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Linguística de Texto – Prof.

Antonio Carlos Xavier  

A disciplina
 

Nesta disciplina vamos estudar uma das áreas dos estudos da linguagem que mais tem crescido e
acolhido pesquisadores e professores no Brasil desde sua chegada aqui na década de 1970. Trata-se da
Linguística de Texto ou Linguística Textual (LT).

Vamos conhecer um pouco de suas origens, de seu objeto específico de investigação e principalmente
vamos descobrir como a LT pode ser aplicada no dia a dia do professor e do aluno de Língua Portuguesa.
Vamos saber como esta área de estudo da linguagem pode ajudar de modo mais eficiente no ensino e na
aprendizagem da escrita e da leitura de textos orais e escritos e até de hipertextos (a mistura de textos
verbais, visuais e sonoros presentes no computador on-line).

Prof. Dr. Antonio Carlos Xavier

(NEHTE/UFPE)

Ementa
 
Entender e aprender a utilizar os principais recursos e princípios de organização textual e sua função na
construção dos sentidos em textos orais, escritos e hipertextos.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

1. Histórico da Linguística de Texto


2. Conceito de texto
3. Princípios de textualidade
4. Fatores de coerência textual
5. Mecanismos de coesão textual
6. Referenciação: conceito e estratégias
7. Gêneros textuais e gêneros digitais

Versão provisória em PDF do conteúdo da disciplina. O autor é o titular dos direitos autorais desta obra. Reprodução não autorizada. Uso
estritamente pessoal. Para outra utilização, solicitar autorização prévia do titular dos direitos autorais.

 
Linguística de Texto – Prof. Antonio Carlos Xavier  

OBJETIVOS

O objetivo geral deste módulo é fazer você conhecer a nomenclatura técnica e ajudá-lo a utilizar
corretamente os recursos da linguagem envolvidos na produção e na compreensão de textos escritos,
falados e digitalizados.

Como objetivos específicos, este módulo busca:

● Saber como se deu o nascimento e a evolução dos estudos relativos ao texto, enquanto materialidade
linguística, por meio de uma reconstrução da sua trajetória ao longo da história dos estudos da
linguagem;

● Refletir sobre quais são e como funcionam os recursos linguísticos mobilizados pelos usuários da língua
no momento em que produz e compreende textos a que acessam;

● Aprender a dominar os mecanismos sutis da linguagem verbal de modo a adequar a modalidade de uso
da língua e o gênero textual a serem produzidos aos propósitos comunicativos que se pretende atingir;

● Escrever e ler com mais proficiência textos em diferentes graus de formalidade e ancorados em
diferentes suportes de leitura e de escrita;

Referências bibliográficas
 
Bibliografia básica para o curso

BENTES, A. C. A Linguística textual. In: Mussalin & Bentes: Introdução à Linguística. Domínios e
Fronteiras, São Paulo: Cortez, 2001.

Koch, Ingedore G. Vilaça & ELIAS, M. Vanda. Ler e Escrever. Estratégias de produção textual. São
Paulo: Editora Contexto, 2009.

________. O texto e a construção dos sentidos. São Paulo: Contexto, 1997.

MARCUSCHI, Luiz A. Produção textual, análise de gênero e compreensão. São Paulo: Parábola
Editorial, 2008.
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Linguística de Texto – Prof. Antonio Carlos Xavier  

XAVIER, Antonio Carlos. Como se faz um texto: a construção da dissertação-argumentativa.


Catanduva: Rêspel, 2006.

Referências bibliográficas

BAKHTIN, M.. Os gêneros do discurso. In: Estética da Criação Verbal, São Paulo, Martins Fontes,
1992.

BARZEMAN, Charles. Gêneros textuais, tipificação e interação. Trad. Ângela Paiva Dionísio e Judith
Hoffnagel. São Paulo: Cortez, 2005.

BATHIA. V.. Análise de gêneros hoje. Trad. Benedito G. Bezerra, 1997.

BENTES, A . C. A Linguística textual. In: Mussalin & Bentes: Introdução à Linguística. Domínios e
Fronteiras, São Paulo: Cortez, 2001.

BROWN, G. & Yule. G.. Discourse Analysis. Cambridge University Press, 1983.

CONTE, M.E.. Encapsulamento anafórico. Trad. Mônica M. Cavalcante, 1993.

KOCH, Ingedore G. V.. A coesão textual. São Paulo: Contexto. 1989.

KOCH, Ingedore G. V.. A inter-ação pela linguagem. São Paulo : Contexto, 1992.

________. O texto e a construção dos sentidos. São Paulo: Contexto, 1997.

________. Argumentação e linguagem. São Paulo: Cortez, 1984.

________. Linguística Textual: Quo Vadis? DELTA, vol. 17, no. especial, p. 11-24. 2001.

________. Referenciação: atividade discursiva. Mímeo, 1999.

________. Os articuladores textuais. Mímeo, 2001.

________. & Luiz C. Travaglia. A coerência textual. São Paulo: Contexto, 1990

________. Texto e coerência. São Paulo: Cortez, 1989.

________. & ELIAS, M. Vanda. Ler e Escrever. Estratégias de produção textual. São Paulo: Editora
Contexto, 2009.

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MARCUSCHI, Luiz A. Produção textual, análise de gênero e compreensão. São Paulo: Parábola
Editorial, 2008.

ODGEN, C. K. & RICHARDS, I. A . The meaning of meaning. London: Routledge, 1923.

XAVIER, Antonio Carlos. Como se faz um texto: a construção da dissertação-argumentativa.


Catanduva: Rêspel, 2006.

Sumário
1. A interação verbal
2. O que faz a Linguística Textual
3. Histórico da Linguística Textual
3.1 Concepções de língua em Saussure
3.2 Estruturalismo: Saussure e Chomsky
3.3 Funcionalismo e sua relação com LT
3.4 Críticas de Bakhtin ao “Pai da Lingüística Moderna”
4. Texto como ponto de partida para a LT
4.1 Definições de texto
5. Textura: relações co(n)textuais
5.1 Coerência textual
5.1.1 Fatores de coerência
5.2 Princípios de Textualidade
5.3 Articulação textual: coesão referencial e sequencial
5.3.1 Coesão sequencial
5.3.2 Coesão referencial
5.4 Referenciação: conceito e estratégias
6. Gêneros textuais e digitais: conceitos, características e suportes
6.1 Distinções importantes: gênero textual, tipo textual e domínio discursivo
6.2 Gênero textual e suporte

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1. A interação verbal
Em geral, o processo de interação mediado pela linguagem verbal acontece quando um autor/falante
produz um texto e o direciona a um leitor/ouvinte. Para isso, o primeiro mobiliza seus conhecimentos da
língua e de mundo para fazer o segundo compreender seu projeto de dizer a quem cabe perseguir as
pistas textuais deixadas para decifrar tal projeto de dizer manifesto no texto.

O esquema abaixo busca ilustrar o processo da interação verbal apresentando seus principais
constituintes, a saber:

ENUNCIADOR TEXTO COENUNCIADOR


 

Atente para a bidirecionalidade das setas significando que interação pressupõe uma troca de papéis, ou
seja, a interação verbal é uma via de mão dupla em que todos os participantes são sujeitos do processo e
constroem conjuntamente o texto, resultado da interação entre os envolvidos.

O esquema abaixo amplia um pouco mais essa perspectiva sobre o funcionamento do processo
interacional visualizado pelos estudiosos da LT contemporânea.

Interação Verbal

 
 
 
Autor/Falante Texto Leitor/Ouvinte

(Enunciador) (Coenunciador)

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2. O que faz a Linguística Textual (LT)?


De forma sintética, podemos dizer que a LT estuda a organização das formas linguísticas, discursivas e
cognitivas envolvidas na produção e recepção/leitura de textos nas modalidades oral e escrita em
situações de uso real da língua.

Por ser uma linguística da enunciação, do significado e não do enunciado ou do significante, a LT


caracteriza-se por adotar uma perspectiva de trabalho com a língua:

1» Orientada por dados autênticos da linguagem, isto é, interessada pela


linguagem in vivo e não in vitro;

2» Centrada em processos e não em produtos linguísticos;

3» Buscando entender: a concatenação de enunciados; a produção de


sentidos; as operações cognitivas; a diferença entre gêneros textuais; o
funcionamento da língua em contextos de uso.

3. Histórico da Linguística Textual


Apresentados nossos objetivos, vamos então iniciar nossa viagem às origens da Linguística Textual,
porém antes precisamos fazer uma breve parada em alguns acontecimentos que deram início à
Linguística, enquanto campo de estudo científico da linguagem.

Conhecer as formas, a estrutura e o funcionamento da linguagem talvez seja um


desejo humano tão antigo quanto o próprio homem. Da Antiguidade Clássica à
contemporaneidade, passando pelos prescritivistas do Século XVIII e pelas linhas
filológica, histórica e comparatista, esse interesse pela linguagem tem acompanhado
inseparavelmente o ser humano racional.

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São mais de 2.500 anos de estudos sobre a linguagem verbal realizados tanto por filósofos e gramáticos
quanto por religiosos. O mais antigo estudo sobre a linguagem de que temos registro foi o do gramático
indiano Panini. Trata-se de uma análise completa sobre sistema gramatical do Sânscrito.

O desenvolvimento da Linguística se dava na perspectiva histórico-comparativa, cuja meta era encontrar


as leis gerais que regulariam todas as línguas conhecidas. Depois da descoberta do Sânscrito, em 1786,
Sir. Willian Jones lançou a hipótese de que as línguas grega, latina e sânscrita teriam “jorrado de alguma
fonte comum que talvez não existisse mais” (WEEWOOD, 2003) em razão da grande semelhança entre
elas. Após a descoberta do Sânscrito, diminuiu notavelmente o interesse, entre os estudiosos da
linguagem, pela busca da proto-língua.

Foi também no Século XIX que Humboldt apresentou a tese de que a língua é energeia, ou seja, é
energia, um fenômeno dinâmico, uma atividade em sim mesma, e não ergon, ou seja, não é um mero
produto das atividades humanas.

Outra idéia interessante de Humboldt foi a distinção entre forma interna e forma externa da língua. Esta
distinção foi muito bem acolhida por Saussure em seus estudos, pois sua grande marca foi organizar
conceitos dicotomicamente.

3.1 Concepções de língua em Saussure

Com Ferdinand de Saussure, a Linguística chega ao Século XX conquistando o status de


“ciência piloto das ciências humanas”. Na sua obra Curso de Linguística Geral, publicada
postumamente, em 1916, por seus discípulos, estão presentes as famosas dicotomias
saussureanas como “língua” x “fala”, “significante” x “significado”, “eixo sintagmático” x
“eixo paradigmático” entre outras. Com o modo estruturalista de analisar a língua, ou
seja, acreditando que a língua tem uma estrutura de relação abstrata guiada por princípios e regras
independentes do falante e do contexto, Saussure entedia que a língua era:

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A» Um sistema autônomo de significado;

B» Uma instituição social e não um organismo vivo;

C» Um sistema de signos arbitrários;

Um dos méritos das idéias saussureanas foi fazer eclodir a linguística enquanto ciência ao romper com o
modo histórico-comparativista de estudar os fenômenos da linguagem e explicitar com clareza seu objeto
de estudo, a língua, e seu método de investigação preferencialmente sincrônico e não diacrônico.

3.2 Estruturalismo: Saussure e Chomsky

Na mesma perspectiva dicotômica, seguiu Noam Chomsky com seus estudos da


competência de um lado, e do desempenho, de outro. A competência tem a ver com a
capacidade inata que todo homem possui para usar a língua; trata-se de uma faculdade
mental geneticamente programada nos humanos, uma espécie de “equipamento
biológico”. Já o desempenho refere-se ao uso individual que o homem pode fazer da
língua. Este estudioso voltou sua atenção à competência e desprezou o desempenho, bem como tudo que
ligasse a língua em uso no âmbito social.

Embora não neguem a importância, nem Saussure nem Chomsky se interessaram pelos aspectos social e
histórico da língua; eles não consideravam esses aspectos essenciais para para estudo científico da
linguagem verbal. Enquanto Saussure centrou suas investigações nos sintagmas ou nos elementos
lexicais da língua, Chomsky tomava frases artificialmente construídas como sua unidade de observação.
Ambos os teóricos acreditavam que a língua poderia ser analisada como um objeto autônomo, cuja
estrutura formal não dependeria da sua função nem necessariamente do contexto.

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3.3 Funcionalismo e sua relação com a Linguística


Textual

É inegável a influência das idéias estruturalistas de Saussure e Chomsky sobre os muitos dos campos de
estudos da linguagem que existem hoje. O surgimento da perspectiva funcionalista, por exemplo, é
sem dúvida uma tentativa de resposta à vertente formalista chomsky-suassureana.

O Funcionalismo procura explicar a forma da linguagem a partir da sua função essencialmente


comunicativa. Tem como premissa principal o fato de que a forma da linguagem é influenciada pela
utilização da linguagem. A principal função da linguagem, portanto, é a comunicação, sendo a língua o
meio fundamental para a interação social.

Nesta perspectiva, Roman Jakobson (1896-1982) desenvolveu sua Teoria


das Funções da Linguagem que exerceu uma forte influência entre os
estudiosos da linguagem até o final  do Século XX. A Escola de Praga,
liderada por Nikolai Trubetzkoy (1890-1938) enfatizou a linha
funcionalista para os estudos fonéticos e fonológicos. Louis Hjelmslev
(1899-1965) trabalhou na linha funcionalista à frente da chamada Escola de
Copenhague.

Assim, a segunda metade do Século passado conviveu com duas grandes correntes fortes e influentes
nas ciências humanas em especial na Linguística e na Literatura. Graças ao Funcionalismo, considera-se
fundamental atualmente nos estudos da linguagem incluir os fatores relativos aos usuários, seus papéis
sociais, gêneros, etnias e os aspectos contextuais (quando e onde) e situacionais tais como condições
históricas e sociais em que ocorre o acontecimento linguístico para compreendê-lo com mais precisão.

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Um dos linguistas que introduziu as concepções funcionalistas para a análise e compreensão


da organização textual foi o inglês Michael A. K. Halliday (1925-...). Ele focou seu olhar
para a importância do contexto na produção e na recepção do texto. Propôs, então, a
Gramática Sistêmico-Funcional, cujo funcionalismo baseia a relação contexto social e forma
linguística guiada pela Teoria das Funções da Linguagem de Jakobson. Inspirado na tese
deste, Halliday sintetiza em três as principais funções da linguagem, a saber: ideacional, interpessoal e
textual.

Em resumo, as idéias centrais do funcionalismo podem ser assim


condensadas:

A B C

A linguagem tem como A organização interna Os processos interativos na


objetivo principal a (estrutura) de uma relação entre os
comunicação, sendo as língua é influenciada interlocutores em contextos
regras internas do pelas funções externas de uso da linguagem são
sistema de uma língua desta língua numa dada mais importantes para o
criadas para atender a sociedade; funcionalismo do que
essa necessidade; observar quais os princípios
gramaticais da boa ou da
má-formação de frases
(como faz o formalismo).

3.4 Críticas de Bakhtin ao “Pai da Linguística


Moderna”

Se, por um lado, os estudos da linguagem receberam e ainda recebem forte influência do formalismo
estruturalista chomsky-saussureano, por outro, percebemos que não houve uma aceitação tácita e
tranquila deste como paradigma científico. O surgimento do funcionalismo é prova clara desta resistência
à predominância daquele grande modelo teórico na ciência da linguagem.

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Reforçando as trincheiras da resistência ao predomínio teórico do estruturalismo,


esteve também Mikhail Bakhtin (1895-1975). Ele se opôs com vigor à
concepção formalista de enxergar e analisar os fenômenos linguísticos. Embora
seus trabalhos só tenham ganhado visibilidade no mundo acadêmico Ocidental a
partir dos anos 1970, Bakhtin, em suas obras da década de 1930, já criticava
severamente as idéias saussureanas. Para o teórico russo, o “subjetivismo idealista” que subjazia à
concepção de língua do mestre de Genebra é um grande equívoco.

Pela proximidade das idéias de Chomsky às de Saussure, alguns analistas afirmam que a crítica de
Bakhtin aplica-se também a Chomsky, pois este baseou suas análises na produção de um “falante ideal”,
fora da história do mundo real. O projeto científico chomskyano buscava explicar os “universais
linguísticos” no aparelho psicofísico inato a todo homem. Esta espécie de órgão de linguagem seria imune
à ideologia, à política, ao inconsciente, entre outros aspectos que o constitui como ser humano habitante
de uma comunidade e submetido às regras, valores éticos e morais e tradições culturais que vigoram em
uma dada sociedade.

Outra observação negativa de Bakhtin contra Saussure foi ao que chamou de “objetivismo abstrato”,
conceito que advogava a concepção de língua como sistema de regras descritíveis. Esse conceito de
língua conserva os procedimentos filológicos que o estruturalismo tentou negar, pois se concentrava num
constructo teórico abstrato, supostamente homogêneo e de difícil verificação empírica, a langue.

Pela ótica bakhtiniana, Saussure acertou ao considerar a língua um fato social. Essa consideração sobre a
língua, aventada, mas não bem desenvolvida pelo mestre genebrino, foi bastante enfatizava por Bakhtin.
Para este, a língua é uma atividade social cuja função central é comunicar. E nesse processo, há um
conjunto de elementos que envolvem a língua tais como a enunciação, próprio do processo linguageiro, a
ideologia, inerente a todo signo linguístico e a variação de estilo ou registro, reflexo das mudanças sociais
que resvalam no léxico e formatam a língua.

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Dos pensamentos bakhtinianos legados e reaproveitados pelos linguistas, talvez a tese do dialogismo
seja sua contribuição mais significativa. Sendo a língua um trabalho de parceria entre interlocutores que
se alternam no papel de enunciador e coenunciador, ambos enunciam, trocam, dialogam. Em outras
palavras, a linguagem seria, no entender de Bakhtin, essencialmente dialógica. Todo ouvinte, ao buscar
um sentido para determinado enunciado, adota uma postura responsiva ativa: concorda, discorda ou
completa o que ouve. O ato de o ouvinte planejar mentalmente uma resposta a um falante que proferiu
um enunciado verbal evidencia o dialogismo da linguagem que subjaz a todas as formas interativas e
comunicacionais, ainda que seja um monólogo, enunciados pronunciados por um único falante. Este, por
sua vez, sempre espera obter do ouvinte uma compreensão responsiva ativa que pode ocorrer tanto
através de uma resposta fônica quanto por meio de uma ação concreta, gesto ou execução de uma
ordem.

Nos anos 1950 e 1960 surge uma série de áreas de estudo que tomam a linguagem como objeto central
de investigação perpassada por diferentes vieses de outros domínios do saber. Certamente todas essas
novas áreas guardam um compromisso com a necessária e propalada interdisciplinaridade, mas muito
pouco praticada pelos diversos campos da ciência. Em cena aparecem a Sociolinguística, Psicolinguística,
Análise do Discurso, Análise da Conversação e a Linguística de Texto, entre outras.

ATIVIDADE 1

Explique com suas palavras as três características da língua postuladas por


Saussure que influenciaram diretamente o estudo científico da linguagem verbal
e principalmente os estudos do texto. Para isso, você deve escrever até cinco
linhas.

ATIVIDADE 2

Qual seria a relação entre o surgimento do Funcionalismo com o nascimento da


Linguística de Texto? Sintetize suas idéias entre 6 (seis) e 8 (oito) linhas.
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ATIVIDADE 3

Qual teria sido a contribuição indireta de Mikhail Bakhtin para o surgimento da


Lingüística de Texto? Seu comentário não deve ultrapassar 10 (dez) linhas.

4. Texto como ponto de partida da Linguística


Textual

Vimos, então, que a Linguística de Texto nasceu da perspectiva funcionalista e dentro de um contexto em
que os estudos voltados para o uso e funcionamento comunicativo da língua ganharam força. Logo, a
preocupação desta nova disciplina foi e continua sendo conhecer como os usuários da língua produzem e
entendem enunciados inseridos em texto e como eles poderiam produzir melhor tais textos ao conhecer e
dominar os diversos recursos e mecanismos da linguagem.

O surgimento da LT marca uma mudança significativa nos estudos da linguagem, pois até a Teoria
Gerativa Transformacional de Chomsky, estudavam-se apenas palavras ou frases soltas, todas elas fora
de um contexto real muitas delas criadas pelo teórico-pesquisador . O texto, nas modalidades oral e
escrita da língua, passou a ser a unidade de análise do linguista.

NOTA

O exemplo clássico é a famosa frase totalmente artificial nos trabalhos de linha


gerativa: “Idéias verdes incolores dormem furiosamente”. O que ela significa?
Não se sabe, mas foi bastante usada pelos gerativistas para analisar sua
estrutura profunda.

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Segundo Marchuschi (2008), não haveria limite para a exploração de qualquer tipo de problema
linguístico se tomássemos a categoria texto, em ambas as modalidades, como ponto de partida para o
estudo da linguagem sob diferentes perspectivas teóricas. Para ele, com base em textos, é possível
trabalhar temas como:

a) Questões sobre o desenvolvimento histórico da língua;

b) Língua em seu funcionamento autêntico e não simulado;

c) Relações entre as diversas variantes linguísticas;

d) Relações entre fala e escrita no uso real da língua;

e) Organização fonológica da língua;

f) Problemas morfológicos em seus vários níveis;

g) Funcionamento e a definição de categorias gramaticais;

h) Padrão e a organização das estruturas sintáticas;

i) Organização do léxico e a exploração do vocabulário;

j) Funcionamento dos processos semânticos da língua;

k) Organização das intenções e dos processos pragmáticos;

l) Estratégias de produção textual e questões de estilo;

m) Progressão temática e organização tópica;

n) Questão da leitura e da compreensão;

o) Treinamento do raciocínio e da argumentação;

p) Estudo dos gêneros textuais;

q) Treinamento da ampliação, redução e resumo de texto;

r) Estudo da pontuação e da ortografia;

s) Problemas residuais da alfabetização.

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O autor ressalta que esta lista não é completa nem exaustiva, mas indica toda a potencialidade e
diversidade de pesquisas linguísticas a serem feitas a partir de textos.

4.1 Definições de texto

O primeiro grande desafio da Linguística Textual foi estabelecer um


conceito de texto que fosse consensual. Koch (2002, 149) afirma que
várias concepções de texto foram surgindo ao longo da história desta
disciplina, entre elas estão:

1. Texto como frase complexa - com fundamentação gramatical;

2. Texto como expansão tematicamente centrada nas macroestruturas


- com base semântica;

3. Texto como signo complexo - com fundamentação semiótica;

4. Texto como ato de fala complexo - com pressuposto pragmático;

5. Texto como discurso “congelado”, produto acabado de uma ação discursiva - de base discursivo-
pragmática;

6. Texto como meio específico de realização da comunicação verbal - com inspiração comunicativa;

7. Texto como verbalização de operações e processos cognitivos - de fundamentação cognitivista.

Como você pode notar, cada uma das definições de texto acima está ligada a diferentes áreas dos
estudos da linguagem, por isso há pouco consenso quanto à escolha de uma única definição do que seja
texto que satisfaça a todas as áreas para as quais ele é essencial.

No início dos estudos da Linguística Textual, a maioria dos estudiosos fazia análise transfrásica e
esforçava-se para elaborar uma “Gramática do Texto”, tomando, para isso, a coesão como fenômeno
central a ser investigado. Coesão se confundia com coerência e ambas eram consideradas propriedades
essenciais para caracterizar um conjunto de palavras como um texto de boa qualidade.
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Na década de 1980, o foco dos estudos da LT foi o fenômeno da coerência que não foi mais tomada
como uma qualidade ou propriedade do texto propriamente dita. A coerência seria um fenômeno maior e
deveria ser construída por cada leitor de acordo com o contexto de interação e em razão de vários
fatores de natureza não só linguística, mas também cognitiva, social, cultural e interacional.

Publicações posteriores admitiram que coesão e coerência são tão importantes nos textos como os
demais fatores que constituem a textualidade tais como: informatividade, situacionalidade,
intencionalidade, intertextualidade, aceitabilidade, contextualização, focalização, consistência e
relevância.

Já na década de 1990, a ênfase dos estudos do texto recaiu sobre o aspecto sócio-cognitivo cujos
trabalhos de Van Dijk, Kintsch, Beaugrande, Koch e Marcuschi acentuaram essa tendência.

Os temas de pesquisa com os quais os teóricos da LT vêm trabalhando atualmente são:

A» Organização global do texto que vai muito além da coesão e da


coerência;

B» Aspectos sociais e cognitivos envolvidos no processamento das


informações na produção e leitura do texto;

C» Processos de inferência e referenciação;

D» Ativação de conhecimentos prévios e de mundo;

E» Relação entre as modalidades falada e escrita;

F» Descrição de gêneros textuais;

G» Caracterização dos novos gêneros digitais nascidos com a Internet.

Esses temas serão tratados com mais detalhes ainda neste módulo. Por hora, vamos voltar a uma
questão importante nos estudos da LT que é a definição de texto.
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A mais recente definição de texto e que tem sido bastante adotada pelos estudiosos da LT tem sido a que
consta na obra Novos Fundamentos para uma Ciência do Texto e do Discurso: Cognição, Comunicação e
Liberdade de Acesso ao Conhecimento e à Sociedade, de Robert de Beaugrande. O livro, publicado em
1997, entre outras questões, destacou dois fatos sobre os estudos textuais: de um lado, a ratificação do
aspecto cognitivo e sua relevância no processamento textual, e de outro, um abandono inicial dos
princípios de textualização como critérios necessários a todo texto propostos pelo mesmo autor nos idos
de 1981 contidos na obra Introdução à Lingüística Textual.

Segundo Beaugrande (1997), texto é:

“UM EVENTO COMUNICATIVO NO QUAL


CONVERGEM AÇÕES LINGÜÍSTICAS, COGNITIVAS
E SOCIAIS”.

Ele vai mais além quando diz que “um texto não
existe como texto a menos que alguém o processe
como tal”.

Adotamos doravante essa definição de texto de Beaugrande por acreditarmos ser ela a que mais
contempla as descobertas recentes da Ciência da Linguagem como um todo e dos estudos do texto até o
momento.

Além disso, definir texto com um evento comunicativo põe em relevo os objetivos da aprendizagem da
produção e das formas de interpretação de texto na escola. Parece consenso entre os professores de
Língua Portuguesa que os objetivos principais desta disciplina seja: desenvolver a competência
comunicativa no sujeito-aprendiz.

Do mesmo modo, parece aceito pelos docentes que lecionam esta disciplina, afinados com a perspectiva
científica da Linguística, que os objetivos específicos para ela sejam:

● Fazer o aluno dominar a língua nas modalidades oral e escrita;

● Ampliar a capacidade de analisar criticamente e argumentar convincentemente um fato ou opinião;

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Certamente, para que isso aconteça, será preciso que as aulas de Língua Portuguesa sejam menos
normativas e mais reflexivas. Mas essa é uma questão para ser discutida em outra disciplina como a
disciplina de Prática de Ensino de Português, umas das últimas do curso de Licenciatura em Letras,
quando deveria ser uma das primeiras.

ATIVIDADE 4

Faça uma análise da evolução na definição de texto desde o nascimento da


Linguística Textual até o presente. Aponte possíveis razões para que a definição
de texto fosse se modificando ao longo da história. Sua resposta deve se conter
a oito linhas.

ATIVIDADE 5

Formule sua própria definição de texto considerando as necessidades práticas


dos usuários da língua, que são: produzir seus próprios discursos e avaliar
criticamente os discursos alheios. Limite-se a utilizar o máximo de seis linhas
para essa resposta.

ATIVIDADE 6

Qual seria a contribuição da Linguística de Texto para desenvolver a


competência comunicativa no aprendiz? Utilize até oito linhas para elaborar sua
resposta.

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estritamente pessoal. Para outra utilização, solicitar autorização prévia do titular dos direitos autorais.

 
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5. Texto e suas relações co(n)textuais

Aqui voltaremos nossa atenção ao estudo do texto em si e de suas características internas e externas, a
fim de conhecê-lo com mais profundidade e dominar os recursos linguísticos que os constituem.

O objetivo deste item é pensarmos sobre a importância de garantir a presença dos Princípios de
Textualidade que, no início dos estudos da LT, foram definidos como imprescindíveis a qualquer porção
de linguagem que aspirasse ao estatuto de texto. Dentre eles, havia dois Princípios de Textualidade que
eram tomados como elementos imprescindíveis a todo texto aos quais já nos referimos antes. Alguns
estudiosos diziam até que a ausência deles impediria que uma porção de linguagem verbal pudesse ser
classificado como texto. Trata-se dos fenômenos linguísticos: Coesão e da Coerência.

O gráfico a seguir, extraído de Marcuschi (2008, p. 88), ilustra bem a relação entre texto e Princípios de
Textualidade de uma maneira bem sistemática.

Textura

Relações Co-Textuais Relações Co(n)textuais

Texto Texto Texto Contexto

(Relações Internas) (Relações socioculturais e

situacionais específicas)

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A textura comporta dois tipos de relação: uma cotextual, ou seja, as relações internas entre as palavras
que compõem uma frase dentro de um texto, e outra, de natureza mais abrangente, contexto, que
transcende ao limite textual por envolver informações da cultura e da sociedade evocadas ou
pressupostas pelo autor/produtor/enunciador.

Trataremos inicialmente da Coerência e de suas condições de existência, para depois abordarmos os


recursos da língua que, em tese, garantiriam a amarração interna do texto, tecnicamente denominada
Coesão. Posteriormente, apresentaremos os demais Princípios de Textualidade.

5.1 Coerência textual

Trata-se da possibilidade de o leitor estabelecer um sentido para o texto. Ou seja, é o reconhecimento da


compatibilidade entre idéias e conceitos, supostamente presentes num dado texto, que permite ao leitor
acompanhar a continuidade de um raciocínio desenvolvido por um autor/produtor/enunciador.

A coerência não está exclusivamente no texto, não depende somente do autor/produtor/enunciador; ela
é construída pelo leitor/coproudutor/coenunciador a partir das marcas linguísticas presentes no texto.
Cabe ao leitor, portanto, reconhecer as pistas, interpretá-las e amarrá-las a fim de dar sentido possível e
plausível ao que vai ler.

A coerência de um texto não repousa só na sua estrutura linguística nem apenas na clareza das idéias e
raciocínios construídos pelo autor, mas depende fundamentalmente de processos que têm muito a ver
com o leitor, tais como:

• Seu domínio dos recursos da língua e do gênero textual lido;

• Suas intenções e projetos de leitura com o texto escolhido;

• Seus conhecimentos prévios sobre o tema da leitura;

• Sua relação com o autor e informações que detém sobre ele;

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• Sua posição social, profissional e intelectual em relação à do autor;

• Sua percepção do jogo político e ideológico envolvido no texto;

• Seu conhecimento das regras sócio-culturais em vigor.

Em geral, quando lemos enunciados contraditórios, que dificultam imediatamente nossa compreensão,
dizemos que houve uma incoerência, semelhantemente ao podemos identificar no enunciado a seguir,
quando alguém diz:

“Eu estou mentindo agora”.

Essa frase seria verdadeira ou falsa? Se for verdadeira, não merece crédito, mas se for falsa, será ao
mesmo tempo verdadeira, logo digna de crédito.

Na mesma perspectiva de raciocínio, se um brasileiro disser:

“Os brasileiros são mentirosos”.

Essa frase seria falsa ou verdadeira? Será falsa, se verdadeira, e verdadeira, se falsa. Complicado, não é?

Esse fenômeno lógico foi denominado de “Paradoxo do mentiroso” por um filósofo


grego chamado Parmênides. A quebra da lógica nestas frases deixa-as
aparentemente incoerentes. Mas se a intenção do autor for mesmo confundir o leitor
ou levá-lo à aceitação de que a linguagem natural é mesmo muito imprecisa, cheia de
ambiguidades e até muito divertida, ambos os exemplos poderão ser tomados como
coerentes para os objetivos pretendidos. Caberá ao leitor perceber ter sido uma
dessas a intenção verdadeira do autor.

Para ilustrar essa possibilidade, vejamos o que ocorre com as recomendações e cuidados na escrita de
uma redação no vestibular fornecidos por um dos manuais de cursinhos preparatórios para concursos
vestibulares:

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1» “Evite os lugares comuns como o diabo foge da cruz.”

2» “A voz passiva deve ser evitada.”

3» “Nunca generalize. Generalizar é sempre um erro.”

Antes de julgarmos as frases 1, 2 e 3 como contraditórias, já que, como você deve ter percebido, elas
transgridem às próprias regras que anunciam, poderemos entendê-las como exemplos da própria
recomendação. Assim, seriam incoerências propositais que, neste caso, devem ser percebidas pelo
leitor como estratégias de autoexplicação.

Certas piadas também são bons exemplos de como a quebra da lógica ou da expectativa leva-nos à
compreensão do gracejo pela identificação da incoerência própria deste gênero textual.

E1: No diálogo entre o terapeuta e sua paciente, o primeiro pergunta:

– Quantas vezes a senhora cometeu suicídio?

- Quatro! Respondeu a paciente.

Ora, ao cometer o primeiro suicídio, a paciente já teria morrido, portanto, não poderia estar na terapia ou
responder a qualquer pergunta. Se a locução verbal utilizada pelo terapeuta fosse “tentou cometer”,
poderia ainda haver possibilidade de aquela senhora responder a pergunta, pois poderia ter tentado
suicídio e não ter conseguido. No caso, o verbo empregado foi “cometeu”, que encerra uma ação. Por
isso, não há qualquer coerência neste diálogo. Mas é exatamente a incoerência que constitui a “lógica” de
funcionamento da linguagem na maioria das piadas.

Por outro lado, o excesso de informação sobre determinados fatos também pode levar o leitor a
estranhar e a buscar o sentido pretendido pelo autor quando este verbaliza uma obviedade. O exemplo
que segue mostra bem isso.

E2: O juiz, com a fotografia na mão, pergunta ao depoente:

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- Este é o senhor?

- Sim, meritíssimo!

- O senhor estava presente nesta cena quando a foto foi tirada, certo?

A confirmação do depoente de que é ele mesmo que está na fotografia mostrada pelo juiz evidentemente
dispensaria a pergunta seguinte elaborada pelo magistrado, não é verdade?

Por esses exemplos, podemos perceber quanto é importante para o autor deixar organizadas as pistas
linguísticas e interacionais tão necessárias para que sua intenção comunicativa seja “pescada” pelo leitor.
A este cabe a responsabilidade maior de recuperar a intenção daquele. O leitor deve ainda:

1» Lançar mão de seus conhecimentos sobre a língua e sobre a cultura;

2» Recorrer a dados armazenados na memória sobre o tema, sobre o


autor;

3» Contextualizar o momento histórico em que o texto foi dito ou escrito


etc..

Sem acionar esse complexo processamento cognitivo, será impossível para o leitor enxergar coerência no
texto e muito menos entendê-lo em sua totalidade.

É comum pessoas fora de sua área de atuação profissional terem muita dificuldade de entender certos
jargões técnicos ou acompanhar o estilo e a forma de registro próprias de outra área com a qual não tem
afinidade. Em geral, o estranhamento das palavras usadas e das formas de elaboração é bem natural
pela falta de costume com aquele conjunto de conhecimentos, por isso a sensação de que a leitura de
certos textos soam incoerentes. Logo, não é o texto em si que está incoerente, mas o leitor é que não
domina o assunto abordado e a terminologia nele utilizada.

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5.1.1 Fatores de coerência

Sabemos que há alguns fatores que colaboram para a percepção da coerência de um texto pelo leitor que
devem ser cuidadosamente empregados pelo autor no momento em que elabora sua produção verbal.
São eles:

a) Elementos Linguísticos

As palavras selecionadas para o texto acionam conhecimentos e oferecem pistas que ajudam o leitor a
captar o sentido pretendido pelo autor, sua linha argumentativa e sua conclusão. A escolha de palavras
do mesmo campo semântico e a posição dela no enunciado podem gerar interpretações curiosas como as
seguintes:

E3: Ronaldinho brilha em coletivo da seleção brasileira.

(mesmo campo semântico)

E4: Seleção com (novas) atletas (novas) ganhou (boas) jogadoras (boas).

(posições do adjetivo)

Em E2, as palavras que fazem parte do campo semântico do futebol, tais como Ronaldinho, coletivo e
seleção, facilitam o sentido pretendido com a utilização das palavras brilha e coletivo. O verbo Brilhar
está aqui significando destacar-se, enquanto coletivo se refere a um tipo de treino realizado com todos os
jogadores simulando uma partida real de futebol. Descartamos, portanto, o sentido de ‘reluzir’ para
brilhar e o sinônimo ‘ônibus’ possível para coletivo. Tais sentidos “literais” passam a ser eliminados pelo
cotexto, ou seja, pelas palavras adjacentes que estão apontando para o domínio de conhecimento da
prática esportiva do futebol.

Já em E4, a posição dos adjetivos em relação aos substantivos a que se referem muda o sentido da frase.
Antecedendo o substantivo, o adjetivo ‘novas’ enfatiza o aspecto subjetivo a ser referido pelo autor para

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a palavra “atletas”. Se colocado depois do substantivo, a ênfase recai no aspecto mais objetivo, concreto
do adjetivo. O mesmo acontece com o adjetivo ‘boas’ em relação ao substantivo “jogadoras”.

Fica clara, assim, a importância de usar palavras do mesmo campo semântico e escolher o melhor
posicionamento de cada uma delas no enunciado a fim de facilitar a compreensão do leitor ao acessar a
informação no texto, evitando interpretações indesejadas.

b) Conhecimento de Mundo

Todas as informações que recebemos pelos órgãos do sentido (visão, audição, olfato, gustação e tato)
são armazenadas na nossa memória e compõem nossa enciclopédia mental. As experiências vividas,
textos lidos, filmes vistos e músicas ouvidas são arquivadas em nossa mente, de modo que, ao lermos
um texto, sua compreensão dependerá da recuperação das informações lá guardadas e dessa forma
estabelecermos relações com o que já sabemos sobre o tema.                           
não romanos, incivilizados sem fé cristã

E5: “O repúdio aos bárbaros, bem como o escárnio aos mouros “infiéis” são a gênese dos sentimentos
que hoje explodem em “skinheads”...”

Grupo de neonazistas

Em E5, as palavras em destaque exigem do leitor um conhecimento de história geral e contemporânea,


pois, para compreender as críticas sutis inseridas neste enunciado, seria preciso saber que os bárbaros
eram considerados, durante o Império Romano, todos aqueles que não possuíam o título de cidadão de
Roma, logo eram indivíduos sem civilização, sem educação e desprovidos de sensibilidade. Eram
impiedosos e cruéis. A palavra mouro por sua vez tem carga semântica negativa quando relacionada ao
aspecto religioso, pois eram aqueles sem o dom da fé cristã e por isso rejeitados na Roma Antiga.
Contemporaneamente são os skinheads que merecem o desprezo de todos os cidadãos sensíveis, em
razão da defesa dos ideais nazistas, atos de intolerância contra minorias étnicas e práticas de violência
física contra homossexuais efetuadas por membros deste grupo.

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Vemos, portanto, a relevância de nós, produtores e leitores de texto, nos mantermos informados sobre
os fatos passados na história e os acontecimentos contemporâneos, a fim de encontrarmos sentido nas
palavras usadas em um determinado texto, e, dessa forma, extrairmos dele tanto um prazer intelectual
de reconhecer a riqueza vocabular que faz emanar a bagagem cultural do autor, quanto o prazer estético
de ler enunciados bem construídos que saem do trivial, do “lugar comum”.

c) Conhecimento Partilhado

As pessoas que vivem em um mesmo contexto social, político, econômico e cultural tendem a
compartilhar um conjunto de saberes e valores. Assim, para que haja interação e compreensão entre dois
interlocutores, por meio de um texto, ambos devem partilhar alguns desses conhecimentos.

Outra coisa muito importante no momento da produção de um texto é o autor saber equilibrar as
informações partilhadas com as informações novas, a fim de evitar que o texto se torne repetitivo e
circular ou até incompreensível para o leitor.

As palavras destacadas em E5 (bárbaros, mouros e skinheads) não são explicadas pelo autor, mas há
sinônimos ao seu lado, logo ele pressupõe já serem conhecidas ou partilhadas por seu possível leitor em
razão do tema, do contexto e do seu provável nível cultural. Contudo, se as mesmas palavras de E5
fossem dirigidas a leitores sem conhecimentos prévios adquiridos na família, escola, meios de
comunicação, livros, internet etc., ser-lhes-iam tais palavras de difícil compreensão e o texto lhe
pareceria incoerente.

Assim, o autor deve antever e idealizar quem será seu leitor, quais os saberes necessários para se
entender as expressões e referências a fatos históricos e acontecimentos atuais que constaram do texto.
Ponderar a qualidade da seleção vocabular e informacional do texto em função do nível de escolaridade,
do gênero do leitor - se masculino ou feminino -, da faixa etária e das tradições e valores morais do
leitor. Tudo isso pode ajudá-lo a obter o desejado sucesso da interpretação exatamente como esperada.

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Para todo produtor de texto, esse talvez seja o cálculo mais difícil de equacionar em razão das muitas
variáveis a controlar e da heterogeneidade de leitores que se interessarão pelo tema do texto em
diferentes momentos e lugares do planeta aos quais o texto possa chegar. Se pensarmos em hipertexto
então essa equação se complexifica muito mais.

d) Inferências

Como vimos antes, todo leitor deve estar atento o tempo inteiro para relacionar as informações que
veicula a fim de fazer o leitor chegar a uma conclusão razoável, levando em consideração quem, quando,
onde, como e por que disse o que falou ou escreveu. Um autor nunca consegue dizer tudo o que deveria
ser dito para ser compreendido sem equívoco. Se tentasse explicitar tudo, possivelmente seu texto ficaria
muito previsível e chato de ser lido, correndo o risco de ser abandonado pelo leitor antes que chegue ao
fim da leitura. Logo, é desejável que os textos tenham “lacunas”. São elas que permitem ao leitor fazer
inferências, vinculações, ilações. Veja o exemplo abaixo.

E6: Apesar de existirem severas leis brasileiras contra o preconceito, ele continua ocorrendo
de forma velada em nossa sociedade.

A pergunta imediata que o leitor busca responder é: o que esse enunciado quer dizer em suas
entrelinhas? Em outras palavras, quais inferências devem e podem ser feitas a partir da leitura deste
enunciado? Vejamos algumas delas:

1» Há preconceito no Brasil.

2» Há leis brasileiras que punem manifestações de preconceito.

3» As leis não são suficientes para acabar com o preconceito velado ou


implícito na sociedade.

4» Para eliminar totalmente o preconceito, devem-se criar maneiras de


punir também o preconceito velado que há na sociedade brasileira.

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As inferências 1, 2 e 3 são baseadas no que está dito claramente no enunciado, pois requer apenas que o
leitor reconheça as informações e as relacione para chegar às conclusões evidentes. No entanto, a
inferência 4 é possível ser feita, mas não é necessária, já que o enunciado não explicita que o
preconceito deve ser eliminado. Esse é o ideal de uma sociedade humana democrática, mas não foi
evidenciado na elaboração linguística do seu autor, ficando, por conseguinte, a cargo do leitor que com
esta tese venha a se identificar.

ATIVIDADE 7

O que é coerência textual? Justifique sua definição com um exemplo próprio.


Use no máximo seis linhas nesta resposta.

ATIVIDADE 8

Quais fatores contribuem para a coerência textual e como eles fazem esse
trabalho? Use até linhas para sua resposta.

ATIVIDADE 9

Com base na leitura do texto 01 (ver abaixo), aponte as alternativas que


apresentam coerência com a totalidade das ideais nele desenvolvidas. Explique a
razão da incoerência nas alternativas equivocadas.

a) A melhoria na qualidade do ensino não adiantou nada.

b) Uma das causas da melhoria foi o aperfeiçoamento dos currículos.

c) A sociedade tem pressionado os alunos a abandonarem a escola.

d) A melhora na qualidade da educação ocorreu porque a meta para 2007 foi


atingida.
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e) O drama dos alunos é participar de uma corrida.

h) O MEC, além de executar planos para educar, avalia o nível da educação


implantada.

i) Se o Brasil alcançar a meta até 2022, a educação brasileira chegará ao nível


dos países em desenvolvimento.

j) Aprender a acompanhar a qualidade de ensino é o maior ganho até agora da


educação brasileira desde que o MEC estabeleceu a meta a ser alcançada até
2007.

ATIVIDADE 10

Identifique, nos fragmentos do texto 01 (ver abaixo), o termo que esteja


provocando incoerência e, em seguida, substitua-o por outro que resolva o
problema.

a) “Há quem argumente (e com razão) que a meta estabelecida para 2007 era
baixa. Com isso, se dificultou o pulo para 2009.”

b) “Fixamos para 2022 atingirmos a meta dos países em desenvolvimento. Só


que, nesse ano, esses países estarão mais avançados ainda.”

ATIVIDADE 11

Apresente duas inferências que podem ser extraídas com base no seguinte
fragmento considerando a totalidade do texto 01 (ver abaixo).

a) “A melhoria pode ser atribuída a uma série de fatores”.

b) “Nosso drama é que existe uma corrida.”

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ATIVIDADE 12

Releia o texto 01 (ver abaixo), identifique nele e transcreva seis palavras do


campo semântico da educação. Em seguida, sugira sinônimos para todas elas de
modo que as substituições não comprometam o sentido original do texto.

TEXTO 1

MELHOROU, MAS ESTÁ PÉSSIMO

O ranking de qualidade do ensino (Ideb) divulgado pelo Ministério da Educação


pode ser comemorado porque se atingiu uma meta prevista para 2009. Mas
ninguém pode se iludir - o resultado é péssimo. Terrivelmente péssimo: os
jovens saem da escola, no final do ensino médio, sem saber ler e escrever
direito.
A melhoria pode ser atribuída a uma série de fatores: 1) os esforços de
governos para formar os professores e aprimorar os currículos; 2) a valorização
das metas; 4) pressões de toda a sociedade para evitar o abandono; 4) por
questões demográficas, há menor taxa de natalidade, logo menos pressões por
matrícula no ensino fundamental.
Há quem argumente (e com razão) que a meta estabelecida para 2007 era
baixa. Com isso, se facilitou o pulo para 2009. Nosso drama é que existe uma
corrida. Fixamos para 2022 atingirmos a meta dos países em desenvolvimento.
Só que, nesse ano, esses países estarão mais avançados ainda.
A grande notícia, essa sim extraordinária, é como a educação brasileira está
aprendendo a acompanhar qualidade de ensino --esse tipo de indicador é o que
vai municiar a pressão crescente dos cidadãos.

Gilberto Dimenstein (Jornal Folha On-Line em 11/06/2008, adaptado)

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5.2 Princípios de textualidade

Os Princípios de textualidade hoje não são mais considerados essenciais para caracterizar uma porção
linguística como texto tais como foram no passado (Beaugrande 1981). Não são mais tomados como
regras rígidas, necessárias e suficientes para a boa formação de um texto. Agora Beaugrande postula tais
Princípios funcionando como critérios de acesso à produção de sentido, sendo uns mais relevantes que
outros e alguns até mesmo redundantes.

Sabemos que, juntamente com os recursos de explicitação da coerência e dos mecanismos que
constroem a coesão, tais princípios são recomendáveis em um texto, pois evidenciam o ponto de vista do
autor e podem facilitar a inteligibilidade do texto para o leitor.

Em geral, é possível identificar na maioria dos textos, os seguintes componentes:

Sujeito-Autor » quem diz/produz o texto

Tópico/Assunto » o que se diz/produz no texto

Sujeito-Leitor » para quem se diz/produz o texto

Objetivo/Finalidade » para que se diz/produz o texto

Modo » como se diz/produz o texto

Circunstâncias Temporais » quando se diz/produz o texto

Circunstâncias Espaciais » onde se diz/produz o texto

Dessa forma, percebemos que esses elementos estão presentes no texto e devem ser recuperados pelo
leitor. Alguns estudiosos da linguagem chamam tecnicamente esses fenômenos contidos nos textos de
Princípios de Textualidade. São eles:

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1. INTENCIONALIDADE

Todo texto tem uma intenção, um objetivo, uma motivação. O autor deixa pistas verbais com a intenção
que o motivou a fazer aquela produção textual. Cabe ao leitor acessar as pistas deixadas e encontrar a
intenção do autor. Assim, toda leitura passa a ser uma operação de “caça ao sentido” pretendido pelo
autor, como já bem disse Dascal (apud Koch, 2002).

Em geral, quem escreve o faz com alguma finalidade seja ela fazer-crer, fazer-agir, fazer-pensar, fazer
sorrir, ensinar, emocionar, desabafar entre outras. Nas linhas ou nas entrelinhas do texto, as razões que
motivaram sua escrita devem ser inseridas pelo autor e necessariamente recuperadas pelo leitor. Por
exemplo, você já percebeu qual o objetivo desta nossa disciplina? Certamente você já deve ter sacado
que buscamos fazer você compreender o que é, o que faz e como a Lingüística Textual pode melhorar
seu comportamento verbal e o de seus futuros na prática de produção e compreensão de textos.

2. ACEITABILIDADE

Este princípio de textualidade tem a ver com a verdade e qualidade das informações presentes ao texto.
Todo autor deveria sempre dizer a verdade, a fim de que a adesão às idéias e fatos mencionados ocorra
sem resistência ou questionamentos. O leitor normalmente concede um “crédito de confiança” ao autor,
desde que este não afirme coisas inaceitáveis como, por exemplo, “A Terra é quadrada” ou “O sol nasce
no oeste”.

Afirmações que beiram ao absurdo lógico do funcionamento natural do mundo em gêneros textuais não
ficcionais marcam negativamente o texto e consequentemente o autor. A falta de credibilidade ameaça a
continuidade da leitura e pode levar até seu abandono completo por parte do leitor e isso é tudo que o
autor teme.

3. SITUACIONALIDADE

Refere-se à pertinência e à adequação do texto ao contexto. Este princípio textual tem a ver com
elementos como:

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● Modo de abordagem do tema, se sério ou descontraído;

● Grau de formalidade da linguagem usada (nível culto ou coloquial da língua);

● Variante padrão ou popular da escrita exigida pelo contexto;

● Registro ou estilo (simples ou sofisticado) empregado na elaboração do texto, tendo em vista o gênero
textual construído, o nível intelectual do interlocutor, sua posição social, sua faixa etária e seu gênero
sexual.

Em outras palavras, cada situação exige de todos nós falantes uma “roupagem” linguística específica e
adequada. Em geral não se costuma usar traje de banho para ir à colação de grau universitária, nem se
veste smoking para tomar banho de sol em praia ou beira de piscina.

Se alguém concorrer a uma vaga para professor de Português em uma escola, o nível de linguagem
esperado do candidato para esta função, na entrevista e na aula de seleção, certamente deverá ser o
formal culto, em variante padrão e com estilo sofisticado. Ele precisa demonstrar seus conhecimentos
linguísticos necessários a lecionar a língua materna. Além disso, todo professor de Português é visto
como um guardião, um modelo para os alunos, colegas e funcionários da instituição escolar de como
utilizar a língua materna em contexto formal. O curioso é que muitos esperam que o professor de
Português fale dentro da norma padrão até nas situações mais descontraídas de uso da língua.

Imagine um professor de Português que, no ambiente escolar, ao encontrar um colega de trabalho, o


cumprimenta dizendo:

- Diga aí, mermão, tu tá beleza, vei?

- E aí, coroa, tudo em cima? Tô ligado nas parada... Bote fé!

Expressar-se assim só é compreensível a um professor de Português quando em ambiente familiar e bem


descontraído com os amigos e muitos ainda olham-no desconfiados se é ou não um professor de
Português. Entretanto, em situações profissionais, essa forma de utilização da língua não será esperada

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nem recomendada a este profissional ou a qualquer outro usuário da Língua Portuguesa que queira
preservar sua boa imagem diante das pessoas que o cercam.

4. INFORMATIVIDADE

Ela tem a ver com a quantidade das informações distribuídas no texto, principalmente as informações
novas. Um texto será mais informativo quanto mais imprevisível for para o leitor. Do mesmo modo, será
menos informativo, quanto mais conhecido se mostrar a ele. Logo, convém ao autor balancear sempre as
informações velhas (conhecidas) com novas ao elaborar seu texto; as primeiras situam o leitor no
universo criado ou sugerido pelo autor, enquanto que os dados novos despertam no leitor mais interesse
em continuar a leitura pelo desafio da descoberta de fatos inéditos.

Língua, para mim, é o produto de um trabalho social e


histórico de uma comunidade. É uma sistematização sempre
em aberto. Contém, caracteristicamente, processos de relativas
estabilidades e de instabilidades constantes. Esse movimento entre a
estabilidade e instabilidade constitui o que eu chamaria de
sistematização, que permite, por sua vez, o trabalho do novo com a
língua. É o produto de um trabalho do qual ela mesma é instrumento.
(...) É instrumento e produto do trabalho ao mesmo tempo.

João Wanderley Geraldi. In: Conversas com linguistas: virtudes e controvérsias


da linguística, XAVIER, Antonio Carlos & CORTEZ, Suzana. São Paulo: Parábola Editorial,
2005, p. 78.

No texto acima, o autor busca apresentar uma definição de língua e para isso utiliza termos como
“trabalho social e histórico”, “sistematização” e “instrumentos”, cujos conceitos são bem específicos para
a área dos estudos da linguagem. O autor, então, joga com esses termos repetindo-os a fim de
esclarecer seu ponto de vista aparentemente controverso, pois estabilidade e instabilidade aplicados ao
mesmo fenômeno levariam o leitor a identificar uma possível contradição. Mas o que ele ressalta é o fato
de a língua se constituir exatamente por essa dupla característica que a faz assumir a função de
instrumento e resultado da atuação do usuário sobre ela. Observamos, portanto, que o autor do texto
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acima revela tentar equilibrar dados velhos sobre um determinado termo com uma nova maneira de
concebê-los. Só um leitor familiarizado com a discussão sobre a definição de língua teria condições de
acompanhar a linha de raciocínio desenvolvida pelo autor neste trecho da entrevista.

Outro exemplo sobre a presença do princípio textual da informatividade pode ser observado facilmente
no fragmento abaixo de um artigo científico publicado em revista da área de economia.

Este artigo tem por objetivo analisar a natureza aleatória dos índices de
preços. Considerando particularmente a categoria dos Índices de
Preços ao Consumidor (IPC), parte-se do conceito teórico de Índice de Custo
de Vida, do IPC e de uma aproximação, para destacar os aspectos que tornam o
índice intrinsecamente estocástico. Além disso, o IPC está sujeito a imprecisões
decorrentes das diversas etapas de amostragem que o seu cálculo efetivo
requer. Utilizando dados do IPC-Fipe para o período de janeiro de 2006 a
dezembro de 2007, avalia-se o impacto do erro associado a amostragem de
informantes de preços sobre a precisão do índice.

Fonte: ANPEC - Associação Nacional dos Centros de Pós-graduação em


Economia. URL: http://www.anpec.org.br/revista/vol8/vol8n1p39_63.pdf

As palavras sublinhadas e com negrito no texto exigem um conhecimento específico do leitor sobre as
características de um artigo científico, gênero acadêmico que deve revelar resultados de uma pesquisa
científica, a qual se realiza conforme critérios determinados pela academia. Por outro lado, o texto se
insere no campo da ciência econômica e, por isso, apresenta termos e conceitos próprios deste universo.
A expressão “índices de preços”, as siglas “IPC” e “IPC- FIPE” e a palavra “estocástico” evidenciam o
domínio de conhecimento a que o autor e seu texto se vinculam. Dirigindo-se a seus pares cientistas, o
autor preocupa-se em usar um vocabulário conhecido por eles e informá-los sobre a conclusão de sua
análise, fato que justificaria a leitura do texto, ou seja, saber mais sobre o tema.

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5. INTERTEXTUALIDADE

Refere-se à relação explícita que um texto estabelece com outros textos (clássicos e de domínio público)
que trataram do mesmo tema. Esse diálogo com textos conhecidos e consagrados fortalece a composição
geral do texto garantindo consistência às idéias apresentadas pelo autor.

Esse princípio é praticamente inevitável, pois não há texto totalmente inédito, uma vez que as vozes dos
autores sempre se encontram e se fortalecem nos novos textos que são produzidos. A intertextualidade
articula a rede de afinidades temáticas, teóricas e até práticas que subjaz às idéias e desejos humanos
entre si.

Um dos textos brasileiros que mais recebeu intertextualidade foi o poema “Canção do Exílio” do poeta
Gonçalves Dias. Veja quantos outros poetas o citaram indiretamente ou simplesmente parodiaram os
versos saudosos de um brasileiro em terras lusitanas.

Gonçalves Dias Mário Quintana Oswald de Andrade

Minha terra tem palmeiras... Na permita Deus que eu morra


E em vez de um mero sabiá Sem que eu volte pra São Paulo;
Cantam aves invisíveis Sem que veja a Rua 15

Minha terra tem palmeiras Nas palmeiras que não há. E o progresso de São Paulo.

Onde canta o sabiá


Carlos Drummond de Andrade Murilo Mendes
As aves que aqui gorjeiam
Não gorjeiam como lá Um sabiá Minha tem macieiras da Califórnia
Na palmeira, longe. Onde cantam gaturamos de Veneza
Estas aves cantam [...]
Um outro canto Ai quem me dera chupar uma
[...] [...] carambola de verdade
Só, na noite, E ouvir um sabiá com certidão de
idade!
Seria feliz:
Um sabiá
Na palmeira, longe.

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Casimiro de Abreu Tom Jobim e Chico Buarque


Não permita Deus que eu morra
Sem que eu volte para lá, Eu nasci além dos mares: Vou voltar, sei que ainda

Sem que desfrutem os primores Os meus lares, Vou voltar para o meu lugar
Meus amores ficam lá! Foi lá e ainda lá
Que não encontro cá;
- Onde canta nos retiros Que eu hei de ouvir cantar
Sem qu’inda aviste as palmeiras, Seus suspiros, Uma sabiá, cantar uma sabiá.
Onde canta o sabiá. Suspiros o sabiá!

É exatamente a presença de trechos inteiros de outros textos ou até mesmo a inserção de conceitos ou
ideias já publicadas em um texto e agora recuperadas em outro é que caracteriza a intertextualidade.
Todo texto é intertextual, pois não há grau zero de originalidade na produção de texto em qualquer
gênero.

5.3 Articulação textual: coesão referencial e


sequencial

A partir daqui, vamos conhecer mais de perto como o texto pode ser articulado internamente, ou seja,
quais são os mecanismos disponíveis na língua que nos ajudam a concatenar as partes do texto de modo
e torná-lo coeso e fluente para o leitor.

Bom, mas o que é mesmo Coesão Textual?

Podemos dizer que COESÃO é a amarração interna de um texto realizada


por meio de elementos linguísticos que articulam palavras, frases e
períodos entre si, além de organizar os parágrafos em uma seqüência
textual. Esses elementos lingüísticos são geralmente utilizados para dar
mais expressividade e clareza às idéias do autor, e aumentar a
inteligibilidade do texto para o leitor.

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Características da Coesão:

A» É responsável pela estruturação superficial do texto;

B» Tem a ver com os processos de sequencialização que tornam


recuperáveis as ligações linguísticas significativas (KOCK 1989, p. 19);

C» Exerce a função de facilitadora da produção e recepção do sentido;

D» É desejável no texto, mas não é nem essencial nem suficiente à


textualidade, pois há textos sem coesão que continuam sendo textos;

Leiamos o texto abaixo observando especificamente os recursos linguísticos utilizados pelo autor para
fazer a articulação referencial entre as partes dos períodos e parágrafos.

ATENÇÃO

Os trechos destacados em amarelo são análises dos elementos de coesão (que


estão sublinhados).

Infância Furtada

O trabalho infantil representa o furto da perspectiva de progresso e (Conjunção que realiza uma
justaposição de ações entre as informações sobre o referente central ‘O trabalho infantil’) da infância no Brasil. São

condições miseráveis, conseqüência de fortes desigualdades sociais, que (Pronome relativo que retoma a
expressão ‘condições miseráveis’) propiciam a migração de crianças da escola para o trabalho

(Expressão nominal definida que se refere o referente, tema central do texto, posta em seu início, qual seja: ‘O

trabalho infantil’).

Essa exploração pueril (Retoma o referente central do texto recategorizando-o, isto é, adicionando-lhe
um conceito negativo “exploração”.) aniquila a educação e (Desta vez a conjunção ‘e’ justapõe duas ações

representadas pelo mesmo verbo ‘aniquila’, explícito no primeiro período e oculto ou elíptico no segundo; Ө é o
símbolo que representa essa elipse), por conseguinte (A conjunção ‘por conseguinte’ enseja a conseqüência

estabelecida entre duas ações, sendo a segunda (aniquilação da oportunidade de trabalho) efeito direto da primeira
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(Essa exploração pueril)), a oportunidade de progredir (Aponta para a consequência da ‘educação’, seu

referente anterior na cadeia textual); rouba o presente e o futuro de crianças que (Pronome relativo que se

refere a ‘crianças”) se vêem fadadas à mesma vida miserável de seus pais, causando não só (Operador

argumentativo que anuncia a existência de mais de um elemento a compor o quadro enunciativo desenhado pelo autor

que se complementa com o ‘mas também’) um grave ciclo de infortúnios, mas também problemas no

desenvolvimento físico e social desses adultos precoces (Expressão nominal definida que recategoriza o
referente ‘crianças’).

Só (Operador organizador do discurso que enfatiza o argumento defendido levando o leitor a considerar com
atenção a informação que será apresentada) um real crescimento econômico, aliado à dignificação das
condições trabalhistas e do salário-mínimo, seria capaz de suprimir a utilização criminosa de mão-de-
obra infantil (Outra expressão nominal definida que reclassifica o referente central do texto ‘trabalho infantil’).
Enquanto (Operador argumentativo que explicita a relação entre dois acontecimentos: ‘a espera por um milagre’ e a
‘participação no programa bolsa-escola’) esperam por este milagre, as famílias mais carentes participam de

programas como o “Bolsa-escola”, ajuda de custo às famílias dos estudantes; uma prática solução
(Expressão nominal indefinida que se remete à ‘Bolsa-escola’, manifestando a opinião do autor resumida pela escolha

do substantivo ‘solução’ e do adjetivo ‘prática’, formando o sintagma ‘prática solução’) que visa aliar a necessidade

de educar com a urgência de sobreviver.

A infância furtada pelo trabalho precoce (Expressão nominal definida que se refere ao ‘trabalho
infantil’ reclassificando-o) retarda o desenvolvimento do país e a esperança de um progresso igualitário. O

“país do futuro” (Remete-se ao termo ‘país’ posto anteriormente) extermina seu (Pronome possessivo que se
vincula a ‘país’) próprio amanhã, ao (Encerra a idéia de causa; se trocarmos a preposição ‘ao’ pela preposição ‘por’

(“por fechar os olhos para o presente de suas crianças, o país do futuro extermina seu próprio amanhã”),

perceberemos claramente que se trata de uma relação causal e não temporal, como poderíamos pensar

primeiramente) fechar os olhos para o presente de suas (Outro pronome possessivo que articula a relação entre

o país que permite que a infância (de suas crianças) seja furtada, como está indicado no título) crianças.

Fonte: Lucas Santos. Como se faz um texto: a construção da dissertação argumentativa. Catanduva: Rêspel, 2006, p. 55.

Observemos agora os destaques dos recursos linguísticos utilizados que realizam a articulação
sequencial entre as partes dos períodos e parágrafos.

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Podemos observar claramente as amarrações e articulações entre enunciados e entre os parágrafos no


texto acima. Os exemplos abaixo nos mostram como dois enunciados realizam a manutenção semântica
do referente, sendo que E1 o faz de modo explícito, utilizando para tal um pronome pessoal, enquanto
que em E2 a coesão é feita de forma implícita, deixando oculto o referente a ser recuperado pelo leitor.

E1: Muitas crianças brasileiras trabalham, quando elas deveriam apenas estudar.

E2: Muitas crianças brasileiras trabalham, quando deveriam apenas estudar.

Em E1, o pronome (elas) substitui a expressão nominal inteira (muitas crianças brasileiras), evitando,
desse modo, a repetição de toda a expressão na segunda oração.

Já em E2, a economia linguística é ainda maior. A coesão é feita pela Elipse, ou seja, pela ocultação do
elemento linguístico sem que haja prejuízo à compreensão do enunciado.

Analisemos agora os enunciados E3 e E4 que focam atenção no mecanismo da coesão, articulando a


argumentação entre as idéias expressas.

E3: O “país do futuro” extermina seu próprio amanhã, porque fecha os olhos para o presente de suas
crianças.

Entre as duas orações, há a conjunção porque que ali tem valor explicativo, apresentando a razão que
justificaria a afirmação do autor na primeira oração. Esse “operador argumentativo”, como tem sido
tecnicamente denominado, fundamenta o raciocínio apresentado, neutralizando um possível
questionamento do leitor que venha a discordar da afirmação contida na primeira oração.

E4: O “país do futuro” fecha os olhos para o presente de suas crianças, por conseguinte extermina seu
próprio amanhã.
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A conjunção por conseguinte veicula a informação da relação de consequência direta entre a primeira
sobre a segunda oração. Joga com a idéia de efeito entre as ações expressas em E4. Assim, elas são
articuladas para expor e defender o ponto de vista do autor, cabendo ao leitor percebê-lo e aceitá-lo.

Como vemos, a coesão pode funcionar tanto para costurar os termos no interior do enunciado mantendo
dessa forma o sentido do referente principal destacado pelo autor, como também pode funcionar
argumentando em defesa das idéias dele. Em outras palavras, os elementos coesivos povoam
estrategicamente a superfície do texto construindo sequencialmente a argumentação e encadeando
referencialmente os termos que o compõem.

Em síntese, o fenômeno da coesão textual opera, basicamente, de dois modos: referencial e


sequencialmente.

Vejamos primeiro exemplos práticos de como a Coesão Referencial acontece.

5.3.1 Coesão referencial

Relaciona dois termos entre si, como observamos em E1 e podemos constatar novamente em E5:

E5: O trabalho infantil é uma atrocidade. Esse crime tem que ser eliminado do Brasil.

Neste exemplo, temos um caso de ANÁFORA, em que a expressão definida (esse crime) remete-se à
expressão já posta (o trabalho infantil), levando o leitor a fazer um movimento referencial
retrospectivo, ou seja, para trás da cadeia textual.

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Entretanto, há também na linguagem outro fenômeno similar de direção inversa pelo qual o leitor é
levado a fazer um movimento referencial prospectivo, isto é, para frente da cadeia textual, buscando o
elemento-âncora mais próximo do fim do enunciado. A isto chamamos CATÁFORA, como podemos
verificar nos casos abaixo:

 
E7: Ele deveria ser erradicado do nosso país imediatamente, o trabalho infantil.

É possível também colocar um termo com função coesiva no lugar de outro ou de um enunciado inteiro já
posto na cadeia textual. Damos a este mecanismo de articulação textual o nome de SUBSTITUIÇÃO.
Vejamos os exemplos abaixo:

E8: Estudar deve ser uma das atividades primordiais de toda criança; brincar, outra.

E9: Certas ONGs lutam contra o trabalho infantil. O governo deveria fazer o mesmo.

E10: A exploração do trabalho infantil é crime. A inação do governo, também.

Note que, no caso de E8, o pronome outra substitui toda a expressão (uma das atividades
primordiais) posta no enunciado anterior. Em E9, um único pronome (mesmo) substitui um enunciado
inteiro (lutam contra o trabalho infantil). Em E10, o advérbio (também) toma o lugar de uma frase
nominal (é crime). Portanto, a substituição funciona tanto como um recurso coesivo quanto como um
mecanismo de economia linguística que garante a “amarração semântica” entre as partes internas do
texto.

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Há outras maneiras de fazer a coesão referencial, como as que são feitas através do uso de:

● ARTIGOS definidos e indefinidos:

E11: Devemos tomar uma atitude contra o trabalho infantil. A atitude imediata deve ser denunciar
judicialmente as empresas que exploram as crianças.

● NUMERAIS cardinais, ordinais, multiplicativos, fracionários:

E12: Medidas urgentes devem ser tomadas a favor das crianças. A primeira medida é eliminar o
trabalho infantil.

● PRONOMES pessoais, relativos, demonstrativos, possessivos, indefinidos, interrogativos:

E13: Crianças não devem trabalhar. Seus compromissos devem ser com o estudo e o lazer.

● ADVÉRBIOS com função pronominal, isto é, substituindo nomes (aqui, ali, lá, onde):

E14: O Estatuto da Criança é claro. Lá está escrito: “É proibido qualquer trabalho a menores de 14
anos, salvo na condição de aprendiz” (Capítulo V, Art.60.).

● EXPRESSÕES ADVERBIAIS tais como acima, abaixo, assim, desse modo, a seguir etc.:

E15: O trabalho infantil deve acabar. Cumpriremos, assim, o Estatuto da Criança.

● EXPRESSÕES NOMINAIS (são aquelas que têm como núcleo um nome ou palavra substantivada pelo
artigo definido ou indefinido):

E16: O trabalho infantil é um atentado às crianças. Hoje essa exploração pueril ainda acontece em
várias regiões do mundo.

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● NOMINALIZAÇÕES (trata-se do processo linguístico que transforma geralmente uma ação verbal em
um nome):

E17: Usar o trabalho das crianças tem sido comum em muitos lugares. O uso da mão-de-obra infantil
deve ser denunciado imediatamente.

● SINÔNIMOS (são termos semanticamente equivalentes, haja vista que não há sinônimos perfeitos):

E18: Às crianças cabe a brincadeira. Não se deve reservar o trabalho aos infantes.

● HIPERÔNIMOS (são termos de conteúdo geral que indicam uma classe ampla. Geralmente usados
como sinônimos na segunda posição de um texto):

E19: O Estatuto da Criança vigora desde 1990. Basta que se aplique a lei aos infratores.

● NOMES GENÉRICOS (São os nomes que representam conjuntos gerais, tais como: coisa, negócio,
trem, problema, pessoa, fato, fenômeno etc.):

E20: O trabalho na infância preocupa-nos. A coisa já passou dos limites.

IMPORTANTE

Através da retomada de um referente por expressões nominais, nominalizações,


sinônimos, hiperônimos, nomes genéricos etc., podemos embutir a nossa
opinião (apreciativa ou depreciativa) sobre o fato ou objeto referido.

E21: Não podemos mais tolerar o trabalho infantil. Temos que acabar com
esse absurdo.

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Observemos que a expressão definida “esse absurdo” expressa a opinião do


autor sobre o trabalho infantil, criticando-o ao selecionar a palavra “absurdo”
para substituir o referente principal do enunciado.

LEMBRETE

É importante não apenas memorizar os nomes dos fenômenos coesivos, mas


buscar compreender a relação semântica que eles produzem no encadeamento
do texto.

COESÃO REFERENCIAL

Artigos Expressões Nominais Sinônimos

Pronomes Expressões Adverbiais Hiperônimos

Numerais Nominalizações Nomes Genéricos

Advérbios Elipses

                   

ATIVIDADE 13

O texto dissertativo Infância Furtada tem explicitamente elementos de coesão.


Explique com suas palavras o que você entende por coesão referencial.

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ATIVIDADE 14

No enunciado: “O trabalho infantil representa o furto da perspectiva de


progresso e da infância no Brasil”, existe um termo que ficou elíptico, ou seja,
que foi apagado propositadamente para tornar o texto coeso. Qual foi este
termo?

ATIVIDADE 15

“Essa exploração pueril aniquila a educação e, por conseguinte, a


oportunidade de progredir”. Identifique a que se refere o termo em negrito e
classifique-o dentro dos elementos de coesão referencial estudados?

ATIVIDADE 16

Considere o enunciado: “rouba o presente e o futuro de crianças que se vêem


fadadas à mesma vida miserável de seus pais, causando não só um grave ciclo
de infortúnios, mas também problemas no desenvolvimento físico e social
desses adultos precoces.” Nele, há três elementos que se remetem ao referente
‘crianças’. Quais são eles?

ATIVIDADE 17

Dê continuidade aos fragmentos retirados do texto, tentando produzir


nominalizações com os verbos destacados, ou seja, transformando os verbos em
nomes, como, no exemplo a seguir:

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João conseguiu se eleger. Essa eleição foi ideal para dar início a sua carreira
política.

a) “Essa exploração pueril aniquila a educação e, por conseguinte, a


oportunidade de progredir”.

b) “Essa exploração pueril rouba o presente e o futuro de crianças.”

c) “As famílias mais carentes participam de programas como o “Bolsa-escola”.

ATIVIDADE 18

Una os enunciados abaixo, usando o único pronome relativo que, neste caso,
ao concordar com o seu antecedente, dispensa o uso da preposição:

- O concurso poderá ser adiado.

- Os personagens principais são os bacharéis em Direito.

5.3.2 Coesão sequencial

São os conectores da superfície textual que encadeiam enunciados por meio de operadores (conjunções,
advérbios e expressões de ligação) que estabelecem vários tipos de relações de sentido. A esses
elementos de articulação que carregam em si uma determinada orientação argumentativa chamamos de
OPERADORES ARGUMENTATIVOS.

Eles normalmente introduzem relações de:

a) JUNÇÃO

Acrescenta argumentos em favor de uma mesma conclusão, sendo os mais comuns: e, e nem, e
também, como também, mas também, tanto... como, além de, além disso, ainda etc.
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E1: O trabalho infantil representa o furto da perspectiva de progresso e (Conjunção que realiza uma
justaposição de ações entre as informações sobre o referente central ‘O trabalho infantil’) da infância no Brasil.

E2: Devemos denunciar o trabalho infantil, além disso (ou como também, mas também etc.) o governo
precisa oferecer educação de qualidade às crianças.

b) OPOSIÇÃO

Relaciona enunciados com orientações argumentativas opostas. Pode ocorrer por meio de dois processos:
coordenação adversativa e subordinação concessiva.

b.1) Coordenação Adversativa – Trata-se de um processo argumentativo que contrapõe enunciados


por meio dos operadores: mas, porém, contudo, todavia, entretanto, no entanto etc..

E3a: ONGs alertam contra o trabalho infantil. Mas o governo ignora o alerta.

E3b: ONGs alertam contra o trabalho infantil. O governo, porém (ou contudo, entretanto etc.), ignora o
alerta.

b.2) Subordinação Concessiva – Trata-se de processo argumentativo que contrapõe enunciados


através dos operadores: embora, ainda que, posto que, conquanto, apesar de, a despeito de, não
obstante etc.

E4: Embora as ONGs denunciem o trabalho infantil, o governo ignora o alerta.

c) CAUSA

Apresenta-se um dos enunciados como a causa ou a explicação para a ocorrência de um segundo


enunciado. Os principais operadores que introduzem a idéia de causa são:

c.1) Conjunções ou locuções conjuntivas – porque, pois, como, por isso que, já que, visto que,
uma vez que etc.

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E5: Devemos denunciar o trabalho infantil, porque (ou já que, visto que etc.) ele aniquila o futuro das
crianças trabalhadoras.

c.2) Preposições ou locuções prepositivas – por, por causa de, por motivo de, por razões de,
em virtude de, em vista de, devido a, em conseqüência de etc.

E6: Devemos denunciar o trabalho infantil, em virtude de (ou em razão de, devido a etc.) ele aniquilar o
futuro das crianças trabalhadoras.

E7: Em virtude de aniquilar o futuro das crianças trabalhadoras, devemos denunciar o trabalho infantil.

d) CONDIÇÃO

Introduz um enunciado como sendo a condição para a ocorrência de outro, constituindo a relação lógica
se-então. Os operadores com essa função são: se, caso, desde que, contanto que, a menos que, a
não ser que.

E8: Se você denunciar, o trabalho infantil acabará.

E9: A menos que (ou desde que, caso etc.) você denuncie, o trabalho infantil acabará.

e) COMPARAÇÃO

Estabelece uma relação comparativa de igualdade, superioridade ou inferioridade entre elementos


centrais dos enunciados. Usam-se os seguintes operadores para indicar esta comparação: tão... quanto,
tão menos... quanto, tão mais... quanto, tanto quanto, menos... (do) que, mais... (do) que.

E10: A denúncia contra o trabalho infantil é tão necessária para o país quanto o crescimento social o é.

E11: Proteger nossas crianças é mais importante do que obter progresso desordenado.

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f) FINALIDADE

Explicita o propósito da ocorrência de um dos enunciados, geralmente do primeiro colocado na sequência.


Seus principais operadores são: para, a fim de, com o objetivo de, com o intuito de, com o
propósito de, com a intenção de etc.

E12: As crianças devem estudar para ser um cidadão na sociedade em que vive.

E13: A fim de que de torná-lo um cidadão, as crianças devem estudar.

g) CONCLUSÃO

Anuncia o fechamento de um ponto da questão ou da discussão inteira, supondo a aceitação total da


premissa posta anteriormente. Os operadores usados para esse tipo de relação argumentativa são:
portanto, logo, então, assim, por isso, por conseguinte, de modo que, em vista disso, pois
(depois do verbo).

E14: A criança é o futuro de uma nação, portanto (ou logo, então etc.), protegê-la é preservar a própria
existência da nação.

LEMBRETE

Há muitas outras possibilidades de coesão sequencial por meio de conectores


que dão encadeamento ao discurso, principalmente explicitando argumentos de
pontos de vista que se defendem. Vejamos o quadro resumitivo abaixo:

COESÃO SEQUENCIAL

Operadores Organizacionais Operadores Argumentativos

Repetição lexical Relações Argumentativas de:

Paráfrases Oposição (mas, porém, todavia etc.)

Recorrência a tempos verbais Causa (porque, pois, já que etc.)

Marcadores espaciais e temporais Finalidade (a fim de, para etc.)


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(em primeiro lugar, em segundo lugar, Condição (se, caso, a menos que etc.)

como veremos, aqui na 1a parte etc.) Conclusão (logo, assim, portanto etc.)

Marcadores Conversacionais Adição (e, bem como, portanto etc.)

(né, bem, sabe etc.) Disjunção (ou)

Marcadores Metalingüísticos Exclusão (nem)

(isto é, por outro lado, com base nisso, Comparação (tanto quanto, menos,

quer dizer, por exemplo, segundo fulano etc.) do que, mais do que)

                       

ATIVIDADE 19

Explique com suas palavras o que é coesão referencial e cite dois exemplos.

ATIVIDADE 20

Escolha e assista a um programa de entrevista pela TV e anote 5 (cinco)


operadores argumentativos diferentes utilizados pelo entrevistado. Em seguida,
apresente operadores semanticamente equivalentes para cada um deles.

ATIVIDADE 21

Nas orações ligadas por operadores argumentativos que indicam oposição, há


uma relação de similaridade entre a oração coordenada adversativa e a oração
subordinada concessiva. Explique esta similaridade e elabore dois exemplos para
explicitá-la.

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ATIVIDADE 22

Escreva um texto com dez linhas cujo tema seja: “A PAZ MUNDIAL”. No texto
você deverá apresentar argumentos mostrando ideias de: condição,
comparação, oposição e finalidade.

5.4 A referenciação no texto

Em termos gerais, podemos dizer que a linguagem é um meio de relacionar signos a coisas reais ou
virtuais. Quando usamos a palavra oral ou escrita, estabelecemos uma relação entre um conjunto de
símbolos e algo concreto ou abstrato que desejamos comunicar a outro.

Ao dizermos, “O dia está lindo”, selecionamos uma coisa do mundo “dia” e caracterizamo-la de “lindo”,
cujo interlocutor será levado a percebê-lo dessa forma naquele momento. Podemos, então, nos
questionar se existe mesmo algo chamado “dia”? Este algo (dia) estaria mesmo com a qualidade de ser
“lindo” no instante em que a linguagem foi utilizada para se referir ao dia?

A realidade descrita pela linguagem é verdadeira? Ou a realidade seria fabricada pela linguagem? O
referente indicado na linguagem é real ou produto da percepção cognitiva do usuário da linguagem?

Segundo Ogden & Richard (1923), referente é a coisa extralinguística apontada pelo signo verbal, que se
distingue de referência que é o significado linguístico representado pelo signo.

Autores como Marcuschi (1998) e Koch (1999) acreditam que a escolha do referente pelo sujeito locutor
é uma atividade social, cognitiva e discursiva. Ou seja, é uma ação influenciada por sua percepção
interpretativa dos objetos aos quais o sujeito se refere pela linguagem. Tais autores partem do
pressuposto defendido por Mondada & Dubois (1995) de que a linguagem não é uma mera representação

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de referentes do mundo extramental. Além disso, postulam que a relação entre as palavras e as coisas é
essencialmente instável.

Quando dizemos, por exemplo:

E1. Lá vem o ditador.

Poderíamos também ter dito para expressar o mesmo fato:

E2. Lá vem o diretor.

A escolha de um ou outro substantivo para nos referirmos a um determinado ser nunca é aleatória.
Manifestamos nossa visão sobre o homem que se aproxima e no momento exerce uma função
administrativa de liderança em uma organização empresarial. A característica comum a ambos os termos
(ditador e diretor) é ordenar.

Em E1, a escolha da palavra “ditador” não é casual, mas reveladora da imagem negativa que o sujeito
tem do gerente da instituição. Enquanto que designar de “diretor”, como em E2, mostra uma imagem
menos negativa ou mais neutra sobre o gestor em pauta.

Portanto, a realidade é uma construção feita pelo sujeito locutor que enxerga e recorta o real como lhe
parece. Esse recorte da realidade se expressa na forma de nomear as coisas, na escolha que faz das
palavras para representar os objetos do mundo (ditador ou diretor). Isso significa dizer que as entidades
que designamos na linguagem não são objetos do mundo, mas criações do sujeito locutor construídas no
discurso, também chamadas de objetos-de-discurso.

Com isso não queremos dizer que os objetos a que o sujeito quando usa a linguagem faz referência não
existam no mundo ou fora da mente daquele. Na verdade, defendemos que a nossa maneira de ver e
dizer as coisas reais do mundo não coincidem com a realidade. Como dizem Marcuschi e Koch (1998,
p.05) sobre o que faz nosso cérebro:

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[...] reelabora os dados sensoriais para fins de apreensão e


compreensão. E essa reelaboração se dá essencialmente no discurso.
Também não se postula uma reelaboração subjetiva,
individual: a reelaboração deve obedecer a restrições
impostas pelas condições culturais, sociais, históricas
e, finalmente, pelas condições de processamento
decorrentes do uso da língua.

Para Mondada (1995), o objeto-de-discurso é construído progressivamente e se enriquece à medida que


o sujeito locutor vai mencionando novas propriedades e aspectos, bem como conscientemente subtrai
outros nos enunciados que elabora. Assim, o objeto vai sendo completado discursivamente na cadeia
enunciativa sob a cumplicidade do leitor.

A interpretação de uma anáfora, seja nominal ou pronominal, não se constitui em uma mera localização
do antecedente que se refira a um determinado objeto do mundo, mas passa a apontar um vínculo com
alguma informação armazenada na memória discursiva do autor.

Um sujeito que utilizar a linguagem para textualizar o mundo não está apenas reunindo e dispondo um
conjunto de informações a serem processadas pelo outro; ele está antes (re)construindo uma parte da
realidade, conforme se lhe parece. A escolha de uma dada forma linguística (palavra ou expressão)
demonstra a visão que ele tem da realidade. Por essa razão, Mondada e Dubois (1995) sugerem a
substituição da noção de referência pela de referenciação.

Acompanhe a análise do texto Infância Furtada na qual receberão especial destaque os referentes
“trabalho infantil” e “crianças que trabalham”.

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INFÂNCIA FURTADA

O trabalho infantil representa o furto da perspectiva de progresso e da


infância no Brasil. São condições miseráveis, conseqüência de fortes
desigualdades sociais, que propiciam a migração de crianças da escola para
o trabalho.
Essa exploração pueril aniquila a educação e, por conseguinte, a oportunidade
de progredir; rouba o presente e o futuro de crianças que se vêem fadadas à
mesma vida miserável de seus pais, causando não só um grave ciclo de
infortúnios, mas também problemas no desenvolvimento físico e social desses
adultos precoces.
Só um real crescimento econômico, aliado à dignificação das condições
trabalhistas e do salário-mínimo, seria capaz de suprimir a utilização
criminosa de mão-de-obra infantil. Enquanto esperam por este milagre, as
famílias mais carentes participam de programas como o “Bolsa-Família”, ajuda
de custo às famílias dos estudantes; uma prática solução que visa aliar a
necessidade de educar com a urgência de sobreviver.
A infância furtada pelo trabalho precoce retarda o desenvolvimento do país
e a esperança de um progresso igualitário. O “país do futuro” extermina seu
próprio amanhã, ao fechar os olhos para o presente de suas crianças.

Um estudante

Como já vimos, a escolha das palavras para referir o que intencionamos dizer não é aleatória. Ela segue
critérios que tem a ver com nossa visão de mundo e imagem dos referentes que foram construídas ao
longo da nossa história e vivência em diversas instituições tais como família, igreja, sindicato, associação,
empresa, ciclo de amigos etc.

Ao ser proposto o tema “A questão do trabalho realizado por crianças no Brasil”, o autor do texto acima
desenvolveu seu raciocínio a partir de um ponto de vista crítico e contrário à existência desse fenômeno
em terras brasileiras nos dias atuais.

A primeira referência ao tema se apresenta de forma “neutra” pela expressão definida “o trabalho
infantil”. Ainda no mesmo parágrafo, a forma linguística escolhida para retomar o tema foi “a migração
de crianças da escola para o trabalho”, revelando que elas deixam a escola para trabalhar.
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O autor abre o segundo parágrafo com a expressão definida “Essa exploração pueril”, marcando
claramente sua posição de aversão a essa prática, uma vez que denomina de “exploração” a participação
de meninos e meninas em ações laborais.

Pela expressão nominal definida “a utilização criminosa de mão de obra infantil”, o autor demonstra
sua indignação com o fato, pois insere o adjetivo “criminosa” no interior da expressão para explicitar seu
ponto de vista.

No quarto e último parágrafo, o autor remete-se ao tema do texto como “trabalho precoce”,
manifestando mais uma vez seu desacordo sobre o fato de pessoas de menoridade entrar no mercado de
trabalho. Fica implícito para o leitor que haveria o momento certo para as crianças participarem da vida
economicamente ativa do seu país.

Com relação ao referente “crianças que trabalham”, podemos dizer que o autor embute o mesmo
ponto de vista contrário a que elas assumam essa responsabilidade com tão pouca idade. Para isso, ele
se utiliza da repetição da palavra “crianças” e de termos sinônimos “adultos precoces” e
“estudantes”.

Na repetição do vocábulo “criança”, o autor evoca a idéia de fragilidade de um ser ainda em maturação,
bem como ressalta sua ingenuidade e fraqueza diante de uma situação em que exige esforço físico e
mental de concentração. O termo correlato selecionado para retomar o referente principal do texto, no
fim do segundo parágrafo, foi “adultos precoces”, que leva o leitor a pensar na urgência desnecessária
de fazer com que os pequenos sejam transformados à força em mão de obra fora do tempo.

Já com relação à remissão anafórica do antecedente central do tema, o autor usou a palavra
“estudantes”. Com isso, ele enfatiza a função do ser humano em sua fase de aprendizagem sobre as
coisas da vida. Na maioria das sociedades democráticas, frequentar escola desde cedo é um imperativo

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da lei do país (Brasil), cabendo até punição civil para os pais que desobedecerem a essa norma. Ele
lembra que o Programa Bolsa-Família ajuda a manter a criança na escola em troca de uma ajuda de
custo do governo federal. Elogia o programa, mas deixa claro que por si só ele não resolve o grave
problema do trabalho das crianças.

A fora os argumentos que compõem o texto, o processo de referenciação realizado pelo autor leva o
leitor a identificar qual a posição daquele sobre o tema em tela. Refazer, no processamento da leitura, o
percurso traçado pelo autor a partir das formas linguísticas escolhidas para tratar referentes essenciais
de um texto permite ao leitor acompanhar a progressão referencial e tópica, bem como analisar a
coerência do ponto de vista defendido no texto.

Agora que você já viu como é feita a análise da coerência temática de um texto observando o tratamento
dado pelo autor aos referentes centrais, percebe a importância de observar as expressões linguísticas
escolhidas pelo autor para retomar tema e sujeitos-chave do texto.

Esperamos que, daqui para frente, estejamos alerta para a construção do processo de referenciação
como estratégia do autor para imprimir suas posições sobre quem, o que, onde e como o fato ocorreu.
Assim, nós, enquanto leitores, poderemos identificar e reconhecer a posição do autor se atentarmos para
detalhes de elaboração do texto, que certamente nos ajuda a saborear a forma ao mesmo tempo em que
vamos nos inteirando do conteúdo.

ATIVIDADE 23

Analise o texto 02 (ver abaixo) e o texto 03 (ver abaixo)a seguir buscando


encontrar o propósito comunicativo do autor. Guie-se também pelas escolhas de
suas expressões linguísticas reveladas nas formas de retomar tema e sujeitos
importantes no texto. Só depois compare os argumentos apresentados com tais
formas linguísticas selecionadas para verificar se estão compatíveis.
Especificamente, observe:
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a) Os termos sublinhados e os relacione às suas outras formas de referenciação;

b) Operadores organizacionais e argumentativos.

ATIVIDADE 24

Identifique a orientação argumentativa dos operadores que aparecem


destacados nos trechos abaixo e apresente um operador sinônimo, ou seja, que
realize a mesma orientação argumentativa.

a) “... três pessoas que faziam parte da comissão e não pertenciam aos quadros
do governo...”

b) “... houve má utilização do dinheiro público, já que a viagem poderia ter sido
feita em avião comercial...”

c) “Cabe agora ao pleno do Tribunal...”

ATIVIDADE 25

Nos enunciados a seguir, faça a substituição dos nomes próprios por descrições
definidas correspondentes:

a) Juscelino Kubitcheck de Oliveira convidou Oscar Niemeyer e Lúcio da Costa


para realizarem o projeto de Brasília.

b) O impeachement de Fernando Collor e a prisão de Paulo César Farias foram


duas conquistas dos vários Joões, Marias e Josés que protestaram nas ruas do
Brasil.

c) Manuel Bandeira nasceu em Pernambuco, mas viveu grande parte de toda


sua vida no Rio de Janeiro.

d) Fernand Saussure deixou um legado muito importante para a Lingüística.

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Escritores geniais como Machado de Assis, Mario de Andrade, Jorge Amado,


Guimarães Rosa, Ariano Suassuna entre outros criaram personagens que se
eternizaram em nossa memória literária. Quem pode esquecer de Bento e
Capitulina, Macunaíma, Tereza Batista, Riobaldo, Chicó e João Grilo?

ATIVIDADE 26

Leia o texto 03 (ver abaixo) e responda o que se pede.

a) Aponte 5 operadores que orientam a argumentação das orações em direção à


oposição, causa e conclusão;

b) Diferentes formas de retomar os referentes ao longo do texto indicando se


são apresentados com imagem positiva ou negativa deles.

TEXTO 02

O Tribunal de Contas do Estado do Ceará recebeu a denúncia feita por um


deputado estadual de que o governador Cid Gomes viajou à Europa, num jatinho
fretado, junto com acompanhantes, em janeiro de 2008. O TCU vai analisar a
denúncia que também aponta pagamento de diárias em hotéis de luxo a todos
os membros da comitiva. O deputado estadual, Heitor Férrer do PDT, foi o autor
da denúncia. O líder da oposição na Assembléia Legislativa pediu a devolução
aos cofres do Estado dos recursos supostamente utilizados na viagem das três
pessoas que faziam parte da comitiva e não pertenciam aos quadros do
governo, tais como as esposas de um secretário e de um assessor do governo e
a sogra do governador, Pauline Carol Habib Moura. Só o aluguel do jatinho
custou mais de R$ 388 mil. Segundo o deputado, autor da denúncia, no mínimo,
houve má utilização do dinheiro público, já que a viagem poderia ter sido feita
em avião comercial, cujo valor total ficaria por menos de 10% do que foi gasto.
Cabe agora ao pleno do Tribunal decidir se aceita ou não a denúncia contra o
chefe do Estado cearense, que implica em abrir processo ou arquivar a
acusação.

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TEXTO 03

DESCOBRINDO A VANTAGEM COMPARATIVA

O economista, David Ricardo, desenvolveu, no século XIX, o que chamou de


teoria da vantagem comparativa. Uma pessoa, uma empresa ou um país
deveriam se dedicar a fazer somente a atividade em que eles são
reconhecidamente muito bons. Isso significa que, ainda que Ayrton Senna
tivesse uma vantagem absoluta como, por exemplo, fosse uma excelente
advogado, Senna não deveria perder seu tempo advogando para seus clientes.
O tricampeão mundial guiava muito melhor que a maioria de seus concorrentes.
Ou seja, ele tinha uma imensa vantagem comparativa como piloto. Por isso, foi
um dos mais bem sucedidos profissionais do volante do seu tempo.
O que podemos aprender com isso? Vale apena um escritor perder tempo
cortando a grama de seu jardim? Não seria melhor que o romancista contratasse
um jardineiro e dedicasse as duas horas que levaria cortando a grama para criar
seus enredos e personagens? Será que um professor com doutorado em
Linguística deveria perder uma manhã inteira para consertar seu computador?
Não seria mais sábio ele chamar logo um técnico em informática para efetuar o
conserto?
Em outras palavras, a teoria da vantagem comparativa permanece aplicável nos
dias atuais e nos ensina a focarmos naquilo em que somos bons para que
sejamos melhores. Assim, é possível ser mais produtivo e viver com mais
qualidade de vida.

Mauro Halfeld
Comentário em podcast na Rádio CBN – http://cbn.globoradio.globo.com/comentaristas
/mauro-halfeld/2008/04/03/CONCENTRE-SE-EM-ATIVIDADES-EM-QUE-VOCE-TEM-
VANTAGENS-COMPARATIVAS.htm Acesso: 03/04/2008

6. Gêneros textuais e digitais: conceitos,


características e suportes
Certamente você já ouviu falar em gênero do sexo masculino ou feminino, mas gênero textual é uma
expressão com significado relativamente recente e relacionada à diversidade de produção de textos orais
e escritos nas diferentes situações da vida social.

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● O que é um gênero textual?

● O que distingue gênero textual de tipo textual?

● Como caracterizar um texto como pertencente a um certo gênero?

● Para que devemos conhecer e aprender a utilizar diferentes gêneros textuais que circulam na sociedade
atual?

Essas são as questões cujas respostas tentaremos apontar neste item da nossa disciplina Linguística
Textual. Vamos juntos encontrar as possíveis respostas a tais dúvidas sobre Gênero Textual.

Os primeiros autores a estudarem os gêneros foram Platão e Aristóteles há mais de 2.500 anos. O
primeiro enfatiza a perspectiva poética dos gêneros literários, enquanto que o segundo, o aspecto
retórico dos gêneros literários e não-literários. Mais recentemente estudiosos da linguagem retomaram a
questão dos gêneros sobre o enfoque das práticas discursivas na sociedade de um modo geral e,
principalmente, como objeto de aprendizagem a ser trabalhado sistematicamente pela escola.

O termo “gênero” foi durante muito tempo apenas vinculado aos gêneros da literatura tal como
descreveu Aristóteles em sua Poética. De Aristóteles ao Renascimento, passando pela Idade Média, o
termo guardava sempre uma relação com as diversas formas de produção e veiculação da imaginação
literária. Porém, Swales (1990:33) afirma que atualmente esta noção também tem sido usada para
“referir uma categoria distintiva de discurso de qualquer tipo, falado ou escrito...”

Diversas áreas têm se apropriado da noção de gênero, tais como a etnografia, sociologia, antropologia,
retórica, educação, mas contemporaneamente a Linguística é a área que mais tem se interessado pelos
estudos dos gêneros textuais. Certamente será sob o enfoque desta última que faremos nossas
observações, uma vez que estamos estudando a Linguística de Texto.

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Uma boa definição de gênero na perspectiva dos estudos da linguagem foi apresentada por Carolyn Miller
(1994) quando caracterizou o gênero textual como sendo:

A» “uma forma de ação social”;

B» “um esquema cognitivo”;

C» “uma ação retórica”;

D» “uma estrutura textual”.

Considerando o gênero como forma de ação social, podemos dizer que, de uma certa forma, os gêneros
textuais ajudam seus usuários a organizar o funcionamento de sociedades letradas. O seja, ele permite
que os usuários da língua formalizem em textos específicos suas intenções de comunicação de modo a
ser compreendido mais facilmente.

As sociedades em geral estão organizadas em torno de instituições. Elas desenvolvem ações e eventos
específicos que vão constituir seu modo de funcionamento recorrente que passam a caracterizá-la. Essas
práticas se realizam por meio da linguagem oral e escrita. Por ser a modalidade escrita mais permanente
em relação à fala, são criados formatos de texto que ganham, pelo uso, uma padronização gerando mais
agilidade e rapidez na realização de uma atividade no interior de uma instituição.

Tomemos como exemplo as instituições acadêmicas, mais especificamente, a universidade. Podemos


perceber seu modus operandi, efetuado de várias formas, por meio de diferentes ações (solicitação de
matrícula, de trancamento, emissão de diploma etc.), através de diferentes cerimônias (aula magna,
formatura, discurso panegírico, lançamento de pedra fundamental, inauguração de edificações,
assinatura de convênios etc.) e diversos rituais pedagógicos (ministração de aulas, avaliação de
aprendizagem, realização de eventos científicos, apresentação, arguição e defesa de monografia,
dissertação e tese.).

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O quadro abaixo sintetiza a correlação entre as práticas socioinstitucionais e os gêneros textuais que as
configuram:

Prática Socioinstitucional Evento Propósito Comunicativo Gênero Textual

Solicitação de matrícula, Atividades Fazer-cumprir condições Requerimento em


trancamento de disciplina, burocráticas regimentais para ingresso, formulário padrão ou não
pedido de emissão de: institucionais trancamento, desistência,
declaração de vínculo, comprovação de vínculo institucional
comprovante de matrícula, e comprovação de finalização de
certificado ou diploma curso

Realização de abertura de Cerimônia Abrir oficialmente a nova jornada de Aula Magna


semestre e recepção de novos atividades da instituição e acolher
alunos os recém-chegados a ela

Concessão de grau Cerimônia Conceder o grau ao formando, Colação de grau


comunicando à sociedade a
competência adquirida pelo
graduando

Lançamento de pedra Cerimônia Comunicar a construção de uma Reunião pública com


fundamental, inauguração edificação ou iniciar as atividades descerramento de placa,
projeto (físico ou intelectual) em projeto já finalizado ou leitura de minuta,
aprovado, assinatura de autorizado assinatura de documento
convênio e discurso comemorativo

Ministração de aulas Rituais Expor e discutir tema de interesse Aula expositiva e ou


pedagógicos da área de estudo para reflexão e debate
aprendizagem

Avaliação de aprendizagem Rituais Checar o nível de absorção e Provas, escrita de


pedagógicos reflexão do aprendiz ensaios, apresentação de
seminários etc.

Apresentação, argüição e Rituais Avaliar a habilidade adquirida em Escrita de texto científico


defensa de monografia, pedagógicos relação a um tema pesquisado pelo monográfico com
dissertação ou tese aprendiz apresentação pública dos
resultados da pesquisa

Para cada uma dessas ações, cerimônias e rituais foi desenvolvido ao longo do tempo um gênero textual
correspondente cuja circulação fora da instituição soa inadequada. Logo, a criação desses gêneros
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textuais ligados às atividades ali realizadas diariamente tanto organizam a tal instituição como também
ajudam a ordenar a sociedade de um modo geral.

Em uma instituição empresarial, podemos constatar que o mesmo acontece. Pedidos de compra e venda,
produção de recibos, notas fiscais, promissórias, contratos, formulários de impostos, memorando,
comunicação interna e publicidades diversas são alguns dos gêneros textuais que poderemos encontrar
transitando pelas salas, corredores e sobretudo por meio de computadores hoje em dia. Inclusive, muitos
desses textos nem são mais impressos, povoam as caixas de endereços eletrônicos ou ficam hospedados
em arquivos virtuais. Isso é o que acontece com envio do formulário de declaração anual do Imposto de
Renda Pessoa Física ou Jurídica à Secretaria da Receita Federal brasileira.

Em ambas as instituições citadas (universidade e empresa), os eventos relacionais e as práticas sociais


que lá acontecem são mediados por gêneros textuais. Cada um deles deve apresentar um propósito
determinado e um formato específico que os caracterizam. Em outras palavras, todos os gêneros textuais
têm uma função e uma forma, um estilo e um conteúdo mais ou menos fixos.

Por essa razão, devemos conceber os gêneros como entidades dinâmicas e não como estruturas rígidas,
pois, em todo momento, estão sendo criados novos gêneros sempre a partir dos existentes. Seu uso
constante provoca modificações nos gêneros, já que seus usuários são livres e criativos ao se
apropriarem da linguagem para se comunicar.

São muitas as perspectivas e objetivos teóricos e práticos para o estudo dos gêneros textuais. Conforme
Marcuschi (2008: 152-153), há várias tendências para o tratamento dos gêneros textuais. Quase todas
as abordagens toma as categorias e visão macroanalítica propostas por Bakhtin. Abaixo reproduziremos o
esquema elaborado por Marcuschi que resume bem as diversas perspectivas de estudo dos gêneros
textuais atualmente em âmbito internacional:

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1» perspectiva sócio-histórica e dialógica (Bakhtin);

2» perspectiva comunicativa (Steger, Gülich, Bergmann,


Berkenkotter);

3» perspectiva sistêmico-funcional (Halliday);

4» perspectiva sociorretórica de caráter etnográfico voltado


para o ensino de segunda língua (Swales, Bhatia);

5» perspectiva interacionista e sociodiscursiva de caráter


psicolinguístico e atenção didática voltada para língua
materna (Bronckart, Dolz, Schnewly);

6» perspectiva de análise crítica (Fairclough, Kress);

7» perspectiva sociorretórica/sócio-histórica e cultural


(Miller, Bazerman e Freedman).

Salientamos que essas abordagens do estudo dos gêneros textuais não são rígidas nem absolutas, elas
atendem a diferentes propósitos de compreensão da linguagem enquanto fenômeno comunicativo, social
e político.

6.1 Distinções importantes: gênero textual, tipo


textual e domínio discursivo

Toda comunicação verbal humana só ocorre por meio de um gênero textual no qual figuram
predominantemente certas sequências frasais em meio a uma atmosfera que permite a circulação de
algumas idéias e discursos. Por isso, é necessário explicitarmos determinados conceitos de fatos
linguísticos diferentes que às vezes são tomados indistintamente.

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● GÊNERO TEXTUAL

Refere-se aos textos que concretizam eventos de comunicação e interação social. Em geral, os gêneros
textuais se apresentam com um padrão de características que nos permite usá-los e reconhecê-los
quando alguém os usa. Eles seguem critérios relacionados a propósitos comunicativos dos seus
produtores que elaboram estruturas enunciativas que obedecem a seu estilo de selecionar e organizar
palavras e expressões verbais. Trata-se de manifestações empíricas que se manifestam em textos como,
por exemplo:

Conversação espontânea, bilhete, lista de compras, receita (culinária, médica), bula de


remédio, manual de instrução, sermão, carta (pessoal, comercial, do leitor, ao leitor),
reportagem, notícias, editorial, artigo de opinião, horóscopo, piada, edital de concurso,
conferência, monografia, dissertação, tese, artigo
científico, ensaio, resenha, resumo, seminário,
inquérito (administrativo, policial), boletim de
ocorrência, processo jurídico, mandado de segurança,
liminar, petição, ata, minuta, contrato, requerimento,
ofício, memorando, circular, e-mail, blog, fórum
virtual, bate-papo (coletivo, individual, pedagógico),
aula virtual mediada por computador, entre tantos
outros gêneros antigos e os que nascem a cada dia.

● TIPO TEXTUAL

Refere-se aos aspectos linguísticos dos enunciados, seus elementos lexicais, sintáticos, tempos verbais
que caracterizam as sequências como pertencentes a um tipo de texto específico como: narrativo,
descritivo, injuntivo, expositivo e argumentativo. Costumam-se chamar tais estruturais típicas de um
texto como sequências retóricas. A predominância de tais sequências retóricas em um texto
identificam-no como sendo de um tipo ou de outro.

Assim, fica fácil identificar as sequências linguísticas abaixo como pertencentes aos tipos textuais
narrativo, descritivo, injuntivo, expositivo e argumentativo respectivamente.

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Era uma vez uma princesa que vivia num castelo no meio da floresta. O
rei havia prometido a mão da princesa em casamento ao príncipe do
castelo vizinho... Certo dia o príncipe foi conhecer a princesa com quem
pretendia se casar. Ambos então se conheceram e foi amor à primeira
vista... Porém, nem tudo eram flores. O príncipe sofria de uma doença
rara e precisa se tratar em uma aldeia muito distante dali. O casamento
só poderia acontecer depois que o príncipe ficasse curado da
enfermidade...

Os termos destacados apontam apenas as sequências linguísticas específicas do modo narrativo do


texto, mas percebemos que a predominância se completa com a presença de outros elementos
constitutivos das narrativas que são personagens e acontecimentos inesperados e surpreendentes da
história a ser contada. O objetivo de um texto com este formato é fazer-saber.

Muito oxigênio e frescor arbóreo emanavam daquele lugar espetacular.


Pequenos animais silvestres povoavam aquele paradisíaco pedaço de
terra. Frutas e raízes comestíveis brotavam do chão, ideal para apreciar,
descansar e viver com paz e tranqüilidade, coisas que na cidade quase
não se encontram mais... Acordar todos os dias com o canto dos
pássaros ou com o farfalhar das folhas é o sonho de todo amante da
natureza... A atmosfera era realmente estonteante para todo aquele que
estivesse disposto a deixar-se absorver completamente por ela. Foi uma
experiência inenarrável conhecer aquele lugar.

Destacamos apenas os adjetivos do texto do tipo descritivo acima, todavia podemos perceber a
presença de expressões que remetem à caracterização do espaço em tela cuja imagem retratada, de
acordo com a visão de quem descreve, é a mais agradável e positiva possível. Retratar espaço e pessoa
física e psicologicamente é a intenção de quem lança mão das sequências descritoras. O objetivo de um
texto com este formato é fazer-ver por meio das palavras.

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CARREGAR A BATERIA

Verifique o número do modelo do carregador antes de utilizá-lo com


este dispositivo. Recarregue-o especificamente com o carregador AC-3.
Para obter informações sobre a disponibilidade de acessórios
aprovados, consulte um revendedor. Para desligar o cabo de
alimentação de qualquer acessório, segure e puxe o plugue, não o cabo.

1. Conecte o carregador a uma tomada comum.

2. Levante a tampa na parte superior do telefone.

3. Conecte o carregador ao telefone.

Para reconhecer o tipo de texto acima basta observar o modo verbal usado. Todos os verbos destacados
foram empregados no modo imperativo. Essa é a principal característica linguística do modo textual
injuntivo. Há outras como o tom de ordem, advertência, conselho, sugestão. O objetivo de um texto
com este formato é o fazer-fazer, ou seja, levar o interlocutor a agir, a sair da inércia e resolver uma
situação.

O PROCESSO DE REFERENCIAÇÃO NO TEXTO

Sabemos que o texto é, sem dúvida, um evento sociocomunicativo pelo


qual os sujeitos interagem entre si. Conhecer suas especificidades é
desvendar atalhos para ampliar a capacidade comunicativa e social de
todo falante/escrevente. Por essa razão, nosso debate hoje versará
sobre a função dos referentes no processo de referenciação textual.
Sabendo que as palavras não são etiquetas dos objetos do mundo, os
sentidos das palavras são, portanto, negociados pelos sujeitos.
Vejamos, por exemplo, o vocábulo “ponto”. Há inúmeros contextos e
cotextos nos quais a significação deste vocábulo muda. Podemos dizer:

1. “O médico deu um ponto na mão do paciente”.

2. “Precisamos acrescentar mais um ponto a esta lista”.

3. “Ali está o ponto de ônibus”.

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4. “Acho que estou a ponto de explodir”

5. “O caldo está no ponto”.

6. “Vamos direto ao ponto”.

Há outras possibilidades de uso para a palavra “ponto” que poderiam serem acrescentadas a essas, mas
acreditamos suficientes as que aí estão para mostrar o tipo textual expositivo. O objetivo deste tipo é
fazer-conhecer os detalhes de um objeto ou de um tema. Busca responder às questões: o que é? Como
é? Quando surgiu? Para que serve? Logo, cabe a este formato textual ordenar informações, sequenciar
passos, parafrasear, mostrar características, histórico e precursores, além de apresentar exemplos que
materializem o objeto/tema abordado.

A CRISE JÁ ATINGE O BRASIL

Os efeitos da crise mundial já estão sendo notados no Brasil, de acordo


com os dados financeiros recém-publicados pelos IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística). Os Estados Unidos registraram no
ano passado a perda de quase 2,6 milhões de postos de trabalho. Isto
representa um aumento de 7,2% na taxa de desemprego, a mais alta
em 16 anos. No Brasil, a indústria de automóveis, além de conceder
férias coletivas, demitiu 3.688 funcionários. A queda no setor chegou a
54% em relação ao ano passado. A inflação acumulada do ano passado
atingiu 5,9%, ultrapassando a meta do governo que era 4,7%. A
desvalorização do real em relação ao dólar e a queda nas vendas
contribuem para evidenciar os reflexos da crise no nosso país. Assim,
cabe ao governo reajustar a política econômica no que se refere aos
juros, a fim de conter as conseqüências devastadoras da crise financeira
como a volta da alta da inflação com inevitável recessão econômica.

Jornal do Commercio em 14/01/2008

Sem muita dificuldade, é possível perceber um conjunto de dados que substanciam os argumentos em
defesa do ponto de vista apresentado pelo sujeito só ao final do texto. Qual seria sua tese? “O governo
precisa tomar providências para evitar um caos na economia brasileira”. A referência aos números

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americanos e os dados em relação à economia brasileira são argumentos para levar o leitor a concluir
com o autor que o governo precisa agir o quanto antes para proteger os interesses brasileiros. Estas são,
pois, estruturas linguísticas próprias do formato textual argumentativo, cujo objetivo central é fazer-
crer que o ponto de vista do autor deve ser adotado.

Lembre-se de que as sequências linguísticas que compõem cada um dos tipos textuais acima são
construções teóricas que indicam o modo de organização do texto, mas a materialização empírica só
acontece quando tais sequências são inseridas em um gênero textual específico para atender ao
propósito comunicativo do sujeito usuário da linguagem. Por essa razão, os PCN sugerem que o ensino da
produção textual na escola seja feito a partir do trabalho com os gêneros e não com os tipos textuais.
São os gêneros os objetos de aprendizagem ainda que sejam trabalhados em situações simuladas, pois
nem sempre é possível viver uma situação real que demande o uso de um gênero textual.

Outro ponto importante a destacar refere-se ao fato de que essas sequências linguísticas não
pertencerem exclusivamente a um tipo textual. Elas podem ocorrer mescladamente em textos de tipos
diversos. Todavia, o que nos permitirá distinguir um tipo textual de outro será a predominância dessas
marcas. Alguns autores chamam essa mistura de tipos textuais de Intertextualidade tipológica.

O mesmo acontece com os gêneros, pois eles podem trazer, além das próprias marcas, traços
característicos de outros gêneros textuais, o que tem sido denominado de Intergenericidade. Para ilustrar
isso, basta observar atentamente os exemplos de tipo textual expositivo e argumentativo. O primeiro
pode tranquilamente pertencer ao gênero aula expositiva oral ou conferência oralizada. O segundo pode
se tratar de um texto do gênero artigo de opinião, ensaio acadêmico ou ser um fragmento de uma
dissertação de mestrado. Em ambos há muita informação que levam o leitor na direção interpretativa do
autor, no entanto, o ponto de vista deste aparece com mais evidência, além da organização dos
argumentos com objetivo claro de convencer/persuadir aquele sobre a verdade e a consequente
aceitação da tese defendida no texto.

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Vale apena salientar ainda o jogo de encaixe que há necessariamente entre texto, gênero e tipo textual,
tal como uma boneca russa. Em outras palavras, todo texto realiza um gênero que utiliza essencialmente
sequências linguísticas para expressar uma intenção comunicativa.

● DOMÍNIO DISCURSIVO

Utilizando as palavras de Bakhtin, diria que se trata de “uma esfera de atividade humana”. Uma espécie
de espaço abstratamente delimitado em que circulam os discursos produzidos por sujeitos que pertencem
a uma “instância discursiva” (discurso acadêmico, jurídico, jornalístico, religioso, sindicalista etc.). Nas
instituições em geral são produzidos gêneros diversos originalmente criados por elas ou transmutados de
outras instituições. Estas práticas discursivas dos sujeitos institucionais revelam a rotina e a natureza das
atividades ali realizadas.

Para exemplificar a circulação de gêneros textuais diversos em uma instituição específica, tomemos a
universidade e sua gama de diferentes textos que mostram a grandiosidade de suas atividades
cotidianas. Afora os comuns a outras instituições como os textos dos gêneros requerimento,
comunicação circular, minuta, contrato, ata, há os que são tipicamente universitários como:
artigo científico, ensaio, relatório de pesquisa, protocolo de investigação,
monografia, dissertação, tese, conferência, anais, gêneros estes que são de uso e
validação exclusivos da instância acadêmica universitária. Produzi-los, reconhecê-los e legitimá-los
cabem somente aos membros pertencentes a tal instituição.

Seguindo Myller (1994) e Marcuschi (2008), poderíamos resumir


as características gerais dos gêneros textuais como entidades:

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6.2 Gênero textual e suporte

É comum confundirmos o gênero com seu suporte de realização. O gênero digital E-mail, por exemplo, é
motivo de confusão, pois ele pode assumir ao mesmo tempo o papel de um gênero textual com
características específicas, bem como servir de base para enviar outros gêneros. Facilmente ouvimos
alguém dizer que vai enviar um e-mail e outras vezes o mesmo sujeito diz que vai enviar algum
documento (texto, foto, música, vídeo) por e-mail.

Assim, podemos dizer que suporte é a superfície material ou virtual, o locus, o ambiente por onde o
gênero textual se fixa e se realiza como texto. No suporte, o autor do texto pode ancorar o gênero e dar
acesso da sua obra aos potenciais leitores.

Marcuschi (2008) classifica os suportes em duas categorias:

a) convencionais – livro, jornal, revista (científica, semanal), rádio, televisão, telefone, quadro de
avisos, outdoor, encarte, folder, faixas, fnternet, home-page etc..

b) incidentais – embalagens de produtos, pára-choques e pára-lamas de auditório, roupas, paredes,


muros, calçadas, corpo humano etc..

Entretanto, alguns serviços que divulgam atividades comunicativas são confundidos com suportes, mas
na verdade não são mais do que viabilizadores de ações de linguagem. São eles:

a) correio – Prestação de serviço de postagem e entrega de documentos materiais mediante o


pagamento de um valor monetário;

b) e-mail (programa de computador) – Prestação de serviço de postagem e entrega de documento de


modo virtual, podendo ser materializado pelo destinatário.

c) mala-direta – Serviço de comunicação de dados e informações que se realiza de modo material ou


virtual. Este último tem sido chamado de Spam, mensagens não solicitadas quase sempre contendo
publicidade de empresas.

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ATIVIDADE 27

Para que devemos aprender a utilizar os diferentes gêneros textuais?

ATIVIDADE 28

Apresente as semelhanças e diferenças entre bilhete, carta pessoal e e-mail.


Todos deverão ser endereçados a um interlocutor conhecido. Lembre-se de
considerar o tema, a estrutura composicional e o estilo.

ATIVIDADE 29

Pesquise a criação de novos gêneros digitais que há na internet. O acesso à rede


mundial de computadores permitiu o surgimento de novas formas de expressão
do sujeito tais como o hipertexto e os diversos gêneros digitais ancorados e
derivados dele (E-mail, Blog, Bate-papo, Fórum eletrônico, sites de
relacionamento, ficção hipertextual etc.) e de várias práticas de escrita. Pesquise
as origens de dois novos gêneros digitais ligados à literatura e descreva suas
características formais e funcionais.

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