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MICROBIOTA INTESTINAL

CONHEÇA A BASE DO SEU SEGUNDO CÉREBRO

COAUTOR

Dr. Pedro Schestatsky


Pós-Doutor em Neuromodulação pela Harvard University

WWW.OQUEVOCEVAICOMERAMANHA.COM.BR
MICROBIOTA INTESTINAL
CONHEÇA A BASE DO SEU SEGUNDO CÉREBRO

WWW.OQUEVOCEVAICOMERAMANHA.COM.BR
Urban Farmcy, 2019
Microbiota Intestinal: a base do seu segundo cérebro.
1ª edição

CONTEÚDO
Dr. Pedro Schestatsky e Mariana Goelzer
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO....................................................... 05

CAP. 1: O que é microbiota....................................... 08

CAP. 2: Intestino: o nosso 2º cérebro ....................... 17

CAP. 3: Como manter a microbiota saudável.......... 22

CAP. 4: O que pode prejudicar a microbiota .......... 27

CAP. 5: Três fatos curiosos sobre a microbiota ....... 29


APRESENTAÇÃO

Nós, seres humanos, somos habitados. É estranho


pensar assim, mas somos o lar de bactérias, protozoários,
fungos e vírus que encontram em nosso corpo o habitat
ideal para se desenvolver, procriar e continuar a sua exis-
tência.
Apesar da má fama de todos esses organismos,
estaríamos incorrendo em um grave erro se decidimos
expulsar a todos. Por quê?
Exterminar indiscriminadamente os micróbios que
moram dentro de nós seria apenas mais uma injustiça
contra eles - com potenciais riscos à nossa saúde. Nossos
protagonistas foram alvo de uma intensa campanha difa-
matória, em parte, infundada. Afinal, a maioria das bac-
térias nos é inofensiva. Mais do que isso: muitas delas,
inclusive, nos são essenciais.
Por formar um ecossistema, esse grupo de cem tri-
lhões de células foi designado de microbioma. Deve-se à
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APRESENTAÇÃO

sua localização, o nome composto com que foi batizado:


microbioma intestinal.
O microbioma intestinal, ou microbiota intestinal -
como também é conhecido -, é um inestimável compa-
nheiro que nos auxilia na digestão dos alimentos, na pro-
teção contra invasores, na produção e na secreção de hor-
mônios e de substâncias químicas que nos são indispen-
sáveis.
Tamanha é sua importância, que ele é o foco de
nosso e-book.
Por isso, prepare-se! Você será introduzido às incrí-
veis funções que a microbiota desempenha no funciona-
mento adequado do seu corpo. Vai descobrir como ela é
capaz de influenciar o seu comportamento, através de
uma relação particular com o cérebro, e como ela pode
lhe ajudar a curar ou atenuar doenças tão diversas como
asma, diabetes, depressão e artrite reumatoide. Além
disso, você vai perceber como a sua saúde é inseparável
da desses micro-organismos. Assim, também vamos
abordar como você pode manter a sua microbiota saudá-
vel e quais alimentos deve evitar para não debilitá-la.
Seja bem-vindo ao desvendamento da microbiota
intestinal, onde você descobre que a sua saúde e bem-es-
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APRESENTAÇÃO

tar dependem de quem você menos esperava: as suas


bactérias.

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CAPÍTULO 1 - O QUE É MICROBIOTA?

CAPÍTULO 1

O QUE É MICROBIOTA?
Conhecendo a sua microbiota

Antes de tudo, deixe-me lhe apresentar a sua micro-


biota ou microbioma. Ela é conjunto de bactérias, proto-
zoários, fungos e vírus que moram em você. Esses seres
- e seus genes - estão espalhados ao longo de todo o seu
corpo, embora a maior parte deles, cerca de 99%, tenha
encontrado no seu intestino o local de sua preferência
para estabelecer uma residência oficial (para sua sorte,
como você logo irá perceber).
Por habitarem essa região específica do corpo, esse
grupo de micro-organismos foi diferenciado; recebeu o
nome de microbiota intestinal. Juntos, esses seres aí
localizados somam cem trilhões de células, um número
150 vezes superior ao total do corpo humano. Contri-
buem, assim, com 2 a 3 quilos para o peso de um adulto.
Ainda que vírus, fungos e protozoários também
estejam presentes no trato digestivo, são as bactérias que
compõem parte majoritária da microbiota intestinal. Por
isso, nos concentraremos nelas ao percorrermos essas
páginas.
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CAPÍTULO 1 - O QUE É MICROBIOTA?

Na contramão do comumente esperado, bactérias


são indispensáveis para que tenhamos uma vida saudá-
vel. Claro que, nesse caso, estamos falando de bactérias
específicas, probióticas, que são “a favor da vida”, e não
de suas semelhantes patogênicas, nocivas ao correto fun-
cionamento de nossos sistemas internos.
Aliás, é justamente sobre isso de que trata esse
livro. Uma microbiota sadia, formada por bactérias pro-
bióticas, tem efeitos extremamente benéficos a nós. Por
outro lado, a preponderância de bactérias patogênicas é
causa de muitas doenças. Desde casos clínicos mais
suaves, como dores de cabeça, até mais graves e severos,
como diabetes, depressão, demência e esclerose múlti
pla. E o fator mais importante para determinar a presença
de um ou outro tipo - e, portanto, a SUA saúde ou a SUA
doença - é a alimentação (sobre a qual falaremos poste-
riormente).

POR QUE AS BACTÉRIAS EXERCEM


TODO ESSE PODER SOBRE NÓS?

As bactérias participam da execução de importan-


tes funções dos sistemas de nosso corpo, sendo protago-

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CAPÍTULO 1 - O QUE É MICROBIOTA?

nistas de uma relação simbiótica com os órgãos do intes-


tino. Elas residem nas paredes intestinais - a mucosa.
Daí, as boas bactérias são capazes de colaborar conosco
de múltiplas formas: auxiliam na digestão e na absorção
de nutrientes; criam uma barreira física a potenciais
invasores, como vírus e parasitas prejudiciais; agem
como linha de defesa contra toxinas presentes nos ali-
mentos, prevenindo infecções e reduzindo a sobrecarga
do fígado; educam e apoiam o sistema imunológico; pro-
duzem e liberam enzimas e também substâncias quími-
cas para o cérebro, tais como vitaminas e neurotransmis-
sores; ajudam a lidar com o estresse, atuando na produ-
ção hormonal e; por fim, atuam no controle de processos
inflamatórios no organismo, que, por sua vez, influen-
ciam o risco de praticamente todas as doenças crônicas.
A lista de obrigações desses micróbios dentro de
nosso sistema é evidentemente extensa. Assim, quando
não são as bactérias probióticas, mas sim as patogênicas
que nos habitam, todas as tarefas que lhes incumbem não
são adequadamente realizadas. O resultado do mau de-
sempenho dessas atividades são as enfermidades.
Esses seres contribuem de forma tão decisiva à nossa
existência, pois resolveram ocupar justamente o nosso
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CAPÍTULO 1 - O QUE É MICROBIOTA?

intestino.
Quando falamos em intestino, costumamos pensar
automaticamente em nosso processo digestivo. Afinal, é
por realizar essa atribuição que ele ficou mundialmente
famoso. Contudo, não estamos dando o devido crédito a
este que é também o nosso maior órgão sensorial, res-
ponsável por comportar 80% do nosso sistema imunoló-
gico e por sintetizar e secretar mais de 20 hormônios. A
título de exemplo, é nas células intestinais que fabrica-se
(com a participação das bactérias) 95% de nossa seroto-
nina, sinal químico relacionado ao bom-humor, ao bem-
estar e à saciedade, cuja carência está ligada à depressão.
Entretanto, mais de 90% dessa parte tão basilar de
nosso corpo é inesperadamente constituída por bactérias.
A maioria delas está instalada no intestino grosso, no
qual as mais de mil espécies de micróbios colaboram
para a manutenção do nosso organismo ao nos emprestar
algumas de suas capacidades, precisamente aquelas que
não possuímos.

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CAPÍTULO 1 - O QUE É MICROBIOTA?

VAI UMA BACTERIAZINHA AÍ?

Cada variedade de carboidrato vegetal complexo,


por exemplo, exigiria de nosso intestino uma enzima
específica para realizar a sua decomposição, das quais
não somos providos. Nossas bactérias, por outro lado,
são especialistas nestas substâncias, e, em troca de
abrigo e restos de comida, fazem esse trabalho de deglu-
tição por nós. Reduzem certos alimentos a nutrientes tão
pequenos que podemos absorvê-los através de nossas cé-
lulas intestinais. Deste modo, 90% da alimentação oci-
dental consiste em alimentos ingeridos; os 10% restantes
são ofertados diariamente por nossas bactérias. Consta-
tou-se que em casos de sobrepeso, doenças nervosas, má
nutrição, depressão e problemas intestinais crônicos, as
condições das bactérias estão alternadas em nosso intes-
tino.
As bactérias não produzem todas as mesmas subs-
tâncias. É por isso, inclusive, que certas bactérias são
consideradas patogênicas, ao fabricarem substâncias
químicas que lesam o nosso corpo. Consideram-se probi-
óticas as que fornecessem componentes de que necessi-
tamos para funcionar corretamente.
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CAPÍTULO 1 - O QUE É MICROBIOTA?

Durante a fase adulta, por exemplo, imperam em


nosso intestino dois filos de bactérias: as bacteroidetes e
as firmicutes. Essas últimas são extremamente eficientes
na obtenção de energia, sendo determinantes no aumento
da absorção de gorduras. Em pesquisas recentes, desco-
briu-se que sua presença em níveis elevados aciona os
genes responsáveis por aumentar o risco de obesidade,
de diabetes e mesmo de doenças cardiovasculares. Em
análises, pesquisadores concluíram que obesos têm
maior percentual de firmicutes em sua flora intestinal se
comparados aos magros.
Em 2011, cientistas identificaram que os bacteroi-
des, pertencentes ao filo das bacteroidetes, são responsá-
veis por fabricar a biotina (vitamina H ou vitamina B7)
cuja escassez provoca problemas de pele unhas e cabelo,
e pode também ocasionar depressão, sonolência, distúr-
bios nervosos, aumento exacerbado nos níveis de coles-
terol e suscetibilidade a infecções. No mesmo estudo,
constatou-se que as bactérias da família prevotella sinte-
tizam a tiamina (vitamina B), que alimenta as células
nervosas e as envolve externamente com uma capa de
gordura, a qual atua como isolante térmico. Níveis de tia-
mina abaixo do esperado são elencados como uma causa
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CAPÍTULO 1 - O QUE É MICROBIOTA?

possível para músculos trêmulos e esquecimento.


Como você já pode inferir, ter ou não uma determi-
nada bactéria em seu intestino pode significar ter ou não
uma doença.
No entanto, não é apenas através de seus produtos
que as bactérias nos auxiliam. Elas também atuam de
maneira incisiva junto ao sistema imunológico: algumas
interagem com as células de defesa sem representar
riscos e, assim, permitem que agentes imunocompeten-
tes conheçam novas espécies e estejam aptos a combatê-
-las caso as encontrem fora do intestino. Outras, cuidam
o modo como a cortisona e outros medicamentos anti-in-
flamatórios agem em nossas células, tornando o sistema
imunológico mais brando e menos combativo.
A atuação das bactérias em nosso intestino parece
não ter fim. Por isso, ainda gostaria de mencionar dois
papéis importantes que desempenham.
Imagine que você mora confortavelmente em seu
intestino. Você é alimentado com as comidas que gosta e
o ambiente lhe é extremamente agradável. De repente,
uma outra pessoa inadvertidamente tenta tomar o seu
lugar. Isso com certeza lhe provocaria uma reação. Com
as bactérias intestinais as coisas funcionam exatamente
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CAPÍTULO 1 - O QUE É MICROBIOTA?

do mesmo jeito. Quando se depara com bactérias patogê-


nicas tentando se fixar na mucosa intestinal - a sua mora-
dia - ataca-as com pequenas quantidades de anticorpos e
antibióticos, a fim de assegurar a posse de seu território.
No embate, ácidos também são utilizados como arma de
guerra, transformando o intestino em um ambiente inós-
pito aos germes maléficos. Deste modo, as bactérias
ruins não conseguem permanecer. Ao fim da disputa, as
bactérias probióticas garantiram para si uma residência
e, para você, a sua saúde.
Muitas bactérias probióticas nos protegem de
outras formas. Elas possuem genes para produzir peque-
nos ácidos graxos como o butirato, que embalsamam as
vilosidades intestinais e cuidam delas. Assim, as vilosi-
dades tornam-se mais estáveis e crescem mais do que as
não tratadas. Sua expansão permite uma melhor retenção
das vitaminas e minerais dos alimentos. Sua estabilidade,
por outro lado, impede a passagem de detritos através
das paredes intestinais. O resultado é a captação de mais
nutrientes e o bloqueio de substâncias que nos são noci-
vas.
Microbiota, probióticos, biotina, tiamina, prevo-
tella, bacteroidetes, podem parecer até nomes científicos
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CAPÍTULO 1 - O QUE É MICROBIOTA?

tediosos. No entanto, nosso comportamento e o funcio-


namento de nosso cérebro são influenciados por nosso
intestino (e sua microbiota). Não, não estamos discutin-
do terminologias inventadas. Estamos falando do que de-
termina se você tem energia, disposição e vontade de
viver ou está apático, depressivo e sem ânimo. Mais
sério do que isso: estamos tratando do que pode ou não
desencadear ansiedade, depressão, transtorno de déficit
de atenção, e até esclerose múltipla, demência ou Alzhei-
mer.
Está surpreso novamente? Vamos explicar como
isso acontece.

16
CAPÍTULO 2 - INTESTINO: O NOSSO SEGUNDO CÉREBRO

CAPÍTULO 2

INTESTINO
O nosso segundo cérebro

Durante séculos, imaginou-se que tanto as sensa-


ções boas, de bem-estar, alegria e satisfação, quanto as
ruins, de insegurança, medo e depressão, eram produzi-
das no cérebro. Os estudos recentes sobre o intestino
vieram alterar drasticamente esse pensamento.

NERVO VAGO:
A CONEXÃO INTESTINO-CÉREBRO

Para cumprir com os tantos deveres já referidos, o


intestino foi equipado com um incontável número de
nervos e toda uma frota de diferentes sinais químicos,
materiais isolantes dos nervos e tipos de interconexões
sem comparação com o restante do corpo. Exceto, é
claro, com o cérebro. Vem daí o apelido de segundo cére-
bro, já que ambos desfrutam de tamanho, extensão de
rede nervosa, complexidade química, e até mesmo peso,
semelhantes. Acrescente-se: é no intestino que são sinte

17
CAPÍTULO 2 - INTESTINO: O NOSSO SEGUNDO CÉREBRO

tizados 90% de nossos neurotransmissores!


Tantas similaridades são ressaltadas quando fica-
mos sabendo que o intestino apresenta um canal de co-
municação direta com o cérebro: o nervo vago. Através
desse nervo, intestino e cérebro se relacionam, ou seja,
influem no funcionamento um do outro. Deste modo,
sinais partem do intestino e chegam a diversas áreas ce-
rebrais, como a ínsula (autoconsciência), o sistema lím-
bico (processamento das emoções); córtex pré-frontal
(moral); amígdala (sensações de medo); hipocampo (me-
mória) e córtex angulado anterior (motivador).

AS BACTÉRIAS E O
NOSSO COMPORTAMENTO

Alguns experimentos já foram conduzidos para


comprovar essa relação. No primeiro deles, publicado
em 2013, observou-se que ingerir uma determinada mis-
tura de bactérias durante quatro semanas provoca altera-
ções em áreas cerebrais, sobretudo as responsáveis pela
elaboração das sensações e da dor. Outra pesquisa,
também realizada com seres humanos, verificou que o
estímulo do nervo vago a partir de diferentes frequências

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CAPÍTULO 2 - INTESTINO: O NOSSO SEGUNDO CÉREBRO

variava a sensação do participante. Enquanto uma frequ-


ência gerava medo, outra ocasionava bem-estar.
A população de bactérias no intestino afeta direta-
mente o estímulo e o funcionamento das células ao longo
do nervo vago. Alguns micróbios do intestino podem até
liberar mensagens químicas da mesma forma que os
neurônios. Assim, novas descobertas científicas têm
apontado que a saúde do cérebro também depende daqui-
lo que acontece no intestino. E a saúde do intestino, con-
forme já vimos, é determinada pelas bactérias que nele
vivem.
Para testar a hipótese de que o estado de nosso
intestino pode influenciar nosso comportamento e nossas
sensações, cientistas da equipe de Stephen Collins reali-
zaram um experimento com duas linhagens de camun-
dongos: BALB/c e NIH-SWISS. A primeira, de compor-
tamento mais temeroso e intimidado; a segunda, de ani-
mais mais curiosos e corajosos. Foram ministrados a
ambas linhagens mistura de três antibióticos diferentes
que exterminaram a paisagem bacteriana do intestino.
Em seguida, as bactérias intestinais típicas de cada linha-
gem foram aplicadas nos camundongos de forma inver-
sa. O resultado é que, no teste comportamental, os com-
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CAPÍTULO 2 - INTESTINO: O NOSSO SEGUNDO CÉREBRO

portamentos também se inverteram. Os camundongos


BALB/c ficaram mais corajosos, enquanto os NIH-
-SWISS passaram a sentir mais medo.
Dois neurotransmissores sintetizados por nossas
bactérias intestinais nos ajudam a entender melhor essa
influência. O GABA é o principal mensageiro químico
do cérebro e atua no sistema nervoso central. Quando
estamos estressados, cabe a ele a difícil tarefa de acalmar
a atividade nervosa, inibindo transmissões e normalizan-
do ondas cerebrais, para deixar o SNC estável e suportar
melhor o estresse. O glutamato, por sua vez, está encar-
regado de aspectos vitais como a cognição, a aprendiza-
gem e a memória. Atribui-se a carência desses neuro-
transmissores, fabricados por bactérias, uma série de
problemas neurológicos, da ansiedade e dos déficits de
comportamento à depressão e à doença de Alzheimer.
É deste modo que a presença (ou ausência) de uma bacté-
ria no seu intestino acaba influindo no seu comportamen-
to. Felizmente, a adoção de uma nova dieta baseada na
ingestão de pre e probióticos têm se mostrado capaz de
atenuar e até curar essas doenças. Os experimentos con-
duzidos são tão promissores que os probióticos têm sido
contemplados com o nome de psicobióticos.
20
CAPÍTULO 2 - INTESTINO: O NOSSO SEGUNDO CÉREBRO

As consequências podem ser verdadeiramente graves. A


saúde e a variedade dos micróbios intestinais dependem
de sua alimentação. Quais bactérias você tem cultivado
dentro de você?

21
CAPÍTULO 3 - COMO MANTER A MICROBIOTA SAUDÁVEL

CAPÍTULO 3

COMO MANTER A
MICROBIOTA SAUDÁVEL

Finalmente chegamos ao ápice de nossa jornada!


Depois de compreender como a microbiota influi de ma-
neira decisiva em nossa saúde física, emocional e
mental, e, portanto, entendermos a importância de
manter uma microbiota saudável, precisamos saber
como fazer isso.
A alimentação é a chave para uma microbiota sadia,
pois determina quais bactérias ingerimos e quais nutri-
mos e fortalecemos em nosso interior. Uma dieta rica em
prebióticos e probióticos é o caminho para o bem-estar e
para a saúde.

OS PROBIÓTICOS

Os probióticos são alimentos “a favor da vida” por


conterem bactérias vivas que colaboram para o funciona-
mento adequado de nosso organismo. Molho de soja,
kombucha, café, kefir e determinados iogurtes (que não

22
CAPÍTULO 3 - COMO MANTER A MICROBIOTA SAUDÁVEL

foram objeto de pasteurização e de adição de açúcar) são


exemplos desse tipo de comida.
No entanto, é preciso estar atento ao processo de
fabricação desses artigos. Quanto aos fermentados, de-
vemos cuidar para que tenham sido submetidos a proce-
dimentos corretos, com o emprego de temperatura e do
modo de conservação apropriados. No caso do café, é
importante optar por grãos mais claros e maiores, pois
indica que não passaram por uma torra intensa, a qual
compromete suas propriedades probióticas.

OS PREBIÓTICOS

Os prebióticos são os alimentos “antes da vida”.


Sua função é nutrir as bactérias probióticas, estimulan-
do-as para que prevaleçam em nosso intestino. Além
disso, como as bactérias patogênicas não conseguem
usar (ou utilizam muito pouco) os prebióticos, eles forta-
lecem boas bactérias e enfraquecem as nocivas. Seu
único requisito? Que já existam bactérias probióticas em
algum lugar no seu trato digestivo.
As fibras insolúveis, presentes nas frutas e nos ve-
getais, são uma opção cuja variedade é capaz de alimen-
23
CAPÍTULO 3 - COMO MANTER A MICROBIOTA SAUDÁVEL

tar de maneira abundante as diferentes bactérias que são


úteis para nós. Saladas e verduras também são uma boa
fonte de prebióticos naturais.

O JEJUM

O jejum também apresenta benefícios para a micro-


biota, pois as bactérias de má qualidade tendem a ser
mais vulneráveis a ele. Ou seja, morrem antes das bacté-
rias boas. Deste modo, o jejum consegue aniquilar bacté-
rias nocivas sem prejudicar bactérias probióticas. Há
diferentes indicações de jejuns possíveis. Há quem prati-
que um jejum de 24h nos equinócios e solstícios. Ado-
tando um conceito mais simples, podemos considerar
jejum o fato de pularmos alguma refeição em nosso dia a
dia.

O TEMPO

Um aspecto importante em relação à microbiota é o


tempo que levamos para deixá-la mais saudável, uma vez
que tenhamos aderido a uma dieta rica em prebióticos e
probióticos. Normalmente, demora de 3 a 4 semanas
24
CAPÍTULO 3 - COMO MANTER A MICROBIOTA SAUDÁVEL

para que modulemos nosso microbioma para uma versão


mais sadia. Este não é um período muito longo. No en-
tanto, a mudança no padrão alimentar precisa ser cons-
tante, pois é exatamente nesse mesmo intervalo que
retornamos ao estado negativo da microbiota caso deixe-
mos de lado o cuidado com a nossa alimentação.

Outras informações relevantes

Gorduras e proteínas saudáveis também devem


constar no menu. Azeite de oliva, linhaça e peixes são
excelentes fornecedores de Ômega 3, que contribui para
um regime alimentar equilibrado.
Contudo, como tudo na vida, também as bactérias
boas podem se tornar nocivas quando ingeridas em ex-
cesso. Assim, quantidades exacerbadas desses compo-
nentes podem ocasionar o efeito reverso. Por esta razão,
nem sempre é fácil estabelecer uma fronteira entre as
bactérias probióticas e as patogênicas.
O consumo de uma colher de probiótico natural va-
riado ao acordar é uma ótima medida para estabelecer
uma colônia saudável em seu intestino. Algumas subs-
tâncias, no entanto, comprovadamente não estão a servi-
25
CAPÍTULO 3 - COMO MANTER A MICROBIOTA SAUDÁVEL

ço da nossa saúde. Mais do que saber o que lhe faz bem,


também é preciso identificar o que lhe faz mal.

26
CAPÍTULO 4 - O QUE PODE PREJUDICAR A MICROBIOTA

CAPÍTULO 4

O QUE PODE
PREJUDICAR A MICROBIOTA

Falamos muito sobre os efeitos de uma microbiota


adoentada, ou da disbiose, quando o equilíbrio entre bac-
térias probióticas e patogênicas está afetado e somos
abatidos por alguma moléstia.
Para que esse quadro ocorra, é preciso nutrir e forti-
ficar esses seres maléficos. Infelizmente, as dietas oci-
dentais são um prato cheio para nossas habitantes malé-
volas. Ao mesmo tempo, matam de fome as bactérias
probióticas. Atuam, assim, no sentido inverso dos prebi-
óticos. O açúcar comum, por exemplo, alimenta bacté-
rias que produzem toxinas e doenças em nosso corpo.
O excesso de glicose pode ser comportar como um
veneno quando não é absorvido e utilizado pelas células,
pois leva a formação de moléculas defeituosas que, ao
não funcionarem direito, ativam os entes imunocompe-
tentes, provocando inflamações.
Alimentos processados e agrotóxicos também são
responsáveis por quadros inflamatórios em nosso orga-
nismo. Nosso corpo simplesmente não é equipado com
27
CAPÍTULO 4 - O QUE PODE PREJUDICAR A MICROBIOTA

enzimas para metabolizar essas substâncias criadas em


laboratório. E são justamente os processos inflamatórios
persistentes que estão envolvidos em doenças tão diver-
sas quanto obesidade, diabetes, câncer, depressão, autis-
mo, asma, artrite, esclerose múltiplas e até Parkinson e
Alzheimer.
Uma categoria que deve ter seu consumo restrito
são os carboidratos mais complexos, pois exigem muito
esforço de nossas bactérias para serem degradados.
Incrivelmente, se as gorduras boas facilitam o trabalho
de nossos micro-organismos, esses carboidratos os so-
brecarregam.
Centro de debate há alguns anos, o glúten também
é prejudicial à nossa microbiota, pois contém uma proteí-
na chamada gliadina, que enfraquece a junção das célu-
las das paredes intestinais, responsáveis por monitorar
quais substâncias podem ou não adentrar a corrente san-
guínea. Isso possibilita que agentes danosos ultrapassem
essa proteção. Pior, essa proteína apresenta o mesmo
efeito na barreira hematoencefálica, que cumpre função
similar no cérebro. Ao facilitar a entrada de patógenos na
corrente sanguínea e no cérebro, a gliadina provoca do-
enças.
28
3 FATOS CURIOSOS SOBRE A MICROBIOTA

PA R A V O C Ê S A B E R

3 FATOS CURIOSOS
SOBRE A MICROBIOTA

— 1 —
A MICROBIOTA É COMO
UMA IMPRESSÃO DIGITAL.

Você já deve ter visto esta cena em algum filme.


Um policial com um cotonete se aproxima do suspeito e
passa o objeto no interior de sua boca, coletando saliva.
Essa situação tem uma explicação na realidade.
Enquanto a similaridade genética entre os indivídu-
os é de 99,9%, as microbiotas podem variar entre si em
até 10%. Por isso, ainda que gêmeos univitelinos tenham
os mesmos genes, sua composição bacteriana não é idên-
tica. Eles sequer possuem mais semelhanças do que qual-
quer outro par de gêmeos.
Isso é uma boa notícia, afinal, estudos apontam que
apenas 30% do microbioma é influenciado por nossa
carga genética. Os outros 70% estão sob nosso gerencia-
mento, e podem ser regulados através de nossos hábitos
de vida, como alimentação, exercícios físicos e os am-
29
3 FATOS CURIOSOS SOBRE A MICROBIOTA

bientes que frequentamos.


Deste modo, com a seleção de hábitos salutares,
você tem a possibilidade de atuar em sua expressão ge-
nética, suprimindo genes “do mal”, e ativando genes “do
bem”, que o ajudam a preservar sua saúde. Você escolhe
a microbiota que deseja cultivar. Por isso, todo ser
humano tem sua própria coleção de bactérias, com carac-
terísticas únicas, a ponto de ser possível falar em impres-
são digital bacteriana.

— 2 —
O TIPO DE PARTO INFLUENCIA
A FORMAÇÃO DA NOSSA MICROBIOTA.

O tipo de parto com que se chega ao mundo


também influencia a microbiota.

Bebês nascidos de parto normal, ao atravessar o


canal vaginal, são envoltos em uma capa protetora e útil
compostas por bactérias ali presentes. Estas se alojam em
seu intestino e começam o desenvolvimento de uma co-
lônia própria. Nos casos de cesariana, são as bactérias

30
3 FATOS CURIOSOS SOBRE A MICROBIOTA

encontradas na superfície da pele, nas salas de cirurgia,


nas mãos de médicos e de enfermeiras que desempe-
nham esse papel. Os micróbios não são evidentemente os
mesmos.
No microbioma vaginal materno, dominam lacto-
bacillus, que utilizam o açúcar do leite materno como
combustível, permitindo aos bebês, o uso da lactose nele
contida. Ademais, essas bactérias criam um ambiente
acidificado que reduz o crescimento de micróbios possi-
velmente danosos. Os bebês nascidos de parto normal
também são contemplados com níveis mais elevados de
bifidobactérias, um grupo que ajuda as paredes do intes-
tino a atingir a maturidade mais rapidamente.
Os indivíduos que nascem por cesariana são envol-
vidos por bactérias staphylococcus, predominantes nas
células cutâneas e que são potencialmente nocivas.
Assim, não recebem quantidades abundantes de lactoba-
cillus e não são bonificados com as bifidobactérias. Para
agravar a situação, muitas parturientes tomam antibióti-
cos por causa da cesariana. Os antibióticos, “anti vida”,
matam as bactérias ruins, mas as boas também. Nessas
ocasiões, o bebê é exposto a um duplo infortúnio.
Essas crianças podem levar meses ou até mais
31
3 FATOS CURIOSOS SOBRE A MICROBIOTA

tempo para ter um microbioma normal. Três quartos dos


recém-nascidos que contraem germes típicos de hospital
são bebês de cesariana. Além disso, apresentam riscos:
5x maior de alergias; 3x maior de TDAH; 2x maior de
autismo; 80% maior de doença celíaca; 50% maior de
obesidade na idade adulta; 70% maior de diabetes tipo 1.
Essas informações não devem ser motivo de alarde, mas
sim de providências, uma vez que é possível compensar
o tipo de parto através de uma dieta adequada para o
bebê.

— 3 —
O TRANSPLANTE FECAL
NO TRATAMENTO DO AUTISMO.

No transplante microbiano fecal, fezes advindas de


um doador com uma microbiota saudável são limpas e
introduzidas em um paciente receptor. Esse procedimen-
to provoca uma mudança drástica na microbiota e surgiu
como uma alternativa no tratamento de transtornos cere-
brais, dentre eles, o autismo.
Os estudos ainda são recentes, mas os experimentos
têm obtidos resultados animadores. Em uma pesquisa,

32
3 FATOS CURIOSOS SOBRE A MICROBIOTA

identificou-se que o transplante consegue melhorar em


80% a escala comportamental de autistas. Isso acontece
porque essa doença está relacionada a estados de infla-
mação no cérebro. Sendo o intestino a maior causa de
inflamação do mundo, e a sua saúde depende da micro-
biota, depreende-se porque alterações radicais nesta con-
seguem produzir efeitos positivos.
Embora ainda não seja uma solução definitiva para
o autismo, trata-se de uma possibilidade interessante
para atenuar a doença.

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SOBRE
Dr. Pedro Schestatsky

Médico formado pela UFRGS, Mestre e


Pós-Doutor em Neuromodulação pela
Harvard University. Em 2009 foi
nomeado Chefe do Comitê de Dor da
European Neurological Society (ENS).
É revisor de diversos periódicos ao
redor do mundo, como ‘Brain’,
‘Movement Disorders’ e ‘European
Journal of Neurology’. Atua como
neurologista de vanguarda no
mapeamento de genomas.

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REFERÊNCIAS

1) DR. PERLMUTTER, David. Amigos da Mente


(2015).

2) ENDERS, Giulia. O discreto charme do intestino


(2015).

3) Live com Dr. Pedro Schestatsky para o canal da


Urban Farmcy. <youtu.be/nZSXwSpBIpE>

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