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Esp. AMANDA DA SILVEIRA ASSENZA FRATUCCI
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NOÇÃO DE GÊNERO – PARTE I
Esp. AMANDA DA SILVEIRA ASSENZA FRATUCCI
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gêneros dramático e épico, enquanto no romantismo o que predominou foi a
produção de textos épicos e líricos.
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mostram personagens e situações comuns de níveis sociais mais baixos (2005,
p. 55-59).
A partir de meados do século XVIII, durante o início do Romantismo
Alemão, os teóricos começaram a perceber que novas produções artísticas
pareciam não se encaixar nesse sistema proposto por Aristóteles e Horácio.
Assim, a teorização tradicional passou a ser questionada em prol da liberdade
de criação e da hibridação dos gêneros. O movimento romântico valorizava a
criatividade individual, a genialidade do artista e o transbordar da expressão
interior, incompatíveis com a rigidez clássica (horaciana) que vê na imitação
dos clássicos o único caminho possível para a arte. Dessa forma, nesse
período passou-se a condenar a imutabilidade dos gêneros fechados. Eles
passaram a ser vistos como categorias passíveis de modificações, que
poderiam acontecer de acordo com as mudanças sociais.
Victor Hugo, um dos ícones do Romantismo francês faz, em seu
Prefácio à Cromwell (1827), uma apologia à simbiose dos gêneros, que seriam,
então, pautados pela mistura e hibridismo, frutos de uma visão libertária da
arte. Essa simbiose foi largamente retomada durante o século XX. Para
entendermos melhor todo esse caminho percorrido, procederemos, agora, à
observação das características específicas de cada gênero.
3. O gênero dramático
Características principais
O gênero dramático corresponde aos textos escritos com o objetivo de
serem encenados em um palco. São os textos teatrais. A palavra “dramático”
vem de “drama”, que significa ação. Assim, os textos pertencentes a esse
gênero têm o seu enredo desenvolvido a partir das ações das personagens no
palco. Não há um narrador que direciona a história. O espectador/leitor sabe do
que se passa por meio dos diálogos, que são o item mais importante em um
texto pertencente a este gênero literário. São dois momentos a serem
analisados: o texto e a representação. A literatura, no entanto, estuda os textos
teatrais e não a representação feita por intermédio deles. Assim, trabalha-se
com os escritos elaborados com uma pretensão estética, independente da
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representação no palco. A área da literatura que estuda dos textos dramáticos
é chamada de dramaturgia.
A representação além do texto possui outros elementos (o trabalho de
atuação dos atores, o figurino, o cenário, a iluminação, a sonoplastia) e a esse
conjunto dá-se o nome de Teatro. Essa transposição do texto para a
representação, muitas vezes não é feita pelo próprio autor, mas sim por um
diretor, principalmente nos dias atuais.
O texto dramático tem como elementos essenciais o personagem e a
ação. Para desenvolver a ação no texto, o escritor assinala a fala de cada uma
das personagens e apresenta rápidas descrições de espaço e outras
informações sobre o tempo, por exemplo. Esses dados vêm, geralmente, no
início de cada ato. As maiores unidades de ação são denominadas atos, que
se subdividem em cenas e estas, em quadros.
Ao longo do texto, o dramaturgo pode colocar observações sobre o
estado de ânimo das personagens, sobre o posicionamento dos atores no
palco, etc. Todas essas informações que não fazem parte da fala das
personagens são chamadas de rubricas.
Analisemos, como exemplo, o trecho a seguir, de autoria de Ariano
Suassuna e retirado do texto O auto da compadecida:
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João Grilo: No dia em que chegou o motor novo do major Antônio
Morais o senhor não o benzeu?
Padre: Motor é diferente, é uma coisa que todo mundo benze. Cachorro
é que eu nunca ouvi falar.
Chicó: Eu acho cachorro uma coisa muito melhor do que motor.
Padre: É, mas quem vai ficar engraçado sou eu, benzendo o cachorro.
Benzer motor é fácil, todo mundo faz isso, mas benzer cachorro?
João Grilo: É, Chicó, o padre tem razão. Quem vai ficar engraçado é ele
e uma coisa é o motor do major Antônio Morais e outra benzer o cachorro do
major Antônio Morais.
Padre, mão em concha no ouvido: Como?
João Grilo: Eu disse que uma coisa era o motor e outra o cachorro do
major Antônio Morais.
Padre: E o dono do cachorro de quem vocês estão falando é Antônio
Morais? (SUASSUNA, 2008, p. 20-22)
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coreografada, acompanhada pelo som de flautas, que narrava fatos da vida de
Dioniso. Os participantes integravam o coro do ditirambo em estado de êxtase,
prevendo que assim as pessoas sairiam de seus estados cotidianos para
atingir uma personificação ou o contato com o deus. As máscaras, ou rostos
pintados, já faziam parte dos ditirambos, bem como a existência de público,
fator fundamental ao fenômeno teatral. Com o tempo, essa homenagem
ganhou uma estrutura mais organizada, com falas determinadas e as
representações saíram das ruas e passaram a ocupar espaço junto ao templo
de Dioniso. O ditirambo não se extingue com o surgimento do drama e ambas
as manifestações aconteceram paralelamente na Grécia.
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Para Aristóteles, o teatro tinha para o ser humano a capacidade de libertação, pois quando via as
paixões representadas, conseguia se libertar delas. Essa purgação ou purificação tinha o nome de catarse,
que era provocada no público durante e após a representação de uma tragédia grega.
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descendentes de dinastias reais. Esse tipo de texto dramático segue o seguinte
modelo estrutural:
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Parábase: compreende vários momentos, como um canto muito curto,
somado a discursos dirigidos ao público.
Êxodo: saída do coro.
Desenvolvimento do drama
Após as atividades teatrais serem proibidas pela Igreja no início da
Idade Média, os textos dramáticos ressurgem em meados do período,
ironicamente, dentro das Igrejas. Várias foram as formas teatrais que
apareceram. Dentre elas, podemos destacar os dramas litúrgicos, milagres,
mistérios e paixões, manifestações teatrais ligadas à religião cristã, que
encenavam episódios da vida de Jesus Cristo, de santos e passagens da
bíblia. As moralidades e as alegorias tinham intenção didática e moralizante,
personificando vícios e virtudes, bem e mal etc.
Os autos (textos que representavam personagens humanas com
intenção didática e moralizante) e as farsas (forma popular da comédia)
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Forma popular cômica na qual atuam também mulheres, gênero composto de canto, dança,
acrobacia e imitação, originário da Grécia e que se torna extremamente popular no período helenístico e
atinge seu auge em Roma. Não há personagens fixos, é representado sem o uso de máscaras, por
companhias ambulantes e a perfórmance é mais importante que as temáticas abordadas.
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Gênero sério, que se utiliza de temáticas mitológicas, realizado por um único ator que não se
utiliza da fala. Há um narrador que apresenta o texto, acompanhado do som de lira ou flauta.
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também foram muito produzidos na Idade Média, tendo como principal
representante Gil Vicente, autor português pertencente ao período de transição
entre a Idade média e o Renascimento.
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Regra das três unidades:
• tempo (24 horas ou o tempo da ação),
• lugar (ação se passa em somente um espaço),
• ação (não há ações secundárias à ação principal do enredo, nem subenredos ou histórias
paralelas).
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Com o advento do Romantismo, houve uma flexibilização das regras
ditadas pelo teatro clássico. Um dos principais responsáveis por essas
mudanças foi Victor Hugo. Nessa mesma época, criou-se o drama romântico,
que mescla elementos da tragédia e da comédia.
O teatro no Brasil
Os textos teatrais apareceram na literatura brasileira já na época da
chegada dos portugueses em nosso país. No período conhecido como
quinhentismo (pois abrange os anos de 1500) que vamos estudar mais à
frente, o tipo de literatura mais praticada por aqui era a literatura de catequese.
Quando os portugueses vieram colonizar o Brasil, trouxeram com eles a
companhia de Jesus, padres que tinham como principal objetivo catequizar os
habitantes do país. Para isso, o padre mais famoso da Companhia, José de
Anchieta, escreveu diversos textos teatrais com intenção didática e
moralizante. Esses textos se aproximavam muito dos autos escritos durante a
Idade Média. Os Autos catequéticos jesuíticos do padre José de Anchieta eram
escritos em espanhol, português e tupi. O texto mais conhecido foi o “Auto de
São Lourenço”. Nesse texto, os personagens do bem: Anjo da Guarda, São
Lourenço e São Sebastião (que representavam os europeus), lutavam contra o
mal que há no mundo, representado pelos personagens Guaixará, Aimbirê e
Saravaia (que simbolizavam os indígenas, como os próprios nomes já
demonstram). Esses textos auxiliavam muito os jesuítas em sua missão e
tinham um valor literário agregado.
Veja um trecho deste texto:
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SEGUNDO ATO
Eram três diabos que querem destruir a aldeia com pecados, aos quais
resistem São Lourenço, São Sebastião e o Anjo da Guarda, livrando a aldeia e
prendendo os tentadores cujos nomes são: Guaixará, que é o rei; Aimbirê e
Saravaia, seus criados.
GUAIXARÁ
Esta virtude estrangeira
Me irrita sobremaneira.
Quem a teria trazido,
com seus hábitos polidos
estragando a terra inteira?
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cauim até vomitar.
Isto é jeito de gozar
a vida, e se recomenda
a quem queira aproveitar [...] (ANCHIETA, 1973, p. 3).
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Em meados do século XX, mais propriamente em 1943, ganha
notoriedade no Brasil a dramaturgia de Nelson Rodrigues. No referido ano, sua
segunda peça “Vestido de noiva” montada por um grupo amador, Os
Comediantes, dirigida pelo polonês recém-imigrado Ziembinski e com cenários
de Tomás Santa Rosa, revolucionou a maneira de se fazer teatro no país. Sua
peça seguinte, “Álbum de Família”, de 1946, que trata de incesto, foi
censurada, sendo liberada apenas duas décadas depois. Daí em diante, sua
obra despertou o interesse acadêmico. O prestígio alcançado pelo
reconhecimento de seu talento não o livrou de perseguições. Classificado pelo
próprio Nelson Rodrigues como “desagradável”, seu teatro chocou plateias. O
autor deixou um total de 17 peças que, analisadas em conjunto, o colocam
como um dos maiores dramaturgos brasileiros.
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Referências
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