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ALONSO E QUIXOTE NO PARADIGMA DA LOUCURA:

A HISTÓRIA E A FICÇÃO.

ELENYR CAVADAS1; ALINE COELHO DA SILVA2


1UniversidadeFederal de Pelotas (UFPel) – elenyr.c@htmail.com
2 Universidade Federal de Pelotas (UFPel) – silva.aline.coelho@gmail.com

1. INTRODUÇÃO

Tendo em vista as muitas possibilidades de abordagem sobre o tema loucura,


objetivou-se nesta pesquisa, analisar os personagens Alonso e Quixote sob uma
perspectiva embasada em seu contexto histórico-social.
Há mais de 400 anos, a grandiosa utopia quixotesca vem sendo analisada em
suas diferentes peculiaridades. Autor, obra, personagens e, principalmente, o tema
“loucura” são pontos intrigantes às críticas e análises literárias, às releituras e
intertextualidades. Toda essa riqueza literária possibilita, até hoje, diversas vias de
análise e reflexão.
Tendo em vista o caráter histórico-social do universo literário cervantino, Buxó
(2008) aponta a necessidade de retomarem-se os conceitos de loucura nos séculos
XVI e XVII para um melhor entendimento das ideias que fundamentavam a criação
artística de Cervantes em Don Quixote. Assim, segundo Foucault (1997), desde o
século XV, além das doenças venéreas e da lepra, a loucura também esteve em
evidência. Consideradas pela Igreja como algo demoníaco, eram condenadas a
diversas formas de a exclusão. Rotterdan, em 1509, escreveu sobre esse tema em
seu famoso ensaio Elogio da Loucura. Nessa sátira, o autor personifica e da voz à
loucura em uma época em que, afirma FOUCAULT (1997), “a palavra do louco era
excluída e o seu discurso silenciado” (p.11).
Buscando confrontar ficção e realidade na obra de Cervantes, Szirko (1996)
afirma ser notória a influência de Huarte na elaboração do perfil psicológico que
Cervantes faz do fidalgo. Segundo a autora, a obra cervantina apresenta diversos
aspectos, tanto físicos como psicológicos, estabelecidos por San Juan em seus
estudos. Huarte estabelece que a saúde e vida do homem dependem da harmonia
do calor, da frieza, da humidade e da secura. A isso se refere Cervantes quando
aponta que Alonso: “... del mucho leer, se le secó el celebro” (CERVANTES, 2004,
p.29), ou seja, o excesso de secura em seu cérebro foi a causa de sua perda de
juízo.
Para Harald Bloom (2001), a questão da loucura na obra cervantina era a
forma que permitiria, tanto a Cervantes como a Quixote, a liberdade para falar o
que quisessem, como uma “licença de bobo” (p.129). Entretanto, aponta que
Quixote, voluntariamente, se põe a um mundo e a tempo ideais, no qual se entrega
de modo fiel à sua própria liberdade. Unamuno (apud Harold Bloom, 2001) afirma
que “o protagonista só encontra essa liberdade em seu exílio interno” (p.133).
Aponta ainda que a “loucura de Quixote é uma recusa de Alonso em aceitar o que
Freud chamava de teste da realidade”, e, desse modo, ele se isenta de reconhecer
o mundo real e de ter responsabilidade sobre próprias ações.
No que tange à dicotomia ficção e realidade, idealismo e utopia que envolvem
os protagonistas Alonso e Quixote, Auerbach (2011) assegura que ambos
compartilham uma coexistência: “em dado momento, uma ideia fixa tomou conta
de Alonso, porém, deixou livres partes de sua personalidade; assim, só quando sua
ideia fixa entra em jogo é que ele é doido” (p.311). Para o autor, a sabedoria de
Quixote não é a de um doido, mas sim a de um homem com entendimento e censo
equilibrado, afirmando, então, que Alonso faz-se presente em diversos momentos.
Entretanto para Buxó (2008), não existiria esse dualismo distinguindo duas
personalidades. O autor diz que a loucura de Quixote “não se opõe à sabedoria e
bondade de Alonso, nem é independente delas, e sim sua própria consequência e
conclusão”.
Todas as questões aqui apontadas, tanto no contexto dos fatos históricos
quanto na obra de Cervantes, ainda não dão conta para se afirmar a exata
profundidade ou extensão no que se refere à loucura de Alonso e Quixote. É uma
tarefa difícil delinear onde termina um e começa o outro: para Auerbach (2011),
Alonso e Quixote compartilham uma coexistência, dado os momentos de provável
lucidez do protagonista; já para Buxó (2008), não existiriam duas personalidades
interagindo e sim a própria consequência e conclusão do idealismo de Quixote;
entretanto, para Bloom (2001) a loucura seria uma estratégia para possibilitar a
liberdade de expressão, e que, voluntariamente, Quixote faz o “joga de cavaleiro
andante”; e para Unamuno (apud Harold Bloom, 2001), as extravagantes loucuras
e atos heroicos do protagonista estariam em seu “inextinguível anseio de
sobreviver”.
Precisar a fronteira entre Alonso e Quixote, ou até mesmo onde ambos se
mesclam e interagem em cumplicidade, permanece sendo uma tarefa com
inúmeras possibilidades de estudos, análises e reflexões dentre todo esse
imaginário utópico.

2. METODOLOGIA

Este trabalho realizou-se através da metodologia de pesquisa bibliográfica.


Desse modo, embasado nos estudos Foucault (1997), em História da Loucura na
Idade Clássica, buscou-se compreender como a loucura era vista e tratada pela
sociedade entre os séculos XV e XVII. Fundamentado o contexto histórico-social,
com os estudos de Huarte de San Juan (“Examen de ingenios para las ciencias”,
1996) abordou-se a fundamentação em que apoiou-se Cervantes para a
elaboração do perfil físico e psicológico do personagem Alonso.
No que se refere as questões sobre a loucura, o idealismo e a utopia que
envolvem os protagonistas, estas embasaram-se no entendimento de autores
como: Auerbach (2011), em “A Dulcineia Encantada”; Buxó (2008), em “La Soledad
de Don Quijote”; Harald Bloom (2001), em “O Jogo do Mundo”; e Unamuno (apud
Harold Bloom, 2001).

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Com a fundamentação do contexto histórico-social foi possível ter uma visão mais
ampla de como a sociedade da época (séculos XV à XVII) lidava com as questões
sobre a loucura, visto que a obra cervantina aborda tanto a loucura como a utopia.
Também buscando-se entender a criação desse protagonista nobre. Assim,
constatou-se, conforme afirma Szirko (1996), a influência de Huarte de San Juan
na elaboração do perfil psicológico que Cervantes faz do “ingenioso Hidalgo”:
Desse modo, objetivou-se pautar, nessas investigações, os fatos que
fundamentassem o contexto ficcional da obra.
Para a abordagem diegética, a pesquisa seguiu com vistas nos estudos
críticos literários cujos autores trataram a relação entre Alonso e Quixote no que se
refere à realidade e ficção vividas pelos personagens: consciência, coexistência,
idealismo, loucura, utopia; enfim, aspectos que abarcam a busca de ambos pela
sobrevivência. Confrontando tais estudos, observou-se que, com reflexões
distintas, os autores apresentam pontos de vista opostos quanto à análise de um
mesmo aspecto sobre os personagens protagonistas da obra cervantina. Desse
modo, pode-se afirmar que, dentre os autores aqui analisados, as críticas literárias
não apresentam um ponto comum que se possa assumir como definitivo.

4. CONCLUSÕES

Após a análise de todos os dados obtidos nesta pesquisa, observando-se as


divergências entre as críticas de conceituados autores, conclui-se que no universo
da obra de Saavedra, na enigmática utopia quixotesca e a relação de coexistência
entre os protagonistas, apesar dos inúmeros trabalhos de pesquisa já realizados,
ainda permanece como uma incógnita na obra cervantina.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Livro
CERVANTES SAAVEDRA, M. Don Quijote de la Mancha, Edición del IV
Centenario. España: Real Academia Española, 2004.

ERASMO, D. 1467-1536. Elogio da Loucura. Porto Alegre: L&PM, 2011.

FOUCAUL, M. História da Loucura na Idade Clássica, 5ª ed. São Paulo:


Perspectiva, 1997.

Capítulo de livro
AUERBACH, E. A Dulcineia Encantada. In: AUERBACH, E. "Mimesis": a
representação da realidade na literatura ocidental. São Paulo: Perspectiva,
2011. p. 299-320.

BLOOM, H. Cervantes: O Jogo do Mundo. In: BLOOM, H. O cânone ocidental: os


livros e a escola do tempo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. p. 128-145

Artigo
BUXÓ, J. P. La Soledad de Don Quijote. Revista de Estudos Cervantinos, Nº 5,
Febrero-marzo, 2008. Acesso em: 02 mar. 2013. Disponível em:
http://www.estudioscervantinos.org/5/Jose_Pascual_Buxo.pdf

Documentos eletrônicos
HUARTE de San Juan. Examen de ingenios para las ciencias. Acessado em: 02
mar. 2013 Disponível em:
http://electroneubio.secyt.gov.ar/Juan_Huarte_de_San_Juan_Examen_de_ingenio
s.pdf

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