Sei sulla pagina 1di 82

Curso de Graduação a Distância

Introdução
à Sagrada
Escritura
(02 créditos – 40 horas)

Autor:
José Edmilson Schinelo

Universidade Católica Dom Bosco Virtual


www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

Missão Salesiana de Mato Grosso


Universidade Católica Dom Bosco
Instituição Salesiana de Educação Superior

Chanceler: Pe. Gildásio Mendes dos Santos


Reitor: Pe. José Marinoni
Pró-Reitora de Ensino e Desenvolvimento: Conceição A. Galvez Butera
Diretor da UCDB Virtual: Prof. Jeferson Pistori
Coordenadora Pedagógica: Prof. Blanca Martín Salvago

Direitos desta edição reservados à Editora UCDB


Diretoria de Educação a Distância: (67) 3312-3335
www.virtual.ucdb.br
UCDB -Universidade Católica Dom Bosco
Av. Tamandaré, 6000 Jardim Seminário
Fone: (67) 3312-3800 Fax: (67) 3312-3302
CEP 79117-900 Campo Grande – MS

Schinelo, José Edmilson.


Disciplina: Introdução à Sagrada Escritura

José Edmilson Schinelo. Campo Grande: UCDB, 2014. 82 p.

Palavras-chave:
1. Revelação 2. Cânon 3. Inspiração 4. Geografia da Palestina

0215

2
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

APRESENTAÇÃO DO MATERIAL DIDÁTICO IMPRESSO

Este material foi elaborado pelo professor conteudista sob a orientação da equipe
multidisciplinar da UCDB Virtual, com o objetivo de lhe fornecer um subsídio didático que
norteie os conteúdos trabalhados nesta disciplina e que compõe o Projeto Pedagógico do
seu curso.

Elementos que integram o material


Critérios de avaliação: são as informações referentes aos critérios adotados para
a avaliação (formativa e somativa) e composição da média da disciplina.
Quadro de Controle de Atividades: trata-se de um quadro para você organizar a
realização e envio das atividades virtuais. Você pode fazer seu ritmo de estudo, sem ul-
trapassar o prazo máximo indicado pelo professor.
Conteúdo Desenvolvido: é o conteúdo da disciplina, com a explanação do pro-
fessor sobre os diferentes temas objeto de estudo.
Indicações de Leituras de Aprofundamento: são sugestões para que você
possa aprofundar no conteúdo. A maioria das leituras sugeridas são links da Internet para
facilitar seu acesso aos materiais.
Atividades Virtuais: atividades propostas que marcarão um ritmo no seu estudo.
As datas de envio encontram-se no calendário do Ambiente Virtual de Aprendizagem.

Como tirar o máximo de proveito


Este material didático é mais um subsídio para seus estudos. Consulte outros
conteúdos e interaja com os outros participantes. Portanto, não se esqueça de:
· Interagir com frequência com os colegas e com o professor, usando as ferramentas
de comunicação e informação do Ambiente Virtual de Aprendizagem – AVA;
· Usar, além do material em mãos, os outros recursos disponíveis no AVA: aulas
audiovisuais, vídeo-aulas, fórum de discussão, fórum permanente de cada unidade, etc.;
· Recorrer à equipe de tutoria sempre que precisar orientação sobre dúvidas quanto
a calendário, atividades, ferramentas do AVA, e outros;
· Ter uma rotina que lhe permita estabelecer o ritmo de estudo adequado a suas
necessidades como estudante, organize o seu tempo;
· Ter consciência de que você deve ser sujeito ativo no processo de sua aprendiza-
gem, contando com a ajuda e colaboração de todos.

3
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

Objetivo Geral
Propiciar noções gerais acerca dos temas introdutórios às Sagradas Escrituras
judaico-cristãs, incluindo os conceitos de inspiração e verdade bíblica, informações sobre
geografia e história da Palestina, o processo de surgimento e redação dos textos e as
orientações da Igreja para o correto estudo da Bíblia.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO – SUMÁRIO

UNIDADE 1 – BÍBLIA: “LÂMPADA PARA OS PÉS E LUZ PARA O CAMINHO” ........ 11


1.1 A Bíblia é “luz” para nosso caminhar ....................................................................... 11
1.2 A mesa da Palavra: Bíblia, Vida, Comunidade .......................................................... 15
1.3 Jesus nos deixou o critério principal: defesa e promoção da vida............................... 18
1.4 A centralidade da Bíblia na vida da Igreja................................................................ 19
1.5 Um livro que “tomamos emprestado” ...................................................................... 21
1.6 Ponto de partida e ponto de chegada: a ressurreição ............................................... 22
1.7 Os evangelhos não são biografias ........................................................................... 23

UNIDADE 2 – INFORMAÇÕES GERAIS SOBRE A BÍBLIA ..................................... 30


2.1 Um antigo sempre novo......................................................................................... 30
2.2 Diferença entre as edições evangélicas e católicas da Bíblia ...................................... 32
2.3 Algumas diferenças entre o Primeiro e o Segundo Testamentos ................................ 33
2.4 Manuscritos e versões da Bíblia .............................................................................. 35
2.5 Sobre as traduções................................................................................................ 39
2.6 Recursos presentes nas edições ............................................................................. 42

UNIDADE 3 – FORMAÇÃO DO CÂNON E A QUESTÃO DA AUTORIA...................... 49


3.1 Livros canônicos.................................................................................................... 49
3.2 Sobre o cânon do Primeiro Testamento ................................................................... 49
3.3 Sobre o cânon do Segundo Testamento .................................................................. 50
3.4 Os livros canônicos são “suficientes” para orientar os fiéis na fé ................................ 51
3.5 Livros deuterocanônicos, apócrifos e outros livros perdidos....................................... 52
3.6 Autoria dos livros da Bíblia ..................................................................................... 54

UNIDADE 4 – INSPIRAÇÃO E VERDADE NA BÍBLIA ............................................ 57


4
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

4.1 A inspiração divina das Escrituras ........................................................................... 57


4.2 Um livro de verdades para a nossa fé ..................................................................... 58
4.3 A leitura bíblica no tratado da Revelação ................................................................. 60
4.4 As ciências auxiliares no estudo da Bíblia ................................................................ 61

UNIDADE 5 – NOÇÕES DE GEOGRAFIA DA PALESTINA ...................................... 66


5.1 Um território muito pequeno .................................................................................. 66
5.2 Os nomes dados à Terra de Israel no decorrer da história ........................................ 70
5.3 A Terra de Israel ocupa lugar estratégico ................................................................ 71
5.4 O sentido religioso da Terra Prometida ................................................................... 71
5.5 A terra de Israel se divide em quatro faixas ............................................................. 72

REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 75
ATIVIDADES ....................................................................................................... 77

Avaliação

A UCDB Virtual acredita que avaliar é sinônimo de melhorar, isto é, a finalidade da


avaliação é propiciar oportunidades de ação-reflexão que façam com que você possa
aprofundar, refletir criticamente, relacionar ideias, etc.
A UCDB Virtual adota um sistema de avaliação continuada: além das provas no final
de cada módulo (avaliação somativa), será considerado também o desempenho do aluno ao
longo de cada disciplina (avaliação formativa), mediante a realização das atividades. Todo o
processo será avaliado, pois a aprendizagem é processual.
Para que possa se atingir o objetivo da avaliação formativa, é necessário que as
atividades sejam realizadas criteriosamente, atendendo ao que se pede e tentando sempre
exemplificar e argumentar, procurando relacionar a teoria estudada com a prática.
As atividades devem ser enviadas dentro do prazo estabelecido no calendário de
cada disciplina. As atividades enviadas fora do prazo serão aceitas nas seguintes condições:
• As atividades enviadas 7 dias após o vencimento do prazo serão corrigidas com a
pontuação normal, isto é, sem penalização pelo atraso.
• Após os 7 dias, o professor aplicará um desconto de 50% sobre o valor da ati-
vidade.

5
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

Critérios para composição da Média Semestral:

Para fazer a Média Semestral, leva-se em conta o desempenho atingido na avaliação


formativa e na avaliação somativa, isto é, as notas alcançadas nas diferentes atividades
virtuais e na(s) prova(s).
Antes do lançamento desta nota final, o professor divulgará a média de cada aluno,
dando a oportunidade de que os alunos que não tenham atingido média igual ou superior a
7,0 possam fazer a Segunda Chamada.
Após a Segunda Chamada, o professor já fará o lançamento definitivo da Média
Semestral, seguindo o procedimento abaixo:

A prova presencial tem peso 7,0 e as atividades virtuais têm peso 3,0. Portanto, para calcular a
Média, o procedimento é o seguinte:

1. Multiplica-se o somatório das atividades por 0,30;


2. Multiplica-se a média das notas das provas por 0,70.
Para termos a Média Semestral, somam-se os dois resultados anteriores, ou seja:
MS = MP x 0, 7 + SA x 0,3
MS: Média Semestral
MP: Média das Provas
SA: Somatório das Atividades

Assim, se um aluno tirar 10 na(s) prova(s) e tiver 10 nas atividades:


MS = 10 x 0,7 + 10 x 0,3 = 7,0 + 3,0 = 10

Se a Média Semestral for igual ou superior a 4,0 e inferior a 7,0, o aluno ainda
poderá fazer o Exame. A média entre a nota do Exame e a Média Semestral deverá ser igual
ou superior a 5,0 para considerar o aluno aprovado na disciplina.

FAÇA O ACOMPANHAMENTO DE SUAS ATIVIDADES

O quadro abaixo visa ajudá-lo a se organizar na realização das atividades. Faça seu
cronograma e tenha um controle de suas atividades:

AVALIAÇÃO PRAZO * DATA DE ENVIO **

Atividade 1.1
Ferramenta: Tarefas

6
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

Atividade 2.1
Ferramenta: Questionário

Atividade 2.2
Ferramenta: Tarefas

Atividade 3.1
Ferramenta: Tarefas

Atividade 4.1
Ferramenta: Tarefas

Atividade 5.1
Ferramenta: Tarefas

* Coloque na segunda coluna o prazo em que deve ser enviada a atividade (consulte o
calendário disponível no ambiente virtual de aprendizagem).
** Coloque na terceira coluna o dia em que você enviou a atividade.

7
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

BOAS VINDAS

Olá!
É muito bom ter você conosco! Você sabe que está começando um curso
acadêmico, desejo que muita gente em nosso país ainda não consegue realizar! Além
disso, trata-se de um curso de Teologia. Muitos repetirão a velha pergunta: “o que você vai
ganhar com isso?”. Possivelmente, você tem a resposta em seu coração, mas nem sempre
ela se traduzirá em palavras. E para algumas pessoas, as palavras não adiantariam, visto
que outra é a lógica do mercado. O mundo capitalista não é capaz de entender quem
deseja trilhar os caminhos de uma espiritualidade solidária e de um conhecimento mais
profundo acerca do transcendente e da experiência de fé das pessoas. Partilhamos de sua
alegria! Trilharemos juntos/as esse caminho.

Nesta disciplina, você é convidado/a a olhar a Bíblia com os olhos da fé, mas
também com a ajuda de outras ferramentas que as ciências nos oferecem. Algumas coisas
serão uma revisão do que você já viu em sua comunidade de fé. Outras poderão se
apresentar como novidade maior. Será uma matéria introdutória ao estudo da Bíblia.

Disposto/a a começar?! Abra seu coração e sua mente e arregace as mangas! E a


cada momento, lembre-se de uma importante frase preservada pelas primeiras
comunidades cristãs: “Não tenha medo!” (Mc 6,50). Um bom estudo da Bíblia vai exigir
confiança e abertura para que algumas verdades sejam solidificadas e outras sejam
modificadas ou até mesmo substituídas. Com carinho e paciência, iremos adiante!

Conte sempre conosco!

Um abraço!

Edmilson Schinelo

8
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

Pré-teste

A finalidade deste pré-teste é fazer um diagnóstico quanto aos conhecimentos


prévios que você já tem sobre os assuntos que serão desenvolvidos nesta
disciplina. Não fique preocupado/a com a nota, pois a atividade não será
pontuada.

1. O que é a Bíblia para você?


2. Quais são as suas motivações para aprofundar o conhecimento das Sagradas
Escrituras?
3. O que você entende quando afirmarmos que a Bíblia é Palavra de Deus e palavra
humana?
4. Que tradução da Bíblia você costuma utilizar? E quais outras você conhece?
5. Quando você lê a Bíblia, quais as principais dificuldades que encontra? Aponte no
máximo três.
6. Para você, o que é a inspiração bíblica?
7. Que diferenças existem entre a Bíblia Hebraica e a Bíblia Cristã? E entre as edições
católicas e as edições protestantes da Bíblia Cristã?
8. Você já ouviu falar de algum dos documentos Dei Verbum e Verbum Domini? Se sim,
comente do que eles tratam.

Submeta o Pré-teste por meio da ferramenta Tarefas

9
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

INTRODUÇÃO

Querido/a acadêmico/a,

Você está diante de um duplo desafio: por um lado, está iniciando um curso
acadêmico. Isto significa que seu olhar sobre a Bíblia continuará sendo um olhar de fé, a
partir de sua experiência pessoal e comunitária, mas com o acréscimo de outros critérios e
com ajuda de novas ferramentas e de outras ciências. Com certeza, isso será oportunidade
de crescimento, mas que precisa ser conjugado com o segundo esforço: não queremos
transformar o texto bíblico apenas num objeto de estudo. A Palavra de Deus continuará
sendo força transformadora e alimento para nossa espiritualidade cotidiana. A cada etapa
do processo, assuma conosco o compromisso de sempre valorizar essas duas dimensões.

O presente material está dividido em cinco unidades. Na primeira, falaremos da


importância da Bíblia para nossa caminhada e para a vida da Igreja, apresentaremos
algumas pistas de como fazer uma leitura comprometida das Escrituras Sagradas. A
segunda unidade apresentará informações gerais sobre a Bíblia, muitas das quais já são
conhecidas, mas requisitos básicos para qualquer estudo. A terceira parte tratará do
processo de formação dos textos bíblicos e do surgimento do cânon. A quarta unidade será
dedicada aos temas da Inspiração e Verdade na Bíblia e dos diferentes métodos de
interpretação. A quinta e última unidade trará algumas informações sobre a história e a
geografia da Palestina.

Queremos fazer a você um pedido importante: nesta disciplina, o livro principal é a


Bíblia. Você não pode passar pelo curso de Teologia lendo “tudo sobre a Bíblia” sem ler a
Bíblia. Você precisa conhecer o texto bíblico. Por isso, antes mesmo de ler os comentários,
livros de apoio, notas de rodapé, leia a Bíblia! Além disso, não tenha pressa no estudo deste
material.

Em relação às atividades ao final de cada unidade, elas constarão de dois tipos


básicos de atividades: um estimulando você a trabalhar com os textos bíblicos; e outro
oferecendo um texto de aprofundamento (algum artigo ou documento da Igreja). Tenha
disciplina e rigor no cumprimento dos prazos, mas não faça uma leitura corrida. Tenha a
Bíblia do lado e cada vez que se deparar com uma citação bíblica, abra o texto e confira.
Leia todos os textos sugeridos! O estudo se tornará muito mais enriquecedor.

10
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

UNIDADE 1

BÍBLIA: “LÂMPADA PARA OS PÉS E LUZ PARA O


CAMINHO”
OBJETIVO DA UNIDADE: Introduzir o acadêmico no estudo da Bíblia,
apresentando-a como centro da vida da Igreja e orientação (luz) para a
caminhada pessoal e comunitária.

1.1 A Bíblia é “luz” para nosso caminhar1

Tua palavra é lâmpada para os meus pés, Senhor.


Lâmpada para os meus pés e luz,
Luz para o meu caminho.2

É muito cantado em nossas comunidades o refrão acima. Ele remonta às tradições


mais antigas, tanto do povo de Israel, como das comunidades cristãs primitivas. É por esse
refrão que queremos começar nossa conversa nesta primeira unidade de nosso curso. Você
não foi convidado/a a estudar a Bíblia apenas para ampliar seus conhecimentos teóricos.
Mesmo em termos acadêmicos, continua sendo de grande valor aquilo que os grupos que
escreveram a Bíblia Hebraica sintetizaram no versículo 105 do Salmo 1193: “Tua Palavra é
lâmpada para meus pés e luz para meu caminho.” A
luz de uma lanterna, de um farol, nunca pode estar
voltada para os olhos de quem caminha, deve
iluminar a estrada. Da mesma forma, a pessoa e a
comunidade não podem voltar a Bíblia apenas para
os olhos. Lido desta forma, o texto cega, ao invés
de iluminar. Função da Bíblia é iluminar a estrada
da Vida.
Fonte: http://migre.me/gWjnj

1
Seguimos aqui, com autorização do autor, a reflexão proposta por Ildo Bohn Gass (o título, inclusive é dele).
Cf. GASS, Ildo Bohn. Porta de Entrada da Bíblia. Série Uma Introdução à Bíblia. Vol 1. São Leopoldo/São Paulo:
CEBI/Paulus, 2003. Sugerimos que você adquira este livro pela linguagem simples e pela boa quantidade de
informações sobre Introdução à Bíblia.
2
A melodia normalmente cantada nas comunidades é de autoria da compositora metodista Simei Monteiro.
3
Para quem usa traduções que não seguem o original hebraico (como é o caso da Bíblia da Ave Maria), é o
Salmo 118.
11
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

A Bíblia, Palavra de Deus dada à humanidade, é um conjunto de textos poéticos,


litúrgicos e espirituais que recolhem séculos de história de vários povos. É uma grande
biblioteca que chegou até nós para nos ajudar na compreensão da revelação de Deus. É
“Palavra de Deus”, mas não qualquer palavra.

A Palavra de Deus não começa nem se encerra na Bíblia. A primeira palavra de


Deus é sua ação criadora: O termo hebraico que normalmente traduzimos por “palavra” é
“dabar”. Mas “dabar” significa “palavra criadora”, geradora de realidade, um acontecimento:
“E Deus disse... E assim se fez” (Gn 1). O texto que temos em mãos é ato segundo. É ato
reflexivo. É teologia, uma linguagem sobre Deus (GUTIÉRREZ, 1987). E em grande parte, é
memória do povo sofrido (Ex 3,7-10), é a teologia do coração de gente simples: “Eu te
agradeço meu Pai e Senhor porque escondestes estas coisas a sábios e entendidos e as
revelastes aos pequeninos” (cf. Mt 11,25).

A teologia é “um esforço de pensar o mistério... mistério que deve ser dito e não
calado, comunicado e não guardado para si” (GUTIÉRREZ, 1987). Por isso, a Palavra Divina
continua na vida do povo, nas comunidades. É o Divino Espírito, brisa divina, Ruáh,4 que
agiu na criação, na libertação do Egito, em Jesus e nas primeiras comunidades. É o mesmo
espírito que continua a agir na humanidade e no cosmos. Pense na profundidade dessa
teologia, expressada a seguir em forma de poesia, na canção Um hino ao Divino, de Zé
Vicente:

Presente tu estás desde o princípio


Nos dias da criação, divino Espírito!
És o sopro criador que a terra fecundou
E a vida no universo despertou!

Presente tu estás desde o Egito


Vencendo a opressão, Divino Espírito!
És fogo e claridão, luz da libertação
De um povo em movimento de união!

Presente tu estás em Jesus Cristo


Nos primeiros cristãos, Divino Espírito!
Firmeza e novidade, estrela da unidade
Amor concreto, solidariedade!

Presente tu estás no sacrifício


Na dor das multidões, Divino Espírito!
Clamor e profecia, ternura e ousadia
Sabor do nosso pão de cada dia!5

4
Ruáh é o termo hebraico traduzido depois para Pneuma (grego) e Espírito (português). É um termo feminino,
por isso a tradução “brisa”.
5
Fonte: http://migre.me/h0xyB. Para ouvir a canção, acesse: http://migre.me/h0m3U.
12
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

Além de ser lâmpada para os pés e luz para o caminho (cf. Sl 119,105), a Palavra
Divina que encontramos na Bíblia nos ajuda a crer em Deus e a ter a vida em Jesus (cf. Jo
20,30-31), a nos corrigir e a nos manter na retidão (cf. 2Tm 3,14-17), a verificar a solidez
da fé (cf. Lc 1,1-4). A Bíblia não nos foi legada para que creiamos nela, mas para que,
através dela, creiamos em Deus (cf. Jo 20,30-31). Não esqueçamos que crer é testemunhar
(Mt 7,21-27).

“Crer é uma experiência vital e comunitária; o mistério deve ser acolhido na oração
e no compromisso, é o momento do silêncio e da ação” (GUTIÉRREZ, 1990). É importante
não se esquecer deste dado para que sejamos capazes de, verdadeiramente e de coração
aberto, escutar o que Deus tem para nos dizer, do jeito que Deus quer nos dizer.

Portanto, mesmo num curso acadêmico, estudar a Bíblia é colaborar com a força
do Espírito nesse grande mutirão que quer tornar realidade ainda hoje o que de fato
significa a Palavra de Deus: acontecimento concreto na vida do mundo, encarnação (Jo
1,14). Por isso, insistimos: a Palavra de Deus é, acima de tudo, como a luz de um farol que
indica o caminho por onde andar. E não apenas ilumina. É também luz que aquece nossa
esperança e nosso coração. Nela encontramos sentido para a vida, como lemos no relato do
Caminho de Emaús (cf. Lc 24,13-35).

O texto de Emaús é um convite para que busquemos entender o papel das


Escrituras em nossa vida pessoal e na vida das comunidades. Faça agora uma leitura atenta
do texto bíblico para seguirmos a conversa.

O caminho de Emaús nos


ajuda a lembrar que antes de ser
palavra escrita, a Bíblia foi palavra
vivida: ao caminhar com os discípulos,
Jesus não começa pela Bíblia (Palavra
escrita), mas pela Vida (Palavra
vivida). O interesse primeiro é pela
situação dos discípulos, que caminham
com o rosto sombrio (v. 16-17). Jesus
O caminho de Emaús, Elda Broilo.
Uso de imagem autorizado pela autora.
sabia o que tinha se passado, mas o
importante era saber, em atitude de
escuta, a partir da experiência do outro. Se você observar com atenção, por um longo
tempo, Jesus se põe a escutar (v. 18-24). Para iluminar a Vida, Jesus retoma a Bíblia:
“começando por Moisés e passando pelos Profetas, interpretou-lhes as escrituras...” (cf. v.
13
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

25-26). A Bíblia aqui não é utilizada para propósitos de ensino, não quer passar ou reforçar
uma doutrina. Jesus recorre à Bíblia para iluminar a realidade de sofrimento, de angústia,
de vida sem perspectivas daquelas duas pessoas.

Vamos aprofundar no decorrer deste curso, mas adiantamos a informação de que o


Evangelho de Lucas foi escrito depois dos anos 80 do primeiro século do Cristianismo. Os
discípulos de Emaús são uma metáfora da situação de todas as comunidades da época
quando a comunidade lucana escrevia o texto. Para a comunidade, Jesus não quer
simplesmente aumentar a cultura ou o conhecimento bíblico dos discípulos. Pretende
transformar a vida. E de fato consegue. Porém, com o auxílio das Escrituras, consegue
somente em parte, como eles mesmos
reconhecem (leia de novo Lc 24,32).

A leitura da Bíblia aquece o coração,


mas não podemos ficar nisso. É preciso abrir os
olhos e ir à ação. E o que de fato abre os olhos é
uma nova prática, expressada na partilha do pão
(veja o versos 30-31).

Fonte: http://migre.me/gWjYJ

O novo jeito de ser consiste na hospitalidade e na partilha realizada


naquela comunidade. Ao compartilharem sua casa com o forasteiro e
partilharem sua mesa com ele, uma vez o coração já aquecido pelas
Escrituras, seus olhos se abrem e percebem a presença de Jesus em seu
meio. Imediatamente, voltam para a comunidade de Jerusalém e anunciam
a Boa Nova da vitória da vida sobre a morte. (GASS, 2003, p.10).

Queremos aprender com história de Emaús. Queremos sentir nosso coração


aquecido, alimentar a esperança, a mística, a espiritualidade. O curso vai nos ajudar nisso.
Entretanto, queremos que o coração aquecido reforce e estabeleça relações de partilha e de
solidariedade. “O Reino de Deus já está em nosso meio, mas é preciso que vá se ampliando
e se traduzindo em um novo jeito de conviver, mais humano mais fraterno.” (GASS, 2003,
p.10).

O curso também pretende (com rigor acadêmico, mas não se fechando a isso e
nem partindo disso) perscrutar as Escrituras com o auxílio também das ciências modernas,
percorrendo caminhos da pesquisa exegética moderna, sob a orientação da Igreja. Por isso,
será importante dedicarmos especial atenção ao que nos diz a Igreja sobre a leitura, o

14
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

estudo e a vivência das Sagradas Escrituras. Três documentos nos acompanharão mais de
perto e vamos sempre recorrer a eles:

a) A Dei Verbum, documento do Concílio Vaticano II (http://migre.me/h0kov);


b) O documento da Pontifícia Comissão Bíblica do Vaticano, sobre A interpretação da
Bíblia na Igreja (http://migre.me/h0kro); e
c) A Verbum Domini, exortação apostólica de Bento XVI que é fruto do Sínodo dos
Bispos sobre a Palavra (http://migre.me/h0kyU)

Sugestão para seu aprofundamento:

Releia Lucas 24,13-35 e observe os passos que Jesus


realiza com os discípulos de Emaús.

1.2 A mesa da Palavra: Bíblia, Vida, Comunidade

Quantas vezes você já ouviu a expressão “sentar-se à mesa”? Quantas vezes você
fez isso com sua família, amigos e amigas? Era essa a prática mais comum de Jesus! Mas a
mesa é elemento importante de
todas as culturas.

Podemos afirmar que


leitura da Bíblia é como uma
mesa. Na cultura de Jesus, as
pessoas se “sentavam à mesa”
no chão, numa comunhão
ainda maior com a mãe terra e
a natureza. Mas aproveitemos
as várias imagens que a figura
da mesa nos evoca.
Fonte: http://migre.me/gWkE9
O primeiro aspecto que queremos destacar é que a mesa está com os pés no
chão. Da mesma forma, para se ler a Bíblia com proveito, é importante ter os pés bem
fincados na vida de nossa realidade pessoal, bem como na vida sofrida dos povos. Tal

15
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

como uma mesa, em não sendo assim, ficaremos a balançar, não teremos firmeza. É em
função e a partir da nossa Vida real e cotidiana que vamos ao texto sagrado (por isso, aliás,
é sagrado).

É para a nossa Vida que buscamos luzes, motivações, força, ânimo. Buscamos
descobrir a vontade (o desígnio/desejo) de Deus para transformar nossas vidas e a Vida
nas/das Igrejas e na sociedade, a fim de que estas se pareçam um pouco mais com o Reino
de Deus. Não por menos, repetimos diariamente: “Venha a nós o teu Reino!” (Mt 6,10; Lc
11,2).

Uma segunda imagem: Mesa significa espaço de partilha da palavra. Nós mesmos,
quando precisamos dialogar com uma pessoa ou grupo, costumamos dizer: “vamos sentar à
mesa”. A mesa nos congrega, faz-nos sentar ao seu redor, sugere a comunhão, a
comunidade. É na mesa que partilhamos a comida, o cotidiano, as ideias e os sentimentos.
Tirar a mesa é tirar a comunhão. Assim também, a leitura bíblica certamente será mais rica
se feita em comunidade, “ao redor de uma mesa”. Leia com atenção o que nos diz a Dei
Verbum:

A Igreja venerou sempre as divinas Escrituras como venera o próprio Corpo


do Senhor, não deixando jamais, sobretudo na sagrada Liturgia, de tomar e
distribuir aos fiéis o pão da vida, quer da mesa da palavra de Deus quer da
do Corpo de Cristo. Sempre as considerou, e continua a considerar,
juntamente com a sagrada Tradição, como regra suprema da sua fé; elas,
com efeito, inspiradas como são por Deus, e exaradas por escrito duma vez
para sempre, continuam a dar-nos imutavelmente a palavra do próprio
Deus, e fazem ouvir a voz do Espírito Santo através das palavras dos
profetas e dos Apóstolos. É preciso, pois, que toda a pregação eclesiástica,
assim como a própria religião cristã, seja alimentada e regida pela Sagrada
Escritura. Com efeito, nos livros sagrados, o Pai que está nos céus vem
amorosamente ao encontro de Seus filhos, a conversar com eles; e é tão
grande a força e a virtude da palavra de Deus que se torna o apoio
vigoroso da Igreja, solidez da fé para os filhos da Igreja, alimento da alma,
fonte pura e perene de vida espiritual. Por isso se devem aplicar por
excelência à Sagrada Escritura as palavras: «A palavra de Deus é viva e
eficaz» (Hebr. 4,12), «capaz de edificar e dar a herança a todos os
santificados», (At. 20,32; cfr. 1 Tess. 2,13).” (DEI VERBUM, 1987).

Em torno da mesa da Palavra, a comunidade troca ideias e amplia a compreensão


do texto a partir de diferentes contribuições. Há um crescimento mais qualificado que só é
possível em comunidade. A Bíblia teve um longo processo de formação. Foi um grande
mutirão. E, lendo-a hoje também em mutirão, certamente seus frutos serão maiores e mais
saborosos. Por isso, mesmo fazendo um curso acadêmico, você não pode se esquecer da
dimensão comunitária da Palavra.

A terceira imagem: mesa significa comida repartida. É sonho de Deus que seus
filhos e filhas tenham vida abundante (Jo 10,10). O Reino de Deus é sempre comparado
16
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

com banquete (Lc 14,15-24). Todos os evangelhos fazem questão de destacar a


centralidade da partilha dos pães efetuada por Jesus junto à multidão faminta no deserto:
todo mundo se saciou e ainda sobrou comida em abundância: doze cestos.6 O evangelho de
Lucas, de forma especial, gosta de insistir na importância da mesa. Ele destaca doze
episódios em que se põe à mesa com os seus. Não precisa conferir na Bíblia todos os textos
agora, mas veja que interessante essa relação:

 Lc 5,29-32: Jesus come com publicanos, pecadores e impuros na casa de Levi.


 Lc 7,36-50: Jesus está à mesa na casa do fariseu e ali defende a mulher pecadora.
 Lc 9,10-17: Jesus promove a partilha do pão, um verdadeiro milagre.
 Lc 10,38-42: Na casa de Marta e Maria, o Mestre indica o caminho do seguimento.
 Lc 11,37-54: Na mesa do fariseu, Jesus desmascara sua hipocrisia, seu legalismo.
 Lc 14,1-6: Estando à mesa com um fariseu, Jesus cura um hidrópico no sábado.
 Lc 15,11-32: Deus misericordioso oferece um banquete ao pecador convertido.
 Lc 16,19-31: Quem come o pão não partilhado, come sua própria condenação.
 Lc 19,1-10: Na casa de Zaqueu, a presença de Jesus promove partilha.
 Lc 22,14-20: Comer o pão repartido é fazer comunhão com o próprio Deus.
 Lc 22,28-30: A mesa do Reino de Deus pertence a quem for fiel ao projeto de Jesus.
 Lc 24,13-35: Na casa e no pão partilhados, Deus mesmo se revela em Emaús.
 Lc 24,41-43: Ressuscitado, Jesus continua participando da partilha na mesa com
seus discípulos de ontem e de hoje. (GASS, 2005b, p.43).
Resumindo as três imagens: como na história de Emaús, queremos ler a Bíblia
partindo da Vida, da Realidade. Iluminamos essa realidade com a Palavra. E voltamos para
a Vida, na disposição de partilhar. Observe que nossa liturgia segue também este caminho:
o primeiro momento é a acolhida e a revisão da Vida (na missa, com essa finalidade
mantemos o ato penitencial); temos depois a liturgia da Palavra; e, por último, a liturgia
eucarística, a partilha do Pão.

Mantendo os pés no chão da realidade, mantendo o respeito e fidelidade ao texto,


buscando a leitura em comunidade, chegaremos à leitura orante, à escuta de Deus. “Pois
Ele é um Deus que continua se manifestando para nós, não só através da Bíblia, mas
também através das pessoas e dos acontecimentos de nossa época”. (GASS, 2003, p.12).

6
Eis os textos: Mc 6,30-44 e 8,1-10; Mt 14,13-21 e 15,32-39; Lc 9,10-17; Jo 6,1-15.
17
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

Sugestão para seu aprofundamento:

Vá agora à Bíblia e confira os textos nos quais Jesus está à mesa, de


acordo com o Evangelho de Lucas. Anote quais os grupos sociais que
mais aparecem ao redor de Jesus nesses momentos.

1.3 Jesus nos deixou o critério principal: defesa e promoção da vida

Para pessoas cristãs o critério fundamental, a principal chave de interpretação para


ler todas as Escrituras é a pessoa de Jesus Cristo. Na teologia, muitas vezes se usa a
expressão critério de compatibilidade cristológica. Ou seja, não partimos de livro ou
uma doutrina, mas da experiência com o Ressuscitado.

Ele mesmo resume magistralmente o princípio que deve sempre nos


orientar. Ele mesmo diz qual é o critério para compreender a Palavra de
Deus presente nas palavras humanas e escritas pelo povo de Israel. O
critério central que Jesus nos fornece é a defesa da vida. Defesa da vida
em qualquer situação em que ela se encontre diminuída, seja na doença,
na exclusão, na pobreza, na própria morte. (GASS, 2005a, p.12).

A letra do texto, seu sentido literal, é importante. Mas importa acima de tudo
buscar o seu sentido teológico, o seu espírito. Lemos em 2 Cor 3,6 que “a letra mata, mas o
Espírito é que dá vida”. Como aponta o Salmo 1, como nos alertam os profetas e as
profetizas, as Escrituras querem mostrar o caminho da justiça.

Visualizemos esse jeito de ler a Bíblia de acordo com o “triângulo hermenêutico”


abaixo (do grego, hermenêutica significa interpretação). O texto está no centro.
Entretanto, ele se nos apresenta como Palavra de Deus se nós o lemos a partir do
contexto da Vida de onde ele nasceu (a história do povo da Bíblia) e aonde ele chega (a
história do povo de hoje). Tal leitura se faz num processo.

18
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

O processo hermenêutico só estará completo quando interpretamos e atualizamos


a mensagem daquela época para a realidade da Pessoa, da Comunidade e da Sociedade de
hoje. A busca da mensagem do texto para a época em que foi escrito é importante.
Entretanto, essa mensagem iluminará mais nossa caminhada, na medida em que a
atualizamos para nossa realidade hoje.

1.4 A centralidade da Bíblia na vida da Igreja

A Sagrada Escrita sempre esteve e precisa continuar no centro da Igreja. Conforme


o Concílio Vaticano II, cabe à Igreja colocar-se na escuta e a serviço da Palavra:

O magistério da Igreja não está acima da Palavra de Deus, mas a seu


serviço, não ensinando senão o que foi transmitido, [...] no sentido de que
ausculta piedosamente essa palavra, guarda-a santamente e a expõe
fielmente. Deste único depósito da fé, o magistério da Igreja tira o que nos
propõe para ser acreditado como sendo divinamente revelado. (DEI
VERBUM, n.10)

Deus reúne pessoas e comunidades de fé e lhes oferece gratuitamente a Sua


Palavra como orientação e alerta para que a Aliança seja refeita. Pela Palavra nos são
oferecidas reflexões cotidianas em torno da Vida. Pois na Vida, o próprio Deus se revelou e
se fez gente em Jesus (Jo 1,14). Por sua vez, Jesus nos brinda com o Evangelho – a Boa
Notícia do Reino, misericórdia de Deus. O Evangelho, para as pessoas cristãs, é o centro e a
chave de leitura de todas as Escrituras Sagradas e para a “leitura” e presença no mundo. É
obedecendo (ob-audire: escutar interiormente) à Palavra do Evangelho que a Igreja se
mantém fiel a Jesus e busca responder ao seu chamado: “Vem e Segue-me!”.

É no seguimento, entretanto, que nos sentimos também enviados/as. Não para


ações de proselitismo, como se tivéssemos que convencer as pessoas a aderirem ao nosso
modo de pensar, à nossa doutrina. O envio que recebemos é para o serviço: “É a própria
Palavra que nos impele para os irmãos: é a Palavra que ilumina, purifica, converte; nós
somos apenas servidores”. (VERBUM DOMINI, n.93).

No começo da Igreja, a única teologia que existia era o comentário à


Escritura e a aplicação da Palavra de Deus à vida das comunidades.
As primeiras grandes “escolas teológicas” do cristianismo (Alexandria
e Antioquia) foram acima de tudo escolas de leitura orante da Bíblia
(Lectio Divina).7

Pode-se dizer que a teologia cristã, ou seja, a elaboração de um pensamento mais


sistemático sobre Deus e sua Palavra, se desenvolveu quando as comunidades cristãs

7
Para maior aprofundamento ler: CRB. Leitura Orante da Bíblia. Col. Tua Palavra é Vida. V. 1.São Paulo: Loyola,
1990.
19
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

tiveram que explicar a si mesmas e aos outros por que a parusia prometida (a manifestação
gloriosa da vinda de Cristo) tardava tanto e não acontecia imediatamente, como Paulo e
os/as primeiros/as discípulos/as acreditavam. Em função disso, a base de toda teologia é a
esperança do Reino de Deus e a elaboração espiritual (não só intelectual) desta espera
(LAFONT, 1999). Foi necessário então, que a memória do Ressuscitado (que é o mesmo
Crucificado), aquilo que Ele disse e fez, fosse reinterpretada gradativamente e fosse
transmitida, primeiro por meio da tradição oral, depois através de escritos que, mais tarde,
vieram a ser o que chamamos de Segundo Testamento ou Novo Testamento.

Com o decorrer do tempo, quando a igreja institucional se tornou cristandade,


deixando de se enxergar como simples sinal e passando a se considerar o Reino de Deus já
presente na terra, a Bíblia passou a ser referência menos importante, quase secundária. Nos
cursos de teologia clássica e na formação cristã em geral, frases bíblicas eram utilizadas
mais para legitimar debates teológicos, perdendo muito do seu valor em si. Era quase como
o começo dos tratados de teologia, que depois tomavam vida própria e se desenvolviam
sem ter mais muito contato com o texto bíblico.

Desta forma, tanto a teologia como a formação cristã geral se afastaram muito da
Bíblia. De tal forma que para muita gente, mesmo com a facilidade de acesso ao texto
(graças à invenção da imprensa), a Bíblia se tornou livro de gabinete ou enfeite de estante.
No Brasil Império, por exemplo, era comum conventos de religiosos e famílias nobres
possuírem no centro da casa uma estante para a Bíblia e no centro do pátio um pelourinho
para que os negros escravizados fossem chicoteados. Já não se fazia mais qualquer ligação
entre Bíblia e Vida.

Com o Concilio Vaticano II, tanto a teologia como a vida da Igreja passou
novamente a se deixar interrogar pela Bíblia. O Evangelho voltou a ser a referência. Muito
rapidamente, volta a se espalhar um desejo de se conhecer e viver a Palavra. Na América
Latina, de forma especial, floresce um forte movimento bíblico, na busca de se matar a sede
da Palavra. E a Bíblia volta a impulsionar o testemunho profético. Milhares de irmãos e
irmãs deram a vida pela missão a partir do apelo escutado na Bíblia. Dom Oscar Romero,
bispo católico de El Salvador, assassinado no dia 24 de março de 1980, é um exemplo.

A recuperação da centralidade da Bíblia fez despertar dois aspectos: a dimensão


profética e a dimensão sapiencial.

A dimensão profética fez a Igreja reviver sua missão de testemunha da Vida e de


defensora da justiça, na linha das bem-aventuranças do Evangelho. Foi esta dimensão que
renovou a Igreja e nos ajudou a recuperar um jeito antigo e sempre novo de ir ao texto

20
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

bíblico: ler a Bíblia para iluminar a Vida. Fez-se e ainda se faz a atualização da leitura do
Êxodo.

A dimensão sapiencial conduziu a Igreja a descobrir a Palavra de Deus nas


diferentes culturas e sabedorias dos povos diferentes. Na fonte da inculturação, está a
leitura sapiencial da Bíblia. Desde 1970, vários autores falaram em aprofundar o “antigo
testamento bíblico” para valorizar o que seria “o antigo testamento dos nossos povos”.

Muitas de nossas comunidades, entretanto, ainda precisam descobrir uma Palavra


de Deus que as reanime tanto para a profecia como para o diálogo. Uma leitura bíblica que
parta do dia-a-dia do povo, da sua forma de organizar a vida cotidiana e as relações
familiares também ajudará no diálogo com outras culturas.

A Leitura Popular da Bíblia, muito desenvolvida aqui no Brasil, alicerçada no


método histórico-crítico e no compromisso com o Evangelho: “que todos tenham vida e vida
em abundância” (Jo 10,10) é um bom exemplo de processo hermenêutico.

1.5 Um livro que “tomamos emprestado”

Até aqui falamos da Bíblia como se fosse


um livro “da Igreja”. De fato, estamos tratando
do livro (ou coleção de livros) que é a base de
nossa fé cristã. Entretanto, um estudo sério e
respeitoso da Bíblia precisa levar em conta o
seguinte dado: a Bíblia é um livro que “tomamos
Fonte: http://migre.me/h2MLJ emprestado” de um outro povo, de uma outra
cultura. Acima de tudo, precisamos reconhecer
que o a Bíblia não é o livro sagrado apenas do povo cristão, não foi escrito pelos cristãos,
mas pelo povo judeu. A Bíblia é o livro sagrado
dos judeus.

Poderíamos argumentar que isso é


verdade apenas em relação ao Antigo
Testamento. No entanto, também o Novo
Testamento, ainda que não faça parte das atuais Acervo pessoal, Edmilson Schinelo
escrituras judaicas, foi escrito por pessoas e comunidades fortemente vinculadas à
experiência do povo de Israel. Não por menos, os escritos neotestamentários insistem tanto

21
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

na “construção teológica” de que a Igreja é no “novo Povo de Deus”, expressão tão cara à
religião judaica.

Além disso, também os samaritanos, desde antes de Cristo, sempre fizeram uso do
Pentateuco como seu livro sagrado (ainda que numericamente menores, os samaritanos
existem até os dias de hoje como grupo religioso autônomo). Antes de ser um “livro
cristão”, portanto, a Bíblia foi e é um livro judeu-samaritano.

Quando tomamos algo emprestado de alguma pessoa, costumamos redobrar o


cuidado. Ao devolver, mesmo que seja apenas interior: “cuidei
como se fosse meu”. Tal postura se faz necessária também em
relação à Bíblia. Não vamos devolvê-la (até porque a Bíblia é
um patrimônio de toda a humanidade!), mas temos que
sempre repetir: “cuidamos como se fosse nossa”.

Fonte: http://migre.me/mskTN

A atitude de cuidado deve se traduzir em atitude de diálogo e aprendizado para


com as demais tradições religiosas. Uma leitura da Bíblia guiada pelo Espírito nos conduzirá
ao maior conhecimento da fé da Igreja e, ao mesmo tempo, ao respeito e à convivência
harmoniosa entre igrejas e entre as religiões.

1.6 Ponto de partida e ponto de chegada: a ressurreição8

Saber que a Bíblia é um livro que compartilhamos entre diversas religiões e culturas
não empobrece sua importância para nós cristãos. Até porque preservamos uma chave de
leitura específica, que para nós é ponto de
partida e ponto de chegada: o evento da
Ressurreição. Este dado de fé dá um novo
sentido a cada texto, tanto do Primeiro como
do Segundo Testamento (mais adiante
explicaremos o motivo do uso desta
terminologia).
Quando ainda era escuro...

8
Nos itens 6 e 7 você vai observar que as imagens retratam figuras negras. Trata-se de um “exercício de
mudança de óculos”. Se não é possível afirmar que Jesus era negro, também não há como afirmar que fosse
branco. Mas normalmente não estranhamos quando vemos pinturas em que Jesus é retratado com cabelos
loiros e olhos azuis (versão europeia). As imagens utilizadas são um trabalho dos “Pintores de Mafa”, de
Camarões. Confira www.jesusmafa.com.
22
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

Afirmar que a Ressurreição é ponto de partida e ponto de chegada para o estudo


da Bíblia é afirmar com outras palavras a centralidade da Vida. Acreditamos que Deus nos
criou para participarmos de sua glória e que a morte e a ressurreição de seu Filho são “as
primícias” do que experimentaremos (1Cor 15,20). Por isso a
importância de se levar em conta a realidade pessoal e
comunitária no estudo da Palavra.

Recorrendo à memória das primeiras comunidades,


vemos que o que motivou a Escrita das Cartas, dos
Evangelhos, dos Atos e do Apocalipse foi justamente a
experiência junto ao Ressuscitado. Tudo teria sido em vão se
Cristo não tivesse ressuscitado (cf. 1Cor 15,17). Se nossa
leitura bíblica não estimular o caminho para a Ressurreição –
A ascensão
diária e definitiva – vão será também o nosso esforço.

1.7 Os evangelhos não são biografias

No decorrer do curso, teremos ainda duas matérias em estudaremos os evangelhos


(Evangelhos Sinóticos e Atos; Escritos Joaninos e Apocalipse). É importante, entretanto, que
nesta introdução conversemos um pouco sobre as diferenças presentes nos evangelhos.9

Os evangelhos não são biografia de Jesus. Quando foram escritos, não tinham a
intenção de narrar nos detalhes o que se passou com o Nazareno. Com certo grau de
humor, costumamos dizer o seguinte: se quisermos saber direitinho como foi a vida de
Jesus, teremos que esperar nossa ressurreição e perguntar a ele. Mas é possível que a
pergunta não faça mais sentido. Agora, se
desejamos conhecer a experiência que as
primeiras comunidades fizeram à luz do que
Jesus disse e fez, aí sim podemos ler os
evangelhos. E como as comunidades eram
diferentes entre si, é normal que um mesmo
fato a respeito da vida de Jesus tenha sido
registrado de forma diferente por cada O anúncio a Maria

comunidade.

9
O texto que segue é extraído de SCHINELO, Edmilson. O porquê das diferenças entre os evangelhos.
Disponível em http://www.cebi.org.br/noticias.php?secaoId=21&noticiaId=5137. Acesso em: 24 out. 2014.
23
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

Para nosso olhar de fé, sabemos que a inspiração divina permitiu essa
multiplicidade de relatos exatamente para que pudéssemos seguir aprendendo que as
diferenças nos enriquecem e nos complementam. Se assim não fosse apenas um evangelho
teria sido suficiente. As diferenças entre os evangelhos, portanto, são fruto em primeiro
lugar da vontade divina. Mas também de outras condições. Vejamos algumas.

a) Diferentes maneiras de se contar um mesmo fato

Em sua vida pública, Jesus


constituiu um movimento itinerante,
formado de mulheres e homens (veja Lc
8,1-3) e andou por cidades e povoados
anunciando o Reino, curando as pessoas e
propondo um jeito novo de viver. As coisas
que disse e fez não foram anotadas de
imediato, foram gravadas na mente e no
Batismo de Jesus
coração das pessoas, que passaram a
contar para seus filhos e filhas, na catequese, nas celebrações, na vida das primeiras
comunidades. A isso nós chamamos de tradição oral. Somente mais tarde teve início o
processo de redação dos textos, inicialmente em forma de pequenas coleções (ditos de
Jesus, relatos da paixão, coleção de parábolas, coleção de milagres, etc.). Ora, é evidente
que um mesmo fato ou uma fala que tinham um núcleo comum adquirissem “caminhos” e
tradições diferentes na medida em que eram transmitidos “de boca em boca” por diferentes
grupos. Na Bíblia também funciona o famoso “quem conta um conto aumenta um ponto”.

Esta é uma das razões pelas quais um relato difere do outro (confira, a título de
curiosidade, o relato do episódio de Jesus caminhando sobre as águas na versão de Mc
6,45-52 e na versão de Jo 6,16-21; se quiser, confira também com Mt 14,22-33). Veja
também como a oração do Pai Nosso é diferente em Lc 11,1-4 e em Mt 6,9-13.

b) Épocas e contextos diferentes

Tomemos o seguinte exemplo: por defender a floresta


e o povo empobrecido da Amazônia, contrariando os interesses
das elites e do capital internacional, Chico Mendes foi
assassinado em 22 de dezembro de 1988, em Xapuri, no Acre.
Seu testemunho repercute até hoje. Imaginemos o quanto Fonte: http://migre.me/mskLG

24
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

seriam diferentes as histórias de sua vida se escritas nos anos que sucederem sua morte
por gente ainda sofrendo ameaças, das histórias contadas por seus familiares e escritas por
um neto seu que não o conheceu pessoalmente, 30 anos depois, já vivendo no Rio de
Janeiro. Bem diferente seria também uma versão escrita por uma pessoa de algum país
europeu que apenas escutou relatos orais. É impossível que a situação de quem escreve
não se reflita no texto.

O mesmo aconteceu com os evangelhos. Ao escreverem os textos, as comunidades


também foram influenciadas pelo contexto em que viviam. Por volta do ano 70, época da
destruição de Jerusalém pelos romanos, deve ter surgido o
evangelho de Marcos, o primeiro dos quatro. Em várias
passagens, o texto de Marcos é bastante marcado pelo
silêncio e pelo medo. Em Marcos, Jesus morre em situação
de abandono (compare Mc 15,33-39 com Jo 19,28-30). É
como se a comunidade cristã, enfrentando a guerra e o
massacre, estivesse repetindo o salmo: Meu Deus, meu
Deus, porque me abandonaste! (Sl 21,2). Cerca de 30 anos
mais tarde, quando a comunidade de Joao relata o mesmo
fato, já quer destacar um Jesus senhor da história e
vencedor da morte, em condições de ele mesmo entregar o
Crucificação
seu espírito, dizendo que tudo está consumado (Jo 19,30).
Diferença de contextos.

c) Destinatários diferentes

Nos dias de hoje os evangelhos


se destinam às nossas comunidades de
fé. Mas à época em que foram escritos,
tiveram destinatários diferentes. O
evangelho de Mateus foi escrito para
comunidades judaico-cristãs. É comum
que acentue aspectos importantes para o
judaísmo, como, por exemplo, o pleno
A entrada triunfal em Jerusalém
cumprimento da lei (Mt 5,17-18).
Enquanto em João o próprio Jesus viaja pela Samaria com seus discípulos (Jo 4), em

25
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

Mateus ele diz que os discípulos não devem entrar em terras de samaritanos (Mt 10,5). O
evangelho de Lucas tem como destinatárias as comunidades cristãs do mundo greco-
romano, menos presas às tradições judaicas. O texto de Mt 10,5 não caberia no evangelho
de Lucas.10

d) Diferentes acentos teológicos

No essencial os evangelhos
A filha de Jairo
coincidem: Deus envia seu filho ao mundo, ele
forma um grupo de seguidoras/es e vive
servindo aos pobres; sua forma de agir acaba
desagradando as autoridades judaicas e
romanas e por esse motivo é assassinado na
cruz; mas ressuscita e as primeiras
anunciadoras do novo são as mulheres. Esse
fio comum perpassa os quatro relatos: Marcos, Mateus, Lucas e João.

Entretanto, cada evangelho tem sua especificidade teológica. Marcos apresenta


Jesus como um curador da vida, alguém que passa a maior parte do tempo curando as
pessoas e expulsando demônios. Mateus, por sua vez, insiste nos longos discursos de Jesus,
apresentando-o como um rabino, um mestre da justiça. A dimensão do perdão e da
salvação universal e mais destacada em Lucas do que em Mateus e Marcos. Para João,
Jesus é o verbo que sempre existiu, mas ao se encarnar, ensina-nos a viver um discipulado
de iguais.

Outro exemplo: na
genealogia de Mateus, Jesus é
descendente de Abraão (Mt 1,2).
Como Abraão é pai do povo de Israel,
Jesus é, portanto, um bom judeu. Já
em Lucas, Jesus não é descendente
apenas de Abraão, mas de Adão (Lc
3,38). Em sua visão mais
Visita dos Magos
universalista, Lucas apresenta Jesus

10
Marcos tem bastante influência aramaica, pode ter sido fruto de comunidades judaicas da Palestina (apesar de
muitos acharem que teve sua redação final em Roma. A redação final de João pode ter se dado na Ásia
Menor, mas as tradições do “Discípulo Amado” são mais antigas e devem remontar às primeiras comunidades.
O assunto será aprofundado no momento oportuno.
26
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

não como filho do povo judeu, mas de toda a humanidade.

e) Uso diferente de textos do Primeiro Testamento

Em função do interesse teológico


diferente ou mesmo da diferente tradição que
preservou o fato, as comunidades também
recorrem a diferentes textos que teriam sido
ditos por Jesus em momentos específicos. No
episódio da expulsão dos vendilhões do
templo, de acordo com Marcos, Jesus teria
Expulsão dos vendilhões
dito: Minha casa será chamada casa de oração
para todos os povos, mas vocês fizeram dela um covil de ladrões. Já de acordo com o texto
de João, as palavras de Jesus teriam sido outras: Não façam da casa de meu pai uma casa
de comércio. Na verdade, enquanto o texto de Marcos recorre a Is 56,7 e a Jr 711, João faz
uso de Zc 14,21. Ainda conforme João, os discípulos teriam se lembrado do Sl 69,10: O zelo
por tua casa me devorará.

Outro exemplo é a última frase que Jesus teria dito na cruz, antes da morte.
Enquanto Marcos cita o Salmo 22,2 (Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste!), Lucas
cita o Salmo 31,6: Em tuas mãos entrego o meu espírito!

No relato da infância de Lucas, depois


de nascer, Jesus volta de Jerusalém para a
Galileia, não teria ido morar no Egito (cf Lc
2,39-40). Em Mateus, como Jesus é
comparado a Moisés, ele vai morar no Egito, é
perseguido por um novo faraó (Herodes), tem
a ajuda dos magos (como Moisés teve das
A fuga para o Egito
parteiras) e proclama, no monte a nova Lei, as
Bem-aventuranças (Mt 5.1-12). Trata-se, na versão de Mateus de uma releitura do êxodo,
como Oseias já havia feito: Do Egito chamei o meu filho (Os 11,2).

27
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

f) Um exercício prático
Tomemos o relato das
mulheres indo ao túmulo na
madrugada da ressurreição,
presente nos quatro evangelhos: Mc
16,1-8; Mt 28,1-10; Lc 24,1-11 e Jo
20,1-18. Muitas diferenças podem
ser observadas entre os relatos.
Propomos aqui que identifiquemos
O túmulo vazio
apenas algumas, com base na
resposta às seguintes perguntas: a)
quem são as mulheres que vão ao túmulo na madrugada da ressurreição? Quem está lá
para avisar as mulheres que Jesus está vivo ou para dirigir-lhes alguma palavra? Qual a
reação das mulheres?

Comecemos pela segunda pergunta: em Marcos, encontramos um jovem de


branco. A versão de Mateus se inspira em Marcos, mas no lugar do jovem aparece um anjo.
Lucas também se inspira em Marcos, mas fala de dois homens com vestes resplandecentes.
Tanto em Mateus como em Lucas funcionou o “quem conta um conto aumenta um ponto”.
João menciona dois anjos, possivelmente
por fazer referência ao novo jardim não
manchado pela morte (Jo 19,41). Se no
antigo jardim Deus colocou os querubins
para impedir que o ser humano chegasse à
árvore da vida (Gn 3,24), em Jo 20,12-13
os anjos são os primeiros a confortar a
mulher, com a pergunta carinhosa depois
Pentecostes
repetida por Jesus: Por que choras?

Observemos a diferença quanto à reação das mulheres. Em Marcos, elas fogem em


silêncio: não contaram nada a ninguém porque tinham medo (Mc 16,8). Já vimos que o
contexto em que se escreveu o evangelho de Marcos é marcado pelo medo da perseguição
romana. Nos demais textos, elas contam aos discípulos. O medo ainda permanece, mas elas
contam. O texto de Mateus acrescenta que apesar do medo, elas estavam alegres (Mt
28,8). Sabemos que o texto de Mateus foi escrito cerca de quinze a vinte anos depois do

28
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

texto de Marcos. As comunidades ainda experimentavam o medo, mas eram capazes de


anunciar com mais alegria a ressurreição.

Em relação à primeira pergunta, notemos que o nome de Maria Madalena está em


todos os textos, o que nos permite concluir que ela foi a grande apóstola da ressurreição.
Mas não há coincidência em relação aos nomes das demais mulheres. Por quê? É muito
possível que as comunidades tenham se recordado de mulheres que foram lideranças
marcantes à sua própria tradição. Ou seja, para a comunidade de Marcos, além de Maria
Madalena, Maria, mãe de Tiago e Salomé ficaram na memória da comunidade. Já de acordo
com Lucas, o nome de Joana foi mais mencionado e ficou gravado (Lucas fala também de
outras mulheres).

No caso de João, Maria Madalena vai só


ao túmulo. E a narrativa tem um
sentido bastante especial, baseando-se
em dois textos do Primeiro Testamento.
Por um lado, o texto refaz a trajetória
da amada em busca do seu amado,
conforme os belos poemas do Cântico
dos Cânticos: Encontraram-me os Jesus e Madalena
guardas que rondavam a cidade: vocês
viram o amado da minha vida? Passando por eles, contudo, encontrei o amado da minha
vida. Agarrei-o e não vou soltá-lo (Ct 3,3-4). Por outro lado, Jo 20,1-18 apresenta-nos uma
releitura da criação: trata-se de uma nova semana, um novo jardim e uma nova
humanidade, representada em Jesus e em Maria Madalena.

Antes de continuar seu estudo, realize a Atividade 1.1.

29
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

UNIDADE 2

INFORMAÇÕES GERAIS SOBRE A BÍBLIA


OBJETIVO DA UNIDADE: Apresentar informações gerais sobre a Bíblia, diferenciar o
Primeiro Testamento do Segundo e as edições católicas das edições evangélicas.

Com certeza, muitas das informações que serão apresentadas nesta unidade já são
de seu conhecimento. É importante, entretanto, que você faça uma boa revisão. Em relação
às informações novas, você poderá ampliá-las com a pesquisa pessoal. Leia com atenção,
interaja e converse com seus/suas colegas de sala virtual. E, principalmente, confira os
textos bíblicos sugeridos.

2.1 Um antigo sempre novo

Você já deve ter lido e até mesmo ensinado que a


palavra Bíblia significa Livros. Trata-se do plural do termo
grego bíblion (no português, o plural se constrói com o “s”;
no grego, em muitas palavras, é a letra “a” que designa o
plural). Portanto, embora a encontremos normalmente
editada em um único volume, a Bíblia é uma coleção de
livros, uma verdadeira biblioteca. Por isso também é
chamada de “Sagradas Escrituras”, no plural.

Fonte: http://migre.me/h2Npc Como se sabe, a Bíblia se divide em dois grandes blocos: O


Antigo Testamento e o Novo Testamento. Nas últimas décadas, em função do diálogo com
o judaísmo, os cristãos se defrontam com a seguinte
pergunta: “por que vocês chamam de antigo o que é
sempre novo?”. Mesmo sabendo que Paulo já utilizou
a expressão “Antigo Testamento” (2 Cor 3,14),11
muita gente tem passado a usar Primeiro Testamento
e Segundo Testamento. Desta forma, respeita-se a
permanente novidade da aliança de Deus junto ao Acervo pessoal, Edmilson Schinelo
povo de Israel, sem excluir o que para nós, pessoas

11
O termo hebraico berit e sua tradução grega diatéque significam tanto o acordo realizado (aliança) como a
expressão deste pacto (testamento). Foi Tertuliano (por volta do ano 200) que cunhou a expressão Novo
Testamento, na época em que começam a surgir as primeiras listas de livros do que viria a ser o NT.
30
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

cristãs, constitui-se como aliança definitiva: o envio do Seu próprio Filho ao mundo (Mc
12,16; Rm 8,3).

Na verdade, o Novo Testamento é uma releitura do Antigo à luz da Vida de Jesus,


Morte e Ressurreição de Jesus. Muitos séculos antes, o profeta Jeremias falava da conclusão
de uma nova aliança com a casa de Israel (Jr 31,31) por parte do mesmo Deus libertador
do êxodo que dizia: “com amor eterno eu te amei” (Jr 31,3).

Por esses motivos, utilizaremos neste material de estudo as expressões Primeiro


Testamento e Segundo Testamento. No Primeiro, estão os livros escritos antes de Jesus
Cristo (a.C.) que narram a caminhada do povo israelita
junto com seu Deus. No Segundo Testamento, estão os
livros escritos depois de Cristo (d.C.), narrando a
caminhada de Jesus e das primeiras comunidades cristãs.

Sinta-se à vontade para utilizar as expressões


que julgar mais adequadas. Lembre-se de que o mais
importante é nossa atitude de diálogo e respeito. Fonte: http://migre.me/h2NAi

Comparação entre a Bíblia Hebraica e a Bíblia Cristã


Bíblias hebraica (TANAK)
Torah Nebiîm (Profetas) Ketubîm
(Lei) Anteriores Posteriores (Escritos)

Gn Js Is Sl
Ex Jz Jr Jó
Lv (1+2)Sm Ez Pr
Nm (1+2)Rs 12 ”Profetas Rt
Dt Menores” Ct
Os Jl Am Ab Jn Mq Ecl
Na Hab Sf Ag Zc Ml Lm
Est
Dn
Esd-Ne
(1+2)Cr
Observe como se forma a sigla TaNaK:
- Torah (que na Bíblia Cristã corresponde ao Pentateuco);
- Nebiîm (os nossos livros Históricos + os Profetas)
- Ketubîm (de maneira geral, correspondem aos nossos Sapienciais)

Observe que a Bíblia Hebraica se divide em três partes: Torah (Lei), os


Profetas e os Escritos (cf. O prólogo do Eclo, versículos 8 e 24).

31
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

2.2 Diferença entre as edições evangélicas e católicas da Bíblia

As edições católicas contêm 73 livros, enquanto as edições protestantes ou


evangélicas contêm 66 livros. A diferença entre a “Bíblia Católica” e a “Bíblia Evangélica” só
está no Primeiro Testamento, pelo fato de os evangélicos adotarem a “Bíblia Hebraica”, que
só contém os livros escritos em hebraico.

Já a “Bíblia Católica” possui sete livros a mais


(ou os evangélicos possuem sete livros a menos,
depende do ponto de vista). São livros que foram
escritos em grego ou cujo original hebraico se perdeu e
que só se encontram na tradução grega da Bíblia, feita
pelos judeus a partir do século III a.C. Comunidades
judaicas que se instalaram no Egito, na região de

Alexandria, além de traduzir os livros já existentes em Tradução de João Ferreira de Almeida,


muito usada pelo público evangélico.
hebraico, escreveram mais alguns em grego. Fonte: http://migre.me/h2NSk

Os sete livros que somente se encontram na


“Bíblia Católica” são: Tobias, Judite, os dois livros dos Macabeus, Baruc, Sabedoria e
Eclesiástico. Além desses livros, ainda existem passagens que originalmente foram escritas
em grego e que se encontram nos livros de Ester e de Daniel. Por isso, essas passagens só
estão na “Bíblia Católica” e faltam na “Bíblia Evangélica”. Em Daniel, são os capítulos 13 e
14, bem como os cânticos de Azarias e dos três jovens na fornalha, acrescentados ao
capítulo 3. O texto de Ester apresenta duas formas: a hebraica (capítulos 1 a 10), mais
curta, e a grega com vários acréscimos e ampliações.

Na Septuaginta, a tradução grega da Bíblia,


também chamada em português de “Setenta”, os
acréscimos gregos estão inseridos na introdução,
após o capítulo 3, versículo 13; o capítulo 4, versículo
16; capítulo 8, versículo 12 e capítulo 10, versículo 3.
Nas edições mais modernas da “Bíblia Católica”, essas
passagens em Ester e Daniel aparecem com letras de
tipo diferente.

Bíblia de Jerusalém. Edição de estudo A diferença entre a “Bíblia Católica” e a


usada pelo público católico. Fonte:
http://migre.me/h2O0H “Bíblia Evangélica” vem do seguinte fato: no tempo da
Reforma Protestante, no início do século 16 d.C., na

32
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

mesma época da invasão do Brasil pelos portugueses, era muito forte o entusiasmo por
redescobrir a cultura da Antiguidade. Foi o tempo em que, na Europa, se redescobriram as
obras de arte e de literatura da Grécia, de Roma, etc. Havia a ideia de “voltar às fontes”
mais antigas. Outra razão é porque algumas práticas da Igreja Católica Romana,
combatidas por Lutero, eram legitimadas, recorrendo-se a textos desses livros do cânon
grego. Esse clima influenciou a Igreja e, por isso, Lutero defendeu a ideia de que era
preciso voltar ao texto hebraico do Primeiro Testamento, que era o mais antigo da Bíblia.

Entretanto, Lutero também recomendou a leitura de todos os livros, também dos


sete que só estão em grego. Dizia que eram muito úteis para alimentar a fé e a piedade.
Nas edições ecumênicas atuais da Bíblia já aparecem todos os livros. É interessante lembrar
que a Bíblia das diversas Igrejas Orientais ainda é mais ampla que a Católica.

2.3 Algumas diferenças entre o Primeiro e o Segundo Testamentos

Além da diferença básica (o tempo em que foram escritos, antes de Cristo e depois
de Cristo), transcreveremos aqui outras diferenças apontadas por Ildo Bohn Gass (2005ª,
p.18-19). Compare com atenção.

a) Tempo de redação: 1000 anos para o Primeiro e 100 para o Segundo


Testamento

Enquanto o Primeiro Testamento levou uns mil anos para ser escrito, o Segundo
foi escrito no período de apenas uns cem anos. O processo é sempre o mesmo: o fato
acontece, é transmitido de boca em boca por tradição oral, espalha-se por vários grupos
em lugares diversos, é celebrado e só depois é fixado por escrito.

Esse processo, abreviado no Segundo Testamento, foi muito longo no Primeiro.


Por exemplo, a história de Abraão, tal como a lemos na Bíblia, foi escrita vários séculos
depois de sua vida e após passar por várias etapas de redação em épocas diferentes.
Abraão deve ter vivido mais ou menos uns 1500 anos antes de Cristo, e o livro do
Gênesis, onde está narrada a sua memória, teve o início de sua redação ao redor de 950
a.C. e sua redação final por volta de 400 a.C.

b) No Primeiro, a maioria são livros. No Segundo, a maioria são cartas

Os livros do Primeiro Testamento podem ser considerados, de fato, como


“livros”, embora alguns sejam breves, como as profecias de Abdias (Obadias, na Bíblia
33
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

Evangélica) e Ageu. No Segundo Testamento, a maioria são cartas, algumas muito


breves (não passam de bilhetes, como a Carta a Filemon, a de Judas, a Segunda e a
Terceira Cartas de João). Entre seus 27 livros, 21 são cartas. É verdade que algumas,
como a carta aos Romanos, aos Efésios, aos Hebreus, a Carta de Tiago e a Primeira
Carta de João, têm exposição doutrinária mais extensa, não parecendo cartas. São mais
longas e estão recheadas de sermões. De todas, a que tem menos o estilo de carta é a
Epístola aos Hebreus.
c) Nos originais, a maior parte do Primeiro foi escrita em hebraico. Todo
Segundo, em grego.

O Segundo Testamento foi todo escrito em grego, enquanto a maioria dos livros do
Primeiro foi escrita em hebraico e algumas partes em aramaico. Os que foram escritos em
grego (Tobias, Judite, 1 e 2 Macabeus, Sabedoria, Eclesiástico, Baruc) não fazem parte da
Bíblia Hebraica, adotada pelas Igrejas Evangélicas.

d) Quase todo o Primeiro foi escrito em Israel. O Segundo foi escrito em vários
lugares.
Há também diferenças de cultura e de lugar. A maior parte do Primeiro Testamento
foi escrita ou editada em Israel. Só o livro do profeta Ezequiel, do Segundo Isaías (capítulos
40 a 55), partes do Pentateuco (Gn 1-11, por exemplo), bem como alguns Salmos foram
escritos na Babilônia. Já os livros do Segundo Testamento foram escritos em vários lugares
com situações diferentes: Síria, Grécia, Ásia Menor, Roma.

e) O Segundo é uma interpretação do Primeiro à luz do evento Jesus


Muitas pessoas acham difícil o Primeiro Testamento. Por isso, não querem estudá-
lo. Preferem ficar somente com o Segundo Testamento. Mas é imperativo e fundamental
estudar o Primeiro Testamento, uma vez que sem ele não podemos compreender bem o
Segundo Testamento. Um é a continuação do outro. O Segundo é como que uma
reinterpretação do Primeiro à luz do evento Jesus. Quem escreveu o Segundo supõe que a
gente já conheça o Primeiro. A todo momento há citações, referências e alusões.

Uma “curiosidade” importante: o livro do Apocalipse cita mais de 400 vezes o


Primeiro Testamento. Compare por exemplo Ap 12,14 com Ex 19,4. Outros dois exemplos
apenas: quando, no evangelho de João, Jesus afirma ser o Bom Pastor, trata-se de releitura
de Ez 34. As narrativas da multiplicação dos pães remetem à história do Maná (Ex 16).
Releia com atenção esses dois textos do Primeiro Testamento.

34
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

2.4 Manuscritos e versões da Bíblia

Não temos acesso aos originais da


Bíblia. E nem a “cópias de cópias” que
sejam tão antigas, exceto no caso de
fragmentos ou partes. Mesmo acreditando
que o Espírito Santo ajudou na
preservação da essência da Palavra
Códice sinaítico. Fonte: http://migre.me/h2AGE
transmitida, é bom saber também que as
cópias manuscritas que temos da Bíblia não são tão antigas e possuem muitas diferenças
entre si. Até as principais descobertas do século passado (portanto, recentes para a
arqueologia), os mais antigos manuscritos hebraicos datavam do séc. X d.C. Edições
modernas da Bíblia Hebraica ainda seguem como texto base o Manuscrito de Leningrado,
que data de 1008 ou 1009 d.C.12
Em 1896, em uma Geniza (depósito no qual eram colocados os manuscritos não
mais em uso de uma sinagoga) no Cairo, foram encontrados fragmentos de códices. O mais
famoso é uma cópia do livro de Sirac (Eclesiástico). Tivemos, então acesso a cópias
fragmentadas um pouco mais antigas: séculos VII e VI d.C.
Em 1948, foram descobertos em Qumran fragmentos maiores de todos os livros do
Primeiro Testamento. No caso dos livros de
Isaías, Habacuc e Salmos, os textos estavam
completos. Os Manuscritos de Qumran
remontam aos séculos I e II. Até então, não
havia sido encontradas cópias tão antigas, a
não ser no caso do pequeno Papiro de Nash
(sec. I ou II) que preservou o texto do
Decálogo e Dt 6,4. Um documento
importante é o Pentateuco Samaritano, ainda
que não existam cópias anteriores ao Sec. X A mais famosa das cavernas de Kumran. E a mais
significativa em termos de descobertas. Nela foram
d.C. encontrados mais de 15.000 fragmentos de cerca de
200 livros. Acervo pessoal: Edmilson Schinelo

12
As informações resumidas neste e nos próximos parágrafos podem ser ampliadas com a leitura do
capítulo 7 de MANNUCCI, Valério. Bíblia, Palavra de Deus: curso de introdução à Sagrada Escritura.
São Paulo, Paulinas, 1985, p. 108-124.

35
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

Para comparar os manuscritos entre si, existe um ramo da ciência exegética


chamado critica textual, que se dedica ao confronto entre as diferentes cópias manuscritas
de um mesmo texto encontradas em papiros, unciais trechos, em letra minúscula,
lecionários, versões ou citações dos pais da Igreja. Como já dissemos, tais manuscritos são
sempre fragmentos ou cópias parciais (de uma carta, de um
evangelho, etc).
- Os Papiros são manuscritos escritos sobre o papiro, uma espécie de
junco. Já se encontram codificados 116 papiros, mas todos do
século II em diante.
- Os Unciais são manuscritos escritos sempre em letras maiúscula, na
maioria das vezes sobre o pergaminho. Já foram catalogados mais

de 300. O mais antigos são do século IV.


Fragmento e papiro.
- Os textos escritos em letra minúscula ou cursiva são mais tardios, Fonte:
http://migre.me/h2Ocv
datados do século IX em diante. Estão catalogados mais de
3.000.
- Os lecionários são manuscritos que contêm partes selecionadas dos Evangelhos, Atos ou
Epístolas, utilizados para leitura de acordo com o calendário litúrgico. O mais antigo data
do século V, mas já se conhecem mais de 2.250.
- As citações bíblicas feitas pelos pais da Igreja (citações patrísticas) são milhares.
Geralmente, estão em grego ou latim.13
- As traduções mais antigas são chamadas de versões, até porque sempre adaptaram os
textos. Insistimos que também delas temos apenas cópias, não os originais.
No caso do Primeiro Testamento, as versões mais antigas são:
- A Septuaginta (LXX), elaborada nos séculos III e II a.C., pelas comunidades judaicas nos
séculos que se instalaram no Egito (região de Alexandria); trata-se de uma tradução
adaptada para o grego dos escritos hebraicos.
- As versões de Áquila, Símaco e Teodocião: datando do se. II d.C, são novas traduções
gregas da Bíblia Hebraica para uso dos judeus que viviam fora da Palestina (diáspora). Eis o
que disse São Jerônimo a respeito dessas traduções: “Um (Áquila) procurou traduzir palavra
por palavra; o outro (Símaco) dá antes o sentido; o terceiro (Teodocião) não difere muito
dos antigos (isto é, a LXX)”.14
No começo do século III d.C., Orígenes fez um trabalho magnífico: escreveu a mão
todo o Primeiro Testamento, colocando lado a lado, em colunas, seis versões: o texto

13
Informações extraídas de WEGNER, Uwe. Exegese do Novo Testamento. 4. ed. São Paulo: Paulus; São
Leopoldo: Sinodal, 2005, p. 41.
14
S. Jerônimo, Praef. In 2 Chron. Eusebii: PL 27,223. Apud MANNUCCI, 1985, p. 13.
36
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

hebraico, uma transliteração do


hebraico com letras gregas, a LXX e
as versões de Áquila, Símaco e
Teodocião. Infelizmente, desta obra,
conhecida como Hexaplas, apenas
fragmentos foram preservados.
Em relação ao Segundo
Manuscrito do Mar Morto. Fonte: http://migre.me/h2PgU
Testamento são: Versão siríaca (da
Síria); versão latina (oriunda de várias partes do Império Romano); e versão copta (Egito).
A atenciosa comparação permitiu concluir que existiram algumas características comuns ou
tendências homogêneas na hora de copiar e transmitir os manuscritos, dando origem a
diferentes grupos de textos. Costuma-se agrupar os textos em três diferentes tipos: texto
alexandrino (possivelmente mais fiel aos originais, mais breve e menos desenvolvido em
questões de gramática ou de estilo); texto ocidental (mais livre, com maior presença de
acréscimo em relação ao originais); Texto cesareense (tipo de texto talvez surgido no Egito,
mas difundido em Cesárea; Mc 5,31-16,20 pode ter sido a cópia maior nesse estilo). Esses
três podem ter sido revisados e confrontados por Luciano (310 d.C.), dando origem ao
chamado Texto bizantino (caracterizado principalmente pela tentativa de harmonização
entre os evangelhos e pelo polimento da
linguagem). As versões usadas hoje para o
Segundo Testamento têm como base o
Textus Receptus, evidentemente confrontado
com as edições críticas. Chamamos de Textus
Receptus15 as primeiras versões impressas do
Novo Testamento Grego, adaptadas do Texto
Bizantino, feitas inicialmente por Erasmo de

Roterdan, e depois reimpresso por outras Parte da página 336 do NT em grego de Erasmo, o
pessoas. primeiro "Textus Receptus". O destaque é uma
parte de Jo 18. Fonte: http://migre.me/h2PwC
Observe esta evolução por meio do
gráfico abaixo .16

15
A expressão foi usada pela primeira vez no prefácio da segunda edição do NT grego publicada pelos irmãos
Elzevir em 1633: “Textum ergo habes nunc ab omnibus receptum, in quo nihil immutatum aut corruptum
damus”. Disponível em http://www.theopedia.com/Textus_Receptus. Acesso em 13/dez/2013.
16
Extraído de WEGNER, Uwe, 2005, p. 45.

37
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

Em substituição aos antigos rolos, começaram a surgir os códices: pedaços


pequenos de papiros eram empilhados e amarrados, dando origem ao formato do livro tal
qual o temos hoje. O Códice Alexandrino (também chamado de Manuscrito “A”), data da
primeira metade do século V e contém toda a Septuaginta, além de boa parte do Segundo
Testamento. Também é muito importante o Códice Sinaítico (“C” ou “S”) contém todo o
Primeiro e o Segundo Testamento (incluindo o Pastor de Hermas e a Carta de Barnabé). Foi
descoberto em 1959, no Mosteiro de Santa Catarina, na Região do Sinai, no Egito. Das suas
1460 páginas, cerca de 800 foram recuperadas e estão disponíveis para consulta na
internet. De grande riqueza para a pesquisa também é o Códice Vaticano (“B”) abrigado na
Biblioteca do Vaticano.

38
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

Confira aqui as imagens de alguns fragmentos de manuscritos antigos:


- Da Versão de Áquila: http://www.divine-name.info/archaeology/aquila.htm

- Da Héxaplas: http://www.gutenberg.org/files/36610/36610-h/36610-h.htm

- De antigos papiros:

- http://ccat.sas.upenn.edu/rak//lxxjewpap/PGiessB.jpg

- http://ccat.sas.upenn.edu/rak//lxxjewpap/PLitL202b.JPG

- http://ccat.sas.upenn.edu/rak//lxxjewpap/POxy1075.jpg

- Do Código Sinaítico:

- http://www.codexsinaiticus.org/en/manuscript.aspx (disponível neste site para estudo)

- http://www.snpcultura.org/vol_codex_sinaiticus_um_dos_maiores_tesouros_escritos_mundo.html

2.5 Sobre as traduções

Falemos um pouco das traduções que temos em português da Bíblia. O mundo


protestante normalmente utiliza uma tradução muito boa, de João Ferreira de Almeida.
Trata-se da primeira tradução completa para o português. A primeira edição do Segundo
Testamento data de 1691. A tradução sempre é revista (ARA é a abreviação da edição
“Almeida Revista e Atualizada”). Evidentemente, a Almeida não inclui os chamados
deuterocanônicos.
Até 50 anos atrás, no meio católico existiam duas ou três versões da Bíblia. Quase
sempre o texto era uma tradução para o português de uma Bíblia já muito usada na Europa
(caso da Bíblia Ave Maria) e que remetia à Vulgata latina (a tradução coordenada por S.
Jerônimo) ou a estudos feitos a partir das línguas originais.
Hoje esse cenário mudou completamente, sendo comum encontrarmos nas livrarias
diversas versões bíblicas, com formatos diversos. Chega a ser inevitável a pergunta: por que
tantas traduções? De fato, as variações no texto sagrado tendem a ser menores.
Entretanto, os comentários introdutórios aos livros e as notas de rodapé diferem bastante,
inclusive de acordo com a linha de pesquisa ou com a corrente de espiritualidade seguida
pelo grupo que coordena cada edição.
Num grupo de reflexão bíblica aconteceu um fato que pode ilustrar bem o que
significa para os cristãos ter em suas mãos mais de uma tradução bíblica. O animador do
encontro pediu que fosse lido em voz alta o texto de estudo, que era 1Rs 17,8-16 (a viúva

39
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

de Sarepta). Terminada a leitura, levantou-se um dos participantes e muito irritado


reclamou que havia algo de errado, pois em sua Bíblia o texto era ‘outro’. Abriu-se uma
acalorada discussão sobre em que Bíblia estava o “texto correto”. A solução encontrada
naquela situação foi refazer a leitura do texto bíblico, em todas as versões existentes no
encontro e, dialogar com o grupo sobre o peso das variações existentes, com relação ao
sentido global do texto estudado. Feito isso o encontro bíblico prosseguiu com
tranquilidade.
Atualmente existe um grande número de traduções bíblicas, sendo que em sua
maioria a partir do hebraico e do grego. Para o leitor é importante saber que tipo de Bíblia é
mais apropriada às suas necessidades de oração e/ou estudo. De modo geral indicamos
abaixo algumas versões disponíveis nas editoras e livrarias cristãs e a que público elas se
destinam:
Bíblia de Jerusalém – adaptada da tradução francesa, foi editada no Brasil
pela primeira vez em 1981 pela Paulinas (atualmente é publicada pela
Paulus) é tipicamente uma Bíblia de estudo, tendo em vista suas notas ao
pé da página, concordâncias e mapas.

Bíblia Pastoral – É uma tradução popular do texto bíblico,


suas notas ao pé da página tem forte caráter sociológico – facilitando a
ligação entre fé e vida, sendo uma Bíblia que pode ser usada tanto no
estudo quanto na oração. É publicada pela Paulus desde 1990. Uma nova
edição deve ser impressa em 2014, com novos comentários e um cuidado
especial nos nomes dados à divindade foi publicada em 2014.

Bíblia TEB – Tradução Ecumênica da Bíblia – traduzida integralmente do


original francês pela edições Loyola em 1994, é uma Bíblia muito utilizada
pelo movimento ecumênico em suas celebrações, bem como é também
um excelente texto de estudo, tendo em vista suas notas ao pé da
página e concordância bíblica. Esta versão também pode ser encontrada
em formato digital.

Bíblia do Peregrino – Tradução de uma versão bíblica espanhola. Suas


notas ao pé da página e a qualidade do texto a tornam uma excelente
Bíblia de estudo. É publicada pela Paulus.

Bíblia Sagrada – tradução da CNBB – é uma versão


atualizada da Vulgata, ainda que em confronto com os originais
hebraicos tendo sido publicada em 2001. É basicamente uma Bíblia

40
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

voltada para a liturgia, isso é, para servir como base de todos os folhetos litúrgicos, e outros
textos emanados a partir da CNBB.

Bíblia Sagrada – versão de João Ferreira de Almeida construída a partir dos


textos hebraico e grego, é publicada no Brasil desde 1967, tendo sido revisada
e atualizada pela Sociedade Bíblica do Brasil. É a Bíblia mais comum no meio
protestante do Brasil. Nela não estão presente os
deuterocanônicos.

Bíblia Ave Maria – traduzida por frei João José Pedreira de Castro, é uma
adaptação da tradução francesa dos Monges de Maredsous (Bélgica). Vem
sendo editada no Brasil desde 1958. É uma Bíblia que harmoniza as
dificuldades existentes no texto. É vista como uma Bíblia para a oração. É
editada pela Ave Maria.

Que critério adotar a escolha de uma Bíblia? Em primeiro lugar, é sempre bom ter
mais do que uma edição. A diversidade e a comparação sempre enriquecem. É bom ter
clareza do uso que deseja fazer do texto sagrado. Para aprofundar o estudo, indicamos a
Bíblia de Jerusalém, a Bíblia do Peregrino e Almeida.

É bom ter cuidado com as chamadas versões bíblicas para crianças. Normalmente
elas trazem o texto bíblico sem nenhuma anotação crítica e apresentam grandes mudanças
na linguagem, o que por vezes pode introduzir distorções acentuadas em relação ao
original. Continua em voga o uso de publicações intituladas “História(s) Sagrada(s)”, e
também é preciso ter alguma cautela com sua utilização. Antes do Concílio Vaticano II, era
corrente no meio católico a publicação desse tipo de coletânea bíblica, composta a partir de
uma seleção arbitrária de textos. Descontextualizados, os textos podem induzir o leitor a
interpretações que nem sempre se aproximam efetivamente do que o texto se propunha a
dizer. Além disso, os textos escolhidos têm a tendência de reforçar o machismo e o
patriarcado (com raras exceções, quase sempre se “esquece” das mulheres!).

Se você utiliza intensamente sua Bíblia


em grupos de reflexão bíblica e/ou participa
das diversas formas de catequese que são
desenvolvidas em sua comunidade, certamente
lhe será mais útil uma Bíblia de estudo. Nesse
tipo de Bíblia encontram-se praticamente todos
os recursos didáticos que mencionamos em
nosso curso, e o texto bíblico vem sempre
Acervo pessoal: Edmilson Schinelo
41
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

acompanhado por notas críticas, incluindo em alguns casos referências aos manuscritos
originais e às variações que eles apresentam.

Lembre-se de que uma Bíblia de estudo, por melhor que seja, será sempre fruto do
esforço teológico de um grupo de exegetas e outros especialistas bíblicos. Isso significa que
as anotações paralelas tendem a serem modificadas – incorporando os avanços na pesquisa
bíblica e as novidades na Teologia, a cada nova edição do texto sagrado.

Uma dica importante: procure ter em sua casa pelo menos duas versões bíblicas
sendo que uma delas deve ser tipicamente de estudo. É salutar para o aprofundamento nos
estudos bíblicos dedicar atenção ao modo como as diversas versões bíblicas lidam com os
textos. Para um/a estudante da teologia, é fundamental que suas leituras bíblicas sejam
acompanhadas pelo uso sistemático de comentários aos textos bíblicos, pois neles se
encontram os debates teológicos e as interpretações atualmente mais aceitas. É comum que
existam divergências e mesmo contradições entre os comentários bíblicos, cabendo ao leitor
fazer uma síntese própria.

2.6 Recursos presentes nas edições


Em geral as Bíblias disponíveis no Brasil apresentam os mesmos recursos didáticos,
tais como índice, introdução aos livros, concordância bíblica, mapas, notas ao pé da página.
Algumas chegam a trazer tabelas com pesos, moedas e medidas correntes na época de
Cristo, distribuição litúrgica dos textos bíblicos. Aprofundemos o conhecimento sobre estes
recursos:

- Índice ou Sumário: Em geral, trás a relação dos livros bíblicos, as abreviaturas


convencionais aplicadas a cada livro e a localização dos mesmos. Praticamente não há
divergência entre as versões bíblicas no que se refere a esse item, exceto na maneira de
abreviar alguns livros. Esse recurso facilita as anotações e mesmo a procura de referências
bíblicas, mas seu aprendizado é resultado de um constante manuseio da Bíblia. Caso não
tenha muita prática, procure na sua versão bíblica a página do índice e faça esse pequeno
exercício de aprofundamento: verifique os seguintes livros e em que parte da Bíblia ele
está: Daniel; Carta a Filemon; Atos dos Apóstolos, Provérbios, Eclesiástico (Sirácida),
Primeiro livro dos Reis, Deuteronômio.

- Introdução aos livros: a maioria das Bíblias traz um breve comentário para cada livro,
indicando aspectos estruturais referentes à organização e divisão do texto, como também
algumas informações no que se refere aos conteúdos teológicos presentes no texto.

42
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

Algumas Bíblias possuem também uma introdução aos grandes blocos temáticos, tais como
Pentateuco, Profetas, Evangelhos, Cartas Paulinas etc.

- Concordância bíblica: presente em algumas edições, este recurso é muito utilizado nos
estudos bíblicos populares e mesmo na catequese. Em geral, a concordância bíblica está no
final da Bíblia, sendo organizada por ordem alfabética dos principais vocábulos, veja como
exemplo um fragmento extraído da Bíblia TEB:

Procure se os textos indicados no vocábulo Decálogo efetivamente correspondem


ao tema. Depois se exercite a partir de sua própria Bíblia com os seguintes vocábulos:
Aliança, Justiça e Reino de Deus. Faça pelo menos a leitura de três passagens indicadas em
cada vocábulo.

- Mapas: Esse é um recurso essencial para que se possa entender onde estão Israel, os
povos com os quais se relacionou ao longo de sua história, as regiões e as divisões políticas
por que passou a região. Através dos mapas, percebe-se a geografia da região e, de forma
mais elaborada, pode-se chegar até mesmo a visualizar o uso teológico da realidade natural
43
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

experimentada pelo povo da Bíblia. A quantidade de mapas e a qualidade das informações


nele contidas variam de versão para versão. Alguns mapas partem de leituras mais
fundamentalistas, mas sempre ajudam. Veja como exemplo as seguintes páginas na
internet (olhe também na sua Bíblia):

- http://www.descomplicandoabiblia.com/mapas-biblicos/
- http://mapasbiblicos.blogspot.com.br/
- http://www.bibliafacil.com.br/mapas.php
- Notas de rodapé, ao pé de página e/ou nas laterais do texto: são anotações feitas pelo
tradutor ou pelo editor da Bíblia. As notas refletem as posições teológicas do tradutor e, por
isso, há grande diversidade em seu conteúdo. Sua função é auxiliar a leitura por meio de
informações complementares ou apontar ligações existentes entre aquele texto e outros
textos bíblicos. Veja como exemplo um fragmento do evangelho de Mateus na versão bíblica
da TEB:

44
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

Repare que existem duas maneiras de oferecer mais informações sobre o texto
bíblico. Na primeira delas, observe a lateral do texto onde estão indicadas passagens
bíblicas diretamente relacionadas ao tema tratado no versículo. Exemplificando, olhe o
versículo 7, nele menciona-se que Salomão gerou a Roboão. Agora veja na lateral da página
a citação bíblica sugerida (1Cr 3,10-14). Escolha outra anotação e procure relacioná-la com
o vocábulo e/ou versículo bíblico. Sempre que você queira aprofundar seu conhecimento
sobre a importância de um texto bíblico, esse deve ser um dos recursos utilizados.

A outra forma de anotação que aparece no texto é aquela que fica na parte de
baixo, também chamado de RODAPÉ, ali existem diversas informações que também serão
muito úteis no estudo e na reflexão bíblica. Na nota “a” você encontra uma leitura de
conjunto sobre os primeiros capítulos do evangelho de Mateus; já na letra “c”, há um
esclarecimento sobre o sentido do vocábulo gerar. Escolha outra passagem bíblica e
exercite o uso desse recurso didático.

- Tabelas com pesos, moedas e medidas: estas tabelas facilitam a compreensão e a


contextualização de inúmeras passagens bíblicas. Veja como exemplo a tabela de pesos e
medidas da Bíblia TEB: (também olhe na sua Bíblia e veja se encontra).

Sempre que encontrar na leitura bíblica algum versículo em que apareçam moedas,
pesos e medidas existentes no tempo de Jesus e/ou da Primeira Aliança, é conveniente que
você procure verificar o que isso realmente significa. Os autores bíblicos podem aguçar seus
ouvintes/leitores fantasiando valores ou medidas, para que estes percebam em
profundidade a mensagem que o texto quer trazer. Um exemplo: 1Rs 10,14 afirma que
Salomão recebia por ano 666 talentos de ouro (evidentemente um exagero). Neste caso, é
importante manter o original, porque é o único lugar do Primeiro Testamento em que este
número aparece. Mas é importante saber o quanto seria em quilos, quase 23.000! Ou seja,
45
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

o texto pode ser uma denúncia da exploração de Salomão sobre seu povo, assim como o
Império Romano explorou depois as comunidades cristãs (Ap 13,18).

- Quadro Cronológico: É comum em versões atuais o quadro cronológico em que estejam


detalhados em perspectiva histórica os principais acontecimentos e sua relação com Israel
e/ou com o cristianismo. Esse quadro é fundamental para se perceber as ligações entre a
história e a presença salvadora de Deus junto a seu povo. Veja um fragmento extraído da
versão bíblica da TEB:

Neste exemplo encontram-se informações históricas a partir do ano 63 a.C e vai


até o ano 4 d.C. Observe que o quadro é dividido em duas grandes colunas paralelas, no

46
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

lado esquerdo estão os acontecimentos do Império Romano (potência estrangeira que


domina a região da Palestina) e, na coluna da direita os acontecimentos mais marcantes no
contexto judaico (o início da reconstrução do templo e o nascimento de Jesus). Veja se sua
versão bíblica trás um quadro cronológico e, procure as informações referentes ao período
que vai do ano 30 d.C até 70 d.C, é nesse período que surgem as primeiras comunidades
cristãs.

- Uso litúrgico dos textos bíblicos: poucas Bíblias trazem esse recurso, interessante para
leitores/as que gostam de acompanhar no dia-a-dia as celebrações em sua comunidade.
Verifique em sua Bíblia se ela oferece esse recurso e identifique as leituras propostas para
esta semana. Como exemplo apresentamos um fragmento retirado da Bíblia Pastoral:

47
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

Antes de continuar seu estudo, realize as Atividades 2.1


e 2.2.

48
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

UNIDADE 3

FORMAÇÃO DO CÂNON E A QUESTÃO DA


AUTORIA
OBJETIVO DA UNIDADE: Apresentar uma visão de conjunto sobre a formação do cânon
do Primeiro e do Segundo Testamentos e situar o debate em torno da autoria dos textos
sagrados.

3.1 Livros canônicos

“Cânon” é uma palavra grega que significa régua (uma cana mesmo, instrumento
usado para medir). Cânon, portanto, quer dizer “medida”, “norma” ou “lista”. Na tradução
grega do livro de Gênesis, por exemplo, o termo cânon é utilizado para falar de uma medida
- nossas bíblias costumam traduzir por “cesto” – onde se colocavam os pães ou outros
alimentos (cf. Gn 40,16-18).

Nos primeiros séculos do Cristianismo, o termo “cânon” era utilizado para designar
as normas de fé e as regras de vida que cabiam no “cesto” da Igreja, o que não fugia àquilo
que as comunidades entendiam como tendo sido herança de Jesus e do período apostólico.
Esse emprego do termo perdurou até o século III. A partir do século IV, entretanto, o termo
passou a designar a relação de “livros bíblicos tidos como inspirados”.

O cânon bíblico é, portanto, a relação dos livros reconhecidos pela Igreja como
inspirados, propostos aos fiéis como Palavra de Deus. Livros canônicos são aqueles
considerados “na medida certa” da Palavra de Deus, isto é, aqueles que foram reconhecidos
como inspirados por Deus e formam o conjunto da Sagrada Escritura. Por isso são a
“medida” para avaliar a fidelidade da nossa caminhada. São o conjunto de escritos que
servem de guia à nossa caminhada de fé. Ajudam a julgar se estamos ou não no mesmo
rumo da estrada da fé que seguiram nossos antepassados (cf. Hb 11).

3.2 Sobre o cânon do Primeiro Testamento

O processo de definição do cânon tem uma longa história e não é o mesmo para
todas as denominações cristãs. Pelo ano 400, Jerônimo, que coordenou a tradução da Bíblia
49
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

para o latim (Vulgata), chamou os sete livros que não constam na “Bíblia Evangélica” de
“deuterocanônicos”.17 Deutero, em grego, significa segundo. Então, deuterocanônico
significa, por assim dizer, “canônico de segunda lista”. Note-se que alguns desses livros,
como Judite, Tobias e Eclesiástico foram escritos primeiramente em hebraico, mas o original
se tinha perdido. Quando os rabinos fixaram a lista dos livros sagrados, nos anos 80 d.C.,
eles ficaram excluídos do cânon judaico, possivelmente porque só havia cópias em grego.

Para as primeiras comunidades cristãs, a versão grega da Bíblia dos judeus, a


Septuaginta, incluindo os sete livros deuterocanônicos, constituía o Primeiro Testamento da
Igreja. Provavelmente, foi adotada porque o grego era a língua mais comum nas regiões
mediterrâneas. A partir do século IV, alguns pais da Igreja, como Jerônimo, possivelmente
por influência de rabinos judeus, começaram a questionar a presença dos livros
deuterocanônicos no cânon bíblico. Essa polêmica durou até o século XVI, quando a
Reforma Protestante adotou somente a Bíblia hebraica para o Primeiro Testamento. A Bíblia
Hebraica não contém, como já dissemos: Tobias, Judite, 1 e 2 Macabeus, Baruc, Eclesiástico
e Sabedora; também não inclui de Daniel 13-14 e Ester 10,4-16,24. Os reformadores
chamaram os “deuterocanônicos” de apócrifos.

Na ocasião, o Concílio de Trento, em 1546, definiu que os livros deuterocanônicos


deveriam ser aceitos pelos católicos “com igual devoção e reverência”.

3.3 Sobre o cânon do Segundo Testamento

Com certa ingenuidade, muita gente imagina que o Segundo Testamento tenha
ficado pronto já na era apostólica ou no máximo, no final do primeiro século. É importante
saber que, apesar do uso antigo dos atuais 27 livros, a definição do cânon é bastante tardia.
A bem da verdade, portugueses e espanhóis já haviam invadido o continente americano,
matavam os povos indígenas, escravizavam negros em nome da Bíblia, e ainda havia
discussões e debates em torno do cânon.

Não se preocupe se não entender tantas datas e nomes agora. Mas para saber
como foi complexa a formação do cânon do Segundo Testamento, veja as informações que
apresentaremos a seguir de forma resumida.

17
A distinção entre protocanônicos e deuterocanônicos foi retomada mais tarde por Sixto de Siena (sec. XVI).
Apesar de imprecisa (na verdade não havia no início uma lista fechada), perdura até hoje no mundo católico.
Eusébio de Cesareia preferiu falar de omologoumenoi e antilegoumenoi ou amphiballomenoi.

50
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

A primeira lista de livros do que veio a ser mais tarde o Segundo Testamento data
do ano 200. É um documento conhecido como Código de Muratori. Nessa lista, entretanto,
não são citadas a carta aos Hebreus, a carta de Tiago e as duas cartas de Pedro. Orígenes
(sec. III) questionou a autoria de 2 Pedro e 2 e 3 João. O cânon claromontano (que
remonta ao sec. IV) não cita a carta aos Hebreus. O cânon monseniano (cerca de 360) não
cita Hebreus e Judas. O Códice Sinaítico (sec. IV) inclui na lista do Novo Testamento a Carta
de Barnabé e um livrinho muito agradável conhecido como Pastor de Hermas; o Códice
Alexandrino (sec. V) considera como inspiradas e inclui as duas cartas de São Clemente.

Nas Igrejas do Ocidente, somente no sec. IV, as listas passam a apresentar o


cânon dos 27 livros (Atanásio, Agostinho, Concílio de Hipona - 393 e Concílio de Cartago -
397). E ainda que Jerônimo (início do sec. V), tenha se manifestado a favor de todos os
escritos do que hoje é o Segundo Testamento, São João Crisóstomo e Teodoreto de Ciro
não citam em suas listas 2 Pedro, 2 e 3 João , Judas e Apocalipse. No sec. IV, as Igrejas da
Síria usavam um cânon com 17 livros: o “Diatéssaron” (em lugar dos 4 evangelhos), o livro
de Atos e 15 cartas atribuídas a Paulo (incluindo Hebreus e três cartas aos Coríntios). Mas
não aceitavam 1,2 e 3 João, 1 e 2 Pedro, Judas, Tiago e Apocalipse.

Até o século VI, alguns pais da Igreja continuavam levantando dúvidas sobre a
carta aos Hebreus, a carta de Tiago, as duas de Pedro, a Segunda e Terceira de João, a
carta de Judas e o Apocalipse. Os principais argumentos para as dúvidas eram os seguintes:
Hebreus e a Segunda Carta de Pedro têm um estilo diferente das Cartas de Paulo e da
Primeira de Pedro respectivamente. Em Tiago e Judas, algumas questões doutrinais
pareciam suspeitas. A temática da Segunda e Terceira Cartas de João parecia muito
comum. O Apocalipse parecia muito obscuro. Todos esses questionamentos voltaram com a
Reforma Protestante no século XVI. Diante da polêmica com os reformadores, a Igreja
católica reafirmou o cânon tradicional do Segundo Testamento no Concílio de Trento em
1546.

3.4 Os livros canônicos são “suficientes” para orientar os fiéis na fé

Já sabemos que os livros do Primeiro Testamento escritos ou encontrados só em


grego são considerados canônicos pela Igreja Católica Romana, mas não o são pelas Igrejas
Protestantes. Para cada denominação cristã, os livros por ela canonizados são considerados
normativos para sua fé. A canonicidade é uma declaração de “suficiência”.

51
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

Isso quer dizer que as denominações cristãs consideram os livros canônicos


suficientes para orientar a fé de seus fiéis. São “suficientes” no que diz respeito à revelação
das verdades fundamentais da manifestação de Deus na história de seu povo, bem como de
seu plano de vida e liberdade para todas as pessoas.

A canonicidade não é uma declaração de “exclusividade”. Os livros canônicos não


são “exclusivos” porque não limitam a revelação de Deus somente aos livros que constam
no cânon. Deus sempre se revelou na história da humanidade e sempre continuará se
manifestando. Certamente você tem uma forte experiência da revelação de Deus em sua
vida. Mas os livros canônicos são textos privilegiados de revelação e projetam luzes sobre a
presença de Deus na vida do povo, das comunidades e de todas as pessoas de fé.

3.5 Livros deuterocanônicos, apócrifos e outros livros perdidos

Livros apócrifos são aqueles livros que não estão no cânon da Bíblia. Apócrifo é uma
palavra grega e quer dizer “oculto”, “guardado”. Usa-se essa terminologia porque os livros,
embora tenham sido escritos na época bíblica ou pouco depois, não constam no cânon e
são apresentados como uma manifestação de Deus revelada somente depois de ficar muito
tempo “oculta”.

Os apócrifos do Segundo Testamento são escritos em tempos posteriores ao


primeiro século da era cristã. Ficaram, pois, ocultos por algum tempo. Com algumas
exceções, os livros apócrifos não foram usados na Liturgia e na Catequese, isto é, na leitura
pública. Serviam, porém, para a leitura doméstica, particular.

Os sete livros chamados pelos católicos de deuterocanônicos (Judite, Tobias, 1 e 2


Macabeus, Sabedoria, Eclesiástico e Baruc), são chamados pelos evangélicos de “apócrifos”.
Os livros, chamados de apócrifos tanto pelos católicos quanto pelos evangélicos, são livros
que não estão em nenhuma das duas Bíblias. E como também acontece com vários dos
livros canônicos, são atribuídos a alguma figura famosa do passado. Os autores desses
textos, ou quem os leu mais tarde, atribuíram a um patrono importante da história passada
de seu povo a autoria de sua obra literária.

Os livros chamados de apócrifos tanto pelos católicos quanto pelos evangélicos


podem não ter muito valor histórico. São úteis, porém, para reconstruir as crenças
populares do judaísmo na época de Jesus, bem como de algumas correntes teológicas da
Igreja primitiva.

52
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

Os principais livros “apócrifos” que não constam nem no cânon evangélico nem no
católico, são assim classificados:

a) Apócrifos judaicos:

 Antes de Cristo: 3 e 4 Esdras, 3 e 4 Macabeus, Livro dos Jubileus, Livro de


Adão e Eva, Carta de Aristeia, Martírio de Isaías, Livro de Henoc, Testamento
dos 12 Patriarcas, Oráculos Sibilinos, Salmos de Salomão.

 Depois de Cristo: Assunção de Moisés, Livros de Baruc, Testamento de Jó,


Testamento de Abraão, Apocalipse de Abraão, Apocalipse de Moisés.

b) Apócrifos cristãos:

 Evangelhos: de Tiago, de Tomé, Evangelho árabe da Infância, História de


José, Evangelho de Pedro, de Nicodemos, de Bartolomeu, Livro de João
Evangelista, A Assunção da Virgem.

 Atos: Atos de João, de Paulo e Tecla, de Pedro, de André, de Tomé, de


Filipe.

 Epístolas: de Abgar, Carta aos Laodicenses, Epístola dos Apóstolos.

 Apocalipses: de Pedro, de Paulo, de Tomé, de Adão, Ascensão e Isaías.

Além dos livros canônicos, dos deuterocanônicos e dos apócrifos, existem ainda
outros documentos mencionados pela Bíblia, mas dos quais não se têm mais notícias. Foram
perdidos.

No Primeiro Testamento, são citados: o “Livro das Guerras de Javé” (Nm 21,14); o
“Livro do Justo” (Js 10,13; 2Sm 1,18); o “Livro dos Anais de Salomão” (1Rs 11,41); o “Livro
dos Anais dos Reis de Judá” (1Rs 14,29); o “Livro dos Anais dos Reis de Israel” (1Rs 15,31).
No Segundo Testamento, Paulo fala de cartas suas que se perderam e não são conhecidas
por nós. Isso pode ser conferido em 1Cor 15,9.

Tais informações nos permitem concluir que o cânon que hoje temos em nossas
Bíblias é fruto de uma seleção. Foi preciso optar entre deixar fora alguns livros e incluir
outros. Essa seleção foi determinada por situações de conflito na Igreja e de debates
teológicos acalorados. A intenção principal foi selecionar um conjunto de escritos que
servissem de guia à caminhada de fé. No caso do Segundo Testamento, caíram no
esquecimento e no desuso especialmente os textos que não valorizavam tanto a divindade
como a humanidade de Jesus.

53
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

3.6 Autoria dos livros da Bíblia

No mundo contemporâneo, existe maior necessidade de se saber quem é o


verdadeiro autor de uma obra. As exigências culturais e as chamadas “leis de direitos
autorais” são mais exigentes. Nem sempre foi assim na história da humanidade, muito
menos no processo de definição de autoria dos textos bíblicos.

Pessoas e comunidades de fé que somos, acreditamos que o verdadeiro autor é o


Espírito Santo. Mas Deus não escreveu ou ditou os textos para ninguém. A Bíblia é fruto de
um longo processo de muitas e muitas mãos. Antes de ser Palavra escrita, foi Palavra
vivida. Das experiências vividas, brotaram diferentes tradições orais, aos poucos recolhidas
em textos, que foram sendo modificados muitas
vezes no decorrer dos séculos. Além disso,
tradições de outros povos e outras religiões
foram sendo aproveitadas e adaptadas. A
maioria dos livros nunca recebeu a “assinatura”
de quem escreveu. Os próprios autores, ou
quem leu os livros mais tarde, costumavam
atribuir suas obras a personagens importantes
do passado. Fonte: http://migre.me/h04ar

No Primeiro Testamento, o costume de


atribuir a autoria dos livros a personagens importantes do passado é muito frequente. Um
bom exemplo é o livro do profeta Isaías. De fato, são três livros atribuídos ao mesmo autor,
mas escritos em épocas diferentes. A maioria dos textos contidos nos capítulos de 1 a 39 se
referem a Isaías, que viveu, ao lado de uma profetisa (Is 8,3), na segunda metade do
século 8 a.C. Os capítulos 40 a 55, entretanto, foram escritos por discípulas e discípulos de
Isaías, durante o exílio na Babilônia no século 6 a.C. E os capítulos 56 a 66, por sua vez,
foram acrescentados pela mesma corrente de discípulos, depois de 500 a.C., após a volta
do exílio.

Moisés, Davi e Salomão também são bons exemplos dessa prática:

a) Moisés é homenageado como patrono de toda lei

O Pentateuco (em hebraico, Torah) é atribuído a Moisés pela tradição judaica. Mas
nenhum desses livros traz informação alguma a respeito de quem seria o seu autor. Além
de ninguém ter assinado os textos, o final da obra narra a própria morte e o sepultamento

54
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

de Moisés (Dt 34). Mesmo assim, ainda hoje, a comunidade judaica atribui a Moisés a
redação do Pentateuco (cf. Jo 5,46).

É evidente que não foi Moisés o autor desse conjunto de livros. É possível que a
redação das Escrituras tenha se iniciado na época do rei Salomão. Cerca de 300 anos
separam, então os fatos do êxodo e a época em que se fez uma primeira redação a seu
respeito. Por que então associar o Pentateuco com Moisés?

Certamente isso se deve ao fato de Moisés ter sido o grande personagem que, ao
lado de Mirian e Aarão, liderou a fuga do
Egito e a caminhada pelo deserto. Ora, a
tradição antiga coloca a doação da lei no
monte Sinai, quando Moisés estava com
o povo no deserto. Consequentemente,
a tradição posterior passou a atribuir a
Moisés tudo o que tivesse a ver com lei.
E mais ainda. Passou a atribuir a Moisés
a própria autoria de todos os escritos a
respeito da lei.
Fonte: http://migre.me/h044S
Se Moisés tivesse escrito o livro
do Deuteronômio, provavelmente falaria na primeira pessoa (“eu comecei a inculcar esta
lei...”) e não na terceira pessoa (“Moisés começou a inculcar esta lei...” – Dt 1,5). E, como
já dissemos, não há como Moisés descrever sua própria morte.

b) Davi é homenageado como “padroeiro” da oração

A autoria de quase metade dos Salmos é atribuída a Davi, que tinha a fama de
poeta e cantor. Além disso, segundo os livros das Crônicas, Davi foi o grande promotor do
culto em Jerusalém. Tudo isso fez de Davi uma figura intimamente ligada à oração. Então
se atribui a ele a autoria dos Salmos, possivelmente em sua homenagem.

c) Salomão é homenageado como “padroeiro” da sabedoria

Assim também alguns livros Sapienciais são atribuídos a Salomão, embora só


tenham sido compostos até muitos séculos depois. Mas como Salomão era considerado o
maior sábio de todos os reis, a ele se atribui a autoria de tudo que tem a ver com a
sabedoria.

55
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

Também os livros do Segundo Testamento são dedicados a personagens


importantes do passado. Dos 27 livros, só se tem certeza da autoria de umas sete cartas de
Paulo e talvez do Evangelho segundo Lucas, bem como dos Atos dos Apóstolos.

Como cada livro é produção de uma determinada época, os especialistas,


analisando o jeito de falar, a linguagem, o vocabulário usado, as ideias apresentadas, os
problemas que transparecem e outros indícios, podem concluir com bastante probabilidade
se ele é ou não do autor a quem é atribuído.

Pessoas a quem se atribui a redação de muitos livros bíblicos devem ser


consideradas mais como “patronas” ou iniciadoras de uma corrente de escritos ou até
mesmo pessoas homenageadas pela comunidade que escreveu. Assim, Moisés é o patrono
de tudo o que é lei. Davi é o patrono da poesia cultual e Salomão dos escritos de sabedoria.
Isaías, por exemplo, é o iniciador de uma certa corrente dentro do movimento profético.
Discípulos seus continuam sua obra.

Muitas pessoas ajudaram a escrever as Escrituras. São homens e mulheres, jovens e


idosos, pais e mães de família, sacerdotes, profetisas e profetas, agricultores e pastores,
artesãos e pescadores, justos e pecadores. Algumas dessas pessoas eram gente instruída,
que sabia ler e escrever, outras eram pessoas simples que só sabiam contar histórias. A sua
preocupação central era ajudar na construção de um povo irmão, onde seriam valorizados
acima de tudo a justiça, o amor, a fraternidade, a verdade e a fidelidade a Deus. Cada qual,
do seu jeito, deu sua colaboração.

Antes de continuar seu estudo, realize a atividade 3.1

56
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

UNIDADE 4

INSPIRAÇÃO E VERDADE NA BÍBLIA


OBJETIVO DA UNIDADE: Definir os conceitos de inspiração e verdade
bíblica e apresentar as ciências auxiliares ao estudo da Sagrada
Escritura.

4.1 A inspiração divina das Escrituras

A inspiração é a ação de Deus sobre a pessoa/comunidade que escreve de


tal forma que se possa afirmar que Deus é o autor principal e o ser humano
o autor secundário.
(cf. Dei Verbum 11)

Antigamente, quando toda a realidade existente, em qualquer religião era explicada


pela ação de um ou de vários deuses, nenhuma situação histórica, sentimentos e sonhos,
ficava fora do desígnio divino. Nesse contexto, dizer que um livro tinha sido inspirado por
um Deus era algo natural e até mesmo esperado. Maomé afirmou que as palavras do
Alcorão foram ditadas por Alá, Moisés disse que o Altíssimo transmitiu pessoalmente os 10
mandamentos (Ex 19,3).

Na tradição da igreja católica sempre se afirmou que Deus é o ‘autor’ da Bíblia’, por
isso, o livro sagrado foi ‘escrito’ pela vontade divina. Na cultura judaica e mesmo nas
primeiras comunidades cristãs, não havia nenhuma dificuldade em perceber o mistério de
Deus intervindo diretamente na formação das comunidades e alimentando-as pelos
sacramentos e por suas palavras. A Dei Verbum ajuda a entender isso melhor ao afirmar
que:

(...) para escrever os livros Sagrados, Deus escolheu homens, que utilizou
na posse das faculdades e capacidades que tinham, para que, agindo Deus
neles e por meio deles, pusessem por escrito, como verdadeiros autores,
tudo aquilo e só aquilo que ele quisesse (DV 11).

Trazendo a memória de um povo, a Bíblia se torna porta-voz do projeto de Deus, o


que se demonstra seja nos eventos relatados, seja nas interpretações dos autores bíblicos.

Afirmar a inspiração divina dos livros que compõe a Bíblia não é acreditar em
‘mágica’ ou mesmo aceitar que Deus manipula o ser humano lhe ditando as palavras a
escrever (Tomás de Aquino afirmava que Deus é o autor principal e o ser humano é o autor

57
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

instrumental, mas um instrumento que interage). Pelo contrário, é perceber que a Bíblia
“não caiu pronta do céu”. Deus não se revela de forma mágica, nem ditou a Bíblia para
alguém. Por outro lado, revelou-se na experiência de vida, no cotidiano das pessoas e do
povo.

A inspiração divina deve ser percebida a partir das ações e da espiritualidade


vivenciada na comunidade de fé. O povo judeu (e depois as comunidades cristãs) foi
discernindo nos acontecimentos e nos relatos que deles tratavam a presença e a ação de
Deus.

Na inspiração, é importante considerar:

a) O caráter histórico/temporal: em primeiro lugar, Deus se revela em um


contexto histórico concreto; além disso, quem escreve cada texto é produto
de um contexto; por último, os próprios textos foram sendo modificados,
recebendo acréscimos em diferentes períodos históricos.

b) O caráter comunitário: a comunidade é portadora do Espírito Santo, é Povo


de Deus e Corpo Místico; na origem, houve um evento histórico (ex: saída do
Egito, movimento de Jesus); a esse evento se atribui uma dimensão salvífica
que dá origem a uma proclamação querigmática, que se encerra numa
confissão comunitária de fé.

c) A Liberdade recíproca: Se por um o ser humano se deixou conduzir por Deus,


por outro, Deus não manipulou o ser humano no processo de redação dos
textos. Podemos afirmar que a inspiração inclui um processo de liberdade
entre o Divino e o Humano.

Conclua essa reflexão lendo em sua Bíblia: 2Tm 3,14-17; 2Pd 1,20-21.

4.2 Um livro de verdades para a nossa fé

Até o Concílio Vaticano II, utilizava-se o conceito de “inerrância bíblica”.


Sabiamente, os padres conciliares adotaram a expressão “verdade bíblica”. Em primeiro
lugar, passa a ser utilizada uma expressão afirmativa: melhor do que dizer que “a Bíblia não
contém erros” é afirmar que ela contém as verdades reveladas que nos conduzem a Deus,
nosso criador e libertador.

A Bíblia é, sim o livro das verdades de nossa fé. Entretanto, nossa dificuldade
muitas vezes esteve no fato de compreendermos verdade bíblica a partir da lógica do
58
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

pensamento grego. Para o pensamento grego, a verdade é adequação do conhecimento à


realidade. Outra coisa é a verdade para o povo da Bíblia: verdadeira é pessoa fiel a seu
Deus e a seu clã. Trata-se de uma verdade existencial e não intelectual. A verdade
primordial é a Palavra de Deus, que age em favor de seu povo.

O alcance da verdade bíblica está naquilo que importa à nossa salvação e não em
outros conhecimentos de ordem natural, científica e até mesmo cultural. Além disso, é bom
saber que a Bíblia não transmite verdades acabadas, mas uma Verdade que vai sendo
descoberta, revelada: o próprio Deus.

Uma questão que precisa ser vista com muito cuidado é a confusão de quem
afirma que a Bíblia contém tudo o que o ser humano, de todos os tempos, precisa para ser
feliz. Esta posição teológica recebe o nome de fundamentalismo e ela basicamente surgiu
no final do século XIX como uma reação ao liberalismo teológico (principalmente o método
de leitura bíblica histórico-crítico). Foi sistematizada em 1940 pelo pastor batista Walter
Conner, no livro A Doutrina Cristã. O fundamentalismo parte do pressuposto de que tudo
deve estar fundado na Palavra de Deus, pois a Bíblia é infalível, contém as verdades
necessárias à vida cristã e social. Onde houver discordância entre a Bíblia e a ciência
moderna, o cristão deve ficar com a Bíblia. Onde houver diferenças quanto a usos e
costumes, deve prevalecer a opinião expressa no texto sagrado.

Para fins didáticos apresentamos alguns exemplos:

a) Lv 17,14 proíbe expressamente o uso de sangue do animal abatido na caça ou


de qualquer criatura. Numa leitura fundamentalista isso poderia justificar a
recusa de doar ou receber sangue numa transfusão. O que você pensa disso?

b) Dt 21,18-21 manda os pais entregarem os filhos rebeldes e desobedientes para


serem apedrejados. Com certeza, você jamais aceitaria isso.

c) Em Mt 6,29-30, Jesus manda arrancar o olho ou cortar a mão, caso sejam


motivo de pecado. Você concorda com os grupos que praticam isso?

d) O Salmo 137 é bonito e conhecido, mas os versículos 8-9 nos desconcertam.

No fundamentalismo, não há espaço para uma percepção simples, mas


fundamental na leitura bíblica: os textos foram escritos numa outra época, passaram por
várias redações e foram copiados a mão por mais de mil anos. Existem, até de forma
involuntária, alguns erros no texto bíblico. Um exemplo em matéria histórica e geográfica se
encontra no livro de Judite, onde Nabucodonosor é apresentado como o rei dos Assírios. Em
Js 10,12 se afirma algo inimaginável em termos astrofísicos: o sol parou durante uma
batalha.
59
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

No documento “A Interpretação da Bíblia na Igreja”, da Pontifícia Comissão Bíblica,


datado de 1993, encontra-se uma afirmação que coloca em xeque qualquer leitura bíblica
que seja fundamentalista. Diz o texto em suas conclusões:

A Bíblia, efetivamente, não se apresenta como uma revelação direta de


verdades atemporais, mas como a atestação escrita de uma série de
intervenções pelas quais Deus se revela na história humana. À diferença de
doutrinas sagradas de outras religiões, a mensagem bíblica é solidamente
enraizada na história.

A inspiração divina dos textos bíblicos só pode ser percebida quando entramos em
diálogo com a vida concreta do povo, quando situamos nossa existência diante de um Deus
que usou a história para caminhar conosco. A fé no Emanuel (Deus conosco) passa
necessariamente pela história e pelo que nela fazemos em nome de Deus.

4.3 A leitura bíblica no tratado da Revelação

Na tradição católica, juntamente com o Magistério da Igreja e a Tradição


Apostólica, a Bíblia constitui a base da fé cristã. Estes três pilares sustentam o tratado da
Revelação, isso é, o discurso teológico que nossa igreja faz sobre a ação de Deus no mundo
– também chamado de economia da salvação.

As Sagradas Escrituras fornecem os exemplos, o testemunho das ações de Deus e


de seu povo na construção do Reino de Deus. As narrativas com os milagres, as parábolas,
as ações e os gestos proféticos, a poesia dos salmos, enfim, o conjunto dos textos bíblicos
aponta para uma realidade fundamental: Deus ama, faz aliança e sustenta seu povo na
história humana e lhe assegura a vida eterna.

Por Magistério devem-se entender os ensinamentos emanados a partir das


autoridades eclesiásticas, principalmente as decisões advindas dos Concílios, além das
Encíclicas, das bulas papais e outros documentos emitidos por lideranças reconhecidas da
Igreja. Em termos mundiais, o último grande momento magisterial da Igreja Católica foi o
Concílio Vaticano II. Na América Latina, podem-se mencionar as Conferências Episcopais de
Medellín (1968), Puebla (1979) e Santo Domingo (1992) e Aparecida (2007).

O Magistério por várias vezes pronunciou-se sobre as sagradas Escrituras, visando


orientar e abrir perspectivas na reflexão e no uso espiritual dos textos bíblicos. Chama-se de
moderna leitura bíblica católica, o que se coloca em consonância com os documentos sobre
essa temática, que foram escritos nos últimos cem anos.

60
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

Eis os documentos: Carta encíclica Providentíssimus Deus (PD), de Papa Leão XIII,
em 1893; Carta encíclica Spiritus Paraclitus (SP), de Papa Bento XV, em 1920; Carta
encíclica Divino Afflante Spiritu (DAS), Papa Pio XII, em 1943; Instrução Sancta Mater
Ecclesia, da Pontifícia Comissão Bíblica, 1964; Constituição dogmática Dei Verbum (DV),
documento do Concílio Vaticano II, 1965; A Interpretação da Bíblia na Igreja, da Pontifícia
Comissão Bíblica, 1993; e a exortação apostólica pós-sinodal Verbum Domini, de Bento XVI,
2010.

Por tradição apostólica entende-se a continuidade das ações da Igreja nesses dois
mil anos de cristianismo. Apesar de crises na igreja e na própria sociedade, a mensagem
cristã sempre se fez presente, pois o Espírito Santo assegurou que nunca faltassem
testemunhas fiéis da Boa Notícia. A tradição apostólica é indicativa de que mesmo com suas
limitações a igreja é um sinal da aproximação do Reino de Deus. A Dei Verbum, em seu
número 9, demonstra a vinculação entre tradição e sagradas Escrituras:

Derivando ambas da mesma fonte divina, formam como que uma coisa só e
tendem ao mesmo fim. Com efeito, a sagrada Escritura é palavra de Deus
enquanto foi escrita por inspiração do Espírito Santo; a sagrada Tradição,
por sua vez, transmite integralmente aos sucessores dos apóstolos a
palavra de Deus, confiada por Cristo Senhor e pelo Espírito Santo aos
apóstolos, para que os sucessores destes, com a luz do Espírito de verdade,
conservem-na, exponham-na e difundam-na fielmente na sua pregação.

Sagrada Escritura, Magistério e Tradição não são compartimentos estanques,


aspectos isolados da revelação de Deus na história da sociedade e/ou da Igreja. Há um
imenso dinamismo entre essas três formas de presença misteriosa do amor de Deus pela
humanidade. Enquanto discípulos, estamos permanentemente desafiados pelos sinais dos
tempos18 a sermos coerentes em nosso seguimento a Jesus.

Em síntese a própria Dei Verbum no item 10 aponta a estreita relação entre


Magistério, Tradição e sagrada Escritura, ao afirmar que “estão de tal maneira ligados e
unidos que uma coisa sem as outras não se mantém, mas juntas, cada uma a seu modo,
sob a ação de um só Espírito Santo, colaboram eficazmente para a salvação das almas.”

4.4 As ciências auxiliares no estudo da Bíblia


Sabemos que a Igreja Católica proibiu por muito tempo que o povo tivesse a Bíblia
nas mãos e que também estimulou forte resistência a tudo o que “cheirasse modernismo”,

18
Durante a preparação do Concílio Vaticano II e em alguns de seus documentos conclusivos, essa expressão
designa o que está ocorrendo de novo na realidade, seja da igreja ou da sociedade. Não se trata de qualquer
novidade, mas daquilo que provoca na igreja novo ímpeto missionário, criatividade e capacidade de ampliar o
sentido do testemunho cristão no presente.
61
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

impedindo o diálogo da fé e da Bíblia com outras ciências. Aos poucos, esta mentalidade
vem sendo superada.
Já no final do século XIX, o pontificado de Leão XIII impulsionou os estudos
bíblicos. Mas foi o Vaticano II que abriu caminhos para o diálogo entre a fé, o estudo bíblico
e outros campos do conhecimento, tais como a História, a Arqueologia, a Antropologia e a
Linguística. Cada uma dessas ciências traz contribuições aos conhecimentos bíblicos e abre
novas perspectivas de interpretação dos textos.

a) A História

Os estudos históricos introduziram uma questão fundamental nos estudos bíblicos,


quando abriram questionamentos sobre a veracidade dos fatos e acontecimentos narrados
no texto sagrado. A crítica histórica vinha no bojo de uma crítica às igrejas e ao
pensamento teológico, e visava minimizar o papel social da religião e reduzir o impacto das
práticas religiosas no cotidiano das pessoas. Só se admitia como digno de fé científica o que
viesse comprovado por provas irrefutáveis. Foi o momento do embate entre o modernismo
e a romanização.

Superada esta fase, a pesquisa bíblica pode recorrer ao estudo das fontes
históricas existentes na Palestina e dispersas pelos países vizinhos, para conhecer a
realidade da época de Jesus, de Paulo e das comunidades cristãs.

b) A linguística

Há bastante tempo os cristãos se


interessam por estudar as línguas bíblicas (o
hebraico, o aramaico e o grego), pois ao se
aproximarem dos ‘originais’ acreditavam tocar
mais de perto a própria vontade de Deus que
neles estava expressa. Nenhuma dessas
línguas como aparecem na Bíblia são usadas Texto hebraico de Isaías 61,1-2. De acordo
com Lucas 4,16-22, foi o texto lido por Jesus
hoje, tornaram-se línguas mortas, estando
na sinagoga de Nazaré. Fonte: Bible Works.
portanto, seu vocabulário e gramática
estabelecidos em definitivo.

Para os exegetas – estudiosos do texto bíblico nas línguas originais, isso trouxe
inúmeras vantagens: a) Uma língua morta não sofre mais acréscimos quanto a novas
palavras, fato este que assegura um vocabulário razoavelmente restrito; b) Não ocorrem
62
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

mais modificações no que tange ao significado de cada palavra, cabendo ao exegeta apenas
relacionar os sentidos já estabelecidos historicamente e, quando possível determinar
quando foram agregados a uma mesma palavra outros significados; c) Estabiliza-se a
estrutura gramatical, tornando-se acessível ao estudioso o conhecimento das regras e das
exceções aceitas naquela língua.

Entretanto, a morte de uma língua


também trás limites ao trabalho do estudioso,
dentre eles destacamos: a) Fica difícil
confirmar se havia ou não uma certa distância
entre o significado atribuído às palavras e o

que acontecia em seu uso cotidiano; b) A


Texto grego de Mt 5,3-10: As Bem-
distância cultural entre os leitores de hoje e o Aventuranças. Fonte: Bible Works.

mundo descrito e/ou presente no texto amplia-se, criando em alguns casos barreiras
intransponíveis.

O Papa Leão XIII, na encíclica Providentissimus Deus, afirmava:

É, portanto, necessário para os docentes de sagrada escritura e é conveniente para


os teólogos o conhecimento profundo das línguas nas quais foram originariamente
escritos, pelos hagiógrafos, os livros canônicos. Será também coisa ótima se os
discípulos da Igreja cultivarem essas línguas, de maneira especial aqueles que
aspiram aos graus acadêmicos em teologia (PD 35)19

c) A arqueologia

Inicialmente, os estudos
arqueológicos eram vistos como parte
complementar à reflexão histórica,
condicionados ao método e a maneira
como se pensava a História no século XIX.
Gradativamente, a Arqueologia foi
tornando-se uma ciência específica, cujo
trabalho concentra-se em escavações, em
Escavações em Jericó mostram camadas de
lugares denominados sítios arqueológicos diferentes civilizações. Acervo pessoal,
Edmilson Schinelo
(terrenos em que existem ‘restos’ de uma
cultura do passado) e, pela interpretação dos dados obtidos.

A arqueologia bíblica não visa provar com achados arqueológicos a historicidade da


Bíblia, mas é fundamental para os estudos sobre a cultura judaica e sua relação com os
19
Fonte: http://migre.me/h2PWh.
63
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

demais povos que habitaram a região. Alguns achados, por sua divulgação e/ou quantidade
de material que apresentam sobre o passado, provocam especulações e mesmo
preocupação junto às igrejas. Por exemplo, houve preocupação quanto aos Manuscritos do
Mar Morto, em Kumran, mas ao mesmo tempo, ampliou-se o conhecimento sobre os
essênios e o contexto judaico do século I.

A continuidade dos trabalhos de


arqueologia bíblica, certamente trará mais
informações sobre os primeiros quinhentos anos
do cristianismo. Alguns achados em Cafarnaum
apontam nessa direção. Há vários anos atrás foi
encontrada uma casa, e seus escombros
revelaram que ela foi ampliada e ali funcionou
durante algum tempo uma igreja cristã. Mais
recentemente, num sítio arqueológico em
Ruínas de Cafarnaum. Acervo pessoal, Jerusalém, foi encontrado o que parece ser os
Edmilson Schinelo
restos de uma igreja cristã dos primeiros
séculos.

d) A Antropologia

Na medida em que os especialistas em estudos da Bíblia reuniram informações


históricas, linguísticas e arqueológicas da Palestina (Israel e povos vizinhos), tiveram que
também desenvolver chaves interpretativas sobre os dados obtidos. De fato, é tão grande o
volume de informação, que quase naturalmente são feitas comparações, constatações de
encontros e desencontros entre os povos e suas culturas na região. A Antropologia bíblica é
parte da resposta a esta situação.

Inúmeras vezes os estudiosos fizeram a si mesmos perguntas antropológicas, tais


como: o costume da circuncisão é tipicamente judaico ou existem precedentes em outras
culturas? O modo de construir as casas e de organizar a vida nas aldeias judaicas era
semelhante a outros povos da região? Os escritos judaicos que estão na Bíblia encontram
paralelos em outros povos?

Um dos aspectos centrais ao pensamento antropológico é o reconhecimento de que


em cada cultura há um vasto conjunto de símbolos e representações, que só se explicam
plenamente quando situados no contexto cultural que os originou e que os utilizou ao longo
do tempo. Nesse sentido, o que ocorreu com Israel se assemelha ao que acontece com
todos os povos.

64
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

É importante para quem lê a Bíblia (ou qualquer livro sagrado), desenvolver uma
percepção sobre o tempo e o contexto cultural em que aquelas “palavras” foram
pronunciadas e propostas como forma de conduta diante da realidade. A fidelidade a Deus
muitas vezes aparece nos textos bíblicos como observância de regras de pureza (como
aparece em diversos capítulos do Levítico), formas de se vestir e se relacionar com as
pessoas (cuidados na relação homem – mulher, restrições ao diálogo e convivência com
estrangeiros etc). Boa parte deste modo de proceder deixou de ter sentido nos tempos
atuais, pois muita coisa mudou no mundo (inclusive para melhor), tornando-se essencial
para os fiéis identificar o que permanece válido para os dias atuais.

Antes de continuar seu estudo, realize a Atividade 4.1.

65
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

UNIDADE 5

NOÇÕES DE GEOGRAFIA DA PALESTINA


OBJETIVO DA UNIDADE: propiciar ao/à estudante as noções básicas de
geografia da Palestina e oferecer instrumentos de aprofundamento no
tema.

O conhecimento básico da geografia da Palestina é fundamental para entender


melhor a Bíblia. Para isso, há vários sites com material disponível na internet. Vamos
apresentar aqui as informações indispensáveis, incentivando você a aprofundar seus
conhecimentos utilizando os mapas de sua própria Bíblia, visitando os sites já sugeridos na
unidade anterior e descobrindo outros.

Também com autorização do autor, aproveitamos o texto de Ildo Bohn Gass, em


seu livro Porta de Entrada da Bíblia (GASS, 2003 p.10). Para facilitar, relembramos os sites
anteriormente sugeridos. Apenas chamamos a atenção que algumas informações contidas
nos sites ainda são fruto da leitura fundamentalista. Não as tome “ao pé da letra”. O
material é muito bom, entretanto, para ajudar você a se familiarizar com a geografia da
região.
- http://www.descomplicandoabiblia.com/mapas-biblicos/
- http://mapasbiblicos.blogspot.com.br/
- http://www.bibliafacil.com.br/mapas.php

5.1 Um território muito pequeno

A história do povo da Bíblia teve como palco principal uma área que não passa de
uma pequena região em relação ao tamanho do nosso planeta e mesmo em relação ao
tamanho do Brasil. E menor que Sergipe, o estado menor do Brasil.
Compare os números: o Brasil tem 8 milhões, 516 mil e 37 quilômetros quadrados.
A Palestina tem apenas 25 mil quilômetros quadrados. Isso quer dizer que a Palestina é 340
vezes menor que o Brasil. No conjunto do planeta, não passa de uma pequena porção de
terra espremida entre o Mar Mediterrâneo e o Deserto Siro-arábico.
Confira nos mapas a seguir.

66
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

Observe no Mapa 1, dentro do quadro que destada a região do Oriente Médio um


destaque em vermelho, circundando a região da Palestina. Assim você tem a noção da
proporcionalidade da dimensão geográfica.

Mapa 1: O mundo e o Oriente Médio (Fonte: www.maps.google.com.br)

Veja agora em destaque o chamado Oriente Médio (Mapas 2 e 3 e 4).

Mapa 2: a Região do Oriente Médio (Fonte: www.maps.google.com.br)

67
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

Observe no Mapa 3 a geopolítica do Oriente Médio à época da segunda metade do


segundo milênio antes de Cristo.

Mapa 3: Oriente Médio no Segundo Milênio (Fonte: CEBI)

Com certeza você já conhece a expressão “Crescente Fértil". Observe no Mapa 4 as


regiões nas quais se desenvolveram grandes civilizações antigas na região do Oriente
Médio.

Veja que os grandes rios permitiram o desenvolvimento de aglomerados humanos


maiores e, posteriormente a formação de impérios. A Oeste está o Egito a “dádiva do Nilo”.
A Oeste, os rios Tigre e Eufrates banham territórios que foram sede de impérios como a
Assíria e a Babilônia.

Na Palestina não existem grandes rios. O Jordão (que será destacado nos próximos
mapas) é de muita importância para o povo palestino, mas quase insignificante se
comparado aos rios da Mesopotâmia (Mesopotâmia, em grego, significa “entre rios").

A Palestina e a Síria, mesmo sendo região de pouca água se constituíam em


espécie de corredor (de um lado o Mediterrâneo, de outro o Deserto da Arábia) sempre
disputado, inclusive como estratégia de controle dos exércitos.

68
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

Mapa 4: O Crescente Fértil (Fonte: http://migre.me/h0Jxs)

Observe agora a divisão


atual dos territórios do Oriente
Médio. Na região da Palestina
estão Israel (em bege no mapa
ao lado) e Palestina (em
vermelho) a Oeste do Jordão e a
Jordânia (em rosa) a leste. O
Estado Palestino sofre a
perseguição e o massacre do
atual Israel, com apoio dos
Estados Unidos. Não é
reconhecido como país e tem
seus territórios invadidos
cotidianamente.
Mapa 5: O Oriente Médio hoje (Fonte: http://migre.me/h0L3w)

69
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

5.2 Os nomes dados à Terra de Israel no decorrer da história

Antes de seguirmos, convém lembrar algumas informaçõe sobre os nomes dados a


essa terra no decorrer da história:
- Antes da formação do povo de Israel, isto é, mais ou menos até 1250 a.C., essa terra era
chamada Terra de Canaã. Aí viviam os povos cananeus.
- A partir da organização das tribos israelitas, passou a ser chamada Terra de Israel,
Terra Prometida ou ainda Terra Santa.
- Em 931 a.C., após a morte do rei Salomão, houve a divisão do reinado. A parte Norte ficou
conhecida como Reino de Israel. E a Sul foi chamada de Reino de Judá.-
- No tempo de Jesus, os romanos passaram a chamar toda região de Palestina.
- As três províncias mais lembradas no Segundo Testamento são: Judeia ao sul; Samaria
ao centro e Galileia ao norte.
- Hoje em dia, existem três Estados nessa região: um é o Estado Árabe da Jordânia (parte
ocupado por Israel desde 1967). O outro é o Estado de Israel, formado por judeus e
árabes. O terceiro é o Estado Árabe Palestina, previsto pela ONU (Organização das Nações
Unidas) desde 1948 e que está sendo implantado com muitas dificuldades desde 1996.

Mapa 6: Reinos de Israel e Judá


Mapa 7: Palestina do Novo Testamento
(Fonte: http://migre.me/h0Lkv) (Fonte: http://migre.me/h0Lz1 )

70
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

5.3 A Terra de Israel ocupa lugar estratégico

Mas esse pequeno pedaço de terra está localizado num lugar estratégico muito
importante, porque liga três grandes continentes, a saber: África, Ásia e Europa. A Europa
do lado oeste, onde está o Mar Mediterrâneo. A Ásia do lado leste, sul e norte e a África do
lado sudoeste. São como três grandes cordas que dão um nó na Palestina.
Tendo uma localização estratégica, era passagem obrigatória, tanto para o
comércio como para a guerra, entre os povos desses três continentes. Era a porta para os
europeus que vinham pelo mar e a ligação terrestre entre o Egito e a Mesopotâmia, que
foram o berço das mais antigas civilizações. Qualquer desequilíbrio ou conflito entre essas
grandes civilizações repercutia necessariamente na Terra de Israel, com consequências
muitas vezes trágicas.
Nos primórdios do povo da Bíblia, na época de Abraão, havia um grande fluxo
migratório entre a Mesopotâmia e o Egito. A família de Abraão foi uma família de retirantes,
como acontece tanto entre o Nordeste e Sudeste do Brasil. Como o Nordeste brasileiro,
também a Terra Prometida era uma terra sujeita à seca. Essa realidade transparece na
história de Jacó, que foi obrigado a migrar com toda a família para o Egito, conforme as
bonitas estórias da Bíblia (Gn 42ss).

5.4 O sentido religioso da Terra Prometida

Fonte: http://migre.me/h0LLI

Para o povo de Israel, a Terra Santa tem um profundo sentido religioso:


- é a herança que Deus tinha prometido a Abraão (Leia Gn 12,7; Se quiser conferir mais
citações, veja ainda 13,15; 15,18; 17,8; 26,3-5).
- é herança que não se pode vender (Leia 1 Rs 21, 1-16, especialmente os versículos 1 a 3.
Confira ainda Nm 36,7).
- é doação de Deus (Confira Js 24,2-13).
- é terra partilhada (Leia Js 13,6s).
- se é de Deus, então todos têm direito à terra. Porém, direito de uso e não de propriedade,
pois a terra pertence somente a Deus (Veja Lv 25,23).
71
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

5.5 A terra de Israel se divide em quatro faixas

Quanto ao aspecto físico do relevo,


podemos distinguir quatro faixas de oeste a leste,
isto é. desde o Mar Mediterrâneo até o deserto: a
planície litorânea (Planície do Mediterrâneo), o
planalto central, a depressão do Rio Jordão e o
planalto transjordânico (Planalto Oriental).
Fonte: http://migre.me/h0Myq Ao mesmo tempo em que você vai lendo
cada item que segue, confira as informações também nos mapas de sua Bíblia. Vamos por
partes.

Mapa 8: Relevo da Palestina (Fonte: http://migre.me/h0Nsn)

72
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

a) A planície litorânea
E uma região agrícola por excelência Ao norte, é interrompida pelo monte Carmelo
que abre a grande planície fértil de Esdrelon ou Jezrael em direção ao Mar da Galileia. A
parte sul desta planície é fértil. Nela estavam as principais cidades dos filisteus. Mais ao
centro. temos a planície do Saron ao longo da costa marítima e a Sefelá, região entre a
planície de Saron e as montanhas de Judá. Ao longo dessa faixa litorânea, passava uma das
estradas que ligava o Egito com a Mesopotâmia.

b) O planalto central
O planalto central é também chamado de montanhas da Cisjordânia. Cisjordânia
quer dizer “antes, aquém do Jordão”, naturalmente para quem se posiciona no lado oeste
do rio onde se encontra a cidade de Jerusalém. Estende-se pela região montanhosa do
interior. De norte a sul, temos:
- as montanhas de Neftali e a planície de Esdrelon ou Jezrael ao norte,
- as montanhas da Samaria ou de Efraim ao centro,
- mais ao sul, as montanhas de Judá, mais tarde Judeia, isto é, a partir da dominação dos
persas (539-333 aC.).
No planalto central, encontram-se as cidades bíblicas mais importantes: Samaria,
Siquém, Silo, Jerusalém, Belém, Hebron e outras.
Os montes que se destacam são: Meron, de 1208m de altitude, Tabor de 588m,
Garizim, de 880m, Ebal, de 940m, Silo, sobre o qual estava Jerusalém, de 770m de altitude.
No declive leste da serra de Judá, a leste e sudeste de Jerusalém, descendo até o
rio Jordão e o mar Morto, se encontra o deserto de Judá.
As regiões desérticas se ampliam em torno do mar Morto, na metade sul do vale do
Jordão e no Negueb ao sul.

c) A depressão do Rio Jordão


A depressão do Rio Jordão é a mais
profunda do planeta. Nela
se encontram:
- o leito do rio Jordão,
- o mar Morto,
- o vale de Arabá
- e, mais ao sul, o golfo de Ácaba. Fonte: http://migre.me/h0N0w

73
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

Ao norte, está o lago da Galileia, também chamado de Genezaré, Tiberíades ou


Quineret. É rico em peixes e cercado de aldeias de pescadores. Dele falam muito os
Evangelhos, pois é a região onde Jesus morou.
Pelo lago passa o rio Jordão que tem suas nascentes no alto das montanhas do
Líbano. Entre o lago de Genezaré e o mar Morto, o vale do Jordão é uma região desértica.
Aí existem alguns oásis, como Jericó. Depois de numerosas curvas, o Rio Jordão desemboca
no mar Morto. O mar Morto tem 76 quilômetros de comprimento por 17 de largura e fica a
392 metros abaixo do nível do mar. Chama-se Morto porque não oferece condições para a
vida, pois sua água é 6 vezes mais salgada do que a água dos oceanos.

d) O planalto transjordânico
O planalto transjordânico também é conhecido por planalto de Galaad ou
montanhas da Transjordânia. Transjordânica significa “além do Jordão”. Ergue-se do lado
leste do rio Jordão e vai, pouco a pouco, baixando de nível até confundir-se com o Deserto
Siro-arábico. O Monte Nebo aí se destaca (802m).
Tanto na Cis como da Transjordânia, a maioria dos rios e córregos secam no verão,
tendo água somente próximo às suas desembocaduras no Jordão. Na Transjordânia, os rios
perenes são: Jarmuc, ao norte, Jaboc, ao centro, Arnon e Zered, a leste do mar Morto.

À Esquerda a Fonte de Dã, na Alta Galileia em contraste com o Deserto da Judeia (Imagens: Edmilson Schinelo,
acervo próprio)

Antes de continuar seu estudo, realize a Atividade 5.1.

74
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

REFERÊNCIAS

BÍBLIA DE JERUSALÉM. São Paulo: Paulus, 2002.

Bento XI. Exortação Apostólica Verbum Domini. Disponível em http://migre.me/h0kyU

CONCÍLIO VATICANO II, Constituição Dei Verbum, n. 10. Cf. Compêndio do Vaticano II,
Vozes, 1987.

CRB. Leitura Orante da Bíblia. Col. Tua Palavra é Vida. V. 1. São Paulo: Loyola, 1990.

GASS, Ildo Bohn. Porta de Entrada da Bíblia. Série Uma Introdução à Bíblia. Vol 1. São
Leopoldo/São Paulo: CEBI/Paulus, 2003.

_________. As comunidades cristãs a partir da Segunda Geração. Série Uma


Introdução à Bíblia. Vol 8. São Leopoldo/São Paulo: CEBI/Paulus, 2005.

GHISLAIN LAFONT. Modelli della Teologia nella Storia. In: La Teologia tra la Rivelazione
e la Storia. Bologna: Ed. Dehoniane, 1999.

GUTIERREZ, Gustavo. O Deus da Vida. São Paulo: Ed. Loyola, 1990.

_________. Falar de Deus a partir do sofrimento do inocente. Petrópolis, RJ: Vozes,


1987.

Leão XIII. Providentissimus Deus. Disponível em:


<http://www.vatican.va/holy_father/leo_xiii/encyclicals/documents/hf_l-
xiii_enc_18111893_providentissimus-deus_en.html>. Acesso em: 12 dez. 2013.

MANNUCCI, Valério. Bíblia, Palavra de Deus: curso de introdução à Sagrada Escritura.


São Paulo: Paulinas, 1985.

PONTIFÍCIA COMISSÃO BÍBLICA. A Interpretação da Bíblia na Igreja. Disponível em:


<http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/pcb_documents/rc_con_cfaith_d
oc_19930415_interpretazione_po.html>. Acesso em: 12 dez. 2013.

SCHINELO, Edmilson. O porquê das diferenças entre os evangelhos. Disponível em:


<http://www.cebi.org.br/noticias.php?secaoId=21&noticiaId=5137>. Acesso em: 24 out.
2014.

WEGNER, Uwe. Exegese do Novo Testamento. 4. ed. São Paulo: Paulus; São Leopoldo:
Sinodal, 2005.

75
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

SUGESTÕES DE LEITURA

1. Literatura Básica Recomendada

GASS, Ildo Bohn (org). Uma Introdução à Bíblia: Porta de entrada. São Leopoldo,
CEBI/Paulus, 2002.
MANNUCCI, Valério. Bíblia, Palavra de Deus: curso de introdução à Sagrada Escritura.
São Paulo: Paulinas, 1985.

2. Literatura de apoio e de pesquisa

KONINGS, J. A Bíblia nas suas origens e hoje. 2. ed. cor. Petrópolis: Vozes, 1999.
Métodos Para ler a Bíblia. Col. Estudos Bíblicos, N. 32. Petrópolis: Vozes; São Leopoldo:
Sinodal, 1991.
HARRINGTON, Wilfrid J. Chave para a Bíblia: a revelação, a promessa, a realização. 8.
ed. São Paulo: Paulinas, 1997.
MESTERS, Carlos. A Palavra de Deus na História dos Homens. Petrópolis: Vozes,
1984.
_________. Deus, onde estás? Petrópolis: Vozes, 1987.
_________. Flor sem defesa: uma explicação da Bíblia a partir do Povo. 5. ed. Petrópolis:
Vozes, 1999.
ARRENHEVEL, D. Assim se formou a Bíblia. São Paulo: Paulinas, 1986.
VOLKMANN, Martin e outros. Método Histórico-Crítico. São Paulo: CEDI, 1992.
DE VOUX, R. As instituições do Antigo Testamento.
MOORE, E. Jesus e as estruturas de seu tempo. São Paulo: Paulinas.
SCHELLDE, K. A comunidade de Kumran e a Igreja do Novo Testamento. São Paulo,
Paulinas, 1972.
SCHARBERT, J. Introdução à Sagrada Escritura. Petrópolis: Vozes, 1983.
Estudos Bíblicos, Nº 36. Petrópolis, Vozes.
CASAGRANDE, Moacir. Deus: ontem e Hoje. 2.ed. Petrópolis: Vozes, 1998.
_________. Novo Testamento em 30 lições: um jeito fácil de entender. Campo Grande,
1992.

76
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

ATIVIDADES

ATIVIDADE 1.1

1. Releia Lucas 24,13-35 e responda:


a) Apenas um dos discípulos de Emaús teve seu nome citado. Por que há silêncio
em relação ao nome da outra pessoa? Quem você acha que poderia ser? Confira se
a citação de Jo 19,25 pode lhe dar alguma pista.
2. Afirmamos que a ressurreição é para nós ponto de partida e de chegada. Leia
com atenção os textos abaixo indicados e preencha o quadro, respondendo às
seguintes questões:
a) Quem são as mulheres que vão ao túmulo na madrugada da ressurreição?
b) Quem as avisa de que Jesus não está mais no túmulo?
c) Qual a reação das mulheres?
Mc 16,1-9 Lc 24, 1-11 Mt 28,1-10 Jo 20,1-18
Nome das
mulheres:
Que as avisa?

Reação:

Outras
diferenças:

3. Após ter preenchido o quadro, faça um texto (máximo de uma página)


explicando a razão das diferenças entre os quatro relatos.
4. Escreve um texto (máximo de uma página), explicando como a Bíblia pode ser
usada como instrumento de diálogo entre os povos e não de justificação da
intolerância ou do desrespeito religioso.

Submeta a atividade por meio da ferramenta Tarefas.

77
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

ATIVIDADE 2.1

1. Assinale a alternativa correta:


a) A expressão Segundo Testamento passou a ser usada em função do diálogo com
o judaísmo, apesar de Paulo ter utilizado a expressão Antigo Testamento em Gal
3,28.
b) A Torah, lei e caminho para os hebreus, é a parte mais importante da Bíblia
Hebraica e corresponde ao Pentateuco na Bíblia cristã, contendo os seguintes livros:
Gn, Ex, Lv, Nm e Dt.
c) A Septuaginta corresponde à tradução da Bíblia Hebraica para o grego. Nela não
se encontram os livros de 1 e 2 Mc, Ecle, Ct, Br, Jó e Sb.
d) A Vulgata, tradução realizada por São Jerônimo, não inclui os livros chamados
apócrifos pelos protestantes.

Submeta a atividade por meio da ferramenta Questionário.

ATIVIDADE 2.2

1. A respeito dos manuscritos e versões da Bíblia, responda:


a) O que são os Unciais?
b) Qual o papel da crítica textual?
2. Leia o prólogo do livro do Eclesiástico (Sirac), versículos 1-33.
a) Você consegue situar de que tradução o autor está falando?
b) O autor utiliza duas vezes a expressão “a Lei, os Profetas e o resto dos
livros”. O que significa esta expressão no contexto da Bíblia Hebraica?
3. Faça um resumo dos seguintes capítulos do documento Verbum Domini:
a) A hermenêutica da Sagrada Escritura na Igreja (números 29-49);
b) Palavra de Deus e diálogo inter-religioso (números 117 a 120).
O texto encontra-se disponível em http://migre.me/h2rWE.
4. Livros apócrifos, textos escondidos, novas descobertas... Tudo isso sempre gerou
muita curiosidade e especulação. Infelizmente, a maior parte da especulação criada
em torno desses assuntos serve mais a interesses comerciais do que ao
fortalecimento da fé das comunidades. Alguns aspectos, entretanto, merecem um

78
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

pouco mais de nossa atenção. Nessa atividade, você é convidado/a a conhecer um


pouco mais da história dos essênios.
Faça uma pesquisa abordando sua origem e sua história, seus
posicionamentos político-religiosos e seu extermínio. Dedique uma atenção
especial à descoberta dos manuscritos do Mar Morto, em 1948. Procure à
vontade na internet (essênios, Kumran, Manuscritos do Mar Morto), mas
evite sites sensacionalistas.
Uma boa sugestão é o site do professor Airton José:
http://www.airtonjo.com/artigos.htm

Submeta a atividade por meio da ferramenta Tarefas.

ATIVIDADE 3.1

É muito fácil perceber que na Bíblia há mais de uma corrente teológica. O jeito do
povo do Êxodo falar de Deus, por exemplo, é diferente do jeito de quem viveu na
corte de Salomão. Costumamos dizer que existem dois projetos ou duas linhas dentro
da Bíblia (na verdade, existem várias, mas é um jeito didático de tratarmos a
temática). Podemos afirmar que existe uma linha popular (que acredita numa
sociedade em que a Paz será fruto da Justiça) e uma linha oficial (a maioria desses
textos defende os interesses das cortes e dos grupos que controlam o poder).
Evidentemente, essas linhas se misturam, não existe apenas o “preto e o branco”.
Nesta atividade, você é convidado/a a fazer um exercício um pouco maior de
confronto de textos. Leia cada um dos textos citados na tabela abaixo e faça suas
anotações. Insistimos: leia com calma todos os textos!
O que você deve encaminhar:
a) um comentário geral sobre essas duas linhas e o que lhe chamou a
atenção.
b) um comentário específico acerca de dois dos temas abordados no
quadro abaixo (exemplo: situação das mulheres, dos estrangeiros ou dos
pobres e doentes, em relação às duas visões).
LINHA OFICIAL LINHA POPULAR

Afirma que Deus é favorável à opção pelo reinado Afirma que Deus condena a opção pelo reinado
(Primeiro Livro de Samuel, capítulo 9, versículos (Primeiro Livro de Samuel, capítulo 8, versículos 1
15 a 16 e capítulo 10, versículo 1) a 18 e capítulo 12, versículo 19)

79
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

Exclui estrangeiros (Deuteronômio, capítulo 23, Inclui estrangeiros (Rute, capítulo 1, versículos 16
versículo 4. Se quiser aprofundar, leia ainda: e 17; Isaías, capítulo 56, versículo 3; Lucas,
Esdras, capítulos 9 e 10; Neemias, capítulo 13) capítulo 10, versículos 30 a 37. Se você quiser
aprofundar mais, veja também: todo o livrinho de
Jonas e Atos dos Apóstolos, capítulos 8 e 10)

É favorável ao templo (Segundo Livro de Samuel, É crítica ao templo (Segundo Livro de Samuel,
capítulo 7, versículos 1 a 3. Se quiser ler mais um capítulo 7, versículos 4 a 7; Isaías, capítulo 66,
texto, veja o capítulo 1 do profeta Ageu) versículos 1 a 2. Para aprofundar você pode ler
ainda: Jeremias, capítulos 7 e 26; Amós, capítulo
9, versículos 1 a 4; Miqueias, capítulo 3, versículo
12; Marcos, capítulo 11, versículos 15 a 18 e
capítulo 13, versículos 1 e 2)

Religião centrada em sacrifícios e ritos externos Religião baseada na justiça e na solidariedade


(Confira somente os títulos que aparecem nos (Isaías, capítulo 1, versículos 10 a 17 e capítulo
capítulos 1 a 8 de Levítico) 58, versículos 1 a 12. Se quiser aprofundar, pode
ler ainda: Oseias, capítulo 6, versículo 6; Amós,
capítulo 5, versículos 21 a 24; Mateus, capítulo 9,
versículo 13 e capítulo 12, versículo 7

Exclui mulheres, considerando-as impuras e Inclui mulheres, valorizando sua beleza, sua
inferiores (Levítico, todo o capítulo 12 e os sabedoria, seu corpo, sua vida (Provérbios,
versículos 19 a 30 do capítulo 15; João, capítulo capítulo 31, versículos 10 a 31. Se quiser
8, versículos 1 a 11) aprofundar mais sobre a valorização da mulher,
leia os livros de Rute, Judite, Ester e Cântico dos
Cânticos. Também Jesus resgata a dignidade das
mulheres)

Condena pobres e doentes como se pobreza e Vem em defesa dos pobres e doentes, apontando
doença fossem castigo de Deus por seus pecados as verdadeiras causas da pobreza [a figura de Jó
(no Livro de Jó, seus amigos representam a representa a teologia popular de resistência (leia
teologia oficial, a teologia da retribuição. Como Jó, capítulo 24, versículos 1 a 12 e capítulo 31).
amostra, leia os capítulos 4 e 5) Jesus vem nesta mesma corrente (Lucas, capítulo
13, versículos 1 a 5; João, capítulo 9, versículos 1
a 3)]

Obriga a observância das leis de pureza exterior Coloca no seu devido lugar os mandamentos de
(Marcos, capítulo 7, versículos 1 a 5) Deus (Marcos, capítulo 7, versículos 6 a 13) e
defende a pureza do coração, livre de roubos e
injustiças (Marcos, capítulo 7, versículos 14 a 23)

Exige a circuncisão e a remoção do prepúcio no Exige a circuncisão do coração, isto é, a mudança


órgão genital masculino (Gn 17) de vida (Deuteronômio, capítulo 10, versículo 16;
Jeremias, capítulo 4, versículo 4; Carta aos
Romanos, capítulo 2, versículo 29)

Exclui pessoas com deficiências físicas (Levítico, Inclui as pessoas com deficiências (Isaías,
capítulo 21, versículos 17 a 21; Deuteronômio, capítulo 29, versículos 18 e 19; capítulo 35,
capítulo 23, versículo 2) versículos 5 e 6; capítulo 56, versículos 3 a 5;
Mateus, capítulo 11, versículos 4 e 5; Atos dos
Apóstolos, capítulo 8, versículos 26 a 40)

Fonte: GASS, 2003, p.10.

Submeta a atividade por meio da ferramenta Tarefas.


80
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

ATIVIDADE 4.1

1. Você leu nesta unidade que o conceito de verdade para o povo da Bíblia é
diferente do que nós, influenciados/a pela racionalidade grega,
entendemos por verdade.
a) Explique com suas palavras o que é verdade para o mundo grego e o que é a
verdade para o mundo semita.
b) Leia Jo 8,31-32; Jo 18,37-38; Mt 10,26-28. Depois escreva um texto (máximo de
uma página) comentando o que é a verdade para Jesus.
2. Suponha que na sua comunidade um grupo de jovens se sinta desconfortável ao
ler textos como esses: Sl 137(136),8-9; Dt 23,2-3; 2Rs 23,25. E pede a você que
explique o conceito de inspiração bíblica. Produza um pequeno texto (máximo de uma
página) buscando apresentar uma resposta que não seja autoritária, mas madura e
convincente.
Faça um estudo do documento Dei Verbum (que se encontra disponível em
(http://migre.me/h0kov). Apresente seu comentário pessoal ao documento
(máximo duas páginas).

Submeta a atividade por meio da ferramenta Tarefas.

ATIVIDADE 5.1

1. Leia as citações abaixo e identifique nos mapas as localidades apontadas (use os


mapas sugeridos nesta unidade, os de sua Bíblia ou outros que você tiver à
disposição). A seguir, descreva a localização aproximada da cidade, da aldeia ou
outro lugar apontados.
Exemplo: “Bersabeia (ou Berseba), citada em Gn 22,19, localiza-se ao Sul da Judeia,
já no Deserto do Neguev...”. Para aprofundar, recorra à internet. Veja essa sugestão:
http://www.cafetorah.com/portal/Tel-Beer-Sheva
Confira: Gn 22,19; Gn 32,11; Gn 32,23; Gn 35,1; Js 6,2; Jz 16,1; Mc 7,24; Mc 8,27;
Jo 2,1; At 11,3.

81
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335
UCDB VIRTUAL

2. Leia Lc 3,1-3. Identifique no mapa todos os lugares citados. Pesquise e comente


a respeito das pessoas mencionadas no texto (Em período e em que região
governaram? Que função exerceram?)
3. Explique por que, apesar de ser um território pequeno, a Palestina ocupa um
lugar estratégico na região.
4. Para o povo da Bíblia, Palestina, “terra prometida”, tem um sentido religioso.
Comente essa afirmação levando em conta os seguintes textos bíblicos: Lv 25,23; Js
24,2-13; Sl 24,1-2; Is 66,1-3.
5. Faça uma pesquisa sobre a situação atual do conflito entre judeus e palestinos
sobre a posse da terra em Israel/Palestina. Apresente um resumo a respeito de no
máximo uma página.

Submeta a atividade por meio da ferramenta Tarefas.

82
www.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335

Potrebbero piacerti anche