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I pi aú, B a h i a , 2 0 1 9

FICHA CATALOGRÁFICA
Bibliotecária Eva Dayane J. dos Santos
CRB5 1670

2019 by Daniela Galdino


P964

Capa, editoração e arte: Otávio Rêgo Profundanças 3: antologia literária e fotográfica/ Daniela Galdino,
Fotos capa e páginas-guia: Nátali Yamas Organizadora – Ipiaú: Voo Audivisual, 2019.
221 p.; il.
Modelo (foto página dedicatória): Alana Santos
ISBN: 978-85-68836-02-6
Revisão: Daniela Galdino

1. Literatura brasileira. 2. Mulheres. 3. Fotografia. 4.Poesia. 4. Conto.


I. Galdino, Daniela.

Profundanças é um projeto independente


idealizado por Daniela Galdino e desenvolvido CDD B869.1
CDU 821(81)
em parceria com a produtora Voo Audiovisual.
Este livro conta com a colaboração voluntária
de escritoras, fotógrafes, artistas visuais e
bibliotecária. Como produção independente,
está disponível para download gratuito no link:
www.vooaudiovisual.com.br/profundancas3
Sumário Apresentação “deus é o coração do mar”
Géssyka Santos
“oferta o medo ao mar” Géssyka Santos por Luísa Medeiros
A Luz Bárbara
A Luz Bárbara por Mylena Sousa
“Que se tore o machismo matador”
Isabelly Moreira
“grito aos quatro sóis o barravento” Isabelly Moreira por Maria Ruana
Bárbara Uila
Bárbara Uila por Sílvia Leme
“Despi minhas peles, penas e folhas”
Joana Velozo
“Chove torrencialmente no texto” Joana Velozo por Diego Mallo
Cynthia Barra
Cynthia Barra por Tacila Mendes
“Meus incômodos são as epístolas do falo”
Jovina Souza
“a(r)dejo em rasgo de nuvens” Jovina Souza por Tom Correia
Daniela Galdino
Daniela Galdino por Eline Luz
“canto para escrever no ar”
Marina Melo
“Eu não sou seu continente” Marina Melo por Laís Aranha
Ezter Liu
Ezter Liu por Mariana Souto
“Circunavegações me trazem sempre”
MonaRios
“Desalinhos estreitam universos...” MonaRios por Yalli Borges
Francisca Araújo
Francisca Araújo por Ângelo Azuos
Sumário “não sei cantar na língua sagrada” “O gosto do ausente trava a minha língua”
Mônica Menezes Tatiana Dias Gomes
Mônica Menezes por Sarah Fernandes Tatiana Dias Gomes por Uiara Moura

“Nos interstícios de si, travessias e tramas” “Sou mulher-alvenaria”


NegrAnória d’Oxum Tereza Sá
NegrAnória d’Oxum por Fafá Araújo Tereza Sá por Analu Nogueira

“meu verso é edema/Inchaço de dor” “borboleta sem asas, serei meu jardim”
Odailta Alves Vânia Melo
Odailta Alves por Nathália Tenório Vânia Melo por Brenda Matos

“Pois sonho em mim não tem fundo” “Glosei o desatino das matas ferrugíneas”
Odília Nunes Yasmin Morais
Odília Nunes por Renata Pires Yasmin Morais por Andreza Mona

“Há de se fazer silêncio para entender” Ficha Técnica


Paula Santana
Paula Santana por Álvaro Severo Sobre as Escritoras

Sobre xs Fotógrafes /
“o amor era um murmúrio” Sobre a Fotógrafa homenageada
Raiça Bomfim
Raiça Bomfim por Nathália Miranda Sobre a Equipe de Produção

Outros agradecimentos
Apresentação Palavras, imagens: oferendas coletivas Nesta antologia estão 22 escritoras da Bahia, Paraíba, de
Pernambuco, do Rio Grande do Norte e São Paulo. Em
Há 494 dias ecoa uma pergunta cortante e ainda sua maioria, inéditas; três delas com livros autorais já em
sem resposta: quem mandou matar Marielle Franco? circulação; uma contemplada por um expressivo prêmio
Para que essa pergunta não seja esquecida, dizemos: literário. Ao acessar os capítulos de Profundanças 3,
estamos conscientes de que as mãos dos carrascos não possivelmente xs leitorxs terão dificuldades em categorizá-
interromperam Marielle. De fato, ela virou semente e, em las – isso porque tudo aqui se articula para reforçar a
nome da sua memória de sonho/luta, estamos aqui. horizontalidade, os fluxos e os encontros entre mulheres que
O que temos a dizer nestes tempos de violência racial e escrevem a partir dos seus lugares de diferenças.
de gênero que se associam aos ataques fascistas? Quais As palavras que escrevemos ninguém pode apagar. E
palavras brotam da nossa labuta diária quando o cotidiano são essas palavras que agora, irmanadas com imagens,
é atravessado por incontáveis tentativas de aniquilamento lançamos às águas, soltando-as no imedível para que
das esperanças? Quais imagens podem representar as reverberem no íntimo de outros seres sensíveis que estão
nossas formas de re-existência? nos lugares inimagináveis, mas que existem e resistem como
Este livro compõe a tríade desobediente e voltada à difusão nós.
da escrita de mulheres diversas e convergentes, cuja atuação Profundanças 3 é o nosso livro-oferenda ao mundo, antes
sensível e política se dá à margem dos eixos dominantes (e de tudo dedicado a Marielle Franco, que em 2019 teria
limitados, ao nosso ver) de publicação literária. Enquanto completado 40 anos de idade. Para fortalecer os laços
houver concentração editorial – fator que tem alimentado intergeracionais, nesta edição homenageamos Nátali
a invisibilidade e o silenciamento de mulheres escritoras, Yamas, jovem fotógrafa negra com forte atuação em Itacaré
sobretudo negras - haverá Profundanças e faremos coro e no território cultural do Litoral Sul (BA). Assim, ornado
com outras ações que têm transgredido essa lógica pelas várias mãos de escritoras, fotógrafes, produtoras
excludente. e outres artistas visuais, este livro-oferenda toma corpo
Profundanças 3 soma-se às antologias literárias e para alcançar margens, quintais, riachos, terreiros, mares,
fotográficas que lançamos em 2017 e 2014, compondo esquinas, encruzilhadas e compor diálogos. Queremo-nos
um mapeamento com dinâmica muito própria. Somos um confluindo as nossas diferentes formas de combates.
projeto independente e colaborativo num país em que se Agô! Pedimos licença às forças que regem o universo
elimina o Ministério da Cultura e outras agências de fomento. e fazemos o convite para que, juntes, naveguemos por
Ao mesmo tempo em que trazemos à tona este livro, estas águas cintiladas por transgressões, esperanças,
seguimos lutando pela sobrevivência do que ainda restou de desobediências, intensidades e singelezas.
políticas públicas. Estamos nesses movimentos conjugados, Marielle Franco presente!
mas como temos urgências, construímos o nosso caminho
dissidente - a nossa guerrilha. Daniela Galdino (Organizadora)
Fálica Farol

és fálica, companheira emana mama mana


percebes como tuas vértebras encaixam-se abre teu bojo
umas sobre as outras e como tua deixa o sol de entre teus seios soltos se levantar
coluna desdobra-se diante de mim? peito aberto para sentir
percebes como teus olhos elevam-se sem faróis acesos para iluminar
ultrapassarem a linha dos meus? novas rotas novas formas de atravessar
percebes como teus dedos estão duros agora e andar entre muitas águas
que estás perto e me olhas de frente? levitar

A Luz Bárbara
percebes tua carne rígida e teus peitos oferta o medo ao mar
erguidos? espelha meus olhos molhados de te louvar
percebes tua pele em riste e teus pelos são lágrimas de lamber, camará
levantados? de beber e te banhar
percebes teu clitóris ereto? duas luas cheias pra te revelar
és fálica, minha companheira que o teu amor por ti
e porque tua postura é digna e altiva só me faz bem
permito só me faz te amar
(quando já não cultuarem o falo usarei de outros
sistemas simbólicos para te
fortalecer, é o que me importa)
Minhas Mulheres Carol

eu sou duas mulheres que se amam no fundo da minha alma mulher


duas mulheres que se amam moram dentro de mim na beira dos meus braços mãe
e se amam guardada em meus segredos irmã
e se mamam solta na minha liberdade amiga
e se olham é você, menina
e se molham no fundo de tudo é você
não no fundo dos meus olhos seios
é narcisismo na ponta da minha língua leve

A Luz Bárbara
eu sou duas mulheres que se amam dentro dos meus quatro lábios
e elas não são a mesma pessoa vazante linha da minha retina
eu sou duas mulheres que se amam é você, menina
duas mulheres que se amam moram dentro de mim no fundo de tudo é você
e se amam
e se mamam
e se olham
e se molham
não é narcisismo
eu sou duas mulheres que se amam
e eu não sou a mesma pessoa
minhas mulheres estão grávidas
Delírio Sua Falta

hoje fui à tua casa não choro


novamente sem ser chamada tesoura na mão
recolhi meus pedidos para entrar corto
recolhi do chão as roupas que tirei para te amar em quatro partes a linha d´água
recolhi as palavras que falei para me fazer conhecida de não te ver
mas do tempo que passamos em silêncio das ruas estarem sujas
quando deitaste teu corpo sobre o meu da rudez em primeiro plano
e com minhas mãos conheci tua pele de você no fundo de tudo

A Luz Bárbara
e com as fendas entre meus dedos e unhas
comi os tocos de teus pelos recém nascidos
deixei na tua cama cada segundo
para que tu recolhas
A Luz Bárbara
por Mylena Sousa
Céleres, nossos passos em busca C U R R Í C U LO
dos desencontros que fomos até aqui
arroubos de amor e melancolia a Baiana
varejo não bastam o tédio da tarde Bárbara
em plena a cordilheira da casa De família
grito aos quatro sóis o barravento A bastarda
que derruba o pássaro aos pés de
sua Mãe
a ração anda cara pra alimentar tantos
demônios,
ao que se segue minha vizinha grita pelo amor
a jesus um punhado de glória no seu
dia-dia,

Bárbara Uila
– sendo seus filhos encarando a maré
alta,
seja pra brincar ou pra colher peixes
esse que abastece o balaio da casa
o carro do pão passa apressado, não sente
que pode saciar tanta fome,
monstros vestidos de ursos de pelúcia
ninam sonhos da infância
enquanto isso:
a cidade arde entre o sol
e um rio de barriga cheia
N A M O N TA N H A D A C A S A entre atravessar um beco e outro
ruas perdidas do
escalar casa exige século passado da infância
uma comunhão entre orla e rio paraguaçu
de janelas pela manhã cidade do lado dos carros
impressiona os pássaros suas pedras batidas; de sangue - sussurram gritos no
acordarem tão cedo poema ancestral
a orquestra de interfones um grande pixo no jardim de ossos
e a ultragaz se oferecendo pragueja um poema de amor
logo cedo parece até brincadeira apenas penso como o
o sedex já me soa caquende pode ser lindo
a turma do amarelo e em tardes silenciosas e
logo desconfio como na varanda crianças

Bárbara Uila
o som do bule me lembra e bichos habitam o mesmo
um poema bonito uma pena ar
não lembrar dele todo cadeiras de balanço à beira da porta
pego meu cesto de roupa sentam memórias
suja saio catando outras tudo isso parece um filme
que ficaram pelo caminho vindo da voz de caymmi…
persigo essa seta e as ruas do brega
o alvo do dia nasce e suas solidões acompanhadas
estalam poemas mortos
fiascos de chuva o punho afiado, afiando um
umedecendo um corpo presente que sente
cais que vaga pela fio condutor de uma sensibilidade
manhã repleta de aguda infinitas são as coisas do dia-dia
garças (pia que parece instalação da última bienal de
a linha do tiro fica artes do fim do mundo)
perto da minha praia gardenal não aparece nas
forte imponente letras sugeridas do teclado
faz da linha uma do celular, o beijo de asas
semente de sangue fica pra próxima parada deste
ler um poema carro que acelera diante de nós
do alto da ladeira eu sou um poema que esqueci
da minha rua e a todo tempo tempo tento

Bárbara Uila
atravessar essa entre raízes desabrochando
rua e de uma ponta chão afora chão a dentro
a outra o sol e a lua sumo do bagaço de todas
dividindo o dia as memórias desterradas
o poema bate de frente eu sumo de mim, de meu povo
com a realidade e encontra espelho
Escrita/ Escrever. s.f . Sobre a Escrita Meridiano azul

após milênios, talvez ainda não saibamos pensar Empreendê-la


de outro modo: via espessa; onda surda; direito [a literatura, ainda uma vez]
de dizer; comunidade. E o verso, e o verso, e o nos confins da arte e da vida
verso, com sua insistência aguda. A escrita é
feita de vento, de ritmos e de abismos. A escrita é A literatura e o direito ao silêncio
técnica e é nada. A escrita é a mão que escreve? o reino animal do espírito
Como pedras na paisagem, existe. Ela é. A escrita da angústia à linguagem
é vida e passa, como só ela, a vida, sabe passar?

cynthia cy barra
Os elementos scpriptológicos se multiplicam [para aquele que tem “o céu como abismo”]
em teorias. Águas. Águas e Águas. Chove
torrencialmente no texto. Um mar de escritas. E a Um passo em falso,
escrita existe, por assim dizer, sozinha, à exceção um passo além do sentido,
de tudo, como poderia ter dito Mallarmé sobre o fulgor, e ainda o fulgor,
a experiência de escrever versos. A escrita é como método de leitura
prolongamento da mão que escreve, extensíssimo
ato. A escrita é o objeto. O sonho é escrita. A vida [e a partilha do mais difícil]
é escrita. O azul escreve. A escrita não é sequer
uma reflexão e escreve. Por que escrevemos?
Porque temos mão; e músculos; e lápis; e sonhos;
e nada, com disse uma vez o poeta E. M. de Melo
e Castro, num sopro. Sarça ardente. Desertos.
Fulgor. Drama-Poesia. O infinito e ela: escrita. Ato
vocabular. Ver também matema; língua; letra;
lábios.


B e i j o s d e Pe i xe E eu sabia que devia fazer alguma coisa. Eu
ainda não sabia que deveria provocar a fúria
Em duro chão. que resultaria no incêndio de nossas vidas, com
Deitados. Entrelaçados. Sua boca entre meus poder suficiente para aquecer o mar. Eu sabia
seios, que era preciso entender. E, apenas, ouvia,
traçando um desejo, com beijos de peixe. ouvia, ouvia... espantada e feliz com tamanha
imensidão de azul naqueles versos, naquele ser,
O estranho ser marinho, incrivelmente, marinho. Encantada.
com voz de homem, Até que a canção cessou e eu acordei de
cantou uns versos, em ritmo de blues: vez. Sem entender. Sem lembrar dos versos.

cynthia cy barra
Deliciada com a visão de uma canção.
... cativas em redes, as palavras,
em gélido mar, esquecidas ... Com os versos esquecidos inventei essa estória
que não é a minha e talvez não seja a d’ele,
Ouvi. mas que nos fez aparecer juntos em um mesmo
sonho.
Novamente: no instante que une o sonho e o
despertar: ouvi. Um estranho ser, de cor azul marinho. Ele era
assim. A cor era o que eu mais amava n’ele.
Tentava entender, afundando insistente minha Me fazia lembrar os mistérios do mar, o céu de
cabeça no travesseiro. quase noite, me fazia imaginar estórias felizes
e inacabáveis. Contudo, cor pura não era. Ele
Inútil. Só a beleza presente naqueles versos era mais: um monstro. Havia feito, há demasiado
marinhos era capaz de alcançar-me. tempo, porque perdido para nós, havia feito uma
Nenhum entendimento. dessas antiquíssimas intervenções cirúrgicas
que extraem, em vida, o coração dos homens:
deixa-lhes, no peito, com uma cava de monstro, por entre as pernas, em profusão. Deixei-o
de onde só saem pelos extraviados e solitários. E preparando um cigarro. No meu quarto, que
beijos de peixe. apareceu ali, ao lado do d’ele, também havia
visitas: o goleiro reserva da seleção brasileira e
Dormindo, em meu quarto, toquei aquela cava, o ex-marido de uma amiga. Imaginei uma festa
acariciei e quase a beijei. Ele não me deixou do outro lado da cidade, para manter longe
prosseguir. Levei-o a uma cama que surgiu toda aquela gente que não cabia no sonho.
próxima a nós, escorregamos para o chão. No Seria uma bela festa. E pensei n’ele: devia ainda
duro chão, ali, quase fizemos amor. Eu não o estar preparando o cigarro. Continuei, então,
deixei prosseguir. Não tínhamos camisinha. pensando:

– “Por que isso agora? Já comi você tantas A intervenção cirúrgica costumava danificar

cynthia cy barra
vezes”. Eu lhe disse: “não”. Sussurrando, falei: algo na vivência temporal dos que sobreviviam.
“nunca havíamos nos amado até o fim”. Nunca Com ele fora assim, deste modo: o agora, o
havíamos nos amado. Não sei se ele entendia o presente era o que lhe restava do tempo.
que eu estava dizendo, nem sei por que lhe dizia E ele não se importava. Até gostava. Entretanto,
o que dizia. Virei-me para o lado e pedi a um para conseguir suportar as dores que nasciam
garoto que surgia saindo do negrume da noite da ausência de passado e de futuro, ele
que nos comprasse uma caixa de camisinha desenvolvera uma opacidade em sua memória,
em alguma farmácia do bairro. O garoto me uma covardia em seus gestos e um cataclismo
pareceu gentil e eu lhe agradeci. Ele, ele olhou- em seu corpo sempre que eu soprava em sua
me profundamente, e em silêncio, deixou-me direção palavras. Sempre tão minhas. Por pouco,
só. Fui tomar uma chuveirada. Quando voltei a nossas. Palavras de amor. Amor que atravessa,
seu quarto, ele tinha visitas: o goleiro da seleção sem rota fixa, o tempo. Palavras de fogo. Fogo
brasileira chegara para o jantar. Ele, o garoto, que aquece as águas. Palavras azuis, em outro
eu, além do goleiro da seleção brasileira, num tom que não o marinho. Outros tons, dança de
quarto, era gente demais. Fui vestir uma roupa azuis.
e colocar um absorvente, começara a sangrar
E, pensando, atravessei definitivamente a vermel ho sa ngue
fronteira. Pisando em duro chão, percorri o
espaço que me levou da cama à escrivaninha. na avenida acometeu-se o impossível: um verbo
Demorei muito. Um espaço mínimo. Dias. solto. um grito. o agora. lembro do trajeto e
Em íntimo espaço. Os versos marinhos são desvelo o inaudito. a agulha era fina e imprevisível.
pertences do sonho. O lamento eterno do a linha soltou-se. a linha solta continua a costurar
estranho ser com voz de homem e beijos de amarrar prender o ventilador que traz todo o ar.
peixe. agora sem ar. agora com a garganta aberta sem
ar. agora a agonia das que não conseguem mais
Desperta. Nem mesmo no universo fantástico, respirar. a linha presa no ventilador finalizou a
impregnado de grafite, celulose e devaneios, vida. de uma outra forma pode-se contar uma
onde vou desenhando abrigos e descampados, outra estória, isso porque as palavras dos homens
em ritmo imaginário de blues, consigo recordar, não fazem sentido. descobrimos: palavra solta,

cynthia cy barra
em perfeição, as imagens da canção que ouvi palavra feita para virar romance ou poesia ou
naquela noite. Perderam-se: como nós. Invento: mesmo jogo de esgrima. este negócio de brincar
com as palavras é escabroso: em dias tristes,
... cativas em redes, as palavras, escrevem-se rimas, em dias alegres, poemas
em gélido mar, esquecidas ... completos, em dias nublados, a morte invade a
alma. o doido é ser doida e continuar a entender
o mundo. decifrá-lo. ali no hospício uma mendiga
disse: “estrutura que é estrutura? estrutura é o
homem bem-apessoado, com condições, é a
pessoa psicológica, é o grito da águia”. aqui, não.
pulei o muro, troco de assunto, digo oi e adeus,
talvez eu não desista da rima, talvez vá ao mar
ou ao cinema. quer ir comigo?
arpejo monotema

a boca do sertão tu, morto de véspera


impiedosa calado e constelado
engole meus desalinhos sopras ao canto
um fiapo de ontem
arco verde, flecha tonta um fiapo de homem
sagas abertas coração ferido
levas no corpo esse abismo
urgências de canto cisco de mergulho ávido

Daniela Galdino
estufa esquife estúdio ventanias de dentro
incêndios no quintal
a boca impiedosa
diz culpa o mundo é esteira noturna
se eu resistir ruído coarado em sereno
manga explodindo no chão

amanhã te encontro de vez


voraz, abrirei teus cachos
chuparei teu sumo
beberei teus grânulos

re-colhida, vomitarei
saudade no pomar etéreo
gemidos na rede elétrica
abissom peguei no dilúvio
veio terremoto ameno
“Ouço que tempo imenso já dissipado em meus quintais
Dentro de cada som”
(Caetano Veloso) se morrêssemos disso
não acumulava
acumular não nos mata
engorda vontades firmam-se estrondos
na curva dos dias cinco minutos, uma praga:
que o relógio desande

Daniela Galdino
faz pouco lembrei:
manobras de saliva esta mensagem escrevi
beira de camabismo gotejando portos azuis
a suportar enroscamentos em desforra

teve dilúvio nas cavidades bom dia!


agora volto a dormir
off sina avoreio

do prazer sou artífice ouço teus voos rasantes


liberto-me na forja
soul. recomeço. quando sou o que soa:
quintal de ervas daninhas
aspiro ciscos debaixo da relva cisterna de afetos ebulidos
a eles dedico atenção grávida pasto de risos alastrados
o recôndito sustém meus desejos
aterrissagem no ventre
a boca verte o gosto dos atalhos
se amo, é pra desandar lugares nós ao rés do chão
você, de olhos a fechar,
dilato-me ouvindo a matinada se põe além do meu morro

Daniela Galdino
sina ou sonho de quem goza
galo entoa ribanceiras
mas se me envolves na roleta ali deitamos frascos
projetas angústias de macho beijos de língua, chamas
e soterras o grão fortuito, cartas extraviadas, sustos
volto sete casas no fascínio
avio, congênere já não sou tudo jaz em ameaça de florir

desajunto para lançar o bote: exausta para lampejo iminente


escapulir para flor e ser a(r)dejo em rasgo de nuvens

sou o que doa:


senda noturna
mergulho cego
lapso de amor
ILHA
Não me encha de flores de filhos nem de fados
Não me ofereça prendas nem bodas
E não me envolva com esses mil abraços de me impor limites
Eu não sou seu continente

E não me venha com esses aviões em esquadra sobrevoar meu território


Não despeje suas bombas sobre minhas vilas e
Nem tente invadir minhas normandias
Eu não sou seu continente

Não invente capitanias e não desenhe mapas com esse vinco no lençol de
linho pra demarcar minhas superfícies
Não proponha tratados com letras do tamanho de formigas nem pactos
nem acordo de paz nenhuma
Eu não sou seu continente

Não ultrapasse minhas fronteiras não exploda minhas pontes não tente
arapucas artefatos bélicos minas terrestres
Não subestime minhas trincheiras
Eu não sou seu continente

Não quero sua catequese nem sua crítica nem sua nota nem sua poda
Nem seu afago nem esse beijo de dizer amores que me deixa muda
Não planeje embargos nem emboscadas
Não queira ocupar meus peitos nem meus pátios
Eu não sou seu continente

Ezter Liu
Não venha não avance
Não queira que eu seja sua terra prometida
Eu não sou
Já disse: Não sou seu continente

Eu sou essa ilha pequena e vivo à mercê do mal tempo


Eu sou essa ilha que sabe onde ficam os limites
Eu sou essa ilha cercada de
tralhas por todos os lados
Eu sou essa ilha pequena onde não se chega a nado
Eu sou essa ilha pequena
E nenhum porto te ofereço
Eu sou essa ilha pequena
E é assim que eu permaneço
VA M O S que as coisas são cíclicas como a vida
e que é da natureza do tempo: aliviar.
Vamos precisar de muito barro Vamos cantar, semear, festejar, escrever, beber
para tapar os buracos desse tempo que começa -bem aqui onde estamos -com os nossos!
Vamos precisar de corações e braços Vamos fazer poemas de novo
ambos abertos um poema-pétala:
para acolher os amigos nesse tempo que (mais duro que a sola de um coturno)
começa um poema-bomba:
Vamos precisar de duas mãos esquerdas para (para lançar estilhaços sobre esses devotos -
escrever a história meio mortos quase vivos)
desse tempo que começa um poema-leve
Vamos precisar de abelhas, beija-flores e bons (tecido de enxugar lágrimas e renovar
ventos esperanças)
Para ver florir de novo Sim. Vamos fazer poemas de novo
Vamos precisar de cabeças sóbrias e corações (não há hora errada pra fazer poemas)
imensos Sim. Vamos ver florir de novo, depois.
para que as razões da luta não sejam Porque primeiro, não se engane: os bons ventos

Ezter Liu
esquecidas serão tempestade
Sim. Estaremos atordoados algumas vezes, mas As abelhas serão um enxame
não perderemos o rumo e os beija-flores terão asas de navalha.
Sim. Estaremos enfraquecidos algumas vezes,
mas não nos daremos ao luxo da desistência.
Vamos manter em nós duas certezas firmes:
F O R TA L E Z A

Uma mulher tem que ser sua própria muralha Uma mulher tem que ser sua própria muralha
porque em tempos de fogueira há que se pra defender seu império e descobrir seus
defender das tochas aliados
e estar atenta à chuva de flechas do pelotão porque o inimigo sorrindo delicadamente
das culpas inventadas destroça

Uma mulher tem que ser sua própria muralha Uma mulher tem que ser sua própria muralha
porque a propaganda invade o forte pelos pra se precaver de nódulos, cistos e endométrios
flancos endurecidos
E o canteiro de obras tem nos olhos uma fome pra inventar pátios internos e jardins floridos

Uma mulher tem que ser sua própria muralha Uma mulher tem que ser sua própria muralha
pra que os tentáculos das paixões doentes se enquanto pensa, enquanto cresce, enquanto
enganchem nos grampos ensina, enquanto fala, enquanto ama
e o amor encontre um jeito de atravessar o

Ezter Liu
fosso Uma mulher tem que ser sua própria muralha
e ser também a sentinela
Uma mulher tem que ser sua própria muralha com os pés firmes no topo do mirante
construir trincheiras enquanto gera e alimenta E os olhos no horizonte.
porque a prole é jovem e os predadores são
ávidos
V U LVA S B R A N C A S D E P A P E L da chuva. O rio do meio fio arrasta as vulvas de
papel ofício abertas e livres para o final da rua.
Tenho quarenta e cinco anos e sonho acordada. As vulvas brancas abertas e livres desaguarão
Ainda. Tenho quarenta anos e nenhuma certeza. mais abaixo. Avenida larga. Desaguarão depois.
Nenhuma. Tenho vinte e sete anos e não me Outros afluentes. Desaguarão além. Desaguarão
suicidei. Apesar. Tenho pesadelos e terror noturno. Mar (Mar?). Tenho sessenta e cinco quando os
Tenho trinta e seis anos e um relacionamento ventos secam as calhas. Quando o sol evapora
abusivo. Não me calo. E não resolvo. E não me o rio inteiro. Tenho oitenta anos e um coração
mudo. E não me conformo. Tenho dezenove anos amarelado e seco. Um coração viúvo. Tenho sete
e coleciono isqueiros vazios. Coleciono isqueiros. anos e um coala de pelúcia. Não sei dormir. Tenho
E coleciono vazios. Tenho vinte anos e aprendi cinquenta e dois anos. Saias embainhadas à mão.
a odiar o formato dos meus seios. E aprendi a Troco os móveis de lugar. Driblo o tédio. Driblo a
odiar a finura dos meus lábios. Meu coração rotina esmagadora das semanas. Tenho dezessete
Himalaia. Meu coração vale do Catimbau. Meu anos. Aprendi substâncias químicas esse verão.
coração dimensão estranha. China plástico neon Vejo cores na casa de um amigo toda quinta de
coqueiral. Tenho setenta anos nos domingos tarde. Depois transamos. Não vamos estudar.
depois do jantar. Lenta. Premeditada. Disfarço Tenho trinta e três anos e me sinto segura.
a imprecisão das mãos. Tenho trinta pontuais Contei uma mentira e todo mundo acreditou. Me
anos no expediente. Me sirvo de bandeja. Sem escondo atrás dela agora. Corto cada ponta do
atrasos. Tenho quarenta e três anos e calos nos fio. Arremato a historia inteira. Tão bem contada.
A história é a verdade possível. Tenho treze anos

Ezter Liu
cotovelos. Me sirvo com gelo no balcão do bar.
Tenho cinquenta anos. Preciso parar de beber. e caio todas as tardes num buraco negro. Tenho
Tenho dezesseis anos. Preciso parar de fumar. oitenta anos e meu rosto congelou no tempo.
Tenho sessenta e sete anos. Preciso acreditar Congelou cinquenta. Amém. Tenho noventa e três
nos santos. Em deus. Em mim. Sei lá. Tenho nove anos e longas novenas todas as noites. Novenas
anos num dia chuvoso de abril. Faço uns barcos soníferas somente. Nunca tive fé. Sonho acordada
de papel ofício para o rio que corre no canto com vulvas brancas. Barquinhos de papel.
do meio fio. Os barcos seguem trêmulos sob a Barquinhos de papel dobrado. Parecendo vulvas.
chuva fina. Seguem lentos. Leves. Alvos. Alvos Vulvas brancas descendo a rua estreita debaixo
como vulvas brancas abertas para as águas de chuva fina num mês abril.
L A B I R I N TO D E S I L Ê N C I O S DESEJO ANTIGO

Ânsia louca que emenda as linhas tortas Não, não vá! Não agora! É cedo ainda!
Dos insanos rascunhos destes versos, Quero ser guardiã dos teus cansaços...
O que sabes de mim? Por que te importas, Já faz tempo que espero em tua vinda
Se dos males padeço os mais perversos?! Balançar-me na rede dos teus braços.

Desalinhos estreitam universos... Quero o sol da paixão, que nunca finda,


Os enganos rabiscam minhas portas. Aquecendo os lençóis dos teus abraços

Francisca Araújo
Sonhei com campos vastos e diversos Pra não ver na manhã da noite linda,
Vi poeira cinzenta e flores mortas! A saudade deixar-me em estilhaços.

O destino sorriu da minha sorte, Eu, nas horas de insônia, já não nego
Desfez planos, por fim, abriu um corte Cada parte de mim é um eixo cego
Mas, ninguém dessa dor sente o que digo... À procura de amor para sonhar...

Às paredes confesso o meu dilema, Mas, é pena que embora queira tanto
Foragindo de mim acho um poema Essa lua, do céu do teu encanto,
E em silêncio o papel chora comigo. Nasça longe da luz do meu olhar.


C Â N T I C O D E L U TA D A S I LVA B R A S I L

Se for só por um dia, meu protesto: A camisa da firma e o boné,


- Onde está realmente a consciência Que gostava de pôr quando saía,
Que não nota, nas dores da existência, Foram esses os trajes que José
O clamor que está vivo em todo o resto!? Colocou na manhã daquele dia.

Consciência se dá na coerência A mochila pesada não podia


De lutar, através de qualquer gesto, Com o pão embrulhado pra o café

Francisca Araújo
Contra o ódio que fere o manifesto Mas, enquanto o cansaço lhe doía
Dos quilombos da negra resistência. Resistindo seguia e tinha fé...

A história tem culpa escancarada Em seus turnos, José, nunca faltava,


Mas, talvez, poderá ser perdoada Era um pai de família que lutava,
Se tivermos, por fim, igual direito... Era farto de amor da mãe carente...

Já não basta dar voz a um só dia Mãe, agora, que chora ao ver o gorro,
Pois, em todo momento a covardia E outra bala perdida achar no morro
Se disfarça na cor do preconceito. O destino de mais um inocente.
T O D O S O S D I A S S Ã O D E L U TA Solitude

Não! Não dê flores belas sem afeto Andei só nesse vale de quimeras
Pois, o ramo sem flor murcha no galho... À procura não sei, talvez de sonhos...
Pétalas não, não têm alma de objeto E ao perder-me por dentro dessas eras
Porque podem chorar gotas de orvalho. Tropecei nestes teus olhos tristonhos.

Não esconda por trás da rosa a culpa Olhos tristes iguais às primaveras
Pelos atos machistas de um regime... Em que não tive meus lábios risonhos,

Francisca Araújo
Rosas não forjarão uma desculpa Invadida por dias enfadonhos,
À carícia que sela a mão do crime. Adiando o cansaço das esperas...

E ao invés de somente cumprimentos Muitas tardes tranquilas ressonavam


Faça parte da voz dos movimentos Quando os raios poentes desmaiavam
Defendendo os direitos entre iguais. Na varanda do céu alaranjado,

Não queremos ter flores que nos firam. E eu sentia meu peito soluçando
Os silêncios que já nos consumiram Pois assim como o teu, que vi chegando,
Hoje não poderão nos calar mais. Era triste porque não tinha amado.
as mulheres que em mim habitam quando meus lábios beijam
dançam sobre a fogueira do ventre outros lábios femininos
e escorrem corpo adentro feito suor o bico do peito quer ser brinquedo
enquanto me toco profana na língua macia
descobrindo o prazer quando minhas pernas
o gosto encontram outras pernas femininas
o gozo [as tuas]
queremos ser beira de rio
regadas pela água salobra do suor
as mulheres que em mim habitam quando me rendo a outros braços femininos
queimaram sutiãs sou partícula infinda
romperam os limites do corpo livre na planície do teu corpo
retiraram as vendas dos olhos e do meu.
revelando o paraíso de meus pequenos peitos
das celulites

Géssyka Santos
estrias
dos dentes tortos

as mulheres que em mim habitam


peregrinam sob a pele
transmutam ideais distorcidas
explodem tesões reprimidos e
com mãos-unhas-dedos
me desconstroem
refazendo-me inteira

dona do corpo
do passo
da mente.

o tempo sopra em meus olhos desabitar um corpo
arrastando consigo é desacostumar o tato
camada pós camada a percorrer um caminho conhecido
as cores dos meus dias é retirar de seus poros o cheiro
levando-me a face de quem amo impregnado do sexo do outro
o reflexo de quem sou do sexo da gente
cedendo toda leitura à ponta dos dedos ásperos é carregar o peso morto
e a fotografia ao tato frio do corpo quente do de um corpo inabitável
outro

a surpresa do tempo é isso, não é? é ter reações controversas ao querer


o abster-se da luz sorrir desconcertado

Géssyka Santos
das horas quando sua boca quer um beijo
das contagens ansiosas do tempo transpirar de ansiedade
é dobrar os anos como um papel de origami quando deveria ser desejo
que vira qualquer outra coisa é jogar fora o mapa do corpo do outro
além do objeto pálido liso e retilíneo e fingir que não decorou
é saber contemplar o universo num suspiro cada relevo.
na lembrança do cheiro do café coado de vó
do sopro
da vela
do abraço
do adeus
a surpresa do tempo é isso, né?
perder-se nos labirintos
traçados no rosto.
não sei ao certo deus é o coração do mar
quantas folhas de calendário o azul-infindo onde mergulho e me expando
já caíram aos nossos pés, a transversal do tempo que me ensurdece
quantos sábados o grito livre o rito o abraço apertado
já gastamos entre lençóis deus é macabéa cobrindo-se para sempre de
quantos domingos tristes já te acalentei nos asfalto quente
braços é um quarto de despejo e de hospitais clandes-
tinos
é meu útero
perdi as contas do tamanho de um punho
das contas do quanto nos resta no banco é onde renasço
de todos os abraços das pernas e onde morro

Géssyka Santos
dos braços todos os dias
dos olhos
de quantas vidas vividas em tão pouco tempo deus é verbo
de tanto tempo partilhado ao seu lado é tinta
é nota
perdi as contas eu sinto!
de quantas folhas de calendário forram nossos
passos deus
e sei que haverá pra mim não é um deus:
mais uma infinitude delas são deusas
em nosso caminho
pois 12 meses é muito pouco pra nós.
É Por Aí Naufrágio

Eu prefiro a arte que incomoda Correntes quebradas, chicotes calados


A poesia que pinça meu conforto E mais outros símbolos enfeitam museus.
Eu prefiro o corte que me poda Aos pés dos algozes, distantes de Deus,
Do que ter cicatriz em corpo morto Dandaras são mortas, Zumbis maltratados.
As cores dos sangues, jamais misturados,
O amor que me faz revolução Encobrem de luto os céus de tocaia
A palavra na rua em movimento Sobre os mesmos mares, os ventos dão vaia

Isabelly Moreira
E um galho de arruda em proteção Aos tantos “navios negreiros” imersos
Como força de fé e pensamento Sem vate e sem sonho, apenas os versos...
Nadamos, nadamos, morremos na praia.
O segredo contado entre linhas
E a guerra na caixa das marchinhas
Sons que pintam seus tons de irreverência

Do não óbvio, prefiro, em mim, sentir


E o desejo que ainda está por vir
Eu prefiro o que não tem preferência
Cotidiana Um fiasco contorna a profissão
Que também é cenário de assédio.
Nós mulheres morremos todo dia Vira e mexe a figura do patrão
Pelas mãos de maridos, namorados. É a causa de um trauma sem remédio.
O jornal sanguinário anuncia: Mexe e vira, o transporte coletivo,
Mortes, mortas, destinos desgraçados. Filas bancos e becos são motivo
Uma ossada encontrada num terreno; Para que a mulher se apavore
Um pulmão perfurado leva um dreno; Com o gesto obsceno do agressor
Na cintura: uma faca dele, nela; Ou qualquer falsa forma de amor

Isabelly Moreira
Os sinais de defesa em cada mão, Faz com que cada caso só piore.
Ironia cruel da criação
Quando a fêmea fratura uma costela Que se tore o machismo matador
Inquilino de irmãos, amigos, pais...
Justo nela? Do elo em criatura! Que o Estado se torne protetor
Sim. O barro que faz é o que enterra Para que não sejamos numerais.
E o homem que beija é o que tortura Que a voz da mulher não silencie,
E que tenta explicar da vez que erra, E nenhum dedo em riste atrofie
Joga a culpa pra ela e pra o ciúme Frente à cara covarde e à covardia.
Culpar vítima aqui virou costume. Toda causa exige compromisso
Sinto nojo da frase de um carrasco E enquanto alguém se cala omisso
Que vomita jargão de um bem eterno Nós mulheres morremos todo dia.
E o que foi paraíso vira inferno
Se a palavra do amor se torna asco.
Vida Mulher Toda rosa é primorosa.
Rosa flora, ou dona Rosa
A vida é figura fêmea Lá da bodega da esquina,
E ninguém diz o contrário. João de Barro ou João de osso,
É mulher que dá à luz, Cada qual tem peito grosso
Pode riscar calendário: Para enfrentar sua sina.
Entrando e saindo mês,
Cada um vai ser freguês Vidas que já nascem gêmeas
Pra receber claridade São vidas que se atraem
Na hora do nascimento. Antes mesmo de nascer
O mundo em contentamento Ou mesmo depois que saem
Honrando maternidade. Do ventre do amor fecundo
Para fecundar o mundo,

Isabelly Moreira
São muitas vidas paridas, Semeando o mesmo amor,
Outras mais em gestação. Procriando novos laços
Mulheres de sangue forte. Aos corpos que dão abraços
Correnteza de emoção No coração criador.
Inunda a alma de enfeite
Nos seios das mães de leite, A vida não enviúva,
Bocas de filhos famintos Nem se separa da morte.
Sob a quentura singela, Esta dona da viagem,
Feito galinha que zela Aquela do passaporte.
Uma ninhada de pintos. Mas, se o tempo for morto,
O destino faz aborto,
Toda vida é uma só, Restando a sorte caçula
Não existe hierarquia. Para adotar uma crença
Seja elefante ou formiga, Que renove a diferença
Seja urso ou cotovia, Conforme a saudade adula.
Mesmo que nasça menino, Reticências
Moleque, macho e varão,
Terá uma essência fêmea Não foi fácil reler a carta dela
Porque vida é criação. Comedindo o estímulo à narrativa.
E lembre: vida é mulher! A palavra se dita, é força viva
Por tudo que se disser, E o meu corpo vive a falar nela
É mãe de fato e direito.
No vínculo não tem divórcio, No momento, um ímpeto me atrela
Tampouco admite sócio E avanço o parágrafo, pensativa.

Isabelly Moreira
Confinado em preconceito. A memória se torna mais ativa
Estremeço no líquido que gela

O suor, a dormência e o inchaço


Dão aos dedos mais ritmo e mais espaço
A leitura é pausada e repetida

Junto as folhas no punho num instante


É difícil passar página adiante
Quando a mão já se encontra distraída
Floresta Não perambulo mais, agora eu vivo.
Não ando por aí sem rumo,
Por muitos anos habitou-me uma imagem: Com um saco cheio de sonhos,
Ando em uma floresta amarrando um fio longo, O coração cheio de desejos
sem fim quase, aos troncos das árvores. E as mãos cheias de depois.
Metáfora do saber de meu caminhar, Não perambulo mais.
De onde vim, pra onde quero e percebo me dirigir. Despi minhas peles, penas e folhas
Descobri esta manhã que existe, aos pés do Já faz muito tempo.
Monte Fuji no Japão, a Floresta dos Suicidas. Andarilha, senti frio e fome.
Lá, a pessoa a princípio decidida medita sobre o Me perdi em devaneios
propósito da existência, De teias emaranhadas
caminha e deixa um fio colorido nas árvores, Sempre andando em círculos.
para, caso desista de morrer, Um assovio me acordou.
saiba tomar o caminho de volta. Um sopro na nuca me lembrou
Como se sopram os fios devagar
Antes do câncer eu quis morrer. Até que os nós se desfaçam.
Ironicamente, havia esquecido completamente Não perambulo mais.

Joana Velozo
a cor do meu fio e onde ele estava amarrado. Cheguei a um lugar que não consta nos mapas
Já não amarrava fio em árvore alguma. Um lugar que é meu. Aqui e agora.
Tinha me abandonado a vagar no bosque Minha túnica de folhas cintila.
e já nem meditava, Chamei meu povo de volta
absorta e hipnotizada na certeza E tudo nesse lugar entendeu
da incerteza escura e eterna. Que não perambulo mais.
Sou presença.
Quero munir-me de fios multicoloridos.
Visitar a floresta aos pés do Monte Fuji
e enlaçar os troncos um a um.
Não tenho medo;
Estou suficientemente acordada e sei:
meu retorno é certo.


Gosto de carregar pedras Não é preciso mais andar em carne-viva,
uma de cada vez não preciso.
(é de minha natureza) Aprendi:
Por onde passo coleto umas quantas, faço o círculo.
que vou transformando em jóias. Traço firme, linha contínua.
Runas do caminho traçado. Uso os extremos para descansar
São muitas, as minhas pedras. e balanço leve,
Encontros também me trazem pedras de pre- sei escutar.
sente: O tempo fechou umas chagas,
Da montanha sobre o mar sei esperar.
Do deserto Suei uns excessos,
Pedras celtas da praia escondida aos pés da hoje chuvas de alento me banham.
trilha Agora deslizo, senhora das páginas de meus

Joana Velozo
Do sertão cadernos.
Pedras de pôr-de-sol No baralho, sigo tirando novas cartas.
Pedras de nascer. Apenas bons presságios.
Coleciono pedras e cultivo silêncios
Espaços vazios
pra caber mais desse mundo que abracei.
Desobediência Sempre é tempo
De refrescar afetos
Põe em mim palavras duras Depois de ter suado
Me abre horizontes estreitos. Tudo aquilo que era excesso.
Quem eu era:
Forasteira lutadora
Porta-estandarte da boa vontade
Da fé no fazer junto
Que nunca vem.
Intimida o que há de bom
Sufocado no calor
E no cheiro do canal.
Quem sou agora:

Joana Velozo
Um corpo enrijecido,
Um corpo que rejeita.
Mas essa dureza não me assusta
Apenas observo
O quanto te ocupas de me impor ordens
Que não obedecerei.
S eguindo as mais vel has Discutindo a relação

É desconforto querer declaração de amor, Vou além das promessas em teu olhar.
se o racismo está em nossa língua. Nas fístulas do novo, deixo meu coração.
Quero a escrita da palavra censurada Confesso que não é fácil ter desejos meus
em minha fala, sim. Abortar as portas fechadas desse movimento
de ser mulher e só tua.
Não espero caminhos macios nessa lida, Fecha-se uma costura sobre meu desejo oculto,
assino a lista dos meus valores e guardo derramado alhures, mas preso em tua vida
palavras de negras mulheres, vozes libertas sem elasticidade.
juntas em mim.
Sei do teu querer a mim, essa força frágil
Sou eco dos saberes dessas mulheres, diante do muito que é viver.

Jovina Souza
sigo o caminho por elas amaciados
fazendo o trabalho, ainda necessário Passo noites e noites a desvendar tuas palavras.
arrancar outros tocos, polir ásperas trilhas. Busco, paciente, os sentidos do teu “eu te amo”.
E me exponho às idiossincrasias dessa confissão.
Com elas aprendi enegrecer meu pensar, Vem mais silêncio, mais lacunas nessa norma
tomar posse do meu ser negro feminino. parcial do verbo amar que escolhe apenas tu.
E tecendo mais um fio dessa luta infinda Declaro-me, então, fugitiva dessa trama milenar
vou dizendo quem sou e o que eu sinto. e fico seduzida pelas portas das ruas.
Manifesto Feminista Meus incômodos são as epístolas do falo
que só ejacula, mas não sabe o que é gozar.
Há um colar de flores em torno de mim. Para que essa sabedoria dos machos?
Há uma fera alada sobre meu ventre, Se de gozos múltiplos por todo corpo,
uma serpente. eu me farto?..
E caliente e vermelha sou astúcia Há um colar de flores em torno da minha cabeça.
janelas múltiplas, novas trilhas Há uma fera alada em minha mente,
para o velho caminho de Zaratustra uma serpente perspicaz, atenta.
e seus discípulos todos homens. Leio o mundo com o cérebro e os sentimentos
A sabedoria dos homens me dá tédio. sou profunda,
É restrita de assunto. O que é extenso sou o sagrado, o profano e a linguagem.
não conhecem. O trabalho, a memória,
Está na minha cabeça fecunda ninho da terra e das águas..

Jovina Souza
em diálogos com todos os sentidos. Se nada diz de mim fêmea e mulher
Por isso, aprofundo os tempos, as cores, que sangro para expandir a vida e os mundos,
e o mundo não me serve a sapiência dos homens.
que nasce e renasce na usina de mel Tem pouco assunto.
sangue e vida que eu carrego
entre as pernas. O céu das alquimias geniais,
teias de bruxas secretas que tudo vêem
e faz meu padecer, virar risos e voos
sobre meus incômodos.
Q uero vo cê, minha preta irmã Ainda nes se movimento

O dia chega mudo de promessas A jornada é de trabalho e suor


se a sua presença é o que falta sob o céu, testemunho indiferente
na frente dos meus olhos. dessa minha luta-mulher pela vida
Sozinha meus passos são curtos e pela liberdade, sempre por um fio.
nesse vale de paisagens hostis
ao preto que em mim é véu Dias, após dias,
e caça. nesse caminho deveras ermo,
É de espinhos e solidão onde andam piso as dores do passado e do presente,
Meus pés sem trégua, faço ruir seus castelos.
no vazio de tudo que é justo
há tempos, levado pelos ventos. Depois levanto minha espada
A contento sobre suas ruínas.
ele, meu coração, persiste Ponho asas cabeça
na sua procura, minha preta irmã, nos pés, na vagina, no coração

Jovina Souza
para se ancorar em seus ombros, e sigo o voo das andorinhas.
dizer e ouvir a palavra certa,
aquela que nossas histórias
compartilham.
Para o verso que rima eu e você
num poema de dengo ,
de força resistente, tecendo esperanças
nesses tempos , os mesmos de sempre,
a nos ofertar o desamparo das violências.
Desejo seu bom dia, seu olá como vai
Minha irmã,
O riso que eu preciso e me faz forte
para vencer a luta de séculos que chega
para nós duas todas as manhãs.
NUCA VIDA

eu nunca me beijei na boca pura podre


eu nunca sinto o cheiro da minha nuca bruta bela
não sei qual é o vapor do meu sussurro leve grave
nem meu silêncio enquanto eu durmo brava boba
ruim tão boa
não sei como ressoa
minha pele na sua
eu não sei como é me ver pela primeira vez nua
eu não sei como é me ver pela última vez nua

Marina Melo
eu não sei o que é me ver. digo
vagina
como quem diz pão
como quem diz tchau
como quem diz sonho
como quem diz pau
F U GA
vagina não é palavra envergonhada
perder objetos, deixar lugares:
eles continuam existindo, vagina só é,
só que escondidos de mim caralho.
acima de cada precipício: a vida toda inquieta
um mirante a morte sempre à espreita
quando o mundo acabou eu ouvi: gosto da vida que peita
o silêncio e sei que a morte é secreta
o minuto que alguém morre é o minuto:
que alguém nasce
já o sexo tem um tanto de vertigem e um tanto
de
ascensão
LEÃO

gosto de olhar estranhos

Marina Melo
para que eles tenham o gosto
(sem nome nem corpo)
de serem olhados sem saber

a tristeza
dá corpo
a quem nunca teve
um. LEMBREI
amar
é assim? todo mundo é feito de carne
mas só lembra quando sangra
se a rua da sua casa mudasse de mão gosto de
ou se um amigo escrevesse hai-kais que só escrever no escuro
podem ser lidos na casa dele (não que já tenha feito
se você não visse o guarda que pernoita ao lado isso)
vestir o colete à prova-balas para que as palavras
ou se você tivesse uma ínfima noção do que é sejam vultos,
não ter casa, só vultos,
e não donzelas.

Marina Melo
o seu nome era a única coisa que ela
escreveria, à chave , escrevo para cantar
na porta de um banheiro. canto para escrever no ar
E Ela Não Sabia Amar, baladinha- Não. Morria a mulher. Violavam, rasgavam sua
soneto em 3 x 4 inocência. Pontas de cigarro. Amarras ao pé da
mesa. Soco na cara. Sangue. Não. Cidade natal,
E. Corria, mordia a vida e entre os dentes amigos de infância. Hino nacional. Não. Brincar
apodrecia a carne que não descia. E rodava e na rua. Cinema, roupas e discos, shampoos e
de tanta tontura só enxergava a realidade em cremes. Histórias e simbólicos. Realidade. Não.
flashbacks. Ninguém a encarava porque só a
viam de costas. Invadida. Abandonada. Perdida. Sabia. O quê? Ler. Espanar. Lavar. Passar. Ninar.
Chorava e as lágrimas jorravam pra não-se- Cozinhar. Trepar. Fumar. Dar. O quê? Mãos
sabe-onde. E. vazias. Sabia peregrinar pelo Antigo. Ônibus
em pé pela RMR. Livros a pesar. Lamaçal. Sabia.
Ela. Maquiagem borrada. Corpo sujo. Cabelo Transitar pelos paralelos de ricos e sua periferia,
surrado. Ela que só somava as horas na coluna, morando no centro, na zona sul. Seu epicentro:
saía e voltava. Ninguém notava. Hello, everyone! sabotagem! Morrer-se diariamente, mas nunca
Ninguém respondia. Na janela do centro da renascia. Vestia a cara com fumaça. Sabia.
cidade esbaforava cigarros a fio, madrugada

MonaRios
era sua inimiga. Sono não via. Pesadelos, vultos Amar. Amar. Amar. Amar. Amar. Amar. Amar.
e imagens. Querelas e gritos. Amaldiçoou o Amar. Amar. Rama. Rama. Rama. Rama. Rama.
próprio ventre. Insana e pagã. Intensa. Mais Amar. E Ela Não Sabia.
nada para. Ela. E Ela Não Sabia Amar.
Faxina de Otário

Na linguagem Ela caiu


no corpo sacudiu
na coluna viu
do teu consumir-se
sagrado. a fogo
o ventre
Na víscera molhado.
no profano
na cafonice Nessa água
do teu jorrada
templário. dilacerada
ela
Na semântica pariu
na porra lavando

MonaRios
na sandice a manada
do teu inteira.
patri(mer)cado.
Sangue Sente Um Pobre Capitu(lo)

A memória do sangue sente A todos dizem que sou aquela.


suave, sereno na semente da alma Sou a dos cárceres, a mais esquecida; a das
suores, sufoco, silêncio. meretrizes, a mais injustiçada e das mulheres,
Sensível saudade, a mais misteriosa. Sou aquela da cozinha e do
ciúme cerrado. tanque a que tem cheiro de água sanitária na
Séculos. mão e de pêssego na boca a dos seios caídos
e do ventre atrativo. Estou aí, na sala, no quarto,
O sangue sente no quintal, na mesa e na cama estou na cadeira
a memória transborda os sentidos da carne de balanço de madrugada acalentando o peito
semeando sandice, insensatez, sofrimento... inocente que grita com saudade do útero estou
o sangue sente debruçada na tabuada chata e no português
qual serpente gaguejado. Estou no escritório, na sala de aula,
[enroscada no corpo na direção de ônibus na encharcada plataforma
podre petrolífera na tua mente no teu orgulho ferido no
caído teu falo no teu sonho no teu céu no teu inferno
envermelhando... no teu solar de esperança no teu chamar de
menino. Sou minha e de mais ninguém!

MonaRios
O sangue sente. Possuo o ocultismo do universo, a magia das
mãos o manancial dos quereres a forma e o
verso a ilustração o demônio a perseguição.
Sou tua, às vezes, se homem ou mulher.
Caminho no mais só, de sonhos preenchida de
quimeras estudada de amores… os malogrados
me encantam! Da bailarina tenho o equilíbrio
o charme e a doçura do movimento; também
tenho seus pés machucados de calos e joanetes.
Mas, para tua informação, não tenho aquele
colo marmorizado ou aqueles lábios de carmim!
Para meu tato, é preciso que me enchas, mas Circunavegações me trazem sempre e me
não tens mais nada a dar que tua onipotência e perco quando nego meu destino. Sim, no
brutalidade de macho. Vês só a flor de plástico, que não se pensa mais o que se olvida por
não me sugas o néctar. desespero de modernismos inúteis, ainda existe
Se buscas as ruas é porque não me alcanças e ferve na sutileza de um sono tranqüilo. Mas
à noite. Eu também sou a puta da esquina que a dureza do teu olhar sobre mim apaga toda
adormece nas tuas camisas a costurar nas minha estrutura toda minha denominação e te
roupas que deixas pelos corredores nos teus tens forte e viril. No dia que entenderes que não
pertences que rastreiam toda a casa. Tem choro só me possuis atingirás o supra-sumo da minha
de menino, mas tem suplício de mulher. Ao candura. Pari o mistério por ser eu mesma tão
dormires não escutas a nenhum de nós. Se do simples tão lógica...
silêncio, enclausurada da morte petrificada e O que há em mim que te governa? A minha
da musa a inatingível: ao teu lado não tens tua mão num berço? A minha sedução nos afrescos
mulher, tens um santuário mórbido de cemitério. de séculos passados? Se as minhas costas te
Tu a mataste. Ao escravizá-la ao calar-lhe as causam torpor, melhor mesmo me enxergar de
vontades ao puritanizar-lhe as carnes. Depois, frente! Se ao menos me perguntasses se o filho
falas dela por aí... Aquela despudorada, traiu- era teu, te responderia tão afinadamente quanto
me com o melhor amigo... Não vês? O menino as cordas de um piano vitoriano. Mas preferiste
lembra-lhe até os bigodes!!. De labirinto em me coagir me rotular me julgar e me esquecer

MonaRios
labirinto tu te perdes e nunca a tiveste! me condenar e me serpentear me pretender
O que dizer de meus momentos íntimos? Bem, nos teoremas do teu raciocínio fútil e ilógico.
sorvo perfumes de rosas, arranho o tempo Mas aí está o relato de uma inaudível de uma
com as unhas das mãos, sangro o resultado morta e inventada figura que foi canonizada
disso tudo e alimento minhas ilusões. Coração nos escritos que fedem a testosterona e cueca
de mulher é enigma? Tão fácil e calmo se mal lavada. Porque sós porque auto-suficientes
convivido... Para isso, precisas de lástima de suor porque pretensos garanhões e donos de tudo. A
e de fome. Instantes de mulher são inomináveis voz de uma cigana traiçoeira e nefasta de uma
são profundezas de mar. Daí a água salgada: Littera(atura) de varões falidos.
dores indizíveis carregadas da mente pelo vento E que vençam as batatas!
pelo trovão pela flecha.
Vo o r a s o artifício

a insanidade me espreita abri um buraco no meu ventre


eu bebo água escavei fundo
lavo o rosto com minhas próprias unhas
aparo as unhas dos pés todos os dias
e leio Caio Fernando Abreu cinzelo suas formas
faço da dor
mais tarde minha única arte

Mônica Menezes
correrei na praia
até perder a glória há uma rosa escarlate
de ser triste sob meu vestido
e dentro do meu silêncio
mora o grito


eleição sonho de bailarina

o anel, a flor, o poema da caixa onde vivo


tudo isso tão bonito não posso alcançar o teu beijo
contudo, o que ecoa mesmo e guardo-me encolhida
no fundo mais fundo da alma os braços enlaçando as próprias pernas
são as palavras-lâmina da mãe os lábios comprimindo o desejo
sussurradas no quarto ao lado
naquela madrugada de setembro já faz muito tempo

Mônica Menezes
elegendo-a e esta caixa é minha única sina
para sempre mas noites a fio
a menina mais feia da casa (esgarçando os dedos de menina)
entremeio cristais e seda fina
e um diáfano vestido teço
para o sonho de ser bailarina
amanhecer carta de amor

já está decidido: amado, jamais serei tua Dora Diamant


amanhã despertarei borboleta simplesmente porque sou outra mulher
e tu és outro homem

não sei cantar na língua sagrada


e nunca sonhamos com Tel Aviv

Mônica Menezes
entretanto desejo
como a moça judia
acolher-te o derradeiro gesto
e talvez meu lamento
também dissipe o eco
da última oração
Cores e correntezas

Às mulheres, irmãs minhas, A vida, irmã minha,


Das suas cores e correntezas, Raso rio.
Saber dizer queria... Escorre suave, densa.
Dilata, dói, aperta.
Muralhas e manhãs sem sol Aparta.

NegrAnória d’Oxum
Sentir-sonhar, sofrer...
Delícias, conquistas, novas travessias... Tramas internas. Travas!!!
Dizer-saber queria! O fel, aflições.
- Destróis!!!
Solitude profunda padeci também...
Rios de lágrimas e um mar sem risos Vazio invade.
... Devasta, destrói, distrai...
A menina dos olhos esmaeceu, quase... Labutas e labirintos,
Amor-migalhas... Amor-mágoa, irmãs minhas.
Não mais, apagas!!!
Nunca mais!
Um ponto.
Final?
Talvez...
Um ponto
Faceira Flor

Flor, ô Flor! Tempos depois...


Um café, pro seu nêgo! Flor, ô Flor..
Faz, por favor! Os pratos sujos, minha joia rara
Lava ali, vai, por favor!
E a faceira Flor

NegrAnória d’Oxum
em seus braços, enlaçada, Ahhhhh! Suspira airosa rosa!
Cheinha de chamego Tô tão cansada, lindo amado!
Deixa-se ficar. Livros, lutas e muito labor!
Olha ao looonge Sussurra suave, esta nêga formosa,
Acaricia seus crespos cabelos para alegria de Oliveira Silveira,
E sussurra suave: nosso mestre escritor,
- Ô pretinho, estou tão cansada!... lá do Orum a espreitar e se rir
- Vai, faz esse mimo, por favor! dessa musa amada:
Flor! Ah! Minha flor!
Nêgo olha, se achega mais, beija
Venera e vai.
DES(L)MADO EX... Pressão e pausa

Espadas tuas cravaram meu peito, Lá fora a vida vibra


Tempos atrás... O som eclode.
Uma, duas, três...? E eu, cinzas horas.
Quantas de nós sob seus lençóis Insosso sabor.
Desa(l)mado ex?
Prazos. Pressa. Pressão sem fim.
Mas... Chagas, choros. Pressinto.

NegrAnória d’Oxum
Os livros clamam...
Das cinzas ressurjo. Silencio!
Cantigas suas, Pedem.
Ladainhas sem reza,
Conheço todas!!! E o dia segue.
Ondas sonoras sob os céus
Rasgo! Pressão, prazos, pressa.
Retas sem rotas Refaço retas. Reajo.
Saboreio. Sento. Concentro. Tento...
Eparrei! Oiá!
ÊÊÊparrei! E o som insiste
Meu eu, em erupções, navega
Reluto.
Remo
Remo
Remo.

Livros, sons e chamas


Voos sem voltas
Revejo.
Pássaro preto-primo-pedras

São Sebastião do Passé, um dia qualquer... Ouvidos atentos. Pernas rápidas a cortar ciladas.
Pássaro-preto-primo-pobre... Preto-pássaro-primo.
Unguentos pedia... Pulo do gato, sob incertas águas.
Domingo, um dia qualquer. Pum! Pum! Pum!
Anos atrás: Pum! Pum! Pum! Pum!

NegrAnória d’Oxum
Seus belos olhos, cor da noite, fitavam os meus. Pernas esticadas sob o chão. Na lama a face
Coração-criança, assustado menino. ficou.
Cheiros de morte e fugas d’outrora Corpo encolhido em escaldante sol.
Ríspido. Rápido, sem direção, a disparar a pressa.
Transeuntes passam. Param. Averiguam. Apon-
Preto-primo-pedras. Crack. Crack, crack... tam.
Pisadas apressadas sob o anoitecer. Olhos meus marejam nesse céu sem fim... E o
De beco em beco, de mato em mato. dia a seguir seu curso.
Aqui, ali, acolá... Perda. Primo-preto-pobre.
A dissipar perigos, a pedir abrigo ...Crack.Crack.Crack...
E VO CAÇÃO D O R E C I F E nº 2 Recife dos riscos, dos restos,
(Que Manuel Bandeira me perdoe Dos ratos que me atormentavam
mas também...) Lugar onde baratas não assustam
O corpo só treme diante do gatilho
Sou filha do Recife Recife de estômago vazio
Da senzala dos tempos modernos Sem luas cheias
Não da União, Aurora, Soledade... Sem estrelas, sem poesias
Essas vieram-me bem depois Sem canto dos pássaros
Nasci dos seus becos sórdidos Nem árvores para brincar
E escapei entre as papoulas
Que enfeitavam meus cabelos Recife sem primavera
Com um mau hálito
O Recife da Violência, das Drogas Que violentava meus sonhos de criança

Odailta Alves
De alma desasfaltada Recife que vi bem de perto
E coração movido à lama Que nunca me plantou esperanças
Que pulsa por trás do Shopping Center Um Recife que também era Antigo
Mas não aparecia na televisão
Recife sem igrejas barrocas Recife desértico, árido, seco
Teatros nem praças floridas Que mata mais que o Sertão
Recife que nem o frevo é capaz de alegrar Recife do Coque, Ibura, Beberibe
Dos barracos de tábuas De Brasília Teimosa, Guabiraba,
Onde desde cedo Linha do Tiro, Morro da Conceição
Aprende-se, na marra, Recife de tantas Águas, Altos, Encruzilhadas
A suportar a frieza do chão
E não gritar com a dor das feridas Do meu Santo Amaro das Salinas
Que nem Omolú ousa sarar Que nunca me abandonou
Ainda lembro-me menina
De anjo, acompanhando o seu andor: Um Recife que está morrendo
“Ó piedoso Santo Amaro
Entoamos com fervor E velo o seu corpo à distância
Bendizemos vosso nome Ansiosa pela última pá de areia
Esse hino de louvor...” Recife dos becos sem saídas
Sem ruas nem avenidas
O Recife que só colocava-me no colo Que mesmo com tanto esforço
Quando eu corria pelos seus manguezais Não me prendeu em sua teia
Amarrava caranguejos
Para libertar minhas fantasias Um Recife que tentou
E iluminava o Rio Capibaribe Mas não matou esse amor
E todas as suas pontes Em meu peito despertado,
Com gotas daquela alegria Recife dos meus monstros, mitos, lendas,

Odailta Alves
Tantos anos adormecido,
Recife que só era doce Acorda nesses versos soluçados
Nas festas de São Cosme e Damião Teu crime não foi prescrito
E no terreiro de Mãe Lúcia Recife da minha infância
Cantávamos para os Ibejis O mesmo dos meus pesadelos
Sem medo, com respeito Recife que aqui eu vomito
E saquinhos na mão
N ÃO FA L A R E I D E A M O R Eu não falarei de amor
Enquanto eu for a carne
Eu não falarei de amor Mais barata do mercado
Nem adianta pedir, Meu amor está de mãos calejadas
Ameaçar, implorar, E bolsos vazios
Eu não falarei de amor
Nem se esse for Eu não falarei de amor
O meu último verso Enquanto o meu padrão
Nem se amor for embora For ridicularizado
Só por pirraça Meu amor tem autoestima baixa
Eu não falarei de amor Pisada por esse mundo doentio
O meu amor morre de graça
O meu amor dorme na praça Eu não falarei de amor

Odailta Alves
O meu amor ficou
Eu não falarei de amor Do outro lado do Atlântico
Enquanto a juventude negra Não foi escravizado
Estiver sendo exterminada E um dia, quem sabe um dia
O meu amor está congelado Ele brotará em poema
Numa gaveta de necrotério Por enquanto, meu verso é edema
Inchaço de dor
Eu não falarei de amor Minha poesia sangra
Enquanto meus pretos e pretas E mancha as páginas brancas
Forem encarcerados Do livro do colonizador.
Meu amor está algemado
Com passaporte pro cemitério
UMA LENDA DE AMOR

O Mundo era todo Noite


Dia não existia
mas isso triste não era
Namoros no escuro
Jantar à luz de vela
A Lua, Rainha
O Sol, o “dono” Dela

Escândalo celestial
“Sol expulso do Céu!”
Manchete de jornal
Comentários, descrenças
Parecia brincadeira
Mas a Rainha, tirando o véu
Gritou para a Noite inteira

Odailta Alves
Que não queria mais ter dono

Fez-se a partilha dos bens


O Sol ficou com a Luz
para guiar seu abandono
À Lua coube a noite
cada vez mais enamorada
Nunca tivera tão cheia
Com brilhantes roseiras
Deliciava-se com novas paixões
Tinha sentido o saboroso mel
do beijo das Estrelas.
N a Te r r a q u e r o f i c a r

A morte me convidou “Não amei suficiente!”


Para uma reunião, Foi como justifiquei.
Pense numa confusão. De pressa lhe expliquei
Um acidente causou. Os sonhos que trago em mente.
Diz ela que precisou, E ela, tranquilamente,
Pois anda a procurar, Se dispôs a escutar.
Palhaça pra trabalhar Desembestei a falar
Com ela no outro mundo, Pois sonho em mim não tem fundo.
Recusei em não profundo Recusei em não profundo,
Na terra quero ficar. Na terra quero ficar.

Me prometeu bom salário, Ela muito inteligente,

Odília Nunes
E ainda décimo terceiro. Aceitou contraproposta.
Circo armado no terreiro, E eu lhe dei como resposta,
Com público bem solidário. Alegrar muito mais gente.
Dispensou meu comentário Sendo mais eficiente,
quando fui eu perguntar : Bandeira aqui ficar
“De que adianta enricar Pra mode colaborar
Nas faces do outro mundo?” Com o seu olhar fecundo,
Recusei em não profundo, Recusei em não profundo,
Na terra quero ficar. Na terra quero ficar.
As calcinhas de Maroca E o gato pode ser vento
Que sopra, balança, leva
No fim do ano passado Sem reparar nem no nome.
Soprou aqui no sertão
Um vento de assombrar Mariquinha por exemplo,
Expedito Valentão. Ama calcinha “surrada”
Saco, semente, antena Véia, “folote” na frente
Telhas do meu casarão A estampa desbotada,
Foi-se embora pelo ar. Os elástico “afolosado”
Mas o maior prejuízo, Se for furada melhor.
Foi todo de Mariquinha Mas como quem esconde paixão
Senhora deste lugar. Guardada numa gaveta,
Tinha dez calcinha nova
A casa de Mariquinha, Pra causa de precisão.
Fica no alto da serra.
Cercada pelo cruzeiro , As netas bem que tentaram,
Onde o “Minador” se encerra, Insistiram, reclamaram:
Foi levantada em oitenta, “Vó, que mania feia!

Odília Nunes
Maroca ali é contenta Imagine se alguém vê,
Não tem do que duvidar . Estes trapo que tu veste!”
Acorda manhã cedinho , Mariquinha nem ligava.
Se banha, troca a calcinha “Agora danou-se!
Escuta o galo cantar. Nem ligo
Calcinha nova eu só visto
Não sei se tu tem mania Se for pra ir num doutor!”
De guardar pra precisão,
Alguma especiaria, Roupa guardada por tempo
Roupa, dinheiro, pão... Logo tem cheiro de mofo.
É bom lembrar do recado Maroca sabendo disso
“quem com fome aqui guarda, Cuidava do seu cafofo.
O gato vem, leva e come.” Vez ou outra ela lavava,
Suas dez calcinhas nova Tamanha foi a agonia.
Depois de seca engomava Umas cinco pá de terra
Dobrava bem dobradinho Tirou de dentro de casa.
E quem cobre seu passarinho Sacudiu, lavou , limpou,
No guarda roupa guardava E inda hoje tem sujeira,
Em cima da “cumieira”
No vinte e quatro em dezembro Porque lá não alcançou.
Mariquinha resolveu
Lavar as suas calcinhas No meio da arrumação
E no varal estendeu. Se deu conta do perdido.
Quando pendurou as dez, Correu pro “mei” do terreiro
O céu todo escureceu Na esperança de havido,
“Corre e guarda as galinhas, Restado ao menos uma
Para nada acontecer Enganchada num angico.
Chuva boa ali vem vindo Porém nem os “pegador”
Fizemos por merecer!” O vento deixou ficar,
Imagine dez calcinhas
A alegria findou cedo Nova, lavada, limpinha

Odília Nunes
Pois a chuva era um tornado . Se ele num ia levar?
Vento que nunca vi,
Brabo, ligeiro, pesado . Procurou de serra abaixo
Forte redemoinho, Nos telhados, nos “munturo”.
Assustando criancinhas, Dentro dos forno de lenha,
Bebo, marmanjo e avó A busca foi sem futuro.
Fechou portas e janelas Nada achou, ninguém viu.
Destelhou todas as casas O vento foi mais ligeiro.
Enchendo tudo de pó. Por isso se você guarda
Feito Maroca escondia
Três dias depois do vento Entenda que o agora,
Mariquinha inda tremia. É o nosso melhor dia.
Faltou reza pra rezar
Amantes Com carícia sensual e provocante,
Cada gota acarinhava sua amada.
Observando hoje percebi, Nenhuma parte ali se foi negada,
A natureza sedutora e provocante. Tudo para ela era importante.
E creio pelo que vi,
A terra tem a chuva como amante. De repente por orgasmo se explodia
E cada palmo da terra foi molhado,
Não fizeram questão de esconder, Em gozo profundo e partilhado,
E o coito se fez na minha frente. No riacho era sêmen o que corria.
Como um verso ligeiro, de repente
Que simples ali eu vi nascer. Abraçados sendo um só foram parando,
Com delírios excitantes que se findam.
Começou no entardecer se colorindo, Calmaria por hora era bem vinda,
Os cabelos das árvores balançando, Até um se bulir recomeçando.

Odília Nunes
Em perfume de flor embriagando,
Terra fêmea de tesão foi se vestindo. Devagarinho em recomeço ela roçava,
E a chuva de mansinho respondia
Não tardou para a chuva ali chegar Tudo de novo e mais ela queria,
Devagarinho lambendo a sua musa. E a chuva dava e ela bebia.
Que não poupa e também a língua usa,
Espalhando gemidos pelo ar. E a noite se fez então gigante.
Ora forte, intenso, ora era manso.
Mas juro que não vi ali descanso,
Pois amar tende a ser embriagante.
Mátria Das coisas bonitas que vi

A Mãe Terra gesta, pare e alimenta Do Uaupés ao Içana


Cadê teu sagrado, criatura? O desenho das pedras
Preparam esse corpo, essa mente, esse espírito Igarapé-Açu
de colibri O sono dos pássaros
Num longo ritual de passagem Iauaretê e Daburu
Para gestar, parir e alimentar O voo dos peixes
Mas a gente gesta, pare e alimenta o que tem Caminhar em família
que ganhar o mundo: O respeito da cobra
Ressentimento, fluídos, raiva, sólidos, carinho Criança na anca
Até mesmo gente Sombra da embaúba

Paula Santana
É aí que nasce o perigo O sagrado do rio
Mas também a salvação


Água e fogo O rio de águas escuras é um caminho

No Alto Sertão do Pajeú Depois de Cucuí


Eu encontrei uma xamã maya Entre o Uaupés e o Papuri
Ela me ensina sobre a ioga e a força do Onde faz a curva o Tiquié
kundalini Um igarapé
Eu saio desses encontros com os chakras e o Riacho mágico que corre dentro da mata
coração em paz Do lado de cá do Equador
Quando terminei o rodopio em torno do sol Zarabatana não é brinquedo de criança
A mestra me preparou um temazcal Com terçado na mão
Água e fogo Para proteção e celebração
Pedra e vapor Ueneyá é um caminho
Peixes e Sagitário Que entranha na alma
De dentro da barriga da minha mãe eu escutei o Um mundo de gente, plantas e bichos vive aqui
grande espírito Maniva

Paula Santana
Senti cheiro de alecrim, tomilho e cidreira Cucura
Recebi um abraço quente Umari
Da beira do Rio Jauaperi Samaúma
A cutia passou de relance e sumiu na floresta Coca
Eu vi, senti e escutei a consagração dos seres Caititu
No tempo circular Cutia
As ancestrais, eu e minhas filhas Macaco
Ali eu estava pronta Paca
Evoé! Ahow! Epahey! Namastê! Tamanduá
Onça
Cobra
É preciso ensinar a menina dos olhos a ver as
bonitezas do caminho
Olhando ao longe e escutando
Há de se fazer silêncio para entender
Para Bianca Nota de falecimento

Conheci Bianca Close na boemia da Rua do Polícia


Lima e da Mamede, no centro do Recife. Toda Milícia
vez que a gente se esbarrava, Bianca elogiava Forças Armadas
meu modo de se vestir. Era sempre um canto Estado-nação
alegre que afagava a alma. Eu replicava a Herdeiros do patriarcado
gentileza. Bianca sempre usava colares e anéis Estado de poder
bonitos, mesmo que estivesse na correria Pátria assassina
guardando carros no sol quente. Ano passado, Dos corpos não conformados
estava eu tomando um café no Galo Padeiro
e ela gritou, com sua alegria de costume, que

Paula Santana
meu cabelo era maravilhoso. Ganhei o dia. Eu
estava cansada e frustrada naquela tarde.
Um dia juntei vários colares para lhe dar de
presente. Esses colares ainda estão em uma
caixinha dentro da mochila de viagem. Foi-se
mais uma luz irradiante das ruas da cidade de
rios e mares.
QUEM É VO CÊ? BOMBA DE MIL

a casa em catástrofe no centro de meu corpo


o entulho todo à mostra acendem o pavio
e a vizinhança quer saber: da bomba de mil

quem é você que colhe não é junho nem dezembro


a matéria dos altares cacos resquícios respingam
nos minúsculos vestígios nos vidros das janelas
dessas tempestades?
mais um sonho mal-dormido
vasculho itinerários ninguém fora vai ouvir

Raiça Bomfim
dispo trinta e três ausências essa palavra-íngua
fico inteira na varanda que eu não sei cuspir
olhos boca mãos boceta

anuncio:
eu sou a mulher alegre


D E R I VA Ç Ã O NA BEIRA D O RIACHO

o amigo sussurra o amor


os rios acodem é uma mala antiga
e escorrego na memória que esvaziei
das palavras de neruda na beira do riacho
daquele vilarejo
eu lia alto e sonhava onde passei minhas férias
com mãos que me lavavam
em noites de lua nova o que restou dali
a boca suja de terra
o amor era um murmúrio um regador de plástico

Raiça Bomfim
brotação de ervas três palavras úmidas
mas na casa em que vim e essa lágrima
morar com o homem que (não) acabou
não havia mais espaço de cair
pra um jardim
CAMBADA Q U E M PA R I U M AT H E U S

O amor: a mulher
aquela flecha que pariu matheus
de acordar comparsas, balançou o menino
de furar as bordas até as mãos
do destino. ficarem tontas
Se nos golpes da ilusão,
eu começo não teve remédio
a acreditar na solidão o enjoo
- esse mote de alianças que lhe assombrou
tenebrosas -, a fria ausência

Raiça Bomfim
cem mil gatas vagabundas dos cada quais
vêm em bando
me salvar. pegou seu filho
e fez um barco
onde naufraga e
balança
a mulher
que engoliu as ondas
Encontrei o fio de Ariadne O gosto do ausente
E teci paisagens metafóricas
Para enganar, em silêncio, Em meio aos escombros há uma montanha de papeis
O meu apetite infindável por dores esféricas Escalá-la é um dever solitário a essa altura
Abaixo dessas nuvens indiferentes Os papeis testemunharam dias de coração quente
Acima dessas ruas dinamitadas Testemunharam o tecer de teias antes visíveis
Experenciando o meu desencanto irresignado apenas à ignorância

Tatiana Dias Gomes


Em meio às certezas ocidentais Garfos, pratos e xícaras também testemunharam
Com meu torso quebrantado E agora fitam-me em tom de acusação e escárnio
Em uma cidade que pulula desigual
O beijo repelido alinha-se à dança das mãos agonizantes
Acreditei em ti, Drummond,
Acreditei que o beijo seria o sinal da ausência de
comércio a boiar em tempos sujos

A frase é repetida monotonamente, sem força


A negação não exige força
Exige um corpo ereto, uma cabeça que desvie e
um olho que petrifique quem pulsa

Não há como esconder o oco do interdito
O gosto do ausente trava a minha língua
E me aparta da fome
Da fome que movimenta a busca
No caminho pra Uauá Sendo feita de chuva
Precipita
Ressinto-me das serras e das cabras Erode
As serras não prestam contas de suas curvas Inunda
Ninguém diz às serras: “Isso não é normal!”
Podem ser tortas à vontade Sendo feita da sal
As cabras não prestam contas de sua pressa Preserva

Tatiana Dias Gomes


Ninguém diz às cabras: “Esperem o tempo Caldeia
passar.” Desajusta
Podem correr com liberdade
E o meu corpo, onde habita o desatino, anormal Sendo feita de espera
e apressado, é queimado pelo sol. Mastiga
Arqueja
Esmaece

Chuva, sal e espera levam-na à sala


Onde está sentada a que veio antes
E segura uma pequena mala
Abre-a e mostra-lhe o escondido acervo de
rompantes
Profundeza Pertença

Já não me precipito Há lugares que não me deixam partir


Nem estou a toda calma que me arrebatam em seus cantos
Despi minh’alma me espalham em suas ruelas
Engrenei andanças. e me pedem pra ficar
Estou de partidas
Superando colisões Há lugares que cabem dentro de mim
Transpondo fronteiras porque preenchem meu existir
Rasgando receitas. e tecem fios de memória
Vou compondo minha história outrora disseminados
Já não possuo superfície
Sou toda profundeza Há lugares que se instalam
e me adentram
como ostra na pedra
fi(n)cam mesmo quando não estou
Há lugares que em mim habitam

Tereza Sá
e me povoam do que já sou


Borboletear Solidez

Se casulo me permito Sou além do que sinto


É porque sei o quanto Sinto além do que vejo
Tenho de infinito. E bem próximo do meu medo
A beleza de ser acre-doce vejo a ginga certeira
Nutre-me profundamente Sou mulher- alvenaria
Sou Sá- Sou sã Sustento o que projeto
E se casulo já fui E me edifico em condição ascendental
Hoje mais que borboleta, Sou mulher negra
Sou luz De corpo e espírito
Refaço minha história todos os dias
Tecendo sonhos
Rolando os dados
Lançando dardos
Jogando os búzios
E reconectando o feminino que há mim

Tereza Sá
Bicho-fêmea Sei que o simples é mais fácil e, portanto, seria
inteligente só ser. Mas neste momento, há uma
Estou aterrissando. voltando agora e desde enxurrada de silêncios que me divagam. Sinto-
que cheguei há algo diferente em mim. Um me etérea. Estou aprendendo a juntar os
misto de secreto e proibido a cismar e embora átomos de mim mesma. Espalho-me, pois já não
extremamente feliz, sinto-me angustiada, pois me caibo.
não (re)conheço uma nova mulher em mim. Tantos desejos vigiam meus pensamentos.
Há um misto de contentamento, satisfação e Quando as sensações se precipitam, o que
medo. E agora, como direi todas as palavras digo a este corpo? Não me desespero, mas
costumeiras, os questionamentos corriqueiros, o não me transbordo em calma, nem paciência.
grito desabusado? Sei que tudo está diferente: Algumas urgências vão se consumando, outras,
a música é a mesma, mas há uma nova dança. se resguardando para o momento exato. Estou
Inexplicavelmente muitas palavras passaram inundada e como não sei nadar, tenho receios.
a ser doces, respirar tornou-se um ato de Receios por esse estágio de lucidez e por
autorreconhecimento e sorrir é uma satisfação entender que a brevidade de tudo é inevitável.
recorrente. Não sei em que me transformei, mas Sou bicho- fêmea e não aprendi a esperar. Meu
embora goste desse novo jeito de ser, confesso corpo ainda arde e já não adormeço tão fácil.

Tereza Sá
que a maturidade me assusta. Não sei se serei
para sempre assim, aliás, já não sei de muita
coisa. O inesperado me ronda.
Suficiente ESPELHO

A dor me amadurece OUVI O RIO


Minha delicia está em recompor-me O RIO OUVI
A vida me vem em grãos que EU VI O RIO
Me emprenham, NO RIO ME VI
Me edificam EU RIO
Me regeneram ELE RI(-ME)
Não sou mulher de meias palavras RIO DE MIM
Nem de fino trato MAR DE NÓS
Se me precipito,
Não desabo
Mas se me desmorono,
Me refaço
Não me justifico, nem me explico
Não sou dessas, nem sou nenhuma
O que não posso reter,

Tereza Sá
De mim já se esvaiu
Nadar, eu não sei
Mas voar, aprendi faz tempo...
Aborto Cobiça

Minha primeira memória de borboleta Meu poema não me quer por perto
é mantê-la dentro da lata me tem vazio, frio, deserto
às vésperas do voo e tanto que me cobiçou
ainda florlagarta. vadio, entregue, eterno.
O dia a mataria primeiro Despreza agora minha curta vida de borboleta
não teria fevereiro, não me quer poema.
não teria mais nada, Miséria de menina é acabar a brincadeira
salvei-a do caos, me mandou entrar, largar no meio meu banho
mantive-a intacta de mangueira…
pré-borboleta morta dentro da lata. Não me quer o poema,
logo eu, etérea menina desperta do sonho de
uma vida inteira
também não o quero,

Vânia Melo
só de birra, não me entrego
até meu próximo voo suicida.
Largarei minhas asas, voltarei lagarta pra vida
recém-morta, mal parida borboleta, vazia
desmemoriada de liberdade, prenhe de agonia.
Serei minha poesia, cobiçarei a mim
borboleta sem asas, serei meu jardim.
De Mar Poema para andar pelas
veias-ruas de nos sas vidas
Sonhei que atravessava o mar
Acordei sorrindo por dentro, cantando baixinho, Quando Exu, dono dos caminhos,
tecendo versos. trilha conosco uma única vez,
O mar nos habita nunca mais trilhamos sozinhos!
Ele é um vestido de luz azul e prata
que o axé costura com ternura e força
pra vestir de amor suas filhas.

Vânia Melo
Danada Um conto de poema

Tô tentando não fazer poema, Uma das maiores sortes da minha vida é não
mas me inscrevo nisso que demito, saber fazer cálculos...
Porque quanto mais evito, Desde menina, nunca soube contar. Aprendi
mais recebo e me complico com as letras a mensurar os tempos, cadenciar
Me vejo acuada, pressinto meus ritmos, entender os prazos em que eu
enquanto tento não fazer mais nada, devia permanecer num dado lugar. Aprendi a
Tudo o que aceito briga comigo deixar para as letras a tarefa de guardar cada
Inconsequente, consinto. número com o qual nunca consegui conversar.
Permito Não me permito, desde a cabeça até os pés,
Comigo passando pelo umbigo, nada que me fira
Umbigo qualquer um dos sentidos, sigo...
Danada! Deixei com alguma dificuldade o que era
Prevejo preciso, caminhos, pés, narcisos... deixei que

Vânia Melo
Iminente alguns números sozinhos se contassem, que
Desisto levassem o que quisessem consigo, mas que
Doente me deixassem em paz, comigo... Chega de
Tentando contagens e calendários, vamos ao amor que
Presente de tão bonito é impreciso, talvez por isso tão
Poema necessário.
Quente
Rente
Te
E...
Andrômedra Astro

Estive acorrentada às rochas Minha pele envolve-se na noite;


Que à minha carne insólita Adorno-me em arrecifes de estrelas;
Foram talhadas. Teço a carne imberbe em limos cintilantes;
E pertenço a ti, que nas fibras de meu
Aprisionaram-me a alma em calcários. pertencimento;
Eu, fêmea-abrupta, Aloja-se astro, em morada.
Tentei desvencilhar-me ao encalço
De uma noite profunda. Meus pés findáveis tateiam a infinitude das Eras;
Regresso ao teu leito como uma Adhara
Desejaram manter-me cativa flamejante;
Em minha própria floresta. E de todas as amantes,
Esqueceram-se de que abrigo Reivindico os domínios do teu Céu.

Yasmin Morais
Os portais de Eubeia.
Meu corpo agarra-se a vestígios de tua poeira
Sou a mítica criança, cósmica;
Esculpida em mármore negro. Tu, que te vais sem hora,
No brandir indômito dos desejos E me deixas rainha-absoluta,
Edificarei o meu reino. Nos átrios de estrelas nuas;
Assento-me rainha dourada Cadentes; clementes, de um zelo insone,
No trono de uma terra queimada. E insolente.

Sou das fêmeas que alçam voo Aguardo o regresso, eclosões no Infinito,
No chifre da África. De teus lábios, famintos — às bordas de minha
galáxia.
F O G O E O R VA L H O

À relva, Cetim e Gardênias


Margaridas e Magnólias Para o último ato.
Adormecem em meu regaço. Retornarei às minhas Terras,
Deito-me absorta de mim mesma O próprio Deus empossado.
Neste leito floreado.
Ele extirpa-me a vulva,
Labaredas pueris Usurpa a mulher de si mesma,
Emergem-me dos quadris. Usurpa-me de mim mesma,
Das flores, E destrói.
Despetaladas e primaveris,

Yasmin Morais
Oferecerei groselhas Aplaca cruelmente a beleza das minhas flores,
Às damas ocultas na Psiquê. Despedaça os arbustos de meu pessegueiro.

Desbravo anfiteatros Pisa-me,


No Útero das Eras. E mutila,
Ponho-me primadonna, O destro seio de Amazona destemida.
A estrear a última peça.
Ateio fogo nos palcos, Ele usurpa-me a coragem,
As flores jazem ermas. Fragiliza para sempre,
O eu de mim.
Regresso às avenidas,
Afago queridas estrangeiras.
Ao pé da macieira
Velarei fúnebre
A mim mesma.
ASCENSÃO

Minhas pernas estão abertas, inclino a pélvis Minhas pernas estão abertas, e tu não desejas
para a noite escura. Elisa. Sequer vês seu reflexo em meu espelho-
Minhas pernas estão abertas, deito-me sobre entrada.
os lençóis onde rotineiro, possuías o que flui Minhas pernas estão abertas, haverei de afogar-
debilmente de minh’alma quebrantada. te em meus oceanos?
Minhas pernas estão abertas, a vagina está Oh, ousado servente a servir-se de Néctar e
exposta no altar dos teus piores cometimentos, Ambrosia, sinta as tuas carnes queimando, em
e tu, que amas minhas fendas, mergulha peixe- agonia.
intruso, nos rios mais límpidos do que teu falo, As pernas permanecem abertas. Tu queimas.

Yasmin Morais
imundo. As pernas permanecem abertas. Tu queimas. Tu
Minhas pernas estão abertas, e tu tentas queimas nas estalactites, oh, prisioneiro de meu
escavar-me a vulva em lágrimas; acaso, orgasmo.
fantasias que sou eu a tua Elisa casta? Teu falo é dilacerado.
Minhas pernas estão abertas, há rios fluindo- Mas, minhas pernas permanecem
me do ventre, calores no topo de Vênus, faíscas ABERTAS.
incendeiam-te os olhos; o teu desejo esvoaça
sobre os pêlos de meu púbis.
Ficha Técnica
A Luz Bárbara (PB/SP). A artista paraibana Bárbara Santos Daniela Galdino (BA) Poeta, Performer, Produtora Cultural.
Sobre as Escritoras
apresenta-se na performance, na poesia e no mundo Publicou “Espaço Visceral” (Ed. Segundo Selo, 2018),
digital como A Luz Bárbara. É atriz de carreira, atuou no “Inúmera/Innumerous” (edição bilíngue, tradução Brisa Aziz,
cinema e no teatro paraibano até migrar para São Paulo Ed. Mondrongo, 2017), “Inúmera” (1ª ed., 2011, 2ª ed, 2013,
em 2014, onde reside e desenvolve projetos coletivos e Ed. Mondrongo). Participa de diversas antologias literárias,
autorais. Em poesia, Bárbara escreveu e performou para dentre elas “Mulheres, Poetas & Baianas” (Ed. Caramurê,
o EP “Leve” de Marina Peralta, divide com Chico César o 2018) e “Cartografias/Mapa da Palavra_BA” (FUNCEB,
espetáculo “Camaradas - Fantasia para dueto, camerata, 2016). Idealizadora e Organizadora de Profundanças.
camarim, atentado e passeata”, e colabora em saraus Como performer, já atuou no cinema. Tem participado,
como o “Ciranda Jogo de Palavra” e o “Sarau do Peixe”, e como escritora convidada, de eventos de grande porte,
em shows de diversas artistas parceiras. tais como Flipelô (2018), Festival de Inverno de Garanhuns
(2018), FLICA (2017).

Bárbara Uila (BA) é mulher, baiana, poeta, atriz, arte Ezter Liu (PE) é escritora. Transeunte da Zona da Mata de
educadora, produtora cultural, mãe de Bernardo e Noémia. Pernambuco. Participou de diversas coletâneas e em 2015
Autora de três livretos de poesia “Pelas Bárbaras do publicou pela Porta Aberta Editora seu primeiro livro solo
Profeta” (São Paulo - 2012); “Rosa dos Ventos” (Cachoeira/ o“Vermelho Alcalino”. Em 2017 foi a grande vencedora do
Ba - 2016) e “Histórias Forasteiras” ( Cachoeira/Ba - 2017); V Prêmio Pernambuco de Literatura com o livro de contos
todos publicações independentes produzidos e distribuídos “Das Tripas Coração”. Sua produção é parte da atual cena
pela autora. Idealizadora do projeto “Irmandade da Palavra: literária do Estado que em tempos difíceis insiste e resiste.
A Voz da Mulher no Recôncavo” e da pequena editora “
Cartonera das Iaiá”.
Francisca Araújo (PE) reside em uma comunidade rural
situada no município de Iguaracy, no sertão do Pajeú. Seus
Cynthia Barra (BA). Eu me chamo Cynthia, queria dizer. primeiros escritos começaram por volta dos 14 anos de
Pronuncio meu nome e deixo-o repousar no ar úmido da idade, hoje, participa de eventos de declamação e mesas de
noite. Grafia legível de meu corpo nascente e travessia glosas. Gosta de escrever sobre o cenário sertanejo, sobre
das águas. Eu me chamo Cynthia de Cássia Santos Barra, temáticas sociais e também sobre os sentimentos que sua
nascida a poucos metros de onde moro, agora, em Itabuna/ sensibilidade alcança. Já participou de duas coletâneas
BA. Escrevo como respiro. Trabalho na UFSB: ensino, poéticas e planeja a edição do seu primeiro livro.
pesquisa, experimentações do ver, poéticas do Livro. Meu
Ori é da doce Senhora, Saluba, Nanã.
Géssyka Santos (RN) nasceu em 1990. poeta que ama a rua Marina Melo (SP) tem 28 anos, nasceu em São Paulo e é
e a inquietude. Faz do origami um corpo e do café o sangue. cantautora. Isto é: ela canta o que escreve. Em 2016, lançou
Idealizadora do Café com Arte, Entrepeles, Dirocha Poesia seu primeiro disco, “Soft Apocalipse”, e em 2019 lançará
e Estados em Poesia edição Natal-RN. É autora do livro de seu segundo trabalho, que dessa vez se revela em canção
poemas Autópsia (publicado em 2019). e também em imagem. Marina também é pós-graduanda
em Canção Popular, com estudo sobre performance em
Itamar Assumpção.
Isabelly Moreira (PE) nasceu na cidade de São José do Egito,
sertão pernambucano. Iniciou os seus trabalhos como
declamadora. Autora de vários cordéis, incluindo títulos MonaRios (PE). Eu sou a Mona Rios. Sou estudante
voltados para a literatura infantil, Belinha, como também é e professora. 38 anos. Cearense de nascença e
conhecida, publicou em 2017 o seu primeiro livro intitulado ancestralidade; pernambucana e paraibana de coração,
“Canta Dores”. A poeta é produtora e integrante de projetos força e mente! Sou pisciana e sonho com uma Educação
culturais e musicais de qualidade e livre! Sonho com a garantia de direitos para
todes. Sonho com a liberdade das mulheres, em todas as
suas identidades. Eu sonho e luto e nós sonhamos e lutamos
Joana Velozo (PE). Nascida e criada no Recife, de mãe artista juntes! Eu escrevo com raiva e com ingenuidade, também.
e pai encantador de Curiós. Tem a arte e a criatividade por E que esses Rios comecem com suas andanças.
estilo de vida e a escrita como o fio condutor que dá sentido
a tudo. Apaixonada por botânica; estudou arquitetura no
Brasil e Ilustração na Espanha, onde reside atualmente. Mônica Menezes (SE/BA): nasceu em Lagarto, Sergipe, e vive
Mulher, estrangeira, artista. Cultivadora de silêncios e em Salvador há alguns anos. Publicou o livro de poemas
espaços vazios. Estranhamentos. É professora de Literatura Brasileira do
Instituto de Letras da UFBA. Mãe de Sarah Fernandes.

Jovina Souza (BA). Nasceu no estado da Bahia, mora


atualmente em Salvador. A poeta tem três livros publicados NegrAnória d’Oxum (BA) é o pseudônimo de Maria Anória
e participação em várias coletâneas, entre elas, Cadernos de Jesus Oliveira, baiana, doutora em Letras, docente do
negros números 37,39 e 41. Tem participado ainda, como Programa de Pós-Graduação em Crítica Cultural/UNEB.
convidada, em feiras literárias e outros eventos de literatura. Estreou nos Cadernos Negros em 2016. Ano seguinte
Define-se como uma poeta negra. que usa a palavra como publicou nas coletâneas: Mulher em Prosa, com o conto
mais uma estratégia de combate ao racismo. Contato: Divagações d’outrora; Mulher Poesia, pela Editora Cogito;
mbraw1@hotmail.com e facebook. Outras Carolinas: Mulherio das Letras da Bahia.
Odailta Alves (PE) nasceu do ventre da favela do Recife, é Raiça Bomfim (BA). Raiça move-se no campo das artes
escritora, educadora, atriz, mulher negra, filha de mãe e como criadora, produtora e professora, transitando entre
avós negras analfabetas, mestras de sua vida. É mestra em performance, teatro e literatura. É mestra e doutoranda
Linguística pela UFPE. Publicou, de forma independente, em pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas
2016, o livro “Clamor” Negro, que já vendeu 2 mil exemplares da UFBA. Coordena, juntamente com Olga Lamas, o
e, em 2018, lançou da mesma forma o “Escrevivência” e o território de articulações artísticas intitulado Gameleira
“Cativeiros de versos”. Artes Integradas. Tem quatro livros lançados - “10 Pontes”
(2011), “O que é uma casa?” (2012) e “12Lâminas” (2013),
os três em parceria com Vânia Medeiros e a Conspire
Odília Nunes (PE) é uma atriz e palhaça do sertão do Pajeú Edições – e “Sete saltos para se afogar” (2017), publicado
pernambucano. Atualmente vive numa comunidade rural numa parceria entre a editora Pipoca Press e o Festival de
onde desenvolve um projeto chamado NO MEU TERREIRO Ilustração e Literatura Expandido, além de ter poemas seus
TEM ARTE, a partir do qual leva espetáculos até o pátio da publicados nas Coletâneas “Outras Carolinas – Mulherio
frente das casas dos seus vizinhos. Escreve suas inspirações Da Bahia” (2017), da Editora Penalux, e “Mulheres Poetas e
em forma de poemas, contos, crônicas mas a a maior Baianas” (2018), da Editora Caramurê.
busca e paixão é colocar sua poesia no Teatro.

Tatiana Dias Gomes (BA), filha de Solange e de Pedro. Nasceu


Paula Santana (PE) é socióloga, professora, escritora, em Feira de Santana e lá viveu até os vinte e poucos. Hoje,
feminista e agitadora cultural. Da periferia do Recife, com 37 anos, mora em Salvador, mas antes passou por
buscou nas ciências sociais respostas para algumas Senhor do Bonfim e Rio de Janeiro. É assessora jurídica
inquietações e sentimentos ambíguos. Nessa vereda, popular e professora da Universidade Federal da Bahia, a
encontrou questões. Na contramão, estuda, edita e publica única mulher negra de sua unidade, a Faculdade de Direito.
zines e livros cartoneros. De andada, a estrada se tornou
mote. Atualmente morando no Sertão do Pajeú, a mirada
inventiva foi regenerada. Olhar periférico à máxima
potência. Busca ativa pela descolonização da mente, do
corpo, da alma e da poesia.
Tereza Sá (BA), mulher negra, Ilheense, filha de Tereza Soares Yasmin Morais (BA) é uma escritora e atriz baiana, discente
de Sá, que afirmava não ter “alisado o banco das Ciências”, em Comunicação na Universidade Federal da Bahia e ex
mas dotada de profunda sabedoria, e Eléus Leonardo de Diretora de Combate ao Racismo do DCE 2018 da UFBA.
Sá, professor de Esperanto, dos quais herdou a coragem de Em 2017, estreou no teatro com a peça De Ponta Cabeça:
encarar a vida e a paixão pela poesia. Professora, militante Baobá e tornou-se integrante do projeto literário Escritoras
do Movimento Negro Unificado, Poeta e Atriz. Graduada Negras da Bahia. Escreve para a revista QG Feminista
em Letras/Espanhol e Pedagogia (UESC). Especialista em na plataforma Medium. Em 2018, deu origem ao projeto
Leitura e Produção Textual e Educação e Relações Étnico- feminista digital, intitulado Vulva Negra. Integrante da
raciais (UESC). Mestranda em Ensino e Relações Étnico- antologia literária Tributo aos Orixás, publicada pela Darda
Raciais (UFSB). Participou do concurso de poesia da Revista Editora, a autora também possui um blog literário intitulado
Brasília, que lhe rendeu o prêmio da categoria “ destaque” Minha Doce Paranoia, onde publica seus contos, poemas e
e a publicação coletiva no livro Valores Literários do Brasil, crônicas.
Volume XV(1992). O sonho é seu maior patrimônio.

Vânia Melo (BA) nasceu e vive em Salvador entre-gue a


Oxum e seus cuidados. Graduada em Letras Vernáculas e
mestranda no Programa de Pós-graduação em Literatura
e Cultura, ambos pela UFBA. É professora de Literatura
e Língua Portuguesa. Em 2011, publicou seus primeiros
poemas na coletânea “Sangue Novo: 21 poetas baianos
do século XXI”. Especialista em História e Cultura Afro-
brasileira e guardada por Benedito Preto Velho, teve,
em 2012, poemas inéditos lançados na coletânea afro-
brasileira “Cadernos Negros – vol.35”. Em 2015 publicou
novamente poemas inéditos no primeiro volume da Revista
Organismo. Em 2018 lançou seu primeiro livro solo pela
editora Organismo: “Sobre o breve voo da borboleta e suas
esquinas” e segue escrevendo.
Álvaro Severo (PE). é cria dos Sertões. Andreza Mona (BA) é a versatilidade em
Jornalista graduado pela UFPE. Contribui pessoa, como boa geminiana que é.
com imagens para diversos jornais, Mulher negra, essa soteropolitana quer
revistas, livros, mostras, mídias digitais e ter o mundo como quintal de si. Fotógrafa,
bancos de imagens. Dedica-se em facilitar videomaker e social media, formou-se em
oficinas de despertar do olhar fotográfico Comunicação Social pela Universidade
e cinematográfico com membros de Estadual de Santa Cruz, e em seus
comunidades isoladas e vulneráveis. Participou de debates trabalhos busca a valorização da mulher, da cultura afro
durante o festival de cinema de Contis/França, no CES diaspórica e luta por um mundo mais igualitário. Em 2017
(Centro de Estudos Sociais), Universidade de Coimbra e criou o projeto “Elekô: um processo de descolonização
Casa do Brasil em Lisboa/Portugal. Algumas experiências da mulher negra”, que levanta uma reflexão sobre a
cinematográficas: O som da luz do trovão – 2005, Na identidade da mulher negra através de uma narrativa
quadrada das águas perdidas – 2010, O gigantesco imã – visual, destacando aspectos sobre as formas de expressão
2014, Manchik – 2014, Luanda, em Preto e Branco - 2015, identitária e orgulho dos cabelos e traços corporais.
O silêncio da noite é que tem sido testemunha das minhas

Sobre xs Fotógrafes
amarguras - 2016, Nova Iorque - 2018.
Ângelo Azuos (PE). “Fotografar tem sido
minha profissão há oito anos. E por meio
Analu Nogueira (BA). Fotógrafa nascida deste ofício, exerço umas das maiores
e baseada em Ilhéus - BA, 25 anos. paixões. Já fotografei de tudo: objetos,
Graduanda em Comunicação Social - lugares, espetáculos, comida..mas foi com
Rádio e TV pela Universidade Estadual pessoas que me encontrei na fotografia.
de Santa Cruz. Atuo como fotógrafa em Além disso, fiz alguns freelancers (sempre
Ilhéus e região; acompanho grupos de voltado à fotografia) com audiovisual: entre os mais
pessoas em viagens, documentando importantes, pra mim, “ O Bem virá”, meu primeiro longa
vivências e relações interpessoais. Além disso, faço metragem produzido no Sertão de Pernambuco (Afogados
freelance em eventos institucionais e sociais. Nos últimos da Ingazeira) minha terra.
anos, venho me dedicando a estudar e trabalhar com Flikr : https://www.flickr.com/photos/azuosxfotografias
retratos femininos, de casais e de família. Site profissional: Instagram : @aazuosx
www.analunogueira.com.br
Brenda Matos (BA), 26 anos, atualmente tações e questionamentos. A fotografia entrou em sua
se encontra fotógrafa, comunicóloga vida cedo e se transformou em uma forma de observar
e produtora audiovisual. Formada em e possível para se expressar. Acredita na necessidade
Comunicação Social pela UESC, sempre de um mundo de uma outra forma para alcançar as
teve na veia e no coração aquele instinto mais diversas possibilidades de existência. Reivindica-se
de empreender e assim seguiu criando comunista, busca no passado e no presente os passos das
projetos e tirando suas ideias do papel mulheres na construção de nossa história e da mudança
para a vida. Criou em 2016 o projeto EUNUA - para trabalhar necessária. Com as surpresas que é estar neste mundo,
o empoderamento das mulheres através da fotografia, segue construindo novas relações com a fotografia, às
naturalizando o corpo feminino através do nu artístico. Hoje vezes com lastros do que já foi.
se encontra imersa numa antiga paixão chamada: café. E
utiliza de todas as suas ferramentas audiovisuais para dar a
potência que seu negócio itinerante de café especial precisa. Fafá Araújo (BA). A trajetória do pedagogo
e fotógrafo Fafá Araújo é marcada por sua
vasta experiência no campo da militância
Diego Mallo (Espanha). Espanhol, formado por questões raciais. O seu interesse pela
em Belas Artes pela Universidade de fotografia apareceu depois que tomou
Barcelona com extensão no Reino Unido. consciência da necessidade de pensar
Artista visual e ilustrador; trabalha em a construção de um discurso imagético
editorial, imprensa, publicidade e infantil. que contemplasse a existência do negro sem estereótipos,
Selecionado em 2018 e 19 na Summer entendendo também que a beleza negra deve ser exaltada
Exhibition da Royal Academy of Arts a fim de garantir que negras e negros se amem.
(Londres, UK) e na exposição de ilustradores da Feira de
Bolonha em 2019. Ministra cursos de ilustração, desenho e
criatividade em diversos centros de formação artística em Laís Catalano Aranha (SP) artista visual
Barcelona. que trabalha principalmente com
mídias baseadas em lentes, como
fotografia, vídeo e arte multimídia. Sua
Eline Luz (BA), nascida em Itabuna, aos principal pesquisa é direcionada para
28 anos é uma forasteira em Vitória da o intercâmbio de linguagens artísticas
Conquista. Formada em Comunicação e como elas podem influenciar-se
Social (UESC), no momento comunicado- mutuamente para criar trabalhos interdisciplinares que
ra no cotidiano e fotógrafa nas experimen- tragam um tom político e reflexivo do tempo em que vive.
A dança, a música e a performance têm grande influência Mariana Souto (PE), 28 anos, é uma
no seu processo criativo. Formada em Comunicação Social fotógrafa olindense, graduada em
pela ESPM, SP, 2008, passou por uma temporada em Nova Odontologia pela Universidade de
Iorque, EUA, onde estudou fotografia e arte contemporânea Pernambuco (UPE), que exerceu a
na School of Visual Arts e New York University e teve a profissão de dentista por apenas um ano
oportunidade de trabalhar no mercado norte-americano e decidiu ir em busca de um ofício que a
antes de fundar o próprio estúdio em São Paulo, onde vive permitisse dar vazão à criatividade que
e trabalha atualmente. transbordava pelos poros. Apenas em 2018, a fotografia
deixou o lugar de hobbie, que já ocupava há cinco anos,
para se tornar profissão. Atualmente, trabalha e vem se
Luísa Medeiros (RN). A fotógrafa Luisa especializando em retratos
Medeiros dedica toda sua vida à
construção de uma comunicação
multiplicadora de vozes de novos Mylena Sousa (RN/SP). Demorei a entender
protagonistas. Possui um projeto intitulado minha relação com a fotografia, sempre foi
“O Belo Disforme”, no qual retrata por algo tão presente que inconscientemente
meio do nu artístico a beleza existente internalizei a ideia de que meu olhar tinha
em todos os corpos. “Enquanto eles vendem as formas que força. Aprendi a respeitá-lo; gosto de
nos enquadram, enquanto eles capitalizam o padrão... eu colecionar memórias, usar a fotografia
socializo a beleza”. como poesia, reafirmando a beleza na
maneira como enxergo a vida e os encontros.

Maria Ruana (PE). Maria Ruana é fotógrafa


há mais de 10 anos, tem pós-graduação Nathália Miranda (BA), 34 anos, fotógrafa
em Geopolítica e história na FIP e estudou radicada em Salvador-Bahia, atuando
fotografia na UFPE. Entre os trabalhos também no campo do cinema. É bruxa
culturais, destacam-se as exposições e mãe de 3 gatos. Costura e plantas são
fotográficas “Cotidiano” na UFPE e “Depois suas paixões. Trabalha profissionalmente
que a feira termina” no Sesc-Triunfo. Atua como fotógrafa há dez anos. Os trabalhos
com ensaios pessoais e cobertura de eventos em geral. que participou foram selecionados em
Instagram profissional @mariaruanaphotography. diversos estados brasileiros. Como fotógrafa realizou
expedições fotográficas pela Bahia e pelo Brasil, formou
extenso banco de imagens de suas festas e manifestações
populares, culturais e religiosas. Possui vasto trabalho Sarah Fernandes (BA). Nasceu em
autoral, artístico e experimental. Atualmente desenvolve Salvador. É formada em Comunicação
linguagem em investigações fotográficas relacionadas ao Social e trabalha como fotógrafa e
universo do sagrado feminino. designer. Teve fotos publicadas nos livros
“Estranhamentos” (Editora P55, 2010) e “O
chão que em mim se abre” (Penlux, 2016).
Nathália Tenório (PE). 22 anos. Fotógrafa.
De Brejão/PE. Atualmente residindo no
Recife/PE. Artista de um olhar político Sílvia Leme (BA). Artista Visual, inspirada
em constante processo de mudança e por singularidades do cotidiano e afeto,
aprendizado. Buscando sempre experi- encontrou na Cachoeira - BA solo fértil
mentar o simples e o natural das coisas. para florescer a sensibilidade. Professora
@nathaliaftenorio e aprendiz, a fotografia se tornou a
linguagem com que melhor traduz seus
sentimentos e sobre o que melhor divide
Renata Pires (PE) é fotógrafa residente conhecimentos. Trabalha especialmente com projetos
em Arles, França. Integrou o Programa artísticos e culturais brincando com a luz na fotografia e
de Residência de Pesquisa e Criação na audiovisual.
ENSP Arles (2015-2017) e está finalizando
o mestrado de Práticas de Exposição
na Escola de Belas Artes de Nîmes. Sua Tacila Mendes (BA). Concebida no
abordagem artística busca compreender antológico carnaval de 1985 e nascida
as diferentes questões em torno da representação do self, escorpiana, é filha das águas de Ilhéus.
o self feminino, sob o prisma da colaboração. Através do Formou-se em Rádio e TV pela UESC,
encontro com mulheres ao seu redor, auto-retrato em seu onde também fez especialização em
sentido mais amplo surge como uma forma de escrita e de Audiovisual e em Gestão Cultural. Há dez
contar histórias. Esses encontros levantam questões pessoais anos respeitou um insistente chamado
e íntimas, inerentes à diversas questões humanas e femininas. interno para atuar na divulgação de uma narrativa positiva
para a Cultura e para as áreas sociais na sua região.
Assim, desde 2009 vem trabalhando em assessoria de
comunicação e no marketing cultural de diversos projetos
socioculturais. Atuou na Ascom da SECULT Bahia, em
Salvador, e hoje é gerente de Comunicação do Instituto
Nossa Ilhéus. Embrenhou-se pela música e nela atua Sou Yalli Borges (PE), sou estudante
como cantora no grupo Mulheres em Domínio Público, mas das ciências das naturezas, aprendo a
também compõe para projetos particulares. Inventou um fotografar instantes pelo encantamento,
curso de fotografia para iniciantes (Mão na Máquina). pela doçura e por me manter em
equilíbrio. Registro as sutilezas do “ser”
que vive, que se expressa cotidianamente,
Tom Correia (BA) nasceu em Salvador. silenciosamente ou até politicamente... E
Escritor-fotógrafo com formação em já tem um tempo que a fotografia me captura, já tem um
jornalismo, possui diversas publicações tempo que eu busco me revelar, já tem um tempo que os
e uma trajetória híbrida que envolve instantes se eternizam em mim também.
projetos em fotografia de rua e literatura.
Além de ter publicado os volumes de
contos “Memorial dos medíocres”, “Sob
um céu de gris profundo” e “Ladeiras, vielas & farrapos”, ele
já participou de residências no Instituto Sacatar (Itaparica)
e no Hangar Centro de Investigação Artística (Lisboa).
Sua série “UnBlack Lisbon – A invisibilidade do negro na
fotografia portuguesa” foi apresentada no 2º Colóquio da
Fotografia Baiana e fez parte de exposições coletivas. Foi
curador da Festa Literária Internacional de Cachoeira por
duas edições. Mais: www.tomcorreia.com.br

Me chamo Uiara Moura (BA). A fotografia me


escolheu quando eu tinha 18 anos e não
fugi, fui atrás de conhecimento e quando
me vi, já estava morando sozinha na
grande São Paulo, logo eu, que nunca havia
pensando em sair da casa dos meus pais,
muito menos aos 18. Hoje, com 35 anos sigo
a minha saga de aprender mais e mais porque acredito na arte,
acredito no seu potencial da mesma para o movimento social.
A minha arte continuarei mostrando através da fotografia.
Sobre a Fotógrafa Homenageada
(capa, páginas-guia, páginas de transição)

Nátali Yamas (BA) é itacareense, filha das folhas e das


águas, uma jovem mulher negra que (r)existe através das
artes. Bacharela em Comunicação Social (UESC), atua
como fotógrafa e produtora audiovisual independente,
empreendedora autônoma na Yamas Fotografia (@yamas.
foto), visa com o seu trabalho o fortalecimento da identidade
e representatividade, reconstruindo narrativas visuais sobre
seu povo, sobretudo, sobre as mulheres negras.
Designer - Otávio Rêgo (PE) Recifense,
arquiteto não praticante e publicitário
por mais de duas décadas. É especialista
em Design pela UFPE, e desde 2017 está
Organizadora/Produção assessor de comunicação em um mandato
Daniela Galdino (BA) popular na câmara municipal do Recife.
Sobre a Equipe de Produção

Produção - Edson Bastos (BA). Especialista Assessoria de Imprensa - Elisiane Matos (BA).
em Audiovisual pela UESC (Ilhéus-BA) Elis Matos é “cria” da Universidade Estadual
e Graduado em Cinema e Vídeo pela de Santa Cruz, licenciada em Filosofia
FTC (Salvador-BA). Curador do FECIBA – e bacharela em Comunicação Social,
Festival de Cinema Baiano (06 edições); especialista em Gestão Cultural e mestra em
diretor do curta Joelma (Melhor curta eleito Linguagens e Representações. Pesquisadora,
pelo público no Festival Mix Brasil 2011). cronista e palestrante feminista, lançou a tag
Produtor Executivo do curta O filme de Carlinhos. Dirige o #ondeofeminismomechamaeuvou e vai! Aprendeu a sonhar
longa Dr. Ocride e desenvolve o longa Joelma (Prodav 05). uma vida justa até as últimas consequências…
No Teatro, dirigiu Joelma (Argentina e Alemanha e mais 200
apresentações no Brasil). Sócio-diretor da Voo Audiovisual.
Assessoria de Imprensa - Iajima Silena (BA).
Mulher negra, candomblecista. A despeito
Produção - Henrique Filho (BA). Graduado da desigualdade racial e social é
em Comunicação Social na UESC primeira pessoa da família materna a
(Ilhéus-BA). Dirigiu O filme de Carlinhos acessar o ensino superior e se formou
(2014) - mais de 30 festivais nacionais Comunicóloga (UESC). Natural de Itabuna,
e internacionais, participante da Short reside em salvador onde atua como
produtora audiovisual e teatro, dentre outras ações. Se
Film Corner do 68th Festival de Cannes,
interessa por arte e cultura e em especial pelas criações
indicado ao Grande Prêmio do Cinema
artísticas e culturais do povo negro nas Américas. Deseja
Brasileiro e vencedor de 08 prêmios, incluindo Melhor Filme,
ter um exercício profissional comprometido em disseminar
Melhor Direção e Melhor Ator no Curta Vale 2014, além de
o entendimento sobre a diversidade social, sexual, étnica,
Melhor Filme de Ficção no 4º Macaé Cine, Melhor Curta de
religiosa e de gênero, pois sabe da importância desse
Ficção no I Festival de Cine de los Cerros Valparaíso 2014
reconhecimento para a garantia de direitos e bem estar
(Chile). Sócio-diretor da Voo Audiovisual.
das maiorias sociais historicamente excluídas.
Assessoria de Imprensa - Lucirley Alves (PE). ou colaboradora voluntária. Atualmente ela é graduanda
É jornalista e professora. Atualmente em Comunicação Social na UESC (Universidade Estadual
está cursando Doutorado em Letras pela de Santa Cruz) e tem como objetivo trabalhar na área do
Universidade Federal de Pernambuco cinema. Também atua como modelo.
(UFPE), onde também exerce a função de
professora substituta. Nos últimos anos,
prestou assessoria de comunicação para Redes Sociais - Laísa Eça (BA). Produtora
projetos culturais, como o TeArte, o Visto o que é meu!, Studio e cantora, graduada em Comunicação
Tear e a Mostra Mundaú de Canções. Tem atuado junto à Social pela UESC, Ilhéus-BA. Ainda durante
Aldeia Tear - coletivo de artistas do agreste pernambucano. a graduação, começou a se interessar
pelo trabalho na área da cultura, cantando
em shows, espetáculos e performances
Assessoria de Imprensa - Duda Viana (BA) é uma em diversas cidades do interior da Bahia.
multiartista graduada em Rádio e TV (UESC- Atua hoje na capital baiana como produtora de audiovisual
BA). Migrou para São Paulo (2015) para e de projetos culturais. Desde então, acumula experiências
estudar Cenografia e Figurino na SP Escola de trabalhando em projetos como festivais de cinema e festivais
Teatro. Entre 2016 e 2018 com o Coletivo Solto multi-artísticos, curta-metragem de ficção, documentários,
desenvolveu Ador-Ador, uma peça teatral séries para TV, videoclipes, espetáculos de dança e teatro e
performativa acerca de relacionamentos mais recentemente vídeos para ensino à distância.
abusivos. Esse mergulho artivista lhe proporcionou convites para
colaborar em outros grupos teatrais debatendo feminismos e
reacender um antigo interesse: a fotografia. Agora, como um Bibliotecária - Eva Dayane (BA). Eva Dayane
meio de retratar a presença/ausência da mulher cis e trans Jesus dos Santos é Mestranda em Ciência
em espaços políticos/artísticos, como na Manifestação das da Informação pelo Instituto de Ciência
mulheres contra Bolsonaro no Largo da Batata e o 1º Festival da Informação na Universidade Federal
Transversalidades da Casa Chama (SP).. da Bahia (UFBA). Especialista em Gestão
Governamental pela Universidade do
Estado da Bahia - UNEB (2015). Bacharel
Redes Sociais - Dandara Galdino (BA). em Biblioteconomia e Documentação pelo Instituto de
Dandara nasceu em Itabuna, uma cidade Ciência da Informação na Universidade Federal da Bahia
sem muitas opções de lazer e cultura, (2010). Atualmente atua como bibliotecária na Biblioteca
porém isso não a impediu de se inserir em da Faculdade de Arquitetura na Universidade Federal da
Bahia. Tem experiência com formação de auxiliares de
produções culturais como observadora
biblioteca. Colaboradora de Profundanças desde 2017.
Agradecimento ao Ilê Axé Nzo Dandalunda Omo Ofarogy Axs Funcionárixs do Parque São Bartolomeu - Salvador (BA) -
(Itacaré-BA) na pessoa de Mãe Nanganze (Dona Neuza) por pela colaboração ao ensaio de Vânia Melo.
permitir a realização das fotografias na Festa de Iemanjá
2019 (que renderam essa homenagem à fotógrafa Nátali Fran, pelo afeto que ensina um corpo a se deixar amar
Yamas) e ilustram a capa e páginas de transição do pelo olhar; Josane Santos Mendes (dona Jô), pelo afeto que
Profundanças 3. encoraja o ensaio fotográfico de cynthia cy barra.

Álefe Albuquerque (assistente de produção, make) pela Larissa Batista (produção artística) pela colaboração ao
colaboração ao ensaio fotográfico de Odailta Alves. ensaio de MonaRios.

À comunidade do bairro Santo Amaro (Recife-PE) pela Luan Bencos pela presença luminosa e afeto no ensaio de

Outros Agradecimentos
resistência e colaboração ao ensaio fotográfico de Odailta Teresa Sá.
Alves.
Ébano Bencos pelo afeto e presença imaterializada no
Devyd Santos (assistente de produção) pela colaboração ensaio de Teresa Sá.
ao ensaio fotográfico de Isabelly Moreira.
Luiz Carlos de S. Santos, pelas contribuições valiosas antes e
Dona Maria Rezadeira (locação e ensinamentos para a vida) durante o ensaio de NegrAnória d´Oxum.
pela colaboração ao ensaio fotográfico de Bárbara Uila.
A Dandara Galdino e Natalia Iskiv pela direção de cena e
Fernanda Leite (make e cabelo) pela colaboração ao ensaio coreografia do ensaio de Daniela Galdino.
fotográfico de Marina Melo.

Heloísa Faria (figurino) pela colaboração ao ensaio


fotográfico de Marina Melo.

Josie Rodrigues (produção) pela colaboração ao ensaio


fotográfico de Marina Melo.

Mery Lemos e Juliano Holanda (locação) pela colaboração


ao ensaio fotográfico de Ezter Liu.

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