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NOMENCLATURA BOTÂNICA
O nome científico não apenas fornece uma “carteira de identidade” universal para um
organismo, mas também fornecepistas acerca das relações de um organismos com outro.
A IMPORTÂNCIA DA NOMENCLATURA
Por que os botânicos usam os nomes científicos em latim, em lugar dos nomes comuns
em sua língua???
A Botânica Sistemática não tem significado unicamente para os cientistas. Pode ser
utilizada por outras pessoas interessadas na História Natural das plantas e que tenham
interesses ou treinamentos diversos.
O nome científico não apenas fornece uma “carteira de identidade” universal para um
organismo, mas também fornece pistas acerca das relações de um organismo com outro.
Para garantir uma certa estabilidade e universalidade aos nomes dados aos diferentes
táxons, esses não devem ser dados arbitrariamente, mas sim de acordo com as normas de
nomenclatura, que constituem o Código Internacional de Nomenclatura Botânica.
O último Código é bem recente, ou seja, foi publicado agora em 2006, já trazendo as
atualizações discutidas e aprovadas pelo XVII Congresso Internacional de Botânica, realizado
em Viena, Áustria, em julho de 2005 e traduzido para o português por J. McNeil et al. (2007).
O próximo Código somente será alterado em 2011, após a realização do XVIII Congresso
Internacional de Botânica, a ser realizado em Melbourne, Austrália, em julho de 2011.
As Recomendações lidam com pontos subsidiários, sendo sua finalidade trazer maior
uniformidade e clareza, especialmente à nomenclatura futura; nomes contrários a uma
recomendação não podem, nesse sentido, ser rejeitados, porém, não constituem exemplos a
serem seguidos.
DIVISÃO I
PRINCÍPIOS DO CÓDIGO INTERNACIONAL
Os princípios formam a base e estabelecem a filosofia do sistema nomenclatural.
Existem 6 princípios:
A nomenclatura Botânica é independente da nomenclatura Zoológica e da
Bacteriológica;
O Código se refere unicamente à nomenclatura das plantas. Entretanto, o mesmo
nome que se dá a uma planta pode usa-lo os zoólogos para nomear os animais
A aplicação de nomes dos grupos é determinada por meio de tipos
nomenclaturais;
O princípio do ”tipo” sustenta que o nome de cada sp. deve associar-se com um
espécimen particular, o tipo nomenclatural
A Nomenclatura de um grupo taxonômico está baseada na prioridade de
publicação;
Este princípio tão importante, sustenta que o nome correto é o nome mais antigo
já publicado de acordo com as regras. Os nomes que se publicam primeiro têm
preferência sobre os nomes ‘a posteriori’. O Princípio da Prioridade na
nomenclatura botânica começa e 1º de maio de 1753 que é exatamente a data da
publicação da primeira edição de Species Plantarum de Linneo.
Cada táxon tem apenas um nome válido;
Cada grupo taxonômico com uma delimitação particular (circunscrição), posição
e nível próprios pode ter apenas um nome correto, a saber, o mais antigo em
conformidade com as Regras, salvo em casos especificados.
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Nomes científicos de grupos taxonômicos são tratados em latim,
independentemente de sua derivação; e
As regras de nomenclatura são retroativas, a menos que expressamente
limitadas (ou seja, salvo a existência de uma indicação contrária).
As regras são organizadas em artigos, os quais visam por em ordem os nomes já
existentes e orientar a criação de novos nomes.
DIVISÃO II
REGRAS E RECOMENDAÇÕES
CAPÍTULO I. Categorias dos Taxa e termos que os designam
Art. 1. Grupos taxonômicos de qualquer nível (categoria) deverão, conforme este Código, ser
referidos “táxons” (taxa); singular: “táxon” (taxon).
Art. 2. Cada planta individual, ou seja, cada indivíduo vegetal, é tratada como pertencente a
um número indefinido de táxons de categorias (níveis) hierarquicamente subordinadas, dentre
as quais o nível de espécie constitui o nível básico.
Art. 3. Os principais níveis (categorias) de táxons em ordem descendente são so seguintes:
reino (regnum), divisão ou filo (divisio, phylum), classe (classis), ordem (ordo), família
(familia), gênero (genus) e espécie (species). Assim sendo, cada espécie pertence a um
gênero, cada gênero a uma família etc. Os principais níveis de nototáxons (táxons híbridos)
são notogênero e notoespécies. Estes níveis são o mesmo que gênero e espécie. A adição da
partícula “noto” indica seu caráter híbrido.
Art. 4.1. Os níveis secundários de táxons são os seguintes em ordem descendente: tribo
(tribus) entre família e gênero, seção (sectio) e série (series) entre gênero e espécie, e
variedade (varietas) e forma (forma) abaixo de espécie.
Art. 4.2. Se houver necessidade de um maior número de níveis (categorias) de táxons, os
termos para nomeá-los são criados pela adição do prefixo “sub“ aos termos que denotem os
níveis hierárquicos principais ou secundários. Uma planta pode, portanto, ser assim assinalada
para os táxons das seguintes categorias (em ordem decrescente): Reino, Subreino, Filo ou
Divisão (Subfilo ou Subdivisão), Classe, Subclasse, Ordem, Subordem, Família,
Subfamília, Tribo, Subtribo, Gênero, Subgênero, Seção, Subseção, Série, Subsérie,
Espécie, Subespécie, Variedade, Subvariedade, Forma, Subforma.
Reino - bionta
Subreino
Filo (ou Divisão) - phyta (ex.: Magnoliophyta)
Subfilo (ou Subdivisão) - phytina
Classe - opsida (ex.: Magnoliopsida)
Subclasse - idae
Superordem - anae
Ordem - ales (ex.: Asterales)
Subordem - ineae
Família - aceae (ex.: Asteraceae)
Subfamília - oideae
Tribo - eae
Subtribo - inae
Vernonia (ìtálico, letra inicial maiúscula)
Gênero
Subgênero
Seção
Subseção
Série
Subsérie
Espécie V. angustifólia Michx. (itálicos,inicial
da sp. minúscula)
Subespécie
Variedade
Subvariedade
Forma
Subforma
Clone
(Cultivar, Híbrido)
CATEGORIA TAXON
Reino Chlorobionta
Filo (ou Divisão) Embryophyta
Subfilo (ou Subdivisão) Tracheophytina
Classe Angiosperma
Ordem Sapindales
Família Sapindaceae
Gênero Paullinia
Espécie Paullinia cupana
Seção 2. Tipificação
Art. 7.1. A aplicação de nomes de táxons do nível (categoria) de família, ou abaixo desta, é
determinada através de tipos nomenclaturais.
Art. 7.2. Um tipo nomenclatural (typus) é o elemento ao qual o nome de um taxon está
permanentemente ligado, seja como o nome correto ou como um sinônimo. O tipo
nomenclatural não é, necessariamente, o elemento mais típico ou mais representativo de um
táxon. Para determinação de um tipo o botânico deve se basear no protólogo.
Protólogo (do grego protos, primeiro; logos, discurso): tudo associado com o nome
em sua publicação válida, por ex., descrição ou diagnose, ilustrações, referências,
sinonímia, dados geográficos, citação de espécimes, discussão e comentários.
Art. 7.11. Para fins de prioridade (Arts. 9.17, 9.18 e 10.5), a designação de um tipo só é
consumada se o tipo for definitivamente aceito como tal pelo autor que efetuou a
tipificação, se o o elemento-tipo for claramente indicado pela citação direta
incluindo o termo ‘tipo’ (typus) ou equivalente e, em ou a partir de 1º de janeiro
de 2001, se a afirmação da tipificação incluir a frase ‘aqui designado’ (hic
designatus) ou algo equivalente.
Recomendação 7A. É fortemente recomendado, que o material no qual o nome de um táxon
está baseado, especialmente o Holótipo, seja depositado em um herbário público ou a
qualquer outra coleção pública, cujo regulamento permita livre acesso dos botânicos de boa fé
aos materiais ali depositados e que o mesmo seja escrupulosamente conservado.
Art. 8.1. O tipo (holótipo, lectótipo ou neótipo) do nome de uma espécie ou táxon infra-
específico é um único espécime conservado em um herbário, outra coleção ou instituição, ou
é uma ilustração.
Art. 8.2. Para fins de tipificação, um espécime é uma coleta ou parte de uma espécie ou
táxon infra-específico feita num único momento, não consideradas as misturas (veja Art. 9.2).
Ele pode consistir de uma única planta inteira, de partes de uma ou várias plantas ou de
múltiplas pequenas plantas. Um espécime normalmente é montado numa única exsicata de
herbário ou em preparações equivalentes, tais como: caixa, envelope, frasco ou lâmina de
microscopia.
Art. 8.4. Espécimes-tipo de nomes de táxons devem ser permanentemente preservados e não
podem ser plantas vivas ou culturas. Entretanto, culturas de algas e fungos, se preservadas em
estado metabólico inativo (por ex.: liofilização ou congelamento profundo), são aceitáveis
como tipos.
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Art. 9.1. Um holótipo (holotypus) de um nome de uma espécie ou de um táxon infra-
específico spécimes
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Definições de Tipos (mais informações no Código, Artigos 9.1 a 10.7)
Chama-se typus o espécime conservado num herbário, do qual se fez uma diagnose
original. O typus compreende:
Seção 3. Prioridade
Art. 11. Cada família ou taxon de nível inferior com circunscrição (delimitação), posição e
nível particulares pode ter apenas um nome correto. Exceção especial feita a 9 famílias e uma
subfamília, para as quais nomes alternativos são permitidos (ver nos Artigos 18.5 e 19.7).
Art. 13.1. A publicação válida dos nomes de plantas de diferentes grupos é tratada como
iniciando nas seguintes datas:
Spermatophyta e Pteridophyta – 1º de maio de 1753 (Linnaeus, Species Plantarum)
Musci (exceto Sphagnaceae), 1º de janeiro de 1801 (Hedwig, Species Muscorum)
Sphagnaceae e Hepaticae, 1º de maio de 1753 (Linnaeus, Species Plantarum)
Fungi, 1º de maio de 1753 (Linnaeus, Species Plantarum)
Algae, 1º de maio de 1753 (Linnaeus, Species Plantarum)
Art. 18.5. Os seguintes nomes, consagrados pelo longo uso, são tratados como validamente
publicados:
Art. 19.1. O nome de uma subfamília é um adjetivo plural usado como um substantivo; é
formado da mesma maneira que o nome de uma família, porém, utilizando a terminação
oideae em vez de aceae. Ex.: Rosoideae (subfamília incluída na família Rosaceae)
Art. 19.3. Uma tribo é nomeada de modo similar, usando a terminação eae (ex.: Roseae, fa
família Rosaceae) e a subtribo de maneira semelhante, usando-se a terminação ineae (ex.:
Poineae, da família Poaceae).
Seção 3. Nomes de gêneros e subdivisões de gêneros
Art. 20.1. O nome de um gênero é um substantivo no singular e é escrito com uma letra
inicial maiúscula. Ele pode ter qualquer origem e ser formado de maneira totalmente
arbitrária, mas não pode terminar em virus.
Art. 20.3. O nome de um gênero não pode consistir de duas palavras, a menos que estas
palavras sejam unidas por um hífen.
Recomendação 20a. Os botânicos que designam nomes genéricos devem levar em conta as
seguintes recomendações:
a. utilizar terminações em latim, sempre que possível
b. evitar nomes não facilmente adaptáveis à língua latina
c. não constituir nomes que sejam muito longos ou de difícil pronúncia em latim
d. não constituir nomes pela combinação de palavras de diferentes línguas
e. não constituir nomes genéricos pela combinação de partes de 2 nomes genéricos já
existentes (ex.: Hordelymus de Hordeum e Elymus) porque tais nomes podem ser
confundidos com nomes de híbridos intergenéricos
f. não dedicar gêneros a pessoas não relacionadas com a botânica ou, pelo menos, com
as ciências naturais
DIVISÃO III
PROVISÕES PARA GOVERNANÇA DO CÓDIGO
O Código pode ser modificado unicamente por ação de uma sessão plenária de um
Congresso Internacional de Botânica, após resolução movida pela Sessão de
Nomenclatura do referido Congresso.
Comissões Permanentes de Nomenclatura são estabelecidos sob os auspícios da
International Association for Plant Taxonomy. Os membros dessas Comissões são eleitos
por um Congresso Internacional de Botânica. As Comissões têm poder de estabelecer
subcomissões (Comitê Geral, além dos Comitês para Plantas Vasculares, para Bryophitas,
para Fungos, para Algas, para Plantas Fósseis e o Comitê Editorial).
APÊNDICE I
NOMES DE HÍBRIDOS
REGRAS DE NOMENCLATURA
Datas importantes que constam do Código Internac. de Nomenclatura Botânica – 2000
Para propósitos de prioridade (Art. 9.17 e 10.5), a designação de um Tipo é concretizada
somente se o tipo for definitivamente (expressamente) aceito pelo autor tipificante, isto é,
se o Tipo for claramente indicado pela citação direta que inclua o termo “Tipo (Typus)”
ou um equivalente, e na data de ou após 1º de janeiro de 2001, o procedimento da
tipificação inclua a frase “aqui designado” (hic designatus) ou coisa equivalente.
O Holótipo (ou Lectótipo) de um nome de uma espécie ou táxon infraespecífico de
plantas fósseis (Art. 8.5) é o espécime (ou um dos espécimes) sobre os quais as ilustrações
validantes (Art. 38) são baseados. Quando antes, ou até 1º de janeiro de 2001, no
protólogo de um nome de um novo táxon de plantas fóseis da categoria de espécie ou
abaixo, um espécime Tipo é indicado mas não identificado entre as ilustrações validantes,
um Lectótipo pode ser designado dentre os espécimes ilustrados no protólogo. Esta
escolha é invalidada se puder ser demonstrado que o espécime Tipo original corresponde à
outra ilustração validante.
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APONTAMENTOS DIVERSOS
O nome genérico pode ser escrito sozinho quando se refere ao grupo inteiro de espécies
que formam aquele gênero (ex.: Dalbergia). Contudo, um epíteto específico é desprovido
de sentido quando escrito sozinho (ex.: nigra ou brasiliensis). O epíteto específico
brasiliensis, por exemplo, está associado a dezenas de diferentes nomes genéricos.
Se alguém descobre que uma espécie foi inicialmente colocada em um gênero errado e
deve por isso ser transferida para outro gênero, o epíteto específico move-se com a espécie
para o novo gênero. No entanto, se já existe uma espécie naquele gênero que tem aquele
determinado epíteto específico, um nome alternativo deve ser criado.
Cada espécie tem um espécimen tipo, geralmente uma exsicata, que é designado ou pela
pessoa que originalmente descreveu aquela spp. ou por um autor subsequente, se o autor
original não fez a designação. O espécimen tipo serve como um referencial para compa-
ração com outros espécimens para determinar se eles pertencem ou não à mesma espécie.
Num esquema de classificação que reflete de modo preciso a filogenia, cada táxon é,
nas condições ideais, monofilético. Isso significa que os representantes de um táxon em
qualquer nível hierárquico, seja ele gênero, família ou ordem, devem ser todos descendentes
de uma única espécie ancestral. Assim, um gênero deveria consistir em toas as espécies
descendentes do ancestral comum mais recente – e apenas de espécies daquele ancestral. De
modo semelhante, uma família deveria ser formada por todos os gêneros descendentes de um
ancestral comum mais distante – e apenas de gêneros descendentes daquele ancestral.
Embora esse ideal que resulta em táxons naturais, soe de modo relativamente direto,
frequentemente se torna difícil consegui-lo.
Em muitos casos, os biólogos não conhecem o suficiente sobre a história evolutiva dos
organismos para estabelecer táxons que sejam monofiléticos com um razoável grau de
segurança. No entanto, nos casos em que as relações são desconhecidas ou incertas, pode ser
mais prático criar um táxon artificial.
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Desse modo, alguns táxons amplamente conhecidos contêm representantes
descendentes de mais de uma linha ancestral. Dizemos que esses táxons são polifiléticos.
Outros táxons excluem um ou mais descendentes de um ancestral comum. Diz-se que esses
táxons são parafiléticos.
BIBLIOGRAFIA UTILIZADA:
1. BARROSO, Graziela M. et al. 2002. Sistemática de Angiospermas do Brasil. Vol.
Vol. 1. (2ª ed.). Editora UFV, Viçosa, Brasil.
2. FERREIRA, Gracialda C. & HOPKINS, Michael J. G. 2004. Manual de
identificação botânica e anatômica - angelim. EMBRAPA, Belém (PA). 101p.
3. JONES Jr., Samuel B. 1988. Sistemática Vegetal. 2ª ed. Libros McGraw-Hill de
México S. A.
4. MARZOCA, Angel. 1985. Nociones Básicas de Taxonomía Vegetal. Editorial
IICA, Costa Rica.
5. McNEILL, J. (Coord.) et al. 2007. Código Internacional de Nomenclatura
Botânica (Código de Viena). Rima Editora, São Carlos, SP. 181p.
6. RAVEN, Peter et al. 2001. Biologia Vegetal. Ed. Guanabara Koogan, RJ, Brasil. Pp.
252-262 (Cap. 13 – Sistemática: a ciência da diversidade biológica).
7. VIDAL, Waldomiro Nunes & VIDAL, Maria R. Rodrigues. 2000. Taxonomia
Vegetal. Editora UFV, Viçosa, Brasil.
Classificação científica
(Fonte:: Wikipédia)
A expressão classificação científica ou classificação biológica designa o modo como os
biólogos agrupam e categorizam as espécies de seres vivos, extintas e actuais. A classificação
científica moderna tem as suas raízes no sistema de Carl von Linée (ou Carolus Linnaeus),
que agrupou as espécies de acordo com as características morfológicas por elas partilhadas.
Estes agrupamentos foram subsequentemente alterados múltiplas vezes para melhorar a
consistência entre a classificação e o princípio darwiniano da ascendência comum. O advento
da sistemática molecular, que utiliza a análise do genoma e os métodos da biologia molecular,
levou a profundas revisões da classificação de múltiplas espécies e é provável que as
alterações taxonómicas continuem a ocorrer à medida que se caminha para um sistema de
classificação assente na semelhança genética e molecular em detrimento dos critérios
morfológicos. A classificação científica pertence à ciência da taxonomia ou sistemática
biológica.
Linnaeus (“Lineo”)
Carolus Linnaeus (1707–1778) teve como obra principal, a Systema Naturae, com 12 edições
durante a sua vida (com a 1.ª edição em 1735). Nesta obra, a natureza é dividida em três
reinos: mineral, vegetal e animal. Para sistematizar a natureza, em cada um dos reinos
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Linnaeus usou um sistema hierárquico de cinco categorias: classe, ordem, género, espécie e
variedade.
Outra das suas principais contribuições foi o abandono dos longos nomes descritivos até então
em uso para designar as classes e ordens. Também promoveu o fim dos nomes de géneros
constituídos por duas palavras (por exemplo Bursa pastoris era um género). Esta
simplificação marca uma ruptura com os métodos dos seus antecessores imediatos (Rivinus e
Pitton de Tournefort), e foi acompanhada pelo estabelecimento de diagnoses rigorosas e
detalhadas para cada um dos géneros (a que ele chamou characteres naturales). Também
procedeu à integração das variedades nas respectivas espécies, evitando que a botânica tivesse
que criar novos taxa para acomodar todas as variedades cultivadas que são constantemente
criadas.
Contudo, apesar das suas múltiplas contribuições para a taxonomia e sistemática, Linnaeus é
melhor conhecido pela introdução do método binomial, a técnica ainda em uso para formular
o nome científico das espécies. Antes de Linnaeus estavam em uso nomes longos, compostos
por um nome genérico e por uma frase descritiva da própria espécie (a differentia specifica).
Esses nomes não eram fixos, já que cada autor parafraseava o descritivo, acentuando os
caracteres que considerava mais relevantes.
Na sua obra Philosophia Botanica (1751), Linnaeus colocou grande ênfase na melhoria da
composição dos nomes e na redução da sua extensão, abolindo as expressões retóricas
desnecessárias que tradicionalmente se usavam na descrição das espécies e introduzindo
novos termos descritivos cujo significado procurou fixar rigorosamente. Este esforço resultou
numa definição de espécies com um rigor sem precedentes.
Ao utilizar de forma consistente os mesmos epítetos específicos, Linnaeus separou a
nomenclatura da taxonomia, o que se viria a revelar um passo decisivo na consolidação do
sistema de nomenclatura biológica, já que os nomes da espécies passaram a ser fixos,
permitindo que os agrupamentos taxonómicos superiores se desenvolvessem
independentemente. Apesar do uso paralelo dos nomina trivialia e dos nomes descritivos se
ter mantido até finais do século XVIII, eles foram sendo progressivamente substituídos pela
utilização de nomes curtos, combinando simplesmente o nome do género com o nome trivial
da espécie.
No século XIX esta nova prática foi codificada nas primeiras regras e leis da nomenclatura
biológica, acabando por se transformar naquilo que hoje é geralmente referido como a sistema
de nomenclatura binomial, ou mais genericamente como a taxonomia lineana, a qual é ainda,
com poucas alterações, o padrão universalmente aceite de atribuição de nomes aos seres
vivos.
Hierarquia da classificação
O quadro seguinte apresenta a classificação científica de cinco espécies pertencentes a
estruturas taxonómicas diversas: a mosca-da-fruta (Drosophila melanogaster), o ser humano,
a ervilha, o cogumelo amanita e a bactéria Escherichia coli. Com ele pretende-se demonstrar a
flexibilidade e a universalidade do sistema, incluindo numa mesma estrutura organismos tão
diversos como os seleccionados.
Mosca-da-
Taxon Humano Ervilha Amanita E. coli
fruta
Phylum ou
Arthropoda Chordata Magnoliophyta Basidiomycota Proteobacteria
Divisão
Subphylum ou
Hexapoda Vertebrata Magnoliophytina Hymenomycotina
subdivisão
melanogaster
Classificação infra-específica
Embora a espécie seja considerado o nível de classificação mais baixo, existe por vezes
necessidade de recorrer a classificações infra-específicas para acomodar a biodiversidade
reconhecida ou para descrever certos traços fenotípicos, nomeadamente os de interesse
económico entre as espécies domesticadas.
As plantas podem ser classificadas em subespécies (por exemplo Pisum sativum subsp.
sativum, a ervilha-de-cheiro), ou variedades (por exemplo, Pisum sativum var. macrocarpon,
uma variedade de ervilha). As plantas cultivadas podem ser identificadas por cultivares, cada
um deles correspondente a um determinado fenótipo (por exemplo, Pisum sativum var.
macrocarpon 'Snowbird', o cultivar Snowbird de ervilha).
Citações de autor
O nome de qualquer taxon pode ser seguido pela explicitação da "autoridade" que o criou, ou
seja pelo nome do autor que primeiro publicou uma descrição válida da entidade taxonómica.
Estes nomes de autor são em geral abreviados, seguindo um padrão de abreviatura fixado por
critérios de tradição ou de história. Em Botânica, onde existe uma lista de abreviaturas do
nome de botânicos e micologistas padronizada, por exemplo, Carolus Linnaeus é sempre
abreviado para "L." e Gregor Mendel para Mendel.
Apesar do sistema de atribuição de autoria dos taxa ser ligeiramente diferente em botânica e
em zoologia, é padrão aceite que se o nome de um taxon for alterado, a abreviatura ou nome
do autor original é sempre mantido, sendo então colocado entre parêntesis. O nome do autor
da versão em vigor é colocado a seguir ao parêntesis (geralmente só em botânica).
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A SEGUIR, UMA CÓPIA DE UM ARTIGO QUE DIVULGA A DESCOBERTA DE
ESPÉCIES NOVAS DE PLANTAS PARA A CIÊNCIA (PROTÓLOGO).
RESUMO
São descritas duas novas espécies de Calliandra da Chapada Diamantina, Estado da Bahia,
leste do Brasil. Calliandra geraisensis E.R. Souza & L.P. Queiroz é próxima de C. calycina Benth.,
diferindo pelo seu hábito depauperado, folhas dísticas e ausência de tricomas glandulares no perianto.
Calliandra imbricata E.R. Souza & L.P. Queiroz é uma planta arbustiva semelhante a C. erubescens
Renvoize, da qual difere pelas folhas com maior número de pinas e folíolos e pelos estames
vermelhos. Ambas as espécies ocorrem nas montanhas da Chapada Diamantina e são endêmicas
restritas de uma pequena área nas vizinhanças da cidade de Piatã.
Palavras-chave: Calliandra, Ingeae, taxonomia
ABSTRACT
Two new species of Calliandra are described from the Chapada Diamantina, state of Bahia,
eastern Brazil. Calliandra geraisensis E.R. Souza & L.P. Queiroz is related to C. calycina Benth. but it
differs in its depauperate habit, distichous leaves and absence of glandular trichomes on the perianth.
Calliandra imbricata E.R. Souza & L.P. Queiroz is a shrubby plant similar to C. erubescens Renvoize
from which it differs by having the leaves with more pinnae and more leaflets and by its red stamens.
Both species occur in the mountains of the Chapada Diamantina region and are narrow endemics from
a small area near the town of Piatã.
Key words: Calliandra, Ingeae, taxonomy
Introdução
O gênero Calliandra foi estabelecido por Bentham (1844) e inclui espécies da subfamília
Mimosoideae com androceu polistêmone e monadelfo que possuem um tipo de legume caracterizado
pela deiscência longitudinal elástica a partir do ápice e valvas com margens espessadas. O gênero foi
recentemente revisado por Barneby (1998) que o expurgou dos elementos africanos e asiáticos de
modo que, na sua atual circunscrição, é um grupo exclusivamente neotropical com 132 espécies.
A Chapada Diamantina é um dos principais centros de diversidade de Calliandra, onde
ocorrem 40 espécies, sendo 30 delas endêmicas desta região (Souza 1999, Souza 2001). Destas
espécies, 19 foram descritas a partir de 1980 (Renvoize 1981, Mackinder & Lewis 1990, Barneby
1998) demonstrando o grau de desconhecimento florístico da região e a complexidade taxonômica do
gênero. Nesta área ocorre um grande maciço montanhoso que ocupa a maior parte da região central do
Estado da Bahia, estendendo-se de cerca de 10º-14º S e de 40º-43º W.
No curso de um levantamento das espécies de Calliandra da Chapada Diamantina (Souza
2001), foram encontradas duas espécies novas que são descritas e ilustradas a seguir.
Calliandra geraisensis E.R. Souza & L.P. Queiroz, sp. nov. Tipo: BRASIL: Bahia: Piatã, platô
do alto da Serra da Tromba, ramal ao sul da estrada Piatã-Inúbia, Caminho da Ressaca, 13º03' S e
41º49' W, 1.300 msm, 2-XI-1996 (fl.), L.P. de Queiroz, D.J.H. Hind, H.P. Bautista & M.M. da Silva
4706 (holótipo HUEFS).
Foliis ascendentibus et foliolis linearibus C. calycinae similis, sed habitu depauperato, ramis
virgatis, foliis distichis laxisque et perianthio glabrato sine pubibus glandularibus solum calycis
laciniis pubescentibus differt.
Subarbusto virgado ca. 0,6 m alt. com xilopódio robusto, amarelado; ramos, eixos foliares e
pedúnculo densamente pilosos quando jovens, ramos envelhecidos glabros. Estípulas lanceoladas, 3-7
× 1-2 mm. Folhas sésseis, ascendentes, dísticas; pecíolo1-2 mm compr.; raque 5-7 mm compr.; pinas 2
pares, mais ou menos equilongas, 4,5-5 cm compr.; folíolos 19-21 pares por pina, imbricados, 8-10 ×
ca. 2 mm, coriáceos, oblongos a lineares, glabros, ápice obtuso, base truncada, oblíqua, assimétrica,
20
nervação palmado-dimidiada, nervura principal excêntrica. Pseudoracemos terminais com fascículos
de 1-2 glomérulos pedunculados; pedúnculo 18-22 mm compr. Flores 5 por glomérulo, homomórficas,
tetrâmeras a pentâmeras, sésseis; cálice campanulado, tubo ca. 1,5 mm compr., glabro, lobos deltóides,
ciliados, 0,5-0,6 mm compr.; corola glabra, campanulada, esverdeada, tubo 3-5 mm compr., lobos
obtusos, vináceos, ca. 2 mm compr.; estames brancos, tubo estaminal 7-8 mm compr., parede interna
do tubo estaminal nectarífera, estemonozona ca. 2 mm compr., filetes livres por 18-22 mm compr.,
anteras castanhas; nectário intraestaminal ausente; ovário obovado, glabro, ca. 2 mm compr., ca. 5-
ovulado, estilete 23-28 mm compr., estigma capitado. Legume ca. 4,5 × 0,7 cm, linear-oblanceolado,
ápice arredondado, mucronado, base cuneada; valvas lenhosas, velutinas. Sementes não vistas.
Parátipo: BRASIL: Bahia: Piatã, platô do alto da Serra da Tromba, ramal ao sul da estrada
Piatã-Inúbia, Caminho da Ressaca, 13º03' S e 41º49' W, 1.300 msm, 2-XI-1996 (fl., fr.), L.P. Queiroz
et al. 4705 (HUEFS).
Ecologia e distribuição – Calliandra geraisensis é uma espécie endêmica da serra da Tromba,
no município de Piatã. Ocorre em ambiente de campo cerrado praticamente sem árvores, sobre solo
arenoso compactado a uma altitude de cerca de 1.300 msm. Este tipo de paisagem é localmente
conhecido como "gerais", de onde é derivado o epíteto específico. Foi encontrado material florido e
frutificado no mês de novembro.
Taxonomia – Calliandra geraisensis pertence à seção Calliandra (sensu Barneby 1998) e é
mais semelhante a C. calycina Benth., uma espécie relativamente bem distribuída na Chapada
Diamantina mas que, até o momento, não foi coletada na serra da Tromba (Souza 1999). Estas
espécies aproximam-se pela disposição ascendente das folhas e folíolos lineares e contíguos. No
entanto, C. geraisensis diferencia-se de C. calycina pelo hábito mais depauperado de subarbusto com
xilopódio e ramos virgados, pelas folhas dísticas, laxamente dispostas nos ramos, e pelo perianto
quase glabro, sem tricomas glandulares e com tricomas tectores apenas nos lobos do cálice, enquanto
C. calycina, por sua vez, é um arbusto robusto com caule ramificado, folhas espiraladas fortemente
congestas e imbricadas no ápice dos ramos e perianto esparsamente púberulo a glabro e com tricomas
glandulares.
Calliandra imbricata E.R. Souza & L.P. Queiroz, sp. nov. Tipo: BRASIL: Bahia: Piatã,
estrada Piatã-Inúbia a ca. 25 km NW de Piatã, 13º04'48" S e 41º55'59" W, 1.450 m, 23-II-1994 (fl.),
P.T. Sano, S. Atkins, C.M. Sakuragui, R.M. Harley & V.C. Souza CFCR 14433 (holótipo HUEFS;
isótipos HUEFS, SPF).
Habitu frutescenti, inflorescentia facie et foliolis oblongis vel obovatis palmatinervibus C.
erubescenti similis sed foliis pinnis (4-5) et pinnae foliolis (2632) numerosioribus, foliolis parvioribus
(5-8 × 3-4 mm), perianthio pubibus glandularibus instructo et staminibus rubris statim diagnoscenda.
Arbusto ca. 1 m alt.; ramos, eixos foliares e pedúnculos pubérulos com indumento entremeado
com tricomas glandulares avermelhados, ramos novos ferrugíneos. Estípulas foliáceas, lanceoladas,
ca. 2 × 1 mm. Folhas pecioladas, não ascendentes, dísticas; pecíolo 0,8-1,2 cm compr.; raque 3,5-4,5
cm compr.; pinas 4-5 pares, mais ou menos eqüilongas, às vezes com as distais menores, pinas maiores
2,8-5,3 cm compr.; folíolos 7-16 pares, fortemente imbricados, dispostos de modo a que o folíolo
anterior sobrepõe-se ao seguinte, os medianos mais ou menos eqüilongos 58 × 3-4 mm, os proximais e
distais menores 3-5 × 23 mm, coriáceos, obovados, face adaxial pubérula a glabrescente, face abaxial
pubérula e com tricomas glandulares, ápice obtuso a arredondado, base truncada, assimétrica,
nervação palmada, nervura principal excêntrica. Pseudoracemos terminais, exsertos da folhagem,
constituídos por fascículos de 2-3 glomérulos pedunculados; pedúnculo 10-17 mm compr.; brácteas
pedunculares ausentes; brácteas florais lanceoladas, ca. 2 × 1 mm. Flores 5 por glomérulo,
homomórficas, pentâmeras, sésseis; cálice campanulado, com tricomas glandulares, tubo 1,8-2 mm
compr., lobos deltóides, ca. 0,2 mm compr.; corola campanulada, com tricomas glandulares, tubo 2,8-5
mm compr., lobos obtusos, 22,2 mm compr.; estames vermelhos, tubo estaminal ca. 6 mm compr.,
estemonozona ca. 1,5 mm compr., filetes livres por 21-24 mm compr., anteras vináceas; nectário
intraestaminal ausente; ovário obovado, pubérulo, 22,5 mm compr., ca. 5-ovulado, estilete ca. 30 mm
compr., estigma capitado. Fruto não visto.
Ecologia e distribuição – Calliandra imbricata é uma espécie endêmica da Serra do Atalho,
no município de Piatã. Da mesma forma que C. geraisensis, ocorre em ambientes de campos cerrados
sobre solo arenoso entre rochas. Foi encontrado material florido no mês de fevereiro. A frutificação
não foi observada.
Taxonomia – Calliandra imbricata pertence à seção Calliandra. Assemelha-se a C.
erubescens Renv. no hábito arbustivo, arquitetura da inflorescência e folíolos oblongos a obovais com
nervação palmada. No entanto, pode ser diferenciada pelas folhas com maior número de pinas, (4-5
pares v. 2-3 em C. erubescens), maior número de folíolos por pina, (26-32 v. 10-20 em C. erubescens),
21
folíolos menores (5-8 × 3-4 mm v. 710 × 4-5 mm em C. erubescens), perianto com tricomas
glandulares (v. ausentes em C. erubescens) e estames vermelhos (v. brancos em C. erubescens).
Referências bibliográficas
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SOUZA, E.R. 1999. O gênero Calliandra Benth. (Leguminosae - Mimosoideae) na região de Catolés,
Bahia, Brasil. Monografia de especialização. Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de
Santana.
SOUZA, E.R. 2001. Aspectos taxonômicos e biogeográficos do gênero Calliandra Benth.
(Leguminosae - Mimosoideae) na Chapada Diamantina, Bahia, Brasil. Dissertação de mestrado.
Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana.
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(recebido: 21 de agosto de 2003; aceito: 17 de junho de 2004)
* Parte da dissertação de mestrado da primeira autora no Programa de Pós-graduação em Botânica da
UEFS.
1 Autor para correspondência: elviasouza@yahoo.com.br