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RESUMO
INTRODUÇÃO
Integram como elementos de uma negociação jurídica a vontade das partes e o objeto
de contrato. Dessa negociação, uma das partes assume a vontade de ser credora do objeto
contratado oponível à outra parte, que assume a vontade de ser devedora do mesmo objeto do
contrato. A regra é que as negociações privadas realizadas tenham oponibilidade direta
somente em relação as partes que estão contratando, portanto, uma vez assumida uma
prestação, o credor desta poderia opor a obrigação de quitação desta prestação somente contra
aquele que figura como seu devedor.
1. DA PERSONALIDADE JURÍDICA
As contratações são realizadas entre partes, cujo sistema jurídico atribui uma
personalidade, um reconhecimento no mundo jurídico de sua existência enquanto indivíduo.
Dos indivíduos físicos, a existência da personalidade juridicamente reconhecida vem a ser
óbvia, entretanto, os direitos e obrigações também podem possuir titularidade de um ente
ficto, possuidor de uma personalidade jurídica.
Rubens Requião1, conceitua a pessoa jurídica:
Entende-se por pessoa jurídica o ente incorpóreo que, como as pessoas físicas, pode
ser sujeito de direitos. Não se confundem, assim, as pessoas jurídicas com as pessoas
físicas que deram lugar ao seu nascimento; pelo contrário, delas se distanciam,
adquirindo patrimônio autônomo e exercendo direitos em nome próprio. Por tal
razão, as pessoas jurídicas têm nome particular, como as pessoas físicas, domicílio e
nacionalidade; podem estar em juízo, como autoras ou como rés, sem que isso se
reflita na pessoa daqueles que a constituíram. Finalmente, têm vida autônoma,
muitas vezes superior às das pessoas que as formaram; em alguns casos, a mudança
de estado dessas pessoas não se reflete na estrutura das pessoas jurídicas, podendo,
assim, variar as pessoas físicas que lhe deram origem, sem que esse fato incida no
seu organismo. É o que acontece com as sociedades institucionais ou de capitais,
cujos sócios podem mudar de estado ou ser substituídos sem que se altere a estrutura
social.
As pessoas jurídicas, segundo essa corrente, são reais, porém dentro de uma
realidade que não se equipara à das pessoas naturais. Existem, como o Estado que
confere personalidade às associações e demais pessoas jurídicas. O Direito deve
assegurar direitos subjetivos não unicamente às pessoas naturais, mas também a
esses entes criados. Não se trata, portanto, a pessoa jurídica como uma ficção, mas
como uma realidade, uma “realidade técnica”.
3
VENOSA, S. S. Direito Civil. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2003. p. 257
4
COELHO, F. U., op. cit., p. 55.
5
NEGRÃO, op. cit., p. 267.
5
Ainda neste mesmo sentido Fábio Ulhoa Coelho6, dispõe que a teoria da
desconsideração da personalidade jurídica não é uma teoria contrária à personalização das
sociedades empresárias e à sua autonomia em relação aos sócios. Ao contrário, seu objetivo é
preservar o instituto, coibindo práticas fraudulentas e abusivas que dele se utilizarem, sendo
ferramenta de controle da atividade privada dentro dos limites da boa-fé objetiva, da
legalidade, da responsabilidade social, da função social da propriedade e respeito à dignidade
da pessoa humana.
Nota-se que este instituto tem objetivado a coibição de fraudes, sem comprometer o
próprio instituto da pessoa jurídica, ou seja, sem questionar a regra da separação de sua
personalidade e patrimônio em relação aos seus membros. Em outros termos o seu intuito é
preservar a pessoa jurídica e sua autonomia, sem desabrigar terceiros, vítimas de fraude.7
Uma vez que a personalidade jurídica for desconsiderada, não pode considerá-la
outra vez, mas isso não implica no fim da sociedade, não sendo, portanto, um ato definitivo, a
desconsideração significa dizer que a divisão patrimonial da pessoa jurídica foi extinta –
somente no ambiente processual que a determinou – e seus sócios responderão por todas as
suas obrigações, com seus bens particulares, mas sua existência e funcionamento preservam-
se.8
A pessoa jurídica, sob quaisquer das formas autorizadas por lei, é criada para
alcançar fins sociais necessariamente lícitos. Quando o exercício de suas atividades, ao longo
dos anos, forem desviados da correta forma esperada, ocorrendo atos ilícitos, abusivos ou
fraudulentos, buscando, nesses casos, o proveito próprio dos sócios em detrimento do direito
de terceiros, demonstra-se a necessidade de interferência do Estado em prol do interesse
social envolvido.
6
COELHO, F. U., op. cit., p. 61.
7
Ibid, p. 59.
8
MAMEDE, op. cit., p.243
6
Aaron Saloman, no intuito de constituir uma Sociedade, reuniu seis membros da sua
própria família, destinando para cada um apenas uma ação da empresa, e para si,
reservou vinte mil. Em determinado momento, talvez já antevendo a possível
quebrada empresa, Salomon cuidou de emitir títulos privilegiados (obrigações
garantidas), títulos esses que devem ser pagos antes de outros em caso de falência,
que ele mesmo tratou de adquirir. No momento que se revelou insolvente a
sociedade, Salomon, que passou a ser credor privilegiado da sociedade em razão dos
títulos que ele mesmo emitiu, obteve preferência em relação a todos os demais
credores quirografários (que não tinham garantia), liquidando o patrimônio da
própria empresa e não precisando pagar as dívidas. 9
9
LUDVIG, G. T. Desconsideração da Personalidade Jurídica e o Redirecionamento da Execução na Pessoa
dos Sócios. PUCRS: Porto Alegre, 2010. Disponível em:
<http://www3.pucrs.br/pucrs/files/uni/poa/direito/graduacao/tcc/tcc2/trabalhos2010_2/gabriel_ludvig.pdf>.
Acesso em: 5 out. 2015. p. 7.
10
COELHO, F. U., op. cit.
11
Ibid, p. 14-16.
7
Entretanto, o tema teve pouca discussão teórica na Inglaterra, embora tenha sido o
primeiro relato histórico-jurídico de desconsideração da personalidade jurídica, não tendo sido
acolhido realmente pela jurisprudência, o que somente ocorreu mais tarde, com o
desenvolvimento doutrinário nos Estados Unidos e pelos países europeus. Nesse sentido:
A tese das decisões reformadas das instâncias inferiores repercutiu, dando origem à
doutrina do disregardof legal entity,sobretudo nos Estados Unidos, onde se formou
larga jurisprudência, expandindo-se mais recentemente na Alemanha e em outros
países europeus12.
Apesar de ocorrerem mais julgados sobre a matéria nos Estados Unidos, o assunto
somente evoluiu doutrinariamente a partir de década de 50, na Alemanha, com o estudo de
Rolf Serick, professor da Faculdade de Direito de Heidelberg, que analisou os casos decididos
anteriormente. Calixo Salomão13, ao comentar Serick, esclarece que “o autor adota um
conceito unitário de desconsideração, ligado a uma visão unitária da pessoa jurídica como
ente dotado de essência pré-jurídica, que se contrapõe e eventualmente se sobrepõe ao valor
específico de cada norma.”
Neste estudo, Serick teve o cuidado de alertar que a teoria só poderia ser utilizada
como exceção, para aqueles casos em que realmente se tenha comprovado a fraude ou o abuso
de direito, ressaltando que o elemento intenção era de vital importância para caracterizar a
aplicação da teoria e que a sua disseminação seria maléfica para a coletividade.
Oksandro Gonçalves14, ilustra a evolução histórica da teoria da desconsideração da
personalidade jurídica:
12
COELHO, F. U., op. cit., p. 33.
13
SALOMÃO FILHO, C.O Novo Direito Societário. São Paulo: Malheiros. 1998, p. 85.
14
GONÇALVES, O. Desconsideração Da Personalidade Jurídica. Curitiba: Editora Juruá, 2006. p. 184.
8
15
REQUIÃO, R. Abuso de Direito e Fraude Através da Personalidade Jurídica. São Paulo: RT, v. 410, dez.,
1969. p. 14.
16
BRASIL. Lei nº 8.078, de 11 de Setembro de 1990. Código de Defesa do Consumidor. Dispõe sobre a
proteção do consumidor e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília,
DF, 12.09.1990.
9
17
BRASIL, 2002. Ibid.
18 Ibid.
10
19
CAVALIN, A. C. D. Desconsideração da Personalidade Jurídica na Sociedade Empresária Limitada. Jus
Navigandi, Teresina, ano 18, n. 3507, 6 fev. 2013. Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/23664>.
Acesso em: 27 out 2015.
11
20
FARIAS, C. C.; ROSENVALD, N. Direito Civil: Teoria Geral. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2009. p.
386.
21
FARIAS; ROSENVALD, op. cit., p. 386.
22
RAMOS, A. L. S. C. Direito Empresarial Esquematizado. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método,
2013. p. 407.
12
23
BRUSCATO, W.; RODRIGUES JÚNIOR, L. M.. A Limitação da Responsabilidade e a Desconsideração
da Personalidade Jurídica após o Novo Código Civil. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XI, n. 53, maio 2008.
Disponível em: <http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?artigo_id=2769&n_link=revista_artigos_leitura>. Acesso em:29 set. 2015.
24
COELHO, E.S. Desconsideração da Personalidade Jurídica a Luz do Código Civil Brasileiro - requisitos.
In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XVI, n. 116, set 2013. Disponível em: <http://www.ambito-
juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=13662>. Acesso em: 29 set. 2015.
13
direitos de nacionalidade; direitos políticos e partidos políticos. Há, ainda, outros direitos
fundamentais espalhados no texto constitucional, quando os mesmos refletirem o vetor da
dignidade da pessoa humana.
Não é muito fácil trazer uma conceituação precisa e sintética de direitos
fundamentais, uma vez que tais direitos são chamados também de “direitos naturais, direitos
humanos, direitos do homem, direitos individuais, direitos públicos subjetivos, liberdades
25
fundamentais, liberdades públicas e direitos fundamentais do homem” , conforme o marco
teórico adotado.
Neste sentido Sarlet, Marinoni e Mitidiero explicam:
Não é, portanto, por acaso, que a doutrina tem alertado para a heterogeneidade,
ambiguidade e ausência de um consenso na esfera conceitual e terminológica,
inclusive no que diz com o significado e conteúdo de cada termo utilizado, o que
apenas reforça a necessidade de se adotar uma terminologia (e de um correspondente
conceito) única e, além disso, constitucionalmente adequada, no caso, a de direitos
(e garantias) fundamentais. 26
Silva aduz que para a conceituação de direitos humanos, utilizar a expressão direitos
fundamentais do homem é o método mais adequado, vejamos:
25
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 25ª ed. São Paulo: Malheiros Editores,
2005, p. 175.
26
SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de Direito
Constitucional. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012, p. 248.
27
SILVA, José Afonso da, op. cit., p.178.
28
SILVA, José Afonso da, loc. cit.
14
29
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional. 6ª ed. Coimbra: Livraria Almedina, 1993, p.
177.
30
SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel, op. cit., p. 249.
31
SILVA, José Afonso da, op. cit., p. 177.
15
são cláusulas rígidas sob o aspecto dogmático do direito, seriam suficientes para fundamentar
juridicamente dobras nas interpretações clássicas dos institutos, tais como o da
desconsideração da personalidade jurídica.
jurídica (empresa familiar), que além de ser sede da pequena empresa familiar,
também serve de moradia aos membros da entidade familiar. 32
5. CONCLUSÃO
32
BRASILINO, F. Impenhorabilidade do bem de família de titularidade da pessoa jurídica e a teoria da
desconsideração da personalidade positiva: uma análise civil-constitucional. JusBrasil, 2015. Disponível em:
http://fabiobrasilino.jusbrasil.com.br/artigos/155032798/impenhorabilidadedobemdefamiliadetitularidadedapesso
ajuridicaeateoriadadesconsid desconsideração da personalidade positiva>. Acesso em: 4 nov. 2015.
17
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei nº 8.078, de 11 de Setembro de 1990. Código de Defesa do Consumidor. Dispõe sobre
a proteção do consumidor e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do
Brasil, Brasília, DF, 12.09.1990.
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional. 6ª ed. Coimbra: Livraria Almedina,
1993.
FARIAS, C. C.; ROSENVALD, Nelson. Direito Civil: Teoria Geral. Rio de Janeiro: Editora Lumen
Juris, 2009.
REQUIÃO, R. Abuso de Direito e Fraude Através da Personalidade Jurídica. São Paulo: RT, v.
410, dez., 1969.
SALOMÃO FILHO, C.O Novo Direito Societário. São Paulo: Malheiros. 1998.
SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de Direito
Constitucional. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012.
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 25ª ed. São Paulo: Malheiros
Editores, 2005.
18