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Leitura

Em seus primórdios a leitura era considerada simplesmente como uma


ferramenta de decodificação: de símbolos, signos e afins. Durante muito tempo a
leitura foi ensinada de forma unilateral, tendo a figura do professor como chave mestra
de todo o conhecimento.
Segundo Pisa (2000) a leitura também é um instrumento utilizado para
mensurar a capacidade de um indivíduo: a compreensão de textos, a capacidade de
produzir significações a partir de uma determinada leitura e de se capaz de produzir
novas relações com a sociedade a partir da compreensão de textos escritos.
Neste sentido, a leitura está atrelada a capacidade de viver em sociedade e ser
capaz de compreender os signos e símbolos que a sociedade como um todo produz.
Falando dessa forma parece algo razoavelmente simples, basta o indivíduo ser capaz
de ler e seria capaz de viver em sociedade.
Desde os gregos e romanos a leitura já era um privilégio de homens livres
(MARTINS, 2007, p. 22) na contemporaneidade saber ler ainda continua sendo um
privilégio de poucos. Segundo o IBGE1 o Brasil ainda tem cerca de 11,3 milhões de
analfabeto que abrangem a população de 15 anos ou mais – de maneira percentual
esses números correspondem a 6,8 % dessa população.
Outro ponto destacado por Martinis (2007), se remete ao fato que mesmo
alfabetizada em muitos casos as pessoas se limitam a leitura que visem fim
pragmáticos:
Daí o hábito de ler livros se especialmente mistificado; considerarem-se os
letrados os únicos capazes, seja de criar e compreender a linguagem
artística, seja de ditar leis estabelecer normas e valores sociais e culturais.
Isso de fato determina prerrogativas difíceis de se abrir mão, pois são
diferenciadoras, indícios de que se pertence a uma elite (MARTINS. 2007, p.
23-24).

Em outras palavras existem determinados textos que apenas uma parcela da


elite da sociedade pode ter acesso, geralmente essa mesma parcela é que determina
o que a maioria da população deve ler.
Para além dessa compreensão mecânica da leitura: decifração de códigos
linguísticos, instrumento de mensuração proficiência e do par estímulo-resposta.
Existe uma outra área que compreende a leitura como: processo de amplo de

1
Disponível em https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-
denoticias/noticias/21255-analfabetismo-cai-em-2017-mas-segue-acima-da-meta-para-2015> Acesso
em 25/05/2019
compreensão, inserido em um ambiente onde os componentes sensórias, intelectuais,
fisiológicos, culturais e econômicos são levados em consideração (MARTINS, 2007,
p. 31).
“A leitura do mundo precede a leitura da palavra” ora essa pequena passagem
sintetiza o pensamento de Paulo Freire acerca da leitura. Para Freire (1989) a primeira
leitura que produzimos se dá nos encontros e desencontros com o mundo. O contato
com uma superfície áspera, o cheiro de um perfume bom, o coração acelerado ao ver
alguém que gostamos. É nesse momento que começamos a produzir uma
compreensão do mundo a nossa volta, significar o mesmo.
Em suma, a leitura para Freire é capacidade de interpretar o mundo em que se
vive, ademais representa-lo por intermédio da linguagem escrita:

Refiro-me a que a leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra e a


leitura desta implica a continuidade da leitura daquele. Na proposta a que me
referi acima, este movimento do mundo à palavra e da palavra ao mundo está
sempre presente. Movimento em que a palavra dita flui do mundo mesmo
através da leitura que dele fazemos. De alguma maneira, porém, podemos ir
mais longe e dizer que a leitura da palavra não é apenas precedida pela
leitura do mundo mas por uma certa forma de “escrevê-lo” ou de “reescreve-
lo”, quer dizer, de transformá-lo através de nossa prática consciente
(FREIRE, 1989, p. 13)

Para Freire a leitura da palavra não pode ser desacoplada, do ato de escrever,
isso significa que o sujeito que lê e escreve nunca se encontra em um campo neutro.
Ou seja, o contexto, o texto, o diálogo e em especial a leitura do mundo está imbricada
diretamente ao projeto de vida de cada um.
Segundo Jorge Larrosa (2002,2011), a leitura deve passar pelo campo da
experiência, para o autor a noção de experiência é:

A experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca. Não o
que se passa, não o que acontece, ou o que toca. A cada dia se passam
muitas coisas, porém, ao mesmo tempo, quase nada nos acontece [...] A
experiência, a possibilidade de que algo nos aconteça ou nos toque, requer
um gesto de interrupção, um gesto que é quase impossível nos tempos que
correm: requer parar para pensar, parar para olhar, parar para escutar,
pensar mais devagar, olhar mais devagar, e escutar mais devagar; parar para
sentir, sentir mais devagar, demorar-se nos detalhes, suspender a opinião,
suspender o juízo, suspender a vontade, suspender o automatismo da ação,
cultivar a atenção e a delicadeza, abrir os olhos e os ouvidos, falar sobre o
que nos acontece, aprender a lentidão, escutar aos outros, cultivar a arte do
encontro, calar muito, ter paciência e dar-se tempo e espaço (LARROSA,
2002, p. 21 – 24).
Para o autor a leitura é o ato de se colocar em confronto com o texto, uma
leitura que ultrapasse a compreensão adentrando ao campo da experiência. Em
outras palavras, como a leitura de um determinado livro ou autor pode auxiliar a
interpretar o mundo de outra forma, de sentir os encontros com o mundo de uma forma
que ainda não sabemos experimentar.
A leitura aqui tem a relação direta com a subjetividade, pensar a leitura como
algo que nos transforma, ou seja, a leitura que nos passa:

Além de uma prática que consiste, basicamente, na compreensão de textos,


a leitura pode ser uma experiência. Uma experiência de linguagem, uma
experiência de pensamento, e também uma experiência sensível, emocional,
uma experiência em que o que está em jogo nossa sensibilidade [...] modo
como em relação com as palavras de Kafka posso formar ou transformar
minhas próprias palavras (LARROSA, 2011, p. 10)

É preciso existir um leitor ativo diante do texto, que coloque a sua própria
condição de leitor em jogo no que estar a ler, produzir uma relação entre texto e
subjetividade na eminência da emergência de um novo sujeito.

Letramento
É possível dizer que o letramento é uma “invenção” dos anos 80, é nesse
momento que o letramento começa a ser construído em diferentes países no Brasil
letramento, illettrisme, na França, literacia, em Portugal (SOARES, 2017a)
A nomenclatura de letramento é carregada de toda uma posição que opera de
forma distinta da alfabetização, o que segundo Kleiman (2005), o letramento assume
um novo significado, uma nova perspectiva cuja a função é colocar sobre uma nova
ótica a prática social da escrita e da leitura.
O letramento emerge na necessidade de se pensar novas abordagens teóricos-
metodológicas acerca do uso da leitura e da escrita. Ambas estavam condicionadas
por muito tempo a princípios de pessoas letradas e iletradas.
No Brasil essa nova perspectiva epistemológica foi designada como Estudos
de Letramento, a forma como a escrita e a leitura são utilizadas assumem papeis
socias carregados de pluralidade e de heterogeneidade, imbrincados nas estruturas
de poder das sociedades.
A princípio se faz necessário diferenciar alfabetização de letramento.
Alfabetização é compreendida como: ensinar a ler e escrever, interpretação e
compressão de códigos e símbolos alfabetização pode ser entendida como uma
prática que visa o individual. O letramento por sua vez é: uma prática que visa um
alcance social, fazer com que a escrita e a leitura sejam condicionadas as práticas
sociais cotidianas (KLEIMAN; ASSIS 2016).
Segundo Kleiman (2005), o letramento não busca uma simplificação que acabe
por negar a evidente hierarquização das práticas sociais, sejam elas:
macroinstituicional, as metodológicas etnográficas ou as metodológicas analíticas
discursivas. Para autora o letramento é uma concepção diversificada e multicultural
das práticas que envolvem a língua escrita:

Seriam os contextos em que as práticas são mobilizadas os que nos mostram


as diversas orientações de uso da linguagem, segundo as demandas,
objetivos, metas de leitura e escrita das diversas situações de comunicação,
assim como das relações, objetivos e necessidades dos participantes dessas
situações. O conhecimento dos mundos de letramento as histórias de leitura
dos professores que introduzem o aluno em diversas práticas de uso da
língua escrita, parece-nos essencial para a universidade formar esses
professores para as demandas, também contextualizadas, do mundo do
trabalho (KLEIMAN, 2005, P. 85)

Neste sentido, autora defende uma transformação na prática de letramento e


da escrita, que acompanhe o avanço das novas tecnologias. Dessa forma, com o
surgimento de novos meios de comunicação e de novas formas de se transmitir a
informação, a escrita não deve ser única ou mais importante meio de representação.
Isso se deve ao fato que existem outras modalidades que produzem mais significação
e representação do que a escrita é o caso das: imagens e sons.
Segundo Soares (2017b) uma das grandes problemáticas que envolvem o
letramento é a sua própria definição, por se um fenômeno multifacetado e de uma
grande complexidade; é quase improvável a sua definição:

Um primeiro e essencial problema conceitual é a própria definição de


letramento. Antes de coletar dados ou produzir estatísticas sobre o
letramento, uma questão central precisa ser respondida: que letramento é
esse que se busca avaliar e medir? A avaliação e medição do letramento tem
de fundamentar-se numa definição precisa do fenômeno; contudo, essa
definição será possível (SOARES, 2017, p. 64).

Apesar da autora dizer que diante da complexidade do fenômeno a sua


definição é árdua missão, ela propõe duas dimensões acerca do letramento, não são
definições mais sim possibilidades de compreensão desse acontecimento.
As dimensões apontadas por Soares (2017b), são individual e social. Na
dimensão individual do letramento a ato de ler e escrever apesar de suas diferenças,
são tomadas como únicas “desconsiderando as peculiaridades de cada uma e as
dessemelhanças entre elas” (SOARES, 2017b, p. 68).
Na perspectiva individual do letramento a leitura é compreendida como:
decodificação de símbolos escritos, capacidade de interpretar sequências de ideias,
construir significados a partir de um arcabouço de conhecimentos prévios. A escrita
dentro dessa mesma dimensão é: capacidade de registrar unidades de som, diante
de um leitor em potencial transmitir a informação de forma adequada, habilidade de
selecionar informações para uma determinada abordagem textual.
Apesar da abrangência que a leitura e a escrita assumem na dimensão
individual do letramento, autora nos adverte, que mesmo uma definição de letramento
que tenha por base apenas as modalidades de leitura e escrita sua definição é difícil.
Afinal, seria preciso dizer quais recursos, aptidões, habilidades de escrita e leitura
formam o indivíduo “letrado”.
No que tange a dimensão social do letramento autora diz o seguinte:

Letramento é o que as pessoas fazem com as habilidades de leitura e de


escrita, em um contexto específico, e com essas habilidades se relacionam
com as necessidades, valores e práticas sociais. Em outras palavras,
letramento não é pura e simplesmente um conjunto de habilidades
individuais; é o conjunto de práticas sociais ligadas a leitura e à escrita em
que os indivíduos se envolvem em seu contexto social (SOARES, 2017, p.72)

Neste sentido o letramento está imbricado com a vida social do indivíduo, nessa
concepção o letramento é uma caixa de ferramentas que o sujeito deve se fazer valer
para se adequar a sociedade.
Na dimensão social a leitura e a escrita diferentemente da sua dimensão
individual assumem outra função que é: manutenção das habilidades de leitura e
escrita tem como objetivo garantir o funcionamento e participação do indivíduo na
sociedade. Visando dessa forma o sucesso pessoal, cabe então a letramento
promover os meios necessários para produzir resultados no desenvolvimento
cognitivo, economico e social (SOARES, 2017b).
Compreende-se então que o letramento não pode ser pensando como um
fenômeno que abrange uma área ou outra, o conceito, definição, o que vem a ser o
letramento deve se levar em conta diversos fatores. Existe uma variação entre as
práticas individuais que consideraram as habilidades e competências do indivíduo e
as práticas sociais e as suas competências. Ou seja, o letramento atravessa as duas
dimensões levando em consideração o contexto.
Talvez aqui esteja um dos grandes dilemas educacionais do nosso momento
histórico produzir uma educação que promova o letramento e não somente
alfabetização. Possibilitar um alfabetizar letrando, entretanto como afirmar Kleiman
(2005), uma prática cotidiana de letramento dentro do espaço escolar só é possível a
partir do momento que conhecemos as necessidades dos grupos que trabalhamos. É
preciso reconhecer as especificidades, promover uma escuta atenta a esse grupo e
não simplesmente de maneira verticalizada sobrepor eles com nossos interesses.
O processo de letramento é anterior ao próprio ato de alfabetizar, quando
indivíduo é inserido na sociedade ele já está rodeado de signos, símbolos, códigos
toda uma “cartografia” grafocêntrica.
O que se faz necessário é produzir mecanismos de ação conjunta entre
letramento e alfabetização, ou seja, propiciar experiências de leitura que sejam
condizentes com a prática cotidiana. Assim como a escrita deve ser alinhada a uma
finalidade real e não uma produção de texto massificadora.
É nessa interdependência entre letramento e alfabetização, que cabe as
escolas se munirem de materiais tanto humanos como tecnológicos que promovam a
interação e a diversificação dos gêneros e tipos textuais. Em resumo aquisição da
escrita e da leitura para além do funcionamento e as características do sistema de
escritura alfabética e ortográfica. Deve também perpassa os diversos usos desses
elementos na sociedade, promovendo assim sujeitos capazes de ler e escrever com
uma autonomia. É o que afirma Soares em uma entrevista para o Jornal Brasil:

Se alfabetizar significa orientar a própria criança para o domínio da tecnologia


da escrita, letrar significa levá-la ao exercício das práticas sociais de leitura e
escrita. Uma criança alfabetizada é uma criança que sabe ler e escrever, uma
criança letrada [...] é uma criança que tem o hábito, as habilidades e até
mesmo o prazer da leitura e da escrita de diferentes gêneros de textos, em
diferentes suportes ou portadores, em diferentes contextos e circunstâncias
(SOARES, 2000).

É nesse processo que deve-se emergir um indivíduo com capacidade para lidar
com a leitura e a escrita em diferentes contextos, de tal forma a produzir novas
significações e interpretações do mundo a sua volta.
Referências bibliográficas

FREIRE, P. A importância do ato de ler. In: A importância do ato de ler: em três


artigos que se completam. 23. ed. São Paulo: Cortez, 1989. cap. 1, p. 9 – 14.

KLEIMAN, A. B. Os estudos de letramento e a formação do professor de língua


materna. Linguagem em (Dis)curso, v. 8, n. 3, p. 488 – 517, set./dez 2008.

KLEIMAN; ASSIS. A. J. A. (orgs.). Significados e ressignificações do letramento:


desdobramentos de uma perspectiva sociocultural sobre a escrita: desdobramentos
de uma perspectiva sociocultural sobre a escrita. In: Coleção letramento educação
e sociedade. Campinas: Mercado das Letras, 2016. p. 1 – 59.

LARROSA, J. Experiência e alteridade em educação. Revista reflexão e ação, v.


19, n. 2, p. 4– 27, jul/dez 2011.

LARROSA, Jorge. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Revista


Brasileira de Educação, n. 19, p. 20 – 28, Jan/Fev/Mar/Abr 2002.

SOARES, M. Letrar é mais que alfabetizar. Jornal do Brasil, 26 nov 2000. Disponível
em < http://www.quintalmagico.com.br/educar-e/letrar-e-mais-que-alfabetizar.html>
Acesso em 25/08/2019.

SOARES, M. Letramento: como definir, como avaliar, como medir. In: Letramento:
um tema em três gêneros. 3. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2017a. cap. 3, p. 61–
121. ISBN 978-85-86583-16-2.

SOARES, M. Letramento e alfabetização: as muitas facetas. In: Alfabetização e


letramento. 7. ed. São Paulo: Contexto, 2017b. cap. 1, p. 29 - 50.

PISA, 2000. Relatório Nacional. Brasília, 2000

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