Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
RELATÓRIO ANTROPOLÓGICO DE
RECONHECIMENTO E DELIMITAÇÃO DO TERRITÓRIO DA
COMUNIDADE QUILOMBOLA ILHA SÃO VICENTE
Araguatins - Tocantins
Outubro, 2014
Tocantins
RITA DE CÁSSIA DOMINGUES LOPES
RELATÓRIO ANTROPOLÓGICO DE
RECONHECIMENTO E DELIMITAÇÃO DO TERRITÓRIO DA
COMUNIDADE QUILOMBOLA ILHA SÃO VICENTE
ARAGUATINS – TOCANTINS
Outubro, 2014
Tocantins
SUMÁRIO
I - INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 6
Embasamento Jurídico................................................................................................. 6
Referencial Teórico ...................................................................................................... 9
Metodologia do Trabalho ............................................................................................ 14
ILUSTRAÇÕES
Ilustrações 1 e 2 - Estado do Tocantins com o município de Araguatins destacado de
vermelho (à esquerda) e o detalhe da cidade de Araguatins (à direita) ............................... 18
MAPAS
Mapa 1 - Imagem de satélite da Ilha São Vicente com a delimitação da área ocupada pela
Comunidade quilombola ...................................................................................................... 19
Mapa 2 - Área da Comunidade Ilha São Vicente dividida em lotes após o despejo ............. 22
Mapa 3 - Pontos de referência histórica da Comunidade Quilombola Ilha São Vicente ....... 57
Mapa 4 - Comunidade Quilombola Ilha São Vicente, a Cidade de Araguatins/Tocantins e o
Distrito de São Raimundo/Pará............................................................................................ 63
Mapa 5 - Detalhe das edificações da área onde seu Salvador e família moram .................. 69
Mapa 6 - Área requerida pela Comunidade Quilombola Ilha São Vicente .......................... 114
FOTOGRAFIAS
Fotografias 1 à 6 - Tipos de transportes para ter acesso à Ilha São Vicente ........................ 20
Fotografias 7 à 14 - Tipos de casas existentes na Comunidade quilombola ........................ 23
Fotografias 15 à 18 - Cidade de Araguatins ......................................................................... 25
Fotografias 19 à 22 - Praias de Araguatins .......................................................................... 28
Fotografia 23 - Salvador Batista Barros em frente a placa de identificação da Comunidade
quilombola ........................................................................................................................... 31
Fotografias 24 e 25 - Objetos históricos da Comunidade quilombola (baú e mala) .............. 41
Fotografias 26 e 27 - Objetos históricos da Comunidade quilombola (pote de barro)........... 42
Fotografias 28 à 35 - Casas e plantações destruídas após o despejo ................................. 51
Fotografia 36 - Desenho da Ilha São Vicente destacando a área da Comunidade quilombola
e as outras propriedades dos não quilombolas .................................................................... 56
Fotografias 37 e 38 - Barracão de reunião da Comunidade quilombola ............................... 58
Fotografias 39 e 40 - Templo da Assembleia de Deus dentro da Comunidade .................... 58
Fotografias 41 à 46 - Conjunto de fotos que mostram a antiga casa de seu Salvador e
Família ................................................................................................................................. 66
Fotografias 47 à 50 - Locais dos barreiros e os usos do barro ............................................. 67
Fotografias 51 e 52 - Ilha São Vicente (lado direito da foto) vista de Araguatins .................. 75
Fotografia 53 - Placa exposta na Praça dos Pioneiros ......................................................... 77
Fotografia 54 - A Família Batista Barros (4ª geração) .......................................................... 79
Fotografias 55 e 56 - Quadros de dois santos católicos - São José e Santa Luzia .............. 91
Fotografias 57 à 60 - Portos em frente de algumas casas da Comunidade quilombola ....... 95
Fotografias 61 e 62 - Lavagem de objetos/roupas nas águas do rio Araguaia, no período de
cheia e de seca do rio, respectivamente .............................................................................. 95
Fotografias 63 e 64 - Tirando congo do coco babaçu .......................................................... 96
Fotografias 65 à 70 - Diversos usos da palmeira do coco babaçu – tronco, folhas e frutos . 97
Fotografias 71 e 72 - Criação de pequenos animais dentro da Comunidade ..................... 103
Fotografias 73 e 74 - Gergelim plantado na Comunidade .................................................. 105
Fotografias 75 e 76 - Feijão andu produzido na Comunidade ............................................ 105
Fotografias 77 e 78 - Hortas individuais próximas as casas ............................................... 105
Fotografias 79 à 82 - Cestaria produzida na Comunidade ................................................. 107
Fotografias 83 e 84 - Dois tipos de lamparina e o gerador de energia ............................... 108
Fotografias 85 à 88 - Assembleia da Comunidade quilombola que definiu o território
reivindicado ....................................................................................................................... 111
DOCUMENTOS
Documento 1 - Certidão de Óbito de José Henrique Barros................................................. 35
Documento 2 - Certidão de Óbito de Maria Francisca Barros .............................................. 37
Documento 3 - Termo de Audiência de Conciliação: Processo Nº 2.504/01 ........................ 46
Documento 4 - Mandado de Remoção na íntegra................................................................ 48
Documento 5 - Certidão de Autodefinição da Comunidade Remanescente de Quilombo Ilha
São Vicente emitido pela Fundação Cultural Palmares........................................................ 54
Documento 6 - Certidão negativa do Cartório de Registro de Imóveis e 1º Ofício de Notas de
Araguatins ........................................................................................................................... 71
Documento 7 - Ata da reunião com a Comunidade quilombola que definiu a proposta de
delimitação territorial .......................................................................................................... 112
DIAGRAMAS
Diagrama 1 - Diagrama de Parentesco da Família Barros, a formação inicial – Da 1ª à 3ª
geração................................................................................................................................ 81
Diagrama 2 - Diagrama de Parentesco da Família Barros – Da 1ª à 3ª geração (destacando
a 3ª geração casada) ........................................................................................................... 82
Diagrama 3 - Diagrama de Parentesco da Família Barros – Da 1ª à 4ª geração (destacando
Salvador Batista Barros, na 4ª geração) .............................................................................. 83
Diagrama 4 - Diagrama de Parentesco de José Henrique Barros e Maria Francisca Barros
com seus filhos – 3ª e 4ª geração ........................................................................................ 84
Diagrama 5 - Diagrama de Parentesco de José Henrique Barros e Maria Francisca Barros
com seus filhos casados – 3ª e 4ª geração .......................................................................... 84
Diagrama 6 - Diagrama de Parentesco de José Henrique Barros e Maria Francisca Barros
com seus sete filhos casados e com seus respectivos netos – 3ª à 5ª geração ................... 85
Diagrama 7 - Diagrama de Parentesco da Família Barros, destacando a família de Salvador
Batista Barros – Da 2ª à 6ª geração..................................................................................... 86
Diagrama 8 - Diagrama de Parentesco de Domingas Barros Rocha e Prudêncio Rocha, irmã
de José Henrique Barros com seus quatro filhos casados e com netos – 3ª à 5ª geração... 86
QUADRO
Quadro 1 - Usos tradicionais da fauna e flora da Ilha São Vicente....................................... 99
6
INTRODUÇÃO
Embasamento Jurídico
Referencial Teórico
4A Comunidade Ilha São Vicente teve seu reconhecimento pela Fundação Cultural Palmares em 09
de dezembro de 2010, e a portaria foi publicada no Diário Oficial da União no dia 27 de dezembro de
2010.
10
ser visto também como tipo organizacional. Desta forma, grupo étnico partindo de
uma visão cultural e organizacional demonstra segundo Barth que cada grupo tem
suas características próprias o que não significa necessariamente isolamento, a
diversidade cultural é percebida, justamente, pelo contato entre diversas e diferentes
culturas. No que se refere ao tipo organizacional, o mesmo autor reforça que “ao se
enfocar aquilo que é socialmente efetivo, os grupos étnicos passam a ser vistos
como uma forma de organização social” (BARTH, 2000, p. 31). Assim,
Desta forma, pode-se dizer que identidade e território são indissociáveis dos
modos de produção, das estratégias de reprodução social, da concepção das
relações com a natureza e de direitos de uso e usufruto dos recursos. O processo de
territorialização não trata da visão sobre um território fixo e delimitado, mas trata sim
do contexto de contato e conflito com a sociedade mais ampla; as formas como o
território é pensado. Igualmente as estratégias de ocupação pelo uso de recursos,
assim como os significados simbólicos produzidos e inventados.
Metodologia do Trabalho
5
Biblioteca Municipal de Araguatins e na Biblioteca do Instituto Federal do Tocantins (IFTO), Campus
Araguatins.
6 Leônidas Gonçalves Duarte (1890-?), foi neto do fundador da cidade de Araguatins, Vicente
Bernardino Gomes.
16
7 A Sede da Associação é uma construção feita pela Comunidade, que consiste em uma armação de
caibros e esteios, cobertura de palha babaçu e paredes baixas levantadas com quatro fiadas feitas de
tijolos da mesma altura de forma horizontal e que serve como bancos, há também alguns bancos
longos de madeira, cadeiras plásticas e carteiras escolares. Há um quadro negro, pois o local
também serviu de escola.
17
Esta foi a etapa inicial do trabalho que para entender a questão da área
territorial para esta Comunidade, isto é, a Ilha São Vicente foi preciso empreender
outras ações para tornar claro o processo histórico, identitário e étnico, dentro desta
territorialidade.
Ruben Oliven diz que assegurar tais direitos não se refere somente aos
grupos envolvidos, e sim a toda sociedade brasileira:
DADOS GERAIS
Informações gerais sobre a comunidade quilombola
Mapa 1 – Imagem de satélite da Ilha São Vicente com a delimitação da área ocupada pela
Comunidade quilombola
Fonte: Trabalho de Campo, maio de 2013, elaborado por Ailton Trindade (INCRA)
20
9Canoa com um motor de popa que sustenta o eixo de transmissão e em sua ponta a hélice. Tem
pouca potência.
21
Mapa 2 – Área da Comunidade Ilha São Vicente dividida em lotes após o despejo
Fonte: Trabalho de Campo, maio de 2013, elaborado por Ailton Trindade (INCRA)
23
As praias que ficam no rio Araguaia próximo a Araguatins são: praia de São
Raimundo, localizada na Ilha São Vicente e tem aproximadamente 5 km de
extensão, situada a frente do Povoado de São Raimundo, do Município de Brejo
Grande-PA. O atrativo é temporário com alta temporada em julho com a montagem
da estrutura para receber visitantes. O acesso é feito em barco a motor pelo Porto
de Araguatins, descendo rio abaixo, num percurso de uma hora de duração. A praia
fica a 6 km da cidade. Outra praia que fica na margem esquerda do rio é a praia da
Sapucaia, localizada na Ilha do mesmo nome, tem aproximadamente 10 km a
HISTÓRICO DA OCUPAÇÃO
Nesta visão, concordando com Pollak (1992) quando diz que a memória é
seletiva, ou seja, nem todos os acontecimentos de nossa vida ficam gravados na
nossa mente, ela sofre modificações de acordo com o momento que ela está sendo
articulada e manifestada.
Origem da Comunidade
22Esta citação foi compilada igual ao livro, isto é, com a mesma escrita, não houve correção, pois há
palavras que em 1970 possuía acento e hoje não possui mais.
33
produzir, e a ligação que eles têm com o outro casal de ex-escravos, que ficaram
conhecidos como “os Tapiocas”, que foram morar na outra margem do rio Araguaia,
no Pará. Os nomes dos filhos de Henrique Julião Barros citados por Coelho (2010)
foram também registrados durante esta pesquisa e será apresentado a seguir.
José Henrique Barros era casado com Maria Francisca Barros e os sete
filhos, são: Eugênio Batista Barros, Maria Batista Barros, Dominga Barros, Juarez
Batista Barros, Vicença Batista Barros, Salvador Batista Barros e Pedro Barros
Sobrinho.
“A história desses escravo foi assim. Meu bisavô veio de Carolina pra cá. Aí
lá ele tinha negócio lá com pessoal, que ficou devendo a ele uma certa
importância. Aí depois que ele tava aqui, era muito difícil porque não tinha
estrada, quase num tinha meio de transporte. Aí ele pegou e mandou um
funcionário dele ir até Carolina [MA] acertar um negócio com o comerciante
que tinha ficando devendo uma certa importância pra ele.
Aí ele foi. Chegou lá e aí o camarada disse que não tinha dinheiro, mas
tinha escravos. Naquele tempo vendia, nera? E compravam. Aí então, se
tivesse ele dava tantos escravos pra ele, pagando a conta. Aí o funcionário
do meu bisavô recebeu. Eram dois casais e cada um tinha uns dois filhos.
Aí onde um dos filhos era o Henrique.
Aí ele trouxe os escravos. Para não ficar indo lá mais atrás do negócio e
recebeu os escravos. Aí chegou, quando foi abolido os escravos. O meu
bisavô morreu e ficaram com meu avô [...] Pois é. Ele assumiu o movimento,
ele era comerciante e fazendeiro. Ficou com os escravos, ficou
administrando as coisas. Aí quando foi abolido a escravatura ele mandou
eles irem para a ilha. Lá num tinha ninguém nessa ilha. Num tinha ninguém.
Aí mandou eles ir para lá: ‘vá pra lá que aí dá pra você viver’. Ele tinha uma
mulher, e ele foi o primeiro morador dessa ilha foi ele [...] O Henrique.
Era Henrique, aí ele tinha um apelido, porque o meu avô tinha um filho
chamado Henrique também. Aí quando ele chamava: Henrique! Aí vinha os
39
dois... Aí ele falou: ‘Assim num dá, vamos fazer uma diferença’. Aí botou um
apelido no escravo Henrique: ‘Cacete’ [...]
Os primeiros foram eles, quando o Henrique que era o escravo foi pra
lá num tinha ninguém nessa ilha, é verdade pura e certo, foi o primeiro
morador dessa ilha foi ele, o Henrique. O primeiro morador dessa ilha foi
o Henrique, palavra de certo.” (Os trechos em negrito foram feitos pela
autora desta pesquisa)
[sobre o despejo]... a situação era muito feia, muito triste e Deus botou
aquele pessoal na minha porta, que eu num tava nem esperando, foi
surpresa pra mim e na mesma hora tive coragem... eu tava dentro da minha
casa, quando eu senti que na minha porta tinha uma porção de gente que
eu saí eram eles e iam ser despejados, aí quando saí na porta, eles
disseram pra mim, disse “olha...” e tinha muita gente de Araguatins
ajudando, dando apoio, viu? Aí disse “olha vamos despejar o Salvador” eu
digo “despejar o Salvador?” “É vamos despejar o Salvador” e digo “mas
porque isso?”, o barco com os soldado já foram... essas horas eles estão
chegando lá, viu? Aí tinha um repórter, eu digo “e aquele moço ali o que é
que é?”, disseram é um repórter, eu digo “pois venha cá entre aqui na
minha casa, viu?” Aí ele entrou, entrou, eu sentei, ele colocou o aparelho
assim, o Pedro tava perto, o Pedro Henrique, viu? Aí eu fui e contei a
história... deles, dos quilombolas da ilha, viu? Até nessas alturas eu não
sabia que nesse livro que o seu Leônidas tinha escrito tinha essa história
deles, eu contei a minha história, e contei que era uma injustiça muito
grande que tavam fazendo...
Eu falei da minha história... essa ilha não pertence ao Estado, essa ilha
pertence a União, viu? e vocês tem paciência e realmente deu tudo certo e
quero que dê certo para sempre, faço tudo para dá certo... Aí conheci todos,
os filhos do Henrique cacete que Vicente Bernardino apelidou de Cacete
porque até hoje tem uns desses menino aí, desses Henrique que tem essa
parte aqui bem comprida, assim os braços dele né, e ele foi e apelidou que
era filho do escravo de cacete, de Henrique Cacete porque quando ele
chamava de Henrique ia os dois, aí ela disse: não, esse aqui, meu filho é o
Henrique e você quando eu chamar Henrique Cacete, é você...
23A Sra. Benvida M. Correa faleceu em abril de 2013, portanto, um mês antes do primeiro trabalho de
campo. Foi cedida pela Comunidade uma gravação em vídeo e áudio feito com ela em fevereiro de
2013 e parte desta gravação está transcrita aqui.
40
Os pais do tio José Henrique, eles foram muitos irmãos, tio José Henrique,
tia Brasilina, tia Raimunda, tio Pedro, e teve o que morou em Brasília que
não to lembrando o nome dele, a tia Dominga, viu?, muitos irmãos, a tia
Brasilina morreu mais de 100 anos a Maria Helena sabe a história da tia
Brasilina e a história deles..., e hoje eu tenho 84 anos e conheci desde
pequena, morava em Araguatins e passeava lá, inclusive essa senhora que
fez essa injustiça, eu gosto de bordar e fazer outras coisa, né, e eu sabia
um bordado que ela não sabia, aí ela foi lá pra casa pra eu ensinar, eu tô
aqui bordando com a fita aí ela foi e disse assim: “É Benvida, o
Salvadorzinho não quer sair não”, eu digo “... que conversa é essa do
Salvadorzinho não quer sair, lá é deles, ele nasceu foi lá, o pai dele, o pai
dele nasceu foi lá, eles são de lá como vocês querem fazer uma coisa
dessas, olha isso não tá certo, mas ela não acreditou”.”
“Foi meu avô que mandou ele ir pra lá, né? Aí deu alguma coisa pra ele, um
dinheirim. Alguma coisa e tal assim, aí na certa ele comprou alguma coisa
né. Aí deve ter comprado algum gado dele, mas pouca coisa, e de certo
pouco num tinha como criar muito.” (Entrevista em maio/2013)
Já os bens imateriais, não são apenas os elementos que estão no nível das
ideias, pois para fabricar os próprios bens materiais citados acima, precisa do
imaterial para fazê-los, assim:
visitar e/ou passar algum tempo com quem ficou faz com que se sintam
pertencentes ao local, e com isso se sentem bem, pois tem um sentido na vida.
Outro fato interessante é ver os sobrinhos e netos de seu Salvador que moram nas
cidades passando um período na ilha, no intuito de ficarem mais próximos dos
parentes e também de aprenderem de como se vive na ilha, isto é, perto da natureza
tendo que saber nadar, pescar, remar, plantar, brincar entre outros aspectos. Assim,
acontece o ensinamento e o aprendizado de técnicas e de transmissão de saberes.
Fato este que durante a pesquisa foi relatado por vários membros da família,
de voltar à ilha, mas devido ao conflito preferem continuar morando na cidade e
também à falta de elementos básicos de infraestrutura como energia elétrica dificulta
a permanência constante.
Pelo que se constatou Henrique Julião Barros, foi o primeiro morador da ilha,
teve sete filhos nascidos na Ilha São Vicente, mas que não se isolaram nesse
espaço, pois havia constante contato entre sua família com os outros parentes que
moravam na área do continente. E muitas vezes por não ter condições de produção
e assim, formas de sustentar as famílias dentro da ilha muitos foram trabalhar fora
da ilha, “na rua” como eles chamam. O seu Salvador foi um desses, que passou um
tempo fora, mas voltou e não saiu mais da ilha, onde mora até hoje com sua família.
O Conflito
Após 112 anos vivendo na ilha compreendendo cinco gerações da família
Barros, convivendo com seus vizinhos antigos e mais recentes moradoras também
da ilha que foram se fixando ao longo dos anos, a partir do início dos anos 2000
começa o conflito com Edelves dos Passos de Carvalho Fernandes.
da área e que não podem plantar nada ou criar animais sem antes falar com ele já
que ele se diz dono de tudo. O irmão de seu Salvador, o seu Pedro Sobrinho, relatou
a mesma situação quando começou a plantar roça e foi advertido por Edelves de
que só poderia começar a plantar se ele o autorizasse. Pedro Sobrinho, falou:
“... Aí quando foi pra eu bota essa rocinha que eu botei ali, sabe aqui é bom
para ligumes, né, eu botei uma roça dali até no Francismar [o último lote da
Comunidade] aí ele chegou aqui, acho que o vaqueiro viu e falou pra ele.
Ele disse ‘Você tá botando roça aí com ordem de quem?’ Pedro respondeu
‘Rapaz, tô botando por ordi minha mermo... que eu tenho que plantar o
arroz e plantar as coisas aqui, porque não tenho outro ramo a num ser
roça.’ Edelves disse ‘Pois você não vai cortar nenhuma vara aí mais’. [Pedro
comentou] ‘aí nós fica com medo, né?’ ” (maio/2013)
Página 02
Página 01
Esse termo de conciliação foi assinado em 2002, mas não foi posto em
prática, o seu Salvador e família continuaram no mesmo local, não saíram. Depois
houve uma conversa entre as partes e decidiram que permaneceriam no local, mas
segundo seu Salvador teria que saber que a terra pertence a eles [a Família
Fernandes], e não aos quilombolas. Depois desse tempo houve uma “calmaria”, mas
enquanto, continuavam morando neste pedaço da ilha, produziam para a
subsistência e o tempo todo com medo das ameaças sofridas.
Página 02
Página 01
Página 04
Página 03
50
Segundo seu Salvador, eles foram levados para casa do seu irmão Pedro,
que fica na própria ilha, na parte norte, porque lá foi à área que no Termo de
Conciliação de 2002 foi “cedida em troca da área de litígio”, a área em litígio é a área
onde mora seu Salvador. Confirme relatam durante o despejo seus pertences foram
jogados no barco e transportados de forma inadequada, fazendo com que fossem
quebrados e perdidos vários bens.
“... tomemos um grande prejuízo, porque pobre não tem nada, mas o pouco
que tem que se acaba é prejuízo... guarda roupa, cama, cadeira, cama
chegou só os pedaços, eles faziam jogar dentro da canoa, até a foto da
Rosangela da formatura se acabou”
“... nós saimos dia 26 de outubro [2010] quando foi dia 27 de outubro, eles
destruíram eu vim aqui de tarde por umas quatro horas pra dá comida pros
porcos e pra ver se conseguia pegar o resto das galinha, o que podia fazer
pra levar, né, e não deu pra pegar nada, daí fui embora... quando cheguei lá
em baixo fiquei olhando para cá e vi o fumaçeiro... acabou foi com tudo,
com a roça de mandioca e carregaram os nossos porco do chiqueiro”
Fonte: Fotografias cedidas pela Comunidade quilombola feitas em 2010, logo após o despejo.
52
sua terra. E quando voltaram tiveram que reconstruir as casas que tinham sido
destruídas.
25
Cadastro Geral 013, registro 1.420, folha 36 e registro 1419, folha 35.
26
Depoimento retirado do site: <http://www.folhadobico.com.br/01/2011/araguatins-secretario-entrega-
certificacao-da-comunidade-quilombola-ilha-de-sao-vicente.php.> Em: 17.06.2013.
54
Ocupação atual
Fonte: Trabalho de Campo, maio de 2013, elaborado por Ailton Trindade (INCRA)
58
Há lotes que ainda não tem casas construídas, e um dos critérios para
continuar com o lote é a construção da casa, que pode ser feita com qualquer
matéria prima. Segundo informações obtidas durante o trabalho de campo é que a
não construção das casas nos lotes significa que pode haver uma mudança, isto é,
passar para outro membro da família que construa uma casa.
Em cada lote pode ter uma família, mas pode também ter mais de uma
família, como por exemplo: na casa do Jorlando que divide com suas duas irmãs; na
casa do Elton que compartilha com o pai; na casa do Juacy com suas irmãs. Estes
são apenas alguns nomes que aparecem na ilustração a seguir, mas isso não
significa que são os únicos casos, há mais.
Dentro da Ilha existem três lagos que são: Lago do Pirosca (Pirarucu); Lago
do Pessoa, Lagoa Grande, mas que não são mais utilizados pela comunidade por
ficar fora do que seria sua área, por estarem dentro das outras propriedades que
não são quilombolas existentes na ilha. Assim como a área conhecida como najazal,
isto é, uma área que tem muitas palmeiras da espécie inajá, que quando os frutos
caem dos cachos servem de alimentos para os animais, era uma área que a
Comunidade costuma frequentar para ir pegar alimento para seus animais de
criação como: porco. E que hoje não vão por medo de entrar na área de outra
propriedade e gerar mais conflito com os que se dizem dono da terra.
Como as casas são construídas próximo à beira rio, é comum ver bancos na
frente das casas, girais na beira do rio para lavar roupas e mesmo para tomar
banho, pequenos portos para atracação das rabetas e em algumas casas é possível
ver um jardim com flores e plantas medicinais.
61
As relações com o rio Araguaia são evidentes, pois é de lá que retiram seu
sustento e é o caminho para chegar na cidade de Araguatins, para atravessar e
chegar do outro lado rio, na margem esquerda onde está o Estado do Pará, onde
moram os parentes da família Noronha. Durante o período das praias 28 na região é o
local para onde muitos se deslocam para acampar, pescar, descansar, enfim, é o
período de lazer para alguns e de trabalho para outros, tanto para quem mora
próximo às praias ou distante.
Outra praia citada foi a Praia da Ponta, que se forma na extremidade da Ilha,
local mais próximo de Araguatins, os moradores mais antigos da Comunidade
contam que no período das praia era possível ir caminhando até Araguatins pelo
leito do rio com suas águas baixas.
27
Canoa com um motor de popa que sustenta o eixo de transmissão e em sua ponta a hélice. Tem
pouca potencia.
28
Como é conhecido na região o período que se estende de julho a setembro, onde as águas dos rios
baixam e formam-se bancos de areia na margem e no meio do rio.
62
Mapa 4 – Comunidade Quilombola Ilha São Vicente, a Cidade de Araguatins/Tocantins e o Distrito de São Raimundo/Pará
Fonte: Trabalho de Campo, abril de 2014, elaborado por Ailton Trindade (INCRA)
64
eles consomem do rio para beber, fazer comida, tomar banho, lavar louças e roupas.
Para a água de beber carregam em vasilhas e colocam nos potes de barro e no
garrafão térmico, mas antes colocam hipoclorito de sódico.
Nas fotografias acima é possível ver um barreiro em uso (foto 47) e outro em
desuso (foto 48). E quando um barreiro é desativado se planta bananeira dentro dele
para ocupar o buraco feito ou é utilizado o local para colocar lixo doméstico. Na
sequência de fotos vê-se onde o barro é utilizado, isto é, para fechar as paredes das
casas e ainda fazer fogão.
Nesta área próximo a casa do seu Salvador e dona Maria da Luz, havia
ainda a casa da Divina e a casa da Josefa (mãe da dona Maria da Luz, sogra do seu
Salvador). Hoje, as casas antigas foram desmanchadas e foram construídas outras
em substituição, e assim hoje tem a casa do seu Salvador e família, da dona Josefa
(sogra de Salvador) e Maria Rita (irmã a dona Maria da Luz, cunhada do seu
Salvador). A Divina (sobrinha da dona Maria da Luz) não mora mais na Comunidade
(mapa 5).
Mapa 5 – Detalhe das edificações da área onde seu Salvador e família moram
Fonte: Trabalho de Campo, abril de 2014, elaborado por Ailton Trindade (INCRA).
70
Não tendo registro dos imóveis rurais das terras, as pessoas listadas na
Certidão Negativa que se dizem proprietárias dentro da Ilha São Vicente na verdade
não estão legalizadas, podem até dizer que tem um documento de compra e venda
das terras feitas entre si, isto é, entre aquele que vende com aquele que compra,
mas na verdade registro oficial dessa negociação certificada por um cartório não
tem, como foi comprovado na documentação apresentada abaixo.
71
ORGANIZAÇÃO SOCIAL
Identidade étnica do grupo – suas marcas de referências
A identidade de um modo geral não é algo inato, portanto, ela não nasce
conosco, ela é construída ao longo da vida de uma pessoa, e essa construção vai
indicar a formação de uma pessoa no meio social onde foi criada e, também, como
foi agregada pelo grupo ao longo de sua vida. Desta forma, vê-se a identidade como
um processo, como uma construção feita ao longo da vida. E também se refere a um
modo de ser no mundo e sua relação com os outros. É um fator importante na
criação das redes de relações e de referências culturais dos grupos sociais.
A ligação da Família Barros com a Ilha São Vicente é clara, ainda mais
quando observa-se a chegada desta família na ilha e a sua permanência nela ao
longo de mais de um século. As relações estabelecidas com a Família Noronha – a
outra família de escravos trazidos à Araguatins junto com a Família Barros – que se
estabeleceu na outra margem do rio Araguaia, isto é, no Pará, são relações de
parentesco, sociais, religiosas, econômicas e de lazer.
No oitavo diagrama é possível ver a Família Rocha, formada por uma das
irmãs de José Henrique Barros, a Domingas Batista Barros e depois que casou com
Prudêncio Rocha, ela retirou o sobrenome Batista e adotou o Rocha, e passou a se
chamar Domingas Barros Rocha e teve quatro filhos, são eles: Maria Helena Barros
Rocha, Jorge Barros Rocha, Virgilio Barros Rocha e Regina Barros Rocha. Estes
são primos de seu Salvador. E vários membros desta família moram na Ilha e outros
têm casa na Comunidade, mas não moram por falta de infraestrutura e devido ao
conflito.
.
81
D. ? D. ?
D. ? D. ?
José Henrique Raimunda Pedro Henrique Serafim Domingas Virgílio Henrique Brasilina
Barros Batista Barros Barros Henrique Barros Batista Barros Barros Batista Barros
D. ? D. ?
D. ? D. ?
José Henrique Maria Francisca Raimunda Pedro Henrique Maria Nazaré Serafim Domingas Prudêncio Virgílio Henrique Brasilina Euzébio
Barros Barros Batista Barros Barros Jardim Henrique Barros Batista Barros Rocha Barros Batista Barros Ribeiro
Diagrama 3 - Diagrama de Parentesco da Família Barros – Da 1ª à 4ª geração (destacando Salvador Batista Barros, na 4ª geração)
D. ? D. ?
D. ? D. ?
José Maria Raimunda Pedro Maria Serafim Domingas Prudêncio Virgílio Brasilina
Henrique Nazaré Henrique Barros Rocha Batista Euzébio
Henrique Francisca Batista Henrique Ribeiro
Barros Barros Barros Barros Jardim Barros Rocha Barros Barros
1926 - ? 1928 1930 1933 - 2003 1935 1936 1944 1934 D. ? D. ? 1942 - 2012 1944 1948
86 84 70 79 78 70 80 70 70 66
Eugênio Maria Dominga Juarez Vicença Salvador Pedro Henrique Josina Tereza Maria Jorge Virgílio Regina
Batista Batista Barros Batista Batista Batista Barros Jardim Jardim Jardim Helena Barros Barros Barros
Barros Barros Barros Barros Barros Sobrinho Barros Barros Barros Barros Rocha Rocha Rocha
Rocha
Diagrama 4 - Diagrama de Parentesco de José Henrique Barros e Maria Francisca Barros com seus filhos – 3ª e 4ª geração
D. 1964 D. 1959
Eugênio Maria Batista Domingas Juarez Batista Vicença Salvador Pedro Barros
Batista Barros Barros Barros Barros Batista Barros Batista Barros Sobrinho
Diagrama 5 - Diagrama de Parentesco de José Henrique Barros e Maria Francisca Barros com seus filhos casados – 3ª e 4ª geração
D. 1964 D. 1959
D. 1964 D. 1959
Raimundo Miguel José Jacob Manoel Maria das Cesar Pedro Maria de Cantídio
Batista Batista Batista Barros Batista Graças Batista Batista Fátima Batista Filho
Barros Barros Barros Barros Barros Batista Barros Barros Barros Barros
Diagrama 7 - Diagrama de Parentesco da Família Barros, destacando a família de Salvador Batista Barros – Da 2ª à 6ª geração.
1936 1961
78 52
Reginaldo de Ana Maria Gomes Raimiundo Nonato ? Maria Rita de Dorival Ferreira Domingos Willian Rosângela de Elizângela de
Sousa Silva de Oliveira Souza Barros Sousa Barros da Silva de Souza Barros Souza Barros Souza Barros
Diagrama 8 - Diagrama de Parentesco de Domingas Barros Rocha e Prudêncio Rocha, irmã de José Henrique Barros
com seus quatro filhos casados e com netos – 3ª à 5ª geração
D. ?
Prudêncio Domingas
Rocha Barros
Rocha
D. ?
1942 - 2012 1944 1946 1948
69 68
70 65
Maria Helena João Raimunda Hermes
Jorge Barros Virgílio Maria Rita Regina Lopes
Barros Macedo Rocha Ferreira França Ferreira de Jeus
Barros Rocha Barros Rocha
1978 1982
36 32 1975 1976 1980 1983 1984
39 37 34 31 30
Jorgeane Jorlando Jorgelene
Ferreira Rocha Ferreira Ferreira Maria da Deuzivan Dorivan Deuzivaldo Doriman Dorilene Marilene Genivaldo Emivaldo Valdinei Silvanei Sidnei
de França Rocha Rocha Glória Ferreira Ferreira Ferreira Ferreira Ferreira Ferreira Barros Barros Barros Barros Barros Barros
Rocha Rocha Rocha Rocha Rocha Rocha Rocha Rocha Rocha Rocha Rocha Rocha
O Encontro que acontece na Ilha e reúne quem mora perto e quem mora
longe, os que moram longe se programam e planejam com certa antecedência para
estar presente durante o evento. E neste momento, os laços de reciprocidade são
estreitados, pois há aqueles que levam presentes da cidade para os que moram na
Ilha, em contrapartida ganham produtos plantados ou produzidos na própria Ilha.
Assim, o Encontro de Família reúne membros das famílias Barros29 e Noronha,
também se registra a presença de amigos, vizinhos e convidados que vão participar
do Encontro e fortalecer a luta e a organização da Comunidade.
29Depois de apresentado os diagramas de parentesco ficou claro que a Família Batista Barros,
depois dos casamentos que ocorreram foi acrescentado mais um sobrenome. Geralmente as
mulheres adotaram o sobrenome dos maridos, assim, têm-se as famílias: Barros Rocha na 4ª
geração. E na 5ª geração vê-se nos filhos a reunião dos sobrenomes da mãe e do pai, formando:
Souza Barros; Carvalho Barros; Noronha Barros; Silva Barros e Ferreira Rocha.
89
“Era três festejos. Nossa Senhora do Rosário, São Lázaro e São José. Eu
me lembro a gente era garoto, eles festejavam, ele faziam umas festa lá... E
aí meu pai levava a gente. No começo nem tinha motor a gente ia de canoa,
né? Nós era muito filho e enchia uma embarcaçãozinha, aí de rancho pra lá.
Passava o dia na festa lá com eles, eram compadre, né? E muito amigo da
gente, a gente vinha. Tinha almoço, tinha bolo, café com bolo, né? É que
antigamente eles usavam dessas festas, o bolo famoso, que era o bolo de
cacete... grande. E eles faziam muito bolo, a turma ia e comia bolo a
vontade lá com café, com eles lá e quando vinha cada pessoa... a mãe
deles chamava Cota, ela dava e cada pessoa trazia um bucadim de bolo pra
comer em casa, né? (Risos) Eu me lembro disso.” (Entrevista em
maio/2013)
Seu Salvador, disse “... essa festa vem do tronco velho, vem do meu pai... e
tenho gosto de fazer o festejo...” por isso continua fazendo a festa porque além ser
considerada tradição da comunidade, porque vem do pai dele, gosta de fazer por
relembrar o passado e por continuar a tradição, com missa, novena, café, bolo de
tapioca, bolo de macaxeira, bolo de trigo, refrigerante e almoço. Ele ainda tem
esperança em construir uma capela em homenagem ao santo, e ainda não construiu
porque tem medo de fazer e ser destruído como foi a casa dele durante o despejo.
90
Essa é uma lembrança ainda muito presente e dolorosa, por isso, fala com cautela
sobre os planos futuros, pois acredita que a justiça será feita, já que eles são os
moradores mais antigos da ilha, mas enquanto não se tem uma decisão judicial, ele
planeja com cautela.
“... ele [o pai] fazia o festejo e era muita gente, sabe... muita gente mermo
que ia de Araguatins, do São Raimundo [no Pará], do outro lado, vinha
gente de todo lado, mas era muita gente, aí teve uma época que passou do
tempo do meu avô para o tempo do papai, eles festejavam andando com
Nossa Senhora do Rosário no andor, que o andor é aquele negocinho
assim que coloca o santo em cima, cheio de florzinha, que passa até na
televisão também e vai um pessoal segurando de um lado, do outro, outro
do outro e outro do outro, formando quatro pessoas para carregar o andor,
então, o pessoal aqui da igreja fazia o festejo e cabava, andava com ela na
rua e depois descia pra coloca no motor e pra descer pra casa do papai,
quando não tinha motor, era na canoa remando mesmo no remo ia bater
lá,... eh, mas isso era uma animação... nesse tempo eu já tinha assim... uns
12 a 13 anos, aí ajuntava, essas meninas, minhas irmãs e as nossas
amigas lá do São Raimundo quando terminava a reza, pra nós era outro
festejo, pra nós era outro festejo, nós ia pro terreiro, era muito café com
bolo, nóis ia pro terrenão que papai capinava, fica muito longe, tudo limpo,
mas era uma beleza, aí saía aquela moçarada, ia dançar de roda e cantava
‘ô lelê, ô lálá, barquinho de inajá’ tudo segurando na mão uma das outras e
cantando na roda, mas nóis se adivertia tanto e depois a gente se
alembrava da dança e ficava esperando ‘tomara que chegue logo a outra
festa de Nossa Senhora do Rosário pra gente dança de roda’ e hoje já não
tem mais isso...” (Entrevista em maio/2013)
Havia também uma dança chamada sussa, dona Vicença disse que “...
antigamente tinha sussa, mas hoje não tem mais, nosso pai não deixava nóis dançar
muito, ele era muito apegado a nóis, mas tinha a sussa, era uma dança de roda”.
AMBIENTE E PRODUÇÃO
O ambiente local
A beira do rio Araguaia foi onde fixaram moradia. E é do rio que retiram parte
do seu sustento alimentar, pois costumam pescar e o peixe faz parte da base
alimentar da comunidade.
30Bicho do coco ou Congo são as palavras que denominam a larva encontrada parasitando as
amêndoas do coco de babaçu, muito comum nesta região.
97
Transformação do coco babaçu em carvão feito em cova no chão, a caiera, durante o período
de verão. Fonte: Marcio Catelan e Herbert Levi, INCRA (maio/2013), respectivamente.
Nas informações obtidas com dona Maria e dona Vicença (irmãs de seu
Salvador) ao buscar na memória como era viver e trabalhar na ilha lembraram que
seu pai, José Henrique Barros, plantava fumo na vazante e que todos os filhos
trabalhavam na preparação do fumo; plantava também milho e roça de mandioca
para fazer farinha de puba, tapioca e goma; o algodão colhido era para fazer linha
para rede e colcha; criava gado e pegava porco do mato. Elas lembraram ainda que
no passado tinha bastante peixe dentro dos lagos, ainda hoje tem peixe, mas
consideram pouco.
31 A poeragem era utilizada antigamente na alimentação do gado, mas como a Comunidade não cria
mais gado, a planta se espalhou pela área e hoje tem em abundância, e é usada atualmente para
fazer adubo.
32
A sucuri também conhecida como anaconda, arigbóia, boiaçu, boiçu, boiguaçu, boioçu, boioçuboia,
boiuçu, boiuna, boitiapoia, sucuriju, sucurijuba, sucuriú, sucuruju, sucurujuba e viborão é uma cobra
sul-americana, chega a 10 metros de comprimento e vive nas águas, em rios e lagos, alimentando-se
de peixe, aves e mamíferos (DICIONÁRIO AURÉLIO, 2009, p.1890).
100
5.2.1- Relevo
As formas de relevo apresentadas na região são constituídas basicamente por
dois tipos: Formas Estruturais e Formas de Acumulação.
Formas Estruturais – relevo cuja topografia é condicionada pela estrutura.
Neste caso, processos morfodinâmicos geram formas de relevo em
conformidade com a estrutura geológica. As camadas mais resistentes
sobressaem no relevo.
Formas de Acumulação – relevos resultantes do depósito de sedimentos, em
regiões fluviais, paludais e lacustres, normalmente sujeitos à inundação.
5.2.2- Solos
Predominam na região, os Latossolos, Argissolos, Neossolos Quartzarênicos,
Neossolos Flúvicos, Cambissolos e Gleissolos.
5.2.4- Clima
De acordo com a regionalização climática do Estado do Tocantins (Método de
Thornthwaite), na região ocorre o clima úmido subúmido com pequena
deficiência hídrica (C2rA'a'), que apresenta evapotranspiração potencial média
anual de 1.600 mm, distribuindo-se no verão em torno de 410 mm ao longo de
três meses consecutivos com temperatura mais elevada.
5.2.5- Temperatura
A temperatura média anual em torno de 28°C.
5.2.6- Precipitação
A precipitação pluviométrica média varia na faixa de 1600 a 1900 mm ao ano.
Existem dois períodos bem distintos, um chuvoso e outro seco, o de maior
concentração das chuvas ocorre nos meses de outubro a maio, no período de
estiagem registra-se a média de 100 mm.
[...]
101
6.2- Fauna: O território apresenta uma fauna bastante diversificada onde são
encontrados mamíferos: capivara, paca, tatu, cutia, mucura, macaco prego,
macaco capelão, macaco guariba, preguiça, gato do mato; répteis/bratáquios:
jacaré, teiú, camaleão, cascavel, caninana, jaracuçu, coral, jararaca, surucucu,
sucuri; aves: arara, papagaio, curica, nambu, perdiz, jacu, rolinha, jaburu,
mutum, juriti, periquito, marreca, etc. peixes: jaú, surubim, piranha, piau,
pintado, mandi, mandi cabeça de ferro, mandi moela, traíra, piraqué, tambaqui,
matrixã, etc.
As práticas produtivas
A Comunidade Ilha São Vicente tem um histórico de produção em seu
território, tanto no que concerne a criação de animais quanto de plantação. Em
relação a criação de animais, os mais velhos contam que eles criavam gado em toda
a ilha, a criação era solta na ilha, isso quando o pai de seu Salvador, José Henrique
Barros, ainda era vivo. Ele costumava dá um bezerro para cada filho para cuidar,
assim, ensinava os próprios filhos a tratar dos animais e levaram isso para a vida
adulta, formando, assim, um pequeno rebanho de gado dentro da Ilha.
“... tinha o gado curraleiro que nóis criava também pro leite... agora que o
gado pastava no varjão que tem aí, que fica muito longe, ele pastava nessa
poeragem que depois tomou conta de tudo... Era uma criação só, cada um
tinha um pouco, cada um tinha um pouquim nós tudim tinha, sabe? era
gado curraleiro, o gado... não era esse gado nerol não... era gado
curraleiro... eles andava nessa ilha quase toda, pastando nesse varjão... o
gado era criado solto na ilha toda...” (depoimento feito por Pedro Sobrinho,
irmão de seu Salvador, em abril/2014)
33A reunião aconteceu no dia 04 de abril de 2014 reunindo vários quilombolas no barracão da
Associação.
103
Antigamente uma das fontes de proteína animal era a carne de caça, hoje
pouco praticada. Os animais mais caçados antigamente na ilha eram: capivara,
catitu, tatu, paca, entre outras. As aves boas de caça eram: mareca, pato,
mergulhão, jacu, mutum, jacamim, amargosa, sangue de boi. Devido à extinção de
alguns animais e a expulsão da área de outros animais devido o desmatamento, a
caça não é mais tão praticada pela Comunidade e quando praticada é para a
sobrevivência, para a alimentação familiar.
Por algum tempo, deixaram de plantar com medo de perder tudo novamente,
por isso, tiveram muita dificuldade alimentar, pois acostumados a plantar e colher
seu próprio alimento, depois do despejo demorou algum tempo para começarem a
plantar novamente, no momento atual as plantações voltaram a ser feitas, mais
próximo às suas casas ou no lote de um dos parentes, em um espaço reduzido e o
que se tem plantado é arroz, feijão e mandioca.
105
34 Conhecido também como tipiti é “Utensílio que consiste numa espécie de cesto cilíndrico
extensível, feito de palha, com uma abertura na parte superior e duas alças, entre os povos indígenas
brasileiros para extrair por pressão, o ácido hidrociânico da mandioca brava” (DICIONÁRIO
AURÉLIO, 2009, p. 1952)
108
35 De acordo com a definição do Dicionário Aurélio, lamparina é uma pequena lâmpada que fornece
luz de pouca intensidade, “possui um pequeno recipiente com um líquido iluminante/combustível
(óleo, querosene etc.) no qual se mergulha um pequeno pavio que passa por uma pequena rodela de
madeira e se acende na outra extremidade”. (2009, p. 1178)
109
CONCLUSÃO
Página 1
Página 2
Fonte: Trabalho de Campo, abril de 2014, elaborado por Ailton Trindade (INCRA)
115
Não nos resta dúvida de que a atual proposta além de justa para as
aspirações da Comunidade, efetivamente representa uma garantia de sua
reprodução física e social segundo seus usos e costumes, assim como a sua
sustentabilidade econômica, social, ambiental, cultural e política.
Considerações finais
____________________________________________________
Rita de Cássia Domingues Lopes
Antropóloga e Professora na UFT (Matrícula 1353094)
Outubro de 2014
Tocantins
119
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
ALMEIDA, Alfredo Wagner Berno de. Quilombos e as Novas Etnias. Manaus: UEA
Edições, 2011.
AMADO, Irenildes Madalena Marques. Araguatins: Geografia do Município. Palmas:
UNITINS, 2006.
BOSI, Ecléa. Memória e Sociedade. 14ª Ed., São Paulo: Cia das Letras, 2007.
CASTELLS, Manuel. O Poder da Identidade. 5ª ed., São Paulo: Paz e Terra, 2006.
FISCH, Gilberto; MARENGO, José A.; NOBRE, Carlos A. “Uma revisão geral sobre o
Clima da Amazônia”. In: Acta Amazonica. Nº. 28, vol. 2, p.101-126, 1998. Disponível
em: <https://acta.inpa.gov.br/fasciculos/28-2/PDF/v28n2a01.pdf>. Acesso em:
14.09.2014.
GOLDWASSER, Maria Júlia. “Estudos de Comunidade: teoria e/ou método?” In: Revista
de Ciências Sociais, Fortaleza, vol. 5, n.01, 1974, p. 69-81. Disponível em:
<http://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/4606.> Acesso em: Julho/2014.
HALBWACHS, Maurice. A Memória Coletiva. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais,
1990.
POLLAK, Michael. “Memória e Identidade Social”. In: Estudos Históricos, vol. 10. Rio
de Janeiro, 1992.
SILVA, Saulo Guilherme da. Relatório Agronômico. Palmas: INCRA/SR 26-TO, 2014.
(mimeo)
SOARES, Inês Virgínia Prado. Direito ao(do) patrimônio cultural brasileiro. Belo
Horizonte: Editora Fórum, 2009.
VALLE, Carlos Guilherme O. do. “Identidade e Subjetividade”. In: LIMA, Antonio Carlos
de Souza (coord.) Antropologia e Direito: temas antropológicos para estudos
jurídicos. Rio de Janeiro/Brasília: Contra Capa/LACED/ABA, 2012, p. 86-93.
Ministério do Desenvolvimento Agrário
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
Superintendência Regional no Estado do Tocantins – SR(26)
Quadra 302 Norte, Alameda 01, Lote 1/A Plano Diretor Norte - CEP-77006-336 – PALMAS/TO.
MEMORIAL DESCRITIVO
LIMITES E CONFRONTAÇÕES
DESCRIÇÃO DO PERÍMETRO
___________________________
R.T: Ailton Cardoso Trindade
CREA-TO Visto: 170.145-V
SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL
MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO
INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA
SUPERINTENDÊNCIA REGIONAL DO TOCANTINS
RELATÓRIO AGRONÔMICO
1- CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
1
3- IDENTIFICAÇÃO DA ÁREA DA ILHA
Limites e Confrontações:
Norte: Rio Araguaia
Sul: Rio Araguaia
Leste: Rio Araguaia
Oeste: Rio Araguaia
2
A Compartimentação do estado em zonas origina o que se denominou de
unidades escalares de paisagem, onde são considerados para suas
configurações, parâmetros e critérios diversos, que foram analisados de forma
integrada e holística. Foram assim utilizados os aspectos fisiográficos,
sócioeconômicos, culturais, político administrativos, entre outros, havendo
predominância de alguns sobre os demais.
5.2.1- Relevo
As formas de relevo apresentadas na região são constituídas
basicamente por dois tipos: Formas Estruturais e Formas de Acumulação.
5.2.2- Solos
Predominam na região, os Latossolos, Argissolos, Neossolos
Quartzarênicos, Neossolos Flúvicos, Cambissolos e Gleissolos.
5.2.4- Clima
De acordo com a regionalização climática do Estado do Tocantins (Método
de Thornthwaite), na região ocorre o clima úmido subúmido com pequena
deficiência hídrica (C2rA'a'), que apresenta evapotranspiração potencial média
anual de 1.600 mm, distribuindo-se no verão em torno de 410 mm ao longo de três
meses consecutivos com temperatura mais elevada.
5.2.5- Temperatura
A temperatura média anual em torno de 28°C.
3
5.2.6- Precipitação
A precipitação pluviométrica média varia na faixa de 1600 a 1900 mm ao
ano.
Existem dois períodos bem distintos, um chuvoso e outro seco, o de
maior concentração das chuvas ocorre nos meses de outubro a maio, no
período de estiagem registra-se a média de 100 mm.
5.3.1- Saúde.
Segundo o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES)
citado no Perfil Socioeconômico dos Municípios do Estado do Tocantins (2013),
a região conta com 10 (dez) Centros de Saúde/Unidade Básica, 2 (duas)
Unidades de Apoio-Diagnose e Terapia, 1 Hospital Municipal, 2 (duas)
Unidades de Vigilância em Saúde e 1 (um) Posto de Saúde. A taxa de
natalidade geral é de 23,74/1.000hab. A Mortalidade infantil é de 4,17/1.000
hab. e a taxa de mortalidade geral é de 1,98/1.000 hab.
5.3.2- Educação.
Região amplamente atendida por estabelecimentos de ensino Pré
Escolar, Fundamental, Médio, Profissionalizante e Superior. Destaca-se na
região a presença do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
(IFTO) em Araguatins, que oferta cursos profissionalizantes de nível médio
(Técnico em Agropecuária e de Informática) e de nível superior (Agronomia,
Biologia e Informática).
Taxa de analfabetismo (População residente maior que 10 anos de
idade): 17,5%.
4
5.3.3- Malha Viária
A principal rodovia de acesso à região é a BR – 230, mais conhecida
como Transamazônica que integra a região com o Sul do Pará e demais
estados brasileiros. É servida também por rodovias estaduais e municipais.
TO – 134 - Axixá – São Bento do Tocantins
TO – 404 - Araguatins – Augustinópolis
TO – 201 - Esperantina – São Miguel do Tocantins
5.3.6- Armazenamento
Na região predomina a pecuária de corte, sendo insignificante a
produção agrícola, onde se produz somente cultura de subsistência. A
microrregião não dispõe de armazéns para disposição final da produção de
grãos. Caso ocorra colheita excedente, em Araguaína existem (03) três
armazéns com capacidade de 4.000 toneladas de grãos.
5.3.7- Eletrificação
Atendida pela ENERGISA/CELTINS - Companhia de Energia Elétrica do
Estado do Tocantins, com todas as cidades e povoados já atendidos com
energia de fonte hidroelétrica; e um grande número de propriedades com
eletrificação rural, através do Programa Luz para Todos, programa de
eletrificação rural do Governo Federal.
5.3.8- Comunicação
A área é atendida por emissoras de rádios AM e FM, canais de televisão,
sendo as repetidoras localizadas em Araguaína e Palmas, como também por
telefonia, inclusive em todos os povoados e ainda com grande quantidade de
telefonia rural.
5
PROLEITE; Custeio: Pré-Custeio, Custeio Agrícola, Custeio/ Pecuário,
PROGER/ PRONAF, Rural Rápido, Agricultura Orgânica; Comercialização:
EGF / AGF, Custeio Alongado, CPR / CPRF, Carregamento de CPR, Desconto
de NPR e DR, Leilão Eletrônico, Balcão Eletrônico.
BANCO DA AMAZÔNIA S/A (FNO) - que financia na Pecuária:
Aquisição de gado de corte e leite; Instalação de projetos de Piscicultura,
Avicultura e Apicultura; Melhoramento Genético; Melhoramento do Manejo e
Alimentação; Incremento à Ovinocultura e Caprinocultura; Feiras
Agropecuárias; na Agricultura: Custeio Agrícola; Fruticultura; Reflorestamento;
na Agricultura Familiar: Assentamentos de Reforma Agrária; Associações de
Produtores Rurais; Incremento ao Extrativismo; Serviços / Obras e
Equipamentos: Infra-estrutura da propriedade; desmatamento, preparo e
correção do solo; aquisição de tratores e implementos; aquisição de utilitários e
caminhões; Agroindústria / Diversos: Agroindústria; Fortalecimento de
Cooperativas; Apoio aos Pólos de Agroindústrias;
6
incêndios florestais que atingem toda a ilha. Encontra-se no Território as seguintes
espécies exploradas através do extrativismo, as palmeiras babaçu, inajá, bacaba,
buriti, açaí e buritirana; e, a espécie madeireira sapucaia. Nas partes mais altas do
relevo, foram desmatadas e implantadas pastagens artificiais.
6.2- Fauna: O território apresenta uma fauna bastante diversificada onde são
encontrados mamíferos: capivara, paca, tatu, cutia, mucura, macaco prego,
macaco capelão, macaco guariba, preguiça, gato do mato; répteis/bratáquios:
jacaré, teiú, camaleão, cascavel, caninana, jaracuçu, coral, jararaca, surucucu,
sucuri; aves: arara, papagaio, curica, nambu, perdiz, jacu, rolinha, jaburu, mutum,
juriti, periquito, marreca, etc. peixes: jaú, surubim, piranha, piau, pintado, mandi,
mandi cabeça de ferro, mandi moela, traíra, piraqué, tambaqui, matrixã, etc.
7
Classificação do Relevo
Tabela 3 – Percentual e respectivo quantitativo das classes de relevo Ilha de São
Vicente.
Classe de Relevo Classes de declividade % no imóvel Área (ha)
% Graus
Plano 0–2 0º a 1º8’45” 38,80 970,6879
Suave ondulado 2–5 1º8’45”– 2º51’45” 50,60 1.266,0846
Moderadamente
5 – 10 2º51’45”– 5º42’38” 9,66 241,6888
Ondulado
Ondulado 10 – 15 5º42’38”– 8º31’51” 0,79 19,7361
Forte Ondulado 15 – 45 8º31’51” – 24º13’40” 0,15 3,8463
Montanhoso 45 – 70 24º13’40”– 34º59’31” - ---
Escarpado > 70 > 34º59’31” - ---
Área Total 100,00 2.502,0437
Fonte: Imagem SRTM, obtida no Topodata, sítio do INPE: 05S495, com resolução
espacial de 30 m e processamento no QUANTUM GIS 1.7.3..
6.4- Recursos Hídricos: No período chuvoso, o Rio Araguaia inunda grande parte
da Ilha de São Vicente, ficando remanescente apenas os “torrões” (partes mais
elevadas da Ilha) e no período seco são formados vários lagos dispersos pela Ilha.
8
7- ASPECTOS SÓCIOECONÔMICOS E CONDIÇÕES DE VIDA DOS
QUILOMBOLAS
7.3- Educação: As crianças, jovens e adultos estudantes são atendidos pela rede
escolar disponível em Araguatins. O transporte dos alunos do ensino fundamental
é realizado por barco escolar.
7.6- Saneamento: Nenhuma das casas possui banheiro ou mesmo uma privada.
7.7- Eletrificação: Não são atendidos pelo ”Programa Luz para Todos”. Há na
residência do Sr. Salvador Batista Barros um gerador movido a gasolina.
8- LEVANTAMENTO FUNDIÁRIO
9
Araguatins, sendo encontrados apenas 07 proprietários e nos 18 restantes a
denominação foi feita por empregados ou informações de vizinhos, por isso a
precariedade em relação à identificação exata; e, também, consistiu de localizar
as ocupações, materializadas através das benfeitorias, utilizando aparelho de
GPS, constantes em mapa anexo. A seguir, relacionam-se os ocupantes da Ilha
de São Vicente e atividade aparente, cujos nomes e identificação pessoal deverão
ser confirmados antes das vistorias para a elaboração dos Laudos de Avaliação
das propriedades incidentes no território.
10
ilha, inserida em um rio Federal, o INCRA e a SPU, deverão definir o instrumento
adequado para a legitimação e cessão das terras às famílias quilombolas.
Cabe ressaltar que o território delimitado abrange as praias da melancia, da
serraria e da ponta, principal ponto turístico de Araguatins e região, que são bens
de uso comum da população e devem permanecer nessa condição sem que haja
prejuízo à coletividade.
Existe a viabilidade de exploração do território com atividades agrícolas,
pecuária, artesanato, pequenas indústrias de farinha, polpas e doces de frutas, e
até mesmo do turismo. Para que essas atividades possam ser efetivadas de forma
sustentável, poderá a comunidade encomendar os projetos técnicos junto às
entidades especializadas, em face da existência de recursos orçamentários e
financeiros nas várias esferas Ministeriais que administram o Programa “Brasil
Quilombola”.
É a garantia do acesso a terra, relacionada à identidade étnica como
condição essencial para a preservação dessa comunidade, é uma forma de
compensar a injustiça histórica cometida contra essa comunidade, aliando
dignidade social à preservação do patrimônio material e imaterial brasileiro. Alterar
as condições de vida na comunidade por meio da regularização da posse da terra,
do estímulo ao desenvolvimento sustentável e o apoio a sua associação
representativa são objetivos estratégicos.
11
ANEXOS AO RELATÓRIO AGRONÔMICO
A- Memorial fotográfico;
B- Planta e memorial descritivo do imóvel;
C- Planta de Situação e Localização do Imóvel
D- Mapa temático das classes de capacidade de uso do solo;
E- Mapa da bacia hidrográfica;
F- Imagem de satélite georreferenciada;
G- Planta da Área ocupada pelos Quilombos
12