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Sermões de Cesário de Arles sobre a unção dos enfermos

Sermão 13 (excertos)1
(Título: Sermão indispensável nas paróquias)

1. Eu vos suplico, irmãos caríssimos, reflitamos com muita atenção no seguinte:


por que somos cristãos e levamos na fronte a cruz de Cristo? Com efeito, devemos saber
que não basta ter recebido o nome de cristãos, se não agimos como cristãos, como o
Senhor mesmo disse no Evangelho: “Por que me chamais ‘Senhor! Senhor!’, mas não
fazeis o que eu digo?” (Lc 6,46). Se te disseres mil vezes cristão e te marcares sem cessar
com a cruz de Cristo, mas não fizeres esmola segundo tuas possibilidades, nem caridade,
nem justiça, nem castidade, o nome de cristão não poderá servir-te de nada. [...]
3. [...] Toda vez que a alguém sobrevier uma doença, o enfermo receba o corpo e o
sangue de Cristo, peça aos presbíteros, humildemente e com fé, o óleo bento e faça uma
unção sobre seu pobre corpo, para que nele se cumpra o que está escrito: “Alguém dentre
vós está doente? Mande vir os presbíteros da Igreja para que orem sobre ele, ungindo-o
com óleo. A oração da fé salvará o doente e o Senhor o porá de pé; e se tiver cometido
pecados, estes serão perdoados” (Tg 5,14-15). Vede, irmãos: quem acorre à Igreja em
caso de doença merecerá receber ao mesmo tempo a saúde do corpo e o perdão dos
pecados. Enquanto podemos na Igreja encontrar um duplo bem, por que há infelizes que
tentam atrair múltiplos males sobre si, recorrendo a encantadores, às fontes e árvores, aos
bentinhos2 diabólicos, aos magos e arúspices, aos adivinhos e lançadores de sortes? [...]
5. [...] E se vedes ainda gente render culto às fontes ou às árvores, como já disse,
consultar também magos, adivinhos ou encantadores, pendurar em si ou nos seus
bentinhos diabólicos, escritas mágicas ou ervas ou âmbar amarelo, repreendei-os muito
severamente, pois quem cometeu esse mal, perdeu o sacramento do batismo. [...]

Sermão 503
(Título: Do dever de desejar mais ardentemente a saúde da alma que a do corpo e de se
guardar de sortilégios)

1. Sabeis, irmãos caríssimos, que todos os homens procuram a saúde corporal, mas
devemos compreender que, ainda que a saúde do corpo seja uma coisa boa, bem melhor é
a do coração. Assim todos os cristãos devem sempre especialmente orar para que Deus se
digne, por sua piedade, conceder-lhes a saúde da alma. Deve-se orar pela saúde do corpo,
mas deve-se suplicar duas vezes, múltiplas vezes, pela saúde da alma. Não é demasiado
prejudicial que a carne seja fraca neste mundo; basta que a alma suba incólume ao céu.
1
SChr 175, 416-429 (texto sobre a unção dos enfermos: n° 3, 422-423.426-429). Tradução Francisco
Taborda S.J.
2
AURÉLIO define assim a palavra “bentinhos”: “Objeto de devoção formado por dois pequenos quadrados
de pano bento, com orações escritas ou uma relíquia que os devotos trazem ao pescoço”. Foi a melhor
forma vernácula que o tradutor encontrou para o latim “phylacteria”.
3
SChr 243, 416-423. Tradução Francisco Taborda S.J.
Cesário de Arles – Sermões – p. 2

Com efeito, quem tem cuidado pela saúdo do corpo somente, é semelhante aos animais e
às feras. E o que é pior: quantos são os que se entristecem se começam a debilitar-se no
corpo, entretanto, se sua alma está não só ferida de morte, mas morta, absolutamente não
o sentem nem se lamentam. Oxalá acorram à Igreja quando seu corpo enfraquece e
solicitem o medicamento da misericórdia de Cristo. Mas alguns, em qualquer doença – o
que é deplorável – se põem a buscar sortilégios, arúspices e consultam encantadores
divinos, penduram no pescoço bentinhos diabólicos e escritas mágicas.
Às vezes recebem esses amuletos até de clérigos e de religiosos; mas esses não são
religiosos ou clérigos, mas auxiliares do diabo. Vede, irmãos, que vos suplico: não acedais
a receber esses objetos maléficos, mesmo quando oferecidos por clérigos, pois não está
neles o remédio de Cristo, mas o veneno do diabo. O corpo não fica curado e a alma
infeliz é decapitada pela espada da infidelidade. E mesmo que vos digam que os
bentinhos contêm coisas santas e textos da Escritura, ninguém o creia, ninguém se fie
neles para recuperar a saúde, pois mesmo que alguns recebam a saúde graças a esses
amuletos, é obra da astúcia do diabo. Se faz às vezes desaparecer a enfermidade física, é
por ter estrangulado a alma.
Com efeito, o diabo não deseja tanto matar o corpo como a alma. Por isso, para
nos pôr à prova, está autorizado a abater nossa carne por alguma enfermidade, para que,
quando depois consentimos na ação de magos e de bentinhos, mate nossa alma. Por isso,
de tempos em tempos, os bentinhos parecem às vezes eficazes e úteis, pois, quando o
diabo golpeia a alma que consente, deixa de perseguir a carne. Quem faz bentinhos e
quem pede que os façam, e os que consentem em trazê-los, demonstram todos que são
pagãos. Se não fizerem penitência adequada, não podem escapar da pena. Mas vós,
irmãos, pedi a saúde a Cristo, que é a luz verdadeira; recorrei à Igreja, ungi-vos com o
óleo bento, recebei a eucaristia de Cristo. Se fizerdes assim, recebereis não só a saúde do
corpo, mas também a da alma.
2. Consideremos nossos atos, meus queridos, com espírito clarividente e
escrutemos com cuidado nossas ações, para que o espírito maligno não se introduza
furtivamente, não nos engane com aparência de bem, se não nos pode enganar
abertamente. Pois ele tem “mil modos de prejudicar” (Virgílio, Eneida, 7, 338) e se serve
de todos esses modos para fraudar o gênero humano. Com efeito, como diz o Apóstolo,
“não ignoramos as intenções dele” (2Cor 2,11). Pois Cristo mesmo atacou os bentinhos
dos fariseus, dizendo: “Usam largos filactérios4 e longas franjas” (Mt 23,5). É preferível
reter no coração as palavras de Deus do que pendurar seus escritos no pescoço. Dos que
carregam tais ligaduras é dito: “Os que se desviam por trilhas tortuosas, que o Senhor os
expulse com os malfeitores” (Sl 125,5). Mas dos outros está escrito: “Bem-aventurados os
puros de coração, porque verão a Deus” (Mt 5,8). Pois é uma felicidade eterna e uma
eternidade feliz ver numa visão perpétua e louvar com voz incessante a Cristo Deus, na
glória, com seus santos. Então se cumprirá em nós a palavra: “O Deus dos deuses lhes
aparece em Sião” (Sl 84,8). E ainda: “Felizes os que habitam em tua casa, Senhor, eles te
louvarão sem cessar” (Sl 84,5).

4
O que vem sendo traduzido por “bentinhos”, de acordo com o uso vernáculo, é em latim “ phylacteria”. Na
citação do Evangelho, no entanto, mantém-se a tradução “filactérios”, da Bíblia de Jerusalém. Com a
palavra grega phylaktérion o texto remete aos rolos minúsculos, contendo trechos do Êxodo e do
Deuteronômio, como o “Ouve, Israel”, e passagens bíblicas incentivando à observância da Lei. Cf. Max
ZERWICK – Mary GROSVENOR: A Grammatical Analysis of the Greek New Testament. Rome: Biblical
Institute Press, 1981, 74.
Cesário de Arles – Sermões – p. 3

3. Antes de mais, irmãos, não aceiteis ter balanças dolosas e duplas medidas, pelas
quais deis prejuízo a vossos vizinhos e a vossos próximos, pois está escrito: “Com a
medida com que medirdes sereis medidos” (Mt 7,2). Toda vez que ouvis querelas, julgai
com um julgamento justo e não aceiteis suborno em detrimento do inocente, para que não
aconteça que, adquirindo riquezas materiais, percais as recompensas eternas. Estando na
Igreja, não vos ocupeis em contar lorotas uns aos outros. O cúmulo é que alguns homens
– e sobretudo mulheres – tagarelam de tal modo na Igreja que eles próprios não escutam a
palavra de Deus nem permitem que os outros a escutem. Quem age assim, prestará contas
no dia do julgamento por si e pelos outros.
Os filhos que recebeis no batismo, sabei que sois fiadores por eles diante de Deus.
Assim deveis sempre repreendê-los e corrigi-los, para que se esforcem por observar o que
respeita à justiça e à castidade, à sobriedade e à misericórdia. Incitai-os às boas obras, não
só por palavras, mas também por exemplos, a fim de que, imitando-vos no que é justo e
agrada a Deus, mereçam chegar convosco às recompensas eternas.
4. Peço-vos sempre de novo, irmãos caríssimos, e vos advirto com solicitude
paternal e vos suplico com todas as minhas forças, que os bons dentre vós perseverem
sempre fiéis e felizes nas boas obras, pois está escrito: “Quem perseverar até o fim, será
salvo” (Mt 10,22). E os que sabem que fazem o mal, corrijam-se e emendem-se sem
tardar, para que, quando venha o dia do julgamento, tanto os que perseveraram no bem,
como os que se corrigiram do mal, cheguem juntos às recompensas eternas, com a ajuda
daquele que, com o Pai e o Espírito Santo, vive e reina pelos séculos dos séculos. Amém.

Sermão 52 (excertos)5
(Título: Sobre os mártires e o eclipse da lua, bem como sobre os abortos e os bentinhos)

[Tratando dos mártires, Cesário explica que os perseguidores em seu tempo já não são os que
matam o corpo, mas os que induzem a práticas como superstições por ocasião de eclipses lunares, aborto e
o uso de bentinhos. Depois continua:]

5. Também isso, meus queridos, como já dissemos antes, é uma habilidade funesta
do perseguidor oculto: quando os filhos de algumas mulheres são atormentados por
diversas tentações ou doenças, as mães correm, chorando e atônitas, e – o que é pior – não
solicitam remédio da Igreja, nem junto ao autor da salvação, nem pedem a eucaristia de
Cristo, quando deveriam – como está escrito – ungi-los com o óleo bento pelos
presbíteros e pôr toda sua esperança em Deus. Fazem o contrário e, buscando a saúde dos
corpos, encontram a morte das almas.
Oxalá conquistem a saúde, pelo menos pela arte dos médicos. Mas elas dizem:
“Consultemos este arúspice ou este adivinho, aquele lançador de sorte ou esta maga;
sacrifiquemos uma veste do doente, um cinto que possa ser examinado e medido;
ofereçamo-lhe escritas mágicas, penduremos no pescoço fórmulas mágicas”. Por trás de
tudo isso está a mesma persuasão do diabo, quer se trate de matar cruelmente os filhos
pelo aborto, quer de curar mais cruelmente ainda por escritas mágicas.
6. Entretanto, algumas mulheres, ditas sábias e cristãs, quando os filhos adoecem,
costumam responder às amas ou a outras mulheres por intermédio das quais o diabo as
tenta: “Não, eu não mexo com tais coisas, porque li na Igreja: ‘Não podeis beber o cálice
do Senhor e o cálice dos demônios. Não podeis participar da mesa do Senhor e da mesa
dos demônios’ (1Cor 10, 21)”. Em seguida, como se estivesse desculpada com essa frase,
5
SChr 243, 434-443 (aqui: 438-443). Tradução Francisco Taborda S.J.
Cesário de Arles – Sermões – p. 4

acrescenta: “Mas ide e fazei como sabeis; não vos nego o que for preciso gastar da
dispensa”. Como se por essas palavras pudesse ser tida por inocente de um crime tão
detestável! Mas não é assim, pois não somente a mãe que o permite, também as outras,
quem quer que sejam, que tiverem consentido, incorrerão no crime de sacrilégio. Pois o
Apóstolo fala: “Não só os que fazem assim, mas também os que consentem com os que as
praticam” (cf. Rm 1,32).
Mas vós, tanto homens como mulheres, se quiserdes prestar uma atenção diligente
e vos esforçais fielmente por evitar e fugir de todas as emboscadas do diabo, podereis
chegar com consciência tranquila à felicidade eterna, com o auxílio de nosso Senhor Jesus
Cristo.

Sermão 1846
(Título: Sobre os mártires ou sobre os bentinhos, a propósito de Hb 11)

1. Ouvimos na leitura do Apóstolo que os servos e amigos de Deus, “de quem o


mundo não era digno” (Hb 11,38), toleraram, pela virtude da fé, calamidades não
merecidas, sim, mas gloriosas, como diz a palavra de Deus: “Outros experimentaram os
vitupérios, o açoite, as correntes e as prisões. Foram lapidados, foram serrados e
morreram assassinados com golpes de espada” (Hb 11,36-37). Lemos, ainda, que outros
foram atormentados nos cárceres, outros, tornando-se mais aguda a perseguição, foram
tragados pelo turbilhão da ímpia tempestade e sofreram sob o granizo de chuvas de
pedras, outros, pela lâmina hostil dos sacrílegos, perderam a cabeça consagrada, mas
foram coroados no reino eterno. “Foram lapidados”, diz, “e serrados”: um carrasco
horrendo com espada afiada prolongou o suplício pelas vísceras, numerosas dentadas de
feras percorreram as entranhas triunfantes e assim, perseverando na fé, novas e inauditas
penas proclamaram a qualidade dos méritos.
2. Mas talvez alguém pense consigo mesmo e diga: “Que é isso: bons e santos
varões são entregues às mãos dos ímpios?” Perguntas o que é isso? “É tentação a vida
humana sobre a terra” (Jó 7,1). Assim pois, trabalhando com fadiga e desvelo no combate
deste mundo, são tentados para serem provados, são provados para serem recompensados.
Por isso, algumas vezes o diabo, tendo pedido a Deus, obteve tê-los sob seu poder por
permissão do Senhor, não para que os prejudicasse na força da alma, mas para que os
atormentasse na fraqueza do corpo. Não sucumbindo de modo algum e resistindo
fielmente por temor ao Senhor, a dura tentação foi-lhes ocasião de glória. Até mesmo o
Senhor foi entregue às mãos dos pecadores. O ímpio juiz dirige-se a ele por ocasião da
paixão: “Não sabes que eu tenho poder para te libertar e poder para te crucificar?” (Jo
19,10). E o Senhor responde: “Não terias poder algum, se não te fosse dado do alto” (Jo
19,11). Ele, portanto, suportou e venceu as adversidades deste mundo para instruir-nos e
confirmar-nos, para que também nós entendamos que não podemos fugir dos males deste
século, mas podemos superá-los com a ajuda de Deus. Há, pois, certa proporcionalidade
entre os fiéis e os santos mártires, se aqueles suportarem paciente e fortemente por temor
de Deus o que este mundo impõe. Por isso nos diz a palavra de Deus: “Compartilhando
nossos sofrimentos, compartilhareis também nossa consolação” (2Cor 1,7).
3. Mas talvez digas: “Já não há perseguidor da religião, não nos ameaça um
perseguidor da piedade. Como sem inimigo posso ter parte com o mártir?” Não é assim,
meus queridos. Oxalá haja fé, pois, se falta um tentador público, não falta tentador oculto.

6
CC.SL 104, 748-752. Tradução Francisco Taborda S.J.
Cesário de Arles – Sermões – p. 5

Revelemos brevemente, se quiserdes, alguns aspectos das tentações ocultas e bem


lisonjeiras do inimigo e suas emboscadas. Por exemplo, alguém te solicita para uma
fraude ou para um falso testemunho ou para alguma outra vantagem iníqua? Por sua boca
sibila a voz da antiga serpente. Um torpe sedutor te atrai, com conselhos desonestos e
alcovitices, a perpetrar uma ação vergonhosa de impudicícia e te convida a dar espaço à
luxuria? São emboscadas secretas que o inimigo te arma.
4. Costuma acontecer, irmãos, que da parte do diabo venha o perseguidor a certo
doente e diga: “Se tivesses usado aquele encantamento, já estarias curado; se tivesses
querido levar contigo aquelas escritas mágicas, já podias estar com saúde”. Se consentires
com esse perseguidor, sacrificaste ao diabo; se o desprezaste, adquiriste a glória do
martírio. Talvez venha outro e diga: “Consulta aquele adivinho, manda-lhe teu cinto ou
tua faixa, para que ele a meça e olhe. Ele te dirá o que fazer ou se podes escapar”. Outro
diz: “Aquele sabe defumar corretamente, pois todos os que o fizeram, imediatamente
ficaram melhores e toda dificuldade se afastou da casa deles”. Quem quer que tenha
procurado tais coisas, violou o sacramento do batismo.
O diabo costuma também noutro ponto enganar os cristãos negligentes e tíbios: se
alguém foi vítima de um furto, aquele crudelíssimo perseguidor instiga algum dentre seus
amigos para dizer-lhe: “Vem secretamente a tal lugar e te mostrarei uma pessoa que te
dirá quem foi que roubou tua prata ou teu dinheiro; mas se desejas sabê-lo, quando
chegares àquele lugar, não te dês a conhecer”. Eis a que males são levados os cristãos
tíbios que, querendo receber a saúde temporal, não temem cometer sacrilégios tão
abomináveis. Quem quer que consinta a esses conselheiros diabólicos, não duvide ter
feito pacto com o diabo, repudiando a Cristo. Também as mulheres costumam persuadir-
se umas às outras a que empreguem em favor de seus filhos doentes algum encantamento
que não convém à fé católica. E isso é engano da parte do diabo.
5. Quão mais correto e salutar seria se acorressem à Igreja, recebessem o corpo e o
sangue de Cristo, ungissem fielmente a si e aos seus e, conforme diz o apóstolo Tiago,
não só receberiam a saúde dos corpos, mas também o perdão dos pecados. Pois assim
prometeu por ele o Espírito Santo: “Alguém dentre vós está doente? Mande vir os
presbíteros da Igreja para que orem sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor. A
oração da fé salvará o doente e, se tiver cometido pecados, estes serão perdoados” (Tg
5,14-15). Mas talvez alguém diga: “Por que nosso bispo nos exorta tão frequentemente
sobre esse tema?” Porque, irmãos, embora tão frequentemente vos admoestemos,
sabemos contudo, por informação de muitos, que ainda há alguns homens que praticam
esses sacrilégios. E, por isso, vos peço que, quem ainda não o fez, não o cometa jamais; e
quem o fez, se apresse quanto puder em fazer a devida penitência.
.6. Nós, porém, meus queridos, todas as vezes que desejamos celebrar as
solenidades dos santos e dos mártires, procuremos, quanto possível, com a ajuda de Deus,
preparar-nos e ornar-nos de boas obras. Quem, pois, examinando sua consciência,
reconhecer ser casto, sóbrio, humilde e misericordioso de verdade, alegre-se e dê graças a
Deus, e, com todas as forças e com o auxílio de Deus, esforce-se não só em conservar em
si os dons divinos, mas também em aumentá-los. Mas quem se vir talvez negligente ou
dado à bebida, iracundo, invejoso e soberbo, manchado pela sujeira da luxúria, busque
logo refúgio nos remédios da penitência e, antes que aquela alma tenebrosa parta de seu
corpo infeliz, alcance para si o remédio no dia da necessidade, faça esmolas generosas e
assim se dedique frequentemente, com gritos ou gemidos, a vigílias, jejuns e orações, para
que, como já disse, antes que sua alma seja tirada do corpo submetido aos pecados,
providencie os remédios de um coração contrito e humilhado, que lhe serão eternamente
de proveito, porque “coração contrito e humilhado Deus não despreza” (cf. Sl 51,19). Sob
Cesário de Arles – Sermões – p. 6

a mão do médico todo-poderoso não convém jamais desesperar de nenhum pecador. Pois
a imensidão da misericórdia é tão grande que não só outorga o perdão dos pecados aos
que se corrigem de verdade, mas também lhes concede chegar aos prêmios eternos.
7. Portanto, não devemos nem desesperar nem esperar mal. Desespera quem julga
que Deus não perdoa a quem está cheio de muitos pecados, mesmo que faça penitência.
Espera mal quem acredita que, embora queira permanecer nos pecados até o fim da vida,
pode ser digno da misericórdia de Deus. Nosso Deus, como sabe remunerar os méritos,
sabe também punir os pecados. Quem disse: “Quando convertido gemeres, serás salvo”
(Is 30,15 LXX), disse também: “Não demores a voltar para o Senhor e não adies de um dia
para o outro” (Sr 5,7 [Eclo 5,8]). Teme, ó homem, a justiça daquele de quem buscas a
misericórdia. Quanto mais tempo espera que te corrijas, tanto mais gravemente vinga, se
não queres emendar-te mais rapidamente. Pois neste mundo Deus dá preferência à
misericórdia, no mundo futuro exerce a justiça; neste despende o dinheiro de suas
exortações ou de sua paciência, lá exigirá os juros. Assim se cumprirá o que está escrito:
“Então retribuirá a cada um de acordo com suas obras” (Mt 16,27). Não disse, segundo a
misericórdia, mas “segundo suas obras”. O que o apóstolo Paulo confirma, dizendo:
“Todos nós teremos de comparecer perante o tribunal de Cristo, a fim de que cada um
receba a retribuição do que tiver feito durante a sua vida no corpo, seja para o bem, seja
para o mal” (2Cor 5,10). Com o auxílio do Senhor, atuemos assim, irmãos, para que tudo
o que nos imputou como julgado, quando for julgar, o encontre íntegro, e a solenidade ou
o patrocínio dos santos mártires não nos prepare juízo, mas proveito. E assim nos
apliquemos quanto possível a merecer obter no céu a companhia daqueles, cuja festa
celebramos no mundo. Conceda-nos nosso Senhor Jesus Cristo que vive e reina pelos
séculos dos séculos. Amém.

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