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Uma vida de borboletas azuis

Marcas de autoria - Será que o título motiva a leitura?


Como sabem, o título deve capturar a atenção do leitor, despertar a curiosidade, a vontade de ler e descobrir seu(s)
sentido(s). Aqui, a aluna-autora fez uma escolha favorável, se pensarmos que o leitor desejará desvendar a relação entre
a vida de alguém e as borboletas azuis.
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Com irmãos não menos extrovertidos que eu, minha infância é um texto de bagunças e artes que atiçavam os nervos de
meu pai. Esse me vem à lembrança como a mais rica das memórias que ainda não se apagaram completamente nesses
82 anos, de caminhada árdua pela vida.

Adequação linguística – As memórias são narradas como se as lembranças fossem do autor? Há recursos
linguísticos que contribuem para integrar o real e o ficcional?
Tema – O texto se reporta, de forma singular, à cultura e à história local?
Aqui, temos a introdução do texto, com a escolha acertada da 1ª pessoa do singular, ou seja, a aluna-autora trouxe a voz
de uma antiga moradora da cidade para o seu texto, tomando-a como sua, a partir da entrevista seguramente realizada.
Além disso, nesse início, deve-se fazer a apresentação do tempo e do espaço das lembranças. Lendo o parágrafo inicial,
encontra-se a infância como referência, mas não se evidencia o lugar onde ela foi vivida, ou seja, ainda que possamos
nos aproximar da ideia de um contexto familiar, não há informações sobre o lugar onde se viveu. Percebam que essa
ausência parece abrir caminho para uma narrativa que se constrói mais centrada na história de vida e bem pouco atrelada
à história do lugar (como demonstraremos, ao longo da análise). Ainda, vale ressaltar a positiva presença de recursos
linguísticos, como figuras de linguagem, promovendo as primeiras ligações entre o real e o ficcional.
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De minha mãe não guardo muita coisa, pois ela se foi quando eu era um toquinho de gente, tinha apenas cinco anos.
Como lembrança dela recordo uma teimosia que guardo com vergonha, e é um bocado engraçada. Foi em um fim de
tarde.
Como sempre, ela nos mandou meus irmãos e eu, irmos tomar banho no riacho que corria logo abaixo de casa. No forno
da casa havia um bolo assando, e como eu estava com uma gula imensa por devorá-lo, propus a minha mãe que se ela
me desse um pedaço do bolo eu tomava o tal do banho. Ela ignorou meu pedido e me deu um pedaço de sabão para que
eu me banhasse de uma vez. O pedaço era tão parecido com uma fatia de bolo, que eu naquela idade me confundi com
tal. Hum! Jurei que era o doce de verdade.

Adequação discursiva – As referências a objetos e lugares que já não existem ou que se transformaram
reconstroem experiências pessoais vividas? O texto resgata aspectos da localidade pela perspectiva de um
antigo morador?
Nesse parágrafo, apresenta-se o “riacho que corria logo abaixo de casa” como um lugar da lembrança. O texto parece
caminhar no sentido de retratar o vivido, tal como se propõe no gênero, recorrendo a um fato curioso. Seria muito
interessante que a aluna-autora aproveitasse esse cenário para inserir uma sequência descritiva, de forma a favorecer
que o leitor pudesse “enxergar” algo da cena, como a arquitetura da casa ou como era esse rio; enfim, que aproximasse o
leitor do lugar onde se viveu esse fato divertido, retratando, assim, a esperada relação entre as histórias de vida e do
lugar. Notem que, ao optar pela sequência descritiva, a aluna-autora poderia também contrastar passado e presente,
atendendo a uma outra característica dos textos de memórias literárias Será que ainda hoje existem casas assim? E o rio,
ainda está do mesmo jeito ou já secou? O que hoje ocupa esse espaço da casa e do rio? – são perguntas que permitiriam
o “passeio pelos tempos”.
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Lembro com lágrimas nos olhos das brincadeiras, do tempo de vestidinho de chita que eram recheados de imaginação. A
ilusão de ver uma boneca em uma espiga de milho ou em um embrulho de meias, uma bola para jogar caçador, era a
única maneira de termos um brinquedo por falta de dinheiro. Porém, as brincadeiras não deixavam de ser calorosas e
divertidas em meio a tantos improvisos.

Convenções da escrita – O texto atende às convenções (pontuação)?


Aqui, seria bastante proveitosa uma revisão, com o olhar voltado à pontuação, já que os sentidos parecem mais frouxos,
menos precisos. Um exemplo é a construção inicial, que ganharia um sentido mais ajustado, ao se optar por “Lembro,
com lágrimas nos olhos, das brincadeiras e do tempo de vestidinho de chita, que eram recheados de imaginação”.
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O decorrer dos dias era sempre a mesma rotina, acordar, ir para o curral, ordenhar as vacas, depois ir para o campo
cortar milho. Nos fins de semana fazíamos faxina em casa. O que me divertia era ir à igreja, e cantar ladainhas em
italiano. Minha rotina só mudou quando comecei a frequentar a escola aos nove anos.
Convenções da escrita – O texto atende às convenções (pontuação)?
Adequação discursiva – O texto deixa transparecer sentimentos, impressões e apreciações para provocar
sensações, envolver o leitor e transportá-lo para a época da vivência narrada?
Esse parágrafo também demanda uma revisão da pontuação, com vistas a enfatizar as informações. Valeria a pena
registrar sensações, sentimentos e emoções de viver essa rotina, rompida pela entrada na escola, permitindo o emprego
de recursos linguísticos capazes de transportar o leitor para a época retratada, salientando o caráter literário do texto.
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A minha infância na escola, ao contrário de muitas, não me causava repulsa. Em uma escola de freiras, as professoras
não eram feras de unhas afiadas como em tantas histórias, nem os castigos severos. Tudo corria perfeitamente. Até hoje
lembro de lições em que escrevíamos na “pedra” para depois apagar, e guardar apenas entre as orelhas: temos um
polegar, um indicador, anelar, mindinho, pai de todos; temos quatro caninos...

Adequação discursiva – O texto aborda aspectos da cultura ou da história local?


Percebam que os dois últimos parágrafos promovem o movimento de rememorar “fatos da vida” da aluna-autora (que
toma o lugar da entrevistada), sem que o leitor tenha conhecimento do lugar onde a rotina ocorria, como informações
sobre a escola (onde ficava, quem estudava lá, como era o acesso ou mesmo os recreios). Em outras palavras, sem a
sequência descritiva, não há como singularizar a igreja e/ou a escola, com vistas a revelar dados da cultura e da história
do lugar.
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Aos treze anos comecei um namoro com meu vizinho, ele na época tinha quatorze anos e frequentávamos a mesma
escola. As festas que eu então ia seguidamente com meu pai, era o ponto de encontro entre eu e Ezelino. Nós nos
comunicávamos trocando apenas olhares. Eu roubava o seu sono, ele o meu, nos amávamos deveras. O casamento veio
seis anos depois. Tudo arranjado por meus parentes, que fizeram um bom trabalho, pois saiu uma linda festa com
churrasco e deliciosos doces. Naquela nossa primeira noite, o sono roubado por tantos anos foi compensado, quando
dormimos abraçadinhos até de manhãzinha, com borboletas azuis rondando nossos sonhos.

Adequação discursiva – O texto está estruturado como uma narrativa e usa recursos de linguagem que lhe
conferem características literárias?
Além de ajustes importantes, voltados à pontuação (especialmente vírgulas), vale destacar o evento enfatizado no título: a
noite após o casamento, quando borboletas azuis passaram a “rondar os sonhos” da vida do casal; uma escolha que, de
forma especial, integra as memórias, com uma “boa pitada literária”.
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A linda história foi substituída por um pesadelo anos mais tarde. As mariposas azuis desapareceram, quando meu querido
faleceu de câncer aos 45 anos. Ainda não entendo como vivi trinta e oito anos sem Ezelino ao meu lado.

Convenções da escrita – O texto atende às convenções?


Talvez no intuito de não repetir o termo "borboletas", a aluna-autora escolheu “mariposas”, embora sejam insetos
diferentes. Seria mais apropriada a utilização de expressões, como “asas da cor do céu”, abrindo espaço para um “ajuste
literário”.
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Hoje quando sento na cadeira de balanço tenho a impressão de que as borboletas voltam e rondam meu coração
trazendo a lembrança de Ezelino, onde nos seus olhos vejo refletida toda a minha infância e sinto na boca o gosto do
sabão, trocado pelo bolo. Se eu pudesse arrumar minha trouxinha e me mudar para a infância novamente, não pensaria
duas vezes, levava a meus amigos para sentir o gostinho de tudo o que eu vivi e poder reviver mais algum tempo com
meu amado.

Marcas de autoria – O autor elaborou de modo próprio e original as lembranças do morador entrevistado?
Nesse último parágrafo do texto, valeria a pena investir na reescrita, a fim de gerar uma melhor organização das
informações. Por fim, observa-se um movimento interessante: a aparente aposta no deslocamento para o hoje, quando,
na verdade, revela-se um retorno ao passado, ou seja, o relato de episódios da vida convoca o desejo de revivê-los.
Trata-se de uma boa escolha para finalização do texto!

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