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A RESPONSABILIDADE SOCIAL DO PROFISSIONAL DA

EDUCAÇÃO

Felipe Taufer1

O tema da oficina a ser apresentada hoje, inicialmente tratou

de ser elaborado e guiado a partir da temática “Ética Profissional”.

Dentro dos estudos de Ética, a Ética Profissional aparece em uma

modalidade muito específica de tratamento. Uma vez que envolve

conhecimento específico da classe profissional possuidora de /

obediente à uma “moral” praticamente já definida e consolidada e,

normalmente, conta com um estatuto de resolução próprio. Além de

uma normatividade expressa de acordo com a categoria, com a

empresa, com o sindicato, ou com qualquer organização na qual o

ponto central refira-se ao profissional que deve agir de acordo

com aqueles determinados princípios normativos. Grosso

modo, a “Ética Profissional” é a moral do profissional enquanto

profissional.

Questão outra e que me parece um pouco mais interessante,

talvez porque adquira um caráter não tanto específico, mas


1
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da UCS. Bolsista do
PROSUC/CAPES.
comporte, além de uma generalidade, uma fecundidade e uma

universalidade no assunto em questão é o da “Ética do

Profissional”. O profissional aqui é, mais do que qualquer outra

coisa, um sujeito. Então, a questão mesma da “Ética do

Profissional”, diferentemente da “Ética Profissional”, é a da ética

do agente universal. Em síntese, ao trabalhar em duas frentes, ela

refere-se: (a) à questão da ética de uma maneira geral, quando

trata da humanidade; (b) da ética de uma maneira particular,

quando trata do profissional em questão. Grosso modo, em

oposição a primeira, é a moral do profissional enquanto sujeito.

Essa bipartição da “Ética do Profissional” traz um estatuto de

resolução própria: uma exposição dialética.

Devo desculpar-me, logo após ter iniciado, por essa

mudança. Contudo, creio não interferir substancialmente na

temática guia do presente painel. Penso, então, poder oferecer uma

questão de suscitação mais reflexiva no que diz respeito à “Ética do

Profissional” em questão - todos sabemos, o sujeito em questão

tratará aqui de ser o professor e a professora [ou melhor expressa

no título da oficina “profissional da educação”] - do que poderia ser

oferecida em uma exposição normativa sobre os princípios

normativos da atuação desse profissional.


A minha consideração no que diz respeito à “Ética do

Profissional” tratará de uma maneira geral sobre apenas um dos

conceitos morais possíveis de serem problematizados em sua,

como chamada antes, “bipartição”. Expresso também no título da

oficina, não é outro senão o conceito de responsabilidade. Na

situação em pauta, tal responsabilidade não pode ser entendida – e

isso será evidenciado depois – de outra maneira que não a da

responsabilidade social. Essa, em tese, responsabilidade do

professor e da professora carrega consigo duas questões que

parecem unificarem-se na qualidade de problema geral da

responsabilidade social ou, se preferirem, histórico-social, desse

sujeito que é o profissional da educação.

São elas: existe uma responsabilidade específica do

professor e da professora, que vá além da responsabilidade normal

de qualquer humano em relação à sua vida, aos seus semelhantes,

à sociedade em que vive e ao seu futuro?

E mais: uma tal responsabilidade adquire em nosso contexto

social, local e atual uma forma particular e peculiar?

No que diz respeito à Ética (em geral), as duas perguntas

trazem à discussão o fato de saber se a responsabilidade envolve

um elemento histórico-social que a constitui enquanto um valor e

uma obrigação. Por outro lado, quando a referência é a prática


social do professor, a última pergunta volta-se à questão sobre

quais são os elementos históricos e sociais nos quais se

circunscreve uma responsabilidade especifica para atuação desse

profissional.

Obviamente, a real tentativa de uma resposta ou elaboração

de uma pequena reflexão sobre a temática em questão, somente

poderá ser sumarizada depois de algumas considerações. A

exposição dialética, que será adotada como uma metodologia,

necessita sair daquilo que é imediato e evidente para nós em

direção às mediações e articulações necessárias referente ao

entendimento da essência desse objeto – que é a responsabilidade

do professor e da professora. Logo, nessa introdução, o que fica

evidente é que parece existir um encontro marcado não somente

com o conceito, mas com a categoria de responsabilidade. O que

isso quer dizer? Que existe um conceito chamado responsabilidade

e, também, uma categoria chamada reponsabilidade. O conceito de

responsabilidade é a ideia que temos (da categoria) de

responsabilidade. A categoria2 não é mais do que forma do ser

responsável como determinação daquilo que acontece quando

existe ou não responsabilidade.

2 “
Como em geral em toda ciência histórica e social, no curso das categorias econômicas, é preciso ter presente que o
sujeito, aqui a moderna sociedade burguesa, é dado tanto na realidade como na cabeça, e que, por conseguinte, as
categorias expressam formas de ser, determinações de existência, com frequência somente aspectos singulares,
dessa sociedade determinada, desse sujeito, e que, por isso, a sociedade, também do ponto de vista científico, de
modo algum só começa ali onde o discurso é sobre ela enquanto tal” (MARX, 2011, p. 59).
Convido, então, os presentes a participarem da exposição

nos termos do seguinte cronograma:

II. Método;

III. O conceito ético e o conceito ordinário de

responsabilidade;

(a) apresentação das principais concepções acerca da

ética;

(b) as principais concepções acerca da ética e o

conceito de responsabilidade;

(c) o conceito ordinário ou imediato de reponsabilidade.

IV. A responsabilidade histórico-social e o profissional

da educação;

(a) a unidade da ação: intenção e consequência;

(b) a responsabilidade da ação em termos histórico-

sociais;

(c) o professor, a professora e a responsabilidade;

V. Os problemas particulares do contexto atual;

(a) a crise das democracias liberais;

(b) o esgotamento da Nova República no Brasil;

VI. Considerações finais.


II

Gostaria de ser breve neste ponto que é digno de nota. O

que é uma exposição dialética? Ora, exemplificada em uma versão

simplificada e grosseiramente reduzida, uma exposição dialética em

detrimento de uma exposição analítica e/ou desconstrucionista,

decorre do fato de que, em primeiro lugar, o objeto não é isolado

para o objetivo da análise. Significa dizer que, o objeto, que é a

responsabilidade do professor e da professora, nesse caso, não

descartará o ponto de vista da totalidade e do desvelamento de

uma verdade refletida e concreta, porém, mutável, em meio a

manifestação ordinária desse mesmo objeto.

Em segundo lugar, significa que é preciso partir da coisa

mesma – a responsabilidade – antes de assumir um ponto de vista

teórico. Ou seja, não adotar uma teoria por completa, para dela

derivar o que é a responsabilidade como coisa mesma. Nesse

ponto, quero enfatizar o fato de que a recapitulação inicial das

correntes teóricas sobre Ética, embora apresentadas anteriormente

ao evento ordinário da responsabilidade, possuem um fim tão

somente de recapitulação e atualização sobre a temática tratada.

Portanto, de um ponto de vista mais objetivo, partirei do

conceito ordinário de responsabilidade e das manifestações


aparentes da responsabilidade em nossa vida cotidiana. Assim,

será exposta uma reflexão propositiva, inicial, sobre como

aparentemente a responsabilidade é tida em relação ao senso

comum. Logo, a partir das questões em que essa reflexão

propositiva nos deixa em aberto, inferir uma reflexão exterior, com

o objetivo de negar a reflexão inicial. Assim, o movimento de nossa

exposição nos levará uma reflexão determinante sobre o que é a

responsabilidade histórico-social do professor e da professora.

Entrementes, o fato de superar não significa que a reflexão

determinante desconsiderará a reflexão propositiva e a reflexão

exterior, ao contrário, ela conservará as duas, apresentando-a em

um estágio “evoluído”, por assim dizer.

À guisa de advertência, seria desnecessário dizer que não

quero esgotar o assunto. No entanto, em vista do caráter simplório

da exposição, devo notificar que a reflexão determinante não

caracteriza o esgotamento do assunto. Afinal, há muito pano para a

manga e as possibilidades de conhecer a realidade, bem como, a

própria realidade é inesgotável.

Mesmo que tomando o ponto de vista da totalidade, não se

pretende originalidade e, muito menos, a afirmação de uma tese

verdadeira nesta exposição. Também, não há qualquer tentativa de:

1. Moralismo: tentar dizer que “as coisas têm de ser feitas


obrigatoriamente desse modo para ser responsável, etc.”; 2.

Afirmação necessária: tentar dizer que existe uma propriedade

fixa do que é ser responsável no mundo e que ela supostamente

seria tão somente essa.

Lembrando, a exposição será dividida em:

(a) Reflexão propositiva;

(b) Reflexão exterior;

(c) Reflexão determinante.

Isso parece ser necessário e, de um certo ponto de vista,

suficiente para a primeira questão, aquela de saber se o professor e

a professora possuem uma responsabilidade específica. A segunda,

após a exposição, será levada a cabo por um debate conjunto, com

a participação de todos, sobre o contexto atual. Creio que isso é o

suficiente para iniciar.

III

Apresentação das principais concepções acerca da ética

Na ética (teoria da moral), tal como se configurou até os

tempos atuais e em seus estudos mais destacados, podemos juntos

observar, grosso modo, alguns entendimentos sobre o que é


responsabilidade. Tais entendimentos são deduções sempre do

princípio dos estudos de uma determinada corrente sobre a

moral. Isto é, que o conceito de responsabilidade é entendido, para

cada uma dessas concepções, como algo derivado de seu corpo

teórico e pela “aplicação” de seus princípios.

Tradicionalmente, as teorias éticas dividem-se em três

grandes grupos3: (a) a que considera relevante exclusivamente o

ato em si [ação]; (b) a que considera relevante exclusivamente as

consequências relativas à intenção da ação humana [efeitos]; e (c)

a que considera exclusivamente as propriedades do caráter do

agente em relação às circunstâncias que sugerem uma ação

[personalidade].

Para citar os principais pensadores de cada concepção da

ética, respectivamente, é lúcido dizer que a primeira encontra em

Immanuel Kant a relação do ato em si com o dever. Na sequência,

em John Stuart Mill, a relação da consequência da ação humana

com o princípio utilitarista ou da máxima felicidade geral. Cabe

sublinhar, o fato de que, para o utilitarismo, a consequência é fator

decisivo na composição da avaliação moral somente enquanto

relativa à intenção do agente. Por último, em Aristóteles, a relação

3 Do que pode ser considerado a partir do ponto de visto das teorias que não são críticas ou não clássicas. Por
exemplo, a concepção crítica de ética de Nietzsche carrega consigo uma espécie de outra ética. Assim como,
Habermas possui uma teoria do agir comunicativo, na qual uma ética do discurso pode ser esboçada. Muitas outras
concepções se identificariam, porém, do ponto de vista da teoria tradicional, essas três e uma quarta que será
apresentada em hipótese constituem o núcleo do interesse do debate aqui em exposição.
do caráter do agente com as virtudes morais e intelectuais,

perpassando a questão da sabedoria prática.

A última por exigir uma complexidade que deslocaria os

termos receptivos e hermenêuticos, no que tange à compreensão,

interpretação e a reposição e realocação de conceitos não será

abordada neste painel. Tanto em vista de uma elaboração que a

englobe ser impossível e tornar precária a exposição em geral, em

função de que haveria um reducionismo. Quanto no fato de que a

habilidade de compor fatores hermenêuticos com a exposição

dialética pretendida, está fora de minha competência. Donde a

necessidade dirigir a atenção às éticas presentes na modernidade.

Destacam-se, então, duas vertentes teóricas normativas que

continuam a inspirar ainda os debates, não somente em centros

acadêmicos, mas nos temas práticos e imediatos de nossa vida

cotidiana acerca da moral de nossas ações.

Contudo, é necessário de nota, um comentário sobre uma

suposta quarta concepção na qual a unidade da ética (também) se

manifesta, inclusive, mais claramente que nas outras. A quarta

concepção toma a consequência a considerando como o fator

decisivo em uma avaliação moral; ela é tão somente seu ponto de

partida e seu ponto de chegada. Observa-se, então, a diferença em

relação ao utilitarismo. Nesse, a consequência é relativa à


intenção; enquanto esta considera somente a consequência.

Grosso modo, pode-se dizer que essa quarta concepção, em

condições coerentes e normais, nega a existência de qualquer

ética, uma vez que o relevante para o ser e o devir da sociedade

encontram-se na doutrina do direito ou do Estado. Seu expoente,

com algumas controvérsias, é o paradoxo de Maquiavel.

Naturalmente, é preciso esclarecer o fato de que a

concepção do paradoxo de Maquiavel não é a concepção de

Maquiavel, dado que este nunca escreveu uma ética. Trata apenas

de ser uma concepção expressa em um paradoxo atribuída a este

pensador que fundou as bases da política moderna, tão somente

pelo fato da razão de Estado. Sinteticamente, de acordo com este

tipo de análise, ações individuais más podem ter consequências

socialmente úteis.

No entanto, nem mesmo em nível jurídico tal “concepção de

ética” seria possível, uma vez que a imputabilidade (jurídica ou

moral) necessita levar em conta a intenção, a convicção e o

contexto geral real ou possível das circunstâncias. Da

impossibilidade de realização e manifestação dessa ética, Lukács

(2009, p. 208) nos diz: “a questão de saber por que um homem

pode ser qualificado como responsável pelas consequências da sua


ação não pode ser deduzida [...] do mero encadeamento de causas

e efeitos”.

Estou antecipando um pouco o resultado que deveria ser

ensaiado somente posteriormente. Porém, fica estabelecido que

uma concepção ética, como esta, além de excluir a historicidade e o

contexto social, anula a própria propriedade e seu referencial

predical de responsabilidade, quando em sua unilateralidade, abole

a intenção das ações. Caracteriza ela, então, uma primeira noção

de unilateralidade da ação moral. Vou deixar isso suspenso por ora

e voltarei a tratar disso a seguir.

Passamos ao exame das duas primeiras correntes citadas.

As principais concepções acerca da ética e o conceito de

responsabilidade

(a) O ato em si e a responsabilidade (o kantismo);

A meu ver, o elemento decisivo comum, nas posições que

possuem como objeto central da sua “avaliação moral” o ato em si,

é a adoção de um comportamento eticamente relevante; o respeito

a uma lei prática da ação. A lei prática da ação é diferente de uma

regra prática. A lei prática da ação trata o fim da ação em si mesmo


como um dever, a regra prática coloca um fim subjetivo à ação e

busca os meios para atingi-la. Em outras palavras, uma regra

prática articula os meios para alcançar um fim qualquer que agente

queira em vista de seu desejo ou sua vontade. Por outro lado, uma

lei prática dirige a atenção para que o fim da ação seja escolhido

pelo agente, mas escolhido por respeito ao que é correto fazer; por

puro respeito ao dever.

A palavra comportamento encontra um valor muito

importante nesse sentido. Ela se diferencia de caráter que é

constitutivo da personalidade do sujeito. Trata, portanto, do

direcionamento exclusivo dos atos ou ações praticadas pelo sujeito

em qualquer circunstância, no sentido mesmo universalmente dado,

não somente conforme ao comportamento ético, mas pelo

comportamento ético. Por exemplo, se honrar suas promessas é um

dever, o agente deve cumprir suas promessas porque isso é um

dever, do contrário, cumprir suas promessas porque é bom cumprir

as promessas ou porque assim sucesso será encontrado na vida, é

somente um ato conforme ao dever. Percebam aqui a influência da

intenção sobre a ação, isso quer dizer que a vontade tem que ser

determinada pela lei e não a regra do agir determinada segundo a

vontade.
Basicamente, nos diz Kant que esse comportamento do ato

deve ser guiado por uma boa vontade (o que se difere de desejo) e

pelo dever de respeitar o que constitui um comportamento ético

relevante. Faz-se, nesse sentido, a seguinte observação: a boa

vontade é difícil de ser determinada, contudo ela é o que deve

mover uma ação. O interessante para nosso exame é a diferença

entre vontade e desejo.

A vontade é uma faculdade da razão humana. A faculdade a

qual ela pertence chama-se de razão prática. Uma razão prática é

aquela que, moralmente, visa o agir sempre de uma maneira a qual

todos os outros seres humanos ou seres racionais poderiam agir da

mesma maneira. A vontade determina o fim objetivo da ação. O

desejo é o que determina o fim subjetivo da ação, nas palavras de

Kant, ele é a mola propulsora de uma regra prática. Por isso, diz-se

que a vontade é o que determina o motivo e a forma da ação, o

desejo determina a inclinação e a matéria da ação.

A vontade e o desejo obedecem a certos imperativos. O

último é o que estabelece fins subjetivos por meio de dois tipos de

imperativos hipotéticos. O problemático e o assertórico [dar

exemplos]. Ele é uma regra prática, em suma, em resumo sem

redução poderias se dizer que ele é a prudência e o discernimento

de nossa racionalidade. A vontade só aparece e, mais do que isso,


aparece como boa quando é guiada, contra os desejos e as

inclinações, a obedecer a um imperativo categórico, absoluto, que

não escolhe o fim por conta de outra coisa e não ser por ele mesmo

[dar exemplo].

O dever de respeitar um comportamento ético relevante nos

guiará para avançarmos no que Kant nos diz:

(a) É um comportamento pelo dever e não conforme ao

dever: isso implica que uma ação pode ser conforme ao

comportamento relevante ético, mas não ser destinado

para ser assim; não possuir tal intenção.

(b) O que é um comportamento ético relevante? Para Kant, é

o agir por puro respeito à lei moral que é determinada pelo

imperativo categórico, em uma forma na qual todos

pudessem ser livres para tomar a mesma intenção no agir

e com um conteúdo/matéria de que somente porque isso

deve valer para todos seres racionais que são um fim,

nunca tomar a humanidade meramente como meio, mas

sempre como um fim em si mesmo.


De acordo com esta teoria, um agente estará comportando-

se de maneira moral, é dizer, sua ação será moral se, e somente

se, estiver disposto a universalizar (talvez não disposto, mas

somente se universalizar) suas próprias máximas. Uma vez que

disposto implica em potência e não em ato. O que interessa para

essa teoria, é, na verdade, o ato. No entanto, pode-se ver que como

a questão central nessa concepção ética é a ação, não é muito

difícil de derivar dela dois aspectos centrais: a liberdade e a

responsabilidade. Na ação ética não existe predeterminação que

possa dizer que o agente não é livre ou responsável pelas suas

ações.

Alguns exemplos concretos sobre deveres que temos para

com os outros e para com nós mesmos determinados por Kant, são:

(a) Para com os outros: felicidade alheia. A felicidade para

promover meu fim é um simples desejo e não uma

vontade determinada pela razão. Todos nós,

naturalmente, somos inclinados naturalmente para buscar

a própria felicidade. Então, como buscar a moralidade é

uma maneira de manter a integridade de si mesmo e, se

isso constitui o fim, é um dever remover os obstáculos


para este fim, para o qual uma das exigências é a

felicidade alheia.

(b) Para com nós mesmos: perfeição própria, “é um dever

para o ser humano esforçar-se para cada vez mais alçar-

se de rudeza de sua natureza, da animalidade, à

humanidade, unicamente através da qual ele é capaz de

propor-se fins” (MC 387, KANT, , p. 198) e “também é um

dever para o ser humano elevar o cultivo de sua vontade

até a mais pura intenção virtuosa, a saber, lá onde a lei se

torna ao mesmo tempo o móbil de suas ações conformes

ao dever” (MC 387, KANT, p. 198)

A responsabilidade do agente, nessa ação, é uma

responsabilidade moral de obedecer à lei moral e de universalizar a

máxima pela qual se age. Como é livre, ele também é imputável

caso não cumpra seus deveres. Existe uma responsabilidade

normativa, aqui, dizendo o seguinte: “se não tiveres tal intenção,

não adianta cumprires teus deveres, não serás moral”. Pode-se

dizer que essa responsabilidade ignora o contexto histórico-social

em questão, em vista de sua formalidade e de sua universalidade.


Contudo, não se pode dizer que ela ignora a realidade concreta,

pois ela mesma visa obedecer a critérios concretos e práticos para

prática do agente. Ela é normativista.

(b)O utilitarismo e a responsabilidade (John Stuart Mill).

Um outro componente da unidade da ética se manifesta e,

aqui de forma muito clara, a meu ver, quando ele possui como

ponto de partida não a ação intencional do agente em questão,

mas, predominantemente as consequências da ação relativas à

intenção. Os efeitos, em última análise. Em um reducionismo

simplificado que posso estabelecer aqui, essa teoria enxerga a

consequência como boa quando aumenta o prazer e diminui a dor e

ruim, quando, ao contrário, aumenta a dor e diminui o prazer.

Especificamente ela encontra dois grandes expoentes: Jeremy

Bentham e John Stuart Mill. A primeira trata-se de um utilitarismo

radical que elabora inclusive um cálculo sobre o princípio do prazer

e da dor. A segunda elabora uma espécie de utilitarismo sofisticado

que, para além da métrica quantificadora, concebe atributos

qualitativos no Princípio da da Maior Felicidade.

Muito conhecida se tornou a visão do utilitarismo, por vezes,

confundido elementarmente com o pragmatismo. Mas há uma


diferença essencial entre esses dois, dado que a preocupação do

utilitarismo é de cunho social em detrimento da corrente

pragmatista. O princípio ético, segundo o utilitarismo e, mais

especificamente o de John Stuart Mill, encontra na consequência

que maximiza o prazer e diminui a dor, não do indivíduo, mas da

humanidade em geral. No entanto, é necessário lançar um olhar um

pouco atento sobre o prazer e a dor e relação

quantidade/qualidade.

O Princípio da Utilidade ou da Maior Felicidade, é o seguinte:

a ação moralmente certa é aquela que maximiza a felicidade /

prazer (faculdades elevadas) para o maior número. E deve fazê-lo

de uma forma imparcial: a tua felicidade não conta mais do que a

felicidade de qualquer outra pessoa. Saber por quem se distribui a

felicidade é indiferente. O que realmente conta e não é indiferente é

saber se uma determinada ação maximiza a felicidade. Saber se a

avaliação moral de uma ação a partir do Princípio da Maior

Felicidade depende das consequências que de fato tem ou das

consequências esperadas é um aspecto da ética de Mill que

permanece em aberto. Contudo, tomarei aqui o discurso na direção

que concorda com as “consequências esperadas”, a saber, relativas

à intenção.
Diz-se que o utilitarismo de Mill é sofisticado por ter em conta

a qualidade dos prazeres na promoção da felicidade para o maior

número; a consequência disso é deixar em segundo plano a ideia

de que o prazer é algo que tem uma quantidade que se pode medir

meramente em termos de duração e intensidade. É a qualidade do

prazer que é relevante e decisiva. Donde ele dizer que é preferível

ser um “Sócrates insatisfeito a um porco satisfeito”. Sócrates é

capaz de prazeres elevados e prazeres baixos e escolheu os

primeiros; o tolo só é capaz de prazeres baixos e está limitado a

uma vida sem qualidade. Mas será que é realmente preferível ser

um “Sócrates insatisfeito”? Mill afirma que, se fizéssemos a

pergunta às pessoas com experiência destes dois tipos de prazer,

elas responderiam que os prazeres elevados produzem mais

felicidade que os prazeres baixos. Todas fariam a escolha de

Sócrates.

A responsabilidade do agente, sob a égide do utilitarismo,

não se encontra no fato de ter a pura intenção ou uma vontade tão

somente objetiva que vise promover a felicidade para o maior

número da sociedade, mas ao contrário, é na adoção de um

comportamento de “espectador imparcial”. Com adoção de tal

comportamento, as consequências esperadas, i. e., relativas à

intenção na comissão da ação são de promover a felicidade, o


aumento de prazer a diminuição de dor para o maior número de

pessoas que se efetiva uma responsabilidade ética. Daí que

embora não ignore o contexto social, não apresenta uma

preocupação histórica. Sua responsabilidade continua sendo de

certa maneira unilateral como a primeira, relativas ao que é

esperado em qualquer tempo e em qualquer lugar.

O conceito ordinário ou imediato de responsabilidade.

William Frankena, em seu livro Ética, esboça que

ordinariamente a responsabilidade está vinculada aos juízos morais

não fundamentados filosoficamente, isto é, nos juízos morais (os

quais, muitas vezes, servem de base para que sentimentos morais

tal como indignação, angústia, remorso se ancorem) emitidos no

cotidiano não refletido. Atribuímos, através desses juízos,

responsabilidade a certos agentes e: (a) julgamos o caráter de

alguém; ou (b) realizamos censuras ou elogios ao comportamento

de outrem.

Destacam-se, ao menos, três espécies de casos em que

emitimos juízos de determinada maneira:


(a) Quando dizemos que X ou Y são [pessoas] responsáveis

ou irresponsáveis, tendendo dizer alguma coisa

moralmente favorável ou censurável a seu caráter;

(b) Quando em uma ação passada, atribuímos que X ou Y

são responsáveis por determinado ato ou consequência;

(c) Ou, finalmente, quando dizemos que X ou Y são

responsáveis por uma suposta ação futura, mesmo

quando essa ação é algo ainda por fazer e não se realiza.

Em sua própria exposição, Frankena salienta que tanto na

primeira, na segunda, quanto na terceira espécie de manifestação,

há um conceito ordinário de responsabilidade. Evidentemente, esse

conceito tem a pretensão de se referir à categoria, à forma de ser

da responsabilidade no mundo. No entanto, na primeira e na

terceira, não há problema inerente às proposições. Afinal, são

juízos morais normativos que emitimos rotineiramente.

(Realizarei uma observação extra, abrindo um parênteses,

em relação ao tema, mas que considero pertinente: Ernst

Tugendhat, filósofo alemão, nos alerta de que ter uma ideia, do que
seria uma vida sem a possibilidade da emissão de tais juízos, basta

para não nos animarmos com a intenção de desvalorizar a moral ou

os temas que ela trata).

Quando me refiro a atribuição de responsabilidade para um

agente em relação a sua ação passada – que está explicita na

segunda espécie de juízo referida anteriormente – uma questão fica

em aberto. Uma pergunta para quem emite um juízo dizendo que “X

é responsável por ter feito Y” é a seguinte: “Mas por que X é

responsável?”. As tentativas de respostas para essa pergunta

engendram um debate filosófico.

Nesse ponto, saliento que a reflexão propositiva foi

realizada e, agora, passo para o item IV de minha exposição.

IV

A unidade da ação: intenção e consequência

O engendrar de um debate filosófico a partir de um juízo

moral é sempre um debate, também, em vista da ação a que o juízo

está em referência. A pergunta, “Mas porque X é responsável?”,

então, busca um fundamento para explicar filosoficamente a

posição ética. Uma resposta possível poderia ser a seguinte:


“porque X teve a intenção de fazer isso”. É claro que por trás de

alguém que emite esse juízo nem sempre há uma concordância ou

um embasamento teórico de uma concepção do ato em si da ética.

No entanto, a concepção do ato em si (Kant) da ética emitiria um

fundamento para a atribuição de responsabilidade mais ou menos

por aí.

Tomarei emprestado um exemplo de Lukács. Suponhamos

que Pedro tenha atirado e, diretamente ou indiretamente, matado

Paulo. A concepção moral de Kant, no entanto, diria o seguinte:

“Pedro não procedeu de maneira que pudesse dizer que sua ação

poderia ser praticada por todos os outros seres humanos. Isso

apresenta uma contradição à universalização de sua máxima. Logo,

Pedro não agiu conforme ao dever e, muito menos, por dever”.

Sabe-se assim que Pedro não agiu moralmente, no entanto,

atribuir a responsabilidade da morte de Paulo a Pedro pelo fato de

que ele não possuiu a intenção ou não dirigiu sua vontade a agir de

acordo com a maneira que todos pudessem agir, parece

insustentável. A posição de avaliação da responsabilidade seria

unilateral, grosso modo, Pedro seria responsável pela sua intenção.

Uma vez que se Pedro não possuísse a intenção de matar e, por

algum outro motivo, matasse Paulo, em termos morais, Pedro não

seria responsável por isso. Vejam, é claro que Kant poderia


argumentar contra esse reducionismo de sua teoria, mas estou

explicitando-a em termos radicalizados, para evidenciar o fator

unilateral da ação.

Agora parece fazer um pouco de sentido a recapitulação das

correntes teóricas sobre a Ética feita no início; antes da formulação

do conceito ordinário de responsabilidade. Tentarei agora

demonstrar como uma resposta seria possível por um utilitarista

como John Stuart Mill. Uma outra resposta, nesse sentido, que

pode ser oferecida para a sentença é: “a consequência esperada de

sua ação não foi a de promover a máxima felicidade em geral, ele é

responsável por isso” e logo deduzir-se-ia uma pseudo-propriedade

de caráter dizendo que X foi egoísta ou altruísta em relação à

máxima felicidade em geral. Assim, de uma maneira ou outra, o

efeito de sua ação seria relativo e não determinante em relação a

intenção de X.

No entanto, voltando ao caso da morte de Pedro, esse

embasamento tampouco nos seria útil. Uma vez que continuaria

unilateral, responderia com base na relatividade da consequência

em relação a ação. Ainda, recapitulando o paradoxo de Maquiavel,

que excluiu de sua elaboração toda e qualquer parte de intenção

subjetiva na ação, também se revela unilateral considerando

apenas a relação entre causa e efeito. Ou, ainda, quando se partira


de um argumento raso para afirmar que ninguém é responsável

pelas consequências “imprevisíveis” de sua ação ou que a

causalidade não evidencia nenhuma responsabilidade ética do

agente.

Salta à vista o fato de que a atribuição de

responsabilidade sobre a ação não é sustentável em termos

unilaterais. O debate casuístico tornar-se-ia eterno e vincular-se-ia,

não obstante, a uma regressão infinita que não faria se permitir

qualquer passo adiante na direção de uma reflexão determinante.

A reflexão exterior começa a se desvelar exatamente neste ponto,

dado que se torna necessária a inclusão tanto das intenções quanto

das consequências na elaboração de uma responsabilidade do

agente, o que suscita uma dialética mesma da ação. Por isso, o

caráter dialético de nossa exposição: compreender o que é em si

mesmo dialético na realidade.

A responsabilidade da ação em termos histórico-sociais

Nitidamente, apesar de tais concepções modernas

apresentarem posições criticamente relevantes e pertinentes que

não se resolvem tão simplesmente, gostaria de apontar para um

limite encontrado na unilateralidade das três destacadas: a de Kant,


a de Stuart Mill e a do paradoxo de Maquiavel. O limite é que que a

generalidade abstrata de tomar um lado ou outro (o da intenção ou

o da consequência) exclui o dinamismo do movimento da realidade,

a história e a sociedade. Em resumo: exclui a natureza contextual e

ambiental da ação. É dizer: elas pretendem valer para todos os

tempos e sob o regime de qualquer ocasião. Isto, no entanto, além

de não fornecer nenhum elemento para a solução ética, complica as

articulações na medida em que ambas apresentam um formalismo

desprovido de conteúdo. O argumento que vou colocar consiste em

dizer o seguinte: não ter a intenção na ação não é o suficiente para

livrar-se de ser responsável.

Quero refletir isso a partir de uma colocação de Hegel que

consiste em dizer o seguinte: “Devo conhecer a natureza geral da

ação individual”4 Ora, a natureza geral não pode deixar de levar em

conta o contexto histórico-social e o conhecimento sobre a ação.

Isto é, em uma decisão para a comissão de uma ação localizam-se

um passado de processo histórico-social e um futuro que está no

devir do próprio processo da comissão da ação. Isso delimita o

contexto histórico-social de uma ação sob a qual o agente deverá

ser responsável. Não obstante, o conhecimento – da natureza geral

4 Adaptação feita de Lukács sobre o fato de Hegel dizer que não se pode responsabilizar o agente somente pela
intenção ou pelo resultado a partir da seguinte nota ao parágrafo 118 da Filosofia do Direito: “Mas o que se faz é,
inversamente, considerar o que na ação intervém exteriormente e por acaso se lhe acrescenta sem que nada tenha a
ver com a natureza dela" (HEGEL, 1997, p. 104)
que nos dizia Hegel – é uma intenção tomada em si mesma,

objetivamente imanente e que, teoricamente, embasa a ação. Ou

seja, as coisas começam a se moverem agora no terreno da

responsabilidade para nossa temática: é necessário conhecimento

teórico para a consideração da responsabilidade de uma ação.

Contudo, o que deve ser entendido por teoria aqui? Teoria é:

a reprodução ideal do movimento da realidade. Conhecer

teoricamente e o que investigar a natureza geral da ação implica é

que: o movimento que acontece quando alguém age, para fins

de responsabilidade, é reproduzido idealmente em sua

totalidade para nós. Por outro lado, como a casuística da ação não

é tão fácil de resolver e apresenta uma dialética complexa: é

necessário que, para fins de responsabilidade, como já

compromisso de sua responsabilidade, o agente tenha a plena

noção ideal do que será o seu movimento na realidade e a

alteração que ele causará no curso do processo histórico-social.

Ainda, logo na sequência, gostaria de citar novamente Lukács

(2009, p. 209). para poder proceder com a reflexão exterior:

“A universalidade eticamente profícua

(luxuoso, proficiente) e esclarecedora da

responsabilidade só pode ser


encontrada se considerarmos a ação

individual como momento dinâmico de

uma atuação histórico-social na sua

totalidade e continuidade concretas

igualmente dinâmicas”.

Se considerarmos aqui a questão da responsabilidade,

inferimos que “a responsabilidade ética deriva de uma síntese

particular que unifica em si tanto a intenção quanto a consequência,

mas de um modo tal que a ambas supera e transforma

qualitativamente” (LUKÁCS, 2009, p. 211). Não obstante, confere-

se a dedução de que acerca da responsabilidade, as

consequências das ações humanas não correspondem (sempre) às

intenções, mas ultrapassam as próprias intenções. É dizer, em um

todo social, a ação se torna independente do ser que a pratica. Nas

palavras de um grande professor (João Carlos Brum Torres) sobre

o assunto: a ação tem, nesse processo, seu sentido (primeiro)

roubado. Este processo é denominado “Astúcia da Razão”.

No entanto, não quero chegar ao ponto de que a ação é

engendrada e somente ética relativa a um determinado contexto

histórico que a suscita. O caracterizaria um relativismo.

Diferentemente: por ser universal e histórico, é uma ética absoluta


que sempre contém em si a relatividade histórico-social como

momento a superar. Retomamos ao exemplo de Pedro e Paulo

para tentar evidenciar essa questão: a responsabilidade da morte

de Paulo pelas mãos de Pedro não é uma responsabilidade da

intenção, mas a responsabilidade do curso que Pedro quis ou não,

mas efetivamente deu (como componente de intenção + alteração

no mundo) à vida de Paulo. O que acontece ao considerar tal

universalidade histórica é que a responsabilidade subsiste na ação

concreta e amplamente social do ato de Pedro. Tivesse a intenção

ou não, Pedro jamais poderia subtrair-se a ela e, ironicamente,

tivesse a consequência ou não, se Pedro cometesse um ato sem a

efetividade, também não se subtrair-se-ia a sua responsabilidade.

***

Por considerar a responsabilidade unilateralmente, as

concepções éticas ensaiadas no início desta oficina (Kant, Mill, etc.)

tratam de ser uma responsabilidade do indivíduo na sociedade.

(Existe uma visão aqui que é caracterizada por uma espécie de

concepção de mundo que é a seguinte: sou um indivíduo, logo me

acho na sociedade, então sou uma parte da sociedade, por isso

tenho uma responsabilidade individual com a sociedade).


Enquanto, por outro lado, caso seja levado em conta

necessariamente a possibilidade de futuro em relação ao passado

histórico-social, a saber, o desenvolvimento da humanidade, o que

se considera é a responsabilidade do social no indivíduo (A

visão aqui é diferente: sou um ser social, desde logo estou imerso

na sociabilidade e somente assim posso me enxergar como

indivíduo e responsabilizar-me socialmente como indivíduo).

Agora que as coisas parecem estar um pouco mais claras,

depois de algumas voltas, percebam que a questão suscitada no

começo faz sentido:

(a) se priorizar uma normatividade pronta, derivada da teoria

para a prática, unilateral, ou melhor, a responsabilidade

do individuo na sociedade, o que se suscita é a “Ética

Profissional”. Por exemplo: “o professor e a professora

devem ter a intenção/ o compromisso de”; ou “o professor

e a professora devem consequentemente produzir x ou y

efeito”. Extensões que seriam próprias de um estatuo de

código formal de ética;

(b) se priorizar uma obrigação emergida da ação, constituinte

da prática que possibilite a capacidade teórica antes da


intervenção no mundo, ou melhor, a responsabilidade do

social no individuo, o que se suscita é a “Ética do

Profissional”. Por exemplo: “o professor e a professora,

por antes de serem um profissional, constituírem-se como

seres sociais, são sujeitos que cumprem a sua obrigação

de desenvolver a humanidade”.

O professor, a professora e a responsabilidade

Faz-se necessário atentar para a seguinte questão do último

exemplo: “são sujeitos que cumprem”. Tal afirmação categórica,

uma vez que de caráter a se referir ao que está no mundo e não

apenas conceitualmente, implica em dizer o seguinte: não cumprir a

determinada obrigação delineia a perspectiva de que não se é, de

fato, um professor ou professora. A plenitude e a totalidade do

professor e da professora é aquela que somente se realizada se há

ética no sujeito humano que, somente depois de ser humano,

assume uma personalidade ocupada pela questão profissional.


Parece que no final do último tópico, a reflexão

determinante foi finalmente, mesmo que sumariamente e

insuficientemente, brevemente explorada. Portanto, em vista da

pergunta sobre se há uma responsabilidade específica em relação

aos outros seres humanos, da parte do sujeito professor, pode-se

dizer que sumariamente não. Afinal, a enquanto humano o caminho

que se segue é em direção à emancipação, como máximo

desenvolvimento das potencialidades humanas. Contudo, gostaria

de lembrar e atentar para o fato específico da personalidade

assumida pelo professor e pela professora e relacioná-lo com o

aspecto de que a ação consiste sempre em tomar teoricamente o

movimento real do processo-histórico do passado e premeditar, ou

seja, a intenção em si mesma, com vista de algo no futuro, diferente

desse processo-histórico do passado.

Se a responsabilidade humana consiste em projetar ao futuro

a emancipação intencionalmente em si mesma, a responsabilidade

da personalidade professor e professora adquire um estatuto

político, na dimensão do contexto histórico-social presente, que é o

da democracia. Ora, Adorno (2000) mencionou uma vez muito

acertadamente que antes de transformar a realidade com vista ao

futuro, é necessário elaborar o passado na espécie de uma

pedagogia democrática. A pedagogia democrática aparece então


como a responsabilidade histórico-social da personalidade

professor e professora. Com efeito, lembro que não se pode chegar

a almejar ser um professor ou professora sem a responsabilidade

humana. Estabelece-se, então, uma íntima relação do sujeito

enquanto ser social e enquanto uma determinada personalidade

como professor ou professora.

Efetivamente, ao olhar o mundo como ele se comporta no

nosso contexto histórico-social que, a meu ver, é digno de nota que

se diga: é praticamente o mesmo desde o século XIX, com

algumas mudanças tecnológicas e interfaciais. O processo

histórico-social da tentativa democrática não apresenta condições

para o cumprimento da responsabilidade humana, assim, existe

uma responsabilidade específica em criar as condições objetivas

para a efetividade da resposta humana. Isso apresenta uma

contradição inerente à dialética, ao “vaivém” basculante da ação da

personalidade do professor e da professora nos seguintes termos:

se só posso atingir a plenitude da personalidade professor e

professora com a responsabilidade humana, por que deveria valer-

me de minha personalidade de professor e professora (política)

para criar as condições da responsabilidade humana? (ADORNO,

2000, p. 30-45)
O argumento é respondido porque, sem a consciência do

processo histórico, ou melhor, com a consciência reflexiva perdida

na história, não há elaboração do passado e,

consequentementemente, a responsabilidade aparece na vida

cotidiana de todos nós somente como responsabilidade unilateral,

ou das intenções, ou das consequências. Para isso, a função de

elaborar e reelaborar o passado frequentemente é a

responsabilidade específica do sujeito político que se destina à

pedagogia. Caso contrário, a personalidade em questão esboça

uma pedagogia de esclarecer os outros muito mais do que

possibilitar o esclarecimento dos outros. Afinal, possibilitar o

esclarecimento dos outros por si mesmo e a abertura da elaboração

da consciência histórica é tarefa de um sujeito político

comprometido com a pedagogia democrática (ADORNO, 2000, p.

30-45)

O professor e a professora em tempos de perda da

consciência histórica na elaboração do passado estão envoltos em

um “fetiche do talento” em direção ao saber científico tomado

acriticamente, próprio de uma pedagogia do esclarecimento que

suscita somente uma responsabilidade individual no social; uma

“Ética Profissional” e não uma “Ética do Profissional”. Essa é a

condição histórico-social pré e pós os acontecimentos de


Auschwitz; a condição moderna na qual nos encontramos. A

responsabilidade específica e que é tomada como responsabilidade

do social no individuo, a partir de uma pedagogia democrática, é a

responsabilidade de criar as condições das condições objetivas na

qual seria possível uma responsabilidade humana. No entanto, é

somente através do exercício desse talento científico que se

encontra a possibilidade de enxergar um passado de processo

histórico-social e a possibilidade de uma ação livre em direção à

transformação e o impulso para a liberdade.

Atuar na formação da consciência do aluno contra à

unilateralidade imposta na ação e elaborar o passado para que o

presente tome teoricamente a necessidade de uma transformação

política criadora de condições em direção ao futuro é a

responsabilidade de uma pedagogia democrática. Com efeito, atuar

não significa doutrinar ou estender o fetiche do talento. É,

sobretudo, evidenciar que uma sociedade livre é possível de ser

criada a partir de uma sociedade não-livre, ou melhor, nas próprias

palavras de Adorno (2000, p. 172): “o mero pressuposto da

emancipação de que depende uma sociedade livre já se encontra

determinado pela ausência de liberdade da sociedade”.

O processo histórico-social na qual o profissional da

educação se encontra imerso e quando encontra a “Ética do


Profissional” é um processo histórico-social sempre e cada vez mais

do passado. Assim, o futuro se torna cada vez mais passado na

ação que não transforma o presente em futuro própria de uma

responsabilidade individual e não social. Fiquemos com a letra de

Adorno outra vez: “[...] Aquele que quer transformar [a realidade

histórico-social – eu acrescentei] provavelmente só poderá fazê-

lo na medida em que converter [a] impotência [de transformar,

oriunda das condições atuais – eu acrescentei], ela mesma,

juntamente com a sua própria impotência, em um momento daquilo

que ele pensa e talvez também daquilo que ele faz” (ADORNO,

2000, p. 185).

No entanto, faz-se necessário sentenciar que nem sempre as

condições são propicias para a responsabilidade de uma pedagogia

democrática. Nem sempre as condições são favoráveis à tarefa de

criar condições. Tal parece ser o caso da atualidade brasileira. Qual

seria o caso? O de um esquecimento geral do processo-histórico. O

caso no qual a experiência de formação na elaboração do passado

falhou. A prova ou o estopim, se preferirem, de que a tentativa de

uma elaboração da consciência histórica falhou salta à vista no ano


de 2013, com a explosão de manifestações que já não enxergam

mais a necessidade de elaborar uma consciência propícia para as

condições de trânsito no estado da arte democrático brasileiro.

Me parece que é necessária uma resistência, retomando

inclusive os termos de Adorno, na pedagogia. Trata-se, porém, de

um palpite. Se a exposição da reflexão determinante parece nos

ajudar a compreender a responsabilidade específica da

personalidade política do professor e da professora razoavelmente

e sumariamente, creio que a segunda pergunta “uma tal

responsabilidade adquire em nosso contexto social, local e atual

uma forma particular e peculiar?” é justamente a tarefa que a

pedagogia democrática deve se colocar ao tornar-se uma

pedagogia de resistência. Com um aprofundamento da

generalização abstrata em detrimento do processo-histórico social,

a reelaboração da consciência do passado histórico necessita ir

além do período mais recente. É dizer: se nossa experiência

democrática falhou e está fragmentada e desmanchada antes

mesmo de começar, é necessário pensar reelaborar e pensar o

problema muito antes de nossa trágica e recente experiência

formativa do Regime Militar começado em 64.

Gostaria, então, de propor a divisão dos presentes em

alguns 10 grupos de 8 ou 7 pessoas, para discussão entre vocês


mesmos, sobre o que tem acontecido de 2013 para cá no ambiente

da experiência de ser professor e professora e, além disso, como

uma resistência pode ser levada a cabo na formação de uma

consciência histórica nos mais diversos níveis e disciplinas do

processo pedagógico brasileiro. Pode ser? Gostaria de propor essa

discussão a partir de duas questões e uma frase lacônica de

Adorno sobre a necessidade da resistência parar a “engrenagem” e

“pensar”:

Questão da crise das democracias liberais;

Questão do esgotamento da Nova República.

“Quem não se ocupa com pensamentos inúteis não joga

areia na engrenagem”. (ADORNO, 2000, p. 34).

Depois retomarei para uma síntese com a intenção de

compartilhar os posicionamentos.

[dividir as 80 pessoas em 10 grupos auto-organizados em

um debate de 15-20 minutos dependendo do tempo. Juntam-se os

pontos e as pessoas trazem suas contribuições, uma síntese geral

sobre o assunto é feita e prossegue-se para o encerramento].

VI
Com efeito, é chegada a hora do fim da exposição. Após a

sumarização de posições éticas e suas relações com o que é

responsabilidade; a posterior investigação sobre o que é a

responsabilidade em seu nível cotidiano; o tratamento da unidade

entre intenção e consequência na ação e a responsabilidade

histórico-social específica do professor e da professora; e, por fim, a

atualidade da especificidade de sua responsabilidade, na qual com

a contribuição de todos creio termos dado início a uma reflexão que

não acaba aqui, mas que deve ser espalhada pelos mais diversos

pontos da sociedade. Tal tarefa, conta, como sempre com a

responsabilidade do professor e da professora em busca da

emancipação.

Gostaria de encerrar a exposição e abrir o espaço para o

diálogo a partir uma citação de György Lukács. O conteúdo da

sentença deixará claro o fato de não poder haver responsabilidade

sem liberdade e, não obstante, esta última é e foi pressuposto

central para a exposição aqui hoje realizada:

“A liberdade, bem como sua possibilidade, não é algo dado

por natureza, não é um dom concedido a partir do alto e nem

sequer uma parte integrante – de origem misteriosa – do ser

humano. É o produto da própria atividade humana, a qual, embora

sempre engendre concretamente algo diferente daquilo que se


propusera, termina por ter consequências que ampliam, de modo

objetivo e contínuo, o espaço no qual a liberdade se torna possível”.

Muito obrigado pela participação de todos!

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS USADAS E CONSULTADAS

EM GERAL

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Janeiro: Paz e Terra, 2000.

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HEGEL, Georg. W. F. Princípios da Filosofia do Direito. São

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