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PROCESSO Nº TST-E-RR-6600-68.2007.5.10.

0008

A C Ó R D Ã O
   (SDI­1)
GMACC/mcasco/knoc/m   

RECURSO DE EMBARGOS REGIDO PELA LEI


11.496/2007. OBRIGAÇÃO DE FAZER. CEF.
ALVARÁ PARA LEVANTAMENTO DOS
DEPÓSITOS DO FGTS FIXADOS EM 20% EM
CONVENÇÃO COLETIVA DE TRABALHO NO
CASO DE CULPA RECÍPROCA. Cinge-se a
controvérsia à possibilidade de
levantamento dos depósitos do FGTS
mais a multa de 20% com fundamento na
cláusula de convenção coletiva de
trabalho denominada "incentivo à
continuidade do contrato de
trabalho", a qual, além de obrigar as
empresas que sucederam outras na
prestação do mesmo serviço em razão
de nova licitação a contratar os
empregados da empresa sucedida,
estabelece que a rescisão contratual
obrigará ao pagamento de 20% (vinte
por cento) sobre os depósitos do FGTS
a título de multa. Para reconhecer os
efeitos jurídicos decorrentes da
culpa recíproca nas relações de
trabalho, é imprescindível a
constatação da conduta obreira
culposa. Como a auto-delação, pelo
empregador e pelo empregado, é
improvável, comete-se normalmente ao
juiz a função de enfrentar o caso
concreto e então perceber terem
empregado e empregador agido mediante
condutas igualmente graves de modo a
tornar insustentável a preservação do
emprego. Assim, por se estar diante
de norma coletiva restritiva de
direito, envolvendo instituto com
previsão em lei, é necessário
reconhecimento em juízo das premissas
fáticas para evitar fraudes por meio
das quais se crie hipótese de culpa
recíproca não prevista em lei, com
renúncia de direitos, o que não se
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coaduna com o princípio


constitucional da autonomia de
negociação coletiva (CF/88, art. 7º).
Considerando que no recurso de
revista a Caixa Econômica Federal –
CEF admite expressamente que houve
dispensa sem justa causa, e, no
recurso de embargos, sustenta não ser
possível a norma coletiva estabelecer
a forma de rescisão contratual como
culpa recíproca, sem os elementos
necessários para tanto, o provimento
dos embargos é parcial, apenas para
declarar inválida a cláusula da
convenção coletiva que reduz a 20%, a
multa incidente sobre os depósitos do
FGTS, confirmando a decisão que
autoriza o saque dos valores
depositados na conta-vinculada.
Recurso de embargos conhecido e
parcialmente provido.

Vistos,   relatados   e   discutidos   estes   autos   de


Embargos   em   Recurso   de   Revista   n°  TST­E­RR­6600­68.2007.5.10.0008,
em que é Embargante  CAIXA ECONÔMICA FEDERAL ­ CEF  e são Embargados
MIROELMA CORREIA DE SOUZA E OUTROS.

A 8ª Turma desta Corte, mediante acórdão de fls.


232-242, conheceu do recurso de revista interposto pela Caixa
Econômica Federal – CEF - nos presentes autos de reclamação
trabalhista, em que empregados pleiteiam obrigação de fazer, e, no
mérito, negou-lhe provimento por entender válida cláusula de norma
coletiva de trabalho que prevê a rescisão contratual por culpa
recíproca, com liberação de valores do FGTS mais indenização de 20%.
Inconformada, a Caixa Econômica Federal interpõe
recurso de embargos pelas razões de fls. 244-263. Renova o debate
acerca da impossibilidade de liberação do saque do FGTS,
argumentando que, nos termos do art. 18, § 2º, da Lei 8.036/90, a
"culpa recíproca" só pode ser reconhecida pela Justiça do Trabalho,
devendo ser declarada nula a cláusula normativa por falta de amparo
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legal. Argui violação dos 7º, I e XXVI, da CF, 10, I, do ADCT, 477,
§8º, da CLT, e 18, §3º, da Lei 8.036/90, além de apresentar arestos
para confronto de teses.
Intimados regularmente (fl. 274), os reclamantes
não apresentaram impugnação consoante certificado à fl. 276.
Desnecessária a remessa dos autos à Procuradoria
Geral do Trabalho, de acordo com o art. 83, § 2º, II, do RITST.
É o relatório.

V O T O

1 - PRESSUPOSTOS EXTRÍNSECOS

Atendidos os pressupostos extrínsecos de


admissibilidade, porquanto tempestivo (fls. 243-244), regular a
representação processual (fl. 230) e desnecessário o preparo (art.
24-A da Lei 9.028/95 e Súmula 161 do TST).
Em atenção ao Ato TST 440/SEGJUD.GP, de 28 de
junho de 2012, verifica-se que já constam dos autos os números de
inscrição das partes no cadastro de pessoas físicas e jurídicas da
Receita Federal do Brasil.
Convém destacar que o recurso de embargos não está
regido pela Lei 13.015/2014, porquanto interposto contra acórdão
publicado em 09/04/2010, isto é, antes de 22/09/2014, data da
vigência da referida norma.
Cumpre, portanto, examinar os pressupostos
específicos do recurso de embargos, o qual se rege pela Lei
11.496/2007.

2 - PRESSUPOSTOS INTRÍNSECOS

OBRIGAÇÃO DE FAZER. CEF. ALVARÁ PARA LEVANTAMENTO


DOS DEPÓSITOS DO FGTS FIXADOS EM 20% EM CONVENÇÃO COLETIVA DE
TRABALHO NO CASO DE CULPA RECÍPROCA

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Conhecimento

A Turma conheceu do recurso de revista interposto


pela Caixa Econômica Federal – CEF, no particular, por divergência
jurisprudencial e, no mérito, negou-lhe provimento.
Eis os fundamentos da decisão embargada, às fls.
234-242:

"1) NORMA COLETIVA. PREVISÃO DE REDUÇÃO DA MULTA


DO FGTS DE 40% PARA 20%. VALIDADE DA CLÁUSULA
NORMATIVA.
O Tribunal Regional negou provimento ao recurso ordinário
interposto pela reclamada com suporte na seguinte fundamentação:
‘DO LEVANTAMENTO DO FGTS. CULPA
RECÍPROCA RECONHECIDA EM CONVENÇÃO
COLETIVA DE TRABALHO. As reclamantes postulam, na
inicial, a liberação de seus depósitos do FGTS com base na
cláusula 28ª da Convenção Coletiva de Trabalho e em acordo
firmado com a empregadora Agroservice Empreiteira Agrícola
Ltda, ficando estabelecida a culpa recíproca na rescisão.
A Caixa Econômica Federal resiste à pretensão aduzindo
que a liberação dos depósitos só é possível mediante
reconhecimento da Justiça do Trabalho de que o rompimento
contratual ocorreu por culpa recíproca, nos termos do § 2º do
art. 18 e art. 20, I, da lei nº 8.036/90 e § do 2º, art. 19, do
Decreto 99.684/90. O MM. Juízo originário deferiu o pleito.
Irresignada, reitera a reclamada os argumentos trazidos
em defesa insistindo que a culpa recíproca que justifica a
liberação do saldo do FGTS é aquela reconhecida
judicialmente. Assevera que a rescisão contratual noticiada nos
autos afigura-se como rescisão contratual por acordo.
Acrescenta que as hipóteses de saque do saldo do FGTS estão
expressas em lei, não podendo instrumento coletivo criar
hipótese nova de saque.
Em princípio deve-se esclarecer que a validade dos
instrumentos coletivos de negociação devem ser respeitados,
inclusive por determinação constitucional. O artigo 7º, XXVI da
Constituição Federal de 1988 prevê, textualmente, o
‘reconhecimento das convenções e acordos coletivos de
trabalho;’. E, ainda, o § 1º do artigo 611 da CLT outorga
autonomia aos sindicatos representantes das categorias
econômicas e profissionais para o estabelecimento das
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condições de trabalho aplicáveis em seu âmbito de atuação ao


estabelecer que ‘É facultado aos Sindicatos representativos de
categorias profissionais celebrar Acordos Coletivos com uma ou
mais empresas da correspondente categoria econômica, que
estipulem condições de trabalho, aplicáveis no âmbito da
empresa ou das acordantes respectivas relações de trabalho.’
No caso vertente, a culpa recíproca prevista em cláusula
de convenção coletiva, decorre do fato de que a empresa
vencida no processo licitatório tem seus empregados
aproveitados pela empresa vencedora do certame. Há interesse
do empregado em romper com antigo empregador e permanecer
trabalhando, muitas vezes, no mesmo local onde presta os
serviços. Também há interesse e disposição da antiga
empregadora em romper o contrato, haja vista que foi vencida
no processo licitatório e não mais dispõe do posto de trabalho
para oferecer aos empregados. Não se trata, portanto, de
rescisão por acordo. Nesse caso incide a previsão do artigo 20, I
da lei 8.036/90: ‘Art. 20. A conta vinculada do trabalhador no
FGTS poderá ser movimentada nas seguintes situações: I -
despedida sem justa causa, inclusive a indireta, de culpa
recíproca e de força maior, comprovada com pagamento dos
valores de que trata o art. 18;’
Logo, a conduta adotada por patrão e empregado amolda-
se à mencionada autonomia constitucional e legal para o
estabelecimento de condições de trabalho, destacando que as
condições se concretizaram na prática. As categorias
profissionais e econômicas têm autonomia para fixar normas
comuns que atendam aos seus interesses, amparadas em lei (art.
7º, XXVI da CF/88 e § 1º do art. 611/CLT). O estabelecimento
em convenção coletiva de culpa recíproca, desde que atendidas
as condições fáticas para a sua ocorrência, atende à exigência
contida no artigo § 2º do art. 18 da lei 8.036/90, amparando o
saque dos depósitos do FGTS previsto no inciso I do art. 20
deste mesmo dispositivo legal. Essa eg. Turma tem posicionado
nesse mesmo sentido:

‘COMPETÊNCIA MATERIAL DA JUSTIÇA DO


TRABALHO. FGTS. ALVARÁ. Reconhecida pela Justiça do
Trabalho a validade de norma coletiva que estabelece redução
no valor da multa do FGTS em troca da continuidade da relação
de emprego com a empresa sucessora, não cabe à CEF negar-se
a liberar os valores respectivos, posto que sua condição de
gestora do fundo não lhe aufere competência para interpretar
convenções coletivas e sua adequação à lei.’ (Ac. 1ª T. RO
1176-2006-002-10-00-0, Rel. Juíza Elaine Machado
Vasconcelos, DJ de 11/05/2007)
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‘DIREITOS INSTITUÍDOS POR NORMA COLETIVA.


A legislação pátria confere aos sindicatos poderes para atuar na
defesa dos interesses de suas respectivas categorias, inclusive
para estabelecer, mediante convenções e acordos coletivos,
novos direitos, melhores condições de trabalho, garantias de
manutenção do emprego, entre outros. É salutar, portanto, que o
Judiciário reconheça a validade das negociações havidas entre
os sindicatos, até mesmo para fortalecê-los. Deve prevalecer,
pois, o princípio pacta sunt servanda.’ (Ac. 1ª T. RO 1143-2006-
016-10-00-3, Rel. Juiz Pedro Luís Vincentin Foltran, DJ de
27/04/2007)

‘LEVANTAMENTO DO FGTS. EMPRESA


SUCESSORA. CLÁUSULA CONVENCIONAL VÁLIDA.
EFEITOS. A teor do disposto no inciso XXVI do art. 7º da
Constituição Federal, não é inconstitucional o dispositivo
normativo pactuado entre os sindicatos representativos das
partes. Assim, é válida a cláusula convencional que prevê a
redução da indenização do FGTS em 20% (vinte por cento),
desde que a empresa sucessora admita os empregados da
empresa anterior, sem solução de continuidade ao pagamento de
salários e à prestação de serviços, consoante ajustado.’ (Ac. 1ª
T. ROPS 1101-2006-007-10-00-1, Rel. Juíza Maria Regina
Machado Guimarães, DJ de 30/03/2007).
Assim mantenho a decisão originária por seus próprios
fundamentos. Recurso não provido.’ (fls. 169/172).
Nas razões do recurso de revista, a Caixa Econômica Federal insurge-
se contra a condenação à liberação dos depósitos do FGTS. Articula a
nulidade de instrumento normativo que prevê rescisão contratual na
modalidade culpa recíproca e multa sobre o FGTS na base de 20%. Indica
afronta aos artigos 484 da CLT; 18, § 2º, da Lei nº 8.036/90; 1º da Lei
Complementar nº 110/01; 19, § 2º, do Decreto nº 99.684/90; 7º, incisos I,
VI, XIII e XIV, da Constituição Federal de 1988; e 10 do ADCT. Traz
arestos para o confronto de teses.
Logra a recorrente demonstrar a existência de divergência
jurisprudencial específica a ensejar o conhecimento do recurso de revista.
Os arestos paradigmas exibidos às fls. 191/193, oriundos do Eg. TRT
da 20ª Região, preconizam tese no sentido de ser inválido o instrumento
normativo que prevê rescisão contratual na modalidade culpa recíproca e
multa sobre o FGTS na base de 20%.
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Conheço do recurso, por divergência jurisprudencial.


II - MÉRITO
NORMA COLETIVA. PREVISÃO DE REDUÇÃO DA MULTA DO
FGTS DE 40% PARA 20%. VALIDADE DA CLÁUSULA NORMATIVA.
As convenções e acordos coletivos resultam da livre manifestação da
vontade das partes, portanto, norma autônoma de natureza especial. O
acordo coletivo, devidamente formalizado, constitui ato jurídico perfeito,
cuja eficácia é reconhecida constitucionalmente (art. 7º, inciso XXVI, da
Constituição Federal). Esses instrumentos de direito coletivo integram o
gênero transação, demandando interpretação conjunta de suas cláusulas,
que expressam conquistas e concessões.
A Carta Magna, em seu art. 7º, inciso XXVI, garante amplamente a
validade do acordo coletivo, pois se trata da livre manifestação de vontade
entre as partes acordantes, visando à garantia de seus interesses.
A desconstituição de seus termos só poderá ocorrer quando utilizado
procedimento específico, previsto em lei (art. 615 da CLT). Deixar ao
arbítrio de uma das partes o cumprimento de ato negocial é estabelecer
condição defesa, como prevê o art. 115 do Código Civil de 1916.
José Afonso da Silva em seus ensinamentos classifica as normas
como: a) de eficácia plena; b) de eficácia contida; e c) de eficácia limitada,
dividindo as últimas em declaratórias de princípios institutivos e
declaratórias de princípios programáticos.
Para o constitucionalista, as normas de eficácia plena são ‘aquelas
que, desde a entrada em vigor da Constituição, produzem ou têm a
possibilidade de produzir todos os efeitos essenciais, relativamente aos
interesses, comportamentos e situações, que o legislador constituinte, direta
e normativamente, quis regular (...) porque dotadas de todos os meios e
elementos necessários à sua executoriedade, não comportando
normatividade alguma ulterior para a sua aplicação’. (SILVA, José Afonso
da, Normas Constitucionais, in A Norma Jurídica, coord. Sérgio Ferraz, Ed.
Freitas Bastos, Rio de Janeiro – 1989).
Observa-se da transcrição do acórdão recorrido que a Corte Regional
admite a existência de norma coletiva, firmada entre os sindicatos das
categorias econômica e profissional, em que há previsão acerca do
reconhecimento de culpa recíproca e o pagamento de indenização de 20%
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sobre os depósitos do FGTS na rescisão contratual, revelando-se, na


hipótese, de eficácia plena.
O fato de o artigo 18, § 2º, da Lei 8.036/90 prever que a culpa
recíproca carece de reconhecimento judicial só reflete o caráter protetivo e
tutelar que impregna as normas relacionadas ao direito individual do
trabalho, mormente aquelas que dizem com a terminação do contrato por
iniciativa do empregador. Não conduz, pois, ao entendimento de que o
reconhecimento judicial seja exigível quando há acordo entre as partes, uma
vez que o trabalhador esteve representado legitimamente pela entidade
correspondente à sua profissão.
No caso vertente, não se trata, ainda, de rescisão contratual fictícia,
vedada pela simulação que a perpassa, mas de término do contrato de
trabalho com a empresa sucedida, objetivando o acordo firmado entre as
partes.
Assim, entendo válida a norma coletiva que prevê a rescisão
contratual por culpa recíproca, com a consequente liberação do FGTS com
indenização de 20%.
Registre-se que esta 8ª Turma, no julgamento do Proc. TST-RR-
3518/2008-660-09-00.4, Relatora Ministra Maria Cristina I. Peduzzi,
publicado no DEJT de 6/11/2009, confirmou esse posicionamento, refletido
na respectiva ementa, assim redigida:
‘RECURSO DE REVISTA. [...] VERBAS
RESCISÓRIAS NORMA COLETIVA - PREVISÃO DE
REDUÇÃO DA MULTA DO FGTS DE 40% PARA 20% 1. A
discussão dos autos diz respeito à validade de cláusula
normativa que estabelece a (re)contratação do empregado
terceirizado pela nova empresa prestadora que substitui a
empresa prestadora anterior na tomadora de serviços. Em
contrapartida, a norma coletiva estabelece que a rescisão
contratual, em relação à empresa prestadora anterior, ocorrerá
sob o título de culpa recíproca , sendo indevido o aviso prévio e
a indenização adicional (art. 9º da Lei nº 7.238/84), e estipula a
redução da multa do FGTS para 20%. 2. Deve ser privilegiada a
prerrogativa conferida pela Constituição aos atores coletivos de
celebrarem acordos e convenções coletivas de trabalho (art. 7º,
XXVI). 3. O sindicato profissional entabulou negociação que
resultou em norma coletiva que confere efetividade ao princípio
constitucional da proteção do emprego (art. 7º, I). A hipótese
vertente não cuida de mera restrição a direitos legais, mas, sim,
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de uma negociação realizada entre as entidades envolvidas para


privilegiar a preservação dos postos de trabalho. 4. Desse modo,
a norma coletiva revela-se benéfica ao empregado, em especial
por se tratar de trabalhador terceirizado, em que a rescisão
contratual é praticamente certa quando a empresa prestadora
não consegue manter o contrato com a empresa tomadora dos
serviços como é o caso dos autos. Antes de beneficiar a
empresa, a cláusula normativa beneficia diretamente os
trabalhadores terceirizados. 5. A Caixa Econômica Federal não
tem legitimidade, quer para negar validade à norma coletiva,
quer para recusar a movimentação da conta vinculada pelo
empregado na hipótese dos autos. 6. De acordo com o art. 23 da
Lei nº 8.036/90, a fiscalização do cumprimento dessa lei
incumbe ao Ministério do Trabalho, órgão responsável
exatamente pelo depósito e pela publicidade das normas
coletivas, de acordo com o mencionado art. 614 da CLT.
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS Prejudicado. Recurso de
Revista parcialmente conhecido e provido.’
Nessa mesma linha, anote-se outro precedente, da lavra do Ministro
Antônio Barros Levenhagen:
‘LEVANTAMENTO DO FGTS - CULPA RECÍPROCA
RECONHECIDA EM CONVENÇÃO COLETIVA DE
TRABALHO. I - Não se vislumbra ofensa ao art. 18, § 2º, da
Lei 8.036/90. Isso porque, ao fixar que quando ocorrer
despedida por culpa recíproca, reconhecida pela Justiça do
Trabalho, o percentual de que trata o § 1º será de vinte por
cento, não exclui, por si só, a legalidade de cláusula coletiva
pactuando a caracterização da culpa recíproca para fins do
levantamento do depósito do FGTS. Assim, não se constata o
atendimento ao art. 896, -c-, da CLT. II - Inviável, por sua vez,
indagar sobre as ofensas suscitadas aos artigos 10, I, do ADCT,
e 7º, I, VI, XIII e XIV, da Constituição Federal, tendo em vista
passarem ao largo da controvérsia em torno da caracterização
da culpa recíproca, instituída em norma coletiva, para fins de
levantamento dos depósitos do FGTS. III - A divergência
jurisprudencial colacionada revela-se inservível, nos termos da
Súmula 296 do TST e da alínea -a- do artigo 896 da CLT. IV -
Recurso não conhecido.’ (RR-349/2007-001-10-00, DJ de
5/9/2008).
Do exposto, nego provimento ao recurso de revista, remanescendo
incólumes os preceitos constitucionais e de lei ordinária apontados."

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Nas razões dos embargos, a Caixa Econômica Federal


renova o debate acerca da impossibilidade de liberação do saque do
FGTS, argumentando que, nos termos do art. 18, § 2º, da Lei
8.036/90, a "culpa recíproca" só pode ser reconhecida pela Justiça
do Trabalho, devendo ser declarada nula a cláusula normativa por
falta de amparo legal. Argui violação dos arts. 7º, I e XXVI, da CF,
10, I, do ADCT, 477, §8º, da CLT, e 18, §3º, da Lei nº 8.036/90,
além de apresentar arestos para confronto de teses.
À análise.
Trata-se de embargos interpostos contra acórdão
publicado na vigência da Lei 11.496/2007, que limitou a hipótese de
cabimento a divergência jurisprudencial.
Desse modo, inviável o exame do conhecimento do
apelo por violação dos arts. 7º, I e XXVI, da CF, 10, I, do ADCT,
477, §8º, da CLT, e 18, §3º, da Lei nº 8.036/90.
Quanto à análise do conhecimento dos embargos por
divergência jurisprudencial, percebe-se que, no caso concreto, a 8ª
Turma deste Tribunal considerou válida a cláusula normativa que
estabelece a continuidade do vínculo empregatício com a empresa
substituta e prevê a rescisão contratual com a empresa substituída
na modalidade de culpa recíproca, com a redução da indenização
incidente sobre os depósitos do FGTS de 40% para 20%.
A ementa do aresto paradigma transcrito à fl. 253
caracteriza divergência jurisprudencial específica, ao apresentar
tese no sentido de não ter validade cláusula coletiva que reduz de
40% para 20% a indenização incidente sobre os depósitos do FGTS do
empregado contratado pela empresa fornecedora de mão de obra que
veio a ser sucedida por outra, na prestação do mesmo serviço, sob a
modalidade da ruptura contratual qualificada como culpa recíproca.
Esse paradigma cumpre, ademais, os requisitos da
Súmula 337, I, do TST, mediante transcrição da ementa considerada
divergente, indicação da data de publicação e fonte de publicação
contendo o DJ de 29/08/2008.
Demonstrado o dissenso jurisprudencial, nos termos
das Súmulas 296, I, e 337, I, do TST, conheço dos embargos.
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Mérito

Cinge-se a controvérsia à possibilidade de


levantamento dos depósitos do FGTS mais a multa de 20% (vinte por
cento), com fundamento na cláusula de convenção coletiva de trabalho
denominada "incentivo à continuidade do contrato de trabalho", a
qual, além de obrigar as empresas que sucederam outras na prestação
do mesmo serviço em razão de nova licitação a contratar os
empregados da empresa sucedida, estabelece que a rescisão contratual
obrigará ao pagamento de 20% (vinte por cento) sobre os depósitos do
FGTS a título de multa.
O saldo da conta vinculada do FGTS pode ser sacado
pelo empregado nas situações tipificadas nos incisos do artigo 20 da
Lei 8.036/1990. Tratam esses incisos, com pormenores, de
levantamento possível em razão de despedida sem justa causa,
inclusive a indireta, por culpa recíproca e por força maior;
extinção total da empresa ou fechamento de estabelecimento;
aposentadoria; falecimento do trabalhador; pagamento de prestações
do Sistema Financeiro Habitacional; aquisição de moradia; conta
inativa; extinção normal do contrato a termo; suspensão do trabalho
avulso; neoplasia maligna; aplicação em quotas de Fundos Mútuos de
Privatização.
Se o empregado é dispensado sem justa causa,
assiste-lhe o direito à indenização de valor equivalente a 40% do
montante dos depósitos em sua conta vinculada, acrescido de juros e
correção monetária. Em hipóteses de cessação do contrato por culpa
recíproca ou força maior, a indenização é devida, mas pela metade
(20%). Essa indenização deve ser depositada na conta vinculada do
trabalhador, para que a levante em seguida, dada a necessidade de se
coibir a resilição simulada de contratos (as quais visavam ao saque
em meio ao vínculo de emprego), tudo em conformidade com o artigo 18
e parágrafos da Lei 8.036/1990.
Consoante transcrição inserida no acórdão
recorrido, o Tribunal Regional deu validade à citada cláusula de
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convenção coletiva, a qual reconhece a hipótese de culpa recíproca e


fixa o pagamento de 20% sobre os depósitos do FGTS quando a empresa
prestadora de serviços, vencida no processo licitatório, tem seus
empregados aproveitados pela empresa vencedora do certame, uma vez
que, de um lado, "há interesse do empregado em romper com antigo
empregador e permanecer trabalhando, muitas vezes, no mesmo local
onde presta os serviços" e, de outro lado, "há interesse e
disposição da antiga empregadora em romper o contrato, haja vista
que foi vencida no processo licitatório e não mais dispões do posto
de trabalho para oferecer aos empregados" (fls. 235-236).
O artigo 484 da Consolidação das Leis do Trabalho
prescreve: "havendo culpa recíproca, no ato que determinou a
rescisão do contrato de trabalho, o tribunal do trabalho reduzirá a
indenização à que seria devida em caso de culpa exclusiva do
empregador, por metade" (sem destaques no original).
A culpa recíproca é importante pelos efeitos
jurídicos que dela advêm. O artigo 18, § 2º, da Lei 8.036, de 1990,
reduz a 20% a indenização devida, nesse caso, sobre os depósitos do
FGTS. Por sua vez, a Súmula 14 do TST equiparou a culpa recíproca à
justa causa cometida pelo empregado no tocante ao direito, o qual
afirma não existir, a aviso-prévio, férias e 13º salário
proporcionais. Valentin Carrion pondera que, por coerência, caberia
reduzir à metade o valor devido, nos casos de dispensa sem justa
causa, a esses títulos.
Mas, para reconhecer os efeitos jurídicos
decorrentes da culpa recíproca nas relações de trabalho, é
imprescindível a constatação da conduta obreira culposa. Como a
auto-delação, pelo empregador e pelo empregado, é improvável,
comete-se normalmente ao juiz a função de enfrentar o caso concreto
e então perceber terem empregado e empregador agido mediante
condutas igualmente graves, de modo a tornar insustentável a
preservação do emprego.
É comum ocorrer de uma das condutas ser a causa da
conduta adversa, como na troca de ofensas físicas ou verbais, quando
o comportamento de ambos os contendores se mostra estranho às regras
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de civilidade. Sucedendo, ao revés, a retorsão imediata e sem


excesso verbal ou a legítima defesa, decerto que não há culpa
recíproca, mas o cometimento de justa causa pelo primeiro agressor.
Há decisões judiciais nas quais se conclui pela
culpa recíproca quando o empregado reage, imoderadamente, a uma
conduta patronal que viola lei ou contrato e se protrai no tempo, a
exemplo de uma agressão verbal ou física do trabalhador provocada
por mora salarial.
Somente na análise do caso concreto, observando-se
o princípio da primazia da realidade, norteador do Direito do
Trabalho, é possível constatar a hipótese de culpa recíproca na
ruptura do contrato de emprego. Entre o que expressem os documentos
e a realidade contrastante, prevalecerá sempre a realidade.
Por se estar diante de norma coletiva restritiva
de direito envolvendo instituto com previsão em lei, é necessário
reconhecimento em juízo das premissas fáticas para evitar fraudes
perpetradas por empregadores, criando hipótese de culpa recíproca
não prevista em lei com renúncia de direitos, o que não se coaduna
com o princípio constitucional da autonomia de negociação coletiva
(CF/88, art. 7º).
Com efeito, conquanto seja salutar a busca pela
valorização das condições estabelecidas em acordo coletivo, nos
exatos termos do art. 7º, XXVI, da Constituição Federal, certo é que
a observância dos referidos instrumentos normativos não deve
comprometer as regras trabalhistas de indisponibilidade absoluta, a
exemplo daqueles garantidos na Carta Magna (art. 7º, III) e na
legislação infraconstitucional (Lei 8.036/90).
Afinal, apesar de a autonomia privada coletiva ter
alcançado nível constitucional com a Carta Magna de 1988, imperativa
a observância das regras mínimas de proteção ao trabalhador, as
quais configuram um balizador, impedindo o avanço da negociação
coletiva sobre direitos trabalhistas indisponíveis.
Assim, não há como reconhecer o ajuste celebrado
entre as partes convenentes quando os parâmetros estabelecidos em
norma coletiva que se está subtraindo direitos dos trabalhadores
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PROCESSO Nº TST-E-RR-6600-68.2007.5.10.0008

revestidos de indisponibilidade absoluta, razão pela qual se entende


inválida a cláusula coletiva em questão, a qual vincula terceiros
que nem ao menos participaram da negociação coletiva.
Nesse sentido, há precedentes da SBDI-1,
inclusive, o último transcrito abaixo foi proferido em julgamento
com quórum completo:

"RECURSO DE EMBARGOS REGIDO PELA LEI Nº 11.496/2007.


FGTS. INDENIZAÇÃO. REDUÇÃO DE 40% PARA 20% POR FORÇA
DE NORMA COLETIVA QUE SE REPORTA À CULPA RECÍPROCA.
DIREITO IRRENUNCIÁVEL. 1. As categorias celebraram convenção
coletiva de trabalho na qual, sob a oferta de garantia de emprego, ajustaram
a redução da indenização relativa ao FGTS para 20%, sob o rótulo da
concorrência de culpa recíproca, a despeito da ausência de quaisquer das
situações a que aludem os arts. 482, 483 e 484 da CLT. 2. Controverte-se
sobre o cabimento de a Caixa Econômica Federal exigir a complementação
do valor assim pago. 3. A negociação coletiva é instituto valorizado e
protegido pela ordem constitucional (CF, art. 7º, incisos VI, XIII, XIV,
XXVI, art. 8º, III). Constitui opção legitimadora do regramento trabalhista,
sempre adquirindo prestígio nos ordenamentos mais modernos e evoluídos.
Não está - e não pode estar -, no entanto, livre de quaisquer limites,
atrelada, apenas, à vontade daqueles que contratam. 4. A mesma
Constituição, que consagra acordos e convenções coletivas de trabalho, fixa
direitos mínimos para a classe trabalhadora, exigindo a proteção da
dignidade da pessoa humana e dos valores sociais do trabalho. Esta
proteção não pode subsistir sem a reserva de direitos mínimos, infensos à
redução ou supressão por particulares e categorias. Em tal área, protegidas
estão as normas que disciplinam o Fundo de Garantia por Tempo de
Serviço. 5. Na voz do art. 18, § 2º, da Lei nº 8.036/90, a culpa recíproca a
que se refere o art. 484 da CLT somente autorizará a redução do percentual
de 40% quando reconhecida a culpa recíproca pela Justiça do Trabalho. 6.
Não existe, no ordenamento jurídico, norma que autorize o procedimento
adotado pela autora, valendo ressaltar que o valor em discussão extrapola o
patrimônio jurídico do trabalhador e alcança, pela natureza do Órgão
Gestor, interesse de toda a coletividade. 7. A promessa de manutenção de
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emprego não pode ser permutada pela flexibilização de direito inscrito em


norma de ordem pública. A irregularidade da redução da indenização do
FGTS para 20% legitima a cobrança da diferença que se quer indevida.
Recurso de embargos conhecido e desprovido." (E-RR-83340-
45.2008.5.10.0004, Relator Ministro Alberto Luiz Bresciani de Fontan
Pereira, SBDI-1, Data de Julgamento 08/10/2015, Data de Publicação
DEJT 16/10/2015)

"RECURSO DE EMBARGOS INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DA


LEI N.º 11.496/2007. CLÁUSULA COLETIVA MEDIANTE A QUAL SE
ESTABELECE A CULPA RECÍPROCA COMO FUNDAMENTO PARA
TODAS AS RESCISÕES CONTRATUAIS NO ÂMBITO DA
CATEGORIA PROFISSIONAL. REDUÇÃO DO PERCENTUAL A
INCIDIR SOBRE OS VALORES DEPOSITADOS NA CONTA
VINCULADA DO EMPREGADO DE 40% PARA 20%.
IMPOSSIBILIDADE, ANTE A NULIDADE DA CLÁUSULA
COLETIVA. 1. O Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS - é
instituto de natureza multidimensional e complexa. Pelo prisma trabalhista,
sobressaem as hipóteses de movimentação do FGTS vinculadas às
modalidades de ruptura do contrato de emprego, sem culpa do empregado.
Na hipótese de culpa recíproca, caracterizada pela prática simultânea, pelas
partes contratantes, de conduta tipificada nos artigos 482 e 483 da
Consolidação das Leis do Trabalho, judicialmente reconhecida (artigo 484
da Consolidação das Leis do Trabalho), o FGTS será devido com redução
do acréscimo rescisório do percentual de 40% para 20%, nos termos do
artigo 18, § 2º, da Lei n.º 8.036/90. 2. Relevante frisar que, do princípio da
primazia da realidade, norteador do Direito do Trabalho, resulta a ineficácia
da alteração na natureza de institutos jurídicos, ainda que resultante de
norma coletiva. Com efeito, não se insere no âmbito da disponibilidade das
partes a definição da natureza de fato ou de instituto jurídico regido por
norma legal específica. 3. Resulta inválida, daí, cláusula normativa
mediante a qual se pretende prefixar a culpa recíproca como modalidade
para a rescisão do contrato de emprego, visando a minorar o acréscimo
rescisório incidente sobre o FGTS, na forma da lei. 4. Sob o aspecto do
caráter social do instituto, a regularidade dos depósitos do FGTS constitui
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PROCESSO Nº TST-E-RR-6600-68.2007.5.10.0008

garantia da realização do interesse público primário de toda a sociedade.


Assim, a autonomia da vontade coletiva, consagrada no artigo 7º, XXVI, da
Lei Maior, há de ser exercida no âmbito que lhe é próprio, e desde que não
contrarie norma de caráter cogente. 5. Tem-se, contudo, que, no presente
caso, como reconhecido pela própria reclamada em seu recurso de revista, a
demissão dos reclamantes se deu sem justa causa, uma vez que o motivo da
culpa recíproca não passou de mera convenção decorrente de cláusula
coletiva, não condizente com a realidade dos fatos. Nesse contexto, deve
ser mantida a condenação da Caixa Econômica quanto à liberação do
levantamento do FGTS dos reclamantes. Precedente da SBDI-I. 6. Recurso
de embargos conhecido e parcialmente provido". (E-RR-52340-
95.2006.5.10.0004, SBDI-1, Relator Ministro Lelio Bentes Corrêa, Data de
Julgamento 05/03/2015, Data de Publicação DEJT 13/03/2015)

"NORMA COLETIVA. CLÁUSULA RELATIVA A RESCISÃO DO


CONTRATO DE TRABALHO. CULPA RECÍPROCA. RECOLHIMENTO
PARA O FGTS. Discute-se a possibilidade de se pactuar em norma coletiva
cláusula que assegure que a empresa sucessora na prestação de serviços
objeto de terceirização admita os empregados da anterior e em que se
estipule que a rescisão contratual com a empresa anterior se dará por culpa
recíproca, sendo devido o acréscimo de 20% sobre os depósitos existentes
na conta vinculada do empregado junto ao Fundo de Garantia por Tempo de
Serviço. Cláusula dessa natureza revela-se manifestamente inválida, na
medida em que vincula terceiros que não participaram da negociação
coletiva, alcançando tanto o órgão gestor do Fundo de Garantia por Tempo
de Serviço, ao possibilitar o levantamento dos depósitos existentes na conta
vinculada do empregado, como o novo empregador, que se vê compelido a
admitir os empregados da empresa anterior. Ademais, é inadmissível que
norma coletiva venha a tipificar hipóteses de culpa recíproca quando o
legislador expressamente determina que essa somente estará caracterizada
mediante decisão judicial (arts. 484 da CLT e 18, § 1º, da Lei 8.036/90).
Recurso de Embargos de que se conhece e a que se dá provimento." (E-RR-
34600-97.2006.5.10.0013, Rel. Min. João Batista Brito Pereira, SBDI-1,
data de julgamento 23/8/2012, data de publicação DEJT 31/8/2012, decisão
unânime.)
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"AGRAVO REGIMENTAL EM EMBARGOS. Constatada a


divergência jurisprudencial a respeito da validade de negociação coletiva
que culmine em redução do valor da multa sobre os depósitos do FGTS de
quarenta para vinte por cento, reputa-se atendida a Súmula 296, I, do TST.
Agravo Regimental a que se dá provimento. EMBARGOS. FGTS.
CLÁUSULA NORMATIVA QUE REDUZ A MULTA DE 40% PARA 20%
E ESTABELECE DE ANTEMÃO A EXISTÊNCIA DE CULPA
RECÍPROCA. INVALIDADE. Na sessão plenária da Subseção de
Dissídios Individuais 1 de 22/8/2014, decidiu-se por inválida cláusula de
convenção coletiva de trabalho que estabelece, de antemão, a existência de
culpa recíproca na rescisão do contrato de trabalho e a consequente redução
da multa de quarenta por cento sobre os depósitos do FGTS para vinte por
cento, mediante o compromisso das empresas que sucederam outras na
prestação do mesmo serviço, em razão de nova licitação, de contratarem os
empregados da empresa sucedida. Trata-se de direito indisponível do
empregado, garantido em norma de ordem pública e, portanto, infenso à
negociação coletiva (E-ED-RR-45700-74.2007.5.16.0004, SBDI-I, rel.
Min. Ives Gandra Martins Filho, red. p/ acórdão Min. Lelio Bentes Corrêa).
Embargos de que se conhece e a que se dá provimento." (E-ARR-237-
96.2011.5.10.0017 , Relator Ministro Márcio Eurico Vitral Amaro, SBDI-1,
Data de Julgamento 26/02/2015, Data de Publicação DEJT 06/03/2015)

"RECURSOS DE EMBARGOS INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DA


LEI N.º 11.496/2007. CLÁUSULA COLETIVA MEDIANTE A QUAL SE
ESTABELECE A CULPA RECÍPROCA COMO FUNDAMENTO PARA
TODAS AS RESCISÕES CONTRATUAIS NO ÂMBITO DA
CATEGORIA PROFISSIONAL. REDUÇÃO DO PERCENTUAL A
INCIDIR SOBRE OS VALORES DEPOSITADOS NA CONTA
VINCULADA DO EMPREGADO DE 40% PARA 20%. LIBERAÇÃO
DO AVISO-PRÉVIO. IMPOSSIBILIDADE, ANTE A NULIDADE DA
CLÁUSULA COLETIVA. 1. O Fundo de Garantia do Tempo de Serviço -
FGTS - é instituto de natureza multidimensional e complexa. Sob o prisma
trabalhista, sobressaem as hipóteses de movimentação do FGTS vinculadas
às modalidades de ruptura do contrato de emprego, sem culpa do
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MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
fls.18

PROCESSO Nº TST-E-RR-6600-68.2007.5.10.0008

empregado. Na hipótese de culpa recíproca, caracterizada pela prática


simultânea, pelas partes contratantes, de conduta tipificada nos artigos 482
e 483 da Consolidação das Leis do Trabalho, judicialmente reconhecida
(artigo 484 da Consolidação das Leis do Trabalho), o FGTS será devido
com redução do acréscimo rescisório do percentual de 40% para 20%, nos
termos do artigo 18, § 2º, da Lei n.º 8.036/90. 2. Relevante frisar que, do
princípio da primazia da realidade, norteador do Direito do Trabalho,
resulta a ineficácia da alteração na natureza de institutos jurídicos, ainda
que resultante de norma coletiva. Com efeito, não se insere no âmbito da
disponibilidade das partes a definição da natureza de fato ou de instituto
jurídico regido por norma legal específica. 3. Resulta inválida, daí, cláusula
normativa mediante a qual se pretende pré-fixar a culpa recíproca como
modalidade para a rescisão do contrato de emprego, visando a minorar o
acréscimo rescisório incidente sobre o FGTS, na forma da lei. 4. Sob o
aspecto do caráter social do instituto, a regularidade dos depósitos do FGTS
constitui garantia da realização do interesse público primário de toda a
sociedade. Assim, a autonomia da vontade coletiva, consagrada no artigo
7º, XXVI, da Lei Maior, há de ser exercida no âmbito que lhe é próprio, e
desde que não contrarie norma de caráter cogente. 5. Imperioso ressaltar,
ainda, quanto ao direito à percepção do aviso-prévio, que referida parcela é
irrenunciável, consoante entendimento consagrado na Súmula n.º 276 desta
Corte superior. 6. Recurso de embargos conhecido e não provido." (E-ED-
RR-45700-74.2007.5.16.0004, Redator Ministro Lelio Bentes Corrêa,
SBDI-1, Data de Julgamento 21/08/2014, Data de Publicação DEJT
06/02/2015)

Cumpre esclarecer que no julgamento do Processo


TST-E-RR-34900-61.2007.5.10.0001, ocorrido em 23/10/2014, no qual
fui relator, após debate sobre a necessidade de seguir o precedente
fixado a partir do Proc. E-RR-7000-10.2006.5.10.0011, em que também
fui o relator de sorteio, e redator para acórdão Min. Luiz Philippe
Vieira de Mello Filho, julgado em 26/09/2013, DEJT de 18/09/2015,
esta Subseção concluiu que havia peculiaridades diversas do primeiro
julgamento no qual foi negado provimento ao recurso de embargos
interposto pela CEF.
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fls.19

PROCESSO Nº TST-E-RR-6600-68.2007.5.10.0008

Considerando que no recurso de revista (fl. 183) a


Caixa Econômica Federal – CEF admite expressamente que houve
dispensa sem justa causa, e, no recurso de embargos, sustenta não
ser possível a norma coletiva estabelecer a forma de rescisão
contratual como culpa recíproca, sem os elementos necessários para
tanto (fl. 261), dou provimento parcial, apenas para declarar
inválida a cláusula da convenção coletiva que reduz a 20% a multa
incidente sobre os depósitos do FGTS, confirmando a decisão que
autoriza o saque dos valores depositados na conta-vinculada.

ISTO POSTO

ACORDAM os Ministros da Subseção I Especializada


em Dissídios Individuais do Tribunal Superior do Trabalho, por
maioria, vencido o Exmo. Ministro Ives Gandra Martins Filho,
conhecer do recurso de embargos por divergência jurisprudencial e,
no mérito, dar-lhe provimento parcial, apenas para declarar inválida
a cláusula da convenção coletiva que reduz a 20%, a multa incidente
sobre os depósitos do FGTS, confirmando a decisão que autoriza o
saque dos valores depositados na conta-vinculada.

Brasília, 3 de Março de 2016.

Firmado por assinatura digital (MP 2.200-2/2001)


AUGUSTO CÉSAR LEITE DE CARVALHO
Ministro Relator

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