria no parto, sempre lhe atribuiu
um parto sem dor; este ê tido como conseqtiêncla do fato de
ter guardado a virgindade até mesmo durante o parto.
Note·se bem, de resto: a IRncão de dores no parto, em
Maria; nlo sé deve ao fato de ter sido ela isenta do pecado
-190-
cJESUS DE NAZARt:, 7

original. Verdade é que o texto sagrado relere a seguinte


sentença do Senhor sobre ti. mulher após a queda orig1nal:
cAumentarei os sofrimentos da tua gravidez; os teus tuhos
hão de nascer entre dores. (Gn 3,16) . Todavia sabe-se que
as dores do parto, ne case, significam a matemIdade em toda
a sua ampUdão; o que o texto do Gênes1s quer dizer, é que a
mulher, em conseqüência do pecado, exercerá. com trabalhos e
fadigas a sua típica missio de mãe; se, nesse contexto, a
medicina consegue diminuir ou suprimir as dores do parto,
nada se lhe opõe da parte da Lei de Deus; a maternidade
fiea sendo árdua e laboriosa tarefa. COmo quer que seja,
não é por causa da imaculada conceição de MarIa (1senç1o
do pecado original) Que a Tradição católica sempre ensinou
ter sjáo indolor o parto de Maria.
São estas as trés considerações Que julgamos poder
oferecer ao público no tocante ao conteúdo do filme «Jesus
de Nazare:t de Franco Zetflrelll, em sua primeira parte. Das
três, certamente a terceIra é a mais ponderosa porque de
certo modo toca uma verdade de fé, que poderia estar sendo
questionada pelo autor.
Resta ainda

3. Uma observaçõo final


Após assistir ao filme ~Jesus de Nazaré:t, multas
pessoas levantam a questão a respeIto do silêncio Que no
Evangelho cobre o periodo dos doze 80s trinta anos de vida
de Jesus. Por que ao propósito nada disseram os evangellstas!
_ A resposta nA.G é dincl1. Vlsto que j6. fol amplamente
expostas em PR 206/ 1977, pp. 61.76, basta aqui reswni.la em
poucas frases.
Os Evangelhos geralmente são tldos como biografias de
Jesus, quando na verdade não o sio. Os evangellstas não
intenclonaram descrever a vIda e os feitos de Jesus, mas
apenas redigiram por escrito a pregação oral dos Apóstolos.
Ora esta começava pelo fim, e nio pelo nascimento de
Jesus; isto é, narrava primeiramente a morte e a ressurrelçio
do Senhor ou a Páscoa do Cristo, pois o que mais ImpJrta
na mensagem cristã é a noticia de que Jesus salvou os
homens derramando o seu sangue na cruz e superando a
-191-
8 c:PERGU:NTE E RESPONDEREMOS» 221119i8

morte mediante a ressurreição. Em segundo lugar, a pre·


gação dos Apóstolos narrava a doutrina de Jesus apregoada
durante a sua vida ·pública, visto que esta era o pano de
tundo necessário à compreensão da morte de Cristo. A vida
pública do Senhor nlio era descrita segundo rigorosos crité·
rios de cronologia e lopografia, mas tão somente apresentada
em vista da instrução doutrinÔoria dos ouvintes. Para trãs da
vida pública ou para trás dos trinta anos de Jesus, não era
necessário recuar na pregação dos Apóstolos; @m conseqUên·
ela, S. Marcos nos narra apenas o que houve desde o batismo
de Jesus até a sua gloriCicação, sem aludir à 1n!ância do
Senhorj S. Mateus e S. Lucas acrescentaram ao esquema
da pregação apostólica algo sobre o nascimento e a infância
de Jesus porque o quiseram, e não porque isso pertencesse ao
conteúdo da mensagem apostólica. Donde se vê que n gênese
dos Evangelhos não é a de uma bIografia: esta com~a
pelo nascimento, narra a infância e a juventude do seu herói.
depois passa à vida profissIonal e ao decllnlo do biografado;
se numa biografia falte alguma dessas partes, é ju~tlficado
perguntar por que falta. O mesmo não se dá no gênero
literário dos Evangelhos; estes começam pela PAscoa e
encerram sua linha de exposição no Batismo do Senhor
ocorrido aos trinta anos; o que para trás neles se acha. é
intencionalmente esporádIco.
Quem sabe disto, não se surpreende pelo silêncio dos
evangelistas sobre o penado que vai dos doze aos trinta
anos de idade de Jesus, nem vai procurar explicações despro·
positadas para o mesmo em fontes mediúnicas ou esotéricas.
que só podem falar, a respeito, de maneira fantasiosa e
U\1SÓrla.

Em conclusão, pois. pode·se dizer: o filme «Jesus de


Nazaré. de Franco ZerrirellJ, em seu conjunto, é válido e
interessante. Todavia, no tocante ao episódio do nascimento
de Jesus deixa aberta uma questão que de perto toca a fé
catóUoa.

-192 -
Ecoa da Cortina do Ferro:

duas cartas provenientes da u. r. s. s.

Em II,,~: Este artigo epresenta du .. cartu do Jovem NUO Georgll


Fedotov, que, Intemado em uma cllnlca pelqul6lrlca de Moscou, na«_ como
• tratado pelo. InflrmllrOl I pela "ollcla e como foi dissipado um encontro
de jovens na capUat aovl6l1ca em junho de 1978. Esses doll dOC\lmenloa
atestam _ veem'ncla da pa,.lgulçio, de um lado, e, de outro lado, • ,......
Uncll heróica dos crl.tles, cuIa numero vai mesmo crescendo. pol. ..
qgbtrl Ixtrlordln6rlo I InlC~ltAv.1 BurtO rll1glOBo na Rúula de nosaos
dias. As convem•• s. dlo no ..lo das famlllas cornunlatas e a.slnalam
(I upontlneo reencontro de OeuI por par1e do homem. cuJ_ dlmertllo
rellgloll • Indl'M!.
• • •
Comentário: A nossa revista tem publicado depoimentos
relativos à reaUdade social e religiosa da U.R.S.S. Assim
vem procurando pôr em evidência o surto de valores crlstãos
que, apesar da persegulcAo atéIa, vão sendo mais e mais
estImados e cultivados não só peJos anclãos, mas também
pelos jovens e os intelectuais que hoje representam a cintel-
IIgentzia:t da U. R. S . S. Esse despontar relIgioso é do mais
alto significado, pois não resulta de fatores poUUcos ou
sociológicos, mas corresponde fi natureza humana como tal.
brotando espontaneamente da consciência do homem russo.
que, como qualquer outro, é «homo sapiens:. e . chomo rell-
giosus:t.

Desenvolvendo a temá.tlca até aqui apresentada, publica.


remos, a seguir, em tradução bmsUelra, duas cartas de um
jovem russo que, por causa de SUB fê religiosa, foi Internado
em hospital psiqulâtrlco. A primeira dessas miss.l.vas refere·se
a um Grupo da Juventude Ortodoxa que foI descoberto em
Moscou e desfeito pela policia russa em junho de 1976.
Vários dos membros desse Grupo jovem foram tratados com
violência, sendo que um deles, Alexandre Argentov, foi
internado em hospital psiquiátrico (veja·se wna carta de
Argentov em PR 207/1977, pp. 120·122). Outro membro do
Grupo, Georgü Fedotov, escreveu as duas cartas que abaixo
publicaremos. Ambas são dJrlgidas à Sra. Tânia Khodorovitch.
membro da Comissio que em Moscou propugna os direItos
do homem.

-193 -
lU "PERGUNTE E RESPONDEREMOS, 22lJJ97S

Antes de transcrever as cartas em foco, diremos algo


sobre a respectiva fonte de Informações, ou seja, sobre o
<ham.doSomizdaL

1. «5amlzdat»: a fonte d. Informa(êes


A palavra sarnlzdat quer dizer cedi~ões jndepcndentcs~,
em oposição tl CODIJizclat, que significa cedições do Estado~ . Há
cerca de doze anos, um grupo corajoso na U.R..S.S . resolveu
divulgar dentro e fora do pais a triste realidade ali ocorrente;
t al movimento, que com~ou timidamente, foi.se dcsenvol·
vendo e implantando; hoje constitui wn fenômeno não só de
elite, mas também popular; vem a constituir na U.R.S.S.
uma nova cultura, peja qual se interessam cristãos e não
cristãos. A principio, eram poucos e timidos os leitores dos
escritos do eam1zAat, ao passo que hOje em dia são numerosos.
chegando a arranCílr do bolso slnela, para lê· los, os
docwnentos clandestinos.
Esses documentos são os mais diversos possiveis: cartas, .
crônicas, relatórios de três ou quatro páginas, ou mesmo
livros de dezenas e centenas de páginas (tratados de filosofia
ou teologia, romances ... l. fIa tambem revistas publicadas
pelo suntrdat, em número de vinte ou mais, com edições
regulares .. .
O funcionamento do 6I.mIr4a.t é muito simples, pois se
baseia na técnica arte-sanal: 03 amigos transmitem os textos-
uns 80S outros e providenciam a multiplicação dos respectivos
exemplares; assim, perfazendo uma cadeia, os documentos
circulam al:r8vés de toda a Rússia Soviética. Toma-se difícil
avaliar 8 densldade do fenômeno, pois ê certo que todos os
dias dezenas de escritos novos entram em e1rculaçiio; jã mo
se trata de fenômeno esporádico ou excepcional. mas de
algo que integra a vida cotidJana do povo russo. O Centro
de Estudos dtussla Chr1stlana>, com sede em MUão, possui
mais de três mil documentos do .am Izd.~ e recebe quase
todos os dias uma remessa dos mesmos. Compreende.se com
que dIfIculdade cheeam a destino esses escritos: têm que
passar pela rede de comunicações da União Sovictica e
f'inalmente atravessar as respectivas fl'Onteiras.
A veracidade das notIcJas do p,mJMat tem sido compro-
vada por outra fonte de lnfonnações: os emigrantes russos.
Calcula·se que semanalmente no m1nImo trezentos cidadãos
russos recebem Q autorização para deixar o seu pa.is de
-194 -
DUAS CARTAS DA U. R.S .S. 11

origem: alguns sollcltam tal pennlssão, OlltroS são aconse-


lhados ou mesmo constrangidos a emigrar. A abordagem de
tais cidadãos permJte aos interessados averiguar, com certa
nJt!dez, o que ocorre realmente na Rússia Soviética; basta
interrogá·los para se ter a confirmação das noticias trans-
mitidas pelo samlzda.t.
Passemos agora ao texto das duas referidas cartas:

2. Dois documentos
2.1. Um grvpo dlt$'etfo

Como dito, a primeira missiva refere·se ao grupo jovem


ortodoxo que a poUcIa desbaratou em. junho de 1976.
CeorgU Fedotov assim narra e comenta 03 acontecimentos:

"Senhora TAnia Khodorovitch.

Venho pedir D auxilio da Sra. a propós.lto dos açontecl-


mentos recém-ocorrldos em Moscou e dos quais falo nesta
carta

Não sei se a Sra. teve conh&Clmento de que a08 15 de


Junho pp. foi dissolvido um Grupo da Juventude Ortodoxa de
Moscou que se reunia à 'Perspectiva Mira' n9 25. A Sra. poder'
obter do presidente do Grupo da Juventude Ortodoxa, Ale·
xandre Ogorodnlkov, as minúcias referentes aos Interrogató-
rios Impostos pela KGB a vários Jovens cristãos e aos gonl-
tores destes.
A tentativa da Juventude Ortodoxa no sentido de promoveI'"
encontros e de organizar Seminários cristãos terminou por
causa das repressões exercidas por pagãos ferozes sob a
Influência do 'esp,frlto universal do mal', contra o qual lutam
também os cristãos.
A nossa Juventude, que encontrou a Deus através das
vicissitudes do absurdo profano e da vi sabedoria do mundo.
enfrentou Satanás e seus anJos. Mas, além da máquina re-
pressiva do alelsmo do Eslado, alguns genltores soviéticos
também se mostravam Inimigos dos Jovens crlstlo9, fazendo
reinar entre estes um clima de terror. Tais genltores slo as
vitimas de uma percepçAo nAo critica da propaganda comunista.

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1.2 .. PF:RGUNTF. E RF.sPON'DF.:REMOS~ 221 /19'18

A Juventude romana, no século IV, IreqOentava 8S assem-


bléias cristãs nas catacumbas, Em Moscou, porém, no sé-
culo XX nlo h6 nem sequer catacumbas. Não existe lugar
algum para nos reunirmos: nos apartamentos, OIS locatários
nAo gostam das reunlOes de jovens, porque provocam multo
barulho e suscitam preocupações aos proprietárIos.

Por consegu lnle, seria necesdlrla uma casa na qual os


jovens pudessem reunir-se para estudar o Novo Testamento,
ler as 'Vidas dos Santos' e tomar conhecimento da santa teo-
logia. Essa C8S8 deveria Incluir uma biblioteca cristã.

Se existe um movimento da Juventude CristA em Moscou,


esse movimento deve ter seus correspondentes a amigos no
estrangeiro. Em vista dist<o, pOde-se pensar em constituir uma
sede da Juventude Cristã perto de Moscou. As Juventudes
Comunistas têm suas sedas e seus campos de esportes ... ,
mas a sorte dos jovens cristãos nAo comove nlngullm a nAo
98r a KC38 e os hospitais psiquiátricos.

OIS lovens crlstAos do século XX não se podam contentar


com uma mentalidade religiosa deteriorada. como li de velhi-
nhas, julgadas pelos Comitês de Distrito. que ficam atrés das
caixas de velas nas Igrejas e fazem o dinheiro tinir. Os Jovens
também nfto podem penaar como algunts genitores soviéticos,
que procuram Sufocar -O Cristianismo com o auxilio da mlllcla
e dos psiquiatras de bairro. As perseguições por motivo de
convlcçOes religiosas em nossos tempos desenvolvem-se macl·
çamente nas escolas, nos Institutos tllcnlcos e nos estabele-
cimentos de ensino superior de Moscou.

Compreenda-me. não tenciMO em absoluto confundir


meus desejos com a realidade: há poucos cristãos formalmente
Inscritos nos registros; mas existe Imensa multidão de Jovens,
nlio Inscritos nas par6qulas, que via à IgreJa. e procuram,
sonham, Interrogam. I:! uma multidão Independente ; escapa
aos quadros da psicologia $Oclal dos homens deste mundo.
A procura da Igreja por parte da juventude começou em Mo&-
ecu. porque Deus a suscitou; se não lora Isto. os poderosos
não se preocupariam lanto com tal movimento. Trate-SEI de
um fen6meno mortal para os burocratas esclerosados, porque
é um movimento sincero 9 claro como o orvalho da manhA.
Eis um fenômano digno de entrar na história da Igreja, como
testemunho do despertar do povo russo.

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DUAS CARTAS DA U .R.S.S. 13

Em torno de Sasha Ogorodnlkov reuniu-se 8 Juventude


intelectual ortodoxa. Todos os pensadores deveriam mobilI-
zar-se para a defesa da Juventude Ortodoxa de Moscou. A
opinião pública do mundo Inteiro deveria assinalar .com o alnete
da Intamia os ateus que a combatem com seringa na mio.
Basta de terror I ~ preciso Intervir ainda com mais vigor em
favor de Vladimir Boukovsky e todos os prlslonelrop de cons·
ciência nos cárceres e nos hospitais psiqulétr1.cos.
Que Deus guarde a Sre. !
(8) Georgli FedotClv
9 do outubro de 1918"

Esta carta, de tom assaz veemente, é o eco fiel do que


sentem muitos jovens de hoje na Rússia. Nem todos os
contestatários; do Governo e da violência. repressiva tbt
consciência nltlda do que sejam o Cristianismo e seUs valores:
educados em ambiente ateu, eles vão de9cobrindo. geral-
mente por autodldatlsmo (ao qual não falta a e.cão do
EspIrito Santo) , as perspectivas do Evangelho e da vida
cristã. A voz destes jovens é particularmente valiosa pelo
fato de que não é inspirada pelos mais velhos ou pelos
mestres e escolas ofielais da Rússia, mas, sim, pelo genufno
senso religioso que existe no fundo de toda consciência
humana. O senso rellgloso desta pode ser impugnado e
reduz.ido a silêncio, mas não perece~ ele se faz ouvir desde
que se propicie ao ser humano a ocasIão de renetlr mais a
fundo sobre o sentido do materialismo e da vida sem Deus.

'*' lt à luz destas verdades que deve ser llda


GeorgU Fedooov atrás pUblicada.
a carta de

Segue-se a segunda miss[va anunciada.

2 .2 . AJndc os «tratamentos» pslqul6trtcos

"Sra. TAnia Khodorovltch.


J6 há cinco anos que sou o .objeto de persegulçOea paI-
qulAtrlcas por caLlsa das minhas convicções religiosas (1971-
.1976). Antes, fui perseguido pelos agentes do KGB (1963-
-1971).
Desculpe-ms, por favor; é extremamente dlrrcll escrever
na atmosfera que aqui reina; o delfrlo dos doentes, aIS Im-
-197 ~
14 ,PERGUNTE E RESPONDEREMOS, 22Ul978

precaçôes dos enfermeiros, o terrlvel odor que nos cerca e


causa náusea . ..
Encontro-me no Hospital Psiquiátrico n9 14 de Moscou,
na S. secçAo, dirigida pelo Dr. Levltsky Vlad Imir Vakovlevlctch.
Três agentes da Divisão 041 da Mlllcia de Moscou me trouxe-
ram a1é teã, a titulo de me propor.clonarem uma entrevista com
o médico. Haviam-me dito que assim procediam por ordem
da médIca do dispensárIo pslqulétrlco dependente do Hospital
n9 14. a Ora, Solomakhlna, e acrescentaram que me levariam
de volta do dispensário após a conversa iCom o médico, e
finalmente me fariam chagar • casa ou ao meu apartamento
(n9 347, Oul. Shlpllovskaya 38) em Moscou. Mas. em vez de
me levaram de volta ao dispensário, conduziram-me à racapçAO
do Hospital n9 14, onde. em minha presença, um dos agentes
entregou ao médico de servIço uma ordem de Intemação que
me dizia respeito. O documento especificava que o meu caso
Já nAo era da alçada do dispensário e que eu fora enviado
para " a fim de ser submetido a exame pela comissão de
perItos da Medicina do Trabalho, dado que me atribulam um
certificado de Invalidade de .segundo grau.
Nesse momento. declarei-lhes que eu nAo me co nsiderava
um doente mental, e que era membro do Grupo da Juventude
Ortodoxa de Moscou.
'Já temos conhecimento disso', respondeu-me o médico
de serviço; 'recebemos mesmo uma nota segundo a qual você
acaba de chegar do mosteiro de Pskovo-Petchersky'.
Outro médico BtréSeentou descomprometldamente : 'Pa-
rece que nos 01t1mos tempos a policia nos esté trazendo mui-
tos crentes'.
Despiram-me por completo; arrancaram-me a cruz que
eu trazia ao pascoço, ameaçando amarrar-me caso eu resis-
tisse. Confiscaram-ma o meu 'Novo Testamento de Jesus
Cristo', dizendO que era proibido trazer cruzes e orar e, mais
ainda, ler o Evangelho. A seguir, colocaram-me despido em
uma banheira suja, Que encheram de égua. Resolvi nAo opor
resIstência.
Para começar, levaram-me para a 3' Secção a, depois.
para 8 4., onde sofri exames humilhantes. A seguIr, fui colo-
cado na sala de observaçAo da 4' Secção, após tar sido
revestido de velho piJama. Enflaram-me nos pés sandálias

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DUAS CARTAS DA U.R.5.S. 15

usadas, cujos prego5 eram salientes, de modo que fiquei com


um pé ferido. A sala estava cheia de espessa fumaça de
cigarro; o ar se achava saturado de Imprecações e de gritos.
De repente, um doente e um enfermeiro pU8eram-se a
blasfemar contra a religião. Puaeram-se a dizer suJelral contra
as RellglOes, a jurar com palavras obscenas; e Isto ., . Impr~
vistamente, sem nenhum motivo.
Diante disto, dlrlgl·me aos pagAos furiosos, dlzendo-Itles
que haviam sido .criados tambám elas à imagem e * sem~
Ihança de Deus, . " que é preciso nAo ceder à cólera, •. . que
é necessário selmos pacientes e dar testemunho de Cristo•
Na manhA seguinte. vieram pedir-me perdão. A seguir, fui

subitamente transferido para a 8'- Secção, onde me tlrorem
sangue para análises. De repente, os enfermeiros se puseram
a me persuadir de renunciar a Deus, dizendo-ma que, se eu
não renegasse a minha fé. seria enterrado vivo para sempre.
Depois disto, espalharam o boato de que eu era membro da
uma seita da aldeia de Llouboutchano noa arredores de Moscou
e que eu lhes fora levedo para ser acalmado. Deram-me uma
Inleção de Trlftozlna. Cercado dos !Clamores dos loucos e de
gritos obscenos, passei uma noite e um dia inteiro em pesade-
los. De repente, prescreveram-me um tratamento com Haloperl-
doi, O médico da Secção Levilsky d~clarou-me abertamente
que ele nAo s.credltava em Deus, mas acreditava n~ ciência.
Todavia a ciência de Levitsky toma a forma de genocfdlo
pSlqulétrlco dirigido contra a fé .
Sra. Tênia Khodorovltch, peço-Ihe que Informe O COns&-
lho 5c::umênlco das Igrejas a respeito do que me acontece, e,
pessoalmente, queira dizer ao Dr. Phlllp Potter que estou 'em
tratamento' para curar-me da minha fé. Possa uma camlsa.o
do Conselho Mundial das Igre/8s Interessar-se por minha' sortel
Tenho muita coisa 8 relatar com referência à sorte dos con-
fessores da fé na U. R. S .$ .
Que o Senhor' 8 gU8r'de I
(a) Georgll Fedotoy"
Segundo Informações transmitidas pelas agências de
Imprensa ocidentais em Moscou, Qeorgli Fedotov foi libertado
do Hospital Pslqulãtrico aos 17/11/ 1976.
Os dois documentos assim publicados sugerem refle-
xões . " Vamos procurar collgi·las sob o novo titulo:
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16 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS, 221/1978

3. A Interpretação dos fatos


Os dois documentos atrAs transcritos atestam, mais uma
vez e com eloqüência, o já conhecido fato da perseguição
relIgiosa nn U . R . S . S. Evidenciam que, apesar da evolução
dos tempos e do apregoado abrnndamento do cOmunismo, o
marxIsmo soviético eontlnua sendo materialista Co ateu.
Nâo se poderia, porem, deixar de mencIonar aqui, com
ênfase especial, o fato paradoxal de um ressurgimento reli·
gioso na U.R .S .S. - fato este já abordado em PR (cf 1971
1976, pp. 201; 198/ 1976, pp. 231·245). Com efeito, apesar da
violenta campanha atelsta do Gover"no, o Cristianismo tem
despontado corajosamentE! na Rússia Soviética - o que, aUãs.
provoca. por vezes, recrudescimento da perseguição. Na expec-
tativa de ulteriores noticias a serem dadas em PR, vamos
abaixo transcrever um trecho do artigo do Pe. Romano Sea.lfl.
do Centro de Estudos «Russia Christiana:. de Milão. Como
dito, este Centro recebe regularmente a documentar,ão difun~
dida pelo sam1zdat: estã, pois, bem informado sobre as ocorrên.
elas religiosas na U .R .S.S. O Pe. Scalfi escreveu sobre cO
renascimento espiritual e cristão na Rússia de hoje:. na revista
eLe Chrlst au MondeI nl) 6, 1976, pp. 447.461: desse interes-
sante estudo destacamos alguns trechos, que de certo oferecem
n interpretação autêntica ou teológica do fenômeno cperse-
galção rcllglosa. na V.R . 5.S.- :
" O rens8clment-o cristão na Rússia tem como nota parti-
cular o valor global atrlbuldo li: mensagem cristã. Um exemplo
tlplco a tal propósito é o do Padre Dmitrlj Dudko : observe-se
a maneira como lalava, numa Igreja cheia de gente, a um
auditório constltuldo, em boa parte, de não cristãos. ' . Nos séba-
10 ,.,1.10 da obra pasloral do "cardota ortodoxo DmlttlJ Dudko foi
pubJludo em um livro da .utorla do próprio padre; edllltclo em russo
no ano d. 1974, foi tr.duddo pat. o ltall.no com o t'tulo "Pad ... Otnlt"1
Dudko. P.rroco a Mosca. Conversulonl a.rall" (Mlllo 1976. 256 pp). "
publlcaçlo ltall.nt .0 delle ao "Cenlro Studl Russla Chrl.ti.n ....

ace.so..... Igrals .t.


O p.dr. Oud ko era tesponstvel pala Ig,.,Ja da S. Nlcolau, perto do
cemll'rlo Preobrazan.kll nos .r,.,dore. de Moscou: embOre .. I. da dlftcll
procurada tod•••, naU.. por crlstlos e nlo crl,tlos
proveniente. de todas as parte. da cidade. O padre Dudko lrabalhou cora-
Josamente durante quinze ano. nMlu paróqule, embora 111I8SS8 pUlldo
antarfonne"nla por \Im campo de concanlraççlo .laUn[ano.
Incomodadas••••utorldedaa eomunl.lat em IIns da 1974 tt.ntrarlflm
o padre Dudko pora uma aldeia dlt tanle e, km de MoacQU, li em nAt do
dezembro de 1i75 lhe proibiram ledo 8 qu.lquer mlnlttérlo "clltdetal.
Eua ministro do Senhor dllu testemunho de '" Intrépida e Inab816vel,
cut- (manu reperculllo dlncllmente ae pode avaflar.

- 200-
DUAS CARTAS DA U.R.S.S.

dos à noite, das 18 às 22 hOras, ele orientava a or8çlo durante


duas horas; a seguir, propiciava o colóquK2 durante outras
duas horas, As penou o esclltavam obrigatoriamente em pé,
pois nAo h' assentos nas Igrejas russas 8, apesar disto, •
Igreja do padre ficava tio cheia que, como disseram muitos
que participaram de tais colóquios, 'nAo restava nem mesmo
lugar para fazer o sinal da cruz'. Fora da Igreja, num frio de
20 a 25° abaixo de zero, outros esperavam para saber Ime-
diatamente o que o padre Dudko dissera em seus colóquios.
Esse sacerdole nao é grande pregador, mas dizia:
Cristo é a salvaçAo total do homem. Nós temos de ecl...
• all18r o mundo (ele não dizia clerlcallzar, o que seria outra
COisa), pois um mundo nAo ecleslallzado é um mundo huma-
namente perdido ... Propomos uma maneira humilde de se
conceber a missão da Igre]a, chamada a salvar o mundo. A
sltuaçAo da Igrejs é privilegiada; é a situação Igual fi do Cal·
vário. AI de vós, sa desejais uma situação Igual à do Ocldentel
A nós o Senhor GCncedeu a g raça de experimentarmos a sua
cruz e, por conseguinte, de ver a sua ressurreição. Em parte
alguma como em nossa pétria Cristo é crucificadO, mas todos
aqueles que têm fé podem ver que em parte alguma como em
nossa pátria está presente a ressurreição. Olhai em torno de
vós, e vede como as pessoas se convertem, toda a juventudel
NAo precisamos . de crer na ressurreição; ala é o fato mais
autêntico, mais concreto. mais veriflcával da nossa socledadel
E dizia aos lovens:
'Rezem pelOS mais velhos, porque têm dificuldade para
se converter: ... os valhos. Isto é. os que têm mais de clrr
qüenta ou sessenta anos. O que melhor exprima a vitalidade
da geração nova, 6 aSsa sede do Cristianismo. essa volta
a ele ('
Pudemos visitar o Pe. Dudko depois que, acidentado por
um carro, tivera as duas pemas quebradas e se encontrava
Imobilizado num leito. O amigo Italiano que me acompanhava
comaçara por perguntar-lhe como o acidente lhe acontecera.
'Não percamos tempo com futilidades. respondeu o padre.
Falemos de coisas sérias. Digam-me como os crlstAoa vivem
8 SUB fé na Itália. Edifiquem-ma desse modo. pala, para quem
tem a fil. tudo se torna ocaalão de salvação. Nunca batizei
tanta gente quanto nastas últimos dez dias, em que esrou Imo·
blllzsdo na cama. Da manhA à noite vêm pessoas para ser
batlzadas',
- 201-
la . "PERGUNTE E RESPONDEREMOS. 221/1978

Realmente Quando se tem fé, nada é imposslvel" (pp. 4585) •


....... ... " " ,.,., .. .. " , . , .., . ' ., .. , .... . ' .. . , .. .. , .. ,
"Para terminar, eis algumas palavras sobre os católicos.
da Lituânia. Aqui não se trata propriamente de um renasci.
menta religioso, pois nunca houve na Litu~nla um deciln[o da
esplrltualldade. Graças a fatores favoráveis, 85 comunidades.
católicas sempre foram um exemplo para tocla a Unl30 Sovlé·
tiC8. Por Isto multas são os ortodoxos que vão passar férias
de verão na Lituênla para comparar 2.S suas comunldedes com
as comunidades católicas.

Um episódio recente pOs em relevo o nlvel da esplrltuali-


dada católica lItuana. Hi alguns meses, uma cidadã lIIuana
de 38 anos, chamada Denise Duneiter. foi condenada a três
anos de campo de concentração e exlllo, simplesmente por-
Que fora depreendlda a copiar a 'Croniea da Igreja Católica
na Utuânia'. Essa CrOnics é uma das revistas Que circulam
clandestinamente entre os cristãos nao só na Lltuênla, mas
em toda 8 Unlilo Soviética, Chamada a responder em pro·
cesso, Denise começou por renunciar a um advogado. dizendo
Que a verdade se defende por 51 mesma. Depois afirmou:

'Devo declarar, antes do mais, que amo lodos os homens,


mesmo cada um de vós, meus Juizes. ~ precisamente isto que
me permite dizer a verdade abertamente. E a verdade é que
os animadores da 'Crônica" amam o seu povo e sabem sacri·
ficar-se por ele, Agradeço ao Senhor Deus a possibilidade
nao só de trabalhar pela Igreja Católlça, mas também de sofrer
por ela, Este é o mais belo dia da minha vida; é realmente para
mim um triunfo porque fui julgada digna de sofrer pelo Senhor
e por meu povo. Minha única dor é a de não ter feito bastante
por meu povo. Aproximando-me 110le da Verdade Eterna. que
~ Jesus Cristo. vêm-me ao esprrito as palavras das bem-aven-
turanças : 'Bem-aventurados os que têm fome e sede da Jus.
tlça, porque serAo saciados' (Mt 5.6),

e, terminando. disse:

'Peço a este tribunal ponha de novo em liberdade todos


aqueles que, tendo lutado em prol dos direitos do homem e
da Justiça. esilo alualmante encarcerados nos campos de con·
centraçlo e nos l10spitais DslqulAlricos. Mostrareis assim a
vossa boa vontade e contrlbulrels de maneira notável. para
qUe reinem mais harmonl a e amor na soe ledade'.

- 202-
DUAS CARTAS DA U .R.S,S, 19

Quando o oficiai de jusliça leu para Denise a sentença


que a condenava a três anos, ela fez esta reflexlo ; 'Vós me
destes multo pouco"
Este é aJ)8n8s um exemplo da coragem com que a r' é
vivida na Lituânia. Essa fé nao é apenas o desejo Individuai
de viver em comunhAo com o Senhor, mas é o desejo de
form5r uma comunidade sempre mais unida na Igreja e em
torno do sacerdote. Por Isto, cada vez que um sacerdote vem
:::t ser condenado, toda a comunidade paroquial se levanta, pro-
testa, intervém, E, quando os sacerdotes voltam dos campos de
concentração, sAo acolhidos como uma nação acolhe os seus
heróis. ~ por isto também que es autoridades. as quels nAo
&Ao simpáticas aos clérigos, são obrigadas a levar em c,onta
todes aSsas manlfeslDçOes do despertar da fé. Compreendem
que toda condenação proferida contra um sacerdote é 8 oca-
slAo de um fortalecimento dos senl/mentos religiosos e suscila
na populaçAo uma solidariedade sempre m2lor" (pp. 460-461).
As narrativas do Pe. Scttlfi talvez slJl'preêndam O 1eitor,
como, aliás, o admite o redator ela revisto eLe Chrlst au
monde», ela qu:::J foram transcritas. Todavia são tiradas de
fontes autênticas ou mesmo do contato direto com o. rcall\lade
soviética. O senso religioso dos povos submetidos DO jugo
sovIético é muito mais forte do que parece, apesar dos
sessenta c mais anos de perseguição rellg!osa. Diz mesmo o
Pc. Scalfl:
"As conversões ao Cristianismo verificam-se geralmente
em famfllas atéias, Nlo se julgue que se trata do despertar de
uma tradição cristA, pois é do atelsmo que as pessoas passam
para o CrIstianismo. Sempre mais numerosos sAo os Jovens,
principalmente dos vinte aos trinta anos, que encontram no
CristIanismo B sua própria razão de ser".
O fenômeno russo assim descrito é altamente slgnlticativo.
Leva a pensar mais wna vez nas famosas palavras de S. Agos-
tinho : 4Senhor, Tu nos fizeste para 'ri, e inquieto é o nosso
coração enquanto não repousa em TI. (Confissões 11). Si~;
n perseguição religioso jamais poderá extinguir este inato
anseio do homem por Deus.
A propósito do surto religioso na RQui. Soviética, veja :
PR 197/1976, pp. 201·216 (aJ1lgo dO Card. Koenlg);
PR 19611976, pp. 231-2~5 (valores trensc:endentals na IIteratur. rUlSa):
PR 200/1976, pp. 3:'.17· 336 (os Jovens o a rel1gllo);
PR 20711977, PP. t2C-124 (dlsaldenle. polltlc:os);
PR 20]/1977. pp. 161-:201 (Sakharov : "Meu pais e o Mundo").

- 203-
Mem6rlas de um ao.cerdC)fe russo :

as (onversas vespertinas do padre


dmitrij dudko

Em ,Intna: As p491n83 que se sagu'm, eprasenlem Irechos da um


livro que relere OI colóquios paslorell do aacarclOla rualO Pe. DmllrlJ
Dudko •.. Esle vlg'rlo 1'101 aubú rblol de MOlcou conseguia elralr a sua
pequene Igreja grande. multldOes, Que com ele dialogavam a ouvIam res-
postl' pari Ii IU8' dÚvldu. OI cOlóquios do Pe. Dudko loram Irnprel$Oa
em I'USIO a, depol., am Iraduçlo Italiana. lando a!ravestaóo a Irontaira
sovl6t1cl medIania a organlnçlo do lamlzdet.
Nassaa pAginas, em que o Pe. OI/clico nlo IÓ oxpõe IUU f'1Jllexi)es
possolll, mas tamWm transcreve cartas dos IOUI amlgol e Jlaroqulanos.
m8nlfesla-sa O exlraotcllnarlo vigor da '6 exlstenlo no povo russo; muitos
dOI quo roram educados no 8lel5mo, desdizem ella mOlolla e lia vollam
Jlaro. os valoral reUglosol: vermcs·se aulm um lurto de I. que nlo tem
axpllClçlo unlo no .. nao f'1JlIgloao Inllo a Indelével em todo homem. A
COrBgllm do um homem o de seus destemidos ouvinte. é também algo que
tranlpareca a! r.v" dOI depoimentol que, a .aguir, ato aprBlOnladOI.

• • •
üomentárlo: ÀS pp. 2005 deste fasciculo já assinalamos a
obra do sacerdote russo Dmltrlj Dudko, que escreveu as suas
próprIas memórias, traduzidas para o Italiano com o título
«Padre Dmitrij Dudko. Parroco a Mosca. Conversa:zioni seralb
(Mllano 1976).
~ desse interessante livro que vamos, a seguir, extrair
alguns t ópicos salientes, aptos a mostrar wna faceta do que
acontece na Rússla Soviética com respeito à fé e ao renasci-
mento religioso. O livro merece crédito, pois ~ da autoria do
próprio Pe. Dudko I! foi divulgado em Italiano pelo Centro
de Estudos cRussia Chrlstlana. de Milão, que é dirigido por
especialistas e mantém Intenso intercâmbio com o samh:d&t.

1. Infrodusão do itAitor ltaUa~

"A Igreja de Slo Nlcolau, perto do cemitério Preobra·


zensklj de Moscou, certamente nAo é daquelas que atraem os
apaixonados da arquitetura russa antiga nem os admiradores
-204 -
MEMÓRIAS DE SACERDOTE RUSSO 21

da grandtosldade da LiturgIa ortodoxa. Pequena. estreIta, baixa,


ela só lem duss IcollOslases. Os rcones são simples j nada
têm do esplendor e da arte dos antigos. Mais ainda : para
chegar lé, a partir do centro de M.oscou, o trajeto é bastante
longo e penoso.
T.odavia essa modes1a igreja se tomou famosa e popular.
As pessoas lá acorrem a partir de todos os pontos da Imensa
capital, e mesmo dos subúrbios. Que será que atrai assim a
população e a leva até lé? .
Nessa igreja, há cerca de Quinze anos, oficia o padre
Omltrl] Oudko. Realiza sua tarefa regularmente, com seriedade
e sentido de responsabilidade. As suas celebraçOes só têm
um aspecto extraordinárIo: encerram·se com pregações ar·
dentes. corajosas, atuais.

ObJetivo doJ ateus: (ortar da I'tOlJdctele G Igrefa


Nas publicações dos ateus, pode-se ler que nestes últimos
tempos a Igreja ortodoxa intensifieou a pressAo da sua pro-
paganda em melo aos fiéis. Mas essa acusaçAo é pura ficção.
Nossos sacerdotes, tendo os pé! e 88 mlos atados pelas Ins--
truçOes verbais di' autoridades atéias, "Ao ousam sequer abrir
a boca para defender as suas mais caras convicções; estio.
pois, multo longe de exercer pressões. O clero, Infelizmente.
ainda sofre a Anela do medo provocado pelas violentas repres-
sOes dos decênios de 1920 e 1930. Alguns se calam por medo
dos Judeus' (Jo 19, 38) ; outros por Indiferença', outros ainda
por 'conslderaçl5es elevadas', a saber: para presel'Var a Igreja
da repressão do poder secular, sem levar em conta ou querer
levar em conta que a Igreja, cuja mlsslo é levar ao mundo a
verdade do CrIstianismo, se torna assim hermética; desta
forma a Igreja eJ«)lul-se da história doa homens e $e trens.--
forma em crrculo rflstrlto de pessoas que têm a mania da
rellgll0. Ora é precisamente Islo que os ateus Querem: Isolar
da vida a Igreja, contlnA-la no tempto , separá-Ia da sociedade
mediante um muro de m.edo e de IncompreensAo, para final·
mente fazê-Ia morrer. Tal é. entre n6s. o programa da polltlca
antlecleslástlca.

Profunda necessIdade d. ouvir a verdacI.


Na Igreja, o ar se tomou pesado: chegou 8 hora de sbnr
largamente as portas. Isto é necessêrlo 8 todos nOs, !Crentes.

-205-
22 .PERGUNTE E RFSPONDEREMOS:. 22111978

e mais aInda aos nao crentes, obrigados a B:::ar Ef3stados da


viva fonte da verdade cristA. Olarlamente as brumas da decep-
ção, da Incredulidade e do cInismo acumulam·se mais e mais
sobre o nosso povo. As tradições Que servem de critério à vida.
estão morrendo. sem que haja algo Que as substitua, de modo
que o homem permanece 56, desamparado, a braços com ele-
mentos maus e impenAtráveis. Todos os sucedâneos são inu-
teis. os 'Iamos' caem uns ap6s os outros e s6 deiX:lrn no espf-
rito um amargo sabor de vazio.
Tal é o motivo pe lo qual as pregações de DmilriJ Dudko
suscitam tanto Interesse entre DS crentes e entra aqueles que
aspiram à fé, em p3rtlcular os jovens e os Intelectuais.

Umo " marcodo ptllos p:'Ova~õ.s

A bIografia do Padre Omltrij é a dos bons s3cardoles rus-


sos: infAncia vIvida em pObre eldeia despojada pela oColetlvi-
zação, prlvaçOes prococes, primeiras impressões rsoligiosas
reforçadas pelas repressões exercidas contra os fiéis, que so
tornavam freqOentemente autênticos mártires, desconhe-cld09
de todos, Cepols houve a transferência para a frente de com·
bate: terminada a guerra, o estudante de teologia Dmitrij Cudko
for atirado num campo de concentração staliniano. Oltl) anos
e melo desse regime 'universitário' abriram·lhe mais ainda Os
olhos: os verdadeiros valores da. vida apareceram de maneIra
precisa; 8 sua fé se fortaleceu e arraigou ... Em seguida.
vieram a roabllitaçSo. a AC!ldemla de Teologia .. .

·0 Crfstfcnlne cf..,. IntpNgnar o vida int~nI

'O Cristianismo . deve Impregnar a vida Inteira. Deve pro-


jetar sua luz sobre lodos os problemas. Não pode ser encer-
rado nos limites de quadro algum . . . Hoje é preciso fazer
entrar na Igreja tanto o circulo reCreativo quanto a reunlAo
de trabalhadores ... e:necessário eclesializar toda essa vida
que se desenrola fora do templo. Não se pode encerrar o Cris-
tianismo dentro de uma concha; ele tem que participar dos
sofrimontos dos homens' , estas poucas palavras são tiradas
d3S preg.sções do vigário de São Nicolau. .
O Cristianismo tam que penetrar a vida inteira, tal é o
pensamento fundamental do PEI. Oudko. Cristianizar a vida, eis
o que ele opõe 80S finórIos deslgnios do atelsmo, que quer
sufocar 8 IgreJ8, Ifmltando·a aos lugares de culto.

_206 -
MEMORIAS DE SACERDOTE RUSSO 23

Pregação d. maneiro nova: ool6qulo


'Ide e pregai', foi este o testamento deixado por Cristo
aos Ap6stolos. OmltrlJ Dudko, sacerdote da Igreja una, ssnta.
ecumênica e apostólica. cumpre Imperturbavelmente esse
mandamento divino.
Nos últimos tempos, ele inaugurou uma nova forma de
homilia. Se bem que totalmente ecleslal quanto à sua eubstên·
cia. ela é nova para nós e eficaz. Contribui para estabelecer
um con\.:tlo vivo entre o pastor e seu rebanho , e uti!iZ! carta
linguaJar que em noss~s dias se la perdendo. Além disto, lal
form3 de col6qulo mantém·se na atualidade dos assuntos abor·
nados e serve ao nobre objetivo almejado pelo pregador: cris-
tianizar a vida Inteira. Eis por que nos colóqulo~ são cônsl.
derados os temas mais diversos, são levantadas as questões
mais candentes e OOlor0888 da vida. Tudo IS80 é examinado
à luz do Cristianismo.

AmblgOldad• • rec.lo das autoridades


A atividade do padre Omitrl) Oudko não deixou de preo-
cupar os 'tutores' ateus da Igreja. No outono de 1972, houve
uma tentativa de retirar-lhe a faculdade de celebrer os otrelos
na Igreja. Apenas o grande alcance que esta medida teria.
assim como a Intervenção enérgica dos fiéis impediram que
o projeto fosse executado. Foi entAo que se tornou patente
o modo de proceder daqueles Que. ao mesmo tempo que pro-
clamam a nAo Ingerência do Estado nos assuntos da IgreJ8,
afastam os homens da Igreja tidos como Indesejáveis. mas
têm medo <lo rumor da publicidade".
Vamos agora extrair do livro do Pe. Dudko trechos de
cartas que lhe enviaram os seus ouvintes. portadoras 'de
breves crônicas e de sentimentos pessoais desses fféis.

2. Trechos de cortas pessoais


Transcreveremos aqui as passagens mais notltvels de
quatro cartas enviadas ao Pe. Dudko.

2 . 1. Uma vlliva
"Meu marido morreu há pouco tempo. Se eu nAo me
tivesse voltado para a Igreja, para o Cristo, eu provavelmente
teria fIcado louca. Grata à IgreJa I"

- 207-
2-1 .PERGUNTE E RESPONDEREMOS, 22V 1978

Comenta o Pe. Dudko:

"Eis um documento desconcertante. E venham dizer-nos


que a Igreja nlo 6 mais necessirla ao nosso tempo! A mulher
ferida pela viuvez talvez tivesse anteriormente rejeitado. a
IgreIa, mas atualmente encontra nela O Seu reconforto. A .carta
dessa pessoa, e provavelmente toda a sua vida, confirmam a
utilidade da Igreja. Mulher, em nome de toda a Igreja, obrI-
gado por suas palavras I"

2.2. Meti filho educ.ado no otel""o

"Tenho um filho. Eduquei-o no alefamo. Mais tarde, ele


se pOs a beber e a vadiar. Eu n40 sabia o que fazer : a mulher
é um ser fraco, .como todos sabem. Meu marido abandonou-me
para Ir-se com outra. Também ele era ateu como eu. Impre-
vistamente o mllagre aconteceu : mau filho .começou a crer
em Deus e a freqOentar a Igreja. A principio eu me surpreendia
com a mudança de vida e, para bem dizer, tinha medo de
falar disso com meu filho, porque n6s nos Unhamos Incompa--
tiblllzado. Eu me regozijava em ellenclo, receando Que ela
recomeçasse a beber e a se entregar à desordem. Ele. ao
contrérM), tomavlI-se dlarlam9nte melhor; até o seu aspecto
exterior mudara. Por fim, não agOentando mais, perguntel.lhe:
'Dlze-me, filho, o que te aconteceu. Tu te tomaste tio bom ... •
Ele me respondeu: 'Mie, creio em Deus., e freqOento a Igreja'.
As suas palavras me comoveram profundamente : eu estava
como que atlnglda por um ralo e nAo sabia o Que dizer. Mais
tarde. vim a saber Que ele encontrara dificuldades no seu
empre!)o, primeiramente porque bebia. depois ... por uma
razlo diferente. Rebaixaram-no de runção na proflssAo. e dlml-
nulram O eeu 9all.rlo: apesar dlslo. nAo desanimou. Vendo a
mudaMR ocorrida em meu filho. comecei a pensar e a refletir
sobre mim mesma. Cheouel à conclusão de Que devia. eu
também. pedir o batismo. Meus pais. ateus ComO aram. Infe-
lizmente tinham deixado de o fazer por mim: tive (lue o fazer
aos quarenta anos. Agora sou batizada. vou à Igreja e ouso
afirmar que a fé é a única coisa necessária. Em nossa época.
mals do que nunca, ela é IndlsJ)ensével; estou firmemente
convicta disto" ~

Eis outra carta :


- 208 -
MEMÓRIAS DE SACERDOTE RUSSO

2.3 . Oprimido pela tristelA


"Havia multo que eu andava oprimido pela tristeza e nAo
sabia o que fazer. Interroguei multa gente: ninguém conseguia
expllcar·me por' que eu estava triste. Bebi, embrlaguei-ma 8
"onto de perder consciência, para esquecer: mas, uma vez
passada a embriaguez, eu me encontrava ainda mais triste.
Tentei mergulhar-me no trabalho, tomando a mim diversas
funçOes públicas. Mas a trIsteza parecia zombar de mim:
'Queres esconder-te ... ? Mas aqui estou e flco'. A tristeza
aumentava 8 ponto que eu nada mais conseguia fazer de bom.
Furioso, deixei o meu emprego, e permaneci semanas inteIras
sem Ir à usina. Eu ficava Indefinidamente estendido na cama,
perguntand~me donde podia vir essa tristeza,

TrarufonftClsão completa
Felizmente aconteceu algo: um livrinho caJu·me nas mAOs,
mais fino do que todos 05 que atualmente a80 Impressos:
'O Novo Testamento de Nosso Senhor Jesus Cristo', Começai
a Iê-Io, e um mundo totalmente novo se abriu para mim, um
mundo cheio de alegria e felicidade. Eu lia sem c onseguir
saciar-me. Ceda palavra desse livro santo penetraVA em minha
elma. E o milagre se prOduziu: minha tristeza dissipou-se. Só
poderão compreender este fato aaueles qUê tênham falto a
mesma experiência. Minha trlstez.a desapareceu. pus-me a crer
em Deus. pedi o Batismo. Atualmente freqOento a Igrela. e às ( "
vezes vou mesmo cantar no coro. TOdavia as minhas dificul-
dades no trabalho sAo maJores do Que antes : deram-me uma
licença sob pretexto de reduz.lr o peslOsl. e meu pai procura
Internar-me "uma Clfnlca PsiquIátrica, porque minha fé esté
em contradição com as suas convicções. Apesar de tudo, estou
cheio de alegria" .
Passamos a outro depoimento.

2.4 . O .entldo do "Ida


"Há alguns anos. uma pergunta terrfvsl me atonnentava:
Qual a finalidade de todas as coisas? Por que vivemos? Todos
os nossos entusiasmos. cedo ou tarde. estarAo enCêrrados
num caixão. Se M coIsas slo tais, esté claro Que somos seres
rldlculos. Nosso otimismo, nossa atividade sao absurdos: é
como se nós quiséssemos enganar a nós mesmos. Embora
saibamos de antem40 que tudo acaba no nada. tomamos cora·

- , 209 -
26 .. PERCUI\'TE E RESPONDEREMOS)' 221/1978

gemo Mas, se a morte há de vir, tudo é destitui do de sentldol


Um dia, percebi claramente O absurdo de tudo, e sentl-o pro-
fundamente a ponto de morrer de tristeza e de tornar-me louco.
Tomei Q declslo de matar-me. Não sei quem me salvou : meu
anjo da guarda talvez, ou as orações da minha pobre mAe.
Pus-me a refletir sobre a rel1gllo: quem sabe se ela não me
daria resposta para a minha terrrvel pergunta? Mas quem
me forneceria as explicações desejadas? Eu poderia ao menos
ler a Sibila, pensava eu; mas onde encontrá-Ia? Um dia estava
numa loja de livros velhos, quando vi com alegria um volume
Intitulado: 'Blblla para crentes e não crentes', Pedi à l:Ialconlsta
que mo -desse a ver. Ao folheá-lo. porém, logo compreendi que
tudo ali era explicadO em tom de Ironia. Isto pareceu-me abo-
minável. Como se pode brincar com os mais nobres sentfmen-
tos humanos? Foi então precisamente que os sentimentos reli-
giosos me pareceram ser os mais nobres de todos. Eu tinha
a Impressio, naquele momento, de que alguém me cuspira na
elma. Eu estava a ponto de estourar, e quisera dizer palavras
de cólera à balconista, mas contlve-me e dlsse-Ihe apenas:
'Se você respeita as paSsrJ8s. 8 ninguém dê esse livro', Ela me
olhou tristemente sem nada dizer, mas provavelmente com-
preendeu, pois colocou o livro debaixo do baleAo. Após esse
momento, senti-me tomado do grande desejo de saber o que
é 8 religião. Não sei por que, eu tinha a idéia de que certa-
mente responderia ao meu prol:llema.

Encon9ro <om um lCI<erdote

Junto a mim vivia uma mulher IOOS8, Eu Ignorava S8 era


crist! ou não, mas, dada sua Idade, Julguei que fosse cristã.
Comecei, pois, a interrogé--Ia com precauçâo . .
'Eis que terminei a Universidade, dfsse-Ihe eu. Conheço o
materialismo histórico e dialético. Mas tenho 8 Impress80 de
que me falta algo que "lio sei exatamente definir',
A mulher olhou-me com clrcunspecção. Senti que ela que-
ria dizer uma alavra, mas desconfiava. Então perguntei-lhe:
'A Sra, "Ao çonheceria um sacerdote?'
'Aguarde, respondeu ela, veremos I'
Alguns dias mais tarde. ela me apresentou um sacerdote.
Pela primeIra vez, eu via diante de mim um sacerdote vivo.
Digo 'vivo', porque o sacerdote sempre nos fora apresentado
como um ser morto, supersticIoso, Ignorante, Impostor, homem

-210-
MEMORIAS DE SACERDOTE RUSSO

ávido de dinheiro. Aquele era um jovem de 33 a 35 anos. Con-


versamos longamente antro nós; oscutei--o com grande inte-
resse. Se bem que eu tivesse terminado os meus estudes
universitários, diante dele eu me sentia como um Ignorante.
Ele conhecia tio bem quanto eu o materialismo, e. embora
tivesse sido afestado da Universidade por cause de suas con-
vicções religiosas e nACI tivesse podido terminar seus estudos.
mostrou-se bom conhecedor de todas 8S ciências. Deu-me a
ler o Novo Testamento: após o que, nós nos despedlmos_ Vol-
tando à casa, eu pensava: minha esposa também cursou a
Universidade e, Juntos, educamos nosso filho em esplrlto antl-
-reollgloso. Mais: ela ensina no Insmulo do marxismo-Ienlnlsmo.
Que dirá ela se me vir com esse livro? Por conseguinte, aS-
-condi-o. Mas aconteceu que ela o encontrou e começou á 1~lo
às 'Ocultas. Eu o lia às ocultas, e ela também: depois recoloc6-
vamos o livro no seu lugar secreto. Mais tarde, vim a saber
que minha mulher pedira O Batismo e mandara bAtizar a crian-
ça Que me restav3 fazer? Não somente o livro me Interessava.
maS eu me tomara crente. S6 me faltava recebar o Batismo
publicamente . Pedlram.. me a carteira de IdenUdade e Inscl't'"
veram meu noma num regls1ro. Eu pensava : será que a Igreja
vai denunclar·me? Eu ainda não sabia que essa medida fora
tomada 'obrlgatórla pelas autoridades soviéticas. De todo modo,
eu decidira receber o Batismo. No lugar em que trabalho. o
fato se tornou conhecido ; Uve que comparecer diante do tri-
bunal da empresa coletiva. Ao final puseram os pingos so-
bre os 11 :
'Se tivéssemos tido conhecimento disso mais cedo, n61
não te ferlamos atrlbufdo esse apartamento "
Então tudo se me tornou claro: o atefsmo hoJe' apenas
uma questão de apartamento ou moradia. Agora acredito pro-
fundamente. A Idéia do sulcrdlo desapareceu há multo. ContI-
nuo a realizar o mesmo trabalho, mas faço-{) melhor. mais

furtava .8
honestamente. Antes eu tolerava defeitos na produção e me
responsabllldade9; doravante a minha consciênc ia
cristA me diz ; 'Tu nAo podes proceger assim'.
Comenta o Pe. Dudko:
"LI apenas pequena psrte das ca.rtas desse tipo. Julguem
quanto elas são eloqílentes '"
Tão significativos depoimentos abrem ao leitor ocidental
perspectivas novas sobre a Rússia de hoje; o homem eterno.
com as suas aspirações religiosas. manifesta-se espontanea-
mente, à revelia de toda a publici dade materialista e atéia.

-211-
28 cPERGUNTE E RFSPONDEREMOS, 22lJl978

A guisa de conclusão, transcreveremos ainda breve


passagem elo Uvro citado, em que o autor, Pe. Dudko,
expressa a sua têmpera corajosa.

3. Depolmenta pessaal da autor


UtNrdad. e eKravldõo

"Para compreender o que é a liberdade, é preciso sofrer


8 escravldlD. Por exemplo, a escravldlo da reclusão. Quem
tenha falto a experiência desta. sabe quais foram saus senti-
mentos quando respirou, depois, as primeiras baforadas de <for
livre, ... como o vento da Ilberdade fez reviver o seu esplrito
deprimido•... que alegria lhe causavam todas as coisas: um
arbusto, um pouco de ervas, um verme, um camundongo •. . .
tudo lhe era caro, tudo ara rico de s.lgnlflcado . Um s.opro de
liberdade torna-se mala pre.closo do que a vida de prisioneiro.
lembro-ma do que eu mesmo experimentei quando sal do
campo de concentraçAo pela primeira vez. Era como se a liber-
dade me dilatasse o peito 8 ponto de sentir dor, ... a ponto
que parei, Incapaz de dar um passo 8 mais. tomado de verti-
gem por esse extraordinérlo sentimento de liberdade. Foi uma
autêntica bem-aventurança. Agora lé não experimento esse
sentimento maravilhoso.
Hé. pessoas que me acusam de faltar de modéstia porque.
a quanto dizem. falo sempre do meu encarceramento. Lem-
brem-s6 das palavras do Apóstolo: 'Se é Irclto gloriar-se, glo-
rlemo-nos t40 somente da cruz e d<l sofrimento'. Minha prisão
é minha .cruz e meu garbo. Eu o sei muito bem: um grande
número dos meus compatriotas tem, em larga esoala, direito
a essa ufania. O que nao consigo compreender, é como alguns
não somente "lo se gloriam, mas, ao contrário. parecem ter
vergonha da 8U8 crUZ. Quanto a mim, sou e serei sempre ufano
da cruz, enio delxaral de dar graças a Deus pelas provaçOes
que Ele me enviou. A recordaçAo das mesmas é, para mim,
uma força, uma luz para o esplrl1o. Por Isto a ressurrelçlo de
Cristo me é multo próxima e multo cara_ Não compreendo,
antes tenho pena das pessoas que dissimulam aquilo de que,
em verdade. poderiam ser ufanas. ao passo que se compra-
zem em ninharias. em seu sucesso no trabalho, em seu carro,
em seu mobllférlo. . . Islo tudo parece-me vaidade 1 As pala-
vras de um companheiro de campo de concentração que pas-
sara dezessete anos na prlallo, voltam-me à memória. Disse-me
certa vez:
-212 -
MEMÓRIAS DE SACERDOTE RUSSO 29

'COmo nos tomamos plDres e menos livres na liberdade I


Lembra-te das nossas conversas no iCampo ele concentração.
Como nos elevévamos I Como ardlamos J Aqui, 80 cenlrérlo,
estamos entorpecidos e apenas produzimos fumaça I'

Svperar o medo do sofrimento


Os ateus exploram o medo que temos do sofrimento e
oprimem nossas mantes, nO$8O espfrlto, nossos sentimentos.
Temos que superar o medo do sofrimento; só então nos tor-
naremos realmente livres, criativos, InvencJvels. Somente entAo
chegaremos a superar os argumentos dos ateus contra a ros-
surrelçlo de Cristo, pelos quais eles razem violência' nosa-
mente; refir.o-me à violência desses argumentos que, à pri-
malra vista, parecem libertar o 9splrito, mas que, na verdade,
o paralisam. A fé triunfa da violência feita 80 esp(rito; ela nos
levanta por .cIma dos obstáculos e das barricadas das damons-
traçOes; ela abre nossos coraçOes para Cristo em total lIber·
dade. A fé é um Impeto em dlreçlo da eternidade. A fé é o
ultrapassamento da morte. AiJ Invés, a Incredulidade é a perda
da liberdade em todos 09 sentidos: pensamento. sentimentos,
vontade •. .
Co16quloiJ contestados
Ao que me parece, há quem acolha 'Os nossos COlóquios
com grande ent1Jslasmo, enquanto outros os criticam. Uns estio
de acordo comigo; outros me -censuram. Dizem que eu deveria
ter uma autorlzaçilo especial pare fazer o que faço e nAo pro-
ceder segundo o meu alvitre.
Respondo que nada faço de espeçlal. Faço O que todo
sacerdote deve fazer. VI que o atelsmo corrói o organismo relJ-
gloso do homam; procurei entlo despertar as forças vitais 8
ajudar as pessoss a resistir ê. doença. Devo fazer Isto? Sim:
é· meu dever I Desgraça a mim, se eu nia pregasse o evan-
gelho J Sou sacerdote: mlnl'1a tarefa obrigatória é pregar.
Por conseguinte, faço o que tenho de fazer. .. Façcro
sem sair das paredes da mInha Igreja - o que é um mrnlmo.
Os ateus têm à sua disposição a Imprenss, as artes, o cinema,
os clubes. Eu s6 tenho a minha modesta cátedra. Se eu qui·
sesse tomar·me missionário junto dos ateus, por exemplo,
numa praça, num clube, eotlo, sim, eu necessitaria de al.ltorl-
zaçAo especial.
Sou sacerdote e penso que, como diz o Evangelho, aqu&-
les que crerem e f.orem batizadOS, ser40 salvos ... Não tenho

- 213-.
30 :PERGUNTE E RESPONDEREMOS, 22111978

eu o direito de estender a mêo àqueles que estao a sucumbir?


Tenho mesmo o dever de fazê--Io. Se não o faço, nAo sou
sacerdote. Por conseguinte, nada há de especial na minha
atividade. "! a tarefa normal de um crIstão. Alguns dizem que
meus colóquios se tornaram um fato sensacional. Observo que
nada têm de sensE:lclonal; fazemos o que se deve fazer em
toda parte, em todas as Igrejas. Se alguém Julga que Isto é
GConleclmento sensacional, Só posso suspirar com trlsta28.

AdvC!õ18ncio dos que 11m medo


Há bilhetes de pessoas que me dizem que serao eflcar·
cerados todos os que vêm escutar 09 meus cOlóquIos i amea-
çam-me também de enviar-ma para uma prisão ou para !,Ima
casa de loucos. Considero esses bilhetes como manifestação
de pAnlco de pessoas que perderam a cabeça. Deixamo·nos
dominar pelo medo; tudo nos espanta. Mas o que, ecima
de tudo, nos deveria espantar. é o atelsmo. pois é pior do que
a peste, visto que vem a ser a porto da morte não s6 do corpo,
mas de tudo, inclusive da alma.
De reslo. eu pergunto: por que nos encarcerariam? Seria
porque desejamos o bem do próximo? Porque procuramos
esclarecer-nos mutu3mente à luz do Cristianismo? Porque nos
preocupamos c.om a moralidade do povo?
Por fim, desejo dizer que os meus colóquios <começaram
nAo por minha Iniciativa pessoal, mas a pedldó dos paroquia-
nos. Se eles me Interrogam, lenho a obrigação de responder-
-lhes. Portanto, ai nada há de sensacional nem estranho. Tudo
é perfeitamente natural. De resto , quem tem medo. pode multo
bem nlo vir escutar. Nós não constrangemos ninguém".
Este espelho de herói não pode deixar de Impressionar a
quem o leia. O Pe. Dudko tem fé, e sabe que a sua ação
corajOsa vale não somente pelos frutos vIsivels que ' possa
produzir, mas também peJa graça de Cristo; é Este quem,
em última nnâllse, prolonga a sua obra através das crIaturas,
seus Instrumen tos, dando à atividade destas uma eficácia
que 'a mais sagaz operosldade humana não poderia atingir.
Que o testemunho dos que sofrem perseguição, desperte
as con.sclênclas dos que usufruem de liberdade, para que não
venha a acontéCer -O que já se tem dito: cHá multa gente
livre debaixo da opressáo, e há muita gente não livre dentro
da IIberdade!~

-214 -
Depo(menllO precioso:

11 eu fui testemunha de jeová 1/


por GDnther Pipa 1

EIh .Into•• : O lI ... ro de Günlher Pape narra as expart6nelal que esle


cld.edlo alemlo tell.IIlOU desCle que .deriu, como criança, • &ella du Tes-
temunha. d. J.o ..... (Socl.dada ''Torre de VIgia"). "traldo pelas promessu
d. Imln.nte era peradlslace a ser Introduzida na !erre p.lo Cristo JosUJ
logo após 11 batalha da Hannlgadon, ampenhou-se cora(osamema p.la
dlfuelo de tel menlag.m, lornondo-aO prestigiOSo membro da "Torr. do
Vlgl .... AOI poucos, por'm, 101 verlllcando que fora iludido; as profecl.s e
as delennlneç6.s do. dlrlgent.. ae contradIzIam - o que evIdenciava nlo
serem de orIgem dl ... lnll. Após .I!'1da I'Iaver procurado con'lencer-se da vera-
cldada de doutrina das Teslemunhas, resolveu estuder de novo as Escritura
Sagradas e, para gr.nd. surpra .. IUI, chegou 1 concluslo de qUII e Igreja
Católica é que corre,ponda A Imagem da Igreja apresenlada pelos escrllOl
do Novo Tealamonlo. " principio, Gilnltlllr realaUu a eala p.tlpecllva, ma
decldlu-se Ilnalmenla a conh.cer de mala perto a I..llurgla e os membros
da Igreja Calóllca. Tal conlato ,ó fez. confirmA-lo em eua conclu.lo, de
modo quI' le tornou lIal c8101lco.
O autor observa que descreveu o aeu IIIna,.l.rlo rallgloso nlo no IntuIto
de difamar Os .eus enllQOI correllglon6rlos, mas, sim, com 8 finalidade de
evitar que pell(l" d""prevenldas calem nos erros que ela nAo conseguiu
....Ilar. Intereuanll capitulo do livro' dedicado 6s "pradlçOr.." de fim do
mundo apregoada. peloa Testemunha. e SUIS Incoer'nclas. Outro capitulo
apresenta., atitudes da "Torre da Vigia" franle Il sociedade civil, consl-
darada como Irremedlavelment. dominada pela .erpente, a ponto da IÔ
poder provocar a rapulsa dos que .. querem salvar do Iminente Juizo do
Sanhor.
O Ilvro é da grarKfa utilidade para a Idenllncaçlo das Teatemunhas.
cuja açlo pro18I1I1," • notória no 8rllll.
• • •
Comentário: As Testemunhas de Jeovã constituem uma.
seita recente que se vem tomando notória pejas suas
pregações e publicações, chegando a deIxar dúvidas e inter·
rogações em numerosas pessoas com que têm contato. Jt:, por
isto, multo interessante que o público tome conhecimento do
depoimento de alguém Que, como GUnther Pape, aderiu à
seita com toda a sincerid3de, militou arduamente em seu
favor, mas finalmente, decepcionado, a abandonou; depois de
, Ed. paulln.. , 510 Paulo 1917, 180 pp., 130 x 200 mm.

- 215-
32 t:PERGUNTE E RESPONDEREMOS, 221/1978

multo haver estudado e pesquisado, resolveu faz@r.se católlco,


julgando ser esta a. única atitude coerente com o testemunho
das Escrituras.
Vamos, pois, abaixo apresentar as Testemunhas de Jeová'
a seguir, resumiremos o eonteúdo do livro de GUnther pape:
procurando salientar os pontos que- mais atenç~o nos
parecem merecer.

1. Quem são as Testemunhas de Jeová?


Em poucas palavras, a seita das Testemunhas de Jeová
pode ser assim apresentada:
O fundador dessa denominacão rel1glosa é Charles Taze
Russell (1852.1916), jovem comerciante amertcano de
Plttsburg (PensUvlnla). Nascido de familia presbiteriana,
não se dava por satisfeito com a sua crença religiosa, de
modo que, depois de multo procurar, resolveu fundar uma
Sociedade de Estudiosos da Biblla dita . Torre de VIg1a~
(cf. Hab 2,1). Examinando a Bíblia, Russell pesquisou a data
da segunda vinda de Cristo após as frustradas tentativas
dos grupos adventistas de 1843, 1844 e descobriu então que,
após u morte dos Apóstolos, ninguém mais compreendeu a
BibUa, ficando reservada a Russell a missão de apregoar ao
mundo o verdadeiro sentido da mesma.
Ora, baseando.se em textos de Daniel e E2equiel, Russell
em 1874 predizia para 1914 a vinda de Cristo, acompanhado
dos patriarcas Abraão, Isaque, Jacó e dos profetas da fé.
Dar.se-ia então a batalha de Harmagedon (cf. Ap 16,16), na
qual Deus aniquilaria os maus e daria Inicio ao reIno milenar
de Cristo sobre a terra, reino de bonança e ~... Tal
anúncio despertou a atenção de multa gente, que se filiou à
nova seita. Contudo em 1914 nada do previsto aconteceu;
Russell então explicou: .0 Senhor ainda· concede um pouco
de tempo. , e incllcou o ano de 1918 como o do inicio do
aprgeoado reino milenar. A morte, que o colheu em 1916,
potlpou..o de novo desengano.
O sucessor de Charles Russell - Joseph Franklin Ruther·
forci (1869-1942) - viu·se obrigado a refB2er os cálcu1os, lndi·
cando em conseqüência o ano de 1925 como o da vinda de
Cristo e o da batalha final de Harmagedon. Muitas pessoas,
aflitas pela dura situação do mundo após a guerra de
1914·1918, aderiram fervldamente a tal profecia.. Dado que
-216 -
(EU FUI TESTEMUNHA DE JEOVÁ. 33

em 1925 também nada do predito ocorreu, Rutherford se


pós a rever todo o "alendârlo das Testemunhas e houve por
bem não fixar de imediato data alguma para o cumprimento
das suas profecias. Em 1968. porém, Nathan Knarr. então
presidente da Sociedade. afirmou, pela revista cDesperta1!:t.
que o dia de Hannagedon catrla em 1975, segundo a cro~
logia bibUca. Tal cronologia era proposta nos seguintes
termOS: Adão foi criado no outono do ano 4.026 aC.; donde
se segue que em 1975 se completariam 6.000 anos da exis-
tência do gênero humano. Es5@s 6 .000 anos seriam seguidos
do reino rnllenar de Cristo, paralelo ao descanso . sabático
em que O Senhor Deus entrou. após os seis dias da criação do
mundo. - O atual presidente da Sociedade <lTorre de Vigia:t,
Frederlek Franz, interrogado pela revista c:Time:t (11/ 07/ 19'77,
p. 39s) a respeito do nio cumprimento da profecla em
1975, respondeu Que a contagem deve ser alterada, pois o
sétimo dia só começou a pós a criação de Eva. a qual foi
posterior à de Adão; visto que a duracão do intervalo entre
o surto de Adão e o de Eva ainda não foi revelada pelo
senhor Deus, não se pode ainda dizer quando começará. o
sétimo mllêruo da hwnanidade ou o reino milenar de Cristo!
A Sociedade 4:Torre de Vigia. até hoje tem sua sede
em Brook1yn, donde espalha pelo mundo numerosos livros e
panfletos. assim COMO as revistas cSentinela:D e cDesperta1!:D
Ulteriores noticias sobre as Testemunhas e suas doutrinas
encontram·se em PR 157/ 1973, pp. 25·42.

2. Um onf'KIo de 'lida
Günther Pape começa a narrar a sua própria história a
partir da infância.
Em 1930 vivia ele com os pais e um irmão na cidade.
zinha alemã de TIlale (Harz). Seu genltor trabalhava na
siderurgia local, enfrentando a grave crise econômica por
que passava a Alemanha; comunistas e naclonal·socialistas
se defrontavam então no cenário politleo, prometendo
reformar e renovar as finanças do pais.
Um belo dia o paI. de Günther perdeu o emprego - o
que tomou · mais crucIante ainda a situação econômica da
famUia. Nessas circunst!nclas penetrou em Thale o jomal-
zInho cA Idade de Ouro:t publicado pelas Testemunhas de
-217 -
34 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS, 22Ul978

Jeovã; ex1bla tristes Imagens da sltua:;ão sóclo·econômlca do


país c escarnecia os Partidos polltJcos, apregoando «8 única
solução. para a crise, a saber: a Iminente vinda da era
paradlslaC8 e da idade do ouro, preparada por Deus especial·
mente para os pobres. .As Testemunhas afirmavam ser os
verdadeiros cristãos em meio a um mundo pervertido ou
subjugado pela serpente! Impressionados pela calorosa pro·
paganda, os pais de Günther resolveram descrer de todos os
programas pollticos oferecidos à população alemã. para se
tomarem convictas Testemunhas de Jeová. Tal atitude reper-
cutiu na formação dos do!s fllhos, que aderiram outrossim li
seita.

Em 1933 o naclonal-socialismo, tendo â. frente Ad olf


Hitler, subiu ao poder. Isto lmpllcou persegul:áo às Teste-
munhas, sob O pretexto de que eram uma faeção judaica
ligada aos Estados Unldos da América. Os pais de Günther,
ferrenhos como eram, foram privados do pátrio poder, e o
menino GÜnthe.r se viu agregado ao Junl;Volk, organização
hitlerista para o Infância ... i passou a viver num asilo, em
que se encontravam pessoas idosas e crianças destltuidas de
condicÕes sociais. No fim da segunda Guerra Mundial, ou
seja, em março de 1945, o jovem GUnther foi enviado para
a frente de batalha, onde, apesar das convicções incutidas
pelas Testemunhas. aUrou contra um tanque ruSSO e matou
um adversário - o que lhe causou tremendo drema de
consciência. Poucos dias depois, caiu prisioneiro dos ingleses.

Uma vez terminada a Guerra (1945) , voltou a exercer


suas aUvidades de pregador do Reino. Estas encontravam
acolhida fervorosa por parte da população alemã dest:ro;ada
pelo conflito armadv e os saques conseqüentes. O próprio
Günther foi conflnnado em seu ministério de pregador pela
Sociedade <Torre de Vigia» (com sede em Brooklyn, EE. UU.)
- o que lhe fez erer que Jettvá lhe perdoara o pecado de
haver entrado em guerra e abafldo um adversário.
O sucesso missionário de Günther foi" grande. Todavia
teve que enfrentar dificuldades. .. Algumas provinham da
própria seita. visto que os dirIgentes da mesma não queriam
que se casasse, alegando que o Mundo Novo estava para
irromper sobre e terra e, pOr eonsegUinte, era necessãrio
dedienr o tempo Integral à pregacão do Reino, sem preocupa·
ções com famUla; aguardasse o Mundo Novo para se casar!
Não obstante, GUnlher desobedeceu, unindo-se em matrimO-
- 218-
.cEU FUI TESTEMUNHA DE JEOVAt 35

nlo ... - Outras dlIlcuJdades eram originadas pelas autori-


dades russas, que ocupavam a Alemanha Oriental. Após
sérios conflItos, conseguiu em 1950 fugIr com a esposa para
n Alemanha Ocldental, estabelecendo. se finalmente em
Storzeln, perto da fronteira com a Suiça; Günther conUnuou
a exercer a sua missão de pregador. Aos poucos, porém, foi
verificando rivalidades e rb,as entre os seus correligionários:
aspiravam 80S cargas dê relêvo, recorrendo a meios nem
sempre legitimos, Mais: a grandiosldade das promessas feitas
pela Direção Geral da Sociedade com relacão ao Iminente
Mundo Novo e o não cumprimento das mesmas comCÇ-aram
Q deixar interrogações na mente de GUnther; assaltavam-no
duvidas de fé, que ele procurava reprimir, pensando na
autoridade que os dirigentes da. Sociedade «Torre de Vigia.
atribulam a si mesmos. «Por trás de todas essas dúvidas não
estariam os demônios?». (p. 44) . Contudo, por mais que
aünther Pape procurasse dar créd1to aos sucessivos presi-
dentes (Russell, Ruthenord. Knorr .. . ) da Sociedade, percebia
mais e mais que calam em contrndlções entre 51, principal-
mente no tocante à data da segunda vinda de Cristo e da
irrupção do MW1do N ovo sobre a terra:
"Rulhertord nlo havia declarado qua sua$ doutrln .. eram 'conheci-
menloa que o senhor lhe comunlcav. para anunciar ao povo., .'., Com
quo dlr.llo Knorr depois os repeliria? Como ae pOdem raJeltar 'verdades'
(lue o Sanhor 'comunicou'? Ou, ontlo, o Senhor Rio comunicou col••
algum.' Havia, em tudo luo, algo que nIo comlllpondla a05 princiPio!
basllaru" (p. 4n,
Além do mais. em 1952 a <Torre de Vigia. resolveu
deSencadear violenta o!emiva contra o comunismo - o que
mais abalou GUnther. Com efeito, no passado as Testemunhas
de Jeovâ tlnham·se declarado contrárias à partlcipe.Cáo na
vida poUt1ca e em outros setores deste emWldo mau. , funda-
mentando-se sobre textos bibllcos; contudo já então abriam
a luta politlca, violando os principias de neutralidade que
haviam proclamado!
GUnther resistiu corajommentc aos assomos de duvida
que o sobressaltavam:
"N6. 8empre INvamos a ..,ro • propaoanda de noa&o5 dlrlgenln.
Sempre ~ Incuteanun que a 'Torre d, Vigia'. ai"" da ser a tlnlca socl..
"ede rellolosa que Iam o dll1lllo de .ubslsUr dlanto da Deut, • lamb'm a
msIs Importanto orgal'llzaçAo da mundo. E assim vlvemot. oscll8lldo em
nossa Incon~lêncla, emMladOl "alol dl,<:urso. ,.,patacularea' de nouoa
cheias, como .e f05.. mm o eixo do mundo em lomo do qual giram loda.
as col.... OUem, no mundo, poderia Igualar·•• a ,,0. em ImportAncl17
Nlnou6m I
-219 -
3ô .PERGUNTE E RESPONDEREMOS, 22Vl978

Por I~o o. confradaa da dlr,çlo central estio aampra preocupado.


em dnperte, o .nlldlasmo d's m....s com novos Iho'lOS, nO"'Ol op(lIsculol,
no ...o. volanles, publ1cadol sempre com a 'graça de Jeovll.'. E • de ver com
que anluslumo u mulUdOes os empunflam nal gll1anleSCas concenlraça•
• os I. ...antam d. faces ,.dlanlas, ccmo s. eu" li... rOI e esses fol1l810$ con.·
mul.sem o. ma', •• grados 1alll ml, da alegria que pudltUe tlaver na lerral"
Cp. soa).

A luta de Günther consigo mesmo a fjm de se manter


fiel aos principIas das Testemunhas lomnva·se cada vez mais
árdua, a ponto de lhe abalar as forças fislcss. Era·lhe neces·
sário reconhecer que se enganara, doando·se totalmente a
um Ideal religioso que na verdade não fora suscitado pelo
Senhor Deus, mas, sim, por «vislonários~ e falsos profetas;
chegava assim a conceber dúvidas sobre a própria existência
de Deus (cf. p. 102). A Insõnia e o esgotamento físico não lhe
pennitiam assumir por multo tempo as responsabilidades de
um emprego, de modo que, desempregado, começou a se
endividar. Para que os filhos não sentlssem demasiado a
fome que afligia o lar, Glinther e sua esposa Unham de se
privar de alimentos. A própria mulher de Günther procurou
trabalho remunerado, mas velo a adoecer por sua vez, tendo
que ser Internada. Günther ia-se aproximando do desespero;
a sua vida parecia· lhe ter fracassado em todos os sentidos,
ou seja, tanto no plano reUgloso como no proflsslonal-econô·
mico e no familiar; os seus fllhinhos Inocentes teriam que
carregar as conseqüências dos passos infelizes que ele dera.

"Era muho belo p"gar o Reino de DeUI como única esperença do


mundo. Tfnhamos todo o nec...6,10 per. o nosso sustento. O reslo nlo
no. Intef1tSlha. Para que nos ptaocup.r com as colsu do colldlano, ••
tudo o ma" no. seria dado com o ad....nto do Mundo Novo? Todo. OI
problem. . .erlam rasolvldoe no dia d. Hannagedon. O Importante era
p.rs.....,.r n.lment. em minha mllalo, a" a chegada deste dll.
Mas o IOnM da clllnhl e do J.«Ilm no Mundo Novo h.vI..... 11..-
vanecldo. er.m. pel'lldo no mllo do clmlnho, ,em ...er mais nada dlanl.
de mbn" (p. 1051.

Finalmente GQnther resolveu reagir contra a perplexi·


dadej mais uma vez e resolutamente, voltar·se-ia para a
Biblla, procurando nela consolo e energia. Orava instante·
mente ao Senhor, pedlndo.lhe luz para uma nova opção reli.
giosa.
Em 1957 as Testemunhas de Jeová exc1ulram GUnther
da sua SOciedade, tacusando-o de haver agIdo de modo
incoerente e antlteocrátlco_ (p. 106),
-220 -
<[EU FUI TESTEMUNHA DE JEOVA, 37

"Mas, na pt6.lIça, ... que rellgllo abraçar? Talvez çonvlqlO que eu


mesmo lenlas50 ençonlrar a verdade, InveellgendO IOzlnllo a Biblla, sem
levar em çonta a doutrina da alguma lograJa? Eu nlo encontrarl. , 1.lvu, a
verdade em alguma das IgreJo consl1tuldas? Cl1Ilo, que i • vardade, nlo
promoteu que !IçarIa com as testemunhas de l ua doutrina todos oa dla,
alf o 11m do mundo? Todos os dias ... Enllo a t<;jt8,a de Cr,.to eleve tor
exlalldo, vlsl....1 • Inlntarruptamente, detde ot primeiros tampoa ." oa dias
d. hoje.

Ma. qUi Igreja tam .xlStldo Inlntarrupttm.nt. desde OI prlm.lroa


crlltlOs 1 - A respolta que eu fui obrigado a me dar. me 101 como um
choque. Nlo serIa a Igreja Clt611ea, que as Testemunhas de J eari quall~
CIm de servidora de Salln'" Todo o meu Interio r se recuaava a aceitar
a Igreja Católica como I I/'IIrdadelre Igreja da Crlllo. Nto, nlo era pO$llvel1
A Igreja Católica, tal como ma ha ... lam . f1 ..... nt.do al6 antlo. nunca pOderia
ser a Igreja da Crl,to ! Jamais I
Conlinuel a procurar e a Invesllgar. l em dncanso" (p . 171).

"S. a Igrej. de Cristo as tlveua paganizadO li daada OI primeiros


l6mpOl. as partu do Inlemo 'ertam pfeV1,lecldo contrl ell, canlrldlzando.
esalm, l i promessas dI Cristo. E nlslo eu nlo podIa nem devia acreditar ...

U com avldlz .. J)69In" da Blblla lobre l i comunldad.. 61 IgraJa


J)rlmUhrL E qual era e Igreja que encontrei no começo do Crllllanismo'1 A
1'0 odiada Igreja Cltóllcal Um dIa. apesar d. loda • rallll'ncla Interior,
dtrlgknl • um IImplo Cll6l1co. Qulrla . lIlatlr I. uma MI.... Tudo 010 J)u-
eatrlnha : ti" ·....
lUVa da 'cerlmllnlu'. da 'rep""entaçlo le8lral', pensava au. Mu, calla
ro· ...IIS 'c.rlm6nl..', a partir dai, Rio m. deUratn ma.
em pu ... Por que. propriamente, nlo 181. Só D,u8 sabe I
Tinha multo desejo da enlrar em conllllo com sacerdotes católicos.
O primeiro que Incontrel havia consumido aUII& forças flalcu no trabalho
J)aatoral Junl0 aos mineiros. Como poderia eu julgar aqulte 2alO10 paltor,
',..nl '0""160 num Inv6l1do. como um hlp6erlll. um 'Inaau • um .. rvldor do
demOnlo, quando eslavl dlanll da mim um aac.rdate leI.' • bondoso 7 E
aquI'1 padre J8IUIlI qUI conheci am ..gulell. pod.rfamos quallrld·.lo de
"J)8no e refInado mercador dI almu' Nada disto perda constata, ... ,.
CP. 172).
Paulatinamente os preconceitos de GUnther contra o
Catolicismo forwn·se esvanecendo - o que lhe abriu o camI.
nho para se tomar um convicto fiel católico:
" PUHI!8 .nllo a estudar a doulrlnl cat6l1ca, sem preconceltoa, • nala
tenho Incontrado at' hoje multa paz • multa alegria. Por certo, rol um longo
a fatJgoso caminho aquI'a que, da heresia d.. T.temunhas de J aovli, me
fel chegar" " de crlstlo calóllco. Mu o certo. que a 'grela Católica ,
a Onlca 'graja qUI l i perpetua a16 hoje I .. qual Crls'o prome1f'u lua p~
.Inçl I SIU governo. todos OI dIa, al6 o fim do mundo" (p. 17"').
Uma vez tenninado o seu longo itlnerárJo reUgtoso,
GUnther Pape houve por bem escrever a respeito um llvro,
-221-
38 c?ERGUNTE E RESPONDEREMOS. 221/1918

não no intuito de difamar os antigos correligionários, mas,


sim, a fim de esclarecer o público e evitar que incautos
incidam nos mesmos erros doutrinários em que caira. cAs
experiências· pelas quais passei, me põem continuamente
diante dos olhos as proporções e a periculosidade destes
erros. Não d~vo me calar! Não posso me cala.! .. (p. 178).

Examinemos agora alguns dos principais Pontos que


GUnther denuncia como falsos na mensagem das Testemu~
nhas de Jeovã.

3. Pontos vulneráveis
Salientaremos três pontos mais importantes: 1) as
profecias sobre o fim do mundo; 2) as atitudes frente à
sociedade c1vU; 3) o USO do nome Jeovó..

3 . 1. As profecia,

Como exposto atrás, as Testemunhas de Jeová consti·


tuem wna socIedade adventlsta extremada. Sua razão de
ser é apregoar a iminente vinda de Jesu9 Cristo e o juizo de
Deus sobre os maus... O Cato de terem indicado com
precisão a data de tais acontecimentos atraiu.lhes, sem
duvida, muitos adeptos, pois os homens hoje em dia, desUu·
didos p~lo curso dos acontecimentos contamporâneos, são
propensos a aguardar do Além as condições de vida melhor
que os pollticos e governantes não conseguem dar à humani·
dada; foram justamente a miséria e a desesperança que
levaram os pais de Günther Pape a aderir ã. Sodedade _Torre
de VJgia,..

Todavia as constantes frustracõcs a que se vêem sujeitos os


membros da seita. levam·nos a abandonar a cTorre de Vigia.,
tonlando evidente que esta nada tem de sobrenatural, mas se
deve à fantasia exuberante e desorientada de seu fundador e
de seus sucessores; é o fanatismo cego, irracional, associado
no desânimo das massas frente à situação mundial. que
allrr.cnta a vida da Sociedade. - GUnther Pape, com pers-
picâcin, percebeu esse aspecto ilusório e cheia de contra·
diçõcs das profecias da seita, de modo que se a.fastou da
me3ma (não sem muito lutar para. vencer as categorias do
fanatismo que a ~jla incute em seus adeptos).

-= -
cEtJ FUI TESTEMUNHA DE novÁ» 39

, Na verdade. a S. Escritura não tendo Da' revelar o dia


da conswnação da história. Multo aC) contrário. o Senhor
Jesus declarou:
"Nlo vos compole conhecer 1)1: tampOI e OI momentOll que o Pai
, ... rvou em leu podo'" 6At.1 1,7).

"Quanto lquele dia e lquel. hora, nlngufm I&be de nada, nem HqUet.'
oa anJa. do du. ma lomente o Pai" (Mt 24, 36),
Os cálcu]os feitos por RusseU. Rutherlord. KnOIT, Franz
e seus seguidores aio todos arbitrârlos. não levando em.
conta o gênero lIterârio dos textos bibHa>s e o sJgn1flcado,
não raro, simbolista que os números têm nas Escrituras
Sagradas. Baste citar. como eXEUnplo. o episódio de
Gn 1.1.2.4a, em que os sete dias da crlação estão longe de
sJgn1!1car o prazo dentro do qual o mundo e o homem se
constituiram. Não se pode hoje em dia pretender interpretar
autenticamente a Bíblia se não se leva em conta o expres-
sionismo próprio dos antigos povos orientais.

3 .2 . TestMnUnhen. Jeo.,6 • lOdec:lode dvil


GUnther Pape dedica wn capItulo Inteiro de seu livro
(pp. 141·168) às incoerências das Testemunhas de Jeová
diante do Estado e das instituicÕes civis,
Na verdade, as Testemunhas julgam que toda a lnuna·
nldade, cllstribwda em nações e crenças religiosas, está. sob
o poder da serpente ou de Satanás. Apenas 8 ~orre de
Vigia» estâ Isenta de tal jugo, constituindo um pequeno
rebanho compari.vel aos 144.000 aos QUais o ApocaUpse
(14 ,1) promete a salvação.

Por Isto as Testemunhas rejeitam qualquer relacão


amigável com o Estado e seus órgãos de Governo; quem
pactue com essas instlluJç6es, comete «prostituição ou adulo
tério esplrttuab, e sujelta.se a ser aniquilado em Hannage-
don juntamente com ceste sistema de coisas».
Em conseqüência, as Testemunhas
a) rejeitam o servico militar seja em tempo de paz,
seja em tempo de guerra, chegando a perder os direl~
polltlcos por causa dessa sua atitude;
-223-
40 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS, 221J1978

b) condenam o juramento à bandeIra como compromisso


de fideUdade à pátria, poIs na verdade estão engajados no
exército do Rei do Novo Mundo. a cuja bandeira juraram
fidelIdade:
c) recusam qua1quer tentativa de cristianIzar a politica.
pois. para eles, c mundo é incorrigível; nenhum es1orço
humano é capaz de melhorar as condições da história; só
Jeová o poderá mediante intervencão drástica no curso dos
aconteclmentos. As Testemunhas são Incitadas por seus diri.
gentes a não favorecer Partido polltico algum nem apoiar
alguma forma de Governo (democracia, monarquia ou
ditadura ... ), Quem faz poUtica, é inimigo de Deus, pois
tenta melhorar as condições da vida humana, tareta esta
Que s6 a Deus compete. A3 campanhas antlpoliticas das
Testemunhas são chamadas pela Sociedade cTcrre de VIgia,
obra edueadora.;
d) escarnecem, por vezes, os governantes com veemên·
cia, como se depreende do texto abaixo:
"Os homena fariam bem. se plnaauam qUI seguir oa podlroaoa e
au •• prom ....., em qualquer P.rtldo qUI leIa . • S8 enlregar I crlaturu
moribunda. I corrompidas pelo ,,-cado. Do mesmo modo qUI um cego
nada podl lazlr, quando gula um seu slImelhantl, 8!151m também ISS"
che'.. nlo podeM deYONer o. 'a\/Oral dllJ/nos a um mundo nascido fK)
pecado .. , Nlo • e/tlremada tolice ......eatlr • crlalure deca/dI com ..
Inllgnl.. da aulorldada. IlevI.,la acima do. laUI compartlclplntes no pIcado.
cumul6-la dI IOUVOnll, Clrc""'l com um podlroeO IIx6rclto a, dapols, aPlrar
que ....I. em condlçOOI dI libertar o. teUI proprloe companhalrO!ll? Como
6 INllpldO I puarll penll' qUI um pal1ldo polltlco 'IJa '. aalyaç10 deste
Plf.' ou dI qualqulr oulro palsl Como podam OI 'dauI"' vl.lva's ou Inyl-
sl.."l. de.te mundo .alYlr a~uml col'I, '1 nllm eles IIstlo Im condlçe..
dI Ulvlr-se • 1i PfÓprlOS ... '1" ($lnllnaI8. 1953, ad .•Ieml, p. 3B) :
e) 8S Testemunhas combatem a Organização das Na~
Unidas na medJda em que esta procura pronlgar as guerras
e harmonizar os povos i:!ntre sI. Tal tarefa equivale a querer
evltar o dia de Harmagedon e tentar fazer aquilo que SÓ
J.eová pode fazer sobre a terra, Assim a ONU oferece ao
mundo um sucedineo hipócrita do Governo legitimo e per-
feito de Deusi
Wlo",,-
t} recusam orar pela paz deste mundo. pois Jeová não
aceita, tal ,tipo de- oração, dium as Testemunhas. O Senhor
cUsse a Jeremias. referindo-sE! ao povo de Judâ decaIdo: eNio
Jntercedas por este povo; nao eleves em favor dele clamores
nem súplicas, nem Insistas comigo, porque não te ouvireI.
- 224-
rF.U FUI TESTEMUNHA DE JEOVÁ> 41

(Jr 7,16). Ora analogamente faria o Senhor a mesma adver-


tência às Testemunhas que se dispusessem a orar peja paz
das nações contemporâneas.
Estas atitudes das Testemunhas frente às instituições
civis são tã-o POUCO naturais e tão fanáticas que, como
observa Günther Pape. os próprios membros da seita não as
sustentam coerentemente. Existem textos dos dirigentes da
seita que se referem com benevolência aos governantes e aos
Governos das naç6es. Em ta1.s textos preval~m os senti·
mentos de solidariedade e comunhão que todo homem expe.
rimenta em relação aos seus concldadâos. Contudo não se
pode negar que a atitude hostil frente âs Instituições civis
esteja. na lógica das premissas da seita.

3 .3 . O nome «Jeov6lt
As Testemunhas fazem questão cerrada de designar o
Altlssimo pelo nome JeoV&; mediante este apelativo, revelado
por Deus mesmo, o verdadeiro Deus se distinguiria dos falsos
deuses.
Em conseqüência, as traduções da BIbUa ditundIdas pelas
Testemunhas usam o nome Jeov'- pergunta·se, porém: serA.
que o texto original hebraico apresenta a forma nominal
Jeová.f
Eis O que em resposta 5e' pode dizer:
Os hebreus antigos não usavam vogais, mas apenas
consoantes. Por conseguinte, eserevIam o nome revelado por
Deus a Moisés (Ex 3.14) medIante as consoantes J H V H.
Embora estas consoantes exigIssem as vogais a e o. provo-
cando a. leitura "AllVER (Javé), os isra.elltas nunca pronun-
ciavam o sanUsslmo nome de Deus por motivo de reverenda.
Por conseguinte, ao se defrontarem com o tetragrama
J H V U. liam ADONAY (meu Senhor). Com o tempo, ou
seja, na Idade Média (após o século XI), os rabinos reall·
zaram a fusão das consoantes de JAHVm com as vogais
de ADONAY; donde
J H v H
eD oN a Y
JeHoVaH
Observe·se a propósito : 1} a primeira vogal, no caso, é
e e não a porque Q ft. InicIal de ADONAY é mudo, equivalendo

-225 -
42 "PERGUNT::: E RESPONDEREMOS, 221/1978

a e; 2) a letra Y de ADONAY é semlconsoante, e não vogal


Purai por isto não entrou na composição do nome Jehovab.
Como se vê, o nome Jeová é uma composicão dos rabinos
da Idade MMJa: estã longe de ter sido pronunciado por
Moisés ou pelos profetas antigos. Por conseguinte, em vez
de ser genulno distintivo da revelacAo de Deus aos homens,
é algo Que não corresponde plenamente a essa revelação. A
própria sociedade «Torre de Vigia', em seu llvro «Equipado
para toda boa obra, (p. 25 da edlcão alemã) reconheceu I

que cJeovb não é a forma original do nome de Deus.


Observa então Günther Pape:
"Por que os dirigentes daa Tntemunhll d. Jeové nlo releltam o nome
da J.o ...... . e o reconhecerem como eI.elgneçao errOnee ele Deu.? . .
M Testemunh.. IItlo acostumeda. com o nome de Jeov". auta
lomente pensarmos na Imensa Imponlncla que a Tom de Vlllla atribui •
e..e apelativo. Abolir O uso do nMla d. Jeoon ma deaastrolO para a
Otganlzlçlo. TOda a lua popularidade, conq"I.'ada a d",.. penas, caJfla
por tlrra. OS dirigente. da Testemunha•• no entanto. pensam I agem, pelo
mal'KlS aparentemente. como homens de negócio. Mantém-se o .nome dI
uma firma de prnllglo. mesmo multo depois de ter mudado de proptlol4r1o.
E por que Isto? Nlo •• omenta por razO.. de lucros e popularidade. mas
lambfm por razae. ela mlrcado fi clientela.
Nlo encontramos outra. r.tOes pelas quefs os conlrada. de Brooklyn
tanlo .1 apegam lO lallo nome de Jeo'l.... Cp. 991).
São estas as três objeÇões mais slgnificativas que GUn-
ther Pape levanta contra as Testemunhas de Jeovã. Sabe-
mos que estas também se tornaram conhecidas pelo fato
de não aceitarem transfusão de sangue, preferindo a morte a
tal tipo de tratamento. E isto ... , em vIrtude de leitura lJteral
dos textos b[bllcos que afirmam. ser o sangue a própria vIda
(d. Cn 9,5s; Lv 17,11: Dt 12,3). Ora, como a vida é de
Deus SÓ, não é Uclto ao homem tomar sangue, pois Isto equi.
valeria a usurpar a propriedade de Deus. Todavia é certo
que a Blblla, nos verstcuIos citados, não pretende definir
assuntos de biologia, identificando autoritariamente sangue e
vidal
Não há dúvida, a leitura do livro de Günther Pape hâ
de ser de grande utilidade a quem acompanha a vida contem·
porlnea. As Testemunhas visitam domicilias e empenham.se
por convencer seus Jnterlocutores. Dal a grande conveniência
de se conhecerem as suas origens, as suas teses principais e
as experiências daqueles que lhes aderem.
E!têvão BctteDCOort O. S. B.
-226 -
livros em estante
o tempo CIUII I. ctwrta
por Wolfglng Gruan: -
hei". Uma IftttOduclo ao AnOto Tetttmlfl1O,.
Ed. paulln.., SAo Paulo 1977, 130 x 200 mm, 275 pp.

o PI, Wolfgang amen 11m... dllUnguldo por seu apostolado blbllco.

(Ed. Pautlnu) da abril de 1910 • dezembro de 1977; par. ti'


Acaba d, reunir num .6 livro .rtlgOl que I'ublleou na revista "Famllll CrIai."
.dl~o lodo
o material foi revl'lo, corrigido, ampllllldo I devidamente articulado.

o aulor aprasel'lla OI' 11'0'(01 do Anllgo r .. t&nlnlo nIo ••gunda •


eeqü6ncla do respectivo canon, ma de acordo com I ordem cronolOglu da
aul rtdaçlo. '110 permIti compreender mllhor a história. das 16'lat enlre
o povo do AnUgo Te.tamento , o , Ignlflcado pr6prlo de cada livro, A fim de
favoreclr ttr objetivo. o aulor 010 quI, 'l'lelonar OI Ilvrol do Anllgo
com OI do Novo T••tllmanlo; Ilel lO leitor I 'ar,f. de realizar tal conlun.lo,
QUI na verdade' Indrapendvel para a boa compreenslo da Sibila Sagrada.

o que lal volume leM de elll"cl.. rlsllco, , o MU estilo altamente dld6-


llco, a sua Ilnguagom racll, modema, OI .eus quadros IlnóllcOl. o. . .'"
mapaa ". ; tudo 11110 p.n' lr. n.luralmanle denlro do eapltilo dO leitor, um
que 18t. façl granele esforço para aprender. O livro 6, pois, emInente-
mente p8lloral, l em d.lxar de 8er lolldamenle clenlllleo; as tuas opçO.s
exog6Uc.. alo toda' eonu nlAn... com os rumos du c:I'nclea blbllcal
cllOllcas. Nas pAgln.... . lntrodutórl... o eutor pro~e certas normas para o
bom uso de... Inlc:laçlo l Blblla. chamlndo .. alençAo plr. a nacasaldada
de .. manusear o próprio texto Agrado e de ae consultarem dlretamenle
u paall8gene blblleaa cUida no corpo do livro: 6 preciso famlllarll:IHa
diretamente eom a Escritura S ..grllda.
Congralul.mo-nos com oPa. Gruan por ....t... ua vallo .. abrI.
auguramol fnJtlllque amplamente.
* qu.l
Educ:açlo AellOlou &colar. Roteiros de aul.. do 2t Um, pelo Co,...
..lho Interconfeulonal p .... a Eduee~'o Rellglo.. (CIER). - Ed. VOZ81
da Pelr6polls a CIER da FIOt1anOpo11l 1976, 180 x 250 mm. 22~ pp.

A. eprolllm .. çlo entra c"lóUco" " protutanles tem levado alguns gnJPot
de educador.... procuraI mlnl. lr.,. nu ..cal.. um ensinamento religioso
que l8t1sfaça a calóllcos e prol.. lanl8l de tal modo que nlo .ala nec:esU11o
dividir .. lurm .. "!aundo as conll...oe. religiosas por ocasllo da .. ui..
de RellglAO.
Em s . catlrlna esle proleto lem agora o aau manual, dev\clo ao CIER
(fundado aOll 28/08172). O livro em paula procura apresenta' apen.. \te,..
dadas comuns a calóllcO,l e prot..llnlas. - Reconheçamos o valor da
metodologl.. augerida, o respeito" p.lcopedagogla a .. pslcologl.. evolutiva
doa edtolÇllndo" qtola OIr.c1erilsm • obre. Além disto, verifIcamo. que v'rlos
tam •• a' .10 abordado. de manalra fellz: ...1m o da origem do homam
(pp. 31.), o da história do povo da Deul (PP. 5H2), a Crlttologla (pp. 7W9),
os "pactos da .exuelld.de (pp. 135-138) .. . Todavia' InavUAvol que. do
ponto da vista católico, o leitor percaba lacunas na expo.lçlo doulrl"",la
do 11'110....... Im. por axamplo, a ra. pelto da M..rla 55. nada .a diz ' Obre
a I US vlrglndacla a 0,1 seus dama'. prlvlléglOl (PP. 92-114) : nlo &8 encontra

-227-
44 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS~ 22111978

uma pllevra referente 6 S. Eucaristia, qua 6 o Clnlro da vida c rlat! ; doa


sacramanlos. apenas o eallsmo e o matrlm&nlo slo mencionados (senelo
que eale ulllmo 1'110 , relerfdo expllcltamenle como $Icramento). No tOC8nle
aos novlsslmos, poucas palavras menelonem o c4iu G o Inlemo (p. 199), nAo
hl'ttlndo mençAo do purgatório,

Os capitulas dedicados I IgraJa (pp. 156-160) e ao ecumenismo


CPP. 1690111) abordam o lema "Igreja" em .anUdo Insuflc lenle, pois Insinuam
eal10 relallvlsmo. À p. 158 allrm..-sa Qua os ortodoxos repudiaram al5 Imagens
dOI sanlOl, aem UI leva, am conla q ue multol meslres ortodoxo. (S. Joio
OamlScano, vlrloa Pelrlarcat de Antioquia e da Jerusalém, os mongas ... )
defenderam H Imaoans 11 qua o Concilio de Nlc61a 11 (786-187) ralterou o
velor do culto u Imagana consoante a Inllga Iradlçlo crlltl orientaI, Nole-se
.Inda: o capitulo sobra a consciêncIa mo ral (pp. 121)-129) lEI.vazla • noçlo
dll lal natural.

Tais dellclêncles, deeorrantas, em grande perta, do Inlullo de elaborar


um manual da educaççlo relllllotlla para calOllcos e prolestanles. sugarem
• pergunla: sar! raalmenta vlllda lal tarela ecumênica 1 Pr" Iarl verda-
dei ro sarvlço a católicos a proleslanles? - Cremos que nlo, 8 expllca-
mo--nos:

'" '"tançlo de aproximar e unir cat6lfcotl e 8V8nqéllcos e de todo lou-


lI'vel, Todavlll a Inslruclo religiosa minIstrada de manelr. Incomplei. 1'110
DflDara e.t61100l autênticos nem IIIvaI protestantel aultnllcos (mlls (acll-
rnenle preparar' prole.lanles autêntico., pois Q omlsalle. doutrlnlrla. 510
devidas ao Intuito de 1'110 ferir a conscllnela proleslanle). A propósito enslnll
o Concilio do Vallcano 11 :

"t ,absolutamente necHsl.rfo que a doulrlna Inte ira seja luçldemente


8:.oos18. Nada ~ tio alh.lo ao ecumenIsmo quanto aquale lalto lrenlsmo
paio quel a pureUl da doutrfna cal611ca aofre detrimento e lIau s entido ge-
nulno e certo é obscurecido" ("Unllatls Aedlnlegrallo" n9 11),

Tem-sa dito - e çorn re.zlo - que o movimento ecumênico 56 tem


• lucra r se catOllcos • protestantes le tomarem sem pre ma', Il ncaros (a
rllo relallvlstas); com eleito. a slnearldade abra o coraçlo so Espltllo Santo,
oue, em 61t1ma """58, • o grande promotor da unidade entra os crlsll os,
Sendo aSlIm, 1'110 UI pode ver por que delkllr de elar aos cat611cos uma
formaç~o religiosa especlltcamente catOllca e aos prole.tanles a respectiva
formaclo prolaslan!a: O aue sa hj da evitar, ê a polêmica, em lugar da
Qual daverlo mala e mais aer epresenl.do, aos alunos oa ponlOS que
aproximam entre a' es dlverses confissões cria tia. Aot leólogos , qua com-
pale elaborar as .Inlas •• da pontos dOUlrlnjrfos d Isculldos enlre cat611cos
e p,ol"'anlas. afastando fa lsos problemas a mostrando a converglncla entre
., dlver3B$ conflas6ee crlstis. Euas slnt"". uma vez el!udadu • ecella9
paios 10610901, hlo de sar levadas !s aulorldltCles religiosas de cada con-
flulo e llnalmente a lodo o povo de DeUI.

Tal3 IdéIa, vlo aq ui proDOstas 6 guisa de contrlbulçlo par. se a va-


Uarem as dlvenlas lentallva, da ensino religioso unificado 16 e m curso no
Bralll; )ulg6mo-las portado ru de relallvlsmo e, por consegulnle, contra-
DrocIucentes.

-228-
Jegr.... 1".,g6l100a par. C&tlqu... de H' grau, por A. A. Aguiar.
Dlstrlbuldorn : 26110 BlealhO PQf1ugal 1 Cla. LIda., Av. Presidente Vargas,
5C2/,~. RJo da Janeiro 19n, 160 J. 223 mm, 234 pp.

o prOl. Antônio A. Aguiar ê um enlu.la"a da caleque'e .. base dos


Evangelho•. Ap6s haver e~perlmentado durante elguns ano. a apllcaç:lo do
tedo do EV8ngellle, 8eb I forma de Jegral., .... lurmas da 541, da 8', da 7f
a da e. séries, houve por bem publicar tal. paça par. qUI outrot cete--
Clulal.. se penam benerlclar da e~perltncll. auer-nos parec.er qUI se lrala
de método originai, apto • produzir bons frutos, v[sto Clue ae Mlrve d.
recur.os pedag6glcoI modornos.

Chama. atenç'o o lato de que as peças produzidas pelo prel. Aguiar


Incluam termos de gllla como " 'egal pICI" (P. 14S), "vi .a te .m.nu
fltlla" (p. 145), " blrllO telal" fp. 125), "bacana-hlper-leoa[If (p. 1m ...
EIII vecabularlo nlo convlrl, • pregaçao nam • uma palellra para adultos,
multo manos ... fi or.çlo IIt(lrGlc8 ; lodav[a, em le tratando da paç.. a lar
racltadas por men[nol I meninas, acompanhadas da dlscoI cataqu'UcOl,
nlo vemos Inconveniente no emprego da ollla Inocente que earllclerlz• •
linguagem dos Joven, da hoje. NI verdada, lodo o trabalho do prol. "guiar
procura cons.trulr uma mentalidade evang"'CI rlal " ai doutrina • Incutir
• prAtica da vlmda.

Louvamos, pois, o meslre pall aUI obra pioneira, a d ...JamOS--lhe


Qrande êxito I

VloIlnell nl .ecledlda contamporlnaa, por OaUo Caram. Publlca~e,


CID, Sociologia Rellglosa/3. -Ed. VOZ", Palr6polls 1978, 138 ~ 210 mm,
250 PP.
Elte livro eonl6m a tlse apresentada pelo autor na Faculdade de
Teologia da Unlveraldada de Frlburgo, Sufça, para a obtençto do grau da
doutor em reologla. Ap6. vista lallura de obra, retaclonadas com o assunto,
O. earam eborda o tama em três parte.: ..., falares que contribuem para
a InsllluclonatlzaçAo da violência (IncluindO estudos biolÓgicos e pSlçc}6-
glces alleme~le Interesaantes) ; 2) re,postas fi violência estruturada, com
espacial conslderaçlo de nlo violência (defendida por D. Helder Cimar..
Marlln lut"e, Klng, R6g.mey. Hae,lng .,. ) : 3) o ponto de vista crlsllo
ccncamanle • '1lollnc:la, Nes ta úlllml parte, o lutor discorre sobra Justiça
e caridade, denunc.lando a 111'. carldadl, que, dando esmoI.., • contvenle
com a Injustiça (pp. 218-228). l evando em conalde'lçlo • Amarlca Latll'l8.,
Car.m mantém-se em nlvel mais teórico do que pr6t1co, evll.ndo formular
dilemas concretos para a eçlo dos crl,IIOI am nosso contlnenle. O livro
• recomandAval, dllUngulndo-.e pall "quezl da lua erudlçlo 8 daa aUII
Informaçatls, qutl hlo de lha merecer a atençlo dos estudlOlOl,
E• • .
~

PRECE DE GRATIDAO
~ MARAVILHOSO. SENHOR. TER ROSTO PERFEITO,
QUANDO HA TANTAS FACES DEFORMADAS.
~ MARAVILHOSO. SENHOR TER OLHOS QUE ENXERGAM.
QUANDO EXISTEM TANTOS OLHOS SEM LUZ.
ê MARAVILHOSO, SENHOR, TER VOZ QUE FALA E CANTA.
QUANDO TANTAS VOZES EMUDECERAM .
ê MARAVILHOSO. SENHOR, PODER ESCUTAR MÚSICA E
PALAVRAS AGRADÁVEIS.
QUANDO HÁ TANTOS SURDOS. QUE NADA OUVEM.
ê MARAVILHOSO, SENHOR. TER BRAÇOS PERFEITOS,
QUANDO EXISTEM TANTOS BRAÇOS MUTILADOS.
E MARAVILHOSO, SENHOR, TER MÃOS PARA TRABALHAR .
QUANDO TANTAS SE DEVEM ESTENDER PARA MENDIGAR.
ê MARAVilHOSO, SENHOR. TER PERNAS PERFEITAS.
QUANDO TANTOS NÃO CAMINHAM OU ANDAM DE MULETAS.
ê MARAVilHOSO. SENHOR, TER A MENTE SÃ.
QUANDO TANTOS NÃO SABEM O QUE DIZEM E FAZEM.
E MARAVILHOSO, SENHOR, TER TODO O' CORPO PERFEITO,
QUANDO HÁ TANTOS DEFEITUOSOS E DOENTES.
E MARAVILHOSO. SENHOR. VIVER, AMAR, SORRIR E SONHAR.
QUANDO TANTOS ODEIAM, CHORAM. SE REVOLVEM EM
DORES E MORREM ANTES DE NASCER.
E MARAVILHOSO. SENHOR. PODER VOLTAR PARA SUA CASA ,
QUANDO TANTOS NÃO TêM PARA ONDE IR.
E MARAVILHOSO. SENHOR. TER UM LAR. PAIS. UMA FAMllIA,
QUANDO HÁ TANTOS ORFÃOS E ABANDONADOS.
E MARAVILHOSO. SENHOR, TER ÁGUA PARA BEBER E
LAVAR·SE,
QUANDO TANTOS NÃO TEM COM QUE SACIAR A SEDE.
E MARAVILHOSO. SENHOR, SENTAR·SE JUNTO A U'A MESA
FARTA.
QUANDO EXISTEM MILHOES QUE PASSAM FOME.
E MARAVILHOSO. SENHOR. TER UM LEITO ONDE REPOUSAR.
QUANDO TANTOS DORMEM NA DURA E FRIA RUA.
E MARAVILHOSO, SENHOR. TER CALÇADO E ROUPA QUENTE.
QUANDO HÁ TANTOS DE PE NO CHÃO A TREMER DE FRIO.
E MARAVILHOSO TER UM DEUS EM QUEM CRER E ESPERAR.
QUANDO TANTOS NÃO TEM O CONSOLO DUMA CRENCA.
ENFIM. E MARAVILHOSO, SENHOR, TER TÃO POUCO PARA VOS
PEDIR.
MAS TANTO PARA VOS AGRADECER.
AMEM .
M. Quotal - A. LorenzaHo

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