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Centro de Teologia e Ciências Humanas

Departamento de História
Disciplina: Metodologia da História
Prof. Dr. Helder Remigio de Amorim
Aluna: Clara Maria Luna Varjão Schettini

Burke, Peter. A escola dos Annales (1929-1989). A Revolução francesa da historiografia.


São Paulo: Editora Unesp, 1997. Pág. 7-121.

Recife, 2018
Fichamento

Apresentação

• Lucian Febvre e Marc Bloch estão insatisfeitos com o modo de se escrever a história
com foco político “ignorando que, aquém e além dele, se situavam campos de forças
estruturais, coletivas e individuais que lhe conferiam densidade e profundidade...”
(BURKE, 1997, p.7)
• Segundo Febvre “era, portanto, menos redescobrir o homem do que, enfim, descobri-lo
na plenitude de suas virtualidades, que se inscreviam concretamente em suas realizações
históricas.” (BURKE, 1997, p.7) o objetivo era conhecer o homem em sua totalidade,
não somente nos aspectos políticos e dos grandes acontecimentos. O homem pode reagir
de maneiras diferentes em diferentes situações.
• Frebvre e Bloch contribuíram na historiografia quando criaram a escola dos annales e
introduziram a interdisciplinaridade.
• Marc Bloch e Lucien Febvre tinham personalidades diferentes e “Essa tensão criativa
entre liberdade e determinismo tornou possível a colaboração entre os dois historiadores
e a criação dos Annales.” (BURKE, 1997, p.8) Apesar de outros países terem condições
mais favoráveis para essa ruptura com a antiga história, foi na França que ela se
concretizou. Nilo Odália cita Michelet como um fator para que isso tenha acontecido na
França. Segundo Nilo, Michelet transformou a Revolução “na saga de uma nação.”
(BURKE, 1997, p.8) ele criou um “clima emocional e intelectual necessário para que a
ciência histórica se transformasse numa necessidade do homem francês.” (BURKE,
1997, p. 9)
• A conquista do Oeste está para os americanos assim como a Revolução francesa está
para os franceses “fonte continua para as mais criativas escolas historiográficas.”
(BURKE, 1997, p.9)
• Burke em poucas palavras consegue transferir ao “leitor, mesmo não integralmente
familiarizado...com as inúmeras ramificações da História Nova, um conhecimento que
habilitará a programar-se para um estudo mais sério e sistemático.” (BURKE, 1997, p.9)
e mostra que o engajamento histórico é uma via de mão dupla que permite ver o homem
como um espírito livre e criativo.
• Todas as grandes questões da história passam, direta ou indiretamente, pelos
historiadores vinculados a Nova História.

Prefácio

• No século XX grande parcela da inovação histórica vem da França, a Nova História é


produto de um grupo associado à Revista Annales fundada em 1929.
• A revista dos Annales foi criada para encorajar inovações. As diretrizes da revista são
1. história problema, 2. história de todas as atividades humanas, 3. interdisciplinaridade.
• “o objetivo desse livro é descrever, analisar e avaliar a obra da escola dos Annales.”
(BURKE, 1997, p.12) A visão que se tem dos Annales não considera as individualidades
de seus membros e seu desenvolvimento ao longo dos anos. Burke sugere que, os
Annales, se trata mais de um movimento do que uma “escola”.
• “Esse movimento pode ser dividido em três fases.” (BURKE, 1997, p.12)

1ªfase - 1920 a 1945 – Guerra de guerrilha contra a velha história.

2ªfase - 1945 a 1968 – Novos conceitos e métodos (Braudel).

3ªfase - 1960 até hoje – Fragmentação.

• A existência dessas três gerações ilustra “o processo cíclico comum segundo o qual os
rebeldes de hoje serão o establishement de amanhã.” (BURKE, 1997, p.13)
• Este livro (A escola dos Annales 1929-1989 – A revolução francesa) busca explicar a
década de 20 para as gerações posteriores e a “prática do historiador para sociólogos,
antropólogos, geógrafos e outros cientistas sociais.” (BURKE, 1997, p.13)
• Um problema enfrentado pelo estudo de Burke é a “contemporaneidade do não
contemporâneo”. (BURKE, 1997, p.13) ele cita Braudel, que em 50 anos “não alterou
fundamentalmente sua maneira de ver e escrever a história.” (BURKE, 1997, p.13)
Trazendo a necessidade de se ter uma liberdade com a ordem cronológica.
• Esse “é um ensaio de caráter mais pessoal.” (BURKE, 1997, p.14) Burke se descreve
como um historiador de fora que buscou inspiração no movimento e adiciona que sua
localização geográfica o deixa suficientemente afastado para fazer uma análise crítica
das contribuições dos Annales.
• Burke deixou de fora os aspectos políticos, etnográficos e o estilo de vidas dos
participantes desse movimento, ele se concentrou nos livros produzidos por esses
membros e avaliar sua importância na história da historiografia.
• Ele afirma que apesar de ser atribuído a apenas três ou quatro membros esse movimento
intelectual é um empreendimento coletivo, “contribuições significativas foram feitas
por um bom número de indivíduos.” (BURKE, 1997, p.15) isso era idealizado por
Febvre desde 1936.
• A conclusão desse livro traz um balanço de como esse movimento foi acolhido em
diferentes partes do mundo e por diferentes disciplinas para “compreender o movimento
como um todo.” (BURKE, 1997, p.15)
• Burke manteve conversas com os membros dos Annales durante a produção desse
estudo, o ajudou em sua conclusão.

1. O antigo regime na historiografia e seus críticos.

• “Lucien Febvre e Marc Bloch foram líderes do que pode ser denominado Revolução
Francesa da Historiografia.” (BURKE, 1997, p.17) Mas para ser percebido esse
rompimento temos que estudar a história da historiografia numa longa duração.
• Desde os tempos de Heródoto e Tucídides a forma predominante na historiografia é a
narrativa dos grandes acontecimentos políticos e militares com foco nos grandes
homens. Somente no iluminismo vemos, “pela primeira vez, uma contestação a esse
tipo de narrativa.” (BURKE, 1997, p.17)
• No século XVIII outros países da Europa começaram a se preocupar com a “história da
sociedade” (levando em consideração comércio, a moral e os “costumes”). “Alguns
deles dedicaram-se a reconstrução de comportamentos e valores do passado... como
“cavalaria”, outros à história da arte, da literatura e da música.” (BURKE, 1997, p.18)
eles integraram esses acontecimentos socioculturais aos acontecimentos políticos.
• Com a “Revolução Copernica”, ligada a Leopold von Ranke, a história sociocultural foi
re-marginalizada. “ Ranke não se limitava à história política (...) [mas] sua ênfase nas
fontes de arquivo fez com que os historiadores que trabalhavam a história sociocultural
parecessem meros dilettanti.” (BURKE, 1997, p.18)
• Os sucessores de Ranke foram mais intolerantes, eles excluíram a história não-política.
Queriam ser mais profissionais, fundaram revistas que se concentravam nos eventos
políticos, nessa época foram criados compêndios que explicavam os métodos que os
historiadores profissionais deviam usar.
• Mesmo no século XIX alguns historiadores “tinham uma visão mais ampla da história
do que os seguidores de Ranke.” (BURKE, 1997, p.18) dois exemplos desses
historiadores são Michelet e Burckhardt. Burckhardt levava em conta três forças, o
Estado, a Religião e a Cultura. “Michelet defendia o que hoje poderíamos descrever
como uma “história da perspectiva das classes subalternas”. (BURKE, 1997, p.19)
• São citados outros nomes, como Fustel de Coulanges e Marx que “ofereciam um
paradigma histórico alternativo ao de Ranke.” (BURKE, 1997, p.19)
• Os historiadores econômicos foram, talvez, os opositores mais bem organizados da
história política.” (BURKE, 1997, p.19) o domínio da história política foi contestado
frequentemente no final do século XIX.
• “Os fundadores da nova disciplina, a sociologia, expressavam pontos de vista
semelhantes.” (BURKE, 1997, p.19) defendiam uma história sem nomes. “Por volta de
1900, as críticas à história política eram particularmente agudas.” (BURKE, 1997, p.20)
Karl Lamprecht “posteriormente, definiu a história primordialmente como uma ciência
sociopsicológica.” (BURKE, 1997, p.20)
• Nos Estados Unidos Frederick Jackson Turner produziu uma “ruptura com a história
dos acontecimentos políticos,” (BURKE, 1997, p.20) e “um movimento foi lançado por
James Harvey Robinson sob a bandeira da “Nova História” (...) [que seria] qualquer
traço ou vestígio das coisas que o homem fez ou pensou, desde o seu surgimento na
terra.” (BURKE, 1997, p.20)
• O establishment da época não deve ser visto de maneira estreita, ao mesmo tempo que
historiadores, como Gabriel Monod, eram entusiasmados com a história científica
alemã, também admiravam Michetet e ele era admirado por seus alunos, sendo um deles
o próprio Lucien Febvre.
• Outro exemplo citado dos historiadores importantes nessa época é Ernest Lavisse, seu
principal interesse era história política, mas vemos em seus livros uma abrangente
concepção da história subjacente. Em um de seus livros a introdução foi escrita por um
geógrafo, em outro por um historiador da cultura, em outro volume o próprio Lavisse
dedica grande parte a história das artes.
• Apesar disso, os cientistas sociais, enxergavam os historiadores com interesses
unicamente políticos e por isso François Simiand , economista, foi mais longe e disse
que existiam três ídolos da tribo dos historiadores que precisavam ser derrubados. Eles
eram “o ídolo político” (fatos políticos e guerras), “o ídolo individual” (os grandes
homens) e “o ídolo cronológico” (busca das origens).
• “Seignobos se transformou no símbolo de tudo aquilo a que os reformadores se
opunham... [apesar de não ser] exclusivamente um historiador político.” (BURKE,
1997, p.21-22)
• A crítica a essa velha história aparece na Revista de síntese histórica, fundada por Henri
Berr, com um artigo de Simiand, que tinha a intenção de “encorajar historiadores a
colaborar com outras disciplinas.” (BURKE, 1997, p.22)
• “O ideal de Berr, uma psicologia histórica construída de uma cooperação
interdisciplinar, teve grande ressonância em dois jovens que escreveram para a revista.
Seus nomes: Lucien Febvre e Marc Bloch.” (BURKE, 1997, p.22)

2. Os fundadores: Lucien Febvre e Marc Bloch

• “Embora fossem muito parecidos na maneira de abordar os problemas da história,


deferiam bastante em seu comportamento.” (BURKE, 1997, p.23) Febvre era oito anos
mais velho, expansivo e combativo, enquanto Bloch era sereno, irônico e lacônico.
“apesar, ou por causa dessas diferenças, trabalharam juntos durante vinte anos entre as
duas guerras.” (BURKE, 1997, p.23)
• Lucien Febvre começou sua vida acadêmica na Escola Normal Superior, que era
altamente qualificada intelectualmente. Nessa escola os alunos eram internos e a
disciplina rígida. Os professores eram altamente competentes e o ensino era através de
aulas expositivas e seminários.
• Febvre teve influencias diversas como: Paul Vidal de la Blache, geógrafo interessado
em colaborar com historiadores e sociólogos; Lucien Lévy-Bruhl, filósofo criador do
conceito de “mentalidade primitiva”; Emile Mâle, historiador que se concentrou na
história das imagens (iconografia); Antoine Meillet, linguista, aluno de Durkheim,
interessado nos aspectos sociais da língua.
• Outras influencias que “Febvre reconheceu também seu débito...” são os historiadores
Michelet, Burckhardt, Louis Courajod e surpreendentemente “a do político de esquerda
Jean Jaurès.” (BURKE, 1997, p.24) Essa última influencia é constatada na tese de
doutorado de Febvre, nessa tese vê-se uma semelhança com Marx, Febvre, “porém,
difere profundamente de Marx ao descrever a luta entre os dois grupos “como um
conflito de idéias e sentimentos quanto um conflito econômico.” (BURKE, 1997, p.25)
Esse tipo de interpretação era muito parecida com a de Jaurès que se dizia “ao mesmo
tempo, materialista como Marx e místico como Michelet” . (BURKE, 1997, p.25)
• Outra característica marcante no estudo de Febvre era a geografia. Seu interesse pela
geografia histórica o fez publicar, sob o incentivo de Berr, “um estudo geral sobre o
assunto” (BURKE, 1997, p.25) que foi interrompido e depois finalizado, com ajuda de
um colaborador, quando termina a guerra.
• “Esse estudo, que aborreceu alguns geógrafos profissionais por ser o trabalho de um
não-especialista, era o desenvolvimento das idéias do antigo professor de Febvre, Vidal
de la Blache.” (BURKE, 1997, p.25)
• De maneira diferente o geógrafo Ratzel também “incentivou” Fevbre, ele defendia que
o meio físico tinha maior influência sobre o destino humano. Isso irritava Febvre. “
Febvre apoiou firmemente Vidal e atacou Ratzel.” Ele afirmava que “um rio pode ser
tratado por uma sociedade como uma barreira, mas por outra, como um meio de
transporte.” (BURKE, 1997, p.26).
• Marc Bloch também frequentou a Escola normal, onde seu pai foi professor, sua maior
influência foi do sociólogo Émile Durkheim. E “aprendeu a levar a história com
seriedade através de seus estudos com Fustel de Coulanges (...) Em sua maturidade
Bloch reconhece sua profunda dívida com a revista de Durkheim.” (BURKE, 1997,
p.26)
• Bloch se especializa na história medieval e assim “como Febvre, interessava-se pela
geografia histórica (...) Bloch pensava no tema sob a perspectiva de uma história-
problema.” (BURKE, 1997, p.26) Ele pôs em questão a própria noção de região dizendo
que “dependia do problema que se tinha em mente.” (BURKE, 1997, p.26)
• “O compromisso de Bloch com a geografia era menor do que o de Febvre, embora seu
compromisso com a sociologia fosse maior.” (BURKE, 1997, p.27) mas os dois tinha a
interdisciplinaridade em comum, e puderam desenvolver essa maneira de fazer história
quando se encontraram na Universidade de Estrasburgo.
• O período de encontros diários de Bloch e Febvre durou treze anos e foi fundamental
para o movimento dos annales, pois “estavam cercados por um grupo interdisciplinar
extremamente atuante.” (BURKE, 1997, p.27)
• A cidade de Estrasburgo “vinha de ser recentemente desanexada da Alemanha, criando
um ambiente favorável à inovação intelectual e facilitando o intercâmbio de idéias
através das fronteiras disciplinares.” (BURKE, 1997, p.27)
• Encontraram-se em 1920 e rapidamente viraram amigos. Tiveram discursões
infindáveis das quais participaram vários colegas, como, Charles Blondel, Maurice
Halbwachs, Henri Bremond, Georges Lefebvre, Gabriel Le Bras e André Piganiol.
• “Le Rois Thaumaturges merece ser considerada uma das grandes obras históricas do
nosso século” (BURKE, 1997, p.28) Essa obra de Bloch fala sobre a crença que existia
de que os reis tinham o poder de curar os doentes de escrófula.
• Apesar conter a história dos grandes personagens, no caso os reis, esse ensaio “lança
luz sobre importantes problemas. (...) O milagre real foi acima de tudo a expressão de
uma concepção particular do poder político supremo” (BURKE, 1997, p.28-29)
• Em primeiro lugar a obra “não se limitava a um período histórico convencional, (...)
Bloch escolheu o período para localizar o problema, (...) “a história de longa-duração”
(...) tal perspectiva conduziu Bloch a conclusões interessantes; (...) o ritual do toque não
apenas sobreviveu no século XVII, (...), mas ele floresceu como jamais, (...) Luiz XIV
tocou um número maior de doentes do que seus predecessores.” (BURKE, 1997, p.29)
• Em segundo lugar teve grande contribuição para o que Bloch chamava de “psicologia
religiosa” com núcleo na história dos milagres. Como poderia existir essa “ilusão
coletiva”? “alguns doentes retornavam para serem tocados uma segunda vez, o que
sugere que sabiam ter o tratamento fracassado, mas que o fato não destruíra sua fé.”
(BURKE, 1997, p.29)
• Esse era um tema que precisava de psicólogos, sociólogos ou antropólogos e por isso
Bloch discutiu seu livro com seus colega de Estrasburgo além disso ele “conhecia
também o trabalho de James Frazer, e o que o Golden Bough tinha a dizer sobre a
monarquia sagrada, da mesma maneira que sabia o que Lévy-Bruhl dissera sobre a
“mentalidade primitiva.”” (BURKE, 1997, p.29) esse livro foi pioneiro no que hoje
chamamos de “história das mentalidades”.
• Bloch usou no seu livro muitas vezes a expressão “representações coletivas”, essa frase
é muito associada a Durkheim.
• “Embora tenha sido cuidadoso ao registrar as dúvidas sobre o toque real expressas
durante o longo período coberto por seu livro, ainda assim Bloch cria uma impressão de
consenso muito forte.” (BURKE, 1997, p.30)
• Em terceiro lugar enfatiza a importância da “História comparativa”. Comparações são
feitas entre cidades diferentes para constatar as diferenças.
• Bloch já utilizava o que mais tarde iria pregar num artigo chamado “Por uma história
comparativa das sociedades européias”.para ver as diferenças e as similaridades de
sociedades vizinhas tanto no tempo quanto no espaço.
• Febvre, depois de completar seu projeto de geografia histórica, mudou seu rumo de
interesse para o estudo das atividades coletivas. “Concentrou o melhor de seu trabalho
de pesquisa na história do Renascimento e da Reforma, especialmente na França.”
(BURKE, 1997, p.31)
• Essa fase começou com quatro conferências sobre os primórdios do Renascimento
francês, uma biografia de Lutero e um artigo sobre as origens da Reforma francesa.
• As conferências “rejeitavam as explicações tradicionais defendidas pelos historiadores
da arte e literatura (...), que realçavam evolução interna do movimento.” (BURKE,
1997, p.31) Febvre explicava essa “revolução” através da “demanda” de novas idéias.
• O Artigo sobre a Reforma “critica os historiadores religiosos por tratarem o episódio
como essencialmente vinculado aos “abusos” institucionais (...) mais do que uma
profunda revolução do sentimento religioso” (BURKE, 1997, p.31) A burguesia
precisava de uma religião transparente, racional e humana.
• Na biografia de Lutero “o autor previne que não se trata de uma biografia, mas da
tentativa de resolver um problema, a saber; “o problema da relação entre o indivíduo e
o grupo, entre a iniciativa pessoal e a necessidade social.”” (BURKE, 1997, p.32) ele
afirma também que “a burguesia (...) facilmente se ressentia da intermediação clerical
entre Deus e o homem. Mas ao mesmo tempo recusou-se a reduzir as idéias de Lutero
a um reflexo dos interesses da burguesia.”
• Certos temas são recorrentes nas obras de Febvre e há uma tensão criativa entre os
indivíduos e dos grupos sociais.
• Febvre idealizou uma revista internacional dedicada à história econômica após o final
da Primeira Guerra, porém esse projeto enfrentou dificuldades e só foi retomado po
Febvre e Bloch anos depois por iniciativa de Bloch de ressuscitar o projeto.
• Originalmente chamada Annales d’histoire économique et sociale, (...) a revista foi
planejada (...) para ser algo mais do que uma outra revista de história. (...) seria o (...)
alto-falante de difusão dos apelos dos editores em favor de uma abordagem nova e
interdisciplinar da história.” (BURKE, 1997, p.33)

• “o comitê editorial incluía não somente historiadores, antigos e modernos, mas também
um geógrafo (Albert Demangeon), um sociólogo (Maurice Halbwachs), um economista
(Charles Rist), um cientista político (André Siegried, um antigo discípulo de Vidal de
la Blache).” (BURKE, 1997, p.33)
• “Os historiadores econômicos predominaram nos primeiros números (...) Nessa ocasião,
a revista tinha a feição de um equivalente francês, ou de um rival. Da Economic History
Review inglesa. (...) em 1930, declara-se a intenção de a revista estabelecer-se “sobre o
terreno mal amanhado da história social”. Preocupa-se também com o problema do
método no campo das ciências sociais, tal como a Revue de Synthèse Historique.”
(BURKE, 1997, P.33)

• “A carreira de Bloch foi mais curta, violentamente cortada pela guerra. (...) Por ser
Bloch, frequentemente, identificado como um historiador econômico, vale a pena dar
atenção ao seu interesse pela psicologia, bastante óbvio não só no Les Rois
Thaumaturges, mas também significativo em sua conferência sobre a mudança
tecnológica, pronunciada para um grupo de psicólogos profissionais e onde pregava a
colaboração entre as duas disciplinas.” (BURKE, 1997, p.34)

• “O melhor de seus esforços, porém, foi despendido na elaboração de seus dois grandes
livros. (...) Em primeiro lugar, seu estudo sobre a história rural francesa. (...) revela de
maneira clara a competência do autor para produzir sínteses e para ir direto ao coração
de um problema. (...) utilizando comparações esclarecedoras e contrastes entre a França
e a Inglaterra. (...) o fato de que a existência de diferentes sistemas agrários não poderia
ser explicada apenas através do meio físico.” (BURKE, 1997, p.34-35) este estudo é o
mais famoso de Bloch por usar o método regressivo de maneira eficiente e sistemática,
contudo, esse método já havia sido utilizado antes.
• “O segundo estudo, La societé féudale, é o livro pelo qual Bloch é mais conhecido. É
uma ambiciosa síntese que abrange mais de quatro séculos de história europeia. (...) não
se restringe a análise das relações entre propriedade e o estado. Preocupa-se com a
sociedade feudal como um todo, (...) “modos de sentir e de pensar”. (...) É a parte mais
original do livro, (...), a medieval “indiferença pelo tempo”, sua falta de interesse me
mensurá-lo acuradamente.” (BURKE, 1997, p.36) Esse é considerado seu livro mais
influenciado por Durkheim. Ele afirma que o feudalismo era uma etapa da evolução
social humana e faz comparação com outros lugares, essa sua característica de comparar
sociedades lhe confere um caráter sociológico marcante.
• “Nos anos 30 o grupo de Estrasburgo dispersou-se. [Frebvre e Bloch foram para Paris]
essas transferências são sinais evidentes do sucesso do movimento dos Annales.”
(BURKE, 1997, p.37) com o passar do tempo esse movimento se transformou no centro
de uma escola histórica com discípulos que difundiam esses pensamentos por várias
escolas e universidades.
• “A segunda Guerra Mundial freou esse desenvolvimento, (...) Bloch [alistou-se] no
exército. (...) Foi fuzilado em 1944. (...) Bloch encontrou tempo para escrever dois
pequenos livros durante a guerra” (BURKE, 1997, p.38) Esses dois livros, A estranha
derrota e Apologia da História ou ofício do historiador, são marcantes e importantes até
os dias atuais, e impressiona a capacidade de Marc Bloch de escreve em situação tão
adversa.
• “Enquanto isso, Febvre continuava a editar a revista, primeiramente com o nome de
ambos, mais tarde apenas sob o seu. Muito velho para lutar, passou a maior parte da
guerra em sua casa de campo escrevendo artigos e livros sobre a Renascença Francesa
e a Reforma. Diversos desses estudos são sobre indivíduos, (...) não são, porém,
biografias estritamente falando. (...) Febvre elaborava seus estudos tendo por centro
problemas.” (BURKE, 1997, p.39)
• “Juntamente com o livro de Bloch, Les Rois Thaumaturges, e o artigo de Lefebvre sobre
as multidões, inspirou a história das mentalidades coletivas, (...) nos anos 60, (...)”
(BURKE, 1997, p.39) Febvre também desenvolve um estudo para contrapor a uma
afirmação de Lefranc de que Rabelais seria ateu, Febvre, através desse estudo, busca
provar que esse termo foi usado de forma anacrônica e que no período em que Rabelais
viveu tinha um significado diferente do presente. Ele aprofunda esse seu estudo (Le
problème de l’incroyance) afirmando a impossibilidade de se ser ateu no século XVI.
Ele argumenta que faltavam termos chaves e “instrumental intelectual” para possibilitar
a descrença, o que chamamos de ciência hoje era totalmente impensável nesse período.
Mais tarde esses pensamentos de Febvre seriam considerados datados, porém ainda
relevantes pelo exemplar emprego do método e questões postas.
• “Mas a mais importante conquista de Febvre, no pós-guerra, foi criar a organização
dentro da qual “sua” história poderia desenvolver-se, a VI Seção da École Pratique des
Hautes Études, (...) dedicada às ciências sociais, (...). Nomeou discípulos e amigos para
as posições-chave da organização. Braudel, (...), auxiliou-o a administrar o Centro de
Pesquisas Históricas e os Annales. (...) Os Annales começaram como uma revista de
seita herética. (...) Depois da guerra, contudo, a revista transformou-se no órgão oficial
de uma igreja ortodoxa. (...) O herdeiro desse poder seria Fernand Braudel.” (BURKE,
1997, p.43)

3. A Era do Braudel

• Em sua vida acadêmica, Braudel foi professor de história na Argélia, que era colônia
francesa, onde teve início a sua pesquisa, que foi interrompida quando veio ser professor
na universidade de São Paulo. “Com o advento da Segunda Guerra Mundial, Braudel
teve, por mais irônico que possa parecer, a oportunidade de escrever sua tese.”
(BURKE, 1997, p.46) ele ficou preso em um campo de concentração e não tinha acesso
a biblioteca.
• “O mediterrâneo é um livro de grandes dimensões, (...) perfaz seis vezes o tamanho de
um livro comum.” (BURKE, 1997, p.46) ele é dividido em três parte, cada um com uma
abordagem, muitos alegam tradicionalismo por parte de Braudel por ele ter falado dos
grandes acontecimentos e pessoas, mas ele fala que a presença dos acontecimentos são
“perturbações superficiais, espumas de ondas que a maré da história carrega em suas
fortes espáduas” (Ibid., p.21). “devemos aprender a desconfiar deles”. Para
compreender a história é necessário saber mergulhar sob as ondas.” (BURKE, 1997,
p.48)
• “A verdadeira matéria do estudo é essa história “do homem em relação ao seu meio”,
uma espécie de geografia histórica, ou como Braudel preferia denominar uma “geo-
história”. A geo-história é o objetivo da primeira parte do Mediterrâneo, para a qual
devota quase trezentas páginas, descrevendo montanhas e planícies, litorais e ilhas,
climas, rotas terrestres e marítimas.” (BURKE, 1997, p. 49) algumas críticas aparecem
posteriormente em relação ao O Mediterrâneo, algumas afirmações, como a declínio da
burguesia, são contestadas porque em alguns países os burgueses ainda representarem
a parte prospera da população; a falta da abordagem do mentalidades coletivas mesmo
com a intenção de Braudel de fazer uma história total; o determinismo empregado,
apesar de não ser simplista, como se o homem não pudesse controlar sua vida, entre
várias outras críticas.
• Apesar das críticas é importante entender que “O Mediterrâneo torna seus leitores
conscientes da importância do espaço na história.” (BURKE, 1997, p.54) “A longa
duração de Braudel pode ser curta em relação aos padrões geográficos, mas sua ênfase
do “tempo geográfico” alertou muitos historiadores. (...) permanece uma conquista
pessoal de Braudel combinar um estudo na longa duração com o de uma complexa
interação entre o meio, a economia, a sociedade, a política, a cultura e os
acontecimentos.” (BURKE, 1997, p.55) Essa obra aumentou as possibilidades desse
gênero.
• “Durante quase trinta anos, da morte de Febvre em 1956 até sua própria em 1985,
Braudel foi não apenas o mais importante historiador francês, mas também o mais
poderoso.” (BURKE, 1997, p.56) Braudel teve grande controle na administração dos
Annales e mesmo depois de sua aposentadoria ainda exercia influência no meio
acadêmico e em várias gerações de estudantes pesquisadores, inclusive a figura mais
destacada da terceira geração, Emmanuel Le Roy Ladurie, quem ele orientou a tese.
• Depois de O Mediterrâneo o projeto de Braudel foi Civilisation et Capitalisme sendo
composto de dois volumes cada um dividido em três partes. “Em ambos os casos, a
primeira parte trata a história quase imóvel, a segunda, das mudanças estruturais
institucionais lentas e a terceira, de mudanças mais rápidas - Eventos no primeiro livro,
tendências no outro.” (BURKE, 1997, p.59)
• “Enquanto seus discípulos estudavam as tendências populacionais ao nível das
províncias, ou, às vezes, de vilas, Braudel, caracteristicamente, tentava apreender o
todo.” (BURKE, 1997, p.59) outra característica dele é que “Braudel jamais se
demonstrou grande interesse pela história das mentalidades, e pressupunha-se que
pensamento e crença eram atribuição de seu parceiro. Mas, por outro lado, tinha muito
o que dizer a respeito de outras formas de hábito.” (BURKE, 1997, p.61)
• Em sua obra Les jeux de l’échange “Braudel mantém um fino equilíbrio entre o abstrato
e o concreto, o geral e o particular. Interrompe, aqui e ali, seu panorama para focalizar
um estudo de caso, incluindo uma “fabrica” agrícola, como ele a denomina, no século
XVIII veneziano, ou também a Bolsa de Amsterdam, essa “confusão das confusões”
como a descreviam seus participantes no século XVII, já ocupada por especuladores.
Braudel sempre teve um bom olho para os detalhes vivos.” (BURKE, 1997, p.62)
• As obras de Braudel deixaram uma herança importante para história e colocou seu nome
no lugar dos pesos pesados na história. “Num certo sentido, ele resistia aos métodos
quantitativos da mesma maneira que resistia à maioria das formas de história cultural,
(...). Ele foi assim, de alguma maneira, alheio a dois grandes movimentos no interior da
história dos Annales de seu tempo.” (BURKE, 1997, p.66)
• Apesar de Braudel ter sido o principal historiador da segunda geração dos Annales ““Os
destinos coletivos e as tendências gerais” do movimento merecem também ser
examinados” (BURKE, 1997, p.66) alguns desses movimentos foi da história
quantitativa. Labrousse publicou um importante estudo que utilizava essa história
quantitativa, Esquisse du mouvement des prix et des revenus em France au XVIII siècle.
“Em razão de sua influência sobre os históriadores mais jovens, (...) pode-se dizer que
ocupou um lugar central nos Annales.” (BURKE, 1997, p.67) em contradição a essa
posição central ele também foi marginalizado por ter como foco o evento da Revolução
Francesa, além de ser marxista “Nem Febvre nem Bloch tinham grande interesse nas
idéias de Marx.” (BURKE, 1997, p.68) foi através dele (Labrousse) que o marxismo
começou a penetrar nos Annales.
• Graças as influências de Labrousse a revista dos Annales ampliou seu tamanho para
acomodar graficos e tabelas, vê-se também sua influência no Mediterrannée, seus
interesses iam além da história quantitativa, ele afirmava que “não pode haver estudo
da sociedade sem estudo das mentalidades” (BURKE, 1997, p.69)
• Nessa linha histórica não podemos deixar de citar a tese história de Chaunu, Servilha e
o Atlântico, “Este estudo (...), foi, ao mesmo tempo, uma aplicação ao comércio
transatlântico de um método e de um modelo desenvolvidos por Labrousse (...) e um
desafio a Braudel, por estudar um oceano (...) conferindo ao seu tema uma verdadeira
visão global. (...) Chaunu perde apenas para Braudel em sua consciência da importância
do espaço e da comunicação na história.” (BURKE, 1997, p.70)
• Outro movimento presente na escola dos Annales é a história demográfica, que trouxe
a consciência da explosão populacional no mundo. Jean Meuvret desenvolveu um artigo
sobre a crise de subsistência, “Meuvret foi um historiador de muito maior importância
para o movimento dos Annales, (...) do que faz supor sua pequena produção histórica.
Seu monumento é o trabalho realizado por seus discípulos.” (BURKE, 1997, p.71) A
história demográfica uniu-se a social criando um grande número de monografias com
essas duas características: “Demografia e Sociedades”.
• A história regional e serial também teve sua importância, um representante dessa
corrente historiográfica foi Goubert em Beauvais er le Beauvais. “A justaposição feita
por Goubert entre movimentos de preços e população mostra as consequências humanas
de uma modificação econômica.” (BURKE, 1997, p.71) segundo Burke, o que mais é
interessante nesse estudo é o estudo das diferenças sociais e hierarquias na sociedade
rural e na sociedade urbana, “corretivo para qualquer visão simplista da sociedade do
antigo regime” (BURKE, 1997, p.72) “Em síntese, os estudos regionais combinam as
estruturas braudelianas, a conjuntura de Labrousse e a nova demografia histórica. (...)
[esses estudos] Quase sempre são divididos em duas partes, estruturas e conjunturas, e
se fundamentam em fontes que possibilitam dados bastantes homogêneos, do tipo que
permite serem arrolados em séries de longa duração, tais como tendências dos preços e
taxas de mortalidades.” (BURKE, 1997, p.73)
• “(...) seria enganador apresentar a escola ou o círculo dos Annales como completamente
refratária a outros movimentos.” (BURKE, 1997, p. 73) Um historiador que não
pertencia aos Annales foi Mousnier, “Mesmo assim seus interesses se sobrepunham
num grau considerável. Nenhum historiador francês desde Bloch tomara a abordagem
comparativa na história tão seriamente.” (BURKE, 1997, p. 74) Ele e seus discípulos
davam mais importância a política do que à economia.
• Emmanuel Le Roy Ladurie foi uma exceção na ênfase a estruturas socioeconômicas e à
conjuntura. “(...) é o mais brilhante dos discípulos de Braudel, a ele se assemelhando
em muitos aspectos - no poder imaginativo, na ampla curiosidade, na abordagem
multidisciplinar, na preocupação com a longa duração e numa certa ambivalência em
relação ao marxismo.” (BURKE, 1997, p.75) ele preferiu dividir seu livro em três
períodos e adotou a organização cronológica, e fundamentou-se nas revoltas para ter
uma visão das classes mais baixas. Seu trabalho também recebeu várias críticas, mas,
mas é preciso reconhecer sua “meticulosa história quantitativa e econômica com uma
história política, religiosa e psicológica, brilhante impressionista. (...) foi o primeiro a
nota as insuficiências do paradigma braudeliano e a trabalhar para modificá-lo.”
(BURKE, 1997, p.78)
4. A Terceira Geração

• “Mais significativa, contudo, do que as tarefas administrativas foram as mudanças


intelectuais ocorridas nos últimos vinte anos. O problema está em que é mais difícil
traçar o perfil da terceira geração do que das duas anteriores. Ninguém neste período
dominou o grupo como o fizeram Febvre e Braudel. Alguns comentadores chegaram
mesmo a falar numa fragmentação (Dosse, 1987).” (BURKE, 1997, p.79) Essa geração
foi a primeira a incorporar as mulheres, as gerações anteriores já haviam sido criticadas
por isso, outra característica é a abertura a ideias vindas de outros países que passam
também a protagonizar inovações no campo histórico, descentralizando a inovação.
Burke divide esse capítulo sobre a terceira geração focalizando em três temas principais,
com isso ele deixa de lado a história da mulher, desenvolvido po Farge, Klapish, Perrot,
assim como outros trabalhos desse período.

Do Porão ao Sotão

• Nessa geração “O itinerário intelectual de alguns historiadores dos Annales transferiu-


se da base econômica para a “superestrutura” cultural, “do porão ao sótão”” (BURKE,
1997, p.81)
• Um exemplo é o historiador Philippe Ariès, “Seus interesses direcionaram-se para a
relação entre natureza e cultura, para as formas pelas quais uma cultura vê e classifica
fenômenos naturais tais como a infância e a morte.” (BURKE, 1997, p.81) Ele estudou
as crianças na idade média e afirmou que elas eram vistas como animais até mais ou
menos os 7 anos. Esse seu estudo recebeu diversas críticas. Mais tarde ele se dedicou
ao estudo da morte e mostrava como ela era um tabu, outra figura desse campo é Jean-
Louis Flandrin. “Os estudos nessa área muito contribuíram para estabelecer uma ponte
entre a história das mentalidades baseada em fontes literárias (por exemplo, o Rabelais
de Febvre) e a história social, que negligenciava o estudo de valores e atitudes.”
(BURKE, 1997, p.83)
• Dupront, que despertou uma atenção para atitudes inconscientes, era da geração de
Braudel e influenciou muito essa nova geração. Seu interesse pelo sagrado inspirou
vários estudos, ele trabalhou “(...)toda sua carreira, no sentido de relacionar a história
da religião com a psicologia, sociologia e com a antropologia.” (BURKE, 1997, p.84)
• Robert Mandrou, discípulo de Febvre, foi uma grande figura na psicologia histórica.
Queria continuar a herança de Febvre, o que ele chamava de estilo original, mas Braudel
queria inovação o que levou a seu rompimento com os Annales.
• Mandrou continuou suas publicações e atraiu outros historiadores com seu interesse
pelo psicológico, um desses historiadores foi Jean Delumeau que em uma de suas
pesquisas estudou a história do medo e da culpa no Ocidente. “Delumeau utilizou,
ocasionalmente, as idéias de psicanalistas (...)” (BURKE, 1997, p.85) outro historiador
que também usou a Psico-história foram Le Roy, Alain Besançon, entre outros, eles
tomaram suas ideias principalmente de Freud.
• Jacques Le Goff e Georges Duby são também destaques dessa geração, eles estudaram
as ideologias e imaginário social. No caso de Le Goff “Sua contribuição mais
substancial, (...), para a história das mentalidades, ou à história do “imaginário
medieval”, como agora denomina, foi realizada vinte anos depois com a publicação do
La naissance du Purgatoire, uma história das mudanças das representações da vida
depois da morte.” (BURKE, 1997, p.86)
• Já Duby “Na década de 60, como seus interesses moveram-se gradualmente em direção
à história das mentalidades, colaborou com Mandrou em sua história cultural da França.
(...) Inspirado em parte na teoria social neomarxista, preocupou-se com a história das
ideologias, da reprodução cultural e do imaginário social, que procura combinar com a
história das mentalidades.” (BURKE, 1997, p.86-87) “A concepção e ideologia de Duby
não está longe da de Louis Althusser, que a definiu, um dia, como “a relação imaginária
dos indivíduos com as condições reais de sua existência”.

O Terceiro Nível Da História Serial

• Historiadores de fora dos Annales, como Le Bras influenciaram membros dos Annales,
um deles é Vovelle, que se preocupou com a descristianização e queria mensurar as
mudanças no pensamento e no sentimento desse processo. Ele mostrou isso em altas e
baixas classes sociais, em cidades diferentes, e apoiou seu estudo em mapas, gráficos e
tabelas.
• Outros dois importantes historiadores dessa geração que estudaram a mudança dos
níveis de alfabetização na França foram: François Furet e Jacques Ozouf. “Os
pesquisadores utilizaram fontes mais variadas, do recenseamento às estatísticas do
exército sobre os conscritos, o que habilitava antes a afirmar do que presumir a
correlação entre a habilidade de assinar o próprio nome e a capacidade de ler e escrever.
(...) Entre as conclusões interessantes, notaram que, no século XVIII, a alfabetização
cresceu mais rapidamente entre as mulheres que entre os homens.” (BURKE, 1997,
p.91)
• Outro estudo que surgiu junto com o interesse pela alfabetização foi o que chamaram
de ‘a história do Livro’. Esse estudo se preocupava com “as tendências da sua produção
e com hábitos de leitura dos diferentes grupos sociais. O estudo de cultura popular de
Robert Mandrou, já mencionado anteriormente, por exemplo, lidava com a literatura de
cordel, a chamada biblioteca azul.” (BURKE, 1997, p.91-92) Ele concluiu que essa
literatura era mais barata e por isso era mais consumida por camponeses e revelava uma
mentalidade “conformista”. Henri-Jean Martin, que havia sido colaborador de Febvre,
desenvolveu um “estudo quantitativo sobre o comercio do livro e o público leitor do
século XVII francês, no qual analisava não somente as tendências da produção do livro,
mas também as mudanças no gosto dos diferentes grupos de leitores, (...) Martin dirigiu
um maciço trabalho coletivo sobre a história do livro na França.” (BURKE, 1997, p.92)
Daniel Roche também foi um historiador que organizou um estudo em grupo do povo
comum de Paris que tem um capítulo dedicado à literatura popular.

Reações: Antropologia, Política e Narrativa

• Nos anos 70 a abordagem quantitativa foi duramente criticada assim como o domínio
da história estrutural e social, defendida pelos Annales. Essas críticas tiveram algumas
consequências positivas como “uma mudança antropológica, um retorno à política e um
ressurgimento da narrativa.” (BURKE, 1997, p.93)
• A viragem antropológica “Tudo que os historiadores anteriores pareciam desejar de
sua disciplina vizinha era a oportunidade de sobrevoá-la, de tempos em tempos, em
busca de novos conceitos. Alguns historiadores da década de 70 e 80, contudo,
demonstraram intenções mais sérias. Podiam mesmo pensar em termos de casamento,
em outras palavras em termos de ‘antropologia histórica’ ou de ‘etno-história’
(Burguiére, 1978)” (BURKE, 1997, p.94) “As idéias de [Erving] Goffman, [Victor]
Turner, [Pierre] Bourdieu, [Michel] De Certeau e outros foram adotadas, adaptadas e
utilizadas para construir uma história mais antropológica.” (BURKE, 1997, p.95)
• Le Roy se destaca ao usar a antropologia numa série de estudos, como o seu Montaillou,
um dos primeiros exemplos do que viria a se chamar micro-história. “(...) foi um dos
primeiros a usar os registros da inquisição para a reconstrução da vida cotidiana e suas
atitudes, mas não estava sozinho.” (BURKE, 1997, p.96) Esse livro recebeu críticas por
não considerar que os registros inquisitórios foram feitos em situações de tortura e que
não era uma conversa espontânea, além do problema da generalização da aldeia com
base em alguns indivíduos.
• “A importância dos ensaios de Chartier está em que exemplificam e discutem uma
mudança na abordagem, como ele diz, ‘da história social da cultura para a história
cultural da sociedade’ essa mudança deve muito a influência de Foucault. (...) A
sociedade em si mesma é uma representação coletiva.” (BURKE, 1997, p.98) Chatier
trabalhou em conjunto com Martin e apesar de ser um especialista da história da
alfabetização seu trabalho vai na mesma direção da antropologia cultural.
“Distanciando-se dos chamados fatores “objetivos” Chartier está de acôrdo com a
antropologia corrente, com os trabalhos recentes sobre “o imaginário” (...) e também
com o falecido Michel Foucault.” (BURKE, 1997, p.98) Para Chartier “O popular está
na “maneira de usar os produtos culturais”, tais como festivais ou matéria impressa.”
(BURKE, 1997, p.99)
• O retorno a política Existem críticas em relação aos Annales por não abordar a política
em seus estudos. Isso não é totalmente verdade quando nos referimos a Bloch, que
produziu trabalhos como Les rois thaumaturges que abrangia a monarquia entre outros
trabalhos. Com raras exceções os Annales geralmente se limitava a história social e
econômica. Na terceira geração foi levantada a possibilidade de a história política ajudar
a montar a “história total”, muitos historiadores, como Le Goff e Durby, usaram a
política em seus trabalhos, não a espinha dorsal, mas como um elemento dele.
• Quem mais deu atenção a política nos Annales foram os historiadores da história
contemporânea. Maurice Agulhon é o que mais se destaca nesse domínio, seu paralelo
com Thompson é claro por também ser aberto aos marxistas ecléticos, “ambos levam a
cultura a sério.” (BURKE, 1997, p.102) “Resumindo. Febvre e Braudel podem não ter
ignorado a história política, mas não a tomaram muito a sério. O retorno a política na
terceira geração é uma reação contra Braudel e também contra outras formas de
determinismo(...).” (BURKE, 1997, p.103)
• O renascimento da narrativa. O interesse pela bibliografia histórica também aparece
como elemento dessa ruptura com o determinismo. “A volta da política está também
ligada ao ressurgimento do interesse na narrativa dos eventos. (...) De todo jeito,
discursões sobre história política, história dos eventos e narrativa histórica estão muito
interligadas.” (BURKE, 1997, p. 104)
• Vários historiadores dos Annales rejeitaram a narrativa e os eventos durante muitos
anos, nesse período da terceira geração a história teve grande destaque na França. “É
difícil pensar outro país, ou outro período, em que tantos historiadores profissionais
estivessem tão firmemente ancorados nos meios de comunicação.” (BURKE, 1997,
p.107) Burke sugere que esse contato com a mídia estimulou a publicação de livros
narrativos e mais delgados.

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