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Para entender melhor o que estamos discutindo, gostaria de analisar uma estranha
história contada no Talmud.
Os sábios codificaram ideias muito profundas em histórias como esta, altamente
alegórica e que não deve ser interpretada literalmente.
A mensagem da história, como ficará claro, é explicar quem somos e o que Deus
quer de nós.
Contarei as passagens mais importantes aqui usando um estilo mais moderno,
deixando a terminologia talmúdica e simplificando a linguagem.
E vou tecer dentro da história a mensagem filosófica que ela pretende comunicar.
Quando a história começa, os anjos estão agitados porque Deus trouxe um tesouro
muito especial — os Dez Mandamentos — do Seu depósito.
Os anjos sabem que nesses mandamentos está codificada uma missão especial de
Deus, e como eles são Seus agentes, encarregados de todas as Suas missões, mal
podem esperar para saber quem ganhará essa tarefa.
Então, para sua grande surpresa, sobe a montanha um homem que, quando se
introduz nos portões do céu, apresenta uma gagueira severa.
Este, claro, é Moisés.
Os anjos ficam chocados. "Mestre do Universo", dizem a Deus, "o que faz este
imperfeito ser da Terra entre nós, perfeitas criaturas celestes? O que ele tem para
fazer aqui no campo angelical?"
"Não se preocupem", Deus os tranquiliza. "Ele não vai ficar aqui. Só veio buscar os
Dez Mandamentos."
Os anjos não se acalmaram nem um pouco.
"O quê? Você está segurando essa tarefa preciosa por 974 gerações e agora vai dá-
la a um mortal? Quais são as qualificações dele para que seja encarregado de uma
missão celestial como essa? Ele vai levá-la à Terra para ser desrespeitada. Não dê
para ele — dê para nós!"
E Deus diz a Moisés: "Você tem de respondê-los e contestar sua objeção."
Por que Deus não contesta a objeção dos anjos?
Porque a mensagem Dele a Moisés é: "Você não pode receber esta tarefa preciosa
a menos que saiba o porquê. Ninguém pode responder a essas perguntas em seu
lugar. Você tem de encontrar a confiança e a coragem dentro de si para reivindicar
o seu valor. Deve entender quais são as suas qualificações como ser humano para
receber esta grande honra; porque quando você aceita os mandamentos de Deus,
significa que está aceitando uma missão Divina: você se torna um agente de Deus."
Agente secreto
Ser agente de Deus é uma responsabilidade maravilhosa.
Se você indica alguém para ser seu agente, ele ou ela é igual a você.
A pessoa recebe uma procuração para agir em nome do procurador.
Os mandamentos são isto: uma declaração da missão a ser cumprida por nós,
seres humanos, na Terra, em nome de Deus.
Quando aceitamos a missão dos mandamentos, nos tornamos agentes de Deus na
Terra assim como os anjos são agentes de Deus no céu.
Por isso Moisés teve de ir a uma esfera angelical para pegar o tesouro e trazê-lo à
Terra.
Os anjos não sabem dos detalhes dessa missão; tudo o que sabem é que deve ser
realmente importante para Deus, já que Ele a segurou por tanto tempo e ainda não
nomeou ninguém para cumpri-la.
Mas um ser humano?
Isso é um absurdo!
Do ponto de vista dos anjos, os seres humanos são criaturas muito baixas, cheias
de inclinações ordinárias.
Como podem ser encarregados de algo tão sagrado?
Como é possível que esse ser imperfeito pôde ascender além do poder dos anjos
para cumprir essa preciosa tarefa Divina em um lugar caótico como a Terra?
Deus diz a Moisés: "Você tem de responder às reclamações dos anjos. Você tem de
entender por que merece essa missão. Explique a eles as suas qualificações."
A maioria das pessoas pensa que os mandamentos são uma questão de acreditar
em Deus.
Mas isso é apenas metade da história.
A mensagem implícita nos mandamentos é sobre acreditar em si mesmo.
Para aceitar os mandamentos, você tem de acreditar que tem o poder de servir a
Deus.
Você merece ser agente de Deus e merece cumprir a missão sagrada.
Isso requer muita autoconfiança e autoestima.
Você pode fazer algo por Deus.
Pode representá-Lo na Terra porque Ele lhe entregou a Sua procuração.
Essa visão contrasta com a visão que domina a cultura ocidental — a dos gregos.
Os gregos acreditavam que os deuses eram tão maravilhosos que estaria abaixo de
sua dignidade se preocupar com os seres humanos.
"Não vale a pena levar a sério problemas humanos, mas ainda assim devemos ser
sérios sobre eles — uma triste necessidade nos compele", diz Platão (Leis, VII,
803).
E segundo Aristóteles, os deuses não se interessam pela distribuição de boa ou má
sorte ou "coisas externas" (Magna Moralia, II, 8, 1207 — 9).
O estadista romano Cícero afirmou que "os deuses se ocupam de grandes questões
e negligenciam as pequenas" (De Natura Deorum, II, 167).
No entanto, podemos deduzir dos mandamentos que Deus é tão generoso que até
se preocupa com os pequenos eu e você e com as pequenas coisas que fazemos.
Essa é a grandeza de Deus.
A Torá passa a mensagem de que somos muito importantes, significativos e
poderosos.
Você recebeu o poder de representar o Todo-Poderoso.
Com a procuração de Deus, você foi encarregado de crescer, superar o mal,
escolher o bem e construir e melhorar o mundo em Seu nome.
Perfeitamente imperfeito
Deus criou a humanidade para ser Seu veículo de expressão da perfeição dinâmica
e para participar da luta do aperfeiçoamento.
Somos altamente qualificados para essa missão porque somos pessoas imperfeitas
vivendo em um mundo imperfeito.
Temos uma inclinação para o mal que nos desafia diariamente.
Temos a capacidade de fazer muito mal, mas também podemos escolher fazer um
grande bem.
Podemos fracassar, mas também prosperar; destruir e também construir.
Nossa vida pode ser repleta de desafio, aventura e crescimento.
Os anjos são perfeitos — não têm inclinação para o mal nem livre-arbítrio, não
podem fracassar.
Eles não lutam para superar o mal.
Apenas os seres humanos podem cumprir essa missão Divina porque somos
pessoas imperfeitas lutando para melhorar, tentando nos tornar perfeitos.
Somente os seres humanos podem superar o mal, escolher o bem e crescer.
Essa é a nossa missão Divina, se estamos dispostos a aceitá-la.
Esse é o nosso serviço a Deus.
Os anjos cantam alegremente louvores a Deus em uma atmosfera celestial perfeita.
Mas as nossas canções superam as dos anjos, porque temos boas razões para não
cantar enquanto nos debatemos com nossos próprios problemas, dores e desafios.
O Talmud ensina que não prosperamos realmente até que tenhamos fracassado
primeiro.
Ou seja, parte da nossa missão Divina é falhar, nos arrepender, decidir mudar,
escolher o bem e vencer.
De fato, às vezes Deus orquestra uma situação para fracassarmos e, uma vez que
corrigimos o erro, chegarmos a um lugar ainda mais elevado.
Em Eclesiastes (7:20) está escrito: "Não há homem justo nesta Terra que faça o
bem e não peque".
Errar é humano.
Note que o versículo especifica "nesta Terra", porque se você saísse deste mundo,
poderia se tornar perfeito.
Se você vivesse em uma ilha deserta, completamente isolado da sociedade, nunca
magoaria ninguém, nunca brigaria, nunca ficaria com ciúmes e possivelmente
nunca cometeria um erro.
Mas isso não acontece, embora as pessoas tentem.
Algumas pessoas se voltam para a religião pensando ser esta um refúgio da
turbulência da vida, da dúvida, de conflitos internos e de desordem mental.
Elas procuram a religião para alcançar paz interior, contentamento espiritual e
tranquilidade.
Segundo a Cabala, não é esse o propósito da vida na Terra.
É justamente o contrário.
Fomos largados bem no meio do mar tempestuoso da vida cotidiana.
Nós nos deparamos com os problemas do mundo e temos de consertar a eles e a
nós mesmos.
Os mandamentos não apenas nos mostram o trabalho a ser feito, mas também
criam mais problemas do que já temos.
Segundo o Talmud, cada mandamento que recebemos cria em nós um desejo de
rebeldia.
Faz parte da natureza humana.
Assim que descobrimos não poder fazer alguma coisa, ou que devemos fazer algo,
surge em nós uma inclinação e um desejo de fazer exatamente o oposto.
Esse é um dos problemas primordiais de ser humano — ser teimoso, ser difícil e ser
complexo.
Portanto, os mandamentos não simplificam a vida; eles a tornam mais difícil.
Porém, quando compreendemos que o tema da vida é justamente encarar os
desafios, podemos apreciar como os desafios aumentam a aposta do jogo.
Lembre-se, as regras é que fazem do jogo um jogo.
Imagine se o futebol não tivesse regras, escanteios e faltas.
Embora as regras tornem o jogo mais desafiador, elas também o tornam mais
divertido e satisfatório quando ganhamos.
Acionistas Divinos
Quando os anjos entenderam o propósito da estimada tarefa de Deus, quiseram
"entrar na dança".
Então deram presentes aos homens — segredos úteis — para, assim, investir no
empreendimento humano.
Eles queriam ser acionistas da Aperfeiçoamento Humano S.A.
Se você não pode trabalhar na companhia, ao menos invista nela e aproveite os
dividendos dos acionistas.
Deus é o maior acionista da empresa.
É o maior investidor da Aperfeiçoamento Humano S.A.
Deus investiu uma centelha do Ser Divino — a alma — nos seres humanos para
poder ser um participante neste mundo.
De acordo com a Cabalá, Deus deseja estar aqui.
Ele vive neste mundo e participa dele através de você e de mim.
Experimentamos e aproveitamos essa honra apenas se convidamos Deus a entrar
no nosso mundo, aceitando nossa vida desafiante como Sua missão Divina.
Todo ser humano tem o potencial de ser representante e agente de Deus.
Podemos fazer tudo em nome de Deus.
Essa é a maior honra e o maior prazer que uma pessoa pode sentir.
Viver para si mesmo não traz completa satisfação e felicidade.
Mas quando você se torna um instrumento de Deus e faz escolhas em nome Dele —
você vive o céu na Terra.
Às vezes peço a meus alunos no Isralight que imaginem como raciocinariam e
agiriam se fossem comprar um carro em nome de Deus.
Quais seriam as principais considerações na escolha do modelo?
Normalmente, eles descartam a aparência e a marca do carro — não importa se é
vermelho, uma Ferrari ou se tem um motor turbo.
O que importa são os componentes de segurança, os controles de poluição, o valor
de mercado e quantos quilômetros por litro ele faz.
Ou seja, as preocupações dominantes são com relação à vida dos passageiros, ao
meio ambiente, à preservação dos recursos naturais e à tomada de boas decisões
financeiras.
Da próxima vez que você for tomar uma decisão, pergunte: "Se eu fizer isso por
Deus, qual a escolha certa? Se sou Seu representante na Terra, como devo me
comportar?"
Esse é o verdadeiro caminho da responsabilidade.
Em tudo o que fazemos, devemos sentir responsabilidade com relação a Deus.
Não se preocupe — a responsabilidade de ser um agente de Deus não vai torná-lo
neurótico, mas lhe dará grande inspiração, clareza e vitalidade.
Superando a inveja
Quando você entender que a vida é uma missão Divina, vai perceber que ninguém
tem uma missão melhor ou mais importante que a sua.
É ridículo ter inveja da sina de outra pessoa.
Não pense que o presidente dos Estados Unidos é mais importante do que um
garçom.
Se Deus está conosco em nossa missão, então a missão de uma pessoa não pode
ser mais importante do que a de outra, porque a missão de todo mundo é na
verdade uma missão de Deus.
O sucesso real não depende de quantas coisas realizamos na Terra.
E não tem nada a ver com quanta atenção pública nossas conquistas atraem.
O que realmente importa é a intenção e a qualidade das nossas ações.
Colocamos a alma na missão e vivemos a vida em nome de Deus, procurando
crescer e preocupados em melhorar o mundo e a nós mesmos?
Os grandes sábios da Torá nos ensinaram: sou uma criação e meu amigo (mesmo o
inculto) é uma criação.
Assim como ele não é especialista naquilo que faço, não sou especialista no que ele
faz.
Não pense que eu faço mais e ele faz menos.
Isso não está certo.
Não importa se aparentemente ele alcança grandes ou pequenos feitos.
O que realmente importa é se suas intenções são em nome de Deus.
Essa lição não parece fazer muito sentido.
Os grandes sábios fizeram contribuições históricas para o desenvolvimento
espiritual e ético da humanidade.
Seus nomes serão lembrados para sempre.
Como eles podem se comparar a pessoas simples, iletradas, cujas ações nunca
poderiam lhes dar reconhecimento mundial e que certamente serão esquecidas
pelos anais da história?
Como os sábios podem dizer que o que realmente importa é a pureza das intenções
e o poder do compromisso de agir em nome de Deus?
Os sábios compreendiam que cada um de nós tem uma missão na vida — um
chamado.
O que você deve sempre lembrar é quem está chamando.
Deus o está chamando para ser Seu agente na Terra, e a missão que Ele lhe pede
para cumprir não é apenas sua, mas também Dele.
Se todos estamos trabalhando para Deus, não existe missão pequena.
Como uma missão pode ser menor que outra?
Alguma missão pode ser menos que fundamental?
Se internalizamos essa verdade, nos livramos do hábito tolo de nos comparar a
outros.
Ficamos curados da debilitante doença que corrói nossos ossos — a inveja.
O Talmud conta a história do sujeito que vislumbrou um pouco da vida após a
morte.
Ele se surpreendeu ao ver que o outro mundo estava de cabeça para baixo. Ele viu
algumas pessoas que, durante a vida na Terra, eram muito respeitadas e famosas,
mas que no outro mundo não eram ninguém.
Embora tenham sido reconhecidas como membros importantes da alta sociedade,
essas pessoas eram agora consideradas parte da classe baixa.
Ele também viu pessoas que foram simples trabalhadoras durante a vida, mas que
agora eram proeminentes membros da mais alta ordem.
Foi um choque.
Imagine que você seja um ator internacionalmente reconhecido e, onde quer que
vá, as pessoas o olham com grande reverência e admiração.
Então a cortina da sua vida se fecha e você se encontra em um novo mundo — a
vida após a morte.
Para a sua surpresa, lá ninguém o nota.
Então você vê um rosto conhecido; é a sua empregada, cercada por uma multidão
de fãs angelicais.
Naquela vida, ela é a celebridade e você, o shleper.
Como isso é possível?
Tudo depende da qualidade das suas ações e da sua atitude.
Você convidou Deus ao seu trabalho?
Você trabalhou com a intenção de ser agente de Deus, ou sua vida foi apenas uma
viagem egoísta?
Em suma
Os mandamentos da Torá não são apenas um monte de boas ações.
Não são apenas instruções de vida; são muito mais que isso.
Eles articulam uma missão Divina elevada.
É uma missão tão sublime que até os anjos a queriam quando ela foi oferecida pela
primeira vez.
Eles não conseguiam entender por que o ser humano frágil, tão propenso a erros,
tão cheio de desejos negativos e destrutivos receberia tal missão.
Mas a missão não foi entregue aos anjos.
De fato, os seres humanos receberam a missão exatamente porque não são anjos
perfeitos.
Nossa qualificação para recebê-la é que somos seres que erram e lutam para
melhorar.
Nossa qualificação maior para essa grande missão é o potencial de fracasso e de
fazer o mal.
Essa é a nossa grandeza.
Nossos problemas são exatamente a matéria-prima para a nossa elevação.
Isto porque nossa missão é crescer e revelar a perfeição dinâmica do
aperfeiçoamento.
Nossa missão é superar nossas falhas, escolher o bem e crescer em nome de Deus.
Nossa missão na vida é o sentido da vida.
Infeliz é a pessoa que pensa não ter uma missão.
Nietzsche, filósofo alemão famoso por dizer que Deus está morto, ironicamente
insistia que "a não ser que a pessoa sinta que algo inteiro e infinito trabalha através
dela, sua vida não tem sentido".
Esse "algo inteiro e infinito" é Deus, e cada um de seus mandamentos é uma
oportunidade de vivenciar esse sentido profundo.
Cada um de seus mandamentos nos capacita a melhorar a nossa comunidade, este
mundo e a nós mesmos em nome de Deus.
Nossa missão Divina é o presente supremo do Ser Supremo.
Continua