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RIBEIRO
55
rizâÇão cliscursi.n'a, estamos nos referindo à noção Íbu- [...] instrumento teórico - metodológico que cria um amhiente
explicativc para evidenciar que os jornais populares ou de reíe-
car-rltiana cle cliscurso. Ou seia, de não pensar discurso
rência falam de iugares riiÍerenles e concedem espaços diversos
como amontoado de palavras ou concatenação de frases
à íalas das fcntes e dos ieitores. (ÂMAR,AL,20Ü5, p. lÜ5 )
qr-repretenclem um significtrclo em si. m:rs colno L1m
sistema que estrutura determir.rado imaginário social' Ainda segundo o artigor5
pois estaremos tàlando de poder e controle' o apcrte que píopoinos reconhece as implicaçoes oas posi-
1...]
Acredito qr-re muitas Pessoas ligadas a movimentos çôes sccrais simbolicas Cojornal e do leitor e incorpora a nccjo
sociais, em cliscr-rssões nas redes sociais, já devem ter de rrercado de leitores, a partir cia ideia de que para expircai r,
o'ur.ido a seguinte frase "fique quieto, esse náo é seu 1r-r- tliscurso, é preciso conhecer as condições de consiituição do
gar de fala', ou já deve ter lido textos criticando a teorii'' qrupo n0qual elefunciona (AMAÊAL, 2005, p 104.)
sem base algr,rma com o único intuito cle criar po1êmica Nesse sentido dado pela comunlcaçáo, o concelto serr-i
vazia. Nào se trata aqui de climinuir a militância Íêita no ria para analisar que o lugar de tàia da imprensa popular
mundo virtual, ao contrário, mas de ilustrar o quanto seria diferente do lugar de fala do que eles chamam de
muitas vezes há um esvaziamento de conceitos irupor'- jornais de referência, e, nesse artlgo especiÍicamente, mos-
tantes por conta dessa urgência que as redes geram' Ou tra que esse lugar da imprensa popular vai além do sen-
porque gruPos que sempre estiveram no poder passam sacionalismo. Para a autora e necessário compreender as
a se incomodar com o avanço de discursos de grupos posições sociais e capitais simbólicos de modos distintos.
minoritários em termos de direitos. Antes cle chegarmos a
1...] no lugar tio sensacionalismo, rótulo que nos indica a ittten
aLrtoras como Grada Kilomba, Patricia Hill Coliins, Linda sidade de sensações geradas por estrâtégias como invenções
Alcoffe Gayatri Spivak, vamos abordar esse conceito por exageros, distcrções e omissões, lugar de fala busca explicar
outras perspectivas. Não é a êl.rfase que preter.rdemos porque a imprensa dirigida a esse público opera com Modos de
aqui, mas julgamos importirnte apresentar aos leitores EndereÇamento distintos dos usados na imprensa de reíerência a
e leitoras or,rtras visões para enrlquecimento conceitual' e constrói sua credibilidade de outras manerras. Do n0sso p0nto
=a
pH =
ô
ql de vista, o lugar de onde Íala o segmento popular da grande im-
Em comunicaçào, o conceito de lugares de Íà1a, segun =
=.?. prensa é diferente do lugar de onde lala o segmenlo de referência.
do o artigo Lugares defala: um conceito para abordar o =
u
==
4À segmento popular da grande imprensa'ra seria un-r
(AMARAL, 2005, p. I 04.) r
Djamila Ribeiro
I OU[ É LtjGÀI] DÊ IALÀ?
Percebemos, então, a tentativa de analisar discursos autoras e, principalmente, de Patricia Hiil Collins, a partir
diversos a partir da localização de grupos distintos e dofeminist standpoint e Grada Kiiomba, em Plantations
mais, a partir das condições de construçáo do grupo
no Memories: Episodes o.f Everyday Racism.
qual funciona, existiria uma quebra de uma visáo domi-
Patricia Hill Collins é um nome importante para nos
da
nante e uma tentativâ de caracterizar o lugar de fala aprofundarmos em nossa questão aqui proposta. Em
imprensa popr'rlar de novas formas' Interessante notar
1990, na obra"Pensamento do feminismo negro",]6 ela
as simiiaridades com o que iremos nos focar' argumenta sobre o feminist standpoint Segundo o Dosslá
Mulheres negras: retrdto dos condições de vida. das mtilhe-
Para além dessa conceituação dada pela comunicação'
é
surge a partir da tradição de discussáo sobre Jeminist tanto de mulheres quanto de homens e os diferentes pontos de
stand point - em uma tradução literal
"ponto de vista vista possÍveis de análise de um fenômeno, bem como maÍcar 0
feminista" -diversiclade, teoria racial crítica e pensamento lugar de fala de quem a propõe. Patricia Hill Coilins é uma das
decolonial. As reflexões e trabalhos gerados nessas pers- principais autoras do que é denominado de feminist standpoint.
foram sendo moldados no
Pectivas, consequentemente, Em sua análise, Collins (-l990) lança mão do conceito de matÍiz de
seio dos movimentos sociais, muito marcadamente no domrnação para pensar a intersecção das desigualdades, na qual a
debate virtual, como forma de fêrramenta política e com mesma pessoa pode se encontrar em diíerentes posiçoes, a depen'
o intuitc de se colocar contra uma autorização discursiva' der de suas características. Assinr, o elemento representativo das
Porém, é extremamente possível pensá-lo a partir de experiências das diferentes Íormas de ser mulher estaria assentado
= orofessora indiana, como em LImLt epistemologia para a reivindicar os diferentes pontos de análises e a afirmaçào =<
-e.
=1
=É de que um dos objetivos do feminismo negro é marcar
5 proxima rct'oluÇao e Pode o subalterno falari' respecti- =D
r-
=
E; vamente. Aqui' pretendemos pensar a partir das últimas o lugar de Íãla de quem as propõem, percebemos que rÀ
[ üi"li: {: tl.]lÀil lr rÂLl? 0jamila Ribeiro
essa marcaÇão se torna necessária para entenclermos Como explica Collins, quando falamos de pontos de
realidâdes que foram consideradas irnplícitas dentro da partida, não estamos falando de experiências de indi-
normatização hegemônica. víduos necessariamente, mas das condições sociais que
No artigo Comentário sobre o artigo de Hekman'Truth permitem ou não qLle esses grupos acessem lugares de
and Method: Feminist Standpoint Theory RevisiteC: Onde cidadania. Seria, principalmente, um debate estrutural.
esta o poder?,t; Collins contesta crÍticas a teoria do ponto Não se trataria de afirmar as experiências individuais,
de vista fbminista que resultam em pensarmos em Iugares mas de entender como o lugar social que certos g[upos
de fala. Neste, a autora rebate as afirmações de Hekmam ocupam restringem oportunidades.
que versam sobre a perspectiva de que a teoria do ponto Ao ter como objetivo a diversidade de experiências,
de vista feminista retbre-se a indivíduos dizendo: há a consequente quebra de uma visáo universal. Uma
Em primeiro lugar, a standpoittt theory reÍere-se a experiôncias mulher negra terá experiências distintas de uma mulher
historicamente conrpartilhadas e baseadas em grupos. Grupos branca por conta de sua localização social, val experenciar
tem uln grau de continuidade ao longo do ten-rpo de tal ntodo que gênero de uma outra forma.
as realidades de grupo lranscendern as experiências individuais. Segundo Collins, a teoria do ponto de vista feminista
Por exenrplo, afro-americanos, c0m0 um grupo racial estigma precisa ser discutida a partir da localização dos grupos nas
tizado existru ntuitc anies de eu nascer e irá, provavelmente, relações de poder. Seria preciso entender as categorias de
continuar depcis de minha morte. [mbora minha experiôncia raça, gênero, classe e sexualidade como elementos da estru-
individual com o racisrno institucional seja única, os tipos de opor- tura social que emergem como dispositivos fundamentais
tuniclades e conslrangimentos qLle me atravessam diariamente que favorecem as desigualdades e criam grupos em \,-ez
serão semelhantes con'r os que aÍro-americanos confrcntam-se de pensar essas categorias como descritivas da iclentidade
cür'i'10 un"r grupo. AÍgumentar que cs negÍos, como grttnc. irà: aplicada aos indivíduos.3* Hekman, em sua crítica a Collins,
se transfermar ou desaparecer baseada na minha participação entendeu a teoria como uma multidão de vozes a partir das
soa narcisista, egocênirico e arquetipicamente pós-m0deÍno. Im experiências dos indlvíduos em vez cle analisar as categorias
3a
5H contraste, a teoria do ponto de vista íeminista enfatiza men0s as
ql que causam as clesigualdades em que esses indlvíduos se =a
5H
experrências individuais deniro de grupos socialmerlte c0nstru' encontram. Collins utiliza como exemplo a segregaçào
=gl ídos do que as condições soctais que constituenr estes grupos.
=<
- rP.
graduação? Quairtas protêssoras ou professores negros vidual. Todavia, aponta para o fato de que justanrente por
tiveram? Quantos jornalistas negros, de ambos os sexos, ocuparem a mesma localização social, esses indivíduos
existem nas principais redações do país ou até mesmo igualmente compartilham experiências nessas relações
nas mídias ditas alternativas? de poder. E seriam essas experiências comuns aos objetos
Essas experiências comuns resultantes do iugar social de análise. Collins lamenta o Íàto dos criticos à teoria
que ocLlpam impedem que a população negra acesse a terem dado muita atenção às questões de açáo lndividual
certos espaços. E aí que entendemos que é possível falar em vez de investigarem as experiências comuns. Como
de lugar de fala a parti r do Jeminist standpoint: não poder exernplo, a autora cita as altas taxas de encarcerárnento
acessar certos espeços, acarreta em não se ter produções de ltomens negros rras prisôes americanas.
e epistemologias desses grupos nesses espaçosr nào Poder Também podernos citar essa realidade no contexto
estar de tbrma justa nas universidades, meios de comu brasileiro, o alto índice de t-eminicídio de mulheres ne-
nicação, política institucicnal, por exemplo, imposslbilita gras, a constatação de que as mulheres negras ainda são
que âs vozes clos indir.íduos clesses grupos sejam catalo- maioria no trabalho doméstico e terceirizado e tantôs
gadas, ouvidas, incluslve, até de quem tem tnais acesso à oLltros exemplos. O fato de ocuparem iugares em que
internet. O falar nào se restringe ao ato cle emitir palavras, aumenta a situação de vulnerabilldade Íàz com que certas
r.nas de poder existir. Pensamos lugar de Íàla corno refirtar medidas consideradas como retrógradas tarnbém atln
a 1-ristoriograÍra tradicional e a hierarquização de saberes jam esses grupos de maneira mais acintosa. A Retbrnra
conseqLlente di,r hierarquia social. da Previdência, que caminha iro congresso como sob a
fbrma da Proposta de Emenda Constitr-rcional número
Quando tàlamos de direito à existência digna, à voz, es
tamos falar.rdo de locus social, de como esse iugar imposto 287, prevê allmentar o tempo de contribuicão para 25
diículta possibilidade de transcendência. Absolutamente
a anos e a idade mínima para 65 arlos para as mulheres.
nào tem a \rer com uma essencialista de que sotnente Essa medida não ieva em consideraçáo a dir.isào sexual
"'isão do trabalho impostâ em nossa sociedade. \ra1e dizer,
o negro pode frrlar sobre racismo, pol exemplo.
pois muiheres ainda sào aquelas moldadas para desent-
sH
=a
@<
E, mesnro sol:re lndir,íduos do mesmo grupo, Coilins
penhar o trabalho doméstico e obrigadas a serem as
s;rlienta que ocupaÍ iocalizaçào comum em relaçoes de
=a
;5l-
@<
-.?. maiores responsár,eis pela criação clos Ít1hos. Mr-rlheres.
pocler hierárquicas nào implica em se ter as ntesmas -n
==
4r experiências, porqr-le a autora não nega a ilin.rensão it.rdi-
sobretudo, negras, partem de pontos cliÍerentes e con-
=I
q-
sequentem ente desiguais. Éq
i OUE Ê LUSAÊ DI TALÁ? Djamiia Ribeiro
Houve uma manifestação, por parte de vários setores da 1eira, por exemplo. I)o mesmo modo, podemos apontar
sociedade, contra essa Proposta, mas para contextllalizar, para a invisibilidade da produção de mulheres negras em
de forma geral, mulheres negras, antes da proposiçào cursos e tàculdades, como colunistas de jornais e sifes,
dessa PEC, já tinham dificuldades em se aposentar. Por em cargos da política institucional. Essas experiências
conta da informalidade, de uma relação descontínua compartilhadas refletem ainda a relevância da teoria.
no mercado de trabalho e, no caso das empregadas do-
No debate r,irtual, aqul no Brasii, nos acostumamos
mesticas, de não terem selrs direitos garantidos. Esse
a ouvir os firesmos equívocos de Hekman. "Fula.na está
grupo historicamente sempre se viu à margem, para se ter
falando a partir das vivências dela I como se essas vir'ên-
uma ideia, de 2003 a2014, segundos dados da Pesquisa
cias, por mais que contenham experiências advindas da
Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD),
localização social de fulana, se mostrasse insuficiente de
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
explicar uma série de questões. Como explica Collins, a
o contingente de empregadas domésticas sem carteira
experiência cle fulana importa, sem dúvida, mas o foco
assinada que contribuíam para o iNSS aumentou de
é justamente tentar er.rtender as condições sociais que
8% para 23o/o no período. Ainda assim a categoria tem
cor-lstituem o grtlpo do qual fulana faz parte e quais sào
diÍiculdade em se aposentar por tempo de contribuição,
as experiências que essâ pessoa compartiiha ainda como
pois o setor é marcado por grande informalidade. No
grupo. Reduzir a teoria do ponto de vista feminista e
último trimestre do ano passado, 68,1% das trabalhadoras
lugar de fala somente às vivências seria um grande erro,
domésticas não possuíam carteira assinada. O mesmo
pois aqui existe um estudo sobre como as opressÔes
raciocínio se aplica em relação ao trabalho terceirizado
estruturais inipedem que indivíduos de certos grupos
para atividades meio. Existe utr grande contingente de
tenham clireito a fala, à humanidade. O fato de uma pes-
muiheres negras nessa relação de trabalho, sobretudo em
soa ser negra não significa que ela saberá refletir crítica
funções de limpeza. As mediCas contidas nessa Proposta
e filosoficamente sobre as consequências do racismo.
vão diÍicultar ainda mais a vida dessas mulheres, que já
rr il inclusive, ela até poderá dizer que nunca sentiu racismo,
viviam uma realidade precária.
que sua vivência nào comporta ou que e1a nunca passou
ê!
=a
5H Contudo, quando eram os grllpos "historicamente por isso. E, sabemos o quanto alguns grupos adoram 5l-
ol -a
invisibilizados" os atingidos, essas medidas não geravam fazer uso dessas pessoas. Mas o fato dessa pessoa dizer
-^? =r
_F
cornoçáo como têm gerado agora que passam a'tontem- que não sentiu racismo, não faz com ql1e, por conta de
=D =I
r-
ror p1ar" outros grupos, colro a classe média branca brasi- sua localização social, ela nào tenha tido menos opor- 4C
O tlUE É LUGÀR Í}E FÀLA? Djamila Ribeiro
tunidades e direitos. A discussão é sobretudo estrutural a própria teoria do ponto de üsta feminista ou lugar de
e não 'pós-moderna" como os acusadores dessa teoria fala, com base na existência de indivíduos como esses,
gostam de afirmar. A questão é que eles entenderam como se homens brancos heterossexuais não fossem o
equivocadamente a questão e acabam agindo, como grupo responsável e beneficiado por essas opressões. E,
afirma Collins, de modo arquetipicamente pós-moderno principalmente, porque há a tentativa de mudar o foco
ao reduzir ponto de üsta às experiências indiüduais em de realidades extremamente violentas para a constatação
vez de refletirem sobre locus social. de que pessoas de grupos oprimidos são pessoas fru-
tos dessa sociedade, assim como todas as outrís. Seria
Por isso, seria igualmente um equívoco dizer que essa
mais responsável e ético discutir o fato de que a cada
teoria perde vúdade pela existência de indiúduos rea-
23 minutos um jovem negro é assassinado no Brasil, o
cionários pertencentes a grupos oprimidos. E assim seria
que mostra que indivíduos negros compartilham expe-
porgre Collins náo está negando a perspectiva indiüdual,
mas dando ênfase ao lugar social que ocupam a partir da
riências de violência estatal pelo fato de pertencerem
ao grupo negro (locus social), do que perder energia em
matriz de dominação. Por mais que rujeitos negros sejam
reacionários, por exemplo, eles não deixam de sofrer com falar das experiências individuais distintas como se isso
a opressão racista - o mesmo exemplo vale para outros
não fosse próprio do humano. Acredito que nem todas
as pessoas brancas se identifiquem entre si e tenham as
grupos subalternizados. O contriírio também é verdadeiro:
por mais que pessoas pertencentes a grupos privilegiados mesmas visões, mas existe uma cobrança maior em rela-
sejam conscientes e combatam arduamente as opressóes, ção aos indMduos pertencentes a grupos historicamente
elas não deixarão de ser beneficiadas, estruturalmente fa- discriminados, como se fossem mais obrigados do que
landq pelas opressôes que infligem a outros grupos. O que os grupos localizados no poder, de criar estratégias de
estamos questionando é a legitimidade que é conferida a enfrentamento às desigualdades.
quem pertence ao grupo localizado no poder. O lugar social não determina uma consciência dis-
6B Obviamente que esses indiüduos reacionários perten- cursiva sobre esse lugar. Porém o lugar que ocupamos 6E
centes a grupos oprimidos estão legitimando opressões socialmente nos faz ter experiências distintas e outras
3n proferirem certos discursos. Seria, então, necessário o perspectivas. A teoria do ponto de vista feminista e lugar =
E
I
t
q<
=H ao
6
combate a esses discursos, sem sombra de dúvida. Porém, mulh '
de fala nos faz refutar umavisão universal de
a
=E o que ocorre, geralmente, é a tentativa de deslegitimar a negritude, e outras identidades, assim como t"r.fi;:: I
rÊ luta antirracista, antimachista ou anti-LGBTT fobica ou homens brancos, que se pensam universais, se racializem, H ;
== =
O OUE É LUOAR DE FALA?
Djamila fiibeiro
Ressalto que Collins nào fala especificamente sobre 1u- E inrpossível para os intelecluais franceses ccntemporâneos rma
gar de fala, apesar de algumas traduçôes para o português girrar o tipo de Pcder e 0esejc que habitarla c sujerio inominatio
dar este significado quando traduzem o termo standpLtin.t, do 0utrc da [uropa. l'.Jãc é apenas c íalc de que iLrdo c que leeri
mas a noss.1 hipcitese e que, a partir da ieoria do ponto
- critico cu não - eslela aorrsionadc no debate sobre a producão
ile vista feminista, podemos entender tantbém o lugar
desse 0uir0, apoianCc ou crlticanr-ia a corisliiL:içàc d. Sujer:J
da fala.l' A pzrrtir de Spivak, AlcoÍFe Kilomba yamos nos r.:nrn corrin r .rnô: liPl\lÀlí ?tl i0 r' i( .lá,
aprofundar ainda mais sobre o conceito.
Spivirk concordtr com Foucault no que diz respeito ii
Spivak é uma clas autoras importantes para se perszrr
pensar a existêncía de um sistema de pocier que invia-
Itrgar de fa1a. Sua obra Pode o subalterno Jalar, publicada
biliza. impecle e ln',,alida saberes produzidos por grupos
pela prirneira vez em 1985, originalrlente conlo Llnt ar,
subalternizaclos. Foucault i.rÍrrmar.a que as massas podian-r
tigo, com o sr.rbtítulo especulações sobre os sacriJicios das
Íàlar por si, mas entendia que existia uma interdicào para
vitit,tts, traz reflexoes importantes sobre como o silêncio
que essas i,ozes pudessem ser or-rvidas. O irlósoib tian-
impostc pirra sujeitos que foram colonizados. A protês-
cês acredittu.a que o papei do intelectual era analisar as
sora intliana e um importante 1lome do pensamento
pós-colonial, que, resumidamente, pretc.nde questionat. e relações de poder entenclendo que seLi prapel nào era ser
interrogar os fundamentos da epistemologia dominante representante daqr.reles que luta\,ân1. Spivak pensaclorir
e er.iclenciar os saberes produziclos por grupos que t'oraur acredita que os grupos oprimidos poclem e dever-n fàlar
subaiternizaclos em territórios coloniiris. Spivak, itssini por s1, mas afirma que o lilósofb trancês pensou esses
como Beauvoir e Kilomba tantber-n pensa .1 categoria do gÍr.rpos tenclo como base o contexto ellrope$, citando, parir
OuÍro afirmando a clitrculdade dos intelectuais Íianceses al'gllirento, o caso das vmr-as indianas que
ehrciciarr sell
contemporâneos eln pensar esse Oulro como sujeito, pois. são obrigadas ao sacrifício. um ritu:rl chamado "intolaçào"
para a aritora. estes pensariain a constitr:ição clo Suieitc e que estariam nunr lilgar nruito mais cliÍícil i-le podcrem
corno senclo a Eurcpa.lr fniirrem por si mesmas. Aienr clisso, par.1 rL eutor?1 incliana,
os intelectr-rais, poÍ não screur us\e: slLieitor oplimidos
,A- inteiectu:r1 problematiza
cr Íàto, iresnto sendo uma u
c
=a
q<
=
l-i qrarde interlocutora Foucault,rr que autores comcr
cle i ..l lerr::i:r §a tiausi:âreri es ;e:sa' rc*rdi: de re'il:ijr::lr :ia'.
t?- Foucar-rlt e l)eieuze , por exentp-;lo, não rotnpell total u3rs aias 3iinúlasxiclrle iaznn r.J!11: ijer!,:ierár tol;re,: ;i.:r:.-
= =
nrerlte com o eliscurso iteqen-rônicc ao tereni ir I ur.op.t ltple!Êlrtá,:c ,: ânlli,illl ,; Íulcirrailrriri ii; I
=D irâü 3,:iirr Cesell,
=
u
ur rroilr(r centÍo ,Je aná1ise.
u tijt E L l§Ât itt fÂi À? [jamiia Ribeirc
Mas, quem poderia falar, então? de pensar alguma interpretação válida independente
que refute o discurso colonial.
C subalterno não pode falar Não há valor alqum atribuído à "*ru-
lher'negra, pobre" conlo uÍn item respeitoso na lista de prrorida, No capítulo anterior, trabalhamos com a ideia de
de globais. Â representação não defrnhou. A mulher ccmo umâ Collins da importância das mulheres negras se auto
inteleclual tem umâ tareÍâ circunscíitâ que ela não deve rejeitai definirem. Essa necessidade de auto definição é uma
conr um Íloreic. (SPIVAK, 2t1 0 p. I 26.) estratégia importante de entientainento a essa visào co-
=a
5H acreditar que grupos oprimidos só podem se identificar Anastácia foi obrigada a viyer coút uma máscara cobrindo -u
ql =F
a<
com o discurso dominante e nunca serem capazes de sua boca. Kilomba explica que, formalmente, a máscara
-.P. =n
pensar suas próprias condições de opressão a que sào era usada paraimpedir que as pessoas negras escravizadas
==
g-
ro submetidos. Igualmente significaria a impossibilidade
=I
r-
se alimentassem enquanto eram forçaclamente obriga LÊ
I
I
l
tt Sitt L tlj§Afi ll rALil?
impor silêncio como para praticar tortllra. Interessante O medo imposto por aqueles que construíralrl âS Ilie:---
;:
notar que a escritora negra brasileira, Conceição Evaristo, serve para impor limites aos que foram s11encia.1, ': .
ganhadora do prêmio labuti com sLla obra Olhos d'água, rnuitas i ezes, implica etn receber castigos e rúf lç'- .'
faz um diálogo interessante com o que Grada Kilomba tâmente por isso, muitas vezes, prefere-se Coflilrrl : '
discurso hegemônico como modo de sobrer 1\'.-- -
diz, e podemos aÍrrmar que também discorda de Spivak
fàlan.ros, podemos falar sobre tudo ou solll€llti : -
-:
no sentido acreditar na quebra do silêncio instituído. Em
uma entrevista ao ,sire Carta Capital' ela diz:
nos e permitido falar? Numa sociedade supretl:' ' ''
ca e patriarcal, mulheres brancas, mulheres ne .:.-,
[...] aquela imagern da escrava Anastácia, eu tenho
dito rriuito
negros, pessoas transexuais, lésbicas, $aYS pil*:
que a qente sabe falar pelos oriÍicios da máscara e às vezes a
mesmo modo que homens brancos cis h.:. '.
gente íala com tanta potência que a máscara é estilhacarla. E eu Existe o mesmo espaço e legitimidade? ',- -. - :
acho que o estilhaçamento é um símholo nossc, poÍque nossa aigum espaço para falar, por exempio. p.- - - - l
Íala Íorça a ntáscara.4' negra, e permitldo que ela fale sobre Ecl':l :: -
Para além da questão concreta claquela mulher ser obri- permitido quc lale sobre Ictttl' :-'-
oLr só e
ser uma travesti negra? Saberes collstt -- r - - -
gacla il calar-se, a Llsar um artefato em sua boca, Kilomba
acadêmicosãoconslderadossalrer;.t.. - - : . - -'-
pensa essa máscara como a ahrmaçào do projeto coloniai'
a pensar sobre quais são os lirnite. -,-: - i -: *i!:'l
Vê essa máscara como "c mask o-f speechless" - em tra-
1ógica colonial e nos tãz refletir s.'::. .' - ::: -.:'.Jias da
dução literal'a máscara daqr-re1as que náo podenr falarl
imposição da máscara clo siie;:r
Nessa perspectiva, essa máscara legitima a política de
silenciar "Os Otiros", aítrma a penstrdora. Às perguntas A máscara, portanto, susc 1: - - '., - =.:::s. por que a bcc:.
que a alltora tàz nesse capítu1o são importantes para a do sujeito negro deve stí:-:r: : ' :-e ela ou eie d-'ve,=
=a
5H
q! "Quer-rl silencra00? Ü que pcC;- . : := -: li i
nossa reflexào de quenl pode tãlar. Questiona: 0ÊÇ10 sÊ SLrâ -
eP-
- "O que acontece quando nós falanlos?" e fosseselada?Êoquer:.ll:.]]-ê:"0deveriaouvrr?i-]á..
pode làlar?'l
==
q-
rÊ "Sobre o que e nos permitido falar?'1 apreensivo de que se . :" . to coloniai Íaiar,0 col,; . '
O t]UE É LUOAB t]E FALA? r-l
que escutaÍ. Ele/ela seria Íorçado a um confronto desconfortável manter-se "inconsciente" diante dessas wràbc rÔ
com as verdades dos "Outros". Verdades que foram negadas, dades protegeria o sujeito branco de ter qtrEcc
reprimidas e mantidas em silêncio, como segredos. Eu gosto conhecimentos dos "OaÍros". A autora segrffi
dessa Írase "quieto na medida em que é forçado a". Essa é uma que uma vez confrontado com os segrdoo cdttirrcu-
expressão das pessoas da Diáspora africana que anuncia como dades desagradáveis da "história muito suF? coilirx
alguém está prestês a revelar o que se supõe ser um segredo. brancos, geralmente, argumentam não sabec ú ffhq,
Segredos como a escravidão. Segredos como o colonialismo. não lembrar, não acreditar ou não ter sido cmullo-
Segredos como o racismo. (K|LOMBA, 201 2, p. 20.)4 Essas expressôes seriam parte desse processo e reprcsStt
de manter essas verdades esquecidas.
Kilomba toca num tema essencial quando discutimos
lugares de fala: é necessário escutar por parte de quem Falar de racismo, opressão de gênero, é visto gcralmeme
sempre foi autorizado a falar. A autora coloca essa diicul- como algo chato, "mimimil' ou outras formas de @i-
dade da pessoa branca em ouvir, por conta do incômodo timação. A tomada de consciência sobre o que sigrifrca
que as vozes silenciadas trazeírr, do confronto que é gera- desestabilizar a norma hegemônica é üsta como tnapro-
priada ou agressiva porque aí se está confrontando poder.
do quando se rompe comavoz única. Necessariamente,
as narrativas daquelas que foram forçadas ao lugar do
Outro, serão narrativas que visam trazer conflitos ne-
cessários para a mudança. O não ouvir é a tendência a
permanecer num lugar cômodo e confortável daquele
que se intitula poder falar sobre os Outros, enquanto
esses Ozfros permanecem silenciados.