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NOÇÃO DE GÊNERO – PARTE I

Conteudista
Esp. AMANDA DA SILVEIRA ASSENZA FRATUCCI

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NOÇÃO DE GÊNERO – PARTE I
Esp. AMANDA DA SILVEIRA ASSENZA FRATUCCI

A divisão dos gêneros literários e o gênero dramático.

Aqui, aprenderemos sobre os Gêneros Literários: gênero épico, lírico e


dramático. Começaremos explicando o que é um gênero literário, passando
pela origem dessa divisão até chegarmos ao estudo de cada um dos gêneros
em suas especificidades e características, começando pelo dramático, já neste
módulo, prosseguindo para o gênero épico no módulo seguinte e finalizando
com o gênero lírico no último módulo da presente unidade.

1. Conceituação dos gêneros


Antes mesmo do conceito de literatura ser afirmado, a divisão em
gêneros literários já ganhava contorno, na Antiguidade clássica. Mas, afinal, o
que é um gênero literário? As diversas modalidades de expressão literária, a
maneira que o autor escolhe para expressar suas ideias é o gênero literário: a
diferenciação depende da forma e do conteúdo. A escolha do gênero literário é
muito importante para o autor passar certa visão de mundo a partir de uma
forma específica. Os autores mais consagrados da literatura mundial tinham
seus gêneros preferidos de expressão literária: William Shakespeare se
consagrou por seus textos pertencentes ao gênero dramático; Fernando
Pessoa, com seus poemas, pertencentes ao gênero lírico; Machado de Assis e
Guimarães Rosa com seus contos e romances, pertencentes à esfera do
gênero épico. Assim, mesmo que um autor tenha uma produção bem
diversificada, passando pelos três gêneros literários (como é o caso do citado
Fernando Pessoa), uma das formas de expressão será sobressalente. Além da
preferência pessoal dos autores, não podemos nos esquecer do período
histórico em que eles se encontram: a época também definiu preferências
quanto aos gêneros textuais, e isso ficará claro quando os estudarmos os
períodos literários de maneira mais específica nas próximas unidades. Por
exemplo, no período da Antiguidade greco-romana, houve predomínio dos

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gêneros dramático e épico, enquanto no romantismo o que predominou foi a
produção de textos épicos e líricos.

2. A origem dos gêneros literários


Em sua Poética, Aristóteles aborda a mimesis (imitação da realidade)
aristotélica dividindo-a em gêneros representativos. Para o estudioso, a base
de todos os gêneros se fundamenta na imitação. As manifestações artísticas
imitam as ações, os caracteres e as paixões humanas. O filósofo grego afirma
que imitar é natural ao homem desde a infância, ele é capaz de adquirir os
primeiros conhecimentos por meio da imitação e isso o difere dos outros
animais. Todos têm prazer em imitar. A poesia diversificou-se conforme o gênio
dos autores: uns, mais graves, representavam a ação de pessoas mais graves
e mais nobres. Outros, mais vulgares, a do vulgo. (2005, p.21-22)
Antes disso, Aristófanes e Platão também trataram sobre o assunto, e
Platão esboçou, em seu livro III da República (2002), uma classificação de arte
levando em consideração a função moralizante de cada manifestação artística.
No entanto, é mesmo Aristóteles que melhor organiza essa divisão em gêneros
literários. Sua doutrina de gênero faz dele o primeiro teórico literário.
A arte poética, já citada, acredita-se, foi originalmente dividida em duas
partes: uma dedicada à tragédia e outra, à comédia. No entanto, a segunda
parte, dedicada à comédia, foi perdida e o que nos restou na modernidade
foram os estudos mais aprofundados sobre a tragédia e a epopeia. Nesse
texto, Aristóteles estabelece a existência de três variedades essenciais do
fenômeno literário: a épica (epopeia), a lírica (poesia lírica) e a dramática
(tragédia e comédia). Ele classifica os gêneros de acordo com os valores
formais e conteudísticos específicos de cada um.
Horácio recupera, em sua Ars Poética, essa divisão em gêneros,
influenciando o pensamento dominante na Idade Média, no Renascimento e no
período Neoclássico sobre o assunto. O autor ainda propõe, baseado nas
ideias de Aristóteles, uma hierarquia entre os gêneros: Os gêneros maiores
(como a epopeia, a tragédia) representam um universo de personagens de
mais elevado nível social e os gêneros menores (como a comédia, a farsa)

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mostram personagens e situações comuns de níveis sociais mais baixos (2005,
p. 55-59).
A partir de meados do século XVIII, durante o início do Romantismo
Alemão, os teóricos começaram a perceber que novas produções artísticas
pareciam não se encaixar nesse sistema proposto por Aristóteles e Horácio.
Assim, a teorização tradicional passou a ser questionada em prol da liberdade
de criação e da hibridação dos gêneros. O movimento romântico valorizava a
criatividade individual, a genialidade do artista e o transbordar da expressão
interior, incompatíveis com a rigidez clássica (horaciana) que vê na imitação
dos clássicos o único caminho possível para a arte. Dessa forma, nesse
período passou-se a condenar a imutabilidade dos gêneros fechados. Eles
passaram a ser vistos como categorias passíveis de modificações, que
poderiam acontecer de acordo com as mudanças sociais.
Victor Hugo, um dos ícones do Romantismo francês faz, em seu
Prefácio à Cromwell (1827), uma apologia à simbiose dos gêneros, que seriam,
então, pautados pela mistura e hibridismo, frutos de uma visão libertária da
arte. Essa simbiose foi largamente retomada durante o século XX. Para
entendermos melhor todo esse caminho percorrido, procederemos, agora, à
observação das características específicas de cada gênero.

3. O gênero dramático

Características principais
O gênero dramático corresponde aos textos escritos com o objetivo de
serem encenados em um palco. São os textos teatrais. A palavra “dramático”
vem de “drama”, que significa ação. Assim, os textos pertencentes a esse
gênero têm o seu enredo desenvolvido a partir das ações das personagens no
palco. Não há um narrador que direciona a história. O espectador/leitor sabe do
que se passa por meio dos diálogos, que são o item mais importante em um
texto pertencente a este gênero literário. São dois momentos a serem
analisados: o texto e a representação. A literatura, no entanto, estuda os textos
teatrais e não a representação feita por intermédio deles. Assim, trabalha-se
com os escritos elaborados com uma pretensão estética, independente da

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representação no palco. A área da literatura que estuda dos textos dramáticos
é chamada de dramaturgia.
A representação além do texto possui outros elementos (o trabalho de
atuação dos atores, o figurino, o cenário, a iluminação, a sonoplastia) e a esse
conjunto dá-se o nome de Teatro. Essa transposição do texto para a
representação, muitas vezes não é feita pelo próprio autor, mas sim por um
diretor, principalmente nos dias atuais.
O texto dramático tem como elementos essenciais o personagem e a
ação. Para desenvolver a ação no texto, o escritor assinala a fala de cada uma
das personagens e apresenta rápidas descrições de espaço e outras
informações sobre o tempo, por exemplo. Esses dados vêm, geralmente, no
início de cada ato. As maiores unidades de ação são denominadas atos, que
se subdividem em cenas e estas, em quadros.
Ao longo do texto, o dramaturgo pode colocar observações sobre o
estado de ânimo das personagens, sobre o posicionamento dos atores no
palco, etc. Todas essas informações que não fazem parte da fala das
personagens são chamadas de rubricas.
Analisemos, como exemplo, o trecho a seguir, de autoria de Ariano
Suassuna e retirado do texto O auto da compadecida:

João Grilo: Padre João! Padre João!


Padre, aparecendo na igreja: Que há? Que gritaria é essa?
Chicó: Mandaram avisar para o senhor não sair, porque vem uma
pessoa aqui trazer um cachorro que está se ultimando para o senhor benzer.
Padre: Para eu benzer?
Chicó: Sim.
Padre, com desprezo: – Um cachorro?
Chicó: Sim.
Padre: Que maluquice! Que besteira!
João Grilo: Cansei de dizer a ele que o senhor benzia. Benze porque
benze, vim com ele.
Padre: Não benzo de jeito nenhum.
Chicó: Mas padre, não vejo nada de mal em se benzer o bicho.

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João Grilo: No dia em que chegou o motor novo do major Antônio
Morais o senhor não o benzeu?
Padre: Motor é diferente, é uma coisa que todo mundo benze. Cachorro
é que eu nunca ouvi falar.
Chicó: Eu acho cachorro uma coisa muito melhor do que motor.
Padre: É, mas quem vai ficar engraçado sou eu, benzendo o cachorro.
Benzer motor é fácil, todo mundo faz isso, mas benzer cachorro?
João Grilo: É, Chicó, o padre tem razão. Quem vai ficar engraçado é ele
e uma coisa é o motor do major Antônio Morais e outra benzer o cachorro do
major Antônio Morais.
Padre, mão em concha no ouvido: Como?
João Grilo: Eu disse que uma coisa era o motor e outra o cachorro do
major Antônio Morais.
Padre: E o dono do cachorro de quem vocês estão falando é Antônio
Morais? (SUASSUNA, 2008, p. 20-22)

Podemos perceber claramente no trecho acima o nome de cada


personagem que participa da cena e suas falas logo em seguida. Na segunda
fala do Padre, há a frase: “aparecendo na igreja”, em itálico, logo após o nome
da personagem. Essa indicação, de posicionamento do ator no cenário, é
chamada de rubrica. Na quarta fala do padre vemos outro exemplo de rubrica:
“com desprezo”. Dessa forma, os atores, no momento da encenação, têm a
indicação de como devem agir no palco. A indicação serve também para o
leitor do texto teatral entender melhor como a história se desenvolve. Como
não há um narrador que explica isso tudo, as rubricas são necessárias.

História do gênero dramático


O gênero dramático no mundo ocidental surgiu na Grécia Antiga.
Anualmente, havia festivais em homenagem ao deus Dioniso (Baco, para os
latinos, o deus da embriaguez, da luxúria, do prazer) em que eram
representados os momentos importantes da vida do deus. Essas
representações aconteciam na rua, e tinham um caráter de procissão: os
ditirambos. O ditirambo era uma canção em forma circular, dançada e

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coreografada, acompanhada pelo som de flautas, que narrava fatos da vida de
Dioniso. Os participantes integravam o coro do ditirambo em estado de êxtase,
prevendo que assim as pessoas sairiam de seus estados cotidianos para
atingir uma personificação ou o contato com o deus. As máscaras, ou rostos
pintados, já faziam parte dos ditirambos, bem como a existência de público,
fator fundamental ao fenômeno teatral. Com o tempo, essa homenagem
ganhou uma estrutura mais organizada, com falas determinadas e as
representações saíram das ruas e passaram a ocupar espaço junto ao templo
de Dioniso. O ditirambo não se extingue com o surgimento do drama e ambas
as manifestações aconteceram paralelamente na Grécia.

Seguindo regras objetivas e formais, os gregos antigos escreviam


tragédias e comédias. A tragédia tem por finalidade comover os espectadores,
inspirando-lhes terror e compaixão e promovendo a catarse1. Para cumprir a
missão de catarse, a tragédia deve mostrar o herói intermediário: nem
sobreleva pela virtude e justiça, nem cai no infortúnio em consequência de vício
ou maldade. Um grande erro do herói o leva da felicidade ao infortúnio. Assim,
na maioria das tragédias que conhecemos nos dias de hoje, há um grande
herói (que geralmente dá nome à obra), um número restrito de personagens
secundários que circulam ao seu redor e um antagonista. Às vezes aparecem
deuses contracenando com os heróis que são, na maioria das vezes,

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Para Aristóteles, o teatro tinha para o ser humano a capacidade de libertação, pois quando via as
paixões representadas, conseguia se libertar delas. Essa purgação ou purificação tinha o nome de catarse,
que era provocada no público durante e após a representação de uma tragédia grega.

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descendentes de dinastias reais. Esse tipo de texto dramático segue o seguinte
modelo estrutural:

Prólogo: Antecede os acontecimentos da trama de forma falada.


Párodos: Canto coral que representa a coletividade e os preceitos éticos
e morais da coletividade. Ao narrar os acontecimentos posicionam-se em
relação a eles.
Episódios: Desenvolvimento da trama ou enredo.
Estásimos: São cantos que intercalam os episódios, nos quais o coro
comenta a ação, antecipa as próximas, critica-as, porém não interfere no
episódio.
Êxodo: Última participação do coro.

Na Antiguidade grega, os três grandes escritores de tragédias foram


Ésquilo, Sófocles e Eurípedes.
Já a comédia tem por objetivo valer-se do riso para corrigir os
costumes. É a imitação de pessoas inferiores, não pelo vício, mas sim por ser o
cômico uma espécie do feio. O cômico é um defeito e feiura sem dor nem
destruição. As origens da comédia, segundo Aristóteles, residem nas
cerimônias fálicas, orgias e canções em honra a Dioniso que eram famosas em
muitas das cidades da região da Grécia. Assim, a comédia grega desenvolveu-
se e recebeu importante papel social de crítica e sátira a todos os cidadãos,
homens públicos ou não, em acirrados combates, brigas e competições entre
os comediógrafos.
A comédia tem a seguinte estrutura:

Prólogo: mais demorado e completo que na tragédia, na comédia divide-


se me dois momentos, o primeiro expositivo e o segundo (que se assemelha ao
primeiro episódio da tragédia) no qual se introduz a ação que desencadeará
todo enredo.
Párodos: é a entrada do coro, momento solene de canto e dança.
Ágon: quando o conflito é exposto.

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Parábase: compreende vários momentos, como um canto muito curto,
somado a discursos dirigidos ao público.
Êxodo: saída do coro.

Mais do que na tragédia, a participação do coro na comédia é essencial.


Ele participa ativamente do espetáculo, interage com o público, contracena
com os atores e posiciona-se.
Os escritores de tragédia não escreviam comédias e vice-versa, isso era
praticamente uma regra entre os dramaturgos gregos. Aristófanes foi o grande
e polêmico comediógrafo da Grécia Antiga.
Mais tarde, no Império Romano, o gênero dramático se consolidou,
recebendo fortes influências das tragédias e comédias gregas e de elementos
culturais etruscos. Fazem parte das manifestações teatrais na Roma Antiga, os
mimos2 e as pantomimas3, além dos textos já conhecidos: tragédia e comédia.
Plauto é o dramaturgo latino mais conhecido.

Desenvolvimento do drama
Após as atividades teatrais serem proibidas pela Igreja no início da
Idade Média, os textos dramáticos ressurgem em meados do período,
ironicamente, dentro das Igrejas. Várias foram as formas teatrais que
apareceram. Dentre elas, podemos destacar os dramas litúrgicos, milagres,
mistérios e paixões, manifestações teatrais ligadas à religião cristã, que
encenavam episódios da vida de Jesus Cristo, de santos e passagens da
bíblia. As moralidades e as alegorias tinham intenção didática e moralizante,
personificando vícios e virtudes, bem e mal etc.
Os autos (textos que representavam personagens humanas com
intenção didática e moralizante) e as farsas (forma popular da comédia)

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Forma popular cômica na qual atuam também mulheres, gênero composto de canto, dança,
acrobacia e imitação, originário da Grécia e que se torna extremamente popular no período helenístico e
atinge seu auge em Roma. Não há personagens fixos, é representado sem o uso de máscaras, por
companhias ambulantes e a perfórmance é mais importante que as temáticas abordadas.
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Gênero sério, que se utiliza de temáticas mitológicas, realizado por um único ator que não se
utiliza da fala. Há um narrador que apresenta o texto, acompanhado do som de lira ou flauta.

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também foram muito produzidos na Idade Média, tendo como principal
representante Gil Vicente, autor português pertencente ao período de transição
entre a Idade média e o Renascimento.

No período do Renascimento, houve, na Europa, uma retomada dos


aspectos culturais da Grécia e da Roma antigas. Dessa forma, a forma clássica
de teatro também foi novamente valorizada. O teatro Elisabetano, na Inglaterra,
representa bem essa tendência. William Shakespeare, considerado por todos o
maior dramaturgo de todos os tempos, foi o representante do teatro
Elisabetano. Retomando as já valorizadas formas do teatro clássico, a obra de
Shakespeare pode ser dividida em abrange comédias, tragédias e dramas
históricos. Shakespeare incorporou totalmente a imagem de homem do teatro:
foi poeta, ator, diretor de seus espetáculos, empresário e líder da companhia
para a qual escrevia. Seus textos fazem muito sucesso até hoje, por todo o
mundo.
As principais tragédias de Shakespeare são: “Hamlet”, “Otelo”, “Rei
Lear” e “Romeu e Julieta”. Dentre suas comédias mais conhecidas estão:
“Sonhos de uma noite de verão”, “As alegres comadres de Windsor”, “A
Comédia dos Erros” e “A Megera Domada”.

Durante o século XVII, na França aristocrática, o teatro neoclássico


retomava novamente as formas da dramaturgia clássica. Através de um teatro
baseado no texto, com o mínimo de ação e no qual os atores praticamente só
declamavam os dramas, quase que parados, vestindo trajes suntuosos,
desenvolve-se o teatro dos nobres.
Pierre Corneille (1606-1684) e Jean Racine (1939-1699) foram seus
principais autores, e alcançaram o sucesso por basearem-se rigidamente nas
regras das três unidades4 (inspiradas em na Poética de Aristóteles).

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Regra das três unidades:
• tempo (24 horas ou o tempo da ação),
• lugar (ação se passa em somente um espaço),
• ação (não há ações secundárias à ação principal do enredo, nem subenredos ou histórias
paralelas).

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Com o advento do Romantismo, houve uma flexibilização das regras
ditadas pelo teatro clássico. Um dos principais responsáveis por essas
mudanças foi Victor Hugo. Nessa mesma época, criou-se o drama romântico,
que mescla elementos da tragédia e da comédia.

No século XX, as mudanças foram mais radicais, tendo surgido


dramaturgos, teóricos e encenadores que multiplicaram as experiências
criadoras. Destacam-se: Brecht, Artaud, Stanislowski, Beckett, lonesco (teatro
do absurdo), Bob Wilson. No Brasil, a dramaturgia ganhou grande impulso com
Nelson Rodrigues.

O teatro no Brasil
Os textos teatrais apareceram na literatura brasileira já na época da
chegada dos portugueses em nosso país. No período conhecido como
quinhentismo (pois abrange os anos de 1500) que vamos estudar mais à
frente, o tipo de literatura mais praticada por aqui era a literatura de catequese.
Quando os portugueses vieram colonizar o Brasil, trouxeram com eles a
companhia de Jesus, padres que tinham como principal objetivo catequizar os
habitantes do país. Para isso, o padre mais famoso da Companhia, José de
Anchieta, escreveu diversos textos teatrais com intenção didática e
moralizante. Esses textos se aproximavam muito dos autos escritos durante a
Idade Média. Os Autos catequéticos jesuíticos do padre José de Anchieta eram
escritos em espanhol, português e tupi. O texto mais conhecido foi o “Auto de
São Lourenço”. Nesse texto, os personagens do bem: Anjo da Guarda, São
Lourenço e São Sebastião (que representavam os europeus), lutavam contra o
mal que há no mundo, representado pelos personagens Guaixará, Aimbirê e
Saravaia (que simbolizavam os indígenas, como os próprios nomes já
demonstram). Esses textos auxiliavam muito os jesuítas em sua missão e
tinham um valor literário agregado.
Veja um trecho deste texto:

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SEGUNDO ATO
Eram três diabos que querem destruir a aldeia com pecados, aos quais
resistem São Lourenço, São Sebastião e o Anjo da Guarda, livrando a aldeia e
prendendo os tentadores cujos nomes são: Guaixará, que é o rei; Aimbirê e
Saravaia, seus criados.

GUAIXARÁ
Esta virtude estrangeira
Me irrita sobremaneira.
Quem a teria trazido,
com seus hábitos polidos
estragando a terra inteira?

Só eu permaneço nesta aldeia


como chefe guardião.
Minha lei é a inspiração
que lhe dou, daqui vou longe
visitar outro torrão.

Quem é forte como eu?


Como eu, conceituado?
Sou diabo bem assado.
A fama me precedeu;
Guaixará sou chamado.

Meu sistema é o bem viver.


Que não seja constrangido
o prazer, nem abolido.
Quero as tabas acender
com meu fogo preferido.

Boa medida é beber

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cauim até vomitar.
Isto é jeito de gozar
a vida, e se recomenda
a quem queira aproveitar [...] (ANCHIETA, 1973, p. 3).

É só durante o Romantismo, com o surgimento do drama romântico, que


as manifestações teatrais voltam a aparecer com força no Brasil. “Leonor de
Mendonça” (1846), por Gonçalves Dias e “Macário”, de Álvares de Azevedo
(1831-1852) são os textos que representam essa manifestação textual.
A comédia surge também nesse período a partir da prática do entremez,
pequenas peças cômicas entre um ato e outro dos dramas. Martins Penna é o
primeiro dramaturgo cômico, baseia-se nas técnicas do teatro popular,
adicionando-lhes o toque local da crítica aos costumes. Suas comédias de
costumes satirizavam a vida na corte do Rio de Janeiro, centro do país na
época. Não foi romântico na forma de suas comédias, mas no gosto pelo
nacional e pelo pitoresco.
Entre o final do século XIX e meados do século XX, se destaca no país a
produção do Teatro de Revista, um veículo de difusão de modos e costumes,
um retrato sociológico, estimulador de riso e alegria através de falas irônicas e
de duplo sentido, canções "apimentadas" e hinos picarescos. A questão visual
era uma grande preocupação em peças deste gênero, pois fazia-se necessário
manter o "clima" alegre, descontraído, ao mesmo tempo em que se revelava,
em última instância, a hipocrisia da sociedade. Para isso, os cenários criados
eram fantasiados e multicoloridos, a fim de apresentar uma realidade
superdimensionada. O corpo, neste contexto, era muito valorizado, fosse pelo
uso de roupas exóticas, pelo desnudamento opulento ou pelas danças. O
acompanhamento musical também era uma de suas características marcantes.
Seus autores acreditavam que comentar a realidade cotidiana com a ajuda da
música tornava mais agradável e eficiente a transmissão das mensagens.
Arthur de Azevedo (1855-1908) foi o grande revisteiro, dramaturgo, produtor e
encenador, que promulgou e desenvolveu o gênero no Brasil, até este se tornar
o mais importante no país (PAIVA, 1991).

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Em meados do século XX, mais propriamente em 1943, ganha
notoriedade no Brasil a dramaturgia de Nelson Rodrigues. No referido ano, sua
segunda peça “Vestido de noiva” montada por um grupo amador, Os
Comediantes, dirigida pelo polonês recém-imigrado Ziembinski e com cenários
de Tomás Santa Rosa, revolucionou a maneira de se fazer teatro no país. Sua
peça seguinte, “Álbum de Família”, de 1946, que trata de incesto, foi
censurada, sendo liberada apenas duas décadas depois. Daí em diante, sua
obra despertou o interesse acadêmico. O prestígio alcançado pelo
reconhecimento de seu talento não o livrou de perseguições. Classificado pelo
próprio Nelson Rodrigues como “desagradável”, seu teatro chocou plateias. O
autor deixou um total de 17 peças que, analisadas em conjunto, o colocam
como um dos maiores dramaturgos brasileiros.

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Referências

ANCHIETA, José de. Auto representado na Festa de São Lourenço, Rio de


Janeiro: Serviço Nacional de Teatro - Ministério da Educação e Cultura, 1973.
Disponível em http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000145.pdf,
acessado em 10 de abril de 2016.

ARISTÓTELES. “Arte Poética” in ARISTÓTELES, HORÁCIO, LONGINO. A


poética clássica. São Paulo: Editora Cultrix, 2005.

HORÁCIO. “Arte Poética” in ARISTÓTELES, HORÁCIO, LONGINO. A poética


clássica. São Paulo: Editora Cultrix, 2005.

PAIVA, Salvyano Cavalcanti de. Viva o Rebolado! Vida e Morte do Teatro de


Revista Brasileiro. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1991.

PLATÃO. República. Rio de Janeiro: Editora Best Seller, 2002.

SUASSUNA, Ariano. O auto da compadecida. Rio de Janeiro: MEDIAfashion,


2008.

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