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Isidor Grunfeld
O QUE É
RESPEITAR O SHABAT?
Um guia para seu cumprimento e compreensão
O QUE É RESPEITAR O SHABAT?
Copyright © 2008 by Editora e Livraria Sêfer Ltda.
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Livraria virtual: www.sefer.com.br
agradecimentos
Rabino Yaacov Feldheim
Rabino Yehuda Levi
Nota: A transformação das medidas haláchicas em polegadas ou centímetros está baseada na opinião
do mundialmente renomado Rabino Moshe Feinstein Z”L, que determinou ser a amá (um cúbito)
equivalente a 21 ¼ polegadas ou 54 centímetros.
Nota: Nas palavras transliteradas, adotou-se o “ch” para o som de “rr”, como carro em português.
Prefácio do Autor 13
INTRODUÇÃO À 5ª EDIÇÃO
Logo após a publicação da terceira edição deste livro, o Daian Grunfeld Z”L
partiu para receber sua recompensa eterna e, certamente, é mais do que apropriado
que sejam aqui apresentadas algumas palavras sobre sua vida e seu trabalho.
O Daian (juiz rabínico) Isidor (Ishai) Grunfeld (1900-1975), que atuava
no tribunal do Rabinato-Chefe da Grã-Bretanha, era advogado, um líder
comunitário, educador e escritor prolífico, além de, acima de tudo, um ardente
seguidor do Rabino Samson Raphael Hirsch (1808-1888). Ele dedicou toda a
sua vida à interpretação das ideias e dos trabalhos de seu mestre, tornando-os
acessíveis à nossa geração.
Foi um advogado eloquente da aplicação dos pontos de vista Hirschianos aos
problemas correntes do século 20. Herdou do Rabino Hirsch a amplitude de visão
que o imortalizou. Ele tinha amplo conhecimento das correntes do pensamento
secular e considerava bem-vinda cada oportunidade que se lhe deparava para
demonstrar a relevância da Torá na solução dos problemas mais complexos da
humanidade.
Ele lutou conta a mentalidade estreita do shtiebel (pequenas casas de oração
características das cidadezinhas da Europa) que consideravam que a posse
e o interesse da Torá eram apanágio apenas de uma pequena porção do povo.
Entretanto, manteve-se sempre em bons termos com os participantes desses
círculos, conquistando sua admiração, afeto e respeito.
Este singelo livro, no qual tive o privilegio de colaborar, foi seu bicurim
(“primícias”) e a estreia em sua extensa atividade literária. Ele foi considerado
“a melhor exposição disponível em inglês sobre o Shabat”, sendo traduzido para
vários idiomas, inclusive para o hebraico sob o título de Mataná Guenuzá, que
agora é publicado também em português.
A particularidade deste livro sobre todos os outros que dissertam sobre o
Shabat é que ele destaca seu significado haláchico, demonstrando que a abstenção
de melachá (“atividade”) em qualquer de suas ramificações é o coração pulsante
e o núcleo de sua observância.
Esse é um aspecto do Shabat judaico classificado frequentemente pelos
ignorantes como “uma ênfase sem sentido sobre detalhes triviais”.
Com muita profundidade, o Rabino Hirsch apresentou um conceito majestoso
sobre issur melachá, a proibição de executar determinadas atividades. Ele a explica
como sendo a abstenção de toda atividade criativa por um dia em cada sete, o
que, por meio dessa atitude, presta um testemunho eloquente da necessidade
A. Carmel
Jerusalém
Kislev 5741/1981
IN MEMORIAM AO EDITOR
PREFÁCIO DO AUTOR
Este pequeno volume tem um propósito bastante prático: servir de guia para a
compreensão adequada da observância do Shabat como fundamento da nossa fé.
Embora não seja extenso, muito tempo, trabalho e reflexão foram despendidos
nele.
Inicialmente, gostaria de expressar minha profunda gratidão ao Rabino
Aryeh Carmell, que me ajudou durante a preparação e publicação deste livro,
contribuindo em várias seções dele.
Qualquer texto que apresente o Shabat como a instituição fundamental do
judaísmo deve, necessariamente, ser dividido em duas partes: uma agádica,
expondo as ideias fundamentais do Shabat, e outra haláchica, explicando as leis
de sua observância prática. Tentei mesclar as duas.
As bases para a primeira foram principalmente a agadá contida no Tratado de
Shabat, do Talmud Babilônico, na literatura midráshica e, entre as obras modernas,
nos escritos do Rabino Samson Raphael Hirsch, um dos mais destacados
pensadores judeus do século passado.
Na parte de halachá, além dos códigos e trabalhos mais conhecidos sobre Lei
Judaica, usei o livro Sabbath-Vorschriften, do Rabino E. Biberfeld, publicado na
Alemanha há cerca de 50 anos, o qual se tornou muito popular. Expresso meus
agradecimentos à sra. Fanny Kahn, que pôs à minha disposição a tradução desse
pequeno livro.
Devo esclarecer que as regras haláchicas seguem a prática ashkenazi.
Sou grato também ao Daian A. Rapoport e ao Rabino Dr. S. Mannes, por sua
assistência em relação a essa parte.
Agradecimentos são devidos também a Norman Solomons M.A., por suas
muitas sugestões.
Arrisco dizer que este livro aprofundará a compreensão sobre nosso
sagrado Shabat, servirá como uma introdução ao conhecimento de suas leis
e, eventualmente, conduzirá o leitor a estudar as fontes haláchicas e agádicas.
Acredito também que servirá de ajuda aos educadores judeus.
Finalmente, rogo ao Eterno que, com Sua ajuda, possa este livro oferecer
assistência àqueles que, infelizmente, perderam o Shabat, para que possam
reencontrar a paz e as bênçãos que provêm de sua observância.
Isidor Grunfeld
Londres
5714/1954
O QUE É RESPEITAR O SHABAT? 15
O ESPÍRITO
DO SHABAT
1. O significado do Shabat
a dignidade do trabalho
“Por seis dias trabalhareis e neles realizareis todas as vossas tarefas...”
A base para o Shabat é, portanto, o trabalho, dignificado por se constituir
numa ordem Divina. O trabalho não é uma degradação, mas, sim, um sagrado
direito de nascença de cada ser humano.
Quantos séculos, milênios talvez, foram necessários para que o mundo
percebesse essa verdade fundamental!
Foi realmente um longo caminho, desde as concepções gregas e romanas de
que o trabalho era algo degradante, resultando daí a absoluta falta de direitos
para os que o realizavam, até atingirmos o status atual do trabalhador.
Quantos distúrbios sociais, quanta miséria, quantas guerras e revoluções e
quanto derramamento de sangue poderiam ter sido evitados se o ideal bíblico da
dignidade do trabalho fosse, desde o início, a base da ordem social.
A tradição judaica nos relata que Adão se reconciliou com seu destino somente
quando lhe foi dito que deveria trabalhar.
O trabalho é realmente a prerrogativa do homem criativo que nasce gozando
de liberdade.
“Grandioso é o trabalho”, dizem os nossos sábios, “porque enobrece a quem
o faz.” (Tratado de Nedarim 49b)
Liberdade espiritual
Entretanto, o trabalho não é tudo. Ele pode tornar o homem um ser livre, mas
o próprio homem pode se tornar escravo de seu trabalho.
O Talmud relata que, quando Deus criou os céus e a terra, eles começaram
a se expandir de forma incessante, até que Ele lhes ordenou: “Basta!” (Tratado
de Chaguigá 12a)
A ação criativa do Eterno foi seguida pelo Shabat, quando, deliberadamente,
Ele cessou Sua atividade criativa. Isso, mais do que qualquer outra coisa, mostra-
nos Deus como o Criador e o Soberano do mundo, que o controla com total
liberdade e estabelece limites para a Criação que Ele materializou de acordo
unicamente com Sua vontade – um Criador com Seu próprio propósito.
Portanto, não foi a “atividade”, mas a “cessação de atividade”, o que Ele
escolheu como o sinal de Sua absoluta liberdade na Criação do mundo.
É pela cessação de atividade a cada Shabat, de acordo à forma prescrita pela
Torá, que o judeu presta testemunho do poder criativo do Eterno.
É assim, também, que cada judeu revela a verdadeira grandeza do ser humano.
As estrelas e os planetas, tendo iniciado seu eterno movimento pelo Universo,
continuam fazendo-o cegamente, conduzidos pela lei de causa e efeito. Já o
homem, por um ato de fé, pode impor um limite a seu labor, de modo que não
se degenere para uma labuta sem qualquer propósito.
Ao guardar o Shabat, o judeu se torna, como dizem os nossos sábios, domê
le-Iotsrô – “semelhante ao seu Criador”. Como o Eterno, ele é senhor de sua
obra, não seu escravo.
O homem é, de fato, superior a outras criaturas; entretanto, ele o é somente
se, conscientemente, coopera com o plano do Eterno para o Universo, fazendo
uso de sua liberdade para servir a Deus e a seus semelhantes. Então, ele se torna,
como dizem os nossos sábios, “sócio do Eterno, na obra da Criação” (Tratado
de Shabat 10a).
Ao mesmo tempo, porém, a própria liberdade do ser humano pode conduzi-
lo à sua queda. Seu domínio sobre a natureza, que o capacita a controlá-la
e dirigi-la, a domar sua energia, moldá-la e adaptá-la a seus desejos – esses
mesmos poderes podem, de uma maneira fatal, fazer com que ele se considere
um criador que não tem de prestar contas a ninguém mais elevado que ele.
Em nossa época, temos visto o que acontece ao mundo e à humanidade
quando essa ideia prevalece.
Eis, porém, que nesse ponto vem o Shabat para resgatar o ser humano.
Como veremos com mais detalhes mais adiante, talvez nisso esteja o aspecto
mais relevante da observância do Shabat.
Podemos nos aperceber e reconhecer na harmonia do Universo a verdade
básica de sua criação Divina. Entretanto, para a maioria dos seres humanos, o
que isso significa? Na verdade, muito pouco. Mas aqui, como sempre em relação
à Torá, não bastam meras teorias; é necessária a prática das ações, ou seja, a
“Fui Eu que te coloquei nesse mundo, que é Meu; para ti criei tudo isso.
Que tua mente atente para isso, para que não venhas corromper
e destruir Meu universo.”
Midrash Rabá, Eclesiastes 7:9
Eis aqui a pura essência do Shabat. O mesmo ato que proclama a liberdade do
homem declara também sua submissão ao Eterno. Usar todos os nossos poderes
a serviço de Deus – eis a maior de todas as demonstrações de liberdade.
2. O Shabat e a vida
Deuteronômio 5:14
Deuteronômio 5:14
aspirações espirituais
Vimos que o Shabat é a raiz de todo progresso espiritual e social e que está
conectado com os mais elevados pensamentos e aspirações do homem: Deus, a
dignidade da alma humana, a liberdade, a igualdade entre todos os homens e a
supremacia do espírito sobre a matéria.
Não nos admira, portanto, que os profetas de Israel considerassem o Shabat
como o símbolo do que é moralmente bom e nobre.
“Feliz é o homem que faz isto, e o filho do homem que a isto se apega:
guarda o Shabat e se abstém de profaná-lo –
e guarda sua mão de praticar qualquer mal.”
Isaías 56:2
A mesma ideia de identificar o Shabat com as mais altas aspirações na terra
é expressa por Neemias (9:13):
“Desceste sobre o monte Sinai e com eles falaste dos céus, concedendo-lhes
julgamentos corretos, leis verdadeiras, bons estatutos e mandamentos –
e deste-lhes a conhecer Teu sagrado Shabat.”
Nossos sábios, com seu dom de compor frases de efeito, deram expressão ao
fato de o Shabat conter a soma e a substância da vida judaica por meio de uma
frase: “Se o Eterno não nos tivesse trazido ao monte Sinai e nos tivesse dado
somente o Shabat, isso já teria sido o bastante” (Hagadá de Pêssach). Realmente,
isso teria sido suficiente porque o Shabat sintetiza a totalidade do judaísmo.
O Shabat no Egito
“Moisés cresceu e foi a seus irmãos e viu seu trabalho pesado.” (Êxodo
2:11) O Midrash relata que Moisés (que fora salvo do Nilo pela filha do Faraó
e educado em seu palácio) viu como seus irmãos trabalhavam sete dias por
semana, sem qualquer descanso.
Então ele trouxe ao Faraó o seguinte argumento: “A força de trabalho
judaica é muito importante e benéfica para o reino. Se continuares a fazê-
los trabalhar sem a possibilidade de um descanso, eles enfraquecerão e
morrerão.”
“O que então sugeres que eu faça?” – perguntou o Faraó.
“Conceda-lhes um dia por semana para que repousem de seu trabalho”
– replicou Moisés – “e assim eles recobrarão sua energia para outra semana
de trabalho produtivo.”
A ideia agradou ao Faraó, que mandou Moisés escolher o dia que
considerasse mais adequado para isso. E aconteceu que Moisés escolheu
o sétimo dia para o descanso. A partir de então, os oprimidos judeus se
juntariam a cada sétimo dia, e seus anciãos leriam para todos velhos
manuscritos herdados da casa de seu antepassado Jacob. Contar-lhes-iam
sobre o início do povo judeu e sobre as vidas e aspirações de seus grandes
ancestrais, Abrahão, Isaac e Jacob, e sobre a promessa que o Eterno havia
feito a Abrahão de que, um dia, haveria de redimir Seus filhos da escravidão.
Quando, algumas décadas mais tarde, o povo judeu deixou o Egito e foi
receber o mandamento de observar o Shabat, Moisés ficou deliciado por ver
que o dia que ele havia escolhido para descanso coincidia com o da escolha
Divina – o dia que o Eterno designara como o ponto focal da semana, quando
o povo judeu se conecta com o Senhor do Universo num convênio de fé.
(Baseado no Midrash Rabá, Êxodo 1:28; 5:18; Orach Chayim capítulo 281.)