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CADERNO DE FÍSICA DA UEFS 04 (01 e 02): 41-49, 2006

INTERFERÊNCIA QUÂNTICA NA INTERAÇÃO DA LUZ COM A


MATÉRIA

Fredson Braz Matos dos Santos


Departamento de Fı́sica, UFPE

Neste trabalho, apresentamos e discutimos uma série de resultados recentes no estudo da


interação entre a luz e a matéria, onde a natureza quântica da matéria é manifestada através
de processos de interferência quântica. Discutimos, ainda, uma série de aplicações desses
efeitos.

I. INTRODUÇÃO

As novas idéias e conceitos introduzidos pela fı́sica quântica no inı́cio do século XX pro-
moveram uma das maiores revoluções cientı́ficas já experimentadas pela Fı́sica. Tudo começou
com uma série de resultados experimentais que contrariavam as previsões feitas a partir das
teorias existentes até então. A necessidade de explicar tais resultados levou a uma maneira
completamente nova de se descrever e interpretar a natureza.
Talvez a mais chocante modificação introduzida pela teoria quântica foi a hipótese de que
objetos atômicos (elétrons, prótons, nêutrons, etc) poderiam apresentar um comportamento
tipicamente ondulatório, contrariando a descrição clássica corpuscular. Essa possibilidade,
conhecida hoje como dualidade onda-partı́cula, gerou um grande desconforto na comunidade
cientı́fica, o qual só foi resolvido em 1926 e 1927 com os trabalhos de Heisenberg, Schrödinger,
Born e outros, os quais descreveram a natureza de tais ondas, a sua dinâmica e como as
propriedades fı́sicas observáveis poderiam ser extraı́das desta teoria [1].
Um experimento que ilustra muito bem o comportamento ondulatório da matéria é um
experimento semelhante ao experimento da dupla fenda de Young. Ao invés de se utilizar
luz, se utiliza um feixe de elétrons . Os elétrons passam por um anteparo onde existem duas
pequenas fendas e, em seguida, atingem um segundo anteparo que tem a propriedade de emitir
luz quando um elétron o atinge (dessa forma, podemos saber que ponto do anteparo cada
elétron atingiu). Quando um grande número de elétrons atinge o segundo anteparo, os pontos
luminosos espalhados formam um padrão de interferência semelhante ao observado com ondas

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luminosas [2]. É claro que existiram, na época, diversas tentativas de se explicar o experimento
utilizando apenas conceitos clássicos, mas todas falharam.
Diferente do tratamento clássico onde o estado de uma partı́cula é definido pela sua posição
e velocidade, na formulação quântica, o estado da ”partı́cula” é definido por uma função de
onda. O conhecimento da função de onda é suficiente para se conhecer todas as propriedades
observáveis do sistema fı́sico. Dessa forma, a formação de um padrão de interferência no
experimento da dupla fenda de Young pode ser explicado como resultado da interferência
entre as ondas que partiram de cada uma das duas fendas. Este processo de interferência é
denominado interferência quântica.
Como vimos, processos de interferência quântica tiveram um papel relevante no desenvolvi-
mento inicial das idéias sobre a natureza quântica da matéria. No entanto, efeitos relacionados
a este processo, ainda hoje, têm conduzido a resultados surpreendentes, principalmente no
estudo da interação da luz com a matéria.
Neste trabalho, tentamos descrever de maneira bastante sucinta, um efeito conhecido
como transparência induzida eletromagneticamente (EIT - Electromagnetically Induced
Transparency)[3], onde um meio atômico que deveria absorver fortemente um feixe de luz com
uma determinada freqüência, pode se tornar completamente transparente (não absorvedor) a
este mesmo feixe, devido a um processo de interferência quântica.
Como veremos adiante, o efeito de EIT tem um grande número de aplicações importantes,
dentre elas a aplicação no estudo das propriedades fı́sicas do átomo, a redução da velocidade
de um pulso de luz, a medida de variação de campo magnético e, talvez a mais interessante
que é o armazenamento de um pulso de luz num meio atômico.

II. INTERAÇÃO DA LUZ COM A MATÉRIA

Para entendermos a interação da luz com a matéria, basta lembrarmos que a luz é uma
onda eletromagnética através da qual campos elétricos e magnéticos se propagam através do
espaço. Cargas elétricas sentem a ação desses campos e, por isso, o campo eletromagnético
induz dipolos elétricos no meio atômico da mesma forma que um campo elétrico entre as placas
de um capacitor induz dipolos elétricos nas moléculas que compõem o meio dielétrico. Numa
onda eletromagnética, o campo elétrico oscila no tempo, fazendo com que os dipolos elétricos
induzidos também oscilem. Esta oscilação dos dipolos elétricos gera uma nova onda eletro-

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magnética, cujo campo eletromagnético se soma ao campo existente inicialmente. Dessa forma,
um feixe de luz laser, por exemplo, após atravessar um meio atômico, tem suas propriedades
ligeiramente modificadas em relação às propriedades que tinha antes de atravessar o meio.
Este processo, para ser descrito de maneira mais completa, requer que se leve em conta a
natureza quântica do átomo. Podemos destacar algumas propriedades que, até certo ponto,
caracterizam a interação. Para simplificar, consideremos que apenas dois nı́veis de energia
do átomo são relevantes no processo, conforme mostrado na Figura 1. Os dipolos elétricos
induzidos no meio atômico dependem da estrutura dos nı́veis de energia do átomo e, também, de
propriedades da luz, como a freqüência. Quando a freqüência da luz se aproxima da freqüência
de ressonância, dada por fr = ∆E/h, os dipolos elétricos induzidos no meio atingem um valor
máximo. Isto significa, por exemplo, que o meio absorve mais fortemente a luz.

Fig. 1: Interação da luz com a matéria. À esquerda, a estrutura de nı́veis de energia de um átomo. Os
dois nı́veis relevantes na interação com a luz estão em destaque, a diferença de energia entre os dois
nı́veis é ∆E. À direita, duas situações completamente diferentes na interação. Acima, a freqüência da
luz coincide com a freqüência de ressonância f = (∆E)/h e a interação é bastante acentuada. Abaixo,
a luz está distante da ressonância, e atravessa o meio praticamente sem interagir com o meio.

Uma maneira de estudar a estrutura de nı́veis de energia do átomo é utilizando o fato de


que o átomo absorve mais intensamente a luz quando ela está ressonante com alguma transição
atômica. Um esquema experimental de como isto pode ser feito está mostrado na Figura 2.
Um feixe de luz laser atravessa o meio atômico e o sinal de saı́da é detectado. Fazendo a
freqüência do laser variar, podemos obter um gráfico da absorção em função da freqüência
do laser (espectro de absorção). Quando a freqüência do laser coincide com a freqüência de
ressonância, a absorção atinge um valor máximo conforme mostrado na parte inferior da figura.
Como vimos, um meio atômico absorve mais fortemente um feixe de luz quando este é
ressonante com a transição atômica, o que é um ponto importante quando se deseja estudar
a estrutura dos nı́veis de energia do átomo. No entanto, esta forte absorção compromete um

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Fig. 2: Experimento para obter o espectro de absorção do meio atômico. Acima, o esquema experimental
simplificado e abaixo o espectro de absorção. Quando f = ∆E/h, a absorção é máxima.

pouco o estudo de uma série de outros processos fı́sicos que envolvem a interação da luz com o
meio atômico. Na ressonância, muitos desses processos também ocorrem com maior intensidade,
o que favorece o seu estudo, mas a forte absorção reduz praticamente a zero a intensidade da
luz que deixa o meio. Seria, portanto, extremamente útil, encontrar uma maneira de se estudar
a Fı́sica destes processos utilizando luz ressonante, sem o inconveniente da forte absorção pelo
meio atômico. A próxima seção é dedicada a apresentação de uma técnica, através da qual é
possı́vel obter um meio com esta propriedade.

III. TRANSPARÊNCIA INDUZIDA ELETROMAGNETICAMENTE

Como dissemos na introdução, a existência de interferência quântica na interação da luz com


a matéria pode modificar radicalmente as propriedades dessa interação. Existe uma técnica
conhecida como transparência induzida eletromagneticamente (EIT) através da qual é possı́vel
obter um meio onde a luz ressonante pode se propagar sem ser absorvida. Para entender-
mos melhor como ocorre esse efeito, voltamos a discutir, com maiores detalhes, o processo de
interferência quântica apresentado brevemente na introdução.
O esquema geral de interferência está mostrado na figura 3. O sistema fı́sico parte de um
estado inicial A e chega a um estado final C. Neste processo, existe um estado intermediário
para o qual existem duas possibilidades B1 e B2 . Existem, portanto, dois caminhos possı́veis
para o sistema evoluir de A para C: através do caminho AB1 C ou através de AB2 C os quais
denominamos, respectivamente, de caminho 1 e caminho 2. Os dois caminhos são considerados
indistinguı́veis, o que significa que não sabemos por qual estado intermediário o sistema passou.

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Fig. 3: Esquema geral do processo de interferência. O sistema evolui de um estado inicial A até um
estado final C passando por um estado intermediário B1 ou B2 . Abaixo é mostrado que a probabilidade
total de o sistema atingir o estado C não corresponde à soma das duas probabilidades.

Em fı́sica quântica, dizemos que o sistema passou por um estado que não é B1 nem B2 , mas
uma superposição dos dois, ou seja, o sistema fı́sico passou pelos dois estados, cada um com
uma determinada probabilidade.
A descrição matemática deste processo pode ser apresentada de forma bastante simples.
A probabilidade de que o sistema atinja o estado C através do caminho 1 é dada por |A1 |2
e pelo caminho 2 é |A2 |2 , onde A1 e A2 são amplitudes de probabilidade. A probabilidade
total é |A1 + A2 |2 . Assim, podemos ver facilmente conforme mostrado na figura 3 que a
probabilidade total não corresponde à soma das duas probabilidades, mas existe um termo
adicional denominado termo de interferência o qual pode ser positivo ou negativo caracterizando
a interferência construtiva ou destrutiva respectivamente.
O efeito de transparência induzida eletromagneticamente é resultado de um processo de
interferência quântica, onde existem dois lasers interagindo com o mesmo sistema atômico.
Considera-se que o átomo possui 3 nı́veis, como representado pela figura 4. Um dos lasers
chamado laser de controle é ressonante com a transição entre os nı́veis a e c. O outro laser
é denominado laser de sinal cuja freqüência é variável mas está próxima à ressonância com a
transição entre os nı́veis a e b.
Estamos interessados na resposta do sistema atômico ao laser de sinal quando o laser de
controle está ligado. Quando o laser de sinal está ressonante com a transição a ↔ b, os
dois laser atuando em conjunto, fazem o sistema atômico evoluir para um estado quântico que
corresponde a uma superposição dos estados b e c. Neste processo, os estados b e c correspondem
aos estados intermediários B1 e B2 mostrados na figura 3.

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Fig. 4: Átomo com três nı́veis de energia. A esquerda, a seta mais espessa representa o laser chamado de
laser de controle o qual está em ressonância com a transição entre os nı́veis a e b, ou seja Ω = (Ea −Eb )/h.
A direita, o laser denominado laser de sinal, o qual tem uma freqüência ω variável.

Com os dois lasers interagindo com o meio, os átomos podem absorver energia proveniente
dos lasers e realizarem uma transição para o nı́vel de maior energia a. Como os átomos estão
inicialmente num estado de superposição dos dois estados de menor energia b e c, existem dois
caminhos pelos quais eles podem ser excitados para a: através do caminho b ↔ a ou através do
caminho c ↔ a. Para o sistema de 3 nı́veis na configuração mostrada na figura 4, existe uma
interferência destrutiva entre as probabilidades de excitação por cada um desses dois caminhos.
Dessa forma, o laser de sinal pode ser propagar através do meio atômico sem ser absorvido,
mesmo estando em ressonância.

Fig. 5: Espectro de absorção do laser de sinal. Quando a freqüência coincide com a freqüência de
ressonância ω = (Ea − Eb )/h, a absorção é reduzida a zero e o meio atômico se torna completamente
transparente ao laser de sinal.

Este efeito pode ser visualizado de forma mais clara se analisarmos o espectro de absorção
do laser de sinal, o que pode ser obtido fazendo a freqüência variar e detectando o laser após
atravessar o meio atômico. O resultado está mostrado na figura 5. Quando a freqüência do

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laser de sinal coincide com a freqüência de ressonância com a transição a ↔ b, ao invés da ab-
sorção atingir um valor máximo, ela cai abruptamente e vai a zero. É interessante destacarmos
que, apesar da absorção do laser de sinal se anular, existe uma série de outros processos de
interação denominados processos óticos não-lineares, para os quais existe interferência constru-
tiva tornando-os ainda mais acentuados. Isto favorece o estudo mais detalhado de processos
óticos não-lineares, o que é uma das principais aplicações práticas do efeito. No entanto, existe
uma série de outras aplicações práticas que discutiremos adiante.

IV. APLICAÇÕES DO EFEITO DE EIT

Um efeito muito importante em ótica é a dispersão da luz que expressa o fato de que o
ı́ndice de refração de um determinado meio depende em geral da freqüência da luz. Este efeito
é responsável, por exemplo, pela decomposição da luz branca ao atravessar um prisma. Quando
um pulso de luz atravessa um meio, onde o ı́ndice de refração é muito sensı́vel à freqüência
∆n
(ω ∆ω muito grande), o pulso se propaga no meio com uma velocidade que pode ser muito
menor do que a velocidade da luz no vácuo (c = 300000 Km/s). Essa forte dependência do
ı́ndice de refração com a freqüência é uma outra caracterı́stica marcante de meios atômicos sob
condição de EIT. Em meios atômicos com temperaturas muito baixas (450 nK) sob condição
de EIT, já foi possı́vel reduzir a velocidade de um pulso de luz a 17 m/s !![4].
Além da redução de velocidades de pulsos de luz, a alta sensibilidade do ı́ndice de refração em
relação à freqüência, faz com que o sistema seja também bastante sensı́vel a campos magnéticos
externos [5]. Isto ocorre porque os campos magnéticos alteram a estrutura de nı́veis de energia
dos átomos no meio. Usando esta técnica, é possı́vel detectar variações da ordem de picoTesla
no campo magnético local. É importante destacar que esta técnica permite somente a detecção
de variações de campo magnético e não o campo magnético absoluto.
Uma outra aplicação importante de EIT, é a possibilidade de se armazenar um pulso de
luz no meio atômico durante um certo perı́odo de tempo e a recuperação do pulso em seguida
[6]. Isto é feito desligando lentamente o laser de controle quando o pulso está completamente
dentro do meio. Isto faz com que a velocidade do pulso que já é muito pequena, vá ficando
cada vez menor a medida que o laser de controle é desligado. Quando o laser de controle
é totalmente desligado, o pulso de sinal também “desaparece”, ou melhor, é armazenado no
meio. Depois de um pequeno intervalo de tempo, o laser de controle volta a ser lentamente

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religado e o pulso de sinal reaparece. É claro que existem diversos detalhes técnicos que não
estão sendo discutidos aqui, mas o importante é notar as incrı́veis conseqüências que um efeito
de interferência quântica pode acarretar nestes processos.

V. CONCLUSÕES

Como vimos neste trabalho, o estudo da interação da luz com matéria tem evoluı́do bastante,
graças à possibilidade de se controlar de maneira bastante razoável, processos de interferência
quântica em meios atômicos. O efeito de EIT, em particular, tem servido como instrumento
essencial para o estudo e controle de uma série de processos fı́sicos. Estes resultados são
de extrema importância, pois apresentam um desenvolvimento considerável nas técnicas de
controle da dinâmica de sistemas quânticos. Um dos grandes desafios da Fı́sica moderna é
o de atingir um nı́vel de controle destes sistemas, de forma a podermos extrair o máximo de
informação possı́vel que eles “escondem” durante sua evolução dinâmica.

VI. AGRADECIMENTOS

Minha eterna gratidão a Deus por tudo, ao CNPq pelo apoio financeiro e ao Prof. José
Wellington Tabosa pela orientação no trabalho de mestrado e pelas discussões estimulantes.

[1] H. M. Nussenzveig, Fı́sica Básica, vol. 4, Ed. Edgard Blucher.


[2] R. P. Feynman, Fı́sica em 12 lições, Ed. Ediouro.
[3] M. Fleischhauer, Atac Imamoğlu, J. P. Marangos, Reviews of Modern Physics 77, 633 (2005).
[4] L. V. Hau, S. E. Harris, Z. Dutton, and C. H. Behroozi, Nature 397, 594 (1999).
[5] M. Stahler, S. Knappe, C. Affolderbach, W. Kemp, and R. Wynands, Europhysics Letters 54, 323
(2001).
[6] M. D. Lukin, Reviews of Modern Physics 75, 457 (2003).

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SOBRE O AUTOR -

Fredson Braz Matos dos Santos - Bacharel em Fı́sica pela UEFS, é Doutorando em Fı́sica pela
UFPE.
e-mail: fredson@df.ufpe.br

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