O livro de Salmos, uma coletânea composta durante 900 anos
por alguns dos mais importantes líderes espirituais dos israelitas, continua sendo de grande valor para nós nos dias de hoje. É claro que Davi e vários outros autores prepararam esses hinos principalmente para a adoração no santuário nacional em Jerusalém. Por esse motivo, seus versos citam, frequentemente, aspectos de adoração que eram exclusivos ao serviço sagrado do Antigo Testamento: sacrifício de animais, queima de incenso, o uso de instrumentos musicais, uma classe separada de sacerdotes, dias festivos na cidade santa etc. Por terem sido escritos entre 400 e 1.400 antes da vinda de Jesus, vários dos Salmos falam da esperança messiânica ainda não realizada.
Hoje, depois do sacrifício de Jesus, alguns elementos dos
Salmos não têm a mesma relevância. Nós vivemos depois da vinda de Jesus. Ao invés de olharmos para frente com a esperança do seu sacrifício, olhamos para trás com gratidão pelo amor que ele demonstrou na cruz do Calvário. Não viajamos para Jerusalém para lembrar do livramento dos primogênitos no Egito, nem para participar do sacrifício expiatório anual feito pelos sumos sacerdotes daquela época. A adoração dos cristãos no Novo Testamento não inclui incenso, instrumentos musicais, sacrifícios de animais ou sacerdotes com vestes especiais. Deus não pede hoje, como exigia naquele período, que todos adorem em um lugar específico. Hoje, em qualquer lugar, devemos adorar “em espírito e em verdade” (João 4:24). O santuário do Senhor é o corpo do cristão (1 Coríntios 6:19-20), e os instrumentos de louvor são seu coração e seus lábios (Efésios 5:19; Hebreus 13:15).
Os Salmos, porém, mantêm grande valor até aos dias de
hoje. Podem ser utilizados no louvor dos cristãos, muitos deles sem necessidade de adaptação da mensagem. Paulo instruiu os cristãos a incluírem Salmos na sua adoração: “falando entre vocês com salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando e louvando com o coração ao Senhor, dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo” (Efésios 5:19-20).
Conforme essas instruções, salmos são um dos tipos de
louvor dos cristãos hoje. Podemos, também, utilizar outros hinos e cânticos espirituais, compostos com base nos ensinamentos bíblicos. Mas não devemos negligenciar a riqueza dos Salmos em nosso serviço ao Senhor. No louvor a Deus hoje, devemos olhar para os Salmos por, pelo menos, dois motivos:
(1) Salmos para cantar. Como aprendemos com as palavras
de Paulo, citadas acima, Salmos inteiros ou porções deles podem ser empregados na nossa adoração a Deus. Mesmo sabendo que o livro servia inicialmente como o principal hinário dos judeus sob a Lei dada no monte Sinai, podemos aproveitar muitos desse hinos nos dias de hoje. Muitos falam em termos universais sobre adoração ao Criador do Universo. Alguns falam do papel do Messias (Cristo, Ungido) na salvação dos pecadores. Mesmo os Salmos que falam sobre o povo escolhido podem ser aplicados, em alguns casos, a Israel espiritual, a igreja de Jesus.
(2) Salmos como inspiração para novos hinos. Não sou
compositor, mas ainda assim posso fazer uma sugestão que se baseia no livro de Salmos. Podemos aprender muito sobre a adoração ao Senhor desse livro. Uma das características mais óbvias e importantes que observamos em uma simples leitura do livro é o foco dos cânticos. A palavra Aleluia (Deus seja louvado) é apenas uma das maneiras que esse livro dirige o louvor ao Senhor. Do começo ao fim do livro, a ênfase está na glória devida ao nosso Criador e Redentor. Muitas músicas mais modernas tendem a ser egocêntricas, mas os Salmos mantêm o foco em Deus. Uma segunda qualidade importante é a riqueza das letras desses hinos. Não encontramos a repetição de letras vagas, e sim linha após linha cheias de significado e de profunda reverência. Compositores de louvores fariam bem observando essas lições do livro de Salmos para contribuir à adoração mais rica e sincera nos dias de hoje. Cada hora investida no estudo do livro de Salmos traz benefícios espirituais e oportunidades para nos aproximar mais de Deus.