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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

Instituto de Ciências Políticas e Relações Internacionais


Departamento de Relações Internacionais

AS FORÇAS ARMADAS BRASILEIRAS E AS TENDÊNCIAS


DO FIM DO SÉCULO XX

Dermeval de Sena Aires Júnior

Érico Esteves Duarte

Brasília, 2005

i
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
Instituto de Ciências Políticas e Relações Internacionais
Departamento de Relações Internacionais

AS FORÇAS ARMADAS BRASILEIRAS E AS TENDÊNCIAS


DO FIM DO SÉCULO XX

PARTE I – O FIM DA GUERRA FRIA

PARTE II – AS DIMENSÕES FÍSICA


E TECNOLÓGICA

ANEXO
O Orçamento das Forças Armadas Brasileiras – 1970/1998
A pesquisa para os estudos contidos neste volume e as
suas redações aconteceram durante os anos de 1997 e
1998 sob a orientação de Paulo Roberto da Costa
Kramer, professor doutor do Instituto de Ciência Política
e Relações Internacionais da Universidade de Brasília.
Eles foram financiados pelo Programa de Incentivo a
Bolsas de Iniciação Científica – PIBIC/CNPq. Suas
apresentações finais foram feitas em agosto de 1998 e
para o mesmo ano receberam o prêmio de melhor
trabalho da UnB na categoria de política internacional.

Versão revisada, impressa em agosto de 2005.

iii
Resumo

O tema das páginas que se seguem é o pensamento estratégico e a


realidade material nas forças armadas brasileiras no período que
transcorre entre o fim da Guerra Fria e o ano de 1996, marcado
pelo lançamento do documento Política de Defesa Nacional.
Dermeval de Sena Aires Jr. analisa altos níveis de reflexão e
discurso sobre forças armadas em meio à nova realidade política e
à discussão sobre seu papel. Érico Esteves Duarte trata dos seus
aspectos materiais e tecnológicos vis-à-vis desenvolvimentos e
tendências mundiais. Ao fim, o anexo redigido pelos dois autores
examina o orçamento das forças armadas para o período 1970-
1998.

Abstract

The following pages examine strategic thought and material


reality in the Brazilian Armed Forces during the interval between
the end of the Cold War and the year of 1996, in which the
landmark document National Defense Policy was issued by the
Brazilian government. The first study, written by Dermeval de
Sena Aires Jr., analyses high instances of discourse regarding the
Armed Forces as they face new political realities and the
discussion of their role. The second study, written by Erico
Esteves Duarte, deals with material and technological aspects vis-
à-vis world developments and tendencies. Annexed to the studies
is an article written by both authors, critically examining the
budget for the Armed Forces between 1970 and 1998.
AS FORÇAS ARMADAS BRASILEIRAS E AS TENDÊNCIAS
DO FIM DO SÉCULO XX

Sumário Detalhado

Agradecimentos dos Autores x


Apresentação, por Paulo Roberto da Costa Kramer, Orientador xi

PARTE I – O FIM DA GUERRA FRIA


Por Dermeval de Sena Aires Júnior

Introdução 02
A Base Legal e a Mudança no Quadro Mental 04
Funções Constitucionais 04
O Conceito Estratégico Nacional (CEN) 04
Política Militar Brasileira 05
O Pensamento Esguiano 06
Hipóteses de Guerra (HG) 07
O Documento Política de Defesa Nacional 09
A Atuação Internacional das Forças Armadas nos Anos 90 12
Missões de Paz da ONU 12
A Participação Brasileira 13
Assistência em Missões de Paz da OEA
e como Observador da MOMEP 15
Documentos e Discursos Presidenciais / Oficiais 16
Sarney, Collor, Franco (1988-1994) 16
Cardoso (1995-1996) 16
As Monografias da Escola Superior de Guerra 20
O Fim da Guerra Fria 21
Um Novo Papel para o Hegemon Estados Unidos 22
As Forças Armadas e a Amazônia 23
Mercosul e Segurança Hemisférica 25
Pensamento Militar Brasileiro 26
O Orçamento das Forças Armadas 27
v
A Discussão nos Periódicos Intelectuais Militares 28
A Produção Civil de Pensamento Estratégico no Brasil 30
Pensamento Estratégico Específico sobre Forças Armadas 30
Pensamento Estratégico em seu Sentido Amplo 33
O Dilema da Segurança e as Medidas de Confiança Mútua 34
Conclusão: O Fim da Guerra Fria 38
Referências Bibliográficas para a Parte I 41

PARTE II – AS DIMENSÕES FÍSICA E TECNOLÓGICA


Por Érico Esteves Duarte

Os Instrumentos da Guerra 48
Forças Terrestres 48
Estilo Russo de Organização de Forças Terrestres – Estilo Ocidental de
Organização de Forças Terrestres 49-50
Infantaria 52
Infantaria no Brasil 55
Tanques 56
Tanques no Brasil 58
Artilharias 59
Artilharia no Brasil 61
Aeronaves 61
Joint Strike Fighter – Sistema de Monitoramento 65-66
Helicópteros 67
Aviões e Helicópteros de Combate do Brasil 69
Força Naval 71
Força Naval do Brasil 75
Bombas e Mísseis 75
Guerra Aérea 75
Guerra Marítima 79
Tipos Especiais 80
Mísseis e Bombas do Brasil 81
Guerra Eletrônica 82
Aplicações Ofensivas – Aplicações Defensivas 82
Guerra Eletrônica no Brasil 83
O Capitalismo da Guerra: Indústria
e Mercado Internacional de Armamentos 85
Alterações no Mercado Internacional dos Anos 90 87
Transformações nos Setores Industriais em Cada Região 88
Estados Unidos – Europa – Rússia – Ásia - Outros Países 88-94
Indústria e Comércio de Armamentos no Brasil 94
A Dimensão Tecnológica 99
Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) Militar nas Principais
Potências Militares 99
Estados Unidos – Rússia – Ásia – Europa –
Países do Terceiro Mundo 99-101
P&D Militar no Brasil 101
Principais Projetos e Estrutura para P&D Militar nas
Forças Armadas 103
Conclusão – A Real Dimensão da Tecnologia 105
Referências Bibliográficas para a Parte II 112

---------

ANEXO

O ORÇAMENTO DAS FORÇAS ARMADAS


BRASILEIRAS – 1970 / 1998
Por Dermeval de Sena Aires Júnior
e Érico Esteves Duarte

Pg. 117-122

vii
Gráficos e Tabelas

Objetivos Nacionais Permanentes (ONP’s) do Manual da ESG 06


Hipóteses de Guerra (HG’s) 07-08
Diferentes Ações do Sistema ONU de Segurança Coletiva 12
Operações de Paz da ONU, de sua Criação até 1998 13
Participações Brasileiras nas Missões de Paz da ONU 13-14
Recorte de Temas nas Monografias da ESG 21
Organização Típica de uma Divisão Russa de Infantaria Mecanizada 50
Organização Norte-Americana de Forças Terrestres – Div. de Blindados 51
Diminuição dos Efetivos das Forças Armadas dos Membros da OTAN 52
Organização de Unidades de Infantaria Russa / Norte-Americana 54
Principais Armamentos da Infantaria 54
Típica Brigada do Exército Brasileiro 55
Brigada de Infantaria Brasileira 55-56
Armamento da Infantaria Brasileira 56
Principais Tanques do Mundo 58
Características dos Tanques Leves 59
Principais Peças de Artilharia 60
Alterações na Força Aérea dos Estados Unidos 67
Principais Aviões e Helicópteros de Combate 68
Bombardeiros 68
Monitoramento 69
Helicópteros 69
UAV’s 69
Aviões e Helicópteros de Combate Brasileiros 71
Principais Armamentos de Guerra Naval 73-74
Composição das Principais Forças Navais 73-74
Principais Armamentos Navais no Brasil 75
Força Naval Brasileira 75
Principais Mísseis Usados por Aviões 77-78
Principais Mísseis Antiaéreos 79
Principais Mísseis Navais 80
Principais Mísseis e Bombas no Brasil 81
Comércio Internacional de Armamentos – 1980/1997 86
Importação de Armamentos por Região, 1996 86
Exportação de Armamentos por Região, 1996 86
Exportações de Armamentos pelos Estados Unidos, 1980/1997 89
Importação de Armamentos pelos Estados Unidos, 1980/1997 89
Importação de Armamentos pela Europa, 1987/1997 91
Exportação de Armamentos pela Europa, 1987/1997 91
Importação de Armamentos pela URSS / Rússia, 1980/1997 92
Exportação de Armamentos pela URSS / Rússia, 1980/1997 92
Importação de Armamentos pela Ásia, 1987/1997 93
Exportação de Armamentos pela Ásia, 1987/1997 93
Importação de Armamentos pelo Terceiro Mundo, 1987/1997 94
Exportação de Armamentos pelo Terceiro Mundo, 1987/1997 94
Importação de Armamentos pelo Brasil, 1980/1997 97
Exportação de Armamentos pelo Brasil, 1980/1997 97
Lista de Armamentos Adquiridos pelas FA no Período 1994/1997 97-98
Lista de Armamentos Exportados pelo Brasil, 1994/1997 98
Principais Projetos da Aeronáutica 103
Principais Projetos da Marinha 104
Características do Airland Battle 106
Gastos em Defesa de Alguns Países da América
com Relação ao PNB em 1991 117-118
Gastos Militares na América do Sul e em Alguns
Países Europeus em 1994 118
Quadro Demonstrativo de Gastos Militares, Percentual
do PIB Alocado para as Forças Armadas e Efetivo
Orçamentário Militar por País em 1995 118-119
Gastos com Defesa em 1996 119
Participação das Forças Armadas no Orçamento da União 1970- 1998 121

ix
Agradecimentos dos Autores

A Paulo Roberto da Costa Kramer, orientador, pela experiência de trabalho


e pela transmissão de ensinamentos e valores importantes.

Às seguintes pessoas, pelos valiosos comentários críticos e sugestões:

Thomaz Guedes da Costa

James Dunnigan

Domício Proença Júnior

General Gleuber Vieira (EME)

Comandante Bezerril (Marinha)

Comandante José Geraldo (Marinha)

Comandante Fausto (Marinha)

Coronel Montenegro (ESG)

Antônio Jorge Ramalho da Rocha (UnB)

Matias Spektor

Daniel Lavarda Sinigaglia

Às seguintes equipes e instituições, pelo auxílio prestado:

Biblioteca do Estado Maior da Armada

Biblioteca do CEE / SAE

Equipes da Biblioteca e Reprografia da ESG

Biblioteca da USIS, Casa Thomaz Jefferson de Brasília


Apresentação

A discussão dos assuntos militares por civis é uma característica de qualquer


democracia madura. A carência brasileira em Estudos Estratégicos se mostra,
entre outras coisas, no fato de que quando militares brasileiros escrevem ou
publicam sobre seus próprios temas, recorrem a autores e institutos estrangeiros:
Brassey’s, SIPRI, IISS e Jane’s, entre outros, ao invés de recorrerem a dados
oficiais.

Durante as últimas décadas, diversos estudiosos puderam salientar as várias


deficiências em Estudos Estratégicos no Brasil e, por meio de suas importantes
contribuições, diminuí-la. O maior mérito dos trabalhos que se seguem é estarem
entre esses esforços. Eles são o resultado de um sólido ano de pesquisas feitas
por Dermeval de Sena Aires Júnior e Érico Esteves Duarte em Brasília e no Rio
de Janeiro sob minha orientação. Possuem caráter introdutório, são amplos e
ricos em informações, perpassando com uma revisão detalhada diversas áreas
cruciais para a compreensão das forças armadas nos anos 90.

Ao longo da convivência entre orientador e pesquisadores, o trabalho realizado


brilhou em lucidez e capacidade crítica, características indispensáveis ao analista
de Relações Internacionais e ao estrategista em qualquer tempo. Como o leitor ou
leitora poderá apreciar, alguns tópicos abordados lidam com questões de grande
atualidade e importância. Destaco em especial as críticas às noções de dissuasão
e ‘revolução’ nos assuntos militares contidas nas duas conclusões específicas,
bem como o instigante artigo escrito a quatro mãos sobre o orçamento das forças
armadas, anexado ao final do volume.

No pós-Guerra Fria, contrariamente ao que é defendido por diversos autores, o


campo dos Estudos Estratégicos não se encontra menos fértil do que em qualquer
outro momento histórico. Ao fim e ao cabo, a última década do século XX será
possivelmente lembrada como um período que viveu uma febre de otimismo
exacerbado a respeito dos temas de segurança internacional e, consequentemente,
nacional. Como se fosse possível ignorar a verdadeira essência das relações
internacionais, que, acima de tudo, continuam sendo precariamente conflituosas.

Paulo Roberto da Costa Kramer


Instituto de Ciência Política e Relações Internacionais – UnB

xi
PARTE I – O FIM DA GUERRA FRIA
Por Dermeval de Sena Aires Júnior

1
Introdução

Após o fim da II Guerra Mundial em 1945, a humanidade se viu às voltas com


uma confrontação não menos abrangente, mais sutil e duradoura: a Guerra Fria.
Por mais de quarenta anos, planejamentos governamentais e análises intelectuais
se fizeram sobre aquilo que se percebia ser ela.

Na história do Brasil, o marco de adesão oficial ao bloco americano e início de


uma fase de afirmação da segurança hemisférica foi a assinatura do Tratado
Interamericano de Assistência Recíproca, em 1947. O governo militar que
ascendeu ao poder em 1964 passou a buscar um modelo de inserção estratégica
com alinhamento praticamente irrestrito. Suas percepções incluíam um
pensamento geopolítico nacionalmente orientado, ainda que partindo muitas
vezes de noções estrangeiras1. Após 1967, com a ascensão política dos militares
considerados ‘de linha dura’, o planejamento governamental intensificou a busca
da auto-suficiência, justificada pelo discurso do “Brasil-potência”. Esse discurso
reservava ao país um lugar estratégico próprio e, representando um ideal de
grandeza, acompanhou as forças armadas em seu engajamento na luta contra o
comunismo.

Durante todo esse tempo, boa parte do pensamento sobre política internacional se
destinou a discutir problemas, riscos e vicissitudes na ordem bipolar. Mesmo
para o primeiro mundo, alguns autores latino-americanos e brasileiros também se
destacaram com suas produções. A iminência de um confronto direto esteve, por
quase meio século, associada a análises ricas em conceitos como ‘equilíbrio de
terror’, ‘containment’, ‘zonas de influência’ e ‘imperialismo político-militar’.

Ao contrário do que se poderia prever, a década de oitenta trouxe consigo


realidades novas. A tentativa de auto-suficiência brasileira se exauriu em meio a
problemas de dívida interna e externa. Ao mesmo tempo, os governos militares
da América Latina devolveram o poder político às mãos de representantes civis
legítimos. Por fim, internacionalmente, viu-se o colapso da União Soviética e de
seu bloco, e o conseqüente fim de toda uma era.

As discussões recentes sobre os impactos do fim da Guerra Fria no delineamento


de uma nova ordem – ou, segundo alguns, desordem – internacional são
marcadas pela inquietude sobre oportunidades de inserção estratégica. Afirma-se
1
Para caracterização do comportamento político brasileiro durante a Guerra Fria, a referência
primária para este estudo é CERVO e BUENO, História da Política Exterior do Brasil,
caps. 11-14. A importação de conceitos geopolíticos estrangeiros é analisada por
MIYAMOTO em Geopolítica e Poder no Brasil.
2
que os tempos mudaram, trouxeram novos perigos, desafios e demandas à
política entre as nações. Entretanto, é difícil definir essas mudanças com
precisão, chegar a um consenso sobre quais são elas e que relevância elas têm de
fato. Academicamente, o resultado dessa inquietação é o surgimento de novas
teorias de relações internacionais, que ressaltam ora questões de diferenças
culturais e religiosas na delimitação de novos padrões relacionais2, ora o triunfo
da economia internacional sobre as questões de defesa3. Há autores que
aguardam a volta de padrões geopolíticos tradicionais na expectativa de que estes
estivessem adormecidos à espera de uma nova bipolaridade 4. Outros se esforçam
em defender a importância revolucionária da tecnologia nos assuntos militares5.
Diferentes sínteses efervesceram ao longo dos últimos anos.

Este estudo cumprirá duas tarefas. A primeira delas é sistematizar o que se


escreveu no Brasil sobre o papel das forças armadas no período que transcorreu
entre o início da década de 90 e o lançamento do documento Política de Defesa
Nacional em novembro de 1996. Serão expostas e analisadas as bases legais, os
posicionamentos oficiais e as iniciativas políticas do período; em seguida, aquilo
que se produziu e publicou nos círculos intelectuais militares, por meio de
documentos da ESG e revistas institucionais; por fim, as principais questões da
discussão civil. Em todos esses passos, serão focalizados a importância e o
significado do fim da Guerra Fria para as forças armadas; quais seriam as novas
percepções de ameaças para o Brasil? Como lidar com a década das incertezas?
Que papel devem ter as forças armadas na nova conjuntura?

A segunda tarefa, a ser levada a cabo na conclusão, é refletir criticamente os


resultados dessas discussões.

2
HUNTINGTON, The Clash of the Civilizations and the Remaking of the World Order.
Também BARBER, “Jihad vs. McWorld”.
3
FUKUYAMA, O Fim da História e o Último Homem.
4
CASTRO, “MERCOSUL: Enfoque Geopolítico”.
5
TOFFLER e TOFFLER, War and Anti War.
3
A Base Legal e a Mudança de Quadro Mental

a) Funções Constitucionais

O mais elevado documento que diz respeito às forças armadas é a Constituição


Brasileira de 1988. Seu artigo quatro explicita os princípios pelos quais o país
busca pautar a sua atuação exterior:

“Art. 4º – A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações


internacionais pelos seguintes princípios: I – independência nacional; II –
prevalência dos direitos humanos; III – autodeterminação dos povos; IV – não-
intervenção; V – igualdade entre os Estados; VI – defesa da paz; VII – solução
pacífica dos conflitos; VIII – repúdio ao terrorismo e ao racismo; IX –
cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; X – concessão de
asilo político”.

O segundo trecho relevante da Constituição é o artigo número 142, que dispõe


especificamente sobre funções constitucionais:

“Art. 142º – As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e


pela Aeronáutica, são instituições nacionais, permanentes e regulares,
organizadas com base na hierarquia e disciplina, sob a autoridade suprema do
Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos
poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem”.

Afirma assim a natureza instrumental das forças armadas e sua subordinação ao


poder político civil. Além da Constituição, não existe outro documento
normativo com o caráter de lei a regular a sua atuação.

b) Diretrizes Principais

O Conceito Estratégico Nacional

No artigo “Segurança e Defesa no Brasil: a Visão das FA em 1989”, Domício


Proença Jr. e Paulo Moreira Franco esclarecem que o mais elevado documento
sobre segurança nacional no Brasil antes de 1989 era o Conceito Estratégico
Nacional. Ele determinava “a natureza do ambiente de segurança, as hipóteses de
conflito, os cenários e as expectativas a serem priorizados”, justificando os
planejamentos militares e a política de defesa. Originalmente redigido em 1969,
o CEN não haveria sido reformulado ou alterado nos anos 80. Tampouco veio a
público: apenas por meio de entrevistas ambos autores foram capazes de mapear
4
o seu conteúdo. Seu ponto de partida era a luta ideológica contra o comunismo.
Em consonância com a Doutrina de Segurança Nacional (vide abaixo), o CEN
vindicava um esforço hemisférico no combate ao inimigo mundialmente
presente, enxergando “o conflito entre o ocidente e o comunismo como imanente
e insuperável, tendo lugar em todas as esferas da atividade humana” (pg. 145-
146). A Força na qual o documento encontrou sua maior penetração foi o
exército, e não parece ter tido grande repercussão nas outras duas Forças.

Em sua formulação original, o CEN previa os seguintes cenários de conflito. Em


primeiro lugar, a ação interna no combate ao comunismo. Em segundo lugar, o
combate hemisférico na possibilidade de uma confrontação entre leste e oeste. Os
dois cenários simultaneamente seriam uma terceira possibilidade. Curiosamente,
o documento não contemplava a princípio conflito regional algum envolvendo a
Argentina. Este quarto cenário foi adicionado posteriormente. (pg. 146)

A Força singular que disponibilizou uma interpretação do CEN ao público foi a


marinha, com a publicação da Avaliação Estratégica Naval. No documento, são
determinadas diretrizes para o Plano Básico da Marinha e hierarquizados os
planejamentos da Força por período. Em seu Plano Básico, a marinha concebeu a
defesa brasileira com base no princípio da dissuasão (pg. 150-153).

Mesmo consultando especialistas da área militar, não é mais possível dizer com
certeza se o CEN permaneceu nos anos 90 e passou por alterações; se foi
substituído por algum outro documento de caráter confidencial; ou se não mais
existe. No entanto, ele foi ainda citado em uma análise recente 6. O fato, no
entanto, é que com o fim da Guerra Fria e a aproximação política com a
Argentina nos anos 90, o CEN perdeu o seu sentido. No texto de Proença e
Franco, essa realidade se explicita no fato de que o documento não chegou a ser
mais atualizado, assim como previa, em intervalos regulares até o fim da década
passada (pg. 147-148).7

Política Militar Brasileira

A Política Militar Brasileira é o documento militar de mais alto nível disponível


ao acesso irrestrito nos anos 90. A primeira edição da PMB data de 1989. Uma
segunda edição surgiu em 1992 sem grandes modificações. Seus pressupostos
básicos são alguns dos princípios constitucionais com clarificações pontuais:

“a) O Brasil considera o território nacional definido, não admitindo sua

6
A exemplo de FORTUNA em ”O Poder Marítimo como Projeção do Poder Nacional”.
7
Em “Política de Defesa: uma Discussão Conceitual e o Caso do Brasil”, pg. 17 Thomaz
Guedes da Costa afirmou: “o CEN é fugaz (...) além do Conceito de 1969, não se tem
notícia de que outro tenha estado em vigor”.
5
violação nem a discussão de questões reivindicatórias nesse campo; b) O Brasil
respeita o princípio de auto-determinação dos povos e não admite intervenção
em seus assuntos internos; c) O Brasil participa de alianças e organizações
internacionais, visando à realização dos Objetivos Nacionais e à cooperação
entre os povos para o progresso da humanidade; d) O Brasil recorrerá à
guerra: em legítima defesa de seus interesses vitais; em caso de agressão
estrangeira; após esgotadas as possibilidades de solução, por negociação
direta, arbitragem e outros meios pacíficos, nos conflitos externos em que o
País venha a envolver-se; e) A Expressão Militar do Poder Nacional deve estar
capacitada para defender a Nação, dissuadir agressões e respaldar decisões
soberanas; f) A eficácia da Expressão Militar do Poder Nacional é função do
grau de independência tecnológica e logística e da capacidade de pronto
emprego de seus meios”.8

O Pensamento Esguiano

A Escola Superior de Guerra foi berço, ao longo de 40 anos, da Doutrina de


Segurança Nacional. A DSN preconizava a luta entre o ocidente e o comunismo e
identificava inimigos internos, Objetivos Nacionais Permanentes e uma Vontade
Nacional cuja interpretação estava a cargo das elites políticas.

Objetivos Nacionais (Definidos pela ESG):

“São manifestações de vontade coletiva de necessidades, interesses e


aspirações vitais que, em determinada fase de sua evolução histórico-cultural,
a nação busca satisfazer” Os ONP “não são estabelecidos nem fixados por
quem quer que seja. Eles derivam do processo histórico – cultural e emergem
naturalmente, à medida que as necessidades e interesses da comunidade
cristalizam-se na consciência nacional, representando aspirações que,
independente de classes, região, credo religioso, ideologias políticas, origens
étnicas ou outros atributos, a todos irmanam” (Manual Básico, pg. 51).

Mais tarde surgiram os conceitos de ‘Objetivos Nacionais Permanentes’,


representando “aspirações vitais” que “subsistem por longo tempo”, e ‘Objetivos

8
Para GROMORI em “Adequação da Política Militar Brasileira”, a Política Militar Brasileira
“não leva em conta todas as implicações da nova conjuntura mundial”, em um mundo
pós-bipolar (pg. 6). O objetivo desse texto é sugerir pontos de adição à PMB para que
ela se torne mais atual diante do novo cenário internacional. Os cinco pontos, ou
objetivos adicionais, que Gromori propõe são: “ação de presença das Forças Armadas
em todo o território nacional” (com objetivos de integração territorial); “integração e
colaboração na pesquisa científica, desenvolvimento tecnológico e padronização do
material de uso comum entre as Forças Armadas” (visando à nacionalização e
racionalização de material militar e à economia de recursos financeiros); “intercâmbio
e integração progressiva com as Forças Armadas de outras Nações” (para aumentar a
solidariedade entre as FA do Mercosul e fomentar doutrina e pensamento militar
regionalizado); “divulgação à sociedade da importância das Forças Armadas”; e
“formação e preparo de contingentes profissionais das Forças Armadas”.
6
Nacionais Atuais’, ligados às determinações gerais de governo com vistas à
consecução dos ONP (Manual Básico, pg. 47-51). Os ONP’s representariam as
manifestações da vontade coletiva, necessidades, interesses e aspirações vitais,
frutos da evolução histórico-cultural da nação. São listados os seguintes ONP’s:

- Democracia
- Integração Nacional
- Paz Social
- Progresso
- Soberania”9

O instrumento do Estado para alcançar os ON’s seria o Poder Nacional em suas


expressões Política, Militar, Psicossocial, Econômica e Científico-tecnológica.

“Poder Nacional é a capacidade de que a nação decidida dispõe para


conquistar e manter os seus ON’s”. “É o conjunto integrado de homens e dos
meios que constituem a nação, atuando na conformidade da vontade nacional,
para conquistar e manter os objetivos nacionais (Manual Básico, pg. 168)”

Para transcender ao cenário desejado, configurava-se a Estratégia Nacional:

“É a arte de preparar e aplicar o Poder Nacional para, superando os óbices,


conquistar e manter os ONP, de acordo com a orientação estabelecida pela
Política Nacional” (Manual Básico, pg. 190)

O conceito de Poder Nacional é mantido na PMB. Esta, no entanto, não mais


influencia diretrizes superiores de governo, e tampouco o faz a doutrina da
ESG 10.

Hipóteses de Guerra

No artigo “Estratégia e Defesa (1960-1990)”, Geraldo Cavagnari afirma: “até o


fim da Guerra Fria, a perspectiva do alinhamento estratégico sempre esteve
presente na estratégia brasileira” (pg. 46). Em consonância com a exposição de
Proença e Franco sobre o CEN, Cavagnari aponta as seguintes quatro hipóteses
principais de guerra para o período:

• Hipótese de Guerra Alfa: guerra revolucionária na América do Sul;


• HG Beta: guerra convencional ou nuclear entre os dois blocos antagônicos da Guerra Fria;
• HG Gama: as hipóteses Alfa e Beta ocorrendo simultaneamente;
• HG Delta: guerra convencional na América do Sul [de probabilidade mais remota, esta
quarta HG caminhou para a identificação da Argentina como inimigo (pg. 48-50)].

9
ROSA, “As Despesas Militares e o Orçamento da União”, pg. 4-10.
10
COSTA, “Política de Defesa: uma Discussão Conceitual e o Caso do Brasil”, pg. 18.
7
As quatro hipóteses de guerra foram abandonadas com a virada da década. As
três primeiras foram eliminadas com o fim do bloco socialista e o retorno do
comunismo à arena política legal brasileira. E a hipótese de guerra contra a
Argentina evaporou em meio ao clima cooperativo de integração regional. O que
restou após a perda das quatro hipóteses pode ser observado no documento
Concepção Política Militar, produzido na ESG em 1994. De acordo com ele (pg.
8-10), o Brasil estaria convivendo com as seguintes hipóteses:

Hipótese de Guerra Alfa: Contra país ou países regionais por motivos históricos (...) questões
de limites, aproveitamento de rios ou outros recursos naturais, divergências de interesses
econômicos ou políticos, proteção de cidadãos e bens brasileiros naqueles países, eclosão de
conflitos regionais ou, finalmente, ameaça à segurança, à soberania ou à integridade do Brasil.

Hipótese de Guerra Beta: Contra país ou países regionais que defendam interesses de
potências militares e tecnológicas, de alianças ou megablocos de poder ou, mesmo, de
organizações internacionais ou entidades supranacionais.

Hipótese de Guerra Gama: De natureza revolucionária, decorrente da exacerbação de


dificuldades internas ou externas, tais como corrupção, miséria, violência urbana ou rural,
narcotráfico, terrorismo, demarcação de reservas indígenas, interesses de minorias ou alegadas
agressões ao meio-ambiente, contando, muito provavelmente, com incentivo e ajuda de
potências militares e tecnológicas externas à região, diretamente ou representadas por países
regionais alinhados.

Hipótese de Guerra Delta: Decorrente de intervenção de potência militar e tecnológica, em


defesa de seus interesses, diretamente, ou socorrendo-se de mandado de organização
internacional para lhe coonestar as ações. Essas intervenções, obrigando o Brasil (...) a aceitar
as condições que pretendem impor, podem ter os mais variados pretextos: ameaça ao
patrimônio da humanidade, agressões ao meio-ambiente, desrespeito aos direitos das minorias,
sobretudo as indígenas, ameaça aos seus nacionais aqui residentes e ao patrimônio de suas
empresas aqui instaladas, eclosão de conflitos regionais, facilitando a produção ou o tráfico
internacional de drogas e, finalmente, o não pagamento de dívidas externas.

Hipótese de Guerra Épsilon: Aquela em que as FA atuam na área estratégica do Atlântico


Sul, da Costa Ocidental da África e da Antártida, em defesa de interesses vitais ou de países
aliados que participem de uma coligação regional de forças no âmbito do Atlântico Sul.

Hipótese de Guerra Zeta: Aquela em que as FA atuam fora do Continente Sul-americano e


das águas do Atlântico Sul em defesa de seus interesses ou como conseqüência de alianças, ou
solicitação de organismos internacionais dos quais faça parte. Aqui estão incluídas as forças
de paz. Neste caso, as Forças Brasileiras, normalmente, comporão uma Força Multinacional,
que contará com a participação de, pelo menos, uma potência militar e tecnológica.

Assim, as novas hipóteses abandonaram uma concepção totalizante, que previa a


mobilização de toda a sociedade contra um inimigo onipresente, para contemplar
possibilidades de menor intensidade e urgência retórica.
8
O Documento Política de Defesa Nacional

O documento Política de Defesa Nacional foi apresentado por FHC à nação em


novembro de 1996, após dois anos de maturação11. Apesar de ser vago em
diversas questões, ele é um marco que atende à antiga demanda de uma
declaração unificadora. No seu lançamento, o presidente Cardoso afirmou: “Ela
[a Política de Defesa Nacional] não se esgota nas páginas deste fascículo, que
servirá de orientação para uma Política Militar Brasileira e de guia para a
adaptação de partes das políticas setoriais já existentes. Vejo como um de seus
maiores méritos a criação de condições para a integração de estratégias e
planejamentos, e, em conseqüência, para a otimização de esforços e recursos.”

Sua parte inicial avalia o cenário internacional, aponta o fim da Guerra Fria e
reconhece dificuldades de planejamento estratégico no mundo pós-bipolar:
“desapareceu a previsibilidade estratégica (2.2)”, “Nesta fase de transição (...),
caracterizada pela ausência de paradigmas claros...” (2.4), “O quadro de
incertezas (...) marca o atual contexto mundial. (2.5)”. Na América Latina, “a
região mais desmilitarizada do mundo”, os conflitos tendem a diminuir: “os
contenciosos regionais têm sido administrados em níveis toleráveis” (2.6).
Alude-se à necessidade de uma “inserção regional múltipla, baseada em uma
política de harmonização de interesses (2.8)”.

O documento menciona as seguintes preocupações: 2.11: “Apesar de conviver


pacificamente na comunidade internacional, [o país] pode ser compelido a
envolver-se em conflitos gerados externamente como conseqüência de ameaças
ao seu patrimônio e aos seus interesses vitais.” 2.12: “Persistem zonas de
instabilidade [regional] que podem contrariar interesses brasileiros. A ação de
bandos armados (...) nos lindes da Amazônia brasileira e o crime organizado
internacional são alguns dos pontos a provocar preocupação.”

A parte seguinte é titulada ‘Objetivos’ e possui uma importância especial, apesar


de ser relativamente curta. Ela lista as metas e ambições nacionais: f: a projeção
do Brasil no concerto das nações e sua maior inserção no processo decisório
internacional; g: a contribuição para a manutenção de paz e da segurança
internacionais. A maneira como o documento antevê o objetivo de uma “maior
inserção no processo decisório internacional” não é desenvolvida de maneira
mais específica, mas encontra respaldo no discurso das forças armadas sobre
projetos específicos, como o FT 2000. Nos anos 80, o ideal de Brasil-potência se
11
Em abril de 1994, o CEE-SAE promoveu o Seminário sobre Política de Defesa, que formou
um Grupo de Trabalho Interministerial. Entre maio e setembro do mesmo ano, o grupo
produziu o documento-base da PDN.
9
deteriorou. Nos anos 90, algumas declarações expressam ideais comedidos de
potência média; e por vezes exaltados, mas sem a intensidade dos anos 70.

A quarta parte é titulada “Orientação Estratégica” e expõe linhas norteadoras da


defesa nacional. Os princípios de relacionamento internacional são os mesmos de
sempre, repetindo em parte as palavras da Constituição: fronteiras e limites
perfeitamente definidos e reconhecidos internacionalmente; estreito
relacionamento com os países vizinhos e com a comunidade internacional, em
geral, baseado na confiança e no respeito mútuos; rejeição à guerra de
conquista; e busca de solução pacífica de controvérsias, com o uso da força
somente como recurso de autodefesa (4.2). No entanto, sugerem também uma
característica de postura estratégica: a dissuasão de natureza defensiva.

Em teoria de relações internacionais, o termo “dissuasão” se refere à capacidade


de inibir agressões, mostrando ao eventual agressor o quão custosas seriam suas
hostilidades. Nas palavras de Murillo Santos, dissuadir é “desencorajar o inimigo
de qualquer ação militar, mostrando-lhe uma tal perspectiva de custo e risco pela
perda que ultrapasse o seu ganho. (...) A dissuasão trabalha na intenção do
inimigo; o valor da dissuasão por forças militares é seu efeito em reduzir a
probabilidade da movimentação militar inimiga” 12. O sucesso dissuasório está no
fato de que o recurso à força não foi necessário; e é possível haver casos em que
não se saberá jamais sobre interesses hostis, uma vez que o possivel inimigo
tenha desistido de agredir. Dependendo da percepção de perigo, no entanto, é
possível que um país queira se armar ao máximo possível. De fato, assim foi a
movimentação entre as duas potências nucleares durante a Guerra Fria13.

Por sua vez, o conceito de “defesa” se refere ao engajamento bélico propriamente


dito, considerando-se que algum grau de agressão já tenha se desencadeado.
Murillo Santos expressa-o da seguinte maneira: “Defesa significa redução de
nossas perspectivas de custo e risco no caso de falha de nossa postura de
dissuasão. (...) Defesa reduz a capacidade do inimigo em nos causar danos ou
mesmo derrotar-nos; o valor da defesa por forças militares é seu efeito em
reduzir as conseqüências que nos forem adversas por possíveis ações inimigas,
sejam tais conseqüências perdas de nossos bens materiais ou danos de guerra.
Talvez a maior diferença entre dissuasão e defesa seja de que a dissuasão é
primeiramente um objetivo de tempos de paz, enquanto que a defesa é valor em
período de guerra” 14. O teórico norte-americano Robert Art aponta que um país
pode também agredir sob a justificativa de estar se defendendo, ou seja, poderia
agredir com objetivos preemptivos15. E a PDN contempla também essa
12
SANTOS, “Apresentação”, in PROENÇA e DINIZ, 1998, pg. 11-12.
13
A reconhecida discussão teórica sobre o tema pode ser conhecida no clássico artigo de
Robert ART, “The Four Functions of Force”, pg.2-3.
14
SANTOS, “Apresentação”, in PROENÇA E DINIZ, 1998, pg. 12.
15
“The Four Functions of Force”, pg. 4, 6, 10 e 11.
10
possibilidade: “o caráter defensivo não implica que, em caso de conflito, as FA
tenham de se limitar estritamente à realização de operações defensivas (...)
(n)uma eventual agressão armada, o País empregará todo o poderio militar
necessário, com vistas à decisão do conflito no prazo mais curto possível e com
o mínimo de danos à integridade e aos interesses nacionais (4.4)”.

Em conformidade com os objetivos f e g (ver acima), é mencionada a Orientação


Estratégica para as FA: “as Forças Armadas deverão estar ajustadas à estatura
político-estratégica da Nação e estruturadas de forma flexível e versátil, para
atuar, com presteza e eficácia, em diferentes áreas e cenários (4.6).” A última
parte do documento é uma lista de 20 diretrizes que resumem o anteriormente
dito. Nove delas se referem à atuação exterior do Brasil fortalecendo o
intercâmbio com FA estrangeiras, participando dos processos decisórios sobre
desarmamento, ajudando em operações de paz e buscando a solidariedade
regional. A Antártida e o Atlântico Sul também são mencionados16. Entre as nove
diretrizes, seis são sistêmicas e duas apenas são regionais.

As demais onze diretrizes versam sobre a ação dentro do Brasil pelas instituições
de defesa. O norte do país é visto como prioridade pela diretriz (j), que visa a:
“proteger a Amazônia brasileira, com o apoio de toda a sociedade e com a
valorização da presença militar”, enquanto que a diretriz (l) determina
“priorizar ações para desenvolver e vivificar a faixa de fronteira, em especial
nas regiões norte e centro-oeste” (grifo adicionado). As nove diretrizes
remanescentes possuem um marcado caráter desenvolvimentista e defendem
também para as forças armadas melhores níveis de formação, coordenação,
mobilização e aparelhamento. Elas reforçam a necessidade de contato, transporte,
controle e comunicações dentro do território para a melhoria de sua vigilância.
Ressalta-se o papel integrador e indutor das FA, que, para a PDN, continuará
sendo estimulado.

A última diretriz enfatiza a necessidade de sensibilização e esclarecimento da


opinião pública, com vistas a criar e conservar uma mentalidade de Defesa
Nacional, por meio do incentivo ao civismo e à dedicação à pátria (diretriz u).

16
DPDN, Diretrizes a-h e s.
11
A Atuação Internacional das Forças Armadas nos
Anos 90

A atuação internacional das FA nos anos 90 se deu por meio da participação em


missões de paz da ONU, da cooperação com a Organização dos Estados
Americanos e da colaboração na resolução do conflito entre Equador e Peru.

Missões de Paz da ONU

As missões de paz são uma das principais atribuições do sistema de segurança


coletiva das Nações Unidas. Desde sua fundação, a ONU coordenou 48 missões
no mundo, em sua maior parte Operações de Manutenção da Paz. A decisão de
criar uma missão é tomada pelo Conselho de Segurança, órgão máximo para a
deliberação sobre emergências, conflitos e questões de segurança internacional.
As operações podem assumir diferentes feições de acordo com a natureza do
conflito em questão e as motivações políticas dos países-membros em relação a
ele. A intensidade das operações pode variar desde o Peacekeeping até o envio
de tropas em missões de Enforcement, assim como mostra a tabela abaixo:

Diferentes Ações Possíveis dentro do Sistema ONU de Segurança Coletiva

Peacekeeping Peace Enforcement Intervenção Enforcement


Humanitária
Meta Propiciar um Implementação do cessar Criação de um ambiente Restauração da paz e da
ambiente pacífico, fogo e/ou dos seguro para ajuda segurança internas.
que permita o compromissos de paz humanitária e/ou para a
estabelecimento população civil
político
Meios Envio de soldados Sanções; envio de soldados Sanções; envio de Sanções; envio de soldados
internacionais e de combate soldados de combate de combate
observadores
militares sob o
comando e controle
da ONU para tarefas
de observação, operar
zonas tampão, manter
a lei, a ordem, etc.
Pessoal Observadores Soldados de combate Soldados de combate Soldados de combate
militares, soldados de
peacekeeping civis,
polícias civis
Base Legal Capítulo “VI ½”, Capítulo VII da Carta da Capítulo VII da Carta da Capítulo VII da Carta da
poderes implicados ONU ONU ONU
Autori- Conselho de Conselho de Segurança Conselho de Segurança Conselho de Segurança
zação Segurança ou
Assembléia Geral

12
Comando Secretário Geral Secretário Geral ou Estado Secretário Geral ou Comitê de Staff Militar ou
e Controle membro/Grupo de Estados Estado Membro/Grupo de Estados Membros/Grupos de
Membros autorizados pelo Estados, autorizados pelo Estados, autorizados pelo
Conselho de Segurança Conselho de Segurança Conselho de Segurança
Sobe- Consentimento das Consentimento das partes Consentimento das partes
Interferência com a soberania
rania partes (soberania ao(s) acordo(s) básico(s); é desejável, mas não do agressor, assim como de
nacional é mantida) medidas de implementação requerida (interferênciatodos os Estados Membros
concretas não necessitam com a soberania nacional (no caso de sanções em
ser aprovada pelas partes não está excluída) defesa do artigo 41 da Carta
da ONU
Impar- A ONU é imparcial A ONU é imparcial A ONU é imparcial em As tropas da ONU se tornam
ciali- princípio uma das partes do conflito
Dade (bellum iustum)
Uso da Somente em Uso médio da força, em Uso médio da força, em Emprego ostensivo
Força situações de óbvia caso de resistência caso de resistência Da força militar
autodefesa
Ex. UNMOGIP, UNIFIL UNOSOM II, IFOR UNITAF, "Opération Coréia 1950,
turquoise" Kuwait 1990

Fonte: Robert Diethelm: Die Schweiz und friedenserhaltende Operationen 1920 - 1995. Bern, Wien, Stuttgart,
Paul Haupt Verlag, 1997.

A seguinte tabela mostra os números das Operações de Paz durante a Guerra Fria
e no período entre 1989 e 1996:

Operações de Paz da ONU, de sua criação até 1998

Completas Em Andamento Total


Operações iniciadas antes de 1989. 8 5 13
Operações iniciadas entre 1989 e 1996. 22 7 29
Operações iniciadas entre 1996 e 1998. 2 4 6
Total de Operações conduzidas pela ONU entre sua criação e os dias atuais: 48

Fonte: Homepage da ONU em 15/04/98 (http://www.un.org/Depts/DPKO/overview.html).

Como se pode ver, houve um aumento substancial no número de missões após


1989. Até então, a ONU conduzira 13 operações ao longo de 44 anos; já no
intervalo dos 9 anos subseqüentes, surgiram 35 operações. Esse aumento foi
possibilitado pela diminuição no uso do veto, um recurso amplamente utilizado
pelas superpotências durante a Guerra Fria para assegurar a não-intervenção
alheia em suas respectivas áreas de influência.

A Participação Brasileira

O Brasil participa de missões da ONU desde a primeira delas, o atendimento à


manutenção da paz na guerra civil grega em 1947. Desde então, as FA já
enviaram efetivos para 13 operações diferentes. A tabela abaixo as enumera:

Participações Brasileiras nas Operações de Paz da ONU

LOCAL OBJETIVO PERÍODO

13
Grécia Observar uma possível intromissão de países vizinhos na 1947 a 1951
guerra civil grega
Faixa de Gaza (Operação Manter separados os beligerantes na guerra árabe-israelense. 1956 a 1967
SUEZ)
Líbano e Jordânia Manter a estabilidade na região, evitando que se alastrassem 1958 a 1961
os focos de insurreição.
Congo Evitar o genocídio perpetrado pelos separatistas, após a 1960 a 1964
guerra de independência e proteger a retirada das tropas
belgas da região
República Dominicana Restabelecer a ordem e a paz na República Dominicana 1965 a 1966
Nova Guiné, Paquistão Integrar Forças de Paz da ONU, evitando uma escalada de 1962 a 1966
e Chipre conflitos nesses países
El Salvador (ONUSAL) Verificar a obediência a acordos relativos à preservação de 1991 a 1995
direitos humanos.
Uganda e Ruanda Manter a estabilidade na região, evitando que se alastrassem 1993 a 1994
(UNIMUR) os focos de insurreição.
Sérvia, Croácia, Bósnia- Supervisionar os acordos de cessar fogo entre os litigantes, 1992 a (em andamento)
Hezergovinia e tentar solucionar os conflitos regionais pela via diplomática e
Macedônia (UNPROFOR) promover proteção a comboios de natureza humanitária.
Moçambique (ONUMOZ) Verificar o cumprimento dos acordos de paz entre o governo 1992 a 1994
e a facção rebelde.
Angola (UNAVEM I) Verificar a retirada do efetivo militar cubano. 1989 a 1991
Angola Verificar o cumprimento dos acordos de paz entre o Governo 1991 a 1995
(UNAVEM II) de Angola e a UNITA.
Angola Promover condições para a instalação definitiva da paz em 1995 a 1997
(UNAVEM III) Angola e verificar a obediência a acordos relativos à
preservação de direitos humanos.

Fonte: LEONEL, General Benedito Onofre Bezerra, “As Forças Armadas Brasileiras”, in Reuniões Ministeriais/
Empresariais, Anais do III Encontro Nacional de Estudos Estratégicos. Rio, 14 a 18 de outubro de 1996.

Como se pode ver, entre 1947 e 1989, as FA estiveram presentes em 6 missões.


Já entre 1989 e 1996, em 7. A mais longa e dispendiosa delas foi a UNAVEM,
United Nations Angola Verification Mission, que observa os acordos feitos entre
o governo Angolano e a frente revolucionária UNITA. Em 1997, já haviam sido
enviados cerca de 4400 homens para os trabalhos de verificação17. Dos 38 países
que compuseram a UNAVEM III, o Brasil foi o maior contribuinte de efetivos.

A participação brasileira é possibilitada por uma coordenação interburocrática


entre as FA e o Ministério das Relações Exteriores, interlocutor primário junto à
ONU. As missões encontraram ampla motivação executiva durante o governo de
FHC e até o momento não foi observada oposição no Congresso Nacional, o
responsável pelos Decretos Legislativos que autorizam a cessão de contingentes.
Entretanto, o Brasil não possuiu no período uma política de governo formal
específica para essas participações. Em parte, essa carência foi suprida com o
documento Política de Defesa Nacional. Na análise de Manoel Carlos Pereira, as
duas condições externas para a decisão de participar das missões têm sido 1) a
existência de um acordo político entre as partes do conflito e 2) um mandato
claro e os objetivos para a Força perfeitamente definidos pelo Conselho de

17
O número 4400 vem da Mensagem do Presidente da República ao Cong. Nacional, 1998.
14
Segurança18. Para as FA, a percepção de benefício das missões está no contato
ganho em operações conjuntas entre as três Forças, na experiência em ambientes
de conflito real, no intercâmbio com forças armadas de outros países e na
execução de funções logísticas e emprego operacional19. Quanto aos objetivos
políticos declarados de sua atuação, enfatiza-se a aposta do país em uma cadeira
no Conselho de Segurança da ONU no caso de uma mudança em sua estrutura de
membros com direito a veto.20

Todas as participações brasileiras se enquadram na denominação Peacekeeping.


Diante da possibilidade de participar da Guerra do Golfo em uma operação de
Enforcement, na qual as tropas internacionais se tornam uma das partes do
conflito, o governo recuou. Em seu artigo “Segurança Coletiva: Pensamento e
Política no Brasil”, pg. 33, Thomaz Guedes da Costa sugere dois fatores
explicativos para a decisão. O primeiro seria o intercâmbio no qual manufaturas
e serviços eram enviados para o Iraque em troca de petróleo. O segundo, o fato
de que trabalhadores brasileiros a serviços de engenharia não conseguiram deixar
o país em meio à crise. Temeu-se assim que uma ação condenatória oficial
desencadeasse incidentes e mortes entre eles.

Assistência em Missões de Paz da OEA e como Observador da MOMEP

Fora da égide da ONU, o Brasil esteve ainda presente em três outras missões21:

a) A Força Interamericana de Paz que, sob a tutela da OEA atuou em São


Domingos no ano de 1965;
b) Na Nicaragua e na Costa Rica, com o trabalho de supervisão dos acordos de
desminagem na fronteira entre os dois países, desde 1991. A mesma
atividade vem sendo desenvolvida em Honduras, Guatemala e El Salvador;
c) No conflito entre Equador e Peru, desde março de 1995. A função das FA
brasileiras, juntamente com as de outros países garantes do Tratado do Rio
de Janeiro, Argentina, Chile e EUA, é a de ajudar a garantir a ordem entre
os dois países em litígio, evitando que o conflito recrudesça ou aumente de
proporções.

Uma vez mais, observam-se mais ações em curso após o fim da Guerra Fria –
dois a um, para os anos 90.

18
PEREIRA, “Participação em Forças de Paz: a Experiência Brasileira”, pg. 14-15.
19
PEREIRA, pg. 12-13.
20
Ver COSTA, “Segurança Coletiva: Pensamento e Política no Brasil”, pg 30; MONTEIRO,
“Tropas de Paz da ONU”, pg. 184.
21
LEONEL, “As Forças Armadas Brasileiras”, pg. 14; PEREIRA, pg. 3.
15
Documentos e Discursos Presidenciais/Oficiais

O presidente da república é o comandante das forças armadas. O seu discurso,


indispensável para o estudioso da política de defesa, é assim o mais alto nível da
política declaratória do país e ponto de partida para o contraste entre o que se
declara e o que se pratica. Do mesmo modo, ele é um parâmetro importante para
as discussões que ocorrem em outros círculos e níveis institucionais.

Sarney, Collor, Franco (1988-1994)

Entre 1988 e o final do mandato de Itamar Franco, as mensagens anuais do


presidente ao Congresso Nacional listam sempre, de um lado as “ações já
realizadas”, e do outro os planos para o ano seguinte, para cada Ministério
separadamente. Os discursos geralmente enfatizam aspectos ligados à renovação
de material e desenvolvimento tecnológico, dando preferência para a compra de
produtos nacionais. Neles é clara a gradual diminuição na retórica da auto-
suficiência para a indústria bélica nacional. Preocupações a respeito da região
amazônica são manifestadas pela primeira vez na mensagem de 1991.

O início da década foi marcado por poucas iniciativas ligadas às forças armadas e
os assuntos de defesa foram tratados com superficialidade. Durante os governos
Collor de Mello e Itamar Franco, surgiram poucos documentos e declarações
sobre política de defesa. Em Brasil, um Projeto de Reconstrução Nacional,
Collor de Mello menciona o conceito de dissuasão, enfatizando
profissionalização, prontidão operativa, desempenho tecnológico e mobilidade
para as forças armadas (pg. 121-122). No entanto, as considerações relacionadas
à defesa não vão além. Em sua apresentação aos alunos da ESG, Collor de Mello
não abordou assuntos afins à questão da segurança e concentrou-se nos temas de
inserção econômica internacional22. Do mesmo modo, em Diretrizes para a Ação
de Governo Itamar Franco não faz menção alguma a assuntos de defesa23.

Cardoso (1995-1996)

Com Fernando Henrique Cardoso, a divisão de temas entre cada força singular na
Mensagem Anual ao Congresso é abandonada, adotando-se uma sistemática de
divisão por tópicos que inclui os quatro ministérios militares sob o título ‘defesa

22
O Brasil e o Mundo dos Anos 90.
23
Diretrizes para Ação de Governo, 1992.
16
nacional’. Não há referência às forças armadas na mensagem de 1995.

Na cerimônia de posse, FHC manifestou alguns dos posicionamentos que


iluminariam questões relevantes ao longo de seu mandato: modernização das
forças armadas, Política de Defesa Nacional e Ministério de Defesa24. No período
em que governou, intensificou-se o pensamento de que o Brasil deveria participar
mais ativamente do processo decisório mundial: mostrou-se assim o desejo de
um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU.

Seus discursos trazem três temas recorrentes: os valores brasileiros nas relações
internacionais, as preocupações com a região amazônica e o orçamento das
forças armadas. Em relação ao primeiro, enfatizam o abandono de antigas
percepções sobre possibilidades de conflitos regionais, afirmam objetivos
pacíficos para projetos de tecnologia dual, como o Veículo Lançador de Satélites,
negam planos de desenvolvimento de bombas nucleares e delineiam uma postura
militar dissuasória e defensiva25. Na palestra para alunos e estagiários dos cursos
de altos estudos militares (nov. de 1996), porém, afirmou: “Estrategicamente [o
país] tem uma atitude dissuasória defensiva, entretanto tem que estar pronta para
se transformar em ofensiva, porque nós sempre temos que ter presente que diante
de uma eventual agressão armada, nós temos que ter uma pronta resposta”.

FHC ressalta o fortalecimento de relações, inclusive militares, no âmbito do


Mercosul, creditando antigas desconfianças a percepções do tempo em que os
dois países estavam sob o jugo de governos militares.26 No que diz respeito à
Amazônia, demonstra preocupação com a atuação de grupos ilegais que, vindos
de outros países, poderiam gerar ilícitos em território brasileiro e ameaçar a
soberania. São mencionadas ameaças de narcotráfico e guerrilheiros cruzando as
fronteiras e não encontrando grandes empecilhos a suas atividades, uma vez que
a possibilidade de rastreamento na região antes do projeto SIVAM era

24
“Como Comandante-em-Chefe das nossas Forças Armadas, estarei atento às suas
necessidades de modernização, para que atinjam níveis de operacionalidade
condizentes com a estrutura estratégica e com os compromissos internacionais do
Brasil. Neste sentido, atribuirei ao Estado Maior das Forças Armadas novos encargos,
além dos já estabelecidos. E determinarei a apresentação de propostas, com base em
estudos a serem realizados em conjunto com a Marinha o Exército e a Aeronáutica,
para se conduzir a adaptação gradual das nossas forças de defesa às demandas do
futuro” Solenidade de posse no Congresso Nacional, Brasília, 01/01/95.
25
Sessão plenária do “1995 Mercosul Economic Summit”; também o Discurso de lançamento
do avião EMB-145.
26
Despedida do navio escola “Brasil”. Ver também o Discurso de lançamento do avião
EMB-145: “estamos ampliando esse tipo de relacionamento, que é um relacionamento
construtivo, mas que é um relacionamento que requer uma, eu não diria preocupação,
mas uma consideração da questão da nossa defesa e da questão militar. Nós não
estamos perdendo de vista os nossos interesses quando tomamos decisões que nos
levam a uma integração paulatina com os nossos vizinhos”.
17
praticamente nula. 27 A participação das FA no combate a essas ameaças é ligada
ao fornecimento de apoio logístico e a repressão de infrações em si estaria fora
de seu alcance, mais intimamente ligada à atuação da Polícia Federal. Repetidas
vezes, enfatizou-se que as forças armadas não viveriam uma mudança nas suas
funções constitucionais 28 e não se dedicariam ao combate ao narcotráfico ou se
especializariam em atividades policiais. O mesmo foi reafirmado por membros
do alto escalão político-militar brasileiro.29

Ainda assim, as discussões envolvendo Amazônia não se dissociam do binômio


Segurança e Desenvolvimento. Advoga-se maior presença militar na região como
vetor de legalidade e manutenção da ordem, além de propiciar oportunidades de
desenvolvimento por meio do programa Calha Norte30.

O resumo por excelência dos posicionamentos presidenciais é o próprio discurso


de lançamento da Política de Defesa Nacional:

“A prioridade que o governo vem dando à estabilização da economia e ao


atendimento dos programas sociais, sem atender plenamente às necessidades de
reequipamento dos órgãos de defesa deve-se, em grande parte, ao verdadeiro
anel de paz construído em torno do país.”
“O fortalecimento do processo de integração, proporcionado pelo
Mercosul, o estreitamento de relações com os vizinhos amazônicos, a
intensificação da cooperação com os países africanos de língua portuguesa e a
consolidação da zona de paz e cooperação no Atlântico Sul viabilizam essa
concentração de esforços.”
“É preciso, todavia, não esquecer que persistem zonas de instabilidade,
27
“O projeto SIVAM, que foi tão mal falado, em parte foi mal falado por isso, porque ele é
um instrumento de controlar o tráfego aéreo. Toda a fronteira norte do Brasil não tinha
controle. Até hoje não tem. Nós já pusemos uns radares, para controlar um pouco mais.
Mas não tinha nenhum controle, zero. (...) E não havia nada. Não havia nada. Quer
dizer, nós estamos articulando uma política global de combate, pelo menos, à entrada
de drogas e contrabando. Nós estamos atuando. E acho que devíamos ter atuado a mais
tempo e acho que nós, ainda, estamos muito aquém do necessário nessa matéria.”
Entrevista concedida pelo Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, no
encontro com jornalistas do projeto “Jornalista amigo da criança” – Andi.
28
Despedida do navio escola “Brasil”; Solenidade de apresentação dos novos oficiais
generais; Apresentação dos estagiários da escola superior de guerra; Entrevista
concedida ao programa “Jô Soares 11:30”; Palestra para alunos e estagiários dos
cursos de altos estudos das escolas de guerra naval (EGN), de comando do estado
maior do Exército (ECEME) e da Aeronáutica (ECEMAR) e da escola superior de
guerra (ESG); Encerramento do XXV curso de formação profissional de agente de
polícia federal; Discurso do Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, na
solenidade de apresentação dos estagiários da escola superior de guerra; Entrevista
concedida pelo Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, no encontro
com jornalistas do projeto “Jornalista amigo da criança” – Andi.
29
General LEONEL, “As Forças Armadas Brasileiras”, pg. 9. Também general CARDOSO,
“Amazônia é Prioridade da Política de Defesa”, pg. 19-21.
30
O propósito é reafirmado nas Mensagens ao Congresso de 1996 e 1997.
18
que podem contrariar os interesses brasileiros. A ação de bandos armados, que
atuam em países vizinhos, nos limites da Amazônia brasileira, e o crime
organizado internacional são alguns dos pontos que devem ser motivo de
atenção das estratégias decorrentes dessa política de defesa.”
“Dentre outras razões foi, também, em atenção a esses aspectos que fiz
inserir nas diretrizes para a consecução dos objetivos da política de defesa a
proteção da Amazônia, com o apoio de toda a sociedade e com a valorização
da presença militar e dos órgãos estimuladores de desenvolvimento e a
priorização de ações para desenvolver e vivificar a faixa de fronteira, em
especial nas regiões Norte e Centro-Oeste. E tudo isso com absoluto respeito
ao meio ambiente e às populações locais.”31

Um possível aumento de orçamento para as FA, considerado justo, é no entanto


visto como uma proposta difícil em meio ao contexto geral de preocupações com
outras áreas públicas consideradas prioritárias.32

31
Cerimônia de anúncio da Política de Defesa Nacional, pg. 16-18.
32
“Acho que, evidentemente, nada disso será feito de uma maneira adequada, se nós não
melhorarmos o orçamento das Forças Armadas. Isso, eu acho que é óbvio, se junta à
questão orçamentária geral. Mas nós temos tido muito empenho em que o Congresso -
e o Congresso tem respondido favoravelmente - entenda as funções das Forças
Armadas e dê os recursos às Forças Armadas, no seu preparo, no seu equipamento, na
sua capacidade de desenvolver programas de ciência, de tecnologia que capacitem as
Forças Armadas a estarem à altura do desafio."... Apresentação dos Estagiários da
Escola Superior de Guerra.

19
As Monografias da Escola Superior de Guerra

Desde o início de suas atividades em 1950, a ESG tem sido o berço de boa parte
do pensamento militar brasileiro. Durante a ditadura e mais adiante, a referência
de concepções militares e o documento principal da doutrina que balizava a ação
do exército brasileiro foi o seu manual básico.

Domício Proença Jr. e Paulo Moreira Franco mostraram ainda em 1989 que o
manual básico continuava valendo para os militares, apesar de ter perdido fôlego.
Das três Forças, os únicos oficiais que ainda permaneciam altamente atrelados
aos conceitos esguianos eram os do exército. Em algum grau, também foram
encontrados laços entre o discurso dos oficiais da aeronáutica e a doutrina da
ESG. Já os oficiais da marinha haviam dispensado suas concepções, tendo
inclusive superado a confrontação leste-oeste antes mesmo que ela terminasse33.

Os dois tradicionais cursos ministrados anualmente na ESG são o curso de altos


estudos para civis em política e estratégia, CAEPE, e sua versão para alunos de
procedência militar, CAEPEM 34. Ao fim do ano letivo junto a instrutores em
política e estratégia, cada aluno deve escrever uma monografia sobre um tema de
sua escolha. As monografias ficam guardadas na biblioteca da ESG e cópias das
melhores são enviadas para os ministérios militares em Brasília. Existe uma
expectativa de que elas tenham qualidade elevada e sirvam para consulta na
elaboração de políticas públicas. A maioria dos alunos de altos estudos da ESG
possui procedência civil e não militar. O curso é aberto para ambos os gêneros e
todas as profissões, sua meta é agregar diferentes áreas do conhecimento. Nos
últimos dez anos, algumas dúzias de monografias foram escritas sobre diferentes
temas com variados enfoques, alguns estratégicos, outros não.

Como os instrutores da ESG não possuem produção acadêmica, conhecer essas


monografias é uma maneira de compreender melhor as permanências e mudanças
no pensamento da instituição e a maneira como ele é ensinado, por meio de seus
resultados finais após o dispêndio do investimento. Ademais, os estudos do
CAEPEM permitem um contato com algumas pessoas que estarão entre as elites

33
FRANCO, “Defesa, Indústria Bélica, C& T (...)”, pg. 115-138; PROENÇA e FRANCO,
“Segurança e Defesa no Brasil: a Visão das Forças Armadas em 1989”, pg. 139-170.
34
Três outros cursos de aprimoramento de oficiais são ministrados na ESG, habilitando a
funções dentro das Forças específicas: o curso de política e estratégia marítima, C-
PEM, o curso de política, estratégia e alta administração do exército, CPEAEx, e o
curso de política e estratégia da aeronáutica – CPEA. O CAEPEM tem como finalidade
preparar oficiais para funções de chefia, comando e Estado-Maior combinados. É mais
abrangente que os demais e fornece o guarda-chuva programático para eles.
20
militares dentro de um horizonte médio (não existe uma estatística clara a
respeito de quantos oficiais, dentre os que fazem os cursos, terminam tendo suas
carreiras militares projetadas de alguma maneira com o decorrer do tempo para
cargos políticos e/ou operacionais decisivos). Alguns autores ecoam o
pensamento corporativista com grande fechamento doutrinário. Outros, por sua
vez, mostram-se mais abertos.

Algumas considerações metodológicas quanto ao recorte temporal 1989-1996:


não foi possível obter acesso à maioria das monografias pré-1991, pois estavam
guardadas em caráter reservado. Aquelas mencionadas abaixo datam em sua
maioria dos anos 1994, 1995 e 1996. São elas, ao todo, dezesseis: uma de 1989,
uma de 1990, uma de 1992, três de 1994, duas de 1995 e, finalmente, sete de
1996. O recorte temático obedeceu ao critério de conectividade com o tema deste
estudo, e entre estas o acesso foi quase total. O resultado final soma dezesseis
monografias em sete anos, recortadas a partir das seguintes questões. Cada uma
delas trará abaixo um resumo dos posicionamentos encontrados, com seus pontos
de contato ou discordância:

• O Fim da Guerra Fria;


• Um Novo Papel para o Hegemon Estados Unidos;
• As Forças Armadas e o Mercosul;
• As Forças Armadas e a Amazônia;
• Pensamento Militar Brasileiro;
• As Forças Armadas e o Orçamento da União.

O Fim da Guerra Fria

Muitas monografias repetem uma frase atribuída ao Almirante Vidigal, um


intelectual militar brasileiro dos anos 90: “o fim da Guerra Fria implicou na
mudança de um sistema de alta confrontação e baixa instabilidade para um
sistema de baixa confrontação, mas alta instabilidade”. Ou seja, antes era
possível ter algum grau de expectativa “x” ou “y” para as políticas militares dos
países dentro dos blocos alinhados, bem maior do que o grau de expectativa nos
planejamentos pós-bipolaridade. José Cosme de Azevedo esboça um pensamento
semelhante: “o equilíbrio de terror foi substituído pelo reinado da insegurança”35.

Alguns alunos identificam uma preponderância para os assuntos econômicos em


relação àqueles de segurança internacional.36 A exemplo de Mário Carrazza:

“As questões militares vêm perdendo sua proeminência face às questões


econômicas. A geoestratégia está sendo gradualmente sobrepujada pela

35
AZEVEDO, “Criação do Ministério de Defesa”, pg. 39.
36
CORTÊS, pg. 2; PEREIRA, “As Despesas Militares e o Orçamento da União”.
21
geoeconomia. Acredita-se que cada vez mais a capacitação tecnológica, a força
da cultura e, principalmente, o sucesso econômico, passem a exercer um papel
preponderante no cenário internacional, o que indica a tendência do fator
militar exercer um papel secundário, ou seja, atue mais como elemento de
37
dissuasão ou persuasão.”

Com igual freqüência, são identificados no mundo três superblocos econômicos:


um na América do Norte, encabeçado pelos Estados Unidos e com a aderência
imediata de Canadá e México, mas considerando toda a América como sua área
de influência a longo prazo; outro composto pelos países da União Européia com
influência imediata sobre o Leste Europeu, norte da África e Oriente próximo; e
um terceiro agrupando os países asiáticos sob o comando do Japão e em meio ao
extraordinário crescimento econômico da China. Na concepção tripartite, vê-se
uma mudança no eixo da economia mundial do Atlântico para o Pacífico38. A
nova dinâmica do poder mundial teria se deslocado do sentido leste-oeste para o
norte-sul. A produção de tecnologia seria o novo diferencial segregador de
países39 e as considerações de ordem econômica teriam se tornado mais cruciais.
Os países são classificados em superpotência (EUA), megapotências (Alemanha,
Japão), potências ascendentes (Brasil, Indonésia, China, Índia) e pseudo-
potências (Argentina, Chile, África do Sul, México, Tigres Asiáticos)40. Os
critérios que separam essas definições não são claros.

Um Novo Papel para o Hegemon EUA

Mesmo em um mundo economicamente multipolar, e apesar de potências como o


Japão e a Alemanha, é recorrente nos textos a noção de uma única potência
realmente completa, os EUA. Vitoriosos na Guerra Fria, os norte-americanos
seriam os únicos com real capacidade de intervir militarmente em qualquer lugar
do mundo 41. Sobre suas relações com o Brasil, existe uma percepção de que
teriam tomado para si, nos anos 90, o papel de ‘xerifes do mundo’ e estariam
empenhados em pressões para transformar as forças armadas de outros países em
forças policiais destinadas ao combate de problemas como o narcotráfico e o
crime organizado.42 Juntamente com outras potências, os EUA são acusados de

37
CARRAZZA, pg. 13.
38
Ver PEREIRA, pg. 11.
39
VILARINHO, pg. 8. AZEVEDO, pg. 30: “a dependência de tecnologia alienígena é, no
mundo atual, ponto comum, constituindo-se, mesmo, uma característica das FFAA dos
países em desenvolvimento. Sendo as FFAA independentes, certamente o
aparelhamento de cada uma far-se-á igualmente de forma independente e estanque, sem
levar em consideração o interesse da Expressão Militar como um todo, com reflexos
altamente negativos na sua eficácia global”. Para o conflito norte-sul, ver
CARRAZZA, pg. 37.
40
ROSA, pg. 11-13; CORTÊS, pg. 7-8.
41
GROMORI, “Adequação da Política Militar Brasileira”, pg. 9.
42
CARRAZZA, “A Hegemonia Econômico-Militar dos EUA”, pg. 19 e pg. 37.
22
iniciativas conspiratórias que visam a diminuir a capacidade de autodefesa e a
soberania de nações menos fortes43. Surge assim, nos textos, a discussão sobre as
possibilidades de ingerência internacional. Paralelamente, afirma-se que
instituições como a ONU teriam se tornado ‘reféns’ nas mãos dos EUA44.

As Forças Armadas e a Amazônia

As monografias são unânimes na defesa da Amazônia como a região mais


prioritária para o Brasil após o fim da Guerra Fria. Demonstram insatisfação
sobre o momento e acusam as organizações não-governamentais ali atuantes de
serem os primeiros enviados dos países ricos para prepararem o caminho da
internacionalização da floresta com apelos como ‘patrimônio da humanidade’ e
‘pulmão do mundo’45. Segue um exemplo dessa argumentação:

“As transformações resultantes desse novo cenário mundial, encontram


ressonância também em outros atores, que estão reformulando seus objetivos
originais na busca de uma readequação aos desígnios da nova ordem. São os
organismos internacionais, nascidos em um ambiente de reconstrução de
nações destruídas pela guerra, concebidos para harmonizar os interesses dos
países ricos. Não têm, portanto, desde sua gênese, muitos compromissos com o
desenvolvimento das nações menos avançadas.46”

Algumas realidades marcam de forma categórica a desconfiança dos esguianos.


Uma delas é o medo de um possível compartilhamento da soberania amazônica,
considerado por eles uma ameaça real e imediata:

“A UNESCO, em 1948, lançou a proposta do Instituto Internacional da Hiléia


Amazônica, visando a ocupação daquela área pelas nações da Europa. O
governo americano, na gestão George Bush, pressionou o governo japonês no
sentido da obstrução de uma linha de crédito, do chamado Fundo Nakasoni,
para a construção da rodovia Brasil-Peru, que possibilitaria o escoamento da
produção brasileira até o oceano Pacífico e, daí, aos mercados do Japão e
Tigres Asiáticos. (...) Durante a Guerra Fria, surgiram muitas entidades
privadas auxiliares da política externa de alguns países, conhecidas como
ONG’s. (...) [Algumas de suas] “causas nobre” são: direitos humanos, direito
das minorias, justiça social e proteção dos povos indígenas. Estes argumentos
buscam a justificativa moral para a aplicação de certas “novas idéias” tais
como: tarifa antidumping social – com vistas à promoção da justiça social;
“selo verde” – como penalidade comercial, objetivando proteção ao meio
ambiente; dever de ingerência e direito de intervenção – que se contrapõem ao
antigo princípio da Guerra Fria, sobre a não interferência; reformulação do
papel das forças armadas – que deveriam limitar-se à manutenção da ordem
pública local, no conceito de Robert MacNamara, e, ainda, a soberania

43
CARRAZZA, , pg. 19.
44
CARRAZZA, pg. 37; CORDEIRO, pg. 15.
45
ROSA, “As Despesas Militares e o Orçamento da União”, pg. 40.
46
VILARINHO, “Mercosul como Estratégia de Segurança Nacional para a Amazônia, 12-13.
23
limitada ou compartilhada – pela submissão das nações ao princípio da
prevalência do direito da maioria sobre o da minoria, tese defendida por
François Mitterand sobre a Amazônia. Estes conceitos são pronunciados por
eminentes personalidades políticas internacionais com base no quadro de
incertezas do mundo moderno, fundamentando-se no problema do narcotráfico,
o contrabando de riquezas naturais, agressões à natureza, o desrespeito aos
direitos humanos e a proteção à causa indígena. Nesse contexto, é expressiva a
afirmativa de Boutros Ghali, Secretário Geral da ONU: “a noção de soberania
dos Estados é um conceito flexível e cada caso é um caso””47

São mencionados ainda discursos de autoridades como Gorbatchev e Miterrand,


senadores norte-americanos a declarações do Grupo dos Cem sugerindo que o
Brasil aceite os movimentos de internacionalização da floresta48. Essa suposta
‘outra face’ do ecologismo é denunciada ainda em 198949. Todas as oito
monografias que tocam no tema tomam essa percepção como realidade efetiva.
Apenas uma delas não compartilha a postura hostil das demais, e defende que o
Brasil saiba tirar proveito da situação de outras maneiras 50. Para os insatisfeitos,
a defesa da Amazônia resulta em considerações desenvolvimentistas: seria
preciso intensificar a política estatal de segurança e desenvolvimento na região.

Há alguns indícios de que a tese da “orquestragem” internacional é transmitida


aos alunos da ESG por seus instrutores. O argumento encontra vazão não apenas
nas monografias, mas também em um dos seus documentos de estudo, a leitura
sugerida publicada em 1995 por Luiz Carlos de Albuquerque Santos. Ela diz:

“Ainda não detectamos sinais de haverem os [países] mais ricos decodificado


tal mensagem, e algumas de suas atitudes arrogantes complementam o quadro
de injunções, mais ou menos veladas, que nos proporciona elementos para
identificar as fontes mais prováveis de possíveis ameaças.”51

Ao contrário das posições esguianas, a valoração oficial brasileira da presença de


ONG’s internacionais na Amazônia nos anos 90 é em geral positiva. Suas
atuações foram bem-vindas e sua capacidade de trabalho, reconhecida. Durante o
governo de FHC, no entanto, houve manifestação de altos escalões militares em
tom de denúncia. O General-Ministro do então EMFA, Benedito Leonel, referiu-
se a supostas “pretensões desnacionalizantes de tribos indígenas apoiadas por
organizações internacionais” na Amazônia52 (o apoio oficial de governos a essas
pretensões não deve ser, no entanto, inferido de suas palavras). As palavras de
Leonel fazem coro, de maneira mais moderada, às do ministro do exército de
Collor de Mello, Carlos Tinoco, que criticou a atividade das ONG’s e a presença
47
VILARINHO, pg. 13-14; ANTUNES, pg. 10.
48
GROMORI, pg. 34; PEREIRA, pg. 18-20 e 44.
49
LEITE, pg. 29.
50
COMBER, pg. 33.
51
SANTOS, “A Modernização das Forças Armadas dos Países do Cone Sul”.
52
LEONEL, “Perspectivas para as Forças Armadas Brasileiras”, pg. 42.
24
estrangeira na região amazônica, logo após o incidente do rio Traíra em 199153.

Mercosul e Segurança Hemisférica

Historicamente, os países Latino-americanos do sul possuem uma trajetória de


cooperação militar que remonta ao período das Guerras de Independência. Em
1986, o então Presidente José Sarney alavancou a iniciativa de criar uma Zona de
Paz e Cooperação do Atlântico Sul, com o objetivo declarado de promover uma
desmilitarização na área por meio de medidas de confiança mútua, afastando
assim o Atlântico Sul dos centros do conflito bipolar irresolvido de então 54. Essa
iniciativa é vista pelos esguianos como um diferencial em uma história de
desenvolvimento, “a partir de estímulos norte-americanos para o atendimento dos
seus próprios interesses e não necessariamente dos países da região” 55 (emerge
assim uma vez mais o viés contra os EUA).

A América Latina é vista como uma região calma e reunindo as condições que
favorecem tentativas de integração regional bem sucedidas, inclusive militares. A
integração regional, tal como se pautava até 1996, é vista pelos estagiários como
geradora de ótimas perspectivas para a criação de exercícios conjuntos e mesmo
coordenações mais arrojadas. A percepção reinante é a de que os resultados já
obtidos no âmbito do Mercosul quase asseguram que, tanto para o Brasil quanto
para a Argentina, o antigo inimigo se transformou no parceiro preferencial56.
Cleonilson Silva apresenta até mesmo a proposta da formação de um bloco
militar de defesa coletiva na região com base nos princípios de “adesão
voluntária” e “manutenção de soberania”.57 Por sua vez, Vasconcelos Gromori
sugere o aprimoramento da Política Militar Brasileira por meio de novas
diretrizes, entre elas uma especificamente direcionada ao “intercâmbio e
integração progressiva com as forças armadas de outras nações”58 e com vistas ao
desenvolvimento de doutrina e pensamento militar conjunto.

Em meio à separação das três grande regiões – Pacífico, Europa, América do


Norte – o Mercosul é visto como um bloco periférico de menor importância.
Entretanto, a possibilidade de políticas militares conjuntas é percebida como uma
maneira de aumentar o poder político e dissuasório59. A noção de defesa coletiva
é bem-vinda. Uma das monografias vislumbra para um horizonte temporal não

53
Diário do Congresso Nacional: Ata da 29ª sessão, em 4 de abril de 1991 – 1ª sessão
legislativa ordinária do Senado Federal, pg. 2.
54
SILVA, pg. 30-31.
55
SILVA, pg. 47.
56
SILVA, pg. 46.
57
SILVA, pg. 48-49.
58
GROMORI, pg. 40.
59
CARRAZZA, pg. 14.
25
muito distante um recorte geográfico já definido: do Oiapoque à Patagônia 60.

Pensamento Militar Brasileiro

O fim da ameaça platina é uma mudança importante no pensamento dos militares


brasileiros. O que restou da antiga hipótese de guerra envolvendo a região foi
uma percepção minguada de possibilidade de conflito.

“É aquela [hipótese] contra país ou países regionais por motivos históricos,


tais como questões de limites, aproveitamento de rios ou outros recursos
naturais, divergências de interesses econômicos ou políticos, proteção aos
cidadãos e bens brasileiros naqueles países, eclosão de conflitos regionais ou,
finalmente ameaça à segurança, à soberania ou à integridade do Brasil.”61

Do mesmo modo, foram também abandonados os pensamentos de guerra global e


guerra subversiva. Uma boa síntese desse processo é a seguinte:

“Das três hipóteses de conflito (HC) que dominavam o pensamento militar: a


Guerra Global, a Guerra Subversiva, e a Guerra Regional, as duas primeiras
perderam a sua razão de ser ficando sem credibilidade e a terceira HC perdeu
qualquer sentido desde que ficou evidente a necessidade dos países, de cada
região, se aglutinarem em blocos econômicos e aumentarem a cooperação na
esfera política, para em uma economia cada vez mais globalizada não ficarem
à margem do processo mundial, restando a hipótese de emprego mais provável
de nossas FA, em futuro previsível, seria em conflitos de baixa intensidade
associados a atividades ilícitas (tais como o narcotráfico, mineração ilegal ou
o contrabando) em áreas de fronteira ou à presença de guerrilheiros de países
vizinhos em Território Nacional.”62

A conseqüência desse processo seria a falta de um pensamento militar claro no


presente. A responsabilidade é atribuída por vezes à sociedade civil alheia aos
assuntos militares63. Sente-se a falta de uma política coerente no estabelecimento
de linhas de ação claras para as FA. Para uns, a solução deste problema estaria na
criação de um ministério de defesa responsável pela elaboração de políticas
integradoras. O texto de Cleonilson Silva pondera sobre a questão:

“Diferentemente do passado, a adaptação do pensamento militar sul-americano


à realidade ora vivida por seus países depende mais de um processo autônomo
de convencimento do que de fatores exógenos. Em verdade, a busca da
integração de Forças Armadas que se desenvolveram de forma isolada, e tendo
na outra um inimigo potencial, representa uma proposta de mudança da sua
base estrutural de pensamento, sendo perfeitamente normal, pois, esperar-se a

60
ROSA, pg. 18.
61
Concepção Política Militar, pg. 9.
62
ROSA, pg. 39.
63
CORDEIRO, pg. 68-80.
26
reação contrária da parte de vários dos seus setores.”64

No mais, permanecem as reivindicações usuais pela definição de uma política


militar que balize os planejamentos, de forma urgente.

“Carece o Brasil de um pensamento militar. Temos, ao longo dos anos,


trabalhando Doutrinas oriundas do pensamento de alguns militares,
normalmente adaptados de modelos importados, ou injetados em nosso meio.
Falta uma linha filosófica de pensamento que sirva como trilha para que, ao
redor dela, se tracem as Doutrinas que permitirão a aplicação da Força
segundo o desejo da Nação”.65

“Em face da nova conjuntura mundial, torna-se necessário o estabelecimento


dos conceitos estratégicos, seja o nacional, sob a responsabilidade da
Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), seja o militar, a ser atualizado pelo
EMFA. A ausência desses dois documentos básicos traz para as FS
conseqüências altamente negativas, pois se vêem forçadas a realizar seus
planejamentos de alto nível, baseados em premissas eleitas sob a óptica de
cada uma, individualmente, com o grave risco da perda de unidade de
propósitos.”66

O Orçamento das Forças Armadas

Entre os assuntos tratados na ESG, o orçamento das forças armadas é o mais


recorrente. Em quase todos os anos no período 1989-1996, o tema foi adotado em
pelo menos uma monografia. Via de regra, argumenta-se que mesmo em um
período de paz o país possui um grande patrimônio a zelar; que uma crise
econômica não é motivo para o descuido quanto à defesa nacional; que o número
aproximado de 300.000 militares não é suficiente diante do patrimônio a se
proteger da cobiça alheia; e que o equipamento atualmente utilizado está
obsoleto a níveis críticos, prejudicando assim o treinamento dos militares67.

Para os esguianos, a cifra média de 0,5% do PIB destinada às FA nos anos 90


não condiz às suas tarefas e nem à dimensão que elas devem assumir68.

64
SILVA, pg. 46-47.
65
CORDEIRO, pg. 68.
66
AZEVEDO, pg 22. Sobre a falta de unidade na doutrina: pg. 23-24.
67
GROMORI, pg. 30-33. Ver também PEREIRA, pg. 29-39.
68
O argumento está presente nos estudos de LEITE, pg. 10-20; GROMORI, pg. 31;
CARRAZZA, pg. 31; SILVA, pg. 46-47; ROSA, pg. 30-37.

27
A Discussão nos Periódicos Intelectuais Militares

Os principais periódicos militares em que intelectuais de orientação teórica


expressaram pensamentos de maneira mais extensa nos anos 90 foram A Defesa
Nacional, a Revista da ESG e a Revista Marítima Brasileira. A influência desses
intelectuais é patente: nas monografias da ESG, seus artigos sobre conjuntura
nacional, mundial e forças armadas são universalmente citados.

A possibilidade de intervencionismo internacional também está presente em suas


percepções. Entretanto, mesmo para o mais categórico entre eles, Carlos de
Meira Mattos, essa concepção não atinge os tons conspiratórios de várias das
monografias. Em um artigo de 1994, o Mattos alude claramente à atuação dos
países do G-7, o grupo dos mais ricos e desenvolvidos, no orquestramento de
ingerências mundo afora. Seria assim preciso manter um “grau de ameaça
convincente” de poder dissuasório69. Em sua análise, a dissuasão estratégica
“deveria representar a base da sustentação de uma estratégia militar brasileira”70.

Com uma visão moderada sobre o tema, Mário César Flores afirma que as
pressões diplomáticas e das ONG’s sobre o Brasil seriam grandes, mas “a
intervenção direta não é, no curto prazo, uma realidade plausível” 71. Entre os
dois na intensidade de suas opiniões, Armando Vidigal comenta a forte tendência
intervencionista do fim do século sem especificar agentes. Da maneira como o
seu texto se apresenta, apreende-se a sugestão de que o agente central no
processo é a ONU72.

Para Mário Flores, a ação brasileira de defesa deveria trabalhar sobre as


seguintes linhas principais: a) tornar a pressão militar menos atrativa nas disputas
brasileiras em assuntos globais; b) dissuadir aventuras regionais, consideradas
então improváveis; c) exercer um papel em manutenção de paz em conflitos
internacionais onde os interesses brasileiros se comprometam; d) manter um
poder naval de acordo com convenções internacionais e dentro da jurisdição e
economia brasileiros; e) ajudar no controle de guerrilhas, narcotráfico e
contrabando, considerados conflitos de baixa intensidade, quando a polícia não o

69
MATTOS, “A Dissuasão Estratégica na Conjuntura Mundial”, pg. 71-73; “A Missão das
Nossas Forças Armadas na Perspectiva da Nova Ordem Mundial”.
70
MATTOS, “Reflexões sobre uma Estratégia Militar para o Brasil”, pg. 111; “A Amazônia e
a Dissuasão Estratégica”, pg. 85 a 88.
71
FLORES, “Amazônia, Realidades e Mitos”.
72
VIDIGAL, “Estratégia e o Emprego Futuro da Força”, pg. 58-59; “O Papel das Forças
Armadas no Novo Contexto Mundial”; “Atlântico Sul: uma Análise Pós-Guerra Fria”.
28
puder fazer; e, finalmente, f) manter a ordem interna sob a Constituição 73. Sua
listagem ecoa nos escritos de Eduardo Pesce, que ressalta seis dimensões
bastante similares para a nova conjuntura: “1) Dissuasão de intervenções ou
pressões militares contra o Brasil, por potências extracontinentais; 2) dissuasão
de conflitos e antagonismos regionais que ameacem a segurança e os interesses
do Brasil; 3) defesa das fronteiras terrestres em situações de conflito de baixa
intensidade associado à guerrilha ou a atividades ilícitas; 4) defesa dos interesses
marítimos do Brasil e garantia da segurança nas águas sob jurisdição brasileira;
5) garantia da integridade nacional e da ordem pública no campo interno, e
desempenho de atividades de defesa civil nas calamidades públicas; 6) garantia
da estabilidade, da ordem e da vida humana em áreas de conflito no exterior,
atuando em cooperação e sob mandato internacional”.74

73
FLORES, Bases para uma Política Militar, pg. 157. Citação extraída de BITTENCOURT,
“Brazilian Strategic Landscapes... or Sunset?”. FLORES também desenvolve tema no
artigo “Preocupações Militares do Fim do Século (Ilações sobre o Caso Brasileiro)”,
salientando a necessidade de a) uma capacidade defensiva ‘clássica’; b) força de
projeção de poder; c) controle da Amazônia; d) controle das águas costeiras; e)
capacidade de apoiar a ordem constitucional e legal em situações especiais (pg. 41).
74
PESCE, “O Estado Brasileiro e a Defesa Nacional no Mundo Pós-bipolar”, pg. 73.
29
A Produção Civil de Pensamento Estratégico no Brasil

Poucos autores se dedicam aos estudos estratégicos no Brasil. Por isso o material
disponível é muitas vezes menor do que o dos outros campos ligados às relações
internacionais. O que se segue é um recorte entre pensamento específico sobre as
forças armadas e pensamento estratégico sobre a situação mundial nos anos 90.

Pensamento Estratégico Específico sobre Forças Armadas

A respeito das FA, destacam-se dois artigos escritos para o livro Uma Avaliação
da Indústria Bélica Brasileira. Neles, os autores entrevistaram militares de altas
patentes das três forças em busca do pensamento das elites militares ainda antes
do fim oficial da Guerra Fria. São criticadas as dificuldades da pesquisa durante
o regime militar na dificuldade de acesso a informações sobre os militares e na
ausência de documentos disponíveis. Por outro lado, os autores afirmam que a
receptividade dos entrevistados à iniciativa de um mapeamento foi grande75.

Os posicionamentos dentro das três forças variaram bastante em alguns pontos.


São apontados resquícios da Doutrina de Segurança Nacional fortemente
arraigados no discurso dos entrevistados do exército, para os quais um conflito
com a Argentina em 1989 ainda seria uma possibilidade. Os oficiais do exército
mantinham-se fiéis à doutrina esguiana e afirmavam consensualmente que o
Brasil estava despreparado para as ameaças da Guerra Fria. Acreditavam ainda
na vocação para atuar no Atlântico e na possibilidade de guerra interna em caso
de confrontação direta entre leste e oeste. Identificou-se entre eles a percepção de
perigo envolvendo a Amazônia a partir de pressões exercidas pelos EUA e por
movimentos ambientalistas internacionais 76. No caso de envolvimento em algum
conflito, acreditavam que teriam tempo para preparação enquanto o possível
conflito real se intensificasse aos poucos. Em tempos de guerra, isso cuidaria de
mobilizar o país e criar as capacidades de combate necessárias77.

Os oficiais da marinha não compartilhavam essa visão. Para eles, a bipolaridade


já teria terminado há tempo e, na hipótese de conflito interno, não caberia às
forças armadas o papel de repressão. Sem se ater à doutrina esguiana e sequer

75
FRANCO, “Defesa, Indústria Bélica, C& T: o Ponto de Vista dos Atores”, pg. 115-138;
PROENÇA e FRANCO, “Segurança e Defesa no Brasil: a Visão das Forças Armadas
em 1989”, pg. 139-170.
76
PROENÇA e FRANCO, “Segurança e Defesa no Brasil (...)”, pg. 168.
77
PROENÇA e FRANCO, “Segurança e Defesa no Brasil (...)”, pg. 169.
30
mencionando-a, os oficiais da marinha pensavam estritamente na possibilidade
de ameaças externas 78. Das três forças, a marinha foi a única a clarificar melhor
suas diretrizes aos cidadãos em seu Plano Básico, que se baseava no conceito da
dissuasão defensiva e salientava quatro tarefas navais: “o controle da área
marítima, a negação do uso do mar, o ataque à terra e a partir do mar e a
demonstração de força”. A manutenção de uma guarda costeira era vista pelos
seus oficiais como algo além de suas atribuições principais79.

Na percepção dos oficiais de aeronáutica, não haveria ameaças externas. Sua


Força não construiu cenários de conflito; trabalhou apenas na manutenção de um
mínimo operacional factível. O apego à doutrina esguiana era intermediário entre
o do exército e o da marinha, não chegando nem ao dogmatismo do primeiro nem
à sua desconsideração. Durante as entrevistas, os oficiais da aeronáutica logo
abandonava as premissas da DSN e passaram a questões de desenvolvimento
tecnológico 80: enfatizavam os aspectos de defesa ligados à unicidade do poder
aéreo com estruturas utilizáveis tanto em tempos de paz quanto de guerra, e
ressaltaram três prioridades: os projetos AMX, SINDACTA, e VLS.81

O que se discutiu sobre quais seriam as necessidades, os níveis adequados e o


preço aceitável da defesa nacional? A situação se complica se as discussões
fundamentais sobre o lugar e as ambições do país não estão claras: a indefinição
termina se perpetuando nas decisões relativas à compra de material, nos efetivos
treinados e na determinação de quanto e como deve ser investido em tecnologia
nacional. Os resultados da falta de direcionamento são a formação de um
agregado cheio de incertezas, a imperfeição na informação, a falta de
transparência e racionalidade no emprego de recursos e na condução de
programas, e o sub-aproveitamento de potenciais que poderiam ser melhor
usados em planejamentos mais modestos ou direcionados.82

Ao coordenarem seu planejamento organizacional e apesar da ausência de uma


política de defesa, as FA trabalharam sobre dois conceitos: a) a dissuasão e b) a
organização em núcleos táticos e operacionais83. Sem ameaças claras, a tendência
das Forças foi dedicar-se a atividades de preparo e preservação de capacidades de
longo prazo. O estrategista Domício Proença Jr., no entanto, alerta que essa
atitude é arriscada: facilitar a dispersão de esforços e a perda de noção de
conjunto. Ao não se priorizarem áreas ou concentrarem esforços em função de
finalidades claras, existe o perigo da busca de uma qualificação ‘adequada’ em

78
FRANCO, “Defesa, Indústria Bélica, C& T (...)”, pg. 120-127.
79
PROENÇA e FRANCO, “Segurança e defesa no Brasil (...), pg. 150-153.
80
FRANCO, “Defesa, Indústria Bélica, C& T (...)”, pg. 128-129.
81
PROENÇA e FRANCO, “Segurança e Defesa no Brasil (...)”, pg. 158-165.
82
Sem dúvida, a discussão mais consistente já escrita sobre esses problemas é a de
PROENÇA e DINIZ, Política de Defesa no Brasil: uma Análise Crítica.
83
PEREIRA, “As Perspectivas da Indústria Bélica Brasileira nos Anos 90”, pg. 79.
31
todas as áreas, não se conseguindo, na prática, níveis satisfatórios de resultados
em nenhuma delas84.

Para lidar com essa realidade, Proença propõe uma nova metodologia baseada no
conceito de “Força Mínima” 85. A Força Mínima pressupõe que, apesar de
hipoteticamente válida, a percepção de que um país está livre de ameaças não
elimina a incerteza inerente às relações internacionais: o fato de que não existe
uma ameaça hoje não quer dizer que não existirá uma amanhã. Adicionalmente,
pode-se lembrar que não existe uma garantia internacional ou instituição capaz
de proibir os países de se agredirem e coagi-los a respeitar as convenções
estabelecidas. Ainda que exista o mecanismo de segurança coletiva da ONU, esse
aparato tem se mostrado aquém de sua idealização86; depende da capacidade real
de aportes financeiros dos países membros da Organização e obedece a lógicas
políticas que extrapolam a simples proibição do uso da força nas relações
internacionais, tal como está explícito no artigo 2, parágrafo 4 da sua Carta87.

A Força Mínima seria assim, em um contexto de ausência de ameaças claras, a


manutenção de forças armadas com capacidades práticas satisfatórias, apesar de
‘mínimas’: atende ao princípio de que esforços devem ser continuamente
empregados para a travessia de contextos nos quais as ameaças são difusas, a um
custo aceitável. A determinação da Força Mínima, no entanto, é uma tarefa
política, observando-se naturalmente os padrões de estado da arte da ciência
militar. A discussão sobre o tamanho e a qualidade das forças armadas deve ser
feita em instâncias como o Parlamento e o futuro ministério de defesa. Proença
sugere uma concepção inicial de seus critérios mais importantes: considerações
de natureza técnico-operacional e estratégico-logístico.

Politicamente, o Brasil convive ainda hoje com a escassez de informações. O


exemplo fundamental é a ausência de um “white paper”, o livro branco sobre
defesa que é anualmente publicado e atualizado em diversos países, e no qual se
pode observar discurso e prática no planejamento militar, bem como a superação
do isolamento entre os militares e o Congresso, a opinião pública e os estudiosos.
A sua necessidade é defendida até mesmo em declarações militares, como aquela
feita em 1995 pelo Ministro General Benedito Leonel: “É indispensável que seja
elaborado um livro branco das forças armadas, de livre acesso a qualquer cidadão

84
PROENÇA, “Prioridades para as Forças Armadas”, pg. 29-30.
85
PROENÇA, “Força Mínima. Notas sobre uma Defesa Mínima Suficiente do Brasil”.
86
Para os desafios da ONU e do direito internacional nos anos 90, ver AREND e BECK, pg.
4: “a ONU tem sido amplamente incapaz de utilizar efetivamente qualquer quantidade
de poder que ela possua em teoria”.
87
“All members shall refrain in their international relations from the use of force against the
territorial integrity or political independence of any states, or in any other manner
inconsistant with the purposes of the United Nations”
32
do país, contendo as informações básicas sobre as instituições militares”.88

Pensamento Estratégico em seu Sentido Amplo

“Há sólidas evidências de que o pensamento estratégico brasileiro está


conturbado (...) Depois de sessenta anos de domínio, um projeto nacional, de
natureza autárquica, planejado centralmente e ambicioso na aspiração de projetar
o Brasil como potência, transformou-se”. Com essas precisas palavras, Thomaz
Guedes da Costa inicia um de seus escritos sobre segurança hemisférica89. O
mesmo texto traz a definição de estratégia sobre a qual este estudo se baseia:

“É uma concepção globalizante de unidade e de direção de todas as decisões


transfuncionais da entidade política autônoma, num ambiente interativo de
oportunidades e riscos para interesses, para a transcendência de um cenário
para outro”90.

A partir dela, é muito difícil entender as aspirações brasileiras nos anos 90. A
postura crítica não se limita aos analistas e estudiosos, mas é compartilhada por
pessoas que trabalham nas áreas públicas da inserção internacional do país91.

A transição ao mesmo tempo interior e exterior vivida nos anos 90 foi marcada
por um lado pela redemocratização do país e a retirada dos militares da política
strito senso, deixando assim as posições hegemônicas de decisão e,
gradualmente, retornando ao papel de instrumentos políticos. Por outro, o fim da
Guerra Fria proporcionou uma quebra na previsibilidade nos planejamentos
estratégicos, agora que a única certeza seria a de mudança 92.

Para Costa, a falta de um planejamento estrategicamente coeso é em parte fruto


da transição entre um governo autoritário e os governos de natureza democrática,
cujos processos políticos obedecem a novas dinâmicas eleitorais competitivas.
Nos anos 90, a agenda política nacional se pulverizou e isso dificultou a
formação de um projeto de inserção internacional. Adicionalmente, a abertura
política do Brasil demite a antiga vertente interna da noção de segurança
nacional, uma vez que a participação e a luta por poder foi ampliada para

88
LEONEL, “Perspectivas para as Forças Armadas Brasileiras”, pg. 41.
89
COSTA, “O Balanço Estratégico e o Brasil na Segurança do Hemisfério Ocidental”, p. 69.
90
COSTA, “O Balanço Estratégico (...)”, p. 70.
91
SARDENBERG, “A Inserção Estratégica do Brasil”, pg. 14: “Diante desse rico quadro de
possibilidades, será necessário que se promova o desenvolvimento de modalidades
flexíveis e criativas de pensamento estratégico. Certos princípios diretores devem ser
observados, ao mesmo tempo que se torna imperioso desenvolver a noção de projeto”.
Também LEONEL em “Perspectivas para as Forças Armadas Brasileiras”, pg. 43 e
AQUINO, “Cenário 2000: Forças Armadas para Quê? A Visão do Exército”, pg. 37.
92
Ver BITTENCOURT, “Brazilian Strategic Landscapes... or Sunset?”.
33
diferentes correntes e posicionamentos e aumentou o espaço para a discussão e
deliberação de questões de segurança. Diminuiu assim a possibilidade de
planejamentos holísticos e dissociou a segurança nacional das agendas de política
interna, sociais e de segurança pública. No campo externo, as incertezas geradas
pelo fim da Guerra Fria e o desmantelamento de uma ordem congelada há meio
século coincidem com o fenômeno de integração regional. No lugar da alegada
rivalidade anterior, restaram uma série de concepções difusas sobre a utilidade da
região no estabelecimento de medidas de caráter estratégico. A utilização de
termos como “balanço militar” e “equilíbrio de poder” estaria assim fora das
considerações brasileiras sobre como interagir com os seus vizinhos, exceto nos
momentos de grandes compras de armamentos93. Costa afirma categoricamente:
“o conceito de Cone Sul não encontra, hoje, utilidade operacional na reflexão
estratégica brasileira” 94.

O Dilema da Segurança e as Medidas de Confiança Mútua

O conceito do Dilema de Segurança é uma das construções mais influentes da


teoria de Relações Internacionais; é uma noção tão antiga quanto a guerra, que
nos tempos recentes foi operacionalizada de maneira reconhecida no artigo
escrito por John Herz em 1950, Idealist Internationalism and the Security
Dilemma. Sua formulação argumenta que diferentes países podem, dependendo
de fatores geográficos e padrões históricos de amizade ou inimizade, estar de tal
forma ligados em suas percepções mútuas que aquilo que um faz para aumentar a
sua segurança pode terminar tendo o efeito de diminuí-la, ao gerar suspeita nos
outros. Quando um país toma medidas para aumentar a sua segurança – por
exemplo a modernização de suas forças armadas ou o desenvolvimento de
tecnologias utilizáveis para fins bélicos – seus vizinhos e outros países podem se
sentir ameaçados e, como reação, também se armarem. Assim, o primeiro país
não aumenta a sua segurança e pode até diminuí-la; nos efeitos práticos sobre as
ações de outros decisores, diminui a segurança de todos. Uma vez que os outros
países da região se fortaleçam, o primeiro é realimentado em sua percepção de
que necessita de se armar mais. Em uma bola de neve, esse fenômeno pode gerar
corridas armamentistas. O ambiente internacional ‘anárquico’, no qual cada país
precisa prover sua segurança por conta própria, propicia dilemas de segurança95.

93
COSTA, “O Balanço Estratégico (...), pg. 74. A afirmação encontra respaldo na entrevista
presidencial de 01/09/97: “Não vai haver corrida armamentista. Eu tenho tranqüilidade
quanto a isso. Pode haver, e é necessário que haja, reposição de armamento, às vezes
obsoleto, aqui ou ali. (...) Então, não há esse risco”.
94
COSTA, “O Balanço Estratégico (...)”, p. 73.
95
As referências clássicas do século XX para essa discussão são as obras de Hans
MORGENTHAU, Politics Among Nations e Dilemmas of Politics; e de Kenneth
WALTZ, Man, the State and War e Theory of International Politics.
34
As saídas para o dilema da segurança são a criação de condições de cooperação e
diminuição da incerteza; a busca de transparência e a capacidade de desistir de
aspirações e posicionamentos vistos por outros como ameaçadores. A discussão
contemporânea sobre percepções mútuas começou na Guerra Fria: estudiosos
norte-americanos chamavam a atenção para as condições nas quais a cooperação
entre as duas potências diminuiria aquilo que Phillipe Delmas caracterizou como
o “vértigo” nuclear96. Existiriam assim maneiras de aumentar a cooperação e
diminuir a possibilidade de conflito aberto: comportamentos de ‘toma-lá-dá-cá’
em que as partes se comprometem a, gradualmente, aumentar a previsibilidade de
suas ações. Com compromissos factíveis cumpridos, pode-se caminhar para a
cooperação a mais longo prazo e o aumento de benefícios entre as partes97.

Costa adverte que o dilema pode surgir também na ausência de uma postura
estratégica bem definida, em meio às tecnologias ditas duais – utilizáveis tanto
para fins pacíficos quanto bélicos. Menciona o exemplo do projeto do submarino
de propulsão nuclear, tido como prioritário para a marinha: tecnicamente um
submarino de ataque, sua construção é oficialmente vindicada para aplicações
doutrinárias defensivas. Mas esse tipo de projeto poderia gerar suspeita e causar
dilemas da segurança. Em sua visão, é esse tipo de ‘cálculo’ que aparenta estar
longe das mentes dos decisores brasileiros98.

Sua discussão menciona ainda as medidas de confiança mútua, MCM’s. Também


chamadas medidas de fomento da confiança e segurança, elas se baseiam nos
princípios de transparência e previsibilidade. Nas palavras de Francisco Aravena,
são “um conjunto de medidas práticas que evitem que por um erro de
interpretação se produza uma situação de tensão, com o conseguinte perigo de
escalada”99, “‘atos’ habitualmente precedidos ou acompanhados de declarações
favoráveis à paz, compreensão e harmonia entre os povos. Isso significa que se
busca fazer conhecidas essas ações para que o auditório internacional seja
testemunha, com o que dão maior força à obra”.100 Para que as MCM funcionem
eficazmente, as intenções declaradas de um país se devem acompanhar de
políticas setoriais e militares claras, compreensíveis por vizinhos e potenciais
concorrentes, e acenem com a possibilidade de cooperação. Dentro do conceito, é
fundamental que a prática esteja em conformidade com as declarações oficiais e
que estas sejam coerentes. Do mesmo modo, os feitos práticos e as perspectivas
de futuro devem estar visíveis. Não há que se legitimar apenas aquilo que já se
fez ou está fazendo, mas também aquilo que se deseja fazer, de modo a afastar

96
DELMAS, El Brillante Porvenir de la Guerra, cap. 1.
97
OYE, “The Conditions for Cooperation in World Politics”; GRIECO, “Anarchy and the
Limits of Cooperation”; STEIN, Why Nations Cooperate, pg. 03 a 54.
98
COSTA, “O Balanço Estratégico (...)”, pg. 76.
99
ARAVENA, “Medidas de Confianza Mutua y Balance Estratégico: un Vínculo Hacia la
Distención y Estabilidad”, pg. 12.
100
ARAVENA, pg. 13.
35
interpretações errôneas a respeito das políticas adotadas. Aravena menciona, ao
todo, dez critérios interligados para a construção de confiança.101 As medidas
devem ser: 1) transparentes e abertas, com vistas a estabelecer claridade sobre
os objetivos que se perseguem ou sobre as ações que se desenvolvem; 2)
previsíveis, como forma de estabelecer de um padrão de conduta confiável; 3)
recíprocas e equivalentes, devendo existir uma simetria básica entre os
compromissos, ou ao menos compensações; 4) acompanhadas uma comunicação
adequada, lembrando sempre que o objetivo das medidas é a melhoria das
percepções, através da interlocução; 5) estabelecer uma relação, ou um padrão
de relação, com permanência no tempo; 6) serem factíveis, ou seja, realistas em
sua execução, buscando a simplicidade de metas que possam ser alcançadas com
custos plausíveis; 7) coerentes, estando em concordância com outras políticas,
dentro daquilo que poderia ser chamado de projeto, ou ‘grande estratégia’; 8)
verificáveis, preferencialmente trabalhando-se com prazos que possam ser
cumpridos, e ampla liberdade de todas as partes para inspeção mútua; 9)
possuidoras de suporte social, isto é, legitimidade e preferencialmente amplo
consenso doméstico; e 10) variáveis segundo o número de agentes, isto é,
respeitando lógicas específicas de relacionamento, à medida em que o processo
de entendimento entre os decisores se multilateraliza. Apontando para a
integração regional na América Latina na virada da década,102 Aravena identifica
um processo que define como ‘transferência de instabilidade’ e ressalta três
fatores: o transbordamento de uma situação nacional aos vizinhos, a falta de
controle sobre parte do e a desterritorialização de novas ameaças103.

Para Costa, o fim da Guerra Fria enfraqueceu a noção de unidade hemisférica nos
tomadores de decisão em política externa e de defesa no Brasil, uma noção que
teria sido substituída pelo viés mais economicista de interdependência de
mercados. Costa afirma: “a estrutura de conferências dos ministros das relações
exteriores, no espírito da Conferência de Bogotá de 1948 e da Organização dos
Estados Americanos, e o Tratado Interamericano de Assistência Recíproca
tornaram-se quadros falidos para transmitir noções de efetiva segurança para
brasileiros”.104 Os instrumentos de representação e coordenação regional teriam
assim se tornado débeis no atendimento das demandas de segurança coletiva nos
anos 90, e em seu lugar entraram mecanismos informais de concertação como o
Grupo do Rio. Em outro artigo, Costa aponta a importância do relacionamento
entre Estados Unidos e América Latina, um relacionamento que não estaria ainda
claro e manteria, como única certeza, o fim do intervencionismo característico da
Guerra Fria sem apontar ainda um novo padrão. A coesão entre os países latino-
americanos também teria se perdido no aumento da imprevisibilidade a respeito
de concordâncias ou discordâncias com os EUA, incluindo as questões de
101
ARAVENA, pg. 16-19.
102
ARAVENA, pg. 6.
103
ARAVENA, pg. 9.
104
COSTA, O Balanço Estratégico (...), pg. 77.
36
segurança internacional e hemisférica.105 O relacionamento entre Brasil e EUA
não estaria contemplando privilégio algum; apenas um cordial aproveitamento de
oportunidades em alguns setores. A intensificação do contato com os EUA seria
assim apenas uma possibilidade a mais entre outras.106

Costa também identifica no discurso brasileiro de lisura e compromisso para com


as convenções internacionais a ambição de um assento permanente no Conselho
de Segurança da ONU. Tal discurso, característico da primeira metade da década,
foi repetido à exaustão durante o governo FHC. A possibilidade de revisão da
Carta da ONU, de mudanças no Conselho e da inclusão do Brasil como um de
seus membros com direito a veto teriam sido assim as principais apostas do país
em segurança internacional na década107. Essa afirmação de Costa é amplamente
amparada por discursos oficiais, afirmações de altos escalões das forças armadas,
autoridades diplomáticas e materializa-se claramente nas cinco primeiras
diretrizes do documento Política de Defesa Nacional.108

105
COSTA, “América Latina y los Nuevos Retos para Crear un Régimen de Seguridad
Internacional en la Posguerra Fría”, pg. 78.
106
COSTA, “O Balanço Estratégico (...)”, pg. 79. Ao discutir a Política de Defesa Nacional,
Costa afirma: “a dificuldade reside não na elaboração do planejamento estratégico, mas
na gestão estratégica (...) é necessário dar uma unidade à gestão estratégica, para nos
prepararmos para uma eventual execução de ações complexas”. Em “Workshop sobre
Defesa Nacional”, pg. 27 e 29. Ver também BITTENCOURT, “Percepção de Ameaças
e o Perfil Estratégico Brasileiro na “Nova Ordem Internacional”, pg 25 e SANTOS,
“Segurança Defensiva – Idéias”, pg. 179.
107
COSTA, “Segurança Coletiva: Pensamento e Política do Brasil”.
108
a) contribuir ativamente para a construção de uma ordem internacional, baseada no estado
de direito, que propicie a paz universal e regional e o desenvolvimento sustentável da
humanidade; b) participar crescentemente dos processos internacionais relevantes de
tomada de decisão; c) aprimorar e aumentar a capacidade de negociação do Brasil no
cenário internacional; d) promover a posição brasileira favorável ao desarmamento
global, condicionado ao desmantelamento dos arsenais nucleares e de outras armas de
destruição em massa, em processo acordado multilateralmente; e) participar de
operações internacionais de manutenção da paz, de acordo com os interesses nacionais.
37
Conclusão
As Forças Armadas e o Fim da Guerra Fria

Como os capítulos deste estudo mostraram, o fato consensualmente reconhecido


nas FA no período 1990-1996 foi a ausência de um direcionamento estratégico
capaz de coordenar planejamentos.

A base legal para a atuação das FA foi composta pelos princípios de relações
internacionais e as funções delimitadas na Constituição de 1988. Oito anos
depois, o lançamento do DPDN foi um marco importante no refinamento dos
propósitos nacionais; entretanto, o documento não é capaz de clarificar diretrizes
pontuais. Nas declarações oficiais, os governos Collor e Franco fizeram poucas
menções sobre um redimensionamento para as Forças e a determinação das
linhas de política de defesa e planejamento continuou acontecendo em cada
ministério militar de forma insulada. No governo FHC, iniciativas pioneiras
foram tomadas ao mesmo tempo em que cresceu a discussão sobre o papel dos
militares. Estudiosos civis como Antônio Carlos Pereira, Domício Proença Jr.,
Oliveiros Ferreira e Thomaz Guedes da Costa despontaram em suas análises.

Externamente, as Forças enviaram contingentes a diferentes partes do mundo em


missões da ONU. Em dispêndios e números de efetivos, a participação principal
foi a UNAVEM. O interesse do país nessas missões foi primariamente justificado
no discurso oficial pela campanha por um assento permanente no Conselho de
Segurança da ONU.

Como afirma Thomas Guedes da Costa, a marca da década de 80 foi o fim de um


‘ciclo estratégico’ no qual o Brasil buscava se transformar em uma potência
mundial. Um dos elementos mais importantes nesse momento foi a incapacidade
brasileira “de neutralizar suas vulnerabilidades de interdependência externa”,109
alargando assim o planejamento autárquico ao máximo, por quanto tempo pôde
sustentar. No plano interno, o mais importante evento foi a redemocratização. O
fim da ideologia de combate ao comunismo significou a perda das quatro mais
importantes percepções de ameaça, as causas-âncora que justificavam
planejamentos e ações anteriores: guerra subversiva; confrontação bipolar; ambas
ocorrendo simultaneamente; a ameaça platina. A perda de expectativas e sua
desmistificação ideológica produziu um enorme impacto mental, colocando em
questão o papel das FA. Em meio à indefinição, os planejamentos existentes
foram mantidos em um nível mínimo operacional. Com a redemocratização, um

109
COSTA, “Premissas Estratégicas e Política de Defesa: Integração Internacional e
Dissuasão na Estrutura das Forças Armadas”, pg. 46.
38
cenário político centralizado deu lugar à competição democrática, com seu
método competitivo de escolha de lideranças. Houve de fato um pequeno
descompasso temporal entre um evento e o outro – a redemocratização política
do Brasil, de um lado, e o colapso do comunismo, de outro. Mas os efeitos
conjugados de ambos os processos constituem de fato uma explicação poderosa
para a crise programática de segurança nacional nesta década.

Iniciou-se assim um período no qual a única certeza foi a da mudança. Os antigos


‘inimigos’ não mais estavam presentes no pensamento estratégico e, como
conseqüência o próprio pensamento estratégico ruiu. A antiga Doutrina de
Segurança Nacional se esfacelou ao longo desse processo, perdendo fôlego na
década de 90 apesar das atualizações feitas pelo EMFA e pela ESG no Manual
Básico. Todo o aparato conceitual por ela construído se diluiu em meio à falta de
um inimigo contra o qual pudesse ser aplicado o ‘poder nacional’ na busca da
manutenção de ‘objetivos nacionais’. As FA experimentam a carência de uma
causa e do poder de influência decisória sobre o qual foi erigido o modus
operandi anterior; e, com a abertura, reassumiram o papel instrumental
subordinado à dinâmica política nacional. O efeito principal dessa mudança é
apontado por Alexandre Barros em um ótimo comentário: no novo contexto, as
FA “têm que fazer suas reivindicações orçamentárias e disputá-las política e
tecnicamente. Precisarão, a partir de agora, não só explicar para que querem o
dinheiro que reivindicam nas propostas orçamentárias, mas também vão ter que
lutar por esse dinheiro na arena política”.110

As mudanças no quadro mental trouxeram novas percepções difusas sobre


ameaças à soberania e conflitos de baixa intensidade, envolvendo principalmente
problemas como narcotráfico, guerrilha e contrabando na Amazônia. Escritos
militares do período e monografias da ESG levantaram a possibilidade de
ingerência por parte de potências externas, enfatizando a urgência de projetos
como o SIVAM e o Calha Norte e denunciando o orçamento destinado às FA. Os
militares reclamam de dificuldades nunca antes vistas, num estrangulamento que
gera problemas de continuidade nos projetos planejados e conduzidos.

Acima de tudo, declarações oficiais e discussões entre estudiosos focalizaram o


conceito de dissuasão: a manutenção da paz por meio de capacidades defensivas
intimidatórias. Ao contrário da defesa nos contextos de hostilidades já em curso,
o sucesso de uma dissuasão está na desistência do potencial inimigo diante de
custos que superam os benefícios de uma eventual agressão. A eficácia de uma
boa dissuasão se dá por meio de resultados dificilmente comprováveis: ela
funciona bem quando conflito armado não acontece. Implica, portanto, em uma
avaliação incerta: se não houve hostilidades, não é possível afirmar com cem por

110
BARROS, “O Novo Papel das Forças Armadas Brasileiras: a Reforma da Doutrina, da
Mentalidade e do Ensino”, pg. 14-15.
39
cento de certeza que isso aconteceu porque uma dissuasão foi bem sucedida ou
porque não houve interesses hostis. O especialista Antônio Carlos Pereira, por
exemplo, argumenta de maneira bastante convincente que o “desinteresse de
terceiros de tomar a via de fato com o Brasil” 111, e não a capacidade dissuasória
do país é a principal causa da ausência de conflitos nos anos 90.

A dissuasão envolve assim uma importante questão em sua elasticidade retórica.


Existe um espectro fluido sobre o qual essa elasticidade pode se dar: uma de suas
pontas é a percepção de guerra iminente, capaz de gerar uma mobilização
política clara da sociedade. A outra ponta, por sua vez, corresponde à situação
brasileira dos anos 90: não há ameaças claramente percebidas, e os assuntos de
segurança se retiram do primeiro plano político. Nessas circunstâncias, é difícil
legitimar gastos com defesa e modernização de forças armadas. Naturalmente, a
realidade inclui também outros fatores determinantes no curso dos eventos: por
exemplo, inércias institucionais, prestígio e legitimidade junto à sociedade e
capacidade de influência política.

Levando em conta todos esses fatores, a conclusão deste estudo é a concordância


com o ponto de vista já defendido de maneira bastante consistente por Domício
Proença Jr. e Eugênio Diniz 112: como os objetivos políticos brasileiros são
incertos, o conceito de dissuasão não resolve o problema a que se propõe. Sem
objetivos claros, a dissuasão não difere em coisa alguma da pura e simples
indefinição; a discussão sobre meios colapsa sem uma discussão de fins. O
discurso sobre dissuasão tece considerações genéricas e, num contexto em que
diversas outras áreas demandam recursos de maneira urgente, a legitimação de
investimentos em defesa é dificultada. As boas-vindas à democracia, tanto para
militares quanto para os políticos eleitos, implicam agora na resposta a uma
desafiadora pergunta que permanece sem resposta: “os recursos são poucos para
quê?”.

Em meio à indefinição política e à inércia na condução dos projetos das FA,


existe ainda o perigo do investimento em várias áreas para ao final ser bem
sucedido em nenhuma delas, o que implicaria em má-utilização de recursos que
são públicos. Nenhuma realidade poderia contribuir mais para a evolução do
quadro do que o envolvimento do Parlamento nos espaços decisórios da política
externa e de segurança, bem como a criação de um Ministério da Defesa
realmente capaz de aumentar a sinergia entre as três Forças, responsabilizando-se
de maneira madura e responsável pela contabilidade pública de seus recursos.

111
PEREIRA, “As Perspectivas da Indústria Bélica Brasileira nos Anos 90”, pg. 80.
112
PROENÇA e DINIZ, Política de Defesa: uma Análise Crítica.
40
Referências Bibliográficas para a Parte I

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46
PARTE II – AS DIMENSÕES FÍSICA
E TECNOLÓGICA
Por Érico Esteves Duarte

47
Os Instrumentos da Guerra

A bibliografia que trata de analisar as forças armadas no mundo faz, geralmente,


a seguinte tripartição: forças armadas de tradição ocidental que incluem, além de
Estados Unidos, Canadá e países da Europa Ocidental, Japão, Taiwan, Coréia do
Sul. e Israel; forças armadas de tradição russa/soviética: Rússia, países da
Comunidade dos Países Independentes, Leste Europeu e Coréia do Norte; e por
último, forças armadas do Terceiro Mundo que assimilam características dos
outros dois grupos da forma que lhes convém e/ou possam arcar. A China, apesar
de sofrer grande influência da tradição militar russa e não ser ainda denominado
como país economicamente desenvolvido, não é consensualmente classificada.
Alguns a alocam junto aos países do Terceiro Mundo, outros em grupo nenhum.
Nesta pesquisa quando o assunto tocar a esse país, será mencionado
individualmente. Leva-se em consideração, além da China possuir mísseis
balísticos nucleares e diversas outras tecnologias de ponta, o fato de ela possuir,
atualmente, a maior força armada do mundo em termos quantitativos.

Obviamente, a descrição e comparação de armas e equipamentos militares é


centrada nas forças armadas americanas e russas, por serem as que mais se
desenvolveram nos últimos quarenta anos e devido a influência militar que
exercem sobre os outros países No entanto, coloca-se sob análise as forças que
servem de referência para às Forças Armadas do Brasil ou dos quais se adquirem
mais sistemas de armas nos últimos anos, notadamente: Alemanha, Inglaterra,
França, Itália e Suécia. Apesar de tanques, aviões e navios serem meios de
engrandecimento de uma força, outros fatores vitais, dificilmente mensuráveis
(não discutidos nesse trabalho), são liderança, logística e inteligência.

Forças Terrestres

“A força terrestre é a unidade decisiva em uma guerra. Embora a tecnologia


tenha possibilitado o domínio do ar e dos mares, é no chão que as guerras são
decididas. É possível vencer uma guerra através de bombardeiros aéreos ou por
bloqueios e ataques de navios de combate. Mas não é dessa maneira que a guerra
é decidida.”113 Isso se deve por ser no solo que se garantem a subjugação do
adversário através da destruição de suas forças e o domínio de suas cidades e
recursos. É onde há o domínio físico e final do adversário.

113
DUNNIGAN, James F.; How to make War. Quill – Nova York , 1993, p. 27.
48
Nesta seção do trabalho serão apresentados os principais componente das forças
terrestre atuais. São elas: a infantaria, tanques e artilharia. Antecipadamente, será
apresentado como as principais forças terrestres mundiais estão organizadas.

Estilo Russo de Organização de Forças Terrestres

As diversas divisões russas têm quase o mesmo tipo de organização, apenas


diferenciando-se de três maneira em relação ao seu preparo As com maior grau
de preparo são chamadas “grupos de força”. Eram estacionadas no Leste Europeu
e apresentavam-se com os equipamentos mais novos e 100% em posição de
combate. São um total de 30 divisões (15 de tanques e 15 de infantaria). Foram
removidas, recentemente, para a Rússia ocidental e Ucrânia, com parte de sua
capacidade reduzida.114 È fácil deduzir que estas são as divisões de primeiro
emprego em caso de conflito e que, durante a Guerra Fria, seriam as primeiras a
serem usadas em caso de decisão de invasão à Europa Ocidental. Ou seja, foram
o pesadelo dos governantes daqueles países por muito tempo.

A segunda categoria possui 43 divisões (11 de tanques e 32 de infantaria). São as


seguintes no quesito equipamento, no entanto possuem 1.500 homens, 75 tanques
e 50 peças de artilharia a menos. Em tempos de paz, apenas em torno de 50%
delas ficam em estado de força total. Podem ser trazidas à ativa integralmente em
dias e preparadas para combate em menos de um mês.

O terceiro grupo de divisões é o que apresenta as piores condições devido a crise


por qual passa o país. Seu arsenal tem uma má manutenção e são os mais velhos
da força. Em torno de 50% das 92 divisões (20 de tanques e 72 de infantaria)
estão em processo de desmantelamento

O Exército Vermelho conta ainda com sete divisões de pára-quedistas e uma de


forças anfíbias (diferente dos EUA, que possuem uma instituição militar
específica para essa categoria – os Marines, a antiga União Soviética as mantém
dentro de um mesmo comando que as forças terrestres). Várias outras brigadas e
batalhões dessas duas últimas categorias ficam distribuídas pelo país; por último,
possui em torno de 15.000 soldados de comando e forças especiais. .115

Devido à crise do fim da década passada, a ex-URSS passa por uma vertiginosa
e, por vezes, desregulada redução de suas forças. E conta atualmente com menos
de 100 divisões:116 é dito “apenas” porque durante o auge da Guerra Fria, a
URSS tinha em suas mãos entre tropas ativas e reservistas 200 divisões!117

114
DUNNIGAN, James F.; Ibdem., p.54.
115
DUNNIGAN, James F.; Ibdem., pp. 54-55..
116
SIPRI Yearbook 97. Military Expendure.
117
DUNNIGAN, James F.; Ibdem., p. 54.
49
Como será comprovado e dito várias vezes durante esse trabalho, as forças
ocidentais são mais bem treinadas e mais bem equipadas, no entanto, tendo em
mente o contexto de Guerra Fria e de uma suposta guerra convencional, seria de
alguma maneira possível vencer uma força armada de 200 divisões, sendo que
cada uma divisão soviética/russa tem 13.400 homens? Somando-se a isso, as 57
divisões que possuíam os países do Leste Europeu?

Em relação à composição de suas unidades, o Exército russo apresenta suas


forças estendidas sobre a unidade denominada regimento. Tem a mesma função
do batalhão ocidental, no entanto possui a capacidade de atuação mais
independente no campo de batalha. Muitos países do terceiro mundo tem adotado
a organização russa, todos pelas mesmas razão: terem menos recursos
tecnológicos em comunicação como os exércitos ocidentais e por ser uma
estrutura mais simples de manter e operar.

Organização Típica de Uma Divisão Russa de Infantaria Mecanizada 118:

1 divisão de quartel geral: 380 homens;


3 regimentos de infantaria mecanizada: 2.700 homens cada;
1 regimento de tanques: 1.101 homens;
1 grupo de artilharia: 1.800 homens, 12 canhões de 100mm, 24 lançadores de foguetes de 124mm, 12
carros para transporte de tropas AT-5 com mísseis guiados anti-tanque, 4 lançadores de mísseis
SS-21, 72 peças de artilharia auto-propulsados de 152mm;
1 regimento para defesa antiaérea: 302 homens, 20 lançadores de mísseis superfície-ar SA-8B e ou 6
SA-6;
1 batalhão de tanques independentes: 241 homens e 51 tanques;
1 batalhão de reconhecimento: 300 homens, 28 carros blindados para transporte de tropas, 6 tanques e
motocicletas;
1 batalhão de engenheiros: 380 homens;
1 batalhão de sinaleiros: 294 homens;
1 batalhão de defesa química: 150 homens;
1 batalhão de suporte técnico e manutenção: 294 homens;
1 batalhão médico: 158 homens;
1 batalhão de transporte: 217 homens;
1 companhia de aviação: 220 homens, 6 helicópt. Mi-2, 8 Mi-8 e 8 Mi-24;
1 companhia de controle de tráfego

A organização típica de uma divisão russa de tanques difere da anterior apenas


em 3 regimentos de tanques, cada uma com: 1.580 homens, 94 tanques, 51 carros
de transporte de tropas, 4 lançadores de mísseis ZSU-23, 4 SA-13 e 24 morteiros
auto-propulsados de 122mm, 6 pontes autopropulsadas e 1 batalhão de infantaria
mecanizada.

Estilo Ocidental de Organização de Forças Terrestres

As divisões dos países ocidentais são similares em tamanho e equipamento


(mesmo entre suas próprias divisões, diferindo das russas que possui em
alternância qualitativa e quantitativa de uma para outra), só diferem no modo de
118
DUNNIGAN, James F.; Ibdem., p. 56.
50
serem usadas. A Alemanha é a única exceção: tem sua unidade de brigada
atuando de maneira mais independente que os outros países ocidentais (mais
parecida com o regimento russo) e possui melhor munição, artilharia e carros
blindados para transporte de pessoal. Para evitar uma leitura desnecessária,
iremos apenas descrever a constituição de uma força terrestre norte-americana
que é a mais significativa:

Organização Norte-americana de Forças Terrestres – Divisão de blindados:119

3 batalhões de quartel general: 130 homens cada;


5 batalhões de tanques;
4 batalhões de infantaria mecanizada;
3 batalhões de artilharia auto-propulsada: cada um com em torno de 800 homens, 36 peças de artilharia
de 155mm, 12 de 203 mm e 12 lançadores de foguetes;
1 bateria de radares;
1 batalhão de defesa aérea: 626 homens, 18 veículos com canhões, 18 veículos com mísseis superfície-
ar e 60 mísseis Stinger;
1 brigada de combate de aviadores: 1.270 homens, 60 helicópteros de ataque, 50 de escolta, 54 de
transporte e 12 helicópteros de guerra eletrônica, 3 veículos blindados de tropas M-3;
1 batalhão de sinaleiros: 582 homens;
1 companhia de polícia militar: 201 homens;
tropas de suporte: 2.253 homens.

A organização de uma divisão de infantaria mecanizada é a mesma de uma de


tanques, diferindo por ter um batalhão a menos de tanques e um a mais de
infantaria mecanizada.

Na divisão de infantaria leve, as únicas diferenças em relação às anteriores são: 9


batalhões de infantaria não mecanizada, nenhuma de tanques e 3 de artilharia não
autopropulsada. Essas divisões são para emprego imediato em qualquer parte do
país. Os Estados Unidos possuem, ainda, uma divisão de pára-quedistas e uma de
assalto aéreo (tropas de comando e forças especiais).

Como nas forças russas, o Ocidente tem tido o seu contingente diminuído de
maneira constante (ver tabela em abaixo). Tal diminuição tem desencadeado
várias atribulações políticas nos países, envolvendo a discussão sobre o
relacionamento entre orçamento e o preparo futuro das forças armadas. Essa
discussão (como será apresentada na última parte deste ensaio) também tange à
idéia de uma revolução nos assuntos militares.

Outra característica nas Forças ocidentais é o número cada vez maior de países
transformando suas forças de conscritos (alistamento obrigatório) por forças de
voluntários. As vantagens dessa mudança são: ter uma força mais capaz, redução
dos gastos com treinamento e menos complicações em caso de redistribuição de
pessoal por razões orçamentárias. A desvantagem é nem sempre conseguir

119
The Military Balance 96/97, p. 23.
51
ocupar as vagas necessárias para preenchimento de quadro.120

Diminuição dos Efetivos das Forças Armadas dos Países-Membros da OTAN (em milhares de soldados)

País Ano
1992 1993 1997*
Bélgica 91 91 40
Canadá 84 80 76
Dinamarca 29 28 15
França 432 411 371
Alemanha 447 408 300
Grécia 159 159 159
Itália 354 325 297
Luxemburgo 0,8 0,8 0,89
Holanda 91 74 70
Noruega 33 29 25
Portugal 58 58 Sem informação
Espanha 217 201 170/190
Turquia 560 480 360
Inglaterra 293 259 241
Estados Unidos 1,914 1,730 1,355
Fonte: The Military Balance 93/94, p.33.

Infantaria

A infantaria é a unidade militar mais antiga e que irá sempre persistir, mesmo
nos dias de hoje quando se prega um mundo dominado pelas forças econômicas.
Diante as novas dimensões que enfrentam as forças armadas das grandes
potências, responsáveis por operações de paz e intervenções, e as características
dos conflitos regionais buscando autodeterminação e mais suas complexas
particularidades políticas fazem a infantaria ter a sua importância enaltecida.
Sem mencionar que em algumas condições de terreno como montanhas, pântanos
e florestas tropicais, não importa o que se consiga através da tecnologia, apenas a
infantaria é capaz de combater.

As inovações e pesquisas dentro dos centros de pesquisa militares estão


relacionadas a característica de a infantaria ser a unidade terrestre mais suscetível
a ataques do inimigo; a empecilhos de clima e terreno; e a falta de suprimentos,
mesmo com a presença de carros blindados leves de transporte de tropas e outros
tipos de equipes de apoio. O primeiro objetivo dos cientistas militares tem sido
aumentar a capacidade de sobrevivência das tropas, aprimorando a sua
resistência às influências do terreno, clima e vegetação através de filtros d’água
individuais e desenvolvimento de vacinas com maior poder de imunização.

Ainda tentando prover às tropas maiores chances de sobrevivência e, ao mesmo


tempo, oferecendo condições para o cumprimento de suas missões, os exércitos
dos países desenvolvidos têm incorporado receptores GPS. Uma das maiores

120
The Military Balance 93/94, p.33.
52
causas de fatalidade de tropas era quando as tropas eram submetidas a regiões
desconhecidas e se perdiam. O GPS é um sistema que inovou contra esse mal.
Baseia-se em um dispositivo manual e portátil que recebe periodicamente sinais
de satélite com informação de coordenadas. O dispositivo em mãos do soldado
não emite sinais (para não ser detectado pelo inimigo), apenas recebe.

O GPS foi desenvolvido e empregado pelo exército norte-americano com o nome


US Navstar Global Positional System. Foi usado pela primeira vez em 1978,
quando o primeiro satélite do sistema foi lançado. O sistema foi somente
finalizado em 1993. Consiste em 21 satélites em seis planos orbitais diferentes a
20.000 Km de altura. O sistema além de prover a posição (necessário 3 satélites),
pode prover posição e altura (4 satélites).

Na Guerra do Golfo, o sistema ainda não estava completo, contando apenas com
13 satélites e não sendo o “serviço” oferecido o dia inteiro. No entanto, logo após
o término desse conflito, foi feito a solicitação de uso desse equipamento por 11
países aliados da OTAN. Atualmente, são duas empresas privadas que gerenciam
a comercialização do sistema de navegação GPS: a Trimble Navigation e a
Magellon Systems Corporation. Já existe há algum tempo um modelo comercial
portátil do tamanho de um rádio de carro custando em torno de 3.000 dólares.121.

O GPS também é encontrado nos helicópteros de combate UH-1H e Cobra, caças


F-111, Tornado, Jaguar, no bombardeiro B-52, navios, tanques e nos kits de
sobrevivência de tripulação aérea. A última inovação tática feita em cima da
tecnologia GPS foi o seu uso no refinamento de ataques aéreos e de mísseis. Um
soldado de solo usando um receptor GPS e um telêmetro laser pode determinar a
distância e melhor ângulo de ataque para unidades aliadas, ou dar aviso
antecipado sobre artilharia antiaérea inimiga.

A mira laser é uma outra inovação mais ou menos recente que oferece ao atirador
uma indicação precisa de aonde haverá o impacto do tiro em uma distância de até
800 metros. Com o mesmo fim da mira laser, mas para uso noturno ou em
péssimas condições de tempo, existem aparelhos de visão térmica para rifles com
uma capacidade de 400 a 1.000 metros, dependendo das condições.122

Outros equipamentos que estão facilitando a vida de um soldado de infantaria


são: o uso de rádios individuais mais potentes, mais duráveis e com sistemas
especiais para dificultar a intercepção; laptops para comunicação mais refinada,
avaliação de condições de terreno e situação de combate; softwares de comando
e controle que oferecem um quadro de decisões cabíveis a determinadas

121
ANSON, Peter e CUMMINGS, Dennis; The First Space War. In The First Information
War. AFCEA International Press - Fairfax, 1992, pp. 126-127.
122
DUNNIGAN, James F.; Ibdem., pp.44-45.
53
situações reais; detectores de minas mais precisos e armas mais leves e
fulminantes 123. Devido a todos a esses avanços, a principal tendência nas
unidades de infantaria do mundo é a sua redução, porém aumento da eficácia. A
redução deve-se, também, ao encarecimento do preparo e equipamento das tropas
com a maior complexidade e custo de manutenção dessas novas tecnologias. A
redução de ameaças e insuficiência de manter-se o nível de despesas em assuntos
militares, da mesma forma, tem sido decisivo. Os EUA, por exemplo, de 18
divisões que seu exército possuía na Guerra Fria, tiveram 8 desativadas. 124

O aumento da eficiência da infantaria é, primeiramente, resultado do aumento no


rigor do treinamento e utilização de sistemas de simulação mais realistas e que
exigem mais do recruta. Uma das razões que levaram haver algum tempo entre a
declaração de guerra dos EUA ao Iraque e o seu primeiro ataque (seis meses), foi
devido as tropas norte-americanas estarem passando por um intenso treinamento
nos desertos da Califórnia, simulando as condições e táticas necessárias para um
combate no tipo de condição e terreno do Oriente Médio.

Tipos de Organização de Unidades de Infantaria Russa/Norte Americana

Categoria Categoria de unidades.


Regimento russo Batalhão Companhia Pelotão
Números de unidades. 1 3/1 9/4 27/12
Homens 2.250 441/696 103/111 30/33
Tanques 40 0/0 0/0 0/0
Carros blindados 195 37/99 12/14 3/4
Artilharia autopropulsada. 24 0/0 0/0 0/0
Mísseis antitanque 116 36/12 212/23 3/7
Metralhadoras pesadas 234 73/108 21/27 6/9
Morteiros médios 24 8/0 0/0 0/0
Morteiros pesados 0 0/0 0/0 0/0
Canhões antiaéreos 4 0/0 0/0 0/0
Lançadores de mísseis 4 0/0 0/0 0/0
superfície-ar
Lançadores de mísseis 27 9/7 0/0 0/0
superfície-ar portáteis
Lançadores de foguetes 81 27/72 9/18 3/4
antitanque
Fonte: DUNNIGAN, James; How to Make War, pp. 50

Principais Armamentos da Infantaria

Armamento País Calibre (mm) Tiros por minuto Alcance (m) Aplicação
FN/G3 Alemanha 7,62 75 800
AK-47/M Rússia 7,62 90 400 Rifle padrão de
M-16A1 EUA 5,56 80 600 infantaria.
AK-74 Rússia 5,45 100 500
MG3 Alemanha 7,62 200 1200
M-60 LMG EUA 7,62 200 1200 Metralhadoras
PKM Rússia 7,62 200 1200 leves

123
DUNNIGAN, James F.; Digital Soldier. St. Martin Press - Nova York, 1996, pp. 37-39.
124
The Military Balance 96/97, p.15.
54
RPK Rússia 7,62 120 800 Versões pesadas
RPK-74 Rússia 5,45 120 600 de rifles de assalto
SAW EUA 5,56 200 800
Fonte: DUNNIGAN, James; How to Make War, pp.62.

Infantaria no Brasil

Mesmo o Exército Brasileiro possuindo, no total, 8 divisões terrestres (segundo


The Military Balance 96/97), sua disposição e especialização de forças é baseada
na unidade militar brigada. “É a unidade básica de combinação de armas e
serviços, integrada por unidades de combate, de apoio ao combate e de apoio
logístico, com capacidade de atuar independentemente e de durar na ação” 125 Em
relação a forças terrestres estrangeiras, o Brasil apresenta uma grande
especialização de suas tropas, devido à extensão geográfica e variedade de relevo
e vegetação e, em segundo lugar, devido à restrição orçamentaria que requer uma
maior racionalização na formação e disposição das tropas e equipamentos. A
seguir, são enumerados os tipos de brigadas do Exército Brasileiro e suas
composições mais comuns:

Brigada de infantaria blindada: cada uma com 2 batalhões de infantaria, 1 de blindados e 1 de artilharia;
Brigada de infantaria motorizada: 26 batalhões;
Brigada de montanha;
Brigada de selva: 14 batalhões;
Brigada de fronteira: 6 batalhões;
Brigada de pára-quedistas: 2 batalhões;
Brigada de infantaria leve: 20 helicópteros de combate HA-1 “Esquilo” e 16 HM-1 “Pantera” (não se
tem o número de batalhões).126

A brigada de infantaria leve foi composta recentemente, apresentando um grande


diferencial qualitativo em relação às demais:. Possui uma estrutura
organizacional diferenciada, equipamento de última geração (como GPS, óculos
e lunetas de visão noturna, aparelhos de pontaria laser, modelos de rifles e
lançadores de foguetes diferentes dos standard da Força ) e condição de emprego
imediato. É, também, um tipo de laboratório de estrutura, doutrinas, táticas e
armas para o restante da Força. De certa forma, teve influência na filosofia de
emprego da divisão de infantaria leve dos Estados Unidos.

A brigada de infantaria leve faz parte do programa do Exército denominado


‘núcleos de modernidade’. São iniciativas isoladas em que se aplica tecnologia
de ponta e técnicas militares mais modernas no intuito de reduzir o
distanciamento tecnológico.

Brigada de Infantaria Brasileira127:

125
Revista do Exército Brasileiro. Centro de Comunicação Social do Exército - edição 1997,
p. 18.
126
The Military Balance 96/97, p.142.
127
O EB tem uma nomenclatura específica que usa parênteses para apresentar suas unidades
55
2 Batalhões de infantaria (pode variar dependendo do emprego); 1 companhia (esquadrão) de cavalaria;
1 batalhão ( grupo) de artilharia de campanha;
1 companhia (bateria) de artilharia antiaérea;
1 companhia de comunicações;
1 companhia de engenharia;
1 batalhão logístico;
1 pelotão de polícia do exército;
1 companhia de comando de brigada.

Armamento da Infantaria Brasileira128 :

Fuzil standard: FAL (fuzil de ataque leve) 7,62 mm e fuzil tipo OTAN de 5,62 mm (ambos de origem
belga produzidos sob licença);
Morteiros médios e pesados de 60, 81, 107 e 120 mm de origem tanto européia quanto nacional;
Metralhadora leve de calibre 7,62 mm MAG (metralhadora de ataque a gás – de mesma origem dos
fuzis);
Lança foguetes anti – tanque portáteis Eryx (francês). Recentemente, foram adquiridos foguetes anti-
tanque de origem russa para a unidade de brigada leve.

Foi a primeira vez que o Brasil adquiriu um equipamento fabricado no Oriente 129.

Tanques

Os tanques foram introduzidos na Primeira Guerra Mundial provocando a


primeira revolução militar deste século, ou seja, mudou completamente os
padrões de condução da guerra. Atualmente, têm como características serem
rápidos e possuírem altíssimo poder de fogo, sendo uma síntese de infantaria e de
artilharia. No entanto, sua acessibilidade é restrita a certas condições de terreno.
E diferente de outras unidades, cada país esforça-se em produzir seu próprio
tanque, tendo em vista o terreno, a tática de combate, hipóteses de emprego e sua
capacidade de produzi-los. 130

A Rússia tem por característica dar ênfase na potência do motor, grandes canhões
e uma espessa armadura. No entanto, não desenvolveram um sistema de tiro tão
bom como dos tanques ocidentais. Economizam em espaço interno e conforto
para a tripulação, mas gastam muito na quantidade que produzem cada modelo.
Isso acontece por ter a Rússia uma estratégia de guerra essencialmente terrestre.
Segundo suas tradições e história militar, dão prioridade às forças terrestres e à
quantidade, com apenas o estritamente necessário em qualidade.

Nos Estados Unidos, dá-se prioridade a um pesado poder de fogo, proteção

de artilharia e cavalaria.
128
Como na tabela das forças estrangeiras, é descrito o equipamento padrão. Unidades de
comando e de elite utilizam equipamento de origem e fabricante diferentes e qualidade
superior.
129
SIPRI Yearbook 97.
130
DUNNIGAN, James F.; How to Make War, pp. 87-90.
56
blindada resistente, conforto à tripulação e avançados sistemas de controle de
tiro. Já a Alemanha tenta aplicar uma “filosofia” intermediária entre as duas
anteriores: alto poder de fogo, qualidade do equipamento e velocidade,
permitindo-se menor atenção em peso e proteção.

A França esforça-se em tanques leves, enquanto a Inglaterra em menor


velocidade e mais proteção. A Suécia tem seus tanques modelados para uma
aplicação defensiva, menor alcance de tiro, não possuem torre giratória, mas um
sistema de recarregamento automático de projéteis. Israel tem em seu modelo a
característica, também, de ser usado defensivamente. Possuí uma pesada
proteção e um enorme compartimento de munição.

A tecnologia usada em tanques segue de perto, em nível de sofisticação, da


utilizada em aviões e navios. No entanto, diferentemente desse dois últimos, os
avanços mais significativos não foram no campo da eletrônica, mas nas áreas de
tecnologia metalúrgica. A mais nova inovação nesta área é aplicada no tanque
norte-americano M1A2. Resultado da mais nova armadura composta criada pela
Inglaterra- (resultado de diferentes camadas e disposições de metal, plástico e
cerâmica). Usado com sucesso na Guerra do Golfo, esse tanque se destaca em
seu sistema de propulsão e na grande quantidade de comandos eletrônicos.131 A
tecnologia de operação do veículo e sua sofisticação em facilitar seu manejo são
únicas (como direcionamento do canhão, mira do alvo, introdução correta do
projétil no cano de disparo, etc.). Toda iniciativa é apenas possível através do
computador ( o que de certa maneira, é preocupante). Sendo este ter incluso em
sua memória diversos softwares que armazenam varias aplicações de comando e
controle, ou melhor, registrou-se todo o tipo de operação possível e indicada ao
tanque em um combate, tornando-se um recurso valioso para momentos de
dificuldade. Tal tecnologia foi desenvolvida pensando em economias de treino e
disponibilização desse tanque a soldados de qualquer nível intelectual. Pensava-
se em atribuir aos maiores gênios da força, tarefas que exigissem de maior
brilhantismo e raciocínio, enquanto pudesse se utilizar de uma “mão-de-obra”
mais barata para trabalhos mais braçais e arriscados.132

Além da armadura composta, existem a reativa e a espaçada. A reativa é uma


armadura de proteção à projéteis penetrantes, ela tem uma primeira camada de
proteção crivada de explosivos e uma segunda camada de real proteção, assim,
quando um projétil toca a armadura uma pequena explosão o danifica. Esta
tecnologia apresenta dificuldades e gastos excessivos, pois é necessário a troca
constante do primeiro revestimento. É usada, principalmente, pelo exército russo.
A armadura espaçada é o revestimento mais tradicional de todos: ela é formada
por camadas intercaladas de revestimento metálico e espaço vazio. Em

131
DUNNIGAN, James F.; Digital Soldiers, p. 68.
132
DUNNIGAN, James F.; Digital Soldiers, p. 69.
57
contrapartida, o exército norte-americano, pensando em proteções de tanques
resistentes, desenvolveu projéteis penetrantes de alta velocidade que têm como
característica atravessarem todo o casco do veículo de extremidade à
extremidade. Estes projéteis possuem um revestimento que se aproxima de uma
proteção de armaduras múltiplas dos tanques e sua ponta é de urânio enriquecido
– material mais denso do mundo.

Rússia e os EUA tinham grandes projetos em relação a tanques para o futuro com
mais e melhores sensores, canhões maiores e outras inovações. Todos foram
colocados de lado com o final da Guerra Fria. Como dizem alguns especialistas:
“terão que esperar até a próxima competição armamentista”.

Principais Tanques do Mundo

Nome País Alcance Peso Vel. Sistema de mira Canhão Alcance do Ano
(Km) (ton.) Máx. principal disparo (m)
(Km/h) (mm)
T-88 Rússia 400 42 60 Laser 125 3;000 1981
T-64 Rússia 400 42 60 Laser 125 3;000 1971
T-70 Rússia 500 40 60 Laser 125 2.000 1972
T-62 Rússia 480 37 60 Taqueométrica 115 1.500 1952
T-55 Rússia 300 36 50 StadiaG 100 1.000 1957
PT-76 Rússia 260 14 44 StadiaG 76 1.000 1955
M-1 EUA 560 58 72 Laser 105 4.000 1981
M-1A1 EUA 560 67 67 Laser 120 4.000 1986
M60A1 EUA 300 48 48 Laser 105 3.000 1977
M48A5 EUA 290 47 48 Óptica 120 2.500 1976
Leopard II Bélgica 350 50 68 Laser 105 3.500 1978
LeopardI Bélgica 375 40 65 Óptica 105 2.500 1965
AMX-30 França 400 36 65 Óptica 105 2.500 1967
S-Tank Suécia 250 39 50 Laser 105 3.000 1968
Merkava Israel 320 60 58 Laser 105 3.000 1978
Type 59 China 300 36 50 StadG 105 1.000 1957
Type 69 China 430 38 58 Laser 105 3.000 1962
Fonte: baseado em dados de DUNNIGAN, James; How to Make War, pp.96-97.
Notas sobre a Tabela – Sistemas de mira: StadG: equipamento que mede a linha de estadia até o alvo.
Linha de estadia é um sistema de medida que corrige a posição do disparo d a força gravitacional sobre
trajetória do projétil; Mira taqueométrica: realiza a mesma correção da anterior por cálculos da
taqueometria; Óptica: realiza a correção de mira através da junção de imagens de duas lentes objetivas,
semelhante às câmeras de fotografia; Laser: equipamento computadorizado disponibiliza a posição de
disparo certeiro através do cálculo do tempo que leva uma faixa de luz laser para atingir o alvo e o seu
reflexo retornar ao tanque em posição de disparo.

Tanques no Brasil

Apesar de ter projetado um dos melhores tanques do mundo, o Osório, nosso país
tem se mostrado atrasado em relação a este sistema de arma. Até pouco tempo,
não possuíamos tanques principais de batalhas, apenas tanques leves (utilizados

58
em missões de reconhecimento, apoio e específicas operações de assalto), diga-se
de passagem, com modernos sistemas de mira e controle de tiro.

No entanto, os tanques principais de batalha M-60 e Leopard I que o Brasil


comprou recentemente são peças excedentes das forças americanas e belgas,
devido às determinações do Tratado de Limitação de Armas Convencionais na
Europa, o CFE. São tanques razoáveis e ainda usados pelas forças estrangeiras,
mas não são peças novas; pelo contrário, estão em via de fim de vida útil.

As unidades de blindados e tanques no Brasil são compostas de maneira a dar,


principalmente, apoio à infantaria, não possuindo grande destacamento próprio.
Os tanques leves têm as seguintes características: 133

M-41B: motor diesel nacional, canhão de 90mm, sistema avançado de comunicação;


M-41C: além dos itens acima, dispositivo de pontaria a laser, controle de tiro por computador, visão
noturna e projéteis perfurantes de alta velocidade;
XMB-3: mesmas características do M-41C com maior peso, maior potência e canhão principal de 105
mm. (nota: não se conseguiu dados sobre o tipo de armadura usado).

Nenhum desses equipamentos apresentavam essas características originalmente.


Basicamente, são tanques já de uma certa idade que sofreram atualizações com
tecnologia nacional, principalmente em eletrônica. Há projetos no Exército para
o desenvolvimento de cerâmica para blindagem, no entanto, provavelmente não
serão alavancados diante o alto custo de pesquisa e produção dessa tecnologia.

Artilharias

Entre as unidades de combate terrestre, a mais temida é a artilharia. Com o


passar dos anos e das guerras, ela tornou-se mais destrutiva, mais precisa, mais
móvel e imperceptível a contra-ataques. É a arma que causa o maior número de
mortes no campo de batalha. Atualmente, as forças armadas têm descentralizado
a disposição das unidades de artilharia. Na Guerra Fria, a União Soviética já
aplicava a descentralização de suas unidades, temendo a exposição destas às
baterias ocidentais equipadas com melhores sistemas de comunicação e radares.
Hoje, a razão é parecida, as unidades de outros países têm sido descentralizadas
para evitar a exposição à infantaria adversária, cada vez mais mecanizada e
blindada, o que aumenta sua locomoção, poder de fogo e potencial de
comunicação com unidades aliadas de rastreamento. Regimentos, brigadas e
batalhões já possuem a sua própria artilharia, sendo que as divisões, geralmente,
mais alguns batalhões extras para serem somados rapidamente a essas outras
unidades em caso de conflito mais intenso 134.

133
PESSOA, “Desenvolvimento Conjunto de Equipamentos e Sistemas de Armas para as
Forças Armadas: Óbices e Possibilidades”. Rio: ESG, 1990, Anexo C.
134
DUNNIGAN, James; How to Make War, pp.120-121.
59
Por longo tempo, os avanços tecnológicos da artilharia ficavam por conta da
metalurgia e química. Mais recentemente, é a eletrônica que tem mais
contribuído para melhorar a pontaria, a eficiência destrutiva dos projéteis, a
agilidade no pronto emprego e o preparo do equipamento. A eletrônica está
presente nos projéteis e nos sistemas de balística e mira das armas.

Antigamente, as peças de artilharia eram transportadas por veículos aéreos.


Atualmente, o que vigora são as armas automotoras, blindadas e auxiliadas por
veículos menores transportadores de munição; como precaução a acidentes e
maior praticidade e confiança no trabalho dos soldados, está prestes a ser
aplicado uma técnica em que os projéteis são carregados com líquidos
propelentes apenas no momento do disparo, sendo que a quantidade é indicada
por computador; uso de projéteis mais sofisticados que não passam de containers
ou caixas-robô que carregam dentro de si centenas de cápsulas de munição (anti-
pessoais ou anti-tanques). Este tipo de arma foi, primeiramente, empregado na
Guerra do Golfo, era o MLRS (Multiple Launch Rocked System). No entanto, já
existe uma versão de mísseis de ataque ao solo mais aperfeiçoados para uso da
plataforma MRLS com foguetes maiores (pesando em média 1,6 toneladas),
maior alcance (150 Km – semi-balístico), maior precisão e maior número de
submunições (950). É denominado ATACMS (Army Tactical Missile System) 135;
radares mais poderosos e computadores para uma mais veloz comunicação; para
se aumentar a precisão, tem sido utilizado o sistema GPS, sistema de pontaria
laser e controle de tiro com correção de mira computadorizada; união entre o
fogo de artilharia e os sensores de aeronaves de reconhecimento; união entre
artilharia, helicópteros de ataque e aviões bombardeiros.

Principais Peças de Artilharia

Calibre Nome País Alcance (Km) Disparos Mobilidade Peso (ton.)


(mm) por Minuto
105 M102 EUA 11,5 3 Rebocado 1,15
105 M101A1 EUA 11 3 Rebocado 2,26
105 L118 Inglaterra 19,5 3 Rebocado 1,8
122 M55/D74 Rússia 24 6 Autopropul. 5,50
122 BM-21 Rússia 20,5 4 Autopropul. 11,5
122 2S1 Rússia 15,3 8 Rebocado 16
122 M63/D30 Rússia 15,3 8 Rebocado 3,2
130 M46 Rússia 33 6 Rebocado 7,7
140 RPU-14 Rússia 9,8 4 Rebocado 1,2
152 2S5 Rússia 28 1 Autopropul. 21,4
152 2S3 Rússia 24 2 Autopropul. 28
152 M55/D20 Rússia 24 1 Rebocado 5,7
155 M109A6 EUA 22 6 Autopropul. 28,7
155 M198 EUA 30 2 Rebocado 7,2
155 M109A1 EUA 18 2 Autopropul. 23,8
155 M114A1 EUA 14,6 2 Rebocado 5,8
175 M107 EUA 32,7 0,5 Autopropul. 28,2

135
LAUR e LLANSON, Encyclopedia of Modern US Military Weapons, p. 276.
60
203 2S7 Rússia 30 1 Autopropul. 30
203 M110A2 EUA 29 0,5 Autopropul. 28,2
220 BM-27 Rússia 40 1 Autopropul. 22,7
227 MRLS EUA 30 12 Autopropul. 25
240 2s4 Rússia 9,7 1 Autopropul. 32
Fonte: baseado em dados de DUNNIGAN, James; How to Make War, pp. 124 e LAUR, TimothyM. E
LLANSO, Steven L.; Encyclopedia of US Modern Weapons, pp 237-75.

Artilharia no Brasil

O Brasil possuí uma significativa artilharia, além dos batalhões que operam
conjuntamente às brigadas de infantaria, cavalaria e blindados, ainda existem 28
batalhões (ou grupos) extras para serem somados em caso de agravamento do
conflito e mais uma formação de artilharia denominada artilharias divisionárias.
Estas últimas são unidades para salvaguarda de regiões fronteiriças e litorâneas
(composta por artilharia de 57, 75, 120, 150, 152 e 305 mm – sem ficha técnica e
dados sobre a origem). Recentemente, novas peças autopropulsadas foram
compradas e as mais antigas ganharam controle de tiro computadorizado.

O inventário nacional é formado pelas peças não autopropulsadas: M-101A1, M-


102, e M-114A1, L-118 de 105 mm (caracterizados na tabela anterior) e o Model
56 105mm pack – modelo desmontável e portátil produzido nacionalmente sob
licença italiana. 136 E, também, os autopropulsados M-7 e M108 de 105 mm (sem
ficha técnica e dados sobre origem). 137 Conta ainda com: lançadores simples
pesados de foguetes (RCL): M-18A1 de 57mm; M-20 de 75 mm; M-40A1 de 106
mm; mísseis guiados anti-tanque Cobra: guiado por fio; alcance de 700 a 2.000
m e peso de 10 Kg; lançador múltiplo de foguetes ASTRO II: autopropulsado
com sistema avançado de comunicações, controle de tiro por computador, radar,
GPS e navegação inercial. Ambos ASTROS e Cobra têm produção nacional.138

Aeronaves

Os aviões foram introduzidos ao mundo bélico na I Guerra Mundial e eram


usados, basicamente, para coleta de dados. Entretanto, foi durante a II Guerra
que sofreram seus maiores desenvolvimentos, tanto de suas capacidades como de
aplicações. Atualmente, diante do avanço tecnológico e a disposição de novos
equipamentos, suas missões têm ficado mais restritas a ataques a alvos terrestres
e, antes de mais nada, combater outras forças aéreas.

UAV’s – Missões do tipo reconhecimento passam a ficar a cargo de satélites e de


pequenos veículos não-tripulados chamados UAVs (Unmanned Aerial Vehicles –

136
O L-118 é uma versão atualizada do Model 56 105 mm.
137
The Military Balance 96/97, p.142.
138
PESSOA, “Desenvolvimento Conjunto de Equipamentos e Sistemas de Armas para as
Forças Armadas: Óbices e Possibilidades”. Rio: ESG, 1990, Anexo C.
61
veículos aéreos não tripulados) e Drones (aeronaves robôs sem interferência
humana). Esses aviões têm sido usados desde a década de 60 para se evitar a
perda de caças de reconhecimento e vidas de pilotos para áreas de defesa inimiga
fortemente preparada. Eles têm sido a alternativa mais razoável para países que
não podem arcar com os custos e complexidade de operação de um avião espião
como o U-2.139 Os mais modernos UAV são feitos com material composto, por
isso com pequena silhueta em radares. Devido a propulsores de baixa potência
(24 a 115hp), deixam um rastro de calor fraco e baixo ruído o suficiente para não
serem perceptíveis a mísseis orientados por infravermelho. Suas dimensões
reduzidas e capacidade de voar a altas altitudes de operação impedem qualquer
contato visual. Por essas razões, são de difícil intercepção por forças inimigas.140

Os primeiros UAVs foram feitos sobre a tecnologia de Droners (e não Drones) –


alvos móveis para treinamento aéreo e antiaéreo. Hoje, apresentam-se em sua
quarta geração, sendo Israel o maior expoente na sua produção e aplicação. Suas
possibilidades de operação e tarefas cresceram proporcionalmente às
necessidades no front e podem ser lançados de pista pavimentada, catapultados
de lançador pneumático ou utilizar sistema de decolagem auxiliada por jato
(principalmente em operações a bordo de embarcações ou na linha de combate).
Suas principais aplicações são: reconhecimento de áreas marítimas, terrestres e
aéreas; vigilância de áreas de valor tático; definição clara de posição, valor
numérico e movimentação inimiga; análise e localização de alvos, ajuste de tiro
de artilharia; eludir ou dispersar forças antiaéreas para posterior ataque de
aviões-bombardeiros; análise de danos provocados por ataque aéreos e artilharia;
link alternativo de telecomunicações para estações ou satélites desativados pela
ação inimiga e guerra eletrônica.141

O desempenho de tais máquinas tem sido tão grande que os países já estudam a
possibilidade da evolução dos UAV para UACV (Unmanned Aerial Combat
Vehicle – veículos não-tripulados para combate). Seriam pilotados de um centro
de execução conectados por satélites de comunicação e fibras ópticas de alta
velocidade.. Aviões não tripulados para combate proporcionariam economia de
espaço e além das vantagens difícil detecção, acima já mencionadas,
proporcionaria a ampliação das capacidades dos caças em termos de velocidade e
manobrilidade, já que a tolerância dos pilotos vêm chegando ao seu limite.
Menciona-se velocidades hipersônicas (12-15 Mach) e capacidade de aceleração
a 20 g (os caças atuais chegam a 9+ g).142 O tipo de missão que os aviões de
combate têm surpreendido o mundo são os de ataque ao solo devido à precisão e
letalidade das operações. Tal eficácia foi alcançada por meio de inovações e
alterações em vários aspectos de um avião de combate. Estão cada vez mais
139
Até os EUA têm aposentado seus aviões espiões, restando apenas 5 SR-71 Blackbird.
140
PORTENGY, Silvio; Vigiando com Segurança. In: Força Aérea. Set/Out de 1998, p. 106.
141
PORTENGY, Silvio; Vigiando com Segurança. In: Força Aérea. Set/Out de 1998, p. 110.
142
LAMBETH, “The Technology Revolution in Air Warfare”, pp. 67-68.
62
leves, através da aplicação de compostos de fibra de carbono, fibras sintéticas,
ligas de alumínio, litío e titânio de alta performance. Essa obsessão por uma
maior leveza do avião tem em mente o transporte de mais combustível, armas e
maior liberdade de manobra aérea.143

Outro recurso que tem aplicado para aumentar a manobrabilidade dos aviões é o
desenvolvimento de estruturas aerodinâmicas instáveis. A estabilidade é mantida
graças a um microprocessador que, automaticamente, envia inúmeros comandos
aos flaps. Novos controles de vôo por computadores e sistemas operantes
baseados em transmissão elétrica e luz tornaram os novos aviões capazes de
realizar missões em qualquer condição de tempo e hora do dia, aumentando a
facilidade de uso, a velocidade e eficiência dos comandos e a durabilidade do
equipamento. Isto se explica pelo fato de que fibras ótica e outros tipos de cabos
são melhor protegidos e conservados do que sistemas mecânicos e hidráulicos.

Muitos dos controles deixaram de ser exibidos apenas em displays à frente do


piloto (sistema HUD – Head Up Display) e passaram para o visor do capacete do
piloto, denominado sistema HMS (Helmet Mounted Sight). Um outro sistema que
se tornou indispensável na guerra aérea é o LANTIRN (Low-Altitude Navigation
and Targeting System). Ele é usado principalmente em F-16 e F-15. Baseia-se em
dois containers em forma de bombas afixados na região central abaixo do avião.
Um dos containers usa um radar de observação de terreno que permite ao avião
ter performances com baixa altitude e alta velocidade em mau tempo. O outro
possibilita ao piloto ver um alvo entre 5 e 15 mil metros de distância 144

Com o tamanho reduzido dos equipamentos eletrônicos, tornou-se realizável o


aumento da capacidade e variedade de radares, entre eles: ar-ar, ar-terra, search
and track (procurar e travar alvo), multilateral track-while-scan (rastreamento e
localização de múltiplas áreas), radares de mapeamento, pesquisa de terreno
(topográfica) e pesquisa infravermelha.145 A precisão dos ataques deve-se,
também, às bombas inteligentes que possuem sistemas especiais de precisão: por
imagens de televisão, infravermelha ou laser (ver abaixo ‘Bombas e Mísseis’).
Para facilitar a pilotagem dos aviões, tem-se investido substancialmente em
inteligência artificial, sensores, robótica e computadores, de forma a deixar os
comandos cada vez mais automatizados. Os joysticks e pedais tornaram-se
obsoletos, em contramedida, passou-se a utilizar o que é chamado por HOTAS
(Hands On Throlle and Stick – mãos no manche e manete).

Forças aéreas ocidentais estão começando também a utilizar “pilotos associados”


ou “co-pilotos artificiais”, um sistema de computadores que realiza os comandos

143
DUNNIGAN, James F.; Digital Soldiers, p. 55.
144
DUNNIGAN, James F.; Digital Soldier, p. 56.
145
DUNNIGAN, James F;. Ibdem, p.56.
63
mais básicos e rotineiros, informando-os, logo após, ao piloto por voz humana.
Da mesma forma, diversos comandos que eram realizados pressionando-se
botões, passaram a ser possíveis oralmente. Esse sistema de computadores
também coleta e analisa constantemente dados de sensores instalados em
diversos pontos do avião.146 Lembrando a tecnologia dos tanques mais
avançados, o piloto associado oferece análises e conselhos sobre melhor maneira
de agir em determinadas missões e situações. É armazenado dentro da memória
de um dos computadores com inteligência artificial as experiências de “ases” da
aviação em situações críticas semelhantes. Se um avião inimigo é avistado, o
computador indica a melhor manobra a ser realizada. Se o avião for atingido,
relata as opções possíveis de emergência.

Inteligência artificial e sistemas computadores foram desenvolvidos durante a


década de 80 pela força aérea americana destinados, também, à área de
planejamento de missões. São dois sistemas: o CAFMS (Computer Assistance
Force Management) e o MPS (Mission Planning System). O primeiro tem como
função auxiliar o comandante no planejamento e monitoramento das missões
aéreas, faz a troca de informações entre o centro de comando e as unidades em
operação e realiza um relatório final periódico dos resultados das missões
programadas. Foi usado com relativo sucesso na Guerra do Golfo, tornando
possível uma eficiente combinação entre as forças aéreas americanas da Marinha,
Força Aérea, Marines e os aviões de outros países da Coligação. A sua aplicação
baseia-se em uma central de computadores ligados por transmissões via satélite
com as várias bases envolvidas. Na memória desses computadores, é armazenada
toda a informação essencial coletada pelos centros de inteligência, como previsão
do tempo, número e ordem de preparo das forças, pilotos presentes, localização
dos alvos a serem destruídos e munição disponível. O CAFMS produz e distribuí
às unidades, com ou sem intervenção dos técnicos do centro de comando, o
ATOs (Air Taking Order). ATOs são documentos que dão instruções detalhadas
de operação a cada unidade envolvida. São dadas informações sobre alvos,
horários, rotas, código de reconhecimento, identificação de aliados em meio ao
combate, freqüência do rádio a ser utilizada, altitude, pontos de contato, locais de
reabastecimento e quais pilotos devem utilizar quais aeronaves.147

O segundo sistema de planejamento informatizado, o MPS, é um sistema que dá


ao piloto, na tela do computador de seu caça, uma gama de informações
relacionada a sua missão: a quantidade de combustível disponível, velocidade
indicada, local de recarregamento de combustível, melhor maneira de atacar o
alvo, tipo de resistência inimiga possível e o que deve ser feito em situações de
crise. Uma atualização a esse sistema é um software que simula o vôo que deve
146
DUNNIGAN, James F.; How to Make War, p.167.
147
Para detalhes, ver: HYDE, John Paul, PFEIFFER, Johann W. e LOGAN, Toby C. CAFMS
Goes to War. In The First Information War - ACFEA International Press. Fairfax,
1995.
64
ser realizado em determinada missão na tela do computador do avião.
Graficamente, é mostrado como o alvo vai aparecer no radar e como a missão
será vista do cockpit. O MPS é disponível em uma fita que o piloto lê/assiste
antes de cada missão no próprio avião momentos antes de início da missão. 148

Outra tecnologia disponível que tem causado espanto, é a stealth. Stealth é a


capacidade de uma aeronave ocultar-se às medidas de ratreamento adversárias.
Baseia-se na combinação de novos designes e materiais (geralmente compostos
não metálicos) de difícil detecção à radares, tintas produzidas de substâncias que
absorvem ondas eletromagnéticas e sistemas de guerra eletrônica que emitem
ondas eletromagnéticas que confundem, quando não inutilizam, os sistemas de
detecção do inimigo. O último avião stealth desenvolvido pelos Estados Unidos
foi o Aurora (os outros são o F-117A, o B-2 e o, ainda não operacional, F-22),
avião espião de alta velocidade e altitude para substituição do SR-71.149

A Guerra do Golfo deu demonstrações de como tais tecnologias são úteis e


eficientes. O avião F-117A foi o mais avançado bombardeiro usado; lançou 3%
das bombas e desferiu 10% do total de destruição. Além dele, foram usados os
caças-bombardeiros F-15E, A-6 e F-111F. Em relação a tecnologia stealth, o
Departamento de Defesa dos EUA desenvolve sistemas de rastreamento à prova
de tecnologia de camuflagem. O maior desafio no futuro para os países
desenvolvidos serão os mísseis stealth. O desenvolvimento de aviões com essa
tecnologia é caro e exige muita tecnologia, mas com os mísseis, a estória é outra.

Joint Strike Figther

Todos os especialistas, pilotos e técnico em aeronaves apontam esse avião, ainda,


em projeto como o mais revolucionário em combate aéreo. Será o caça mais caro
e versátil de todos os tempos. Tendo o esforço conjunto das maiores potências
militares do ocidente, sendo a peça principal de suas forças aéreas no futuro. O
seu projeto surgiu quando Navy, Air Force e Marines dos EUA passaram,
separadamente, a planejar novos aviões. Todas suas prioridades foram somadas
em torno de um único projeto que catalogaria tecnologias aviônicas já viáveis nas
áreas stealth, propulsão, materiais e processo de manutenção. O JSF fará
substancial uso de sensores externos, usando informação no cockpit de J-STAR,
AWACS, UAVs e satélites.

O JSF tornar-se-á uma família comum de aviões que reporá diversas forças,
tendo alterações segundo a prioridade de cada uma delas. Os Marines dos EUA e
Marinha Real Britânica desejam um JSF com jatos adicionais para pouso
vertical, enquanto a Força Aérea americana usará o espaço para mais

148
DUNNIGAN, James F. Hoe to Make War, p. 169.
149
DUNNIGAN, James F. Hoe to Make War, p.172.
65
combustível, por exemplo. O JSF substituiria até cinco aviões da Força Aérea
americana (F-16, A-10, F-111, F-117A e F-15), um da Marinha (A-6), dois dos
Marines (AV-8B Harrier e F/A-18) e toda a esquadrilha da Marinha Real
Britânica (Sea Harrier). Terá ainda a participação da Noruega, Dinamarca,
Bélgica e Holanda; caso bem sucedido, atrairá outros países europeus. O projeto
provocará a mais acirrada competição entre as empresas americanas de defesa já
visto, pois a empresa que vencer o contrato de produção será, provavelmente, a
única companhia dos EUA a vender aviões de combate após 2015.150

Sistema de Monitoramento

Outra característica que os norte-americanos continuam a trabalhar é a idéia de


um avião de combate que monitore o espaço aéreo. O seu primeiro emprego foi
em 1953, para monitoramento do espaço aéreo norte-americano de bombardeiros
russos, com o EC-121. Este já possuía radares potentes, mas faltava ainda mais
sofisticação eletrônica. O EC-121 também foi usado na Guerra do Vietnã.

A conversão de um avião de grande porte em uma central voadora de radar e


torre de controle só se deu, de forma satisfatória, com um protótipo em 1970 e
uso efetivo em 1982 – o E-3 AWACS. O AWACS (Airborne Warning Avoidance
Control System) pode, também, guiar um míssil de avião aliado até um inimigo
aéreo. O mesmo pode ser feito com um míssil terra-ar como um Scud. Também
na década de 1970, passou a ser desenvolvido o E-8 J-STARS (Joint
Surveilliance Avoidance Radar System). A primeira tarefa deste avião é
monitorar atividades no solo e, a segunda, integrar, da melhor forma possível,
forças de terra e ar. Os radares deste avião têm dois módulos: wide area, com
capacidade de 25 por 20 quilômetros, e análise detalhada, com uma varredura de
4.000 à 5.000 metros.151

A Força Aérea norte – americana, tendo em vista o sucesso que esses aviões
fizeram na Guerra do Golfo, fechou um contrato no valor de $1,1 Bilhões de
dólares com as empresa Lokcheed Martin, Boeing e TRW para construção de
uma nova arma de defesa contra mísseis balísticos - o Airbone Laser ou ABL.
Este é um sistema bélico montado em um Boeing 747- 400 que tem a capacidade
de atravessar oceanos sem reabastecer e poder ficar em vôo durante horas em
alturas superiores a 10.000 pés. Esse último Airbone, além da capacidade de
monitoramaneto, terá a capacidade de detectar o lançamento de mísseis balísticos
e derrubá-los, utilizando-se de um inovador e poderoso sistema de disparo à
laser. Tem-se o objetivo de sempre derrubar o míssil inimigo em seu território,
primeiro, porque é o território inimigo e, em segundo lugar, porque a fase de
lançamento é o momento mais vulnerável deste tipo de míssil.

150
Strike Fighter. In Air Force Magazine – Outubro de 1996.
151
SWALM, Thomas; Joint Stars in Desert Storm. In The First Information War, pp. 167-170.
66
Este é o tipo de arma que não ficará guardada somente para ser usada em
momentos de conflito. Assim, como os outros Airbones de monitoramento, ficará
disponível e, sempre que possível, sobrevoando o território norte - americano e
de aliados como Europa e Israel.152 Notadamente, a Forças Aérea norte-
americana é a mais poderosa do mundo e, assim, permanecerá por muito tempo,
apesar de ser a Força Aérea de Israel a mais bem sucedida de todas as forças
mundiais em combates aéreos. Na tabela abaixo, é demonstrado as principais
mudanças que os Estados Unidos aplicará a sua força aérea.

Alterações na Força Aérea dos Estados Unidos

Avião Hoje 2002 2003 2007


B-52 50 10 0 0
B-1 58 52 52 20
B-2 12 21 21 21
AV-8B 140 120 90 72
A-10 162 72 0 0
F-14 172 140 100 0
F-16 816 762 690 642
F-15 A/C/D 344 300 250 174
F-15E 132 132 132 132
F/A-18 C/D 576 456 264 48
F/A-18 E/F 0 0 120 312
F-22 0 0 0 96
F-117 47 47 47 47
E-2C 55 55 55 55
E-3 (AWACS) 29 33 34 37
E-8C (JSTARS) 3 10 19 25
U-2 32 32 32 32
F-14 (TARPS)* 49 36 18 0
F/A-18 (RC)* 0 16 40 40
UAV tático 0 18 30 50
UAV de méd. 10 40 80 140
alcance
Drones 3 12 18 28

Fonte: BAKER, James; The American RMA [Revolution in Military Affairs] Force: na Alternative to the QDR
[Quadrennial Defense Review]. In: Strategic Review. Summer 1997, pp. 27-28.
* Aviões de reconhecimento da Marinha norte-americana.

Helicópteros

Os helicópteros têm adquirido vários dos avanços que somente os aviões


detinham, como mísseis ar-ar, HMS, sensores infravermelhos e dispositivos de
guerra eletrônica. São usados tanto em operações de ataque tático, carregamento
de carga e transporte como, mais recentemente, no suporte à artilharia.

Modernos helicópteros de combate são um luxo para poucos países, embora sua

152
Lockheed Martin Press Release - 12 de Novembro de 1996.

67
capacidade de destruição e eficiência em missões sejam elevadas. Como na
maioria das vezes, EUA e Rússia disputam os mais avançados modelos, enquanto
outros países têm tido sucesso no desenvolvimento e aplicação em outras áreas
possíveis de aplicação de helicópteros. A França produz bons helicópteros de
transporte e a Inglaterra destaca-se em helicópteros para guerra anti-submarina.

A tabela abaixo foi compilada a partir de diversas fontes atualmente disponíveis.


Ela mostra em detalhes os modelos de aviões e helicópteros utilizados pelas
forças armadas no mundo:

Principais Aviões e Helicópteros de Combate

Nome País Alcance Ano Peso Máx Vel. Máx. Carga míl. de
(Km) (ton.) (Km/h) empuxo

F-22 EUA 990 2001 32 3.100 0,38


F-15 EUA 990 1977 30,8 2.800 0,44
Rafale França 700 1998 14,5 1.500 0,31
Eurofighter Ale/Ing N/D 200? 15,4 2400 N/D
JAS 39 Suécia N/D 1988 14,1 N/D N/D
F-16 EUA 900 1980 16 2.300 0,57
F/A-18 EUA 1.000 1982 22 2.070 0,59
MiG-33 Rússia 1.100 1992 17 2.530 0,48
Mirage 2000 França 1.600 1983 16,5 2.645 0,40
MiG-29 Rússia 1.100 1984 17 2.530 0,48
F-14 EUA 1.000 1970 34 2.760 0,64
Tornado Inglaterra 1.300 1980 24 2.300 0,67
Kfir C2 Israel 780 1974 15 2.645 0,42
F-4 EUA 1.100 1963 28 2.300 0,57
SU-27 Rússia 1.500 1983 27 2.645 0,42
MiG-23 Rússia 960 1971 18 2.645 0,66
JÁ-37 Suécia 1000 1979 16,3 2,400 0,45
Mirage F1 França 1.000 1973 15 2.530 0,61
F-5 EUA 1.000 1972 11 1.840 0,61
Mirage III França 1.300 1963 14 2.530 0,39
MiG-21 Rússia 700 1956 9 2.124 0,41
MiG-31 Rússia 800 1958 41 2.800 0,43
F-8 China 1.100 1969 18 2.645 0,73
F-7 China 1.100 1982 9 2.415 0,41
F-6 China 680 1965 9 1.380 0,35
MiG-25 Rússia 900 1970 38 3.220 0,67
Yak-38 Rússia 300 1970 11,6 1.035 0,63

Bombardeiros

B-2 EUA 7.200 1992 181 1.100 0,35


B-1 EUA 5.800 1984 217 2.530 1,17
B-52 EUA 16.000 1955 225 1.035 0,60
F-15E EUA 990 1988 32 2.700 0,57
F-111 EUA 2.000 1967 45 2.530 0,65
F-117A EUA 700 1981 16 1.000 0,67
TU-160 Rússia 5.200 1985 250 2.415 0,67
Jaguar Holanda 1300 1972 18 1.725 0,75
SU-24 Rússia 1.200 1974 41 2.415 0,84
A-6 EUA 750 1963 27 1.208 0,55
A-10 EUA 500 1977 23 644 0,49
SU-25 Rússia 500 1983 19 690 0,56

68
A-7 EUA 550 1966 19 1.035 0,55
TU-22 Rússia 2.500 1974 130 2.312 0,79
TU-142 Rússia ? 1955 188 800 0,67
MIg-27 Rússia 400 1973 20 1.955 0,54
A-4 EUA 500 1960 20 1.058 0,80
AV-8A Inglat 400 1959 11 1.035 0,59
Alpha Holanda 520 1979 8 978 0,54
SU-17 Rússia 600 1972 18 2.415 0,44
F-104 EUA 1.200 1958 14 2.530 0,77
TU-16 Rússia 1.500 1955 75 886 0,45

Monitoramento País Alcance Ano Peso Máx. Vel. Máx.


(Km) (ton.) (Km/h)

E-2C EUA 2.583 1979 23,4 604


E-3 EUA 1.852 1976 147,4 876
E-8A EUA 12.415 1985 155 981
EA-6B EUA 3.861 1971 29,5 1.048
RC-12 EUA 2.224 1983 7,2 463
SR-71 EUA 4.828 1966 77 3.415
U-2 EUA 5.633 1957 18,5 850

Helicópteros

AH-64 EUA 300 1985 9,5 300


RAH-66 EUA 2.335 200? 5 315
AH-1W EUA 635 1987 6,9 350
Ka-50 Rússia 400 1992 5 225
AH-1S EUA 180 1984 11 350
Mi-24 Rússia 160 1972 1,3 222
OH-58 EUA 200 1969 1,5 250
Mi-8 Rússia 150 1962 12 320
CH-53E EUA 1.852 1981 33,3 315
OH-6 EUA 200 1963 23 300
CH-46 EUA 676 1962 10,8 265
CH-47 EUA 2.059 1962 22,6 295
CH-53D EUA 1.640 1966 22,6 196
Mi-6 Rússia 210 1958 42 290
UH-60A EUA 370 1979 10,9 361
UH-1H EUA 493 1959 4,7 204

UAVs* Tempo de Peso máx Velocidade


Vôo (horas) (libras) máx. (m/s)
Pioneer Israel 185 9 530 51
Mastiff Israel 200 7,5 385 51
Scout Israel 100 7 431 50
Heron Israel 250 50 550 138
Searcher Israel 150 12 N/D 110
Spewer Hol/Bélg N/D 8 N/D 166
CL-89 OTAN 140 0,5 380 205

Fonte: baseado em DUNNIGAN, How to Make War, pp.184-5; Aviões de Caça, 1991; Revista Força Aérea
Set/Out 1998, pp. 104-111; e LAUR e LLANSON, Encyclopedia of US Modern Military Weapons; pg. 54-152.
Notas: Carga de empuxo militar é razão entre o peso total e área da asa. È principal referência em
relação a manobrilidade do avião. Teoricamente quanto menor sua razão, maior sua agilidade. * Israel possui
ainda: Hunter, Ranger e Eye View. A África do Sul utiliza um modelo nacional chamado Seeker – todos sem
dados técnicos fornecidos. Comentário sobre a tabela: a tabela acima tem uma função muito mais ilustrativa que
comparativa. Embora tenham sido usadas várias categorias, elas não são as únicas e nem estas são suficientes ou
exatas. Existem muitas outras variáveis que normalmente não são apresentadas em fichas técnicas ou que não
são totalmente quantificáveis, mas que afetam o desempenho de um avião. Por exemplo, coeficiente de atrito,
alterações do material devido variações de pressão, razão empuxo/peso e etc. Dados sobre a capacidade interna

69
de combustível não são fornecidos, sendo esse dado fundamental na comparação de modelos.

Aviões e Helicópteros de Combate do Brasil

A Aeronáutica do Brasil tem atualmente um inventário obsoleto que compromete


a realização de suas tarefas. No entanto, passará por uma intensa modernização
com a compra de novos caças estrangeiros mais modernos, outros aviões e
equipamentos de combate nacionais. Na lista de compra internacional disputam
os modelos Su-27, MiG-29, Mirage 2000, F-16C, F/A-18 C/D e JAS 39 Gripen.

A Força Aérea possui os caças Mirage III, que brevemente serão aposentados, e
F-5E. Recentemente, foram integrados o AMX e o ALX, produzidos pela
EMBRAER, (o primeiro em cooperação com as empresas italianas Alenia e
Aermacchi). O AMX foi uma renovação à força e um esforço em capacitar a
indústria nacional em aviônica (controle de tiro, controle de bordo e sensores).
De forma a ser o AMX o melhor caça da Força nesse critério, além de sua
avançada tecnologia em guerra eletrônica, radares e tecnologia stealth. É um
avião subsônico para ataque ao solo em qualquer tempo. Já o ALX/Super Tucano
é uma versão avançada e para combate do avião Tucano. Está em fase final de
testes e contará com relativamente avançados sistemas de GPS, HOTAS, HUD e
capacidade para operações noturnas. A Aeronáutica já requisitou 100 deste avião
para vigilância da Amazônia e combate ao uso ilegal do espaço aéreo
brasileiro.153

Ainda relacionado ao SIVAM, é a introdução do EMB-120 AEW (Air Early


Warning). Baseia-se no uso do jato regional ERJ-145 da EMBRAER como base
de uma torre aérea para monitoramento e rastreamento similar aos E-3 AWACS
relacionados acima Conta com radares de aviso prévio suecos Erieye.

A Marinha Brasileira, também, está adquirindo aviões de combate para o porta-


aviões Minas Gerais, retomando a iniciativa da aviação naval. É o modelo de
norte-americano A-4 (ver tabela de principais aviões e helicópteros de combate).
Esses aviões foram usados na Guerra do Golfo e estavam excedentes na Força
Aérea do Kuwait que adquiriu vetores mais modernos F/A-18. A compra desse
modelo de avião não segue lucidamente qualquer linha estratégia de defesa
nacional desde que o aerodrómo ligeiro Minas Gerais é apontado pela Marinha
como uma base móvel para defesa e apoio tático das linhas de defesa nacionais.
O problema é recalcado pelas características peculiares desses aviões serem de
ataque ao solo, não possuindo grande desempenho em tarefas de superioridade
aérea (combate) e interceptação. Mesmo sua capacidade de ataque a embarcações
não é razoável. Não se penaliza a necessidade da Marinha possuir uma força
aérea, mas é falta de senso constituir uma força aérea naval que não possua

153
ALX: A Nova Revolução. In: Revista Força Aérea. ano 3, no 10, mar/abril de 1998.
70
capacidade de combate contra forças aéreas navais inimigas, ou de provocar
grandes danos a própria força naval inimiga. Além disso, a Aeronáutica já supriu,
satisfatoriamente, a necessidade de caças de ataque ao solo com o
desenvolvimento e aquisição de caças de ataque ao solo AMX.

Os helicópteros usados pelas forças nacionais são todos de origem estrangeira.


Alguns são produzidos sob licença, destacando-se os da empresa européia
Eurocopter. É um modelo dessa companhia que tem a função de ataque ao solo: o
HB-350 Esquilo (no caso do Exército, uma versão atualizada denominada AS-
550 Fennec), enquanto o restante tem como característica de emprego missões de
transporte e reconhecimento (Super Puma e Sea King no caso da Marinha,
Pantera no caso do Exército) e guerra anti-submarina (Super Lynx e Sea King).

Aviões e Helicópteros de Combate Brasileiros

Modelo País Alcance (Km) Peso máx. (ton.) Vel. Máx. (Km/h) Quantidade
AMX(A-1) Brasil/Itália 809 13 1160 55
ALX Brasil N7D 4,9 593 100**
AT-26 Xavante Brasil 1.850 5,6 867 86
A-4 Skyhawk EUA 1.500 5,7 1.058 28
BMB-120 AEW Brasil 2.460 16,9 833 8
Super Puma França 635 8,7 280 16
AS-350e 550 Brasil* 721 2 224 53
AS-355K Pantera Brasil* 150 2 200 36
UH-60 Blackhawk RUA 370 10,9 361 4
UH-IH EUA 493 1,7 204 9
SH-3D/H Sea King EUA/Itália 1.130 8.449 267 13
Super Lynx Mk 21A Inglaterra N/D N/D N/D 14
Fonte: Flap Internacional. Número 310 ano 35 e site da Marinha e Aeronáutica na Internet.
* Helicópteros produzidos no Brasil sob licença francesa.
** Número pedido.

Força Naval

Os navios são, até hoje, os aparatos bélicos mais complexos e com mais alto
nível tecnológico. A sua disposição de combate tem sido firmada diante as
experiências que os países adquiriram através dos anos e, principalmente, da I e
II Grandes Guerras Mundiais. Os Estados Unidos mantém-se líderes absolutos
sob as águas desde a crise da ex-União Soviética, embora alguns países da
Europa tenham uma tradição naval mais longa. Na Guerra do Golfo, o
desempenho esperado pelas forças navais norte-americanas não foi alcançado.
Apesar disso, como o resultado final foi a vitória, questionamentos e avaliações
iniciais não surtiram efeito. Muito tem sido aplicado e generalizado em torno da
guerra naval, mesmo que testes reais - as guerras - não aconteçam há 50 anos.
Dessa maneira, muito leva a crer que nenhum dos dois estilos predominantes (o

71
russo e o norte-americano) é completamente imbatível.154

Mesmo o declínio militar russo sendo evidente, seu estilo de combate naval irá
persistir entre os países ex-membros do bloco socialista, países do Terceiro
Mundo e até alguns países desenvolvidos do Ocidente. Ele se baseia em uma
grande quantidade de navios, principalmente pequenos, muito bem armados mas
com poucos técnicos e peças sobressalentes; possuem melhor propulsão e maior
capacidade de permanência em alto-mar que a maioria do mesmo gênero. Apenas
15% de sua força naval fica ativa. O estilo russo é construído sobre a idéia de ter
a iniciativa e combates intensos e decisivos. Já os navios de guerra ocidentais
possuem melhores sensores, computadores e conforto. Sua tripulação é mais bem
treinada e, em sua maioria, mantidos no mar o maior tempo possível. Isto é
corroborado pela maior porcentagem de navios mantidos nos mares: 35%. 155

O desejo permanente dos homens que lidam com a guerra naval é a diminuição
da tripulação. Os navios são peças de guerra que, necessariamente, passam
longos períodos em missão isolados. Os custos de formação e de manutenção de
marinheiros são muito elevados, devido ao grande número deles necessário, à
alta complexidade de operação e à diversidade de atividades de um navio
moderno de combate. A redução da tripulação, também, possibilita a redução das
dimensões do navio, o que significa economia. O maior esforço em solucionar
essas questões está na, cada vez maior, automatização das belonaves.

Mas as dificuldades são várias. A realidade de uma missão náutica é deveras


diferenciada de uma missão incumbida a uma força aérea, onde se tem alta
margem de emprego de aviões não tripulados, exclusivamente por serem missões
de curta duração e os aviões terem uma liberdade de manobra em combate muito
mais simples e um horizonte de observação maior do que se verifica em um
combate naval. Outro ponto que dificulta a automatização é a constante
necessidade de reparos, controle de danos e manutenção. Esse é o ponto mais
combatido pelos cientistas dos centros de pesquisa militares da área.156

A maior atenção dos almirantes quanto à realidade de combate tem se focalizado


na eficácia dos mísseis e na alta vulnerabilidade das naus a ataques aéreos.
Contrapondo esses obstáculos, a Marinha dos EUA propôs em 1995 um navio
arsenal Complementaria-se às qualidades de uma nau convencional a parcial
capacidade de submergir, mais um alto nível de automação e um arsenal de 500
mísseis de lançamento vertical. Este navio-projeto teria uma capacidade quase
completa de controle de danos automatizada. Outra característica seria um
designe livre de pontos como os aviões stealth, para dificultar a detecção por

154
DUNNIGAN, James F.; How to Make War, p.229.
155
DUNNIGAN, James F.; How to Make War, p. 218.
156
DUNNIGAN, James F.; Digital Soldiers, p.84.
72
radares.157

Para diminuir a vulnerabilidade, vêm sendo buscados 1) sistemas de defesa


contra torpedos com o uso de mísseis de dispersão. Estes são carregados de
partículas metálicas que confundem os sensores do torpedo. O mesmo tem sido
feito em relação a mísseis anti-radar. 2) CEC (Cooperative Mengagement
Control): como os navios normalmente agem em conjunto em uma batalha, esse
sistema permite um navio utilizar seu arsenal através dos sensores e sistemas de
mira de outros navios aliados. O mais conhecido é o sistema norte-americano
Aegis; 3) Capacidade stealth, uso de detectores de radares RCS (radar cross
signature) e emprego na constituição do casco do navio materiais que absorvam
as emissões de radar; 4) Um outro projeto da marinha norte-americana é o
denominado Surface Combatanht-21 (SC-21). Terá como atividade a proteção de
regiões marítimas, geralmente, em um raio de 600 quilômetros. Como arsenal:
256 mísseis de lançamento vertical (provavelmente Tomahawk – contra ataques
terra-mar), mísseis contra navios Harpoons, mísseis antiaéreos Standard, dois
canhões automáticos de 155mm com 2.400 “smart shells” (projéteis com sistema
de direcionamento e perseguição próprios), dois torpedos de alto calibre (contra
submarinos) e sistema de defesa anti-torpedos via mísseis de lançamento vertical.
ntará, ainda, com os mais avançados sistemas de guerra eletrônica como os
sistemas de telepresença, aparato que permite a condução total do navio na
batalha através de sensores e redes de informação de outras unidades, sejam elas
marítimas ou terrestres. Terá disponível dois helicópteros SH-60 (versão da
marinha para os UH-60 Blackhawk), um veiculo aéreo não tripulado acionado
por controle remoto (UAV), dois helicópteros via controle remoto caça-minas e
dois veículos aquáticos movidos a controle remoto para ajuste de minas.158

Os submarinos continuam sendo as principais armas de combate naval com


melhores sensores, mais silenciosos, equipados com maiores torpedos e mísseis
de cruzeiro. A Rússia tem um grande número de submarinos equipados
substancialmente com esses mísseis para ataque a navios inimigos de combate e
mercantes. No entanto, atualmente apenas dez porcento de seus 200 submarinos
de propulsão nuclear e metade dos 150 de propulsão à diesel estão em condições
ótimas de emprego, o restante está obsoleto ou necessitando de conserto e re-
equipamento de alto custo.159 Alguma pesquisa militar, também, tem sido
dirigida a submarinos pelos laboratórios americanos, mas sua produção esta
sendo retardada devido a falta de ameaças e o alto custo de novos submarinos.
Era planejada a disposição de uma nova série chamada Seawolf, mas apenas
alguns serão construídos ao custo de 2 bilhões cada um.

Principais Armamentos de Guerra Naval

157
DUNNIGAN, James.; Digital Soldiers, p.87.
158
DUNNIGAN, James.; Ibdem, pp. 89-91.
159
DUNNIGAN, James.; How to Make War, p.159.
73
Canhões País Alcance Calibre (mm) Tiros por Plataforma
(Km) segundo
Phalanx EUA 2 20 75 S
ADMG-630 Rússia 2 30 40 S
ZSU-30 Rússia 4 30 40 S
ZSU-23 Rússia 3 23 65 S
ZSU-25 Rússia 6 57 4 S
Vulcan EUA 2 40 50 S
Emerlec EUA 10 30 11 S
Mk75 EUA 16 75 1 S
Mk42 EUA 21,8 127 -1 S
Torpedos Peso (libras) Velocidade (m/s)
SUBROC EUA 55 400 400 U
ASROC EUA 10 959 400 S
Mk50 EUA 11 800 30 S,A
Mk48 EUA 50 3.500 25 U
Mk46 EUA 11 565 25 S,A
Mk37 EUA 18 1.700 12 S,A
MBU 1200 Rússia 1,2 400 200 S
MBU Rússia 6 500 200 S
Fonte: DUNNIGAN, James; How to Make War. pp204-205 e p242; e LAUS, Timoth M. & LLANSON,
Steves L.Encyclopedia of Modern Us Military Weapons. Pp168-175 e pp297-299.
Notas: S: navio, U: submarino. A: avião ou helicóptero.

Composição das Principais Forças Navais

Categoria Qte. Comprime Peso Velocida- Alcance Canhões Aero- MAS MSS TT
nto (m) (mil ton) de (Km/h) (mil Km) naves
EUA
N 74 101 6 68 200 0 0 0 5 5
M 23 151 12 45 200 0 0 0 20 4
A 12 292 68 51 84 4 65 3 0 0
D 101 135 4 50 8 1 2 1 1 9

Rússia
N (N) 49 122 7 60 200 0 0 0 5 6
N (D) 19 77 2 38 28 0 0 1 0 7
M 10 180 14 44 200 0 0 0 17 6
A 5 297 52 61 112 14 48 6 12 30
B 2 247 23 58 200 10 2 13 20 14
C 38 159 8 59 11 7 1 4 2 36
D 13 136 4 60 8 7 0 4 2 33
E 106 66 1 59 6 4 0 1 2 10

França
M 5 133 12 40 9,26 0 0 0 0 4
N 12 64 1,5 50 11 0 0 0 4 6
A 3 261 40 47 N/D 2 42 2 0 0
D 40 143 6 47 26 6 1 1 6 5
E 36 95 3 34 11 4 0 0 3 4

Inglaterra
M 2 149 16 N/D N/D 0 0 0 0 Sim
N 12 83 5 N/D N/D 0 0 0 1 5
A 3 210 20 N/D N/D 2 20 1 0 2
D 35 137 3 N/D N/D 1 1 2 4 4
E 32 72 3 N/D N/D N/D N/D N/D N/D N/D

74
Alemanha
N 17 N/D 0,5 17 N/D 0 0 0 1 9
D 14 N/D 4 30 N/D 1 2 1 1 5
E 36 N/D 0,4 30 N/D 1 0 1 1 1
Fonte: DUNNIGAN. How to Make War, pp.232-235 e websites: Marinha de França, Alemanha e Inglaterra.
Notas sobre a tabela: Tipos de Navios: M: submarinos nucleares com mísseis estratégicos; N: submarinos
convencionais ou a propulsão nuclear para combate convencional; N (D): são os submarinos russos dotados de
mísseis cruise; A: porta-aviões; B: navios de grande porte para missões independentes; C: navios de classe
Cruzeiro, menores que os anteriores mas, geralmente, especializados em certas operações (guerra anti-
submarino, anti-ataque aéreo, escolta e etc.); D: usados para escolta de navios mercantes e operações diversas de
combate; E: navios de patrulha costeira.
Aeronaves incluem tanto aviões como helicópteros; MSA significa sistemas de lançamento de mísseis
superfície-ar; MSS refere-se a sistemas de mísseis superfície-superfície; TT é o número de tubos de lançamento
de torpedos e minas; Sim é colocado quando não se conseguiu determinar o número exato; Hífens foram usados
quando não se conseguiu dados. * - Os números referidos aos equipamentos são médias de cada categoria. Não
são incluídos na tabela navios de menos de 400 toneladas, anfíbios, navios mineiros e lanchas.

Força Naval do Brasil

A Marinha Brasileira é, das três forças, a mais antiga e talvez a mais bem
preparada. Vem aplicando uma grande modernização de sua frota desde o
começo da década. A maior ênfase tem sido dada às fragatas, corvetas,
submarinos e navios patrulha, embora o aeródromo ligeiro Minas Gerais tenha
passado por uma ampla reforma. Muito esforço tem sido aplicado na capacitação
em submarinos convencionais e à propulsão nuclear (todos os submarinos do
Brasil foram importados ou produzidos sob licença) com vistas à fabricação de
um totalmente nacional. A Marinha tem se aplicado, ainda, em unidades de
fuzileiros navais e forças especiais anfíbias de pronto emprego, equipadas com
peças de artilharia e carros de combate não similares aos do Exército.

Principais Armamentos Navais do Brasil

Armamento Modelo Origem Plataforma


Canhão Bofors/ 40mm Inglaterra Fragatas, Corvetas, Porta-avião, Navios-patrulha
Canhão Oerlikon/20mm Inglaterra Navio-patrulha
Canhão Vickers/115mm N/D Corvetas, Fragatas
Canhão N/D/127mm N/D Contratorpedeiros
Torpedo Mk46 EUA Corvetas, Contratorpedeiros
Míssil-antisubmarino ASROC EUA Contratorpedeiros, Fragatas
Torpedo Marconi Stingray Fran/Ale Fragatas
Torpedo Mk24 Tigerfish Inglaterra Submarinos
Fonte: Site da Marinha do Brasil.

Força Naval Brasileira

Cate- Qte. Compri- Peso Velocida- Alcance Canhões Aeronaves MA MS T


goria mento (m) (mil ton.) de (Km/h) (mil Km) S S T
N 5 61 1,4 38 13 0 0 0 0 16
A 1 210 19 43 19 10 12 4 0 0
D 18 120 3 54 7 2 1 10 4 6
E 35 46 0,4 43 3,5 5 0 0 0 0
Fonte: Site da Marinha do Brasil e The Military Bakance 96/97, p.214.

75
Bombas e Mísseis

Apresentam-se abaixo as principais bombas e mísseis da guerra aérea e marítima.

Guerra Aérea

Na Guerra do Golfo, dentre todos os artifícios usados, os ataques aéreos a alvos


terrestres foram os que causaram maior admiração entre todos os que
acompanhavam estas missões pela TV. Tal precisão foi alcançada graças aos
modernos aviões utilizados (já descritos anteriormente) e os sistemas de bombas
inteligentes. É a primeira categoria de bombas a ser empregada para destruição
das principais defesas inimigas (no caso da Guerra do Golfo, em combinação
com o caça F-117), abrindo caminho para ataques posteriores utilizando-se
bombas convencionais (e mais baratas). Existem três tipos de bombas
inteligentes: guiadas por imagens de televisão, infravermelhas e guiadas a laser.
Estas bombas são feitas a partir da aplicação de kits modulares em bombas
convencionais, recebendo o nome de GBU (Glide Bomb Unit – Unidade de
Bomba de Planeio), no caso das guiadas laser, esses kits recebem a denominação
Paveway II (mais antigas da década de 70)e Paveway III (atualização das
anteriores). As guiadas por imagens de TV ou eletro-óticas têm acopladas uma
câmera de televisão na ponta de suas fuselagens, cujas imagens são transmitidas
por rádio a uma tela de TV no cockpit. Um operador faz as manobras necessárias
por via de um joystick que são enviadas a aletas da bomba por data-link. Foram
aplicadas primeiramente na guerra do Vietnã. As infravermellhas são conduzidas
da mesma forma que as bombas guiadas por televisão. Apenas têm como
incremento câmaras de televisão infravermelhas que possibilitam imagens no
escuro e em mau tempo. São conhecidos como sistema de sensores FLIR
(Foward Looking Infrared Radar). Por sua vez, as bombas à laser são usadas da
seguinte maneira: após o piloto, com um joystick, Ter selecionado o alvo na tela
de televisão através de câmaras - geralmente infravermelhas localizadas na
região ventral do avião ou embaixo da asa - um designador laser do avião dispara
um feixe laser no alvo. O reflexo da luz é detectada pelos sensores de bomba.
Um microprocessador memoriza a localização do alvo e direciona a bomba,
fazendo qualquer correção de trajetória que seja necessária após a liberação.

Outros países já desenvolveram sistemas de bombas guiadas à laser mais


avançados que os americanos. Israel desenvolveu uma bomba – a Griffin - que
pode ser guiada por designadores da aeronave lançadora, unidades em solo,
aviões aliados ou UAVs. Dessa maneira, o avião lançador não precisa,
necessariamente, estar em uma posição favorável para realizar o ataque. Para
alvos menores que necessitam ainda maior precisão, a Força Aérea de Israel
desenvolveu a bomba ALGB (Advanced Laser Guided Bomb) que tem ajustado
em sua ponta um sensor de busca giroestabilizado. Ou seja, ele não perde o foco
mesmo em manobras bruscas devido a um sistema móvel estabilizador em sua
76
base.160 Outro país avançado nessa tecnologia é a França. O mesmo receptáculo
que contém o designador laser Litening é dotado de outros mecanismos: um
sensor infravermelho para uso noturno, uma câmara avançada para uso diurno de
sensores de TV, sistema de pontaria via navegação inercial, telêmetro laser e um
sistema de navegação GPS. Entre os mísseis ar-ar, já há os que possuem radar de
busca próprios e sistemas de contramedida (sistemas para dificultar intervenção
inimiga). Dessa espécie, existem o AIM-54 Phoenix, da Marinha dos EUA e o
AMRAAM (Advanced Medium-Range Air-to-Air Missile). Os outros dois tipos
de mísseis ar-ar mais convencionais são de dois tipos: de busca infravermelha
(atraídos por calor) e os anti-radar (detectam e seguem as ondas eletromagnéticas
emitidas pelo radar adversário). Trabalha-se no aperfeiçoamento de um míssil
(mais especificamente, o AIM-9) com um radar específico para detecção de
outros mísseis, ou seja, tenta-se criar o míssil ar-ar anti-mísseis ar-ar.

Principais Mísseis Usados por Aviões

Mísseis ar-ar País Detecção Alcance Peso (Libras) Velocidade Usado por
(Km) (m/s)
Phoenix EUA Ativa 200 1.008 1.600 F-14
AMRAAM EUA Ativa 100 335 1.200 Vários
AIM-120
Sky Flash Inglaterr Ativa 55 425 1.000 F-4, Tornado
a
AA-12 Rússia Ativa 55 450 1.100 MiG29, Su27
‘AMRAAMski’
Sparrow AIM- EUA Ativa 40 514 1.200 F-4, F-14, F-5,
7F F/A18
Python 3 Israel Passiva 15 268 800 Vários
Sidewinder EUA Passiva 14 190 820 Vários
AIM-9M
Magic R550 França Passiva 10 200 1.000 Várias
Sidewinder EUA Passiva 10 185 820 Várias
AIM-9J
AA-9 Amos Rússia Ativa 100 800 1.100 MiG25,
MiG31
AA-11RH Rússia Passiva 40 440 1.000 MiG29,
Alamo MiG31
AA-10IR Rússia Ativa 15 350 1.000 MiG29, Su27
Alamo
AA-6RH Acrid Rússia Ativa 40 1.700 1.400 MiG25
AA-7RH Apex Rússia Ativa 30 700 1.100 MiG23
AA-6IR Acrid Rússia Passiva 20 1.300 1.400 MiG25
AA-7Ir Apex Rússia Passiva 16 600 1.100 MiG23
AA-8RH Aphid Rússia Ativa 15 200 800 MiG23
AA-8IR Aphid Rússia Passiva 7 120 800 Vários
Sidewinder EUA Passiva 4 159 650 Várias
AIM-9B
AA-3 Anab Rússia Passiva 10 500 800 Su9, Su11,
Su15
AA-2 Atoll Passiva Passiva 7 155 700 várias

160
LORCH, Carlos. Uma Bomba e Bingo: as Bombas Inteligentesda Guerra Moderna. In:
Revista Força Aérea, ano 2, número 7, junho/julho de 97, p.89.

77
Mísseis País Detecção Alcance Peso (Libras) Velocidade Usado por
ar-superfície (Km) (m/s)
Komoran Alemanh Ambos 37 1.320 300 F-104
a
HARM AGM-86A EUA Passiva 20 807 1.200 F-4, A-7
Harpoon EUA Ativa 130 1.498 280 A-6, A-7
Exocet França Ativa 60 1.442 300 F-4
Shrike AGM-45A EUA Passiva 16 400 650 F-4, A-6,
A-7
AlCM AGM-86 EUA Ativa 3.200 3.000 240 B-52
AS-5 Kelt Rússia Ativa 180 7.700 300 Tu16
AS-12 HARM Rússia Passiva 100 1.600 330 Su24
AS-13 Rússia Passiva 70 2.500 300 Su24
AS-4 Replacem Rússia Ativa 800 12.100 1.150 Tu-22M
AS-6 Kingflish Rússia Ativa 250 10.600 800 Tu-22M
AS-11HARM Rússia Passiva 80 1.100 300 Su24
AS-14 Rússia Passiva 12 1.500 600 MiG27,
Su17, Su24
AS-9ARM Rússia Passiva 80 2.200 260 Su24
AS-15 Rússia Ativa 3.000 3.500 240 Tu95
Maverick AGM-56 EUA Passiva 20 462 670 Vários
AS-4 Kicthen Rússia Passiva 300 13.200 400 Tu22M,
Tu22
Paveway EUA Passiva 4 2.100 200 Vários
SRAM AGM-69A EUA Ativa 100 2.240 1.000 B-52
AS-Vikhr Rússia Passiva 20 500 600 Su25
Walley AGM-52A EUA Passiva 4 2.400 200 Vários
AS-10 Rússia Passiva 10 600 200 MiG27,
Su17
AS-7 Kerry Rússia Passiva 10 640 300 MiG27,
Su17
AS-3 Kangaroo Rússia Passiva 650 24.200 550 Tu95
AS-2 Kipper Rússia Passiva 210 9.330 400 Tu16

Bombas País Alcance (Km) Peso Detecção Bomba base Uso


inteligentes (Kg)
Gbu-15 EUA 14,5 a 36 1.187 TV/IIR Mk84 F-15E,F-111
GBU-10E/B EUA 1.000 Laser/PII Mk84 A-6, F/A-18, F-
GBU-12E/B EUA 370 Laser/PII Mk82 15E, F-16, F-111,
GBU-16C/B OTAN 453,5 Laser/PII Mk83 Jaguar, Tornado, A-
GBU-24A/B EUA 544 Laser/PIII Mk84 10, AV-8B, OH-
58,AH-64, OV-10D
GBU-27 EUA 907 Laser/PIII Caixa de aço penetrante F-117
AGM-84E – EUA 111 619 IIR/GPS AGM-84 Harpoon A-6, A-7
1 SLAM
AGM-130 EUA 48 1.352 TV/IIR Mk84 F-4E, F-15E, F-111
Skipper II EUA 9,7 453,5 Laser/PII Mk83 A-6, F/A-18

Fonte: DUNNIGAN, James; How to Make Wa,. pp. 186-187; LORCH, Carlos; Uma Bomba e Bingo!. In Revista
Força Aérea. Jun/jul de 1997; LAUR, , Timoth M. , & LLANSON, Steven L. Encyclopéia of Modern US
Military Weapons. pp-263-264 e pp. 275-289.

Nota sobre a tabela: detecção ativa é usada para mísseis que têm radares próprios e detecção passiva mísseis que
buscam calor e emissões de radares do alvo.
Notas da última tabela: TV: guiagem por imagens de TV, IIR: guiagem por imagens infravermelhas; PII: kit de
guiagem Paveway II; PIII: Paveway III; GPS: navegação através da triangulação de informações
provenientes de uma rede de satélites.

78
Os mísseis de defesa anti-aérea já possuem um nível de desenvolvimento em que
possuem radares e microprocessadores, de tal maneira que quando um míssil
destes, após lançado, detecta um avião ele explode mesmo sem atingi-lo,
calculando a melhor forma possível de provocar dano ou destruir o avião
inimigo. Ao lado disso, mísseis antiaéreos têm sido associados aos radares de
navios e bases antiaéreas por interface. Ou seja, logo após a detecção,
automaticamente os lançadores são acionados. Não são usados apenas contra
aviões e helicópteros, mas, também, contra outros mísseis como o Patriot na
Guerra do Golfo. Incrementando o uso desses mísseis, maior capacidade de
detecção, realizar manobras e computadores com maior poder de precisão e
interpretação dos dados fornecidos por radares são as principais metas nas
instituições militares de pesquisa.

Apesar de todos as evoluções realizadas nos últimos anos em mísseis antiaéreos,


a mais efetiva defesa continua sendo a superioridade aérea através do uso de
outros aviões, principalmente a partir desta década, quando a tecnologia stealth
começa a ser comum entre as forças aéreas.

Principais Mísseis Antiaéreos

Modelo País Altitude Altitude Alcance Calibre Número de Versão Mobilidade


mínima máxima (m) (mm) lançadores Naval
Patritot EUA 100 24.000 60 410 4 não AP
SM-2AER EUA 50 25.000 167 348 2 mesma Navio
AS-10b Rússia 900 30.000 80 500 2 não AP
Improved EUA 30 18.000 40 370 3 não Móvel
Hawk
SA-10a Rússia 300 500 50 450 40 SAN6 Móvel
SM-2Mr EUA 50 25.000 32 305 20 mesma Navio
Nike EUA 1.000 50.000 150 800 1 não Móvel
SA-11 Rússia 30 14.000 30 400 4 SAN7 AP
Hawk EUA 100 11.000 30 350 3 mesma Móvel
2S6M Rússia 15 3.500 8 170 9 não AP
Roland Aleman 10 3.000 6 163 4 não AP
ha
SA-N3 Rússia 150 25.000 55 600 2 não Navio
Avenger EUA 0 4.800 5 70 9 mesma AP
SA-N3 Rússia 150 25.000 30 305 2 não Navio
SA-4B Rússia 300 20.000 60 800 2 mesma Móvel
Tartar EUA 50 20.000 20 300 2 não Navio
Sea EUA 15 5.000 5 200 8 mesma Navio
Sparrow
Stinger EUA 0 4.800 5 70 1 Mesma Portátil
SA-6 Rússia 50 13.000 24 330 3 não AP
SA-2B Rússia 1.000 24.000 100 500 1 SAN2 Móvel
Crotale França 50 3.600 8 156 4 mesma AP
Rapler Inglaterr 10 3.000 7 133 4 não AP
a
SA-3 Rússia 300 13.000 35 450 2 SAN1 AP
SA-8B Rússia 10 12.000 15 210 4 SAN4 AP
SA-13 Rússia 20 4.000 8 120 4 não AP
Chaparral EUA 100 1.000 5 127 4 sim AP
SA-14 Rússia 25 4.500 5 70 1 Não Portátil

79
SA-7 Rússia 25 4.200 4 70 2 SAN5 Portátil
SA-9 Rússia 50 4.700 7 110 1 não AP

Fonte: DUNNIGAN, James. How to Make War, pp. 204-205. Nota: AP: autopropulsado

Guerra Marítima

Mesmo a ex-União Soviética sendo pioneira em mísseis anti-navios e a principal


fornecedora desse tipo de equipamento para países do Terceiro Mundo, os países
desenvolvidos do Ocidente são mais avançados, principalmente, em relação a
mísseis contra submarinos: adaptam vários de seus modelos de mísseis de guerra
naval para serem compatíveis tanto por navios como submarinos e aviões. Isto
reduz os seus custos de treinamento, manutenção e fabricação em série.161

O mais difundido sistema de bombardeio para combates navais são os mísseis


Harpoon que possuem em seus narizes câmeras infravermelhas, de maneira
similar às bombas inteligentes usadas por aviões. Existem, ainda, os mísseis de
cruzeiro Tomahawk, lançados de navios em ataque a unidades inimigas
terrestres. São capacitados de sensores e um potente microcomputador que
visualiza o terreno através dos dados colhidos e, literalmente, realiza manobras
seguindo um mapa armazenado em sua memória para atingir o alvo desejado.

Principais Mísseis Navais

Modelo País Alcance (Km) Peso (libras) Plataforma Velocidade Tubo para
de (m/s) torpedo ?
lançamento
SSN-2B Rússia 40 3.500 S 250 N
SSN-2C Rússia 80 6.000 S 250 N
SSN-3B Rússia 450 12.000 S,U 450 N
SSN-7 Rússia 60 7.700 U 250 N
SSN-9 Rússia 120 6.500 S 250 N
SSN-12 Rússia 500 11.000 U 800 N
SSN-14 Rússia 15 3.500 S 300 N
SSN-15 Rússia 40 4.000 U 400 S
SSN-16 Rússia 90 4.000 U 400 S
SSN-19 Rússia 500 10.00 S,U 800 N
SSN-22 Rússia 110 6.000 S 800 N
SSN-25 Rússia 50 2.000 S 300 N
Skipper II EUA 9,7 1.283 A 575 N
Harpoon EUA 110 3.200 A,S,U 280 S
Exocet França 40 1.620 A,S 300 N
Tomahawk* EUA 450 2.700 S,U 240 S
SUROC EUA 55 4.000 U 400 S
ASROC EUA 10 959 S 400 N

Fonte: DUNNIGAN, James; How to Make War, p. 242.

Notas sobre a tabela:


Plataforma de lançamento: A: avião, S: navio e U submarino.
Tubo de torpedo: indica se o míssil pode ser lançado de submarinos.

161
DUNNIGAN, James.; How to Make War, p.243.
80
* Tomahawk também é usado para ataques ao solo partindo de plataformas marítimas.

Tipos Especiais

Tem sido desenvolvida uma nova série de mísseis inteligentes que são de difícil
alocação entre a categoria formal de artilharia. ou defesa antiaérea. Na verdade,
funcionam como minas. São fixados sob solo e dotados de sensores próprios e,
dependendo de sua sofisticação, podem atingir de carros blindados até
helicópteros. Nesse estilo, existe o SADARM (Sense and Destroy ARMor) que
consiste em um míssil penetrante inteligente com um sensor termal que realiza
uma varredura constante em um raio de 100 metros. Após um alvo ter sido
detectado, um sistema lançador atira o míssil de sua “toca” e, logo depois, o
míssil segue seu alvo pelos seus próprios sensores. Por sua vez, o WAM (Wild
Area Mine) possui as mesmas características do SADARM, a não ser por seus
sensores serem de som e vibração, conseguindo diferenciar um carro de passeio
de um tanque de combate graças a uma biblioteca armazenada na memória de seu
microprocessador. Variações do WAM para ação anti-helicóptero também são
possíveis. Há ainda o BAT (Brilliant Antiarmor Submunition), um modelo
sofisticado do SADARM com capacidade de altitude e de manobras aéreas
maior, devido anéis em sua fuselagem com função de flaps de avião. É um míssil
com maior poder de varredura e pode derrubar um maior número de alvos. 162

Mísseis e Bombas do Brasil.

As três casas militares têm um comprometimento diferente em relação a mísseis


e bombas. Os sistemas de mísseis usados pela Marinha são os mísseis anti-navio
MM 38/40 (Inglaterra) e Exocet (que consta na tabela dos principais mísseis
navais), e mais os mísseis antiaéreos Mistral (francês) e Seawolf (inglês),
ASPIDE e Abatros Mk2 (Itália). Dentre as Forças, é ela a que tem investido mais
na aquisição de mísseis nos últimos anos. Não apenas quantitativamente, mas em
qualidade igual ou superior as mais representativas forças navais do mundo. Para
defesa antiaérea, o Exército utiliza apenas o sistema de míssil alemão Roland II
apresentado (que consta em tabela de mísseis antiaéreos). Tanto o Exército como
a Marinha não possuem projetos nesta área no momento. A Aeronáutica é bem
menos dependente de produtos estrangeiros, embora importe mísseis ar-ar AIM9-
B Sidewinder, e já desenvolveu alguns vetores. Entretanto, com certeza, terá que
desenvolver ou importar modelos mais modernos com a aquisição de novos caças
nos próximos anos. Os vetores nacionais são 163:

Bomba BFA-230 DE 230 Kg e Bomba BAFG de 460 Kg guiadas por imagens de TV;
Bomba anti-pista convencional;
Míssil MSA-1 “Piranha” ar-ar de busca termal.

162
DUNNIGAN, James.; Digital Soldiers, p.192
163
PESSOA, Antônio José Monteiro. Desenvolvimento Confunto de Equipamentos e Sistemas
de Armas para as Forças Armadas, Anexo E.
81
As FAB deveriam dar mais ênfase a bombas e mísseis (inclusive mísseis de
cruzeiro) e se esforçar no seu desenvolvimento conjunto. São os equipamentos
militares que apresentam a melhor eficiência a relativo baixo custo das últimas
décadas. São muito mais baratos que sistemas pesados como aviões e tanques, e
sua tecnologia permite que um mesmo modelo seja eficiente no combate
marítimo, aéreo e terrestre com apenas algumas alterações O Brasil possui
capacidade tecnológica e industrial suficiente para ter sucesso nesta aérea.
Guerra Eletrônica

Esta é uma área que tem sido afirmada como uma nova dimensão do campo de
batalha, tendo-se como referência a Guerra do Golfo. Historicamente, no entanto,
a eletrônica passou a ser parte da guerra no momento em que foi introduzida, de
maneira marcante, na II Guerra Mundial. Embora a dependência da comunicação
por sistemas eletrônicos tenha se iniciado na Guerra Civil Norte-Americana, foi
na II Guerra Mundial que o emprego de equipamentos e operações de detecção
eletrônicos foram aplicados mais intensivamente e, em resposta a estes, o uso da
criptografia e códigos eletrônicos. Mais recentemente, o uso de recursos
eletrônicos para minar e surpreender foram usados com sucesso contra países
sem qualquer capacidade nessa área para responder à altura – EUA contra Vietnã
e, mais tardiamente, contra o Iraque e Israel em guerras do Oriente Médio.

Conflitos em que ambos os lados possuíssem recursos de guerra eletrônica ainda


não foram travadas. Espera-se que quando isso ocorrer a Guerra Eletrônica não
será um fator simplificador, pelo contrário, tornará o combate mais complexo e
incerto. Isso se deve à gama de possibilidades geradas e devido a cada vez maior
dependência dos países em componentes eletrônicos. Para melhor compreensão,
apresentar-se-ão a seguir as principais aplicações da Guerra Eletrônica164:

Aplicações Ofensivas

1) Localização de alvos inimigos: sensores, medidas de vigilância eletrônica e processamento de sinais para o
auxílio na determinação das atividades, força e posições das unidades inimigas, para ataques posteriores mais
bem planejados e, talvez, com melhores resultados. Medidas de vigilância eletrônica baseia-se na atividade de
identificar, catalogar e monitorar as emissões eletrônicas do adversário, seja as suas freqüências de rádio, tipos e
potências dos radares, sensores e sonares, seja a “assinatura“/rastro eletrônica(o) de seu armamento (por
exemplo, como determinado modelo de submarino inimigo pode ser apresentado na tela do sonar de um navio
aliado). Evidentemente, é uma atividade preventiva e de execução anterior as hostilidades terem início.
Processamento de sinais é algo quase similar à atividade anterior: reconhecimento e armazenamento de padrões
identificadores dos equipamentos e armas adversárias como sons dos navios, vibrações sísmicas provocados por
blindados e rastros de calor de aviões; 2) Rompimento do sistema C3I – comando, controle, comunicação e
inteligência do inimigo por meio da detecção de suas comunicações e posterior interferência por emissões de
sinais eletromagnéticos, envio de mensagens falsas e destruição de seus equipamentos de comunicação; 3)
Destruição dos sistemas de sistemas eletrônicos do inimigo através da descarga de potentes emissões
eletromagnéticas (mais conhecido como pulso eletromagnético).

164
DUNNIGAN,; James. How to Make War, pp. 372-377.
82
Aplicações Defensivas

1) Assegurar as comunicações entre as unidades desenvolvendo sistemas eletrônicos para proteção de rádios,
links e interface, como por exemplo, alternadores automáticos de freqüência de rádios; 2) Contramedidas
eletrônicas: são usadas por aviões e navios em casos de iminência de mísseis anti-radar. O artifício mais comum
é a liberação ao ar de partículas metálicas que confundem os sensores do míssil inimigo.

As forças armadas de países ocidentais desenvolvidos são as mais dependentes


de recursos eletrônicos e, por isso, os que mais investem e acreditam nas
vantagens da Guerra Eletrônica. A Rússia é mais cética, buscando sempre formas
alternativas de comunicação, organização e operação. Faz grande uso de
bandeiras, fumaça e mensageiros. Suas unidades são muito mais autônomas,
seguindo sempre a tradição de cumprimento total de ordens prévias antes de
retomar contato com os centros de comando. Outras técnicas usadas pelos russos
são: ao invés de desenvolver potentes e sofisticados sistemas de detecção como
os ocidentais, eles produzem um grande número de simples detectores e acionam
cada um à análise de uma freqüência específica. Mantém seus equipamentos em
segredo, inclusive de suas próprias tropas até o momento do combate na certeza
de que suas tropas aprenderam a operar o equipamento primeiro que os inimigos
o detectem e saibam como reconhecê-los por vias eletrônicas. E por último,
equipam seus tanques, navios e aviões muito mais fortemente que suas
contrapartes ocidentais oferecendo aos seus soldados maiores opções de
contramedidas à ação adversária ou no caso de defeito de equipamento.165

Sistema C3I

Após a II Guerra Mundial, quando os aparatos eletrônicos começaram a ter


relevância, criou-se um consenso de como deveria ser a base de organização de
uma força no campo de batalha, são chamado sistemas C3I – comando, controle,
comunicação e inteligência. O general apenas conseguiria instruir suas tropas de
missões (comando) e conduzi-las e organizá-las no campo de batalha (controle)
através de perfeitos sistemas de comunicação, principalmente com a expansão do
espaço de batalha e aumento da complexidade na guerra moderna. No entanto, o
melhor dos planejamentos e estratégias só são possíveis com o completo
conhecimento da situação de sua própria força e a do inimigo (lembrando Sun
Tzu) que é realizado após o processamento da informação (inteligência)
comunicada pelas unidades de coleta de dados, espiões, sensores, observadores
ou, simplesmente, relatórios de rotina sobre as unidades. Emergiu o argumento
de que esse “paradigma” é ultrapassado devido o aumento da capacidade de
destruição, locomoção, disposição de tropas e maior complexidade de unidades e
equipamentos. Diante esta situação, uma força necessitaria ter computadores
integrados ao sistema para facilitar e agilizar o uso dos componentes existentes.
Assim, o campo de batalha moderno teria como parâmetros o termo C4I –

165
DUNNIGAN,; James. How to Make War, pp. 371-372.
83
comando, controle, comunicação, computadores e inteligência.

Guerra Eletrônica no Brasil.

Para os militares brasileiros, a capacidade de Guerra Eletrônica é algo


imprescindível e têm sido feitos esforços para dominar esta área. Porém, é
evidente que embora possuam um significativo potencial para a pesquisa, para a
aplicação efetiva de sistemas eletrônicos não há o mesmo êxito. Principalmente,
devido à falta de cooperação das três forças em projetos e a incompatibilidade
entre seus sistemas de armas. A Marinha se focaliza em projetos de contramedida
e a Aeronáutica em projetos de detecção de radares inimigos. Ambos, também,
têm projetos de radares mais apurados. O Exército se aplica em sistemas mais
seguros e eficazes de telecomunicações.166 O EMFA e a SAE têm como
prioridade a capacitação de equipamentos criptográficos para comunicações.
Notadamente, são todos projetos de aplicação defensiva da Guerra Eletrônica.

166
PESSOA, Antônio José Monteiro; Desenvolvimento Conjunto de Equipamentos e Sistemas
de Armas para as Forças Armadas, Anexo B.
84
O Capitalismo da Guerra:
Indústria e Mercado Internacionais de Armamentos

Os primeiros e mais visíveis reflexos do final do equilíbrio estratégico da Guerra


Fria e das mudanças estruturais nas forças armadas mundiais acontecem nos
padrões de produção e do mercado internacional de armas. Cálculo de gastos e
relação do inventário militar de cada país são possíveis e realizados. No entanto,
a confiabilidade dos dados que são fornecidos pelos países não é alta. Descrever
como as empresas de defesa vêm mudando seus padrões, relacionando-os com os
últimos acontecimentos estratégicos, políticos e econômicos não é apenas
conveniente, mas necessário.

As dificuldades que enfrentam as indústrias de defesa internacionais se dão, sem


nenhuma dúvida, pelo fim da Guerra Fria, apesar de outros fatores contribuíram
para as drásticas quedas em vendas de armas.

Com alguma demonstração já na I Guerra Mundial, mas, efetivamente na II


Guerra e em diante, as forças armadas passaram a ter uma grande diversidade de
unidades e equipamentos mais complexos. A partir da década de 50, armamentos
com novas tecnologias como turbinas a jato, mísseis, eletrônicos e materiais
compostos avançados passaram a fazer o preço de desenvolvimento de novas
armas subir vertiginosamente. Sendo, dessa forma, o custo da sua produção e
preço final cada vez maior para o orçamento dos países.

A pressão extremamente forte dos gastos militares sobre as economias nacionais


devido os compromissos políticos e ideológicos já não eram suportados antes do
fim da Guerra Fria, muitos países europeus permitiram que suas forças armadas
declinassem. 167 Durante toda a década de 1980, o fluxo do comércio de armas
convencionais foi atribulado. Pequenas quedas seqüenciais ocorreram no período
1981-85, sendo em 1986 que se teve uma retomada e em 1987 alcançou-se o
maior pico desde a década de 50. Agravantes para a queda na venda de armas já
na década de 80 são a crise financeira internacional em 82 e ter essa década se
tornado a década perdida para os países em desenvolvimento. O pico deve-se,
principalmente, pelas guerras no Golfo Pérsico que resultaram em um aumento
dos gastos militares dos países árabes em até 25% (dado: SIPRI Yearbook 1997)
e devido a retomada de gastos pelas duas superpotências reiniciada pelo governo
Reagan. No entanto, o restante do mundo, com as suas economias sufocadas,
iniciavam uma redução sistemática de seus gastos militares.

167
Strategic Survey 1996/97. IISS, pp-17-19.
85
Na Europa, os cortes de armas convencionais acertados no Tratado para Armas
Convencionais para a Europa oficializou ou institucionalizou o processo já em
andamento. Os países do Terceiro Mundo tiveram as suas razões depositadas na
década de 80, a Década Perdida e, especificamente na África e América Latina
devido aos constrangimentos políticos gerados no processo de democratização.168

Apesar do pico em 1987, o volume de transferência de armas inicia a sua maior


queda do período logo em 88, seguindo continuamente até 94 quando há o início
de uma muito reduzida recuperação.169Essas alterações são reflexos diretos dos

COMÉRCIO INTERNACIONAL DE IMPOR TAÇ ÃO D E AR MAS POR


ARMAS - 1980/97 R EGIÕES, 1996.
Volume em Dólres

50000
40000
Àfric a e Oceânia
(US$)

30000
3% 20% Oreinte Médio
20000
10000 50% Europa
0 19% Am éricas
8%
1980
1982
1984
1986
1988
1990
1992
1994
1996

Ás ia

Ano Fonte: SIPRI Yearbook 1998.

gastos militares pelos países que vieram caindo desde 88 até 94, em média, 4,5%
ao ano, enquanto em 95 e 96 a queda foi atenuada a 1%.170 Os maiores cortes
foram proporcionados, é claro, pela Rússia, apresentando, atualmente, um
décimo de seus gastos em comparação aos de 87.171 O Sudeste Asiático foi a
única região que aumentou seus gastos: em torno de 25% nos últimos dez
anos.172

E X P O R T A Ç Ã O D E A R M A S P O R
R E G IÃ O E M 1 9 9 6 .
Á f r ic a , O r ie n t e
M é d io e
O c e a n ia

A m é r ic a
1 %
4 5 %
5 1 % Á s ia
3 %

E u ro p a

Fonte: SIPRI Yearbook 1998

168
ANTHONY, Ian; Current Trends and Developments in the Arms Trade In: The Arms
Trade Problems and Prospects in the Post-Cold War World, World -. Annals of the
American Academy of Political and Social Science. Vol. 538, September 1994, pp. 36-
37.
169
SIPRI Yearbook 97, Arms Trade.
170
SIPRI Yearbook 98, Arms Trade.
171
SIPRI Yearbook 97, Military Expendure.
172
SIPRI Yearbook 98. Military Expendure.
86
Alterações no Mercado Internacional dos Anos 90

Desde o fim da Guerra Fria as empresas de defesa não podem mais contar com
subsídios de seus países-matriz e contratos longos a preços inflacionados com
países estrangeiros, como eram feitos naquele período devido a compromissos
políticos. Para conseguirem vender algo nos dias de hoje, estão sendo forçadas a
se adaptarem às regras de mercado e a realizarem melhorias estruturais internas,
a fim de serem mais flexíveis, competitivas e responsáveis em relação ao seu
mercado como fazem as empresas de artigos civis.

A maior liberdade política e o excedente de produtos em oferta têm permitido


aos compradores uma gama de oportunidade que não se via em muitos anos173. O
fim da Guerra Fria permitiu um relaxamento nas atitudes dos governos em
relação à transferência de tecnologias militares dentro de um grupo de países
industrializados e os equipamentos russos já fazem parte das licitações de
compra de armas de qualquer país do Ocidente.

Tal fato derruba o argumento dos militares brasileiros, principalmente dentro da


Escola Superior de Guerra, que embora o equilíbrio estratégico militar tenha
mudado, e com ele constrangimentos e compromissos internacionais, a
dificuldade e restrição à compra de armas avançadas e a transferência de
tecnologia para o Terceiro Mundo continua. A melhor prova que esse ‘apartheid’
não mais existe ou é muito mais reduzido do que se afirma é a própria
concorrência brasileira para a compra de caças em que todas as empresas
participantes oferecem as últimas versões dos modelos apresentados.

A principal estratégia usada pelas indústrias para substituir as exportações tem


sido o investimento direto. Ele tem sido realizado pelas empresas através de
aquisições e fusões nacionais e regionais (que por serem mais específicos ao caso
das empresas norte-americanas, serão discutido no próximo seguimento) e
através de cooperação internacional. Com esses empreendimentos, as empresas
têm como objetivos: sustentar os caros projetos de pesquisa e desenvolvimento,
responder à demanda de economias de escalas e escoar o excedente de produção
através do acesso a uma maior parcela do mercado.174

A cooperação internacional entre empresas do setor tem acontecido de duas


formas: primeiro, a cooperação entre empresas rivais no desenvolvimento
conjunto de novos sistemas de armas. Um bom exemplo é a união das duas

173
SKONS, Elisabeth e WULF, Herbert. The Internalization of Arms Industry, In: The Arms
Trade Problems and Prospects in the Post-Cold War World., pp. 44
174
SKONS, Elisabeth e WULF, Herbert. The Internalization of Arms Industry, pp. 53-54
87
maiores empresas de defesa dos Estados Unidos, Lockheed Martin e Boeing
McDonnel Douglas e, mais uma empresa menor, a TRW, para divisão de tarefas
e custos de pesquisa no projeto AirBone Laser – ABL (relatado na seção
Aeronaves). Na Europa essa cooperação é mais forte, sendo criado joint ventures
entre firmas em setores rivais como a criação da Eurocopter, responsável
atualmente pelos principais projetos de aeronaves da Europa, entre eles: o caça
Eurofigther, helicóptero de combate Tiger II e o avião de carga FAT - Future Ais
Transport. O segundo tipo de cooperação são os joint ventures estruturados como
resultados de grandes negócios de países compradores que requerem produzir
algumas partes do produto comprado como componentes e subsistemas, ou
ficarem responsáveis pelo markenting e serviços pós-vendas. São as chamadas
“compensações”. Exemplo é a aquisição pela Turquia de caças F-16. A primeira
linha foi produzida inteiramente nos EUA, enquanto as demais .serão em
cooperação entre empresas turcas e norte-americanas, podendo chegar a serem
montados inteiramente na própria Turquia.

Mesmo ocorrendo uma seleção natural no setor de indústria de armamentos e


apenas as maiores estarem sobrevivendo, nenhum país quer ficar totalmente
dependente ao pequeno grupo de fornecedores de armas. Querem manter um
certo know-how local visando o futuro imprevisível.

Existem ainda outros três fatores que incentivam os investimentos diretos por
cooperação: barreiras comerciais, legais e técnicas, custos de transporte e
serviços pós-vendas (manutenção e reparos).

Resumindo, os dois principais desenvolvimentos nas indústrias de armamentos


nos últimos anos são a diversificação geográfica através de aquisições e fusões e
o redirecionamento estratégico para consolidação do produto a ser vendido.

Transformações no Setores Industriais em Cada Região

Estados Unidos

Os Estados Unidos vêm consolidando-se com a maior fatia das exportações de


armas do mundo, dominando metade do mercado (45-50%) tomando o lugar que
foi por muito tempo da ex-União Soviética (20 bilhões por ano na década de 80).
Além da queda da União Soviética, a liderança dos EUA no mercado de armas
deve-se a campanhas comerciais persistentes. Possui, ainda, o maior orçamento
em pesquisa e desenvolvimento do mundo e um grande e protegido mercado de
armas (como na maioria de seus setores econômicos). No entanto, dois fatores
podem limitar sua atual alta de exportações no futuro: o dilema de manter-se
numa posição de dominação militar e querer liderar todas os setores de produção
de equipamentos militares, o que é virtualmente impossível, mantendo uma auto-
88
suficiência e nenhuma reciprocidade com seus parceiros; e o dilema tecnológico:
que se baseia na questão de P&D militar nos EUA ser muito concentrado em
instituições governamentais o que pode sucofá-lo no futuro com a redução
orçamentária.175 Se a pesquisa e desenvolvimento (P&D) militar nos EUA
continuar a ser centralizada em centros governamentais ela pode ser reduzida em
períodos de necessidade de corte de gastos governamentais, quando somente a
iniciativa privada (mesmo que controlada pelo governo) teria recursos suficientes
dar continuidade em projetos iniciados. Uma das piores coisas para uma força é
não ter continuidade em seus projetos de pesquisa e desenvolvimento militar.

EXPORTAÇÕES DE ARM AS IMPORTAÇÃO DE ARMAS PELOS


PELOS ESTADOS UNIDOS - ESTADOS UNIDOS - 1980/97.
1980/97. 700

Valor em milhões
14000
600
Valor em milhões

12000

(US$1990)
de dólares
500
(U$S1990)
de dólares

10000
400
8000 300
6000
200
4000 100
2000 0
0
1980
1982
1984
1986
1988
1990
1992
1994
1996

80
82
84
86
88
90
92
94
96
19
19
19
19
19
19
19
19
19
Ano Ano
Fonte: SIPRI Yearbook 1998. Fonte: SIPRI Yearbook 1998.

A partir de 1994, os Estados Unidos, diferentemente de outras regiões do mundo,


apresentaram uma retomada de sua produção.176 Isso se deve pela expansão da
sua fatia do mercado internacional de armas e por ter sido nesse ano que a
restruturação do setor foi iniciada, deixando as empresas americanas mais
competitivas em relação às dos outros países. Num período de dois anos, foram
realizadas “20 fusões e aquisições, sobretudo na indústria aeroespacial e
eletrônica, surgindo um pequeno grupo de poderosos gigantes. O emprego no
setor caiu de 3,9 milhões em 1987 para 2,1 milhões, mas a lucratividade
aumentou”177

As alterações na área de indústria bélica norte-americana podem ser resumidas


nas seguintes tendências178:

Concentração ou afastamento total das empresas, como exemplo: Ford, IBM,


General Eletronics e Westinghouse abandonaram a área, enquanto Boeing e
175
BROZCA, Michael e PEARSON, Frederic S.; Decelopments in the Global Supply of Arms:
Opportunity and Motivation, In: The Arms Trade Problems and Prospects in the Post-
Cold War, pp. 60-62.
176
SIPRI Yearbook 96. Arms Production.
177
GRANT, Charles; A fusão faz a força . Gazeta Mercantil 17/07/97.
178
GRANT, Charles. A fusão faz a força.
89
Rayethon intensificaram;

Disputa entre as gigantes e grandes conglomerados por “empresas especializadas


em eletrônica, a única área que cresce no setor. O Pentágono gasta com
eletrônicos 45% de seu orçamento para compras de armas”, visando a atualização
de plataformas e equipamentos para comunicações, links e interfaces entre
unidades. Tamanho é crucial: esses gigantescos conglomerados, devido ao seu
tamanho, possuem poder político, força em pesquisa e desenvolvimento, uma
certa distribuição pelo país, facilidade na integração de diferentes divisões
produtivas e a grande vantagem de negociar com apenas um governo.

A quarta tendência é o afrouxamento da lei anti-truste. “OS EUA já possuem


apenas uma empresa para fabricação de tanques (General Dynamics), uma de
veículos blindados (United Defense) e uma de bombardeiros (Nothrop
Gruman)” 179, provavelmente, terá apenas uma de caças de combate e o mesmo
nas demais áreas com exceção da construção naval que não sofreu uma alteração.

Contudo, nem mesmo a dominação do comércio internacional de armas serviu


para amenizar os imensos gastos da restruturação das empresas. Essas fusões não
ocorrem sem risco, o débito médio aumentou de 36% em 1993, para 112% em
1996. O débito da Lockheed Martin aumentou em estimados 179%, enquanto a
Northrop-Grumman aproxima-se de 265%. Esses riscos são baseados na
possibilidade de contratos de longo prazo com o próprio governo americano (o
maior filão do mercado que se pode encontrar), como os futuros programas: C-
17, avião de transporte; o F-22 (já ganho pela Lockheed Martin), o Joint
Advanced Strike Fighter Technology; e o Theater High Attitude Area Defense
(THAAD), sistema de mísseis balísticos defensivos.180.

Bill Clinton apóia a restruturação de maneira pública e através de medidas


governamentais: “as empresas tiveram permissão de pedir reembolso de parte do
custo das fusões e impulso às exportações. Em 1996, passou a vigorar um novo
programa de financiamento às exportações para as empresas. O Tesouro garantirá
empréstimos comerciais a países que comprarem equipamentos americanos até
um valor total de 15 bilhões”.181

Europa

As empresas européias estão tendo muito mais dificuldades na reestruturação de


suas empresas que as norte-americanas. A queda no requerimento por armas faz
impossível a manutenção de sua base industrial tão diversificada. Apesar do

179
GRANT, Charles. Ibdem.
180
Strategic Survey 96/97 – International Institute for Strategic Studies, pp. 70-71.
181
GRANT, Charles. A fusão faz a força.
90
mercado de defesa europeu ser metade do norte-americano, a União Européia
tem dez produtores de aviões, os EUA têm 5; 11 produtores de mísseis contra 5
americanas; dez de veículos blindados contra 2; e 14 construtores de navios
contra 4 norte-americanas.

A solução tomada tem sido mais pela via de joint ventures em áreas específicas
entre empresas do que através de fusões. Como exemplo, temos a Eurocopter
(Dasa da Alemanha e Aeroespatiale da França na área de aeronaves) e a Matra
Marconi et Space (GEC da Grã-Bretanha e Legadére da França). No entanto,
embora esses “joint ventures ofereçam alguma sinergia tecnológica e de
economia de escala, cada componente é administrado como uma operação
empresarial distinta” 182.

A meta é criar empresas multilaterais européias gigantes em determinados


segmentos para fazer frente às empresas americanas. O primeiro esforço nesse
sentido é liderado pela França e Alemanha na formação de uma Agência
Européia de Armamentos com futura participação, de Holanda, Itália e
Inglaterra, com a função de lidar com programas de procura de armas. Também
evitam fusões com americanas no momento, por elas serem muito maiores,
teriam uma posição acionária minoritária.

IMPORTAÇÃO DE ARMAS PELA EXPORTAÇÃODE ARMASPELA


EUROPA - 1987/97.
EUROPA- 1987/97.
15000
Valor em milhões

30000
(US$1990)
milhões de
de dólares
(US$1990)

Valor em

dólares

10000 20000
5000 10000

0
0
87

89

91

93

95

97
87

89

91

93

95

97

19

19

19

19

19

19
19

19

19

19

19

19

I Fonte: SIPRI Yearbook 1998 Ano Fonte: SIPRI Yearbook 1998. Ano

Apesar de tudo isto, tanto na criação de uma agência única como na tentativa de
condução de programas cooperativos há divergências de origem sentimentalista e
vaidosa. Há, ainda, desconfiança, insegurança econômica e incompatibilidade de
interesses. A estrutura de armamentos da França é, na opinião de especialistas, o
maior obstáculo para a restruturação européia por ser em sua maioria empresas
de defesa estatais A prioridade desse país é a consolidação interna. Chirac quer a
fusão entre a Dassault (privada) e a Aeroespatiale (estatal) para facilitar a
aproximação com outras empresas européias. No entanto, há hesitações sobre a
privatização da Thompson, maior empresa de eletrônicos da Europa.
182
GRANT, Charles. Nas Armas os Europeus estão longe da União. Gazeta Mercantil,
18/07/97.
91
Rússia

A redução da produção de armas na Rússia, assim como a redução de suas forças


efetivas, tem sido feita, muitas vezes, de forma descontrolada. Em 1995, sua
produção militar tinha caído para um sexto da produção de 91. Apenas a Ucrânia
experimentou uma queda maior: um décimo em relação a sua produção de 91 183
Outros números apontam o descontrole russo: em 91 foram produzidos 900
tanques, a produção foi para 700 em 92 e 200 em 93; caças e caças
bombardeiros: 325 em 91, 150 em 92 e 75 em 93; mísseis balísticos: 175 em 91,
70 em 92 e 35 em 93.

Perdendo sua força para renovar seu parque industrial, resta a Rússia apenas a
capacidade de produção em massa de equipamentos dos anos 70 e 80. Entre eles,
os caças MiG-29M e Su-27/35, o lançador de mísseis S-300 e várias peças de
artilharia. Armas potentes e desejadas pelos outros países e que podem
proporcionar uma sobre-vida para as indústrias russas por algum tempo.

As principais estratégias, além da tentativa de conversão para áreas civis de suas


empresas militares, são: a exportação de produtos terminados sem transferência
de tecnologia, podendo assim, manter uma ligação com o comprador vendendo
posteriormente peças sobressalentes e serviços técnicos e, em segundo lugar, a
cooperação com firmas ocidentais em campos tecnológicos selecionados.
Evidentemente, em áreas mais custosas ou em que os ocidentais são
tradicionalmente melhores, como eletrônica.

A Rússia conta ainda com auxílios do Ocidente tanto financeiros, como técnicos
em contrapeso a sua relativa passividade à expansão da OTAN para dentro de
seus outrora domínios (Leste Europeu e ex-repúblicas soviéticas).

IMPORTAÇÃO DE ARMAS PELA EXPORTAÇÃO DE ARMAS PELA


URSS/RÚSSIA - 1980/97. URSS/RÚSSIA - 1980/97.
2500 20000
Valor em milhões

milhões de

(US$1990)

2000 15000
Valor em
(US$1990)
de dólares

dólares

1500 10000
1000 5000
500
0
0
1980
1982
1984
1986
1988
1990
1992
1994
1996

80

83

86

89

92

95
19

19

19

19

19

19

Ano Ano
Fonte: SIPRI Yearbook 1998. Fonte: SIPRI Yearbook 1998.

92
Ásia

Japão e Coréia do Sul iniciaram, nos últimos anos, uma fase de tentativa de
capacitar suas indústrias de defesa, sendo os únicos países do mundo (ao lado da
Índia) que têm aumentado seus orçamentos em pesquisa e desenvolvimento
militares.184 O Japão tenta ir mais longe: recentemente, uma reunião no
Pentágono entre empresários do setor armamentos japoneses e norte-americanos
sinalizou para os esforços do Japão em começar a exportar armas, ou pelo menos,
componentes. No entanto, enfrentarão a dificuldade de ter uma cultura de
produção de armas totalmente doméstica e inexperiente em competição
internacional. 185

Taiwan, da mesma forma, busca capacitar sua indústria, mas através da


cooperação com empresas ocidentais. “Começou com a produção sob licença de
armas americanas, como aviões F-5, fragatas e mísseis Patriot. Agora, o país está
qualificado para projetar algumas armas por conta própria” como o caça
Indigenous Defense Fighter.186

IMPORTAÇÃO DE ARMASPELA EXPORTAÇÃO DE ARMASPELA


ÁSIA - 1987/97. ÁSIA - 1987/97.
Valor em mihõe
de dólares (US

Valor emmilhõe
de dólares (US

15000 4000
10000 3000
1990)

1990)

2000
5000
1000
0 0
87

89

91

93

95

97

87

89

91

93

95

97
19

19

19

19

19

19
19

19

19

19

19

19

Ano Ano
Fonte: SIPRI Yearbook 1998. Fonte: SIPRI Yearbook 1998.

Por outro lado, as empresas ocidentais hesitam em intensificar relações com


Taiwan, temendo represálias da China que tem um mercado muito mais
interessante. A China tem, potencialmente, o maior mercado de armas do mundo
por possuir, em termos quantitativos, a maior força armada e o maior parque de
indústrias de defesa do mundo - mais de 3 milhões de empregados e 3 mil
empresas neste setor. Seu objetivo é “ser completamente autônoma na produção
de material bélico”.187No entanto, ela falha no mesmo ponto que as empresas

183
SIPRI Yearbook 96. Arms Production.
184
SIPRI Yearbook 97. Military Technology.
185
GRANT, Charles; O Japão é Avançado, porém Isolado. Gazeta Mercantil, 19/07/97.
186
GRANT, Charles. Caminhos Opostos na Busca pelas Armas. Cazeta Mercantil, 20/07/97.
187
GRANT, Charles. Caminhos Opostos na Busca pelas Armas.
93
russas: bons centros de pesquisas, mas dificuldade em manufaturar novas armas.
Todavia, o desejo de modernização tem provocado a realocação de dinheiro,
diminuindo-se o efetivo e investindo mais em transferência de tecnologia,
principalmente, da Rússia. (por exemplo, através da compra de componentes do
caça tático russo Su-27, submarinos classe Kilo e um porta-aviões). Com essas
transferência a China suporta projetos domésticos como caça multitarefa F-10.188.

A Índia encontra-se com uma capacidade industrial excessivamente dependente


do Estado, financeiramente, e das empresas estrangeiras, tecnologicamente. Terá,
nos próximos anos, um verdadeiro desafio em compatibilizar seus recursos
econômicos a problemas e ambições estratégicos.

Outros Países

Devido a meta de ser auto-suficiente durante o período de embargo, a África do


Sul, também, está com um parque industrial bélico demasiadamente grande e
tenta converter parte de suas empresas para setores civis e, como Israel, explorar
o mercado asiático.

Israel apresenta uma indústria de armas com tecnologia avançada e que se


adaptou, facilmente, às novas regras do mercado internacional de armas e deverá
aumentar sua participação.189 a década de 80 (em torno de 50%).190

IMPORTAÇÃO DE ARMAS EXPORT AÇÃO DE ARMAS


PELOS PAÍSES DO TERCEIRO PELOS PAÍSES DO TERCEIRO
MUNDO - 1987/97.
MUNDO - 1987/97.
Valor em milhões

5000
de dólares (US$

40000
milhões de
dólares (US

4000
Valor em

30000 3000
1990)
1990)

20000 2000
10000 1000
0 0
87

89

91

93

95

97

87

89

91

93

95

97
19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

Fonte: SIPRI Yearbook 1998. Ano Fonte: SIPRI Yearbook 1998. Ano

Indústria e Comércio de Armamentos no Brasil

Após a II Guerra Mundial, os aliados e vencedores Estados Unidos e Grã-Bretanha


emergiram como os principais fornecedores de armas do mundo. Pouco mais tarde,
França e União Soviética surgiram completando o pequeno grupo de fornecedores
188
GRANT, Charles; Caminhos Opostos na Busca pelas Armas.
189
SIPRI Yearbook 96. Arms Production.
190
CONCA, Ken. Ibdem, p. 106.
94
de armas. EUA e União Soviética lideraram as vendas intra-blocos, enquanto
França e Grã-Bretanha buscavam o mercado do Terceiro Mundo, principalmente
suas antigas colônias.

A França foi a primeira a buscar o mercado de armas para sustentar o alto preço de
seus compromissos políticos e militares através da exportação de armas, passando a
lucrar substancialmente nesse negócio a partir da década de 70. Sendo que, logo
após, Itália e Alemanha Ocidental passaram a acompanhá-la nesta empreitada.

Estes países europeus e outros fornecedores mais tardios do Terceiro Mundo


(Brasil, China, Coréia do Sul e Israel ) tinham prioridades primeiramente
econômicas que geopolíticas na venda de armas, assim, possuíam uma natureza
comercial mais arrojada que as superpotências e passaram a abocanhar o mercado
de armas para o Terceiro Mundo e potências médias, principalmente após a decisão
norte-americana de restrição de armas avançadas ao Terceiro Mundo.

Nos anos 70, os países industrializados, ansiosos com as exportações para o


Terceiro Mundo, não se opuseram a transferir tecnologia militar. Foram muitos os
acordos de sistemas de armas licenciados ou co-produzidos por países do Terceiro
Mundo. Esses acordos eram desejados por países em desenvolvimento mais
adiantados e que queriam adquirir know-how e participar do bom negócio de
exportação de armas.

O Brasil, apoiando-se com uma capacidade já adquirida pelo mercado civil


nacional, apostou na empreitada A grande dependência na importação de petróleo
levou o país a procurar primeiro os países árabes. Mais tarde, a exportação de armas
abriu caminho para a venda de outros produtos e serviços para aquela região.

O processo de comercialização do setor de armamentos e o crescimento da


dinâmica do mercado internacional de armas fizeram surgir nesse mercado um
fenômeno comum aos setores econômicos civis: a internacionalização da linha de
produção. Os países produtores de armas do Terceiro Mundo cediam fases da
produção do equipamento a ser vendido para seus compradores ainda mais
atrasados e, assim, garantiam uma maior fatia do mercado.

Como aporte tecnológico estrangeiro para as empresa brasileiras de armas, se


destacam: Aeroespatiale, Dassault, Thomson e Matra (França); Oto Melara e
Aermacchi (Itália); Vosper Thornycroft and Shorts (Reino Unido); MBB da
Alemanha, Northrop e Sikorsky dos EUA.

Outro fator que incentivou a industria de armamentos dos países do Terceiro


Mundo, principalmente o Brasil, foi o tipo de equipamentos que exportavam. A
disputa entre as superpotências e aliados nos laboratórios e centros de pesquisa, os
fizeram diminuir a produção de equipamentos de tecnologia média, porém
95
necessária para a guerra, como jeeps, carros blindados para transporte e carga,
armas leves e médias. Em relação a armas de tecnologia mais complexa, os grandes
investimentos em P&D militar pelas superpotências encareciam muito seus
“produtos”, favorecendo os do Terceiro Mundo que, por serem mais “crus”, eram
mais baratos.

O inventário produzido no Brasil era basicamente composto por: veículos blindados


sobre rodas de combate e transporte; veículos qualquer-terreno para transporte de
pessoal e de material e para reboque de artilharia pesada, canhões e outros
equipamentos; veículos anfíbios sobre rodas ou lagartas; kits para modernização ou
repotencialização de viaturas; minas; morteiros; armas individuais; lança-chamas;
canhões anti-carro; canhões automáticos ar-ar e sistemas de controle de tiro;
centrais computadorizadas para artilharia de campanha; lançadores de foguetes;
foguetes de saturação de área e suas centrais de direção de tiro.Destacou-se, ainda,
por ser um transferidor de tecnologia militar para países menos desenvolvidos..

A natureza das industrias de defesa do Terceiro Mundo as deixou dependentes do


mercado externo tanto para produzir e incrementar seus produtos (através da
internacionalização), como para sustentá-las pela exportação. Frente à Crises do
Petróleo(72-73/77) e, mais tarde, a Crise Cambial (82), os países fornecedores do
Terceiro Mundo não conseguiam comprar muito sequer de suas próprias indústrias.
O seu mercado alvo, composto em sua maior parte por países do Terceiro Mundo,
também não tinham mias recursos para comprar armas. Dessa maneira, gerou-se
uma queda brutal das exportações durante

Devido às suas características particulares, as empresas brasileiras não tinham apenas


suas vendas sensíveis aos seus compradores, mas, também, sua produção e
financiamento.

A queda brutal de demanda fez com que as vedetes nacionais de armamentos,


Engesa e Ávibras entrassem rapidamente em crise, caindo por terra os ”mitos da
industria bélica brasileira”. Esta, em geral, não se mostrava tão eficiente e
lucrativa como as informações controladas pela censura militar diziam.

As empresas eram fortemente subsidiadas e a constituição desse parque industrial


não era tão grande como se pensava. José Drumond Saraiva constatou que das
206 empresas apontadas como parte da indústria bélica brasileira, apenas 43
eram produtoras de armas leves, médias e pesadas. Sendo das restantes: 152
fabricantes de componentes e insumos diversos, equipamento e materiais cuja
classificação como arma é duvidosa e fabricantes de subsistemas e 11 empresas
de rápida conversão civil-militar 191

191
SARAIVA, Jogo de Palavras: O Caso da Indústria Brasileira de Armamentos, pg. 67.
96
A alta dependência na tecnologia, componentes e subsistemas importados fazia o
valor líquido das exportações serem na verdade menores do que era afirmado
pelas fontes oficiais. Hoje, a indústria bélica apenas atende pequenos pedidos
previamente acertados com as forças militares nacionais, como o avião ALX e
algumas peças de artilharia para o Exército. O AMX também chegou ao fim de
seu desenvolvimento e já faz parte da esquadrilha da Aeronáutica. Exportações,
praticamente, não existem.

Se no passado a indústria nacional não era a fornecedora dos principais


equipamentos das Forças Armadas Brasileiras (como caças, submarinos, tanques
e outros), atualmente, essa consideração é ainda mais válida.

E XP OR T AÇ ÃO D E AR MAS P E LO
IMPORTAÇÃO DE ARMAS PELO
B R AS IL- 1980/97.
BRASIL - 1980/97.
300
800
dólares (US$

Valor em milhões de
dólares (US$1990) 250
milhões de
Valor em

600 200
1990)

400 150
200 100

0 50
0
19 0
19 2
19 4
19 6
19 8
19 0
19 2
19 4
96

1980

1982

1984

1986

1988

1990

1992

1994

1996
8
8
8
8
8
9
9
9
19

Fonte: SIPRI Yearbook 1998. Ano Ano


Fonte: S IP RI Y earbook 1998.

O Exército vem realizando a importação de vários armamentos pesados (ver


tabela abaixo) e a Aeronáutica, apesar dos AMX e ALX, inicia o processo de
recomposição de caças supersônicos através de importação. A Marinha, um
pouco diferente, vem mantendo mais ou menos a receita do passado: produções
(basicamente de fragatas e submarinos) sob licença com forte dependência de
componentes e subsistemas importados, mantendo a construção naval militar
mais acesa em relação a outros setores. Todos estes fatores levam o Brasil a ser o
maior importador de armas da região nesta década.

Lista de Armamentos Adquiridos pelas FFAA no Período 1994/1997

Número do Ano do Ano da Número


Origem Licença Designação Descrição
Pedido Pedido Entrega Recebido
Tanque
EUA .. (90) M-60 principal de 199? 1996-97 (90)
batalha
Tanque
Bélgica .. 87 Leopard-1A1 principal de 1995 1997 33
batalha
Míssil terra-ar
França .. (100) Mistral 1994 1996-97 (100)
portátil

97
Aviões de
França .. 2 Mirage-3E 1996 1997 2
combate
Alemanha Sim 2 SNAC-1 Submarino 1995 .. ..
Sim Type-
Alemanha 3 Submarino 1984 1994-96 4
209/1400
Alemanha .. 2 Grajau Class Navio-petrulha 1996 1997 (2)
Orion RTN- Radar de
Itália .. 13 1995 .. ..
30X controle de tiro
Radar de
Itália .. 7 RAN-20S 1995 .. ..
monitoramento
Itália .. (144) Aspide Mísseis navio-ar 1996 .. ..
Sistema de
Itália .. 6 Albatros Mk-2 1995 .. ..
mísseis navio-ar
Cingapura Sim 2 Grajau Class Navios-petrulha 1995 .. ..
Radar aéreo de
Suécia .. 5 Erieye 1994 .. ..
aviso prévio
Míssil anti-
Suécia .. 0 RBS-56 Bill 1995 1996-97 (100)
tanque
Radar de
Inglaterra .. 4 Type-967/968 1994 1995-97 4
monitoramento
Radar de
Inglaterra .. 8 Type-911 1994 1995-97 8
controle de tiro
Helicópteros
Inglaterra .. 9 Super Lynx anti-guerra 1993 1996-97 (9)
submarina
Navios-
Inglaterra .. 4 River Class 1997 .. ..
varredores
Broadsword
Inglaterra .. 4 Fragata 1994 1995-97 4
Class
Inglaterra .. (128) Seawolf Mísseis navio-ar 1994 1995-97 (128)
Sistema de
MM-38/40
Inglaterra .. 4 mísseis navio- 1994 1995-97 4
ShShMS
navio
Seawolf Sistema de
Inglaterra .. 8 1994 1995-97 8
GWS-25 mísseis navio-ar
Bell-205/UH-
EUA .. 22 Helicóptero 1996 1996-97 22
1H
S-70A/UH-
EUA .. 4 Helicóptero 1997 1997 4
60L
EUA .. 14 LVTP-7A1 APC 1995 1997 14
Radar de
EUA .. 6 AN/TPS-34 1997 .. ..
monitoramento
Fonte: SIPRI Yearbook 1998.

Lista de Armamentos Exportados Pelo Brasil, 1994/1997

No Designação da Descrição da Ano do Ano da Número Preço


Comprador
pedido armas arma pedido entrega entregue
EMB-312
France 50 Trainer aircraft 1991 1993-97 (50) US$ 170 milhões
Tucano
Fonte: SIPRI Yearbook 1998

As empresas nacionais que não fecharam entre o final da década passada e esta,
entraram em fase de conversão para setores civis. Algumas inclusive conseguindo sair
da crise e lucrar, mantendo algumas seções de produção militar, como melhor exemplo
a Embraer.

98
A Dimensão Tecnológica

Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) Militar


nas Principais Potências Militares

Embora os EUA não tenham nenhuma outra força militar que os ameacem,
assumir que os EUA terão a superioridade militar indefinidamente é perigoso. A
maioria das tecnologias apresentadas nesse trabalho, como já foi dito, são
comerciáveis com pouca interferência governamental. São, praticamente,
disponíveis a qualquer nação que tenha recursos. Elas podem facilitar mudanças
doutrinárias e organizacionais, talvez não para se alcançar uma escala igual ao
nível dos EUA, mas grande o suficiente para causar mudanças em equilíbrio
militares regionais no futuro.192

No geral, os recursos destinados à P&D militar têm caído vertiginosamente. O


gasto atual do mundo está em torno de 49 bilhões de dólares. Para ser ter uma
idéia dos cortes, os gastos nesta área pelos países membros da Organização para
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) já no meio desta década
eram menos de 110% dos realizados em 1983. 193 Outra característica, que se
acentua cada vez mais, é a concentração entre poucos países as despesas
significativas em tecnologia militar. Dos 49 bilhões de dólares gastos em 1996,
43 bilhões foram pelos países membros da Organização Tratado do Atlântico
Norte (OTAN).194 A seguir é apresentado um balanço das forças armadas
mundiais e a pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias militares:

Estados Unidos

Os EUA são os líderes absolutos em tecnologia militar. Aplicam sete vezes mais
recursos nesta área que o segundo colocado: França. No entanto, os gastos nesta
área vêm caindo desde o fim da Guerra Fria e é estimado por fontes oficiais que
ele caía mais 14% até o ano 2000.195 Sua principal ênfase tem sido em aviões de
combate e em um sistema de mísseis balísticos defensivos, o THAAD (Theater
High Attitude Air Defense) – sistema baseado no temido programa Guerras nas
Estrelas. Seu destacamento em tecnologia militar faz com que as outras nações
sejam muito dependentes de suas inovações, principalmente seus aliados mais
próximos. Embora, os países europeus da OTAN tenham tentado no início desta

192
Strategic Survey 96/97, pp. 21-27.
193
SIP|RI Yearbook 98. Military Technology.
194
SIP|RI Yearbook 98. Military Technology
195
SIP|RI Yearbook 98. Military Technology.

99
década dar uma nova orientação a Aliança, mais afastada da estrutura estratégico
e militar dos EUA, tal tentativa foi em vão quando se mostrou iminente uma ação
militar no Balcãs. Mesmo terem pensado inicialmente uma operação
exclusivamente européia, convenceram-se de que sem a utilização de sistemas
como o E-3 AWACS, aviões de reabastecimento e carga e sistemas integrados de
C4I, em que os EUA são líderes absolutos, não poderiam ter realizado aquela
operação de paz.

Rússia

Ironicamente, os analistas soviéticos foram os primeiros a destacar a tecnologia


de informação como um novo componente no campo de batalha. Nos anos 70,
militares soviéticos começaram a chamar atenção para inovações em eletrônica,
incluindo computadores, sensores e sistemas de comunicação. Diziam que elas
poderiam aperfeiçoar muito as armas convencionais, de forma que essas novas
capacidades produzirem uma mudança qualitativa na arte da guerra convencional
(questão discutida mais adiante). No entanto, a atual situação russa levará mais
que algumas décadas para se reconstruir e avançar em novos projetos inovadores.

Ásia

Durante toda a maior parte da década de 90, os países asiáticos foram os únicos a
aumentarem os gastos em P&D militar. Japão, Coréia do Sul e Índia são os
maiores destaques. No entanto, apresentam sinais de que irão reduzi-los nos
próximos anos. Estes países, especialmente o Japão, são levados pela forte
atuação de suas indústrias civis em tecnologia e pelo desejo de possuírem
indústrias de defesa independentes das americanas.

Embora a possibilidade de um grande salto qualitativo na China não aconteça


devido à complexidade e custo no desenvolvimento, infra-estrutura e manufatura
de armas de alta tecnologia, uma reforma militar determinada junto a
investimentos substantivos nas próximas décadas pode levar as forças armadas
chinesas a serem uma formidável força regional, senão global. Fortemente
influenciada pela Guerra do Golfo, a China tem procurado comprar sistemas
vindos de fora do país (maioritariamente da Rússia) e tem expressado interesse
em co-produções e co-desenvolvimento de programas com o Ocidente. As áreas
de maior interesse atualmente são: guerra eletrônica, mísseis de cruzeiro,
sistemas avançados de rastreamento e de C4I. No entanto, o maior atraso
tecnológico chinês encontra-se na produção de aviões. Embora possua a mais
numerosa força aérea do mundo – em torno de 4.000 aviões - são na sua maioria
designes dos anos 50.

A Índia apresentou recentemente a iniciativa de dobrar seus níveis atuais em


P&D militar. Desde 1993, ela tem aplicado 500 milhões de dólares, algo em
100
torno de 28% do fundo governamental para ciência e tecnologia. Se somarmos
seus gastos de P&D nuclear, temos um dispêndio de 910 milhões de dólares, ou
68% do orçamento governamental para projetos científicos. Este índice é apenas
superado pelos Estados Unidos.196

Europa

As mudanças nas industrias de defesa na Europa não são garantias de melhores


resultados na capacidade de desenvolvimento tecnológico. Isto só será alcançado
com a adequação dessas industrias ao mercado comercial como as empresas
civis. Na sua maior parte, os países europeus têm desenvolvido programas para
atualização de seus equipamentos bélicos atuais, apesar dos poucos projetos mais
ousados são feitos em parceria.

A França vêm combinando investimento em satélites espiões (Hélios), mísseis de


cruzeiro (Apache) e outras plataformas que possibilitem ataques aéreos precisos.
Como foi dito, a França mantém-se como a Segunda maior investidora em
tecnologia militar.

A Alemanha passou por uma profunda restruturação de suas instituições militares


para melhor adaptá-las aos a operações com a OTAN. Atualmente, busca renovar
sua força e projeção aérea, dando grande estima aos projetos conjuntos do caça
Eurofighter, avião de carga Future Aircraft Transport e o helicóptero de ataque
Tiger (inclusive ênfase maior que os seus próprios parceiros nestes projetos:
França e Inglaterra).

Diferente dos anteriores, a atenção inglesa é maior para seus meios navais,
especialmente no incremento de seus porta-aviões e desenvolvimento em
conjunto entre sua marinha e exército de uma nova plataforma anfíbia.

Países do Terceiro Mundo

Devido à falta de recursos e capacidade técnica – estes países têm optado por
dispor de forças heterogêneas: a maior parte constituída de tropas mal equipadas
e mal treinadas e um reduzido número de tropas especiais mais bem treinadas e
onde se aplicam tecnologias militares importadas e, em alguns poucos casos,
desenvolvidas nacionalmente..

P&D Militar no Brasil

“Os Estados Unidos foram os primeiros a perceberem a importância da


articulação das forças armadas com o sistema produtivo e com as universidades,

196
SIPRI Yearbook 1998. Military Technology.
101
criando um modelo que viria a ser adotado pelas demais potências. Sua adoção
viria a consolidar a pesquisa e desenvolvimento como o setor mais dinâmico de
ciência e tecnologia em alguns países, principalmente, o Brasil”.197Das 15
tecnologias fixadas no Brasil nas últimas décadas, 13 delas foram desenvolvidas
em centros militares.

São elas: construção naval, cartografia náutica, oceanografia, química fina,


energia nuclear, informática e telecomunicações/radiocomuicações (Marinha),
engenharia aeronáutica, foguetes/propelentes sólidos e motores a explosão
(Aeronáutica), cartografia terrestre e química de explosivos, (Exército). As duas
outras embora não fossem desenvolvidas por centros militares, ainda foram
realizações de instituitos governamentais: biotecnologia (EMBRAPA) e
prospecção submarina (PETROBRAS).198

A partir da década de 60 os militares brasileiros passaram a ver a ciência e


tecnologia como a quinta dimensão do poder de um Estado (além do político,
econômico, militar e psicossocial). A tecnologia, particularmente, seria o
instrumento para a modernização (não só das forças, mas o país como um todo),
defesa autônoma, construção da grande potência, busca de prestígio e o alcance
de objetivos e interesses nas Relações Internacionais. Os três projetos que seriam
o principal veículo para o alcance dessas aspirações eram: o projeto nuclear
autônomo, projeto espacial e o da co-produção de um caça subsônico. Dos três,
apenas o último foi terminado, o segundo apresenta-se relativamente adiantado,
enquanto o submarino nuclear só estará pronto no próximo século. Detalhes
sobre esses projetos não serão discutidos aqui devido o cuidado de como foram
tratados, evidenciando Cavagnari (1992).

No país, nunca houve uma política ou planejamento a longo prazo nacional de


ciência e tecnologia pelo Governo Federal, que sempre teve uma ação
descontínua na área. “Daí o significado de P&D militar para o desenvolvimento
nacional já que ela foi capaz de manter continuidade, de se articular com o setor
produtivo e criar um patrimônio tecnológico.”199.

Apesar desse “legado”, a estrutura de pesquisa militar do país sempre foi


dispersiva. Cada força sempre manteve sua estrutura de pesquisa isolada das
outras forças. Investimentos e aquisições eram e são realizados sem que as outras
sequer tomassem conhecimento. Caríssimos projetos desenvolvidos são
“subutilizados por não atenderem às características de mais de uma organização,

197
CAVAGNARI, Geraldo Lesbat. P&D no Brasil: Situação, Avaliação e Perspectivas. 1992.
198
BRAGA, Mário Jorge Ferreira. Algumas reflexões sobre ciência e tecnologia na Marinha.
In: Revista Marítima Brasileira. V. 116 n0 4/6 Abril/Junho de 1996, p.25.
199
CAVAGNARI, Geraldo Lesbat. P&D no Brasil:Situação, Avaliação e Perspectivas –
1992.
102
quando esse acréscimo não significaria um grande dispêndio” 200

Atualmente, P&D militar no Brasil é muito fraco. Geralmente, argumenta-se que


após o fim da Guerra Fria, as pressões políticas e orçamentárias prejudicam
qualquer iniciativa. Todavia, na nossa opinião, os principais empecilhos são de
origem administrativa-organizacional, embora os anteriores também existam

O orçamento dos ministérios militares passaram apenas a serem suficientes para


pagar a inchada folha de pessoal, principalmente, os não ativos. Ao passo que os
recursos diminuíam e o custo de manutenção de forças aumentava, não foi feito o
devido re-planejamento. O Poder Executivo foi, na maioria das vezes, ausente e
o Congresso Nacional nunca teve um papel importante em discussões sobre
defesa nacional.

Principais Projetos e Estrutura para P&D Militar


nas Forças Armadas Brasileiras

Aqui são apresentados os principais projetos em andamento ou recentemente


terminados pelas três forças separadamente. Um esquema de cada sistema de
ciência e tecnologia dos ministérios militares é apresentado em seguida.

A Aeronáutica tem em sua estrutura de ciência e tecnologia o centro que


ofereceu maiores resultados efetivos, CTA – Centro de Tecnologia Aeroespacial.
Entretanto, após a conclusão do projeto AMX, perdeu-se um pouco de força. A
estrutura de P&D da Aeronáutica é o que se apresenta mais integrado com
empresas civis, sendo seus projetos, em grande parte, em parceria com estes. Os
principais projetos são201:

Alerta – radar: determina e identifica alvos contendo radares (aviões, mísseis, navios e tanques);
Sistema imageador infravermelho termal: rastreia alvos pelo seu rastro de calor;
Veículo não tripulado controlado por controle-remoto (UAV): primeira fase do projeto, o protótipo
Sacuã já concluído e segunda fase em andamento, aeronave Suiá;
Materiais cerâmicos especiais para lançadores de mísseis e foguetes, turbinas e motores; compósitos e
carbonosos estruturais para engenhos aeroespaciais e nucleares;
Giroscópicos óticos: sistema à laser e à fibra ótica para navegação de foguetes, mísseis e aviões de
combate e comerciais;
Computação científica: como o Brasil não possui capacidade de construção de supercomputadores, este
projeto visa através do desenvolvimento de software, hardware e sistema de processamento
paralelo, aumentar o potencial dos computadores nacionais para uso militar avançado;
Túnel transônico/supersônico para ensaios de aerodinâmica de mísseis, foguetes e aviões;
Helicóptero de combate;
Projetos relacionados à família Sonda e seu propelente;
Enriquecimento de urânio a laser;
Reator rápido regenerador (como o anterior parte do Programa Nuclear Brasileiro);
Acelerador linear de elétrons.

200
PESSOA, Des. Conjunto de Equipamentos e Sistemas de Armas p/ as FA, p. 15.
201
PESSOA, Desenvolvimento Conjunto de Equipamentos e Sistemas de Armas para as FA,
Anexo E e CAVAGNARI, P&D Militar: Situação, Avaliação e Perspectivas. 1992.
103
A Marinha é que apresenta, atualmente, os maiores recursos para P&D militar,
tendo sua capacidade quase que totalmente tomada. O desenvolvimento de seus
projetos é realizado em parceria com as universidades de São Paulo e São Carlos,
Seus principais projetos são:

Navegação inercial: fornece ao veículo dados de latitude, longitude e velocidade baseado em seus
próprios sensores, sem a necessidade de informações externas por exemplo, satélites e estrelas.
Sistema usado, principalmente, por submarinos;
Foguete de dispersão: usado com o propósito de proteção contra ataque de mísseis orientados por
reflexão de radar. Este foguete explode espalhando pequenas partículas metálicas que
confundem os sensores do míssil inimigo;
Minas de contato e minas inteligentes;
Detectores de radares, minas, sonares e torpedos;
Sistema de controle tático integrado: sistema similar aos usados pelos países desenvolvidos que
integram em uma única sala, consoles eletrônicos que disponibilizam em tempo real as
condições do navio;
Equipamento de contra medida eletrônica e de guerra eletrônica;
Sistema digital de controle da propulsão;
Sistema de apoio á decisão nos moldes aos apresentados na seção tanques e aviões;
Sistemas de controle e comando.

O Exército é o que apresenta, tradicionalmente e atualmente, menores


contribuições a pesquisa e desenvolvimento militar. Sua estrutura é totalmente
centrada no Centro tecnológico do Exército – CTEx, no Rio de Janeiro. Tendo
menor relacionamento com universidades e empresas privadas que as Forças
anteriores. O acesso aos programas em andamento difícil, mesmo para pesquisas
na área de autores militares. Sabe-se que ficou encarregado, como parte do
Programa Nuclear Brasileiro, de desenvolver um reator de grafite e urânio, que
poderá servir ao desenvolvimento de plutônio. Desenvolve ainda projetos.em
materiais como cerâmica para blindados e componentes e pesquisas em
explosivos.

104
Conclusão
A Real Dimensão da Tecnologia na Guerra

Defende-se nesta breve conclusão que a idéia de uma revolução militar tem mais
um caráter especulativo do que real. Existe muito mais para servir a objetivos
econômicos, políticos e de busca de prestígio de grupos que um fenômeno que
esteja atualmente alterando a arte da guerra.

Muitos defendem que a Guerra do Golfo teria sido o princípio de uma revolução
militar tecnológica ou, talvez, algo mais abrangente: uma Revolução nos
Assuntos Militares (RMA). A mídia ofereceu inúmeras vezes imagens dos
ataques precisos e outras armas de avançada tecnologia usadas pela Coalizão,
afirmando ter sido iniciado um processo revolucionário que mudaria os padrões
de se fazer a guerra. O mesmo foi feito por diversas publicações de centros e
institutos militares estrangeiros. No Brasil, essa idéia começa a tomar forma
entre alguns militares. É argumentado por estes que nos encontremos em um
período muito parecido com o Entreguerras, quando se teve o advento do tanque.
Ou com o período posterior à II Guerra Mundial quando se desenvolveram as
armas nucleares e os mísseis balísticos (que foram realmente revoluções
militares). A atual revolução, no entanto, estaria acontecendo desde o começo da
década de 70 e continuaria até o próximo século, baseando-se na cibernética e na
automação das tropas geradas pela tecnologia de informação. Os indícios
revolucionários estariam em três segmentos.202

1) sistema C3 associados aos sistemas de rastreamento e a capacidade de fusão


de dados (inteligência) e seu máximo aproveitamento elevando a eficiência e a
letalidade das operações militares. Essa relação é definida como “sistemas dos
sistemas”. Pois, coordenaria os sistemas de armas terrestres, marítimos e aéreos;

2) munição precisa que pode ser lançada a longas distâncias, explorando as


informações de sistemas de comando de informação e controle. Os melhores
exemplos dessas munições seriam as bombas guiadas a laser, mísseis anti-radar;
mísseis de cruzeiro, mísseis com navegação inercial e GPS;

3) desenvolvimento de avançadas simulações que fazem possível prover


treinamento realístico individual, como para unidades inteiras.

Há quem cite, ainda, a tecnologia stealth e o emprego de sistemas de armas

202
CARUS, W. S., Military Technology and the Arms Trade: Chances and their Impact. In:
The Arms Trade: Problems and Prospects in the Post-Cold War World, pp-166-168.
105
automatizados como quarto e quinto indícios. A orientação tática oriunda dessa
revolução seria a chamada “Airland Battle”, caracterizada pelos seguintes
aspectos203:

destruir as facilidades de comando do inimigo;


tirar de funcionamento seus sistemas de comunicação para interrupção de passagem de instruções
através da cadeia de comando;
tomar a iniciativa;
ataques pesados e precisos;
realizar operações integradas( ar, terra e mar);
impedir que o escalão de retaguarda do inimigo entre em ação;
operações sincronizadas;
evitar ataques frontais contra os pontos fortes do inimigo;
saber sempre o que o inimigo esta fazendo e evitar que ele saiba o que você esta fazendo;
salientar a importância do componente conhecimento.

O componente mais diferenciado da atual arte da guerra residiria na idéia de


Information War. Tal termo foi primeiro empregado e defendido por Alvin e
Heidi Tofler em War and Antiwar, sendo que os sistemas de armas dotados dessa
particularidade seriam qualificados como da ‘Terceira Onda de
Desenvolvimento’, países menos desenvolvidos seriam detentores de
equipamentos da Segunda e Primeira Onda. Devido a esses conceitos, tal obra
tornou-se a principal referência dos defensores de tal revolução.204

Embora não tão categoricamente, estes conceitos têm sido observados em


monografias da ESG, artigos de revistas militares brasileiras e pronunciamentos
de chefes militares.205O que preocupa devido as falácias que tais idéias carregam
e que serão expostas a seguir. As argumentações sobre revolução militar são
feitas sem o cuidado necessário de um conceito definido do que seria uma
revolução militar e, também, sem prestar a devida atenção na evolução da arte da
guerra e dos equipamentos usados para tal.

Uma revolução militar de origem tecnológica ocorre quando uma nova


tecnologia é incorporada dentro de um número significativo de sistemas militares
que são combinados com conceitos de operação inovadores e uma nova estrutura
organizacional adaptada, de forma a produzir uma melhora significativa na
eficiência militar. Assim, a “adoção de uma nova tecnologia não constituí, por si
própria, uma revolução. Esta é um fenômeno muito mais complexo, envolvendo
novas idéias operacionais, mudança organizacional e outros aspectos das
operações militares”.206 Mais que uma mudança física, uma revolução militar
provoca alterações doutrinárias e nos próprios meios de condução da guerra.

203
TOFFLER, Alvin e Heidi. War and Antiwar– 1995.
204
Tal relação também é feita em MURRAY, Preparing to Lose the Next War?, p.52.
205
Ver CAMPOS, Ciência e Tecnologia: o Quinto Campo do Poder In: Defesa Nacional. No.
776, 2/3 – 1997; e Entrevista do Gen. Gleuber Vieira, Chefe do EME, dezembro de
1997.
206
GRIGGS, Roy A. Tecnologia e Estratégia – Air Power Journal, 1996, p. 60.
106
A melhor ilustração para tal é a introdução da guerra mecanizada, na década de
20 e 30: embora os avanços no processo de combustão interna em motores,
designe de aviões, carros blindados e comunicações eram igualmente dominados
por França, Alemanha e Inglaterra, no entanto, somente a Alemanha conseguiu
absorver as potencialidades operacionais e organizacionais desses avanços,
explorando-os dentro do Blitzkrieg e atingindo decisivas vitórias. É importante
ressaltar que revolução nos assuntos militares também pode acontecer pela
incorporação de novas táticas, como por exemplo a tática de guerrilha tão bem
exercida pelos vietnamitas.

Em 1991, na Guerra do Golfo, é muito difícil dizer que se teve sinais de


revolução na arte da guerra. Virtualmente todos os equipamentos bélicos
utilizados vinham sendo desenvolvidos há décadas ou eram aperfeiçoamentos de
modelos anteriores.

O que houve foi uma incrível demonstração de novas tecnologias militares que
não puderam ou não tiveram a oportunidade de serem usadas de maneira mais
destacada nas décadas anteriores (70 e 80). É comum no mundo militar,
existirem armas que foram desenvolvidas e aposentadas sem nunca terem sido
usadas, deixando para a imaginação de especialistas a avaliação de sua eficiência
Se o leitor voltar a primeira parte dessa pesquisa, verá que o sistema C3I
(comando, controle, comunicações e inteligência) é um conceito oriundo da II
Guerra Mundial. Mísseis de cruzeiro, anti-radar e bombas inteligentes foram
usados primeiramente na Guerra do Vietnã. Da mesma maneira, sistemas de
monitoramento e rastreamento por aviões, UAV e satélites foram usados em
conflitos anteriores a essa década.

Nenhuma das orientações táticas acima descritas são novidades: a importância de


comunicações, inteligência e prática da dissimulação já são discutidos em A Arte
da Guerra; tomar a iniciativa do combate através de ataques intensivos no centro
de gravidade do inimigo são vistos nas campanhas de Napoleão e discutidos por
Bulow, Debrut e Jomini; operações sincronizadas entre forças aéreas, navais e
terrestres são, é óbvio, aplicações militares oriundas da Alemanha nazista.

Na Guerra do Golfo, não se apresentaram, também, grandes inovações


doutrinárias e organizacionais. Na verdade, as últimas mudanças dessa natureza
pelos Estados Unidos (o maior ator daquele episódio) foram resultado mais de
uma reavaliação interna nos últimos vinte anos em função da derrota no Vietnã,
do que em razão de novas tecnologias que surgiam Pelo contrário, novos
armamentos, como o JSTAR, surgiram correspondendo às determinações dessas
alterações na doutrina.207

207
TOFFLER, Alvin e Heidi. War and Antiwar.
107
Um dos pontos mais reforçados nessa reavaliação foi o recurso humano. Embora
tenham sido gastos bilhões em equipamento, fortunas foram destinadas para a
qualificação e aprimoramento de pessoal. Na Guerra do Golfo, 98% dos soldados
norte-americanos voluntários tinham segundo grau completo e 88% dos generais
possuem pós-graduação.208 Os soldados são submetidos a intensos treinamentos e
aperfeiçoamentos por toda sua carreira. Até mesmo os reservistas são obrigados a
três meses de treinamento por ano em clubes militares.

“A tecnologia é menos importante que o Sistema em que ela está envolvida. A


eficiência da tecnologia avançada empregada por forças militares dos EUA no
Golfo deveu-se a grande combinação da qualidade do pessoal e da organização ,
doutrina e táticas que eles empregaram”209 - sem mencionar o que foi mais
importante: uma decisão política clara e objetiva.

O mais grave erro em que a idéia de uma Revolução em Assuntos Militares


(RAM) incorre é de conceber uma visão sobre a guerra totalmente distorcida da
realidade. Diante de tanta convicção sobre as mudanças no modo de se fazer a
guerra, conceituam-na como sendo linear, mecânica, tecnocêntrica e
independente de seu adversário e ambiente. Totalmente em oposto a esta
definição, compartilhamos a idéia de que: .

A guerra não acontece em um mundo determinista, previsível e mecânico. Ela é


muito mais caracterizada por ser complexa, randômica e sensível a condições
iniciais. A guerra não é um sistema mecânico que pode ser manipulado através
de esquemas precisos, positivamente controlados ou sincronizados e
centralizados. Diferente disso, ela é um sistema altamente complexo e
interativo caracterizado pela fricção, falta de previsibilidade, desordem e
fluidez. Tal sistema é composto de inúmeros agentes independentes que
interagem um com o outro, evoluindo e adaptando-se a partir desta interação.
A guerra é um sistema aberto interagindo com seu ambiente externo (incluindo
o inimigo) e caracterizado pelas complexa respostas a este ambiente e por sua
dinâmica não-linear.210

Na concepção dos defensores da RAM, a clássica trindade de Clausevitz –


violência primitiva, sorte e probabilidade, e subordinação da guerra à Política é
substituída por tecnologias de inteligência, monitoramento e rastreamento;
sistemas avançados de comando, controle, comunicação e computadores (C4); e
munições de ataque preciso.211Fricção, sorte e incerteza são suprimidos,
reduzindo a guerra a um problema de análise de custo/benefício, um cálculo
finito de alvos destruídos e perdas impostas

208
TOFFLER, Alvin e Heidi. War and Antiwar.
209
GRIGGS, Roy A. Ibdem. P. 61.
210
OWENS, Mauckubin Thomas; Technology, the RMA, and Future War, p.65.
211
OWENS, M. T.; Technology, the RMA, and Future War. In: Strategic Review, p.67.
108
A arte da guerra, historicamente, tem sido vista como a combinação de várias
formas entre atrito (poder de fogo) e manobrilidade (manoeuvrei). Muitos dizem
que com a emergência de novos recursos de comunicações, a tecnologia foi
elevada acima desses dois conceitos primordiais. No entanto, estes analistas se
esquecem que a tecnologia por si só não planeja planos de ação, não calcula e
executa a destruição de alvos inimigos, ou transporta objetos físicos e tropas
através de longas distâncias. É claro que ela favorece a aplicação mais precisa
das tropas no campo de batalha e a concentração de força contra o centro de
gravidade do inimigo de forma a maximizar o impacto da operação. Apesar
disso, ela não resume ou simplifica a reação entre esses dois aspectos.

Outra falácia conceitual é cometida quando se afirma que as forças capacitadas à


Information War deterão ou derrotarão ameaças militares tradicionais com
relativo baixo custo, através apenas de ataques punitivos a distância sem
necessidade de ação direta e influência contínua sobre o território, pessoas e
recursos do inimigo, o que não se comprova por serem estes os objetivos últimos
da guerra devido, obviamente, a suas implicações políticas.212

Se as supremacia tecnológica bastasse para a vitória, não se verificariam nos


últimos cinqüenta anos a derrotas da Holanda para a Indonésia, da França para a
Indochina e Algéria, dos Estados Unidos para o Vietnã, União Soviética para o
Afeganistão e da Rússia para a Chechênia.213 Assim, “tecnologia e o hardware
baseado nela são apenas um dos muitos fragmentos requeridos para desenvolver
as capacidades militares necessárias para lutar em guerras214. A característica
política e a incerteza da guerra pode ou não prover um ambiente onde é possível
a exploração da tecnologia como uma chave para o sucesso militar.

A supervaloração da tecnologia poderia ser também uma ação consciente para se


evitar mudanças necessárias, mas difíceis e dolorosas na organização e
embasamento estratégico e doutrinário de uma força armada. Um equipamento
com avançada tecnologia é tangível a qualquer momento. Sua performace é mais
fácil de avaliar e executável em um centro de testes, satisfazendo
questionamentos de repórteres e parlamentares. Enquanto, mudanças doutrinárias
e organizacionais são críticas, lentas, complexas e seu resultado é incerto e
apenas possíveis de serem avaliadas no único momento em que devem se mostrar
perfeitas: o confronto. O desempenho da Coalizão foi apenas um sucesso
acompanhado, detalhadamente, por milhões de pessoas através dos meios de
comunicação. Psicologicamente, a Guerra do Golfo foi um show para os eleitores
em geral. Ficou registrado a idéia de que aquilo era realmente um novo marco na

212
RIPER & SCALES, Robert; Preparing for War in the 21st Century, pp. 18-19.
213
RIPER & SCALES, Robert; Preparing for War in the 21st Century, p.15.
214
CARUS, W. Selth. Ibdem. p.168.
109
condução e resolução de conflitos e tal “performance” seria sempre repetida por
aqueles que detivessem tais equipamentos. Os gastos militares mundiais, que
vinham caindo vertiginosamente, passaram a ter reduções bem mais suaves.
Particularmente nos Estados Unidos, vários contratos militares milionários foram
fechados, por exemplo o Airbone Laser (ABL). O aspecto tecnológico vem, a
partir daí, sendo um “ótimo” argumento na requisição de verbas militares na
maioria dos países, inclusive no Brasil. No entanto, outros aspectos como
treinamento e reforma administrativa e organizacional para acomodar essas
“inovações” não têm sido mencionados na mesma proporção. Sendo que, como
foi apontado acima, são aspectos tão importantes quanto o tecnológico ou
maiores.

A idéia de revolução militar, também, é carregada de interesses particulares de


indústrias de defesa e alguns militares, principalmente norte-americanos: como
foi dito no segmento anterior do ensaio, as indústrias de defesa dos Estados
Unidos estão tentando reagir aos déficit devido à restruturação e como, as
indústrias de defesa em geral, tentam sobreviver a grande redução de demanda a
mais de uma década. Os recursos destinados aos militares, também, vêm
sofrendo grandes cortes. Assim, alguns militares e indústrias de defesa parecem
estar recorrendo à difusão de uma revolução militar em andamento para
aumentarem suas exportações e conseguirem contratos para desenvolvimento de
novos e caros projetos, no caso das industrias, e impedir novos cortes de
orçamento, no caso dos militares.

Já faz mais de 50 anos desde o último conflito internacional de grande


intensidade ou entre duas potências de porte equiparado. Isso faz gerar mitos e
especulações, resultando em avaliações errôneas ou mal fundadas em torno do
que é eficaz e do que não é. As lições do passado já não são muito lembradas e,
muitas vezes, também “a dura realidade do terror, ambiguidade e incerteza
características do campo de batalha”.215 Existindo ainda aqueles que se
aproveitam dessa situação para interesses de grupo. Dunnigan, especialista no
qual essa pesquisa se baseou imensamente, tem uma interessante sentença sobre
a questão: “no passado, quando os soldados eram mandados lã para fora e
descobriam que o que lhe contaram não era verdade ou não fazia mais sentido, os
sobreviventes aprendiam rápido o que fazer para se sair bem. Na próxima guerra,
será interessante ver como as máquinas irão se sair.”.

***

O cenário desenvolvido acima está também presente nas Forças Armadas


Brasileiras; que, devido aos últimos acontecimentos globais e domésticos,

215
MURRAY, Williamson; Preparing to Lose the Next War?. In: Strategic Review, p.55.
110
perderam seu modelo diretor. As suas principais hipóteses de guerra não existem
mais e, as restantes, são de baixo risco; a situação estrutural, em geral, é
preocupante; e a relação com o Congresso e a sociedade ainda é muito distante.

Não possuem um mesmo princípio que molde sua conduta e dinâmica. As três
forças estão dispostas de maneira completamente dispersa e sem coerência e
coordenação entre suas atividades. Defendem a renovação de equipamento e
aquisição de tecnologia avançada como únicos aspectos de uma “modernização”
que, na verdade, deve ser mais profunda.

Um modelo diretor só será possível e condizente com a realidade através da


retomada do diálogo com a sociedade civil, avaliando qual deva ser sua conduta
e dinâmica frente às capacidades e necessidades do país e da observação atenta e
antecipação das tendências dos componentes da arte da guerra.

111
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OUTROS SITES ESPECIALIZADOS

Royal Naval;
Royal Air Force;
Ministério de Defesa da França;
Ministério de Defesa da Alemanha;
Ministério de Defesa do Japão;
Stocholm International Peace Research Institute - SIPRI;
International Institute of Strategic Studies - IISS;
Air Force Times;
Army Times;
Navy Times;
Embraer;
Ministério da Aeronáutica;
Ministério da Marinha;
Ministério do Exército;
Secretária de Assuntos Estratégicos;
British Aerospace;
Aerospatiále;
GKN Westland;
Boeing-McDonald Douglas;
International Relations and Security Network;
Jane´s Defence;
TRADOC.

116
Anexo

O Orçamento das Forças Armadas


1970 /1998
Dermeval de Sena Aires Júnior
Érico Esteves Duarte

Em uma democracia, dados sobre o orçamento das forças armadas deveriam ser
produzidos e apresentados à sociedade de modo transparente e rotineiro.
Entretanto – e infelizmente – este não é o caso do Brasil. Os estudiosos que se
ocupam das FA são unânimes em apontar as dificuldades na obtenção de dados
precisos, e essas dificuldades se mostraram ao longo da pesquisa para este estudo
também. Entre as três Forças, aquela que se mostrou mais acessível e organizada
no fornecimento de informações foi a marinha.

Ao mesmo tempo em que não se esforçam em trazer a público as suas dotações,


as FA contraditoriamente reclamam que a deficiência orçamentária é o maior de
seus problemas. A insatisfação com os percentuais destinados está
universalmente presente nos escritos militares da década: afirma-se que o
orçamento é insuficiente para a execução das missões constitucionais e para a
manutenção dos projetos existentes, e busca-se mostrar o quanto esse mesmo
orçamento é percentualmente menor que o dos países desenvolvidos e mesmo
que a maioria dos países latino-americanos. Em meio ao discurso corporativista,
monografias da ESG, artigos, publicações e participações em seminários
tipicamente trazem tabelas e gráficos com dados como os seguintes:

Gastos em Defesa de Alguns Países da América com Relação ao PNB – 1991


PAÍS GASTOS COM A DEFESA EM % POSIÇÃO
DO PNB
Brasil 0,8 10º
México 0,5 11º
Argentina 1,7 9º
Venezuela 3,6 3º
Colômbia 3,0 5º
Chile 3,2 4º
Cuba 5,0 1º
Peru 3,8 2º
Equador 2,2 7º
Uruguai 2,7 6º
Bolívia 2,0 8º

Fonte: The Military Balance 1992/1993. In PEREIRA, C. R. (1995), “As Despesas Militares e o Orçamento da
União”. Rio: ESG, Monografia TE-95, DAM, anexo B.

117
Gastos Militares na América do Sul e Alguns Países Europeus – 1994

PAÍS GASTOS COM DEFESA (EM US$ EFETIVO DAS


MILHÃO) FORÇAS
ARMADAS
Argentina 3,262 69,800
Bolívia 127 33,500
Brasil 6,551 336,800
Chile 1,906 93,000
Colômbia 1,178 146,400
Equador 589 57,500
Guiana 6 1,700
Paraguai 81 16,500
Peru 730 115,000
Suriname 13 1,800
Uruguai 289 25,600
Venezuela 925 79,000
Total para a Am. Latina 15,657 976,600
França 42,724 409,600
Alemanha 34,848 367,300
Reino Unido 33,861 254,300
Itália 20,632 322,300
Espanha 7,416 206,500
Austrália 7,275 61,600
Suíça 4,082 29,800

Fonte: The Military Balance 1995/1996. In SILVA, C. N. (1996), “MERCOSUL: a Integração e a Celebração de
uma Aliança Militar Sul-Americana”. Rio: ESG, Monografia TE-96, DAM, pg. 55.

Quadro Demonstrativo de Gastos Militares, Percentual do PIB Alocado para as Forças Armadas e Efetivo
Orçamentário Militar por país (EM US$ BILHÕES) em 1995.

PAÍSES PIB GASTOS COM DEFESA % PIB COM


DEFESA
África do Sul 171 2,9 1,69
Alemanha 1,331 32,2 2,41
Argentina 185 2,3 1,24
Brasil 785 4,6 0,58
Bélgica 218 3,8 1,74
Chile 43,7 1,28 2,92
China 500 7,2 1,44
Cuba 13,7 1,2 8,75
Dinamarca 95,6 2,94 3,07
Espanha 498 5,5 1,10
EUA 6,379 265 4,15
França 1,350 38,5 2,85
Grécia 93,2 3,7 3,97
Holanda 262,8 8,1 3,08
Índia 1,170 8,3 0,70
Inglaterra 980 35,4 3,61
Israel 65,7 7,45 11,30
Itália 967 15,8 1,63
Japão 2,549 53,8 2,11
Malásia 141 1,23 0,87
México 740 1,68 0,22
Portugal 91,5 2,65 2,89
República Checa 75 1,1 1,46
Suécia 153,7 5,25 3,41

118
Tailândia 323 4,01 1,23
Turquia 90,6 5,1 5,62
Fontes: Military Technology 1/96, The Balance of Military Power 95/96, In ROSA, M. S. (1996), “As Despesas
Militares e o Orçamento da União”. Rio: ESG, Monografia TE-96, DAM, pg. 35.

Gastos com Defesa em 1996.

US$ milhão (preços de 1993) % do PNB Efetivo em 1.000


PAÍS 1985 1993 1994 1985 1993 1994 1985 1994
Argentina 4,758 3,026 3,262 3,8 1,7 1,7 108,0 69,8
Bolívia 167 126 127 2,0 1,5 1,4 27,6 33,5
Brasil 3,088 6,270 6,551 0,8 1,6 1,6 276,0 336,8
Chile 1,632 1,764 1,906 7,8 3,4 3,5 101,0 93,0
Colômbia 557 1,232 1,178 1,6 2,5 2,3 66,2 146,4
Equador 373 498 589 1,8 2,8 3,2 42,5 57,5
Guiana 26 6 6 9,7 1,4 1,4 6,6 1,7
Paraguai 79 74 81 1,3 1,4 1,4 14,1 16,5
Peru 842 770 730 4,5 2,1 1,8 128,0 115,0
Suriname 11 11 13 2,4 2,3 2,8 2,0 1,8
Uruguai 223 256 289 2,5 2,2 2,5 31,9 25,6
Venezuela 1,083 1,029 925 1.3 1,7 1,6 49,0 79,0
Total 12,839 15,062 15,657 3,2 2,0 2,1 835,2 976,6
Fonte: Military Balance 1995/1996, In SILVA, (1996), “MERCOSUL: a Integração e a Celebração (...)”, pg. 57.

Essas tabelas exemplificam bem os problemas de obtenção de dados e análise de


gastos em forças armadas no país. Em primeiro lugar, porque mostram que
mesmo os autores militares que tratam do tema terminam recorrendo a periódicos
estrangeiros para buscar informações. Em segundo lugar, porque tanto a
abordagem como os valores mencionados podem levar a conclusões bastante
distorcidas.

Quando se baseiam em dados e tabelas como esses, as reclamações dos militares


sobre o orçamento das FA no Brasil trazem os três seguintes vícios:

1) Quaisquer dados que apresentem apenas os repasses governamentais em um


período serão insuficientes e imprecisos na contabilidade dos recursos obtidos
pelas FA. Alguns importantes repasses extras normalmente não aparecem em
relatórios governamentais. Entre eles incluem-se os pagamentos feitos à marinha
por serviços de portos, marinha mercante e postos petrolíferos da Petrobrás; os
pagamentos feitos pela Infraero à aeronáutica; e os financiamentos externos
ocasionalmente concedidos às Forças para aquisição de equipamento estrangeiro.

2) O discurso corporativista compara gastos em relação ao PIB, de maneira tal


que os percentuais nacionais são sempre menores que dos outros países latino-
americanos. Mas o PIB brasileiro é bem maior que o desses países e, apesar das
crises dos anos 80 e 90, sofreu um aumento percentual nos últimos trinta anos
maior do que a maior parte do mundo. Quando se faz a relação entre PIB e gastos
militares, o decréscimo resultante é sempre brutal; e os países com os maiores
valores de PIB da América Latina – Brasil e Argentina tiveram os maiores gastos
militares em termos absolutos – terminam nos últimos lugares da tabela.
119
3) O argumento de que gastos militares devem acompanhar o tamanho
populacional e territorial de um país é uma falácia injustificável; uma pessoa que
o defende mostra, apenas por essa opinião, que não tem a mínima capacidade
analítica sobre o fenômeno bélico ou conhecimento sério de estudos estratégicos.
Ademais, a análise estatística de gastos militares não se assemelha de modo
algum à de gastos governamentais em saúde ou educação, dois exemplos em que
os fatores população e território são relevantes. A natureza dos gastos militares é
totalmente diferente: eles obedecem a considerações políticas e percepções de
ameaça.

Naturalmente, essas três críticas não desconsideram a difícil situação


orçamentária na qual as forças armadas espelham a realidade geral brasileira e
observaram, de fato, uma redução ao longo dos anos 70, 80 e 90. Sempre
eloqüente e preciso em suas análises, Antônio Carlos Pereira argumenta ainda
que, a bem da verdade, “o processo é muito mais longo. O exame da participação
dos ministérios militares no Orçamento da União mostra uma curva decrescente
nos últimos, pelo menos, 40 anos, com dois breves anos de alívio em meados da
década de 70”.216

Esse processo foi acompanhado pela incapacidade política dos governos militares
e civis de promoverem mudanças institucionais e racionalizarem a aplicação dos
recursos. O maior exemplo parece ter sido a inexistência de qualquer iniciativa
com vistas a um redimensionamento das Forças e uma adaptação à crise do
Estado e à sua situação institucional. Os grandes cortes feitos no orçamento
militar das últimas décadas não foram acompanhados pela diminuição
responsável dos seus efetivos e os pareceres de contas da União de 1993, 1994 e
1995 mostram uma realidade quase inacreditável: as FA gastaram elevados 61%
de seu orçamento em pessoal de reserva. Não é de se admirar, portanto, que o
treinamento de efetivos, as compras de armamentos e o desenvolvimento de
tecnologias e equipamentos no cumprimento de suas tarefas tenham sido
reduzidos a níveis irrisórios.217

A próxima página traz um gráfico geral confiável obtido no Ministério da


Marinha, que mostra a participação percentual das FA no Orçamento da União.
Nele, pode-se observar o verdadeiro padrão decrescente comum às três Forças.
Um exemplo da grande diferença perceptível entre ele e as tabelas acima pode
ser observado para o ano de 1994: enquanto as tabelas mostram um dispêndio de
cerca de seis bilhões e meio, ele descreve um valor de aproximadamente nove
bilhões.

216
PEREIRA, Antônio Carlos, “Uma Revisão Necessária”. In OESP, 22/02/1996, pg. A4.
217
PEREIRA, Antônio Carlos, “Fardas e Pijamas”. In OESP, 23/01/1996, pg. A4.
120
121
O ano de 1969 foi marcado pelo início do governo Médici e a introdução da
assim-chamada “linha dura” na condução política nacional. É neste governo que
se apresentou a maior média percentual de participação das FA nas despesas da
União do período, após uma pequena queda no percentual – 1969-18.64%, 1970-
18.33%. O ano de 1971 apresentou a maior porcentagem dos gastos dos últimos
trinta anos, 23,52%. Apesar do pico, após o governo Médici os gastos com FA
entraram em forte declínio – de cerca de 20,00% em 1972 para 10,98% em 1974
–, situação que se perpetuou até 1981 Ela se deveu principalmente ao choque do
petróleo e à conseqüente alta dos juros internacionais. Durante esse período, a
diretriz “máximo desenvolvimento e mínima segurança” se desenvolveu entre os
militares em meio à pretensão de transformar o Brasil em uma potência.

Durante a década de 80, o declínio foi temporariamente estancado, observando-


se subidas e declives até 1989, quando ocorreu mais um forte solavanco que
coincidiu com o fim da Guerra Fria e o fim da Guerra Irã-Iraque. O contexto,
portanto, foi um de queda drástica das exportações de armamentos brasileiros e
crise no setor de defesa. Esses eventos foram acompanhados também de pressões
internas e externas contra os programas oficiais nuclear e espacial.

Embora alguns militares argumentem o contrário 218, o governo de Fernando


Henrique Cardoso não tem diminuído o orçamento das FA. Ao contrário, nesse
governo elas apresentaram a maior porcentagem de participação no Orçamento
da União da era pós-redemocratização, com um pico de 4,47% em 1996: ou seja,
mais do que o dobro dos 2,04% de 1994. Ao mesmo tempo, as importações de
armamentos convencionais foram retomadas aos níveis de 1989, quando a
participação no orçamento era quase o dobro da atual219. Os maiores gastos
ocorreram na aquisição de peças como tanques, fragatas e navios patrulha, bem
como de equipamentos para modernização tais como receptores de navegação
por satélite, radares e mísseis, em particular para os arsenais da Marinha e do
Exército 220. A Aeronáutica teve aprovada recentemente a compra de caças de
combate modernos para substituição dos atuais Mirage III, além da atualização
dos caças supersônicos F-5E e da incorporação dos caças de combate nacionais
ALX e AMX.

Outros gastos excedentes previstos e aprovados para os próximos anos são as


implantações do Ministério da Defesa e da Agência Brasileira de Inteligência, a
serem iniciadas em 1998.

218
Dois exemplos são o estudo de PEREIRA (1995), “As Despesas Militares e o Orçamento
da União”; e a transcrição da palestra feita no Conselho Nacional de Indústrias em 28
de outubro de 97: “Tendências Logísticas e Sistema de Aquisição do Exército
Brasileiro”.
219
Ver o gráfico “Importações de Armamentos pelo Brasil”, pg. 97.
220
Ver a tabela “Lista de Armamentos Adquiridos pelo Brasil”, pg. 97-98.
122

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