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Universidade regional do noroeste do estado do rio grande do sul – unijuí

vice-reitoria de graduação – vrg


coordenadoria de educação a distância – CEaD

Coleção Educação a Distância


Série Livro-Texto

Elenise Felzke Schonardie

noções básicas de direito


processual constitucional e a proteção
dos direitos fundamentais

Ijuí, Rio Grande do Sul, Brasil


2013
 2013, Editora Unijuí
Rua do Comércio, 1364
98700-000 - Ijuí - RS - Brasil
Fone: (0__55) 3332-0217
Fax: (0__55) 3332-0216
E-mail: editora@unijui.edu.br
Http://www.editoraunijui.com.br
Editor: Gilmar Antonio Bedin
Editor-adjunto: Joel Corso
Capa: Elias Ricardo Schüssler
Designer Educacional: Jociane Dal Molin Berbaum
Responsabilidade Editorial, Gráfica e Administrativa:
Editora Unijuí da Universidade Regional do Noroeste
do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí; Ijuí, RS, Brasil)

Catalogação na Publicação:
Biblioteca Universitária Mario Osorio Marques – Unijuí

S363n Schonardie, Elenise Felzke.


Noções básicas de direito processual constitucional e a proteção
dos direitos fundamentais / Elenise Felzke Schonardie. – Ijuí : Ed.
Unijuí, 2013. – 62 p. – (Coleção educação a distância. Série livro-
texto).
ISBN 978-85-419-0062-1
1. Direito. 2. Direito processual constitucional. 3. Direitos fun-
damentais. I. Título. II. Série.
CDU : 34
347.9
Sumário

ABREVIATURAS..............................................................................................................................5

CONHECENDO A PROFESSORA.................................................................................................7

APRESENTAÇÃO............................................................................................................................9

UNIDADE 1 – A JURISDIÇÃO E JURISDIÇÃO CONSTITUCIONAL.....................................11

Seção 1.1 – Breves Apontamentos.................................................................................................11

UNIDADE 2 – O CONTROLE DA CONSTITUCIONALIDADE.................................................15

Seção 2.1 – O Sistema Brasileiro de Controle da Constitucionalidade das Leis........................15

Seção 2.2 – Do Controle Concentrado da Constitucionalidade...................................................22

Seção 2.3 – Da Intervenção do Amicus Curiae............................................................................32

UNIDADE 3 – A PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL DOS DIREITOS


FUNDAMENTAIS DO HOMEM........................................................................35

Seção 3.1 – Dos Direitos e Garantias Fundamentais...................................................................35

UNIDADE 4 – OS PROCEDIMENTOS CONSTITUCIONAIS EM ESPÉCIES.......................39

Seção 4.1 – Ação Civil Pública......................................................................................................40

Seção 4.2 – Ação Popular...............................................................................................................41

Seção 4.3 – Habeas Corpus............................................................................................................42

Seção 4.4 – Habeas Data...............................................................................................................44

Seção 4.5 – Mandado de Segurança (individual e coletivo) – lei n. 12.016/09..........................45

Seção 4.6 – Mandado de Injunção................................................................................................48

Seção 4.7 – Ação de Impugnação de Mandato Eletivo (AIME)..................................................49

REFERÊNCIAS..............................................................................................................................51

ANEXO 1 – LEI N. 9.868/99..........................................................................................................53


EaD

Abreviaturas
noções básicas de direito processual constitucional e a proteção dos direitos fundamentais

ADC ou Adecon................................................. Ação Direta de Constitucionalidade


ADI ou ADIn...................................................... Ação Direta de Inconstitucionalidade
ADInO................................................................ Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão
ADPF......................................................................... Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental
Aime................................................................... Ação de Impugnação de Mandato Eletivo
AP....................................................................... Administração Pública
CE...................................................................... Constituição Estadual
CF....................................................................... Constituição Federal
CP....................................................................... Código Penal
CPC.................................................................... Código de Processo Civil
CPP.................................................................... Código de Processo Penal
EC...................................................................... Emenda Constitucional
HC...................................................................... Habeas Corpus
HD..................................................................... Habeas Data
MI...................................................................... Mandado de Injunção
MIC.................................................................... Mandado de Injunção Coletivo
MS..................................................................... Mandado de Segurança
MSC................................................................... Mandado de Segurança Coletivo
PGR.................................................................... Procurador Geral da República
PGJ..................................................................... Procurador Geral de Justiça
RE....................................................................... Recurso Extraordinário
RESP.................................................................. Recurso Especial
RGS.................................................................... Rio Grande do Sul
RISTF................................................................. Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal
RO...................................................................... Recurso Ordinário
STF..................................................................... Supremo Tribunal Federal
STJ..................................................................... Superior Tribunal de Justiça
STM................................................................... Superior Tribunal Militar
TSE.................................................................... Tribunal Superior Eleitoral
TST..................................................................... Tribunal Superior do Trabalho
TRE.................................................................... Tribunal Regional Eleitoral
TRF..................................................................... Tribunal Regional Federal
TRT..................................................................... Tribunal Regional do Trabalho
TJ....................................................................... Tribunal de Justiça

5
EaD

Conhecendo a Professora
noções básicas de direito processual constitucional e a proteção dos direitos fundamentais

Elenise Felzke Schonardie

Natural de Ijuí, RS, é doutora em Ciências Sociais pela Unisinos


(2010). Formou-se em Direito pela Universidade Regional do Noroeste
do Estado do RS – Unijuí (1997) e possui Mestrado em Direito pela Uni-
versidade de Santa Cruz do Sul (2001). Atualmente exerce a advocacia,
é professora do Programa de Mestrado em Direitos Humanos da Unijuí,
vinculada à linha de pesquisa “Direitos Humanos, Meio Ambiente
e Novos Direitos” e professora da Graduação do curso de Direito da
Unijuí e da Universidade de Passo Fundo – UPF. Tem experiência na
área de Direito e Ciências Sociais, com ênfase em Direito Ambiental,
Constitucional, Econômico e Empresarial, atuando principalmente nos
seguintes temas: direito penal ambiental, dano ambiental, instrumentos
processuais de proteção ambiental, agentes públicos e responsabilida-
de ambiental, sustentabilidade, desigualdades sociais, meio ambiente
urbano, direito econômico e controle de constitucionalidade. É autora
de várias obras jurídicas, dentre elas: Dano ambiental: a omissão dos
agentes públicos; Ambiente e Justiça Ambiental; e inúmeros artigos e
capítulos de livros.

7
EaD

Apresentação
noções básicas de direito processual constitucional e a proteção dos direitos fundamentais

O Direito Processual Constitucional, como disciplina específica, tem por escopo o estudo
dos instrumentos necessários para efetivar os preceitos estabelecidos na Constituição Federal e
compreende o rol de normas e princípios processuais que tem por finalidade regular a jurisdi-
ção constitucional. De um lado, abrange a tutela constitucional dos princípios fundamentais da
organização judiciária e do processo; de outro, a jurisdição constitucional.

Para doutrinadores processualistas constitucionais “O processo constitucional visa a tutelar


o princípio da supremacia da Constituição, protegendo os direitos fundamentais. Várias ações e
recursos estão compreendidos nessa esfera protecionista e garantista” (Baracho, 2008, p. 45). E
mais, há que se compreender que o processo constitucional não é apenas um direito instrumental,
mas uma metodologia de garantia dos direitos fundamentais, preceituados na Carta Magna.

O professor Baracho (2008), utilizando-se das lições de Chivenda, refere que a relação
processual é de movimento, pois trata-se de ação (atuação, batalha, combate), enquanto as par-
tes e o juiz se ocuparem da relação substancial que é o objeto do juízo, vivem eles mesmos uma
atuação que desenvolve em razão das suas atitudes (do procedere). Inicialmente é necessário
observar, no que se refere às partes e ao juiz, se a relação está validamente constituída, pelo que,
preliminarmente, examina-se se estão presentes as condições para proceder essa operação.

Por intermédio da relação processual que se estabelece, apreende-se a condição de litigante/


demandante de quem solicita a atuação judicial, bem como o interesse que serve de base para a
obtenção da intervenção judicial pleiteada. O sujeito que recorre à jurisdição adota uma postura
que exige a pretensão. Assim, deve demonstrar a solidez, com fundamentação. O conteúdo da
pretensão é o direito material que se faz valer em juízo. Na pretensão, “o direito material e o di-
reito subjetivo de ação consolidam-se na demanda, que é o ato processual específico” (Baracho,
2008, p. 47).

É importante lembrar que o processo judicial é o conjunto de atos dirigidos para cumprir
uma finalidade: aplicação da norma, investigação de um fato, solução de um conflito, etc. E que
o procedimento é a sequência de atos coordenados, a maneira como o processo se exterioriza e
se materializa no mundo jurídico. Ou seja, o procedimento é a expressão visível do processo.

Considerando que o Direito Processual é o conjunto de princípios e normas que disciplinam


a aplicação, ao caso concreto, das normas de Direito material, pode-se afirmar que o processo tem
uma finalidade instrumental, garantista e sociopolítica, na medida em que os institutos de Direito
Processual Constitucional podem atingir sua finalidade, que é investigar a verdade e distribuir
justiça (Siqueira Júnior, 2011). Dessa forma, o processo constitucional assegura a vontade da
Constituição e consagra o bem comum do Estado Democrático e Social de Direito.

9
EaD

Unidade 1
noções básicas de direito processual constitucional e a proteção dos direitos fundamentais

A JURISDIÇÃO E JURISDIÇÃO CONSTITUCIONAL

OBJETIVOS DESTA UNIDADE

Compreender o que significa a jurisdição, em especial a jurisdição constitucional, a im-


portância acerca da independência e separação dos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário
para o Estado Democrático de Direito.

A SEÇÃO DESTA UNIDADE

Seção 1.1 – Breves Apontamentos

Seção 1.1

Breves Apontamentos br

de
1
A função jurisdicional exercida pelo poder Judiciário tem
por objetivo aplicar o Direito aos casos concretos a fim de dirimir at

conflitos de interesses. O poder de aplicar a lei ao caso concreto,


po
com a autoridade da coisa julgada, o que torna as decisões judiciais
imutáveis, é tarefa afeta ao poder Judiciário, que o faz por intermé-
20
dio de seus membros – juízes, desembargadores e ministros.

di

20

1
Disponível em: <http://www.jornalcidadeaberta.com.br/noticias/geral/geral/inaugurado-centro-judiciario-de-solucao-
de-conflitos-e-cidadania-em-osvaldo-cruz/>. Acesso em: 14 abr. 2013.
br
11
em
EaD
Elenise Felzke Schonardie

Assim, a jurisdição realiza-se por meio de um processo judicial e encontra seu limite tanto
na legitimidade quanto na competência.2 Os juízes realizam o exercício de sua judicatura dentro
de seus âmbitos de competência, pois este é o limite da jurisdição.3 De modo objetivo, podemos
afirmar que a jurisdição é a função do Estado destinada a resolver conflitos de interesses que
ocorrem com o objetivo de resguardar a ordem jurídica e social.

O artigo 1º da Constituição estatui que a República Federativa do Brasil formada pela união
indissolúvel dos Estados e municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático
de Direito. O parágrafo único do referido artigo esclarece que todo poder emana do povo, que o
exerce por meio de representantes eleitos diretamente. O Estado Democrático de Direito é um
dos conceitos políticos fundamentais do mundo moderno, pois traz, em seu bojo, um padrão
histórico de relacionamento entre o sistema político e a sociedade civil, institucionalizado por
meio de ordenamento jurídico-constitucional que se desenvolveu e consolidou-se em torno de
um conceito de poder público, o qual diferencia a esfera pública da esfera privada, os interesses
coletivos dos individuais, o sistema político-institucional do sistema econômico, o plano político-
partidário e o político administrativo.4

No aspecto organizacional dos três poderes estatais – Executivo, Legislativo e Judiciário


– o próprio texto constitucional determina, de forma expressa, as atribuições e competências de
cada um. A Constituição Federal prescreve, expressamente, limitações ao governo nacional e
aos Estados federados, e institucionaliza a separação dos poderes.

Há, no entanto, mecanismos de controle, mediante os quais cada um dos poderes controla
o outro, cabendo ao Judiciário uma espécie de salvaguarda para eventuais rupturas. Isso porque
um ato de governo contrário à Constituição é um ato de poder ilegítimo, ou o exercício de auto-
ridade por parte do governo que vá além dos limites estatuídos no texto constitucional passa a
ser um exercício de poder ilegítimo. “A Constituição determina a autoridade que o povo atribui
a seu governo, e, ao fazê-lo, estabelece limites” (Matteuci apud Streck, 2002, p. 97).

A Constituição escrita apresenta várias características, dentre as quais a legitimidade e a


função. Quanto à legitimidade, podemos referir que assegura que o conteúdo de seu texto emana
da vontade do povo e representa o consenso racional dos cidadãos. No que diz respeito à função,

“Exercendo-se sobre todo o território nacional, por vários motivos deverá a jurisdição ser repartida entre muitos
2

órgãos que a exercem. A extensão territorial, a distribuição da população, a natureza das causas, o seu valor, a sua
complexidade, esses e outros fatores aconselham e tornam necessária, mesmo por elementar respeito ao princípio da
divisão do trabalho, a distribuição das causas pelos vários órgãos jurisdicionais, conforme suas atribuições, que são
previamente estabelecidas. (...) Diz-se que um juiz é competente quando, no âmbito de suas atribuições, tem poderes
jurisdicionais sobre determinada causa” (Santos, 1995, p. 194).
Podemos afirmar que o objetivo do Estado no exercício da função jurisdicional é assegurar a paz jurídica pela atuação
3

da lei disciplinadora da relação jurídica em que se controvertem as partes.


Ver sobre a evolução do constitucionalismo em Streck, Lenio Luiz. Jurisdição constitucional e hermenêutica: uma nova
4

crítica do Direito. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2002, p. 95.

12
EaD
noções básicas de direito processual constitucional e a proteção dos direitos fundamentais

a Constituição escrita garante os direitos dos cidadãos, impedindo que o Estado os viole e também
impede a instauração de um governo autoritário e ilimitado; ao contrário, o governo deve observar
certos limites, impostos no próprio texto constitucional, para ser considerado legítimo.

Segundo Ferrajoli (1995), a Constituição consiste no sistema de regras, substanciais e for-


mais, e que têm como destinatários os cidadãos, titulares do poder. Impondo a todos os poderes
– Executivo, Legislativo e Judiciário – imperativos negativos e positivos como manancial de sua
legitimação e, sobretudo, de deslegitimação.

É uma função de limite e de sujeição, na qual os indivíduos (cidadãos) encontram a garantia


aos direitos fundamentais, cuja titularidade lhes é inerente, constituindo o verdadeiro sentido
da democracia e da soberania do povo. Em outras palavras, tem-se a Constituição como norma
diretiva fundamental e garantidora, que dirige os poderes públicos e condiciona os particulares,
visando à realização dos valores constitucionais, como os direitos sociais.

Ao tratarmos da questão da jurisdição constitucional, no entanto, observamos certa sobres-


saliência do poder Judiciário não apenas em fiscalizar, mas, inclusive, em controlar e anular atos
dos poderes Legislativo e Executivo – estes legitimamente eleitos pelo voto popular, represen-
tantes da vontade do povo. Neste momento uma questão deve ser levantada: “Como é possível
que juízes (constitucionais ou não), não eleitos pelo voto popular, possam controlar e anular leis
elaboradas por um poder eleito para tal e aplicadas por um poder Executivo também eleito?”
(Streck, 2002, p. 99).

O regime democrático e a realização dos direitos fundamentais são fatores de coexistência


necessárias para o constitucionalismo contemporâneo. Dessa forma, faz-se necessário ao Esta-
do Democrático de Direito uma Justiça constitucional, como condição de possibilidade deste
Estado.

Segundo Moreira (1993), a existência de uma jurisdição constitucional tornou-se requisito


obrigatório de legitimação e de credibilidade política dos regimes constitucionais democráticos.
Consequentemente, a jurisdição constitucional passou a ser considerada elemento necessário à
própria definição de Estado Democrático.

Para Streck (2002, p. 101), “é preciso analisar e compreender o papel destinado à Justiça
Constitucional no confronto com os poderes do Estado, seus limites através da jurisdição cons-
titucional e as condições de possibilidades do exercício da assim denominada ‘liberdade de
conformação do legislador’”.

13
EaD
Elenise Felzke Schonardie

Essa liberdade do legislador é tida como variável, conforme a espécie de direitos em


questão. Por exemplo, quando a questão refere-se a direitos de liberdades individuais há certa
restrição, limitação, nessa liberdade do legislador. Quando, no entanto, trata-se de questões
referentes a prestações sociais e/ou liberdades econômicas, a liberdade do legislador adquire
certa ampliação, elasticidade.

A Justiça constitucional é encarregada de realizar o controle da constitucionalidade do


ordenamento jurídico do país. O juiz constitucional, no caso brasileiro o ministro membro do Su-
premo Tribunal Federal, aplica o Direito, no entanto o faz com certa carga de valoração política,
na medida em que sua indicação ao exercício da função ocorre por indicação política.

Há, todavia, que se compreender que de forma indireta, considerando os órgãos encar-
regados de elaboração e os órgãos de fiscalização do cumprimento dessas leis, o Judiciário é,
sobretudo, o órgão que aprecia e julga o descumprimento da lei, bem como, por intermédio de
um tribunal que diz ser constitucional, realiza o controle de constitucionalidade das normas
editadas pelos demais poderes, visando a evitar o descumprimento ou violações dos dispositivos
legais de proteção aos direitos fundamentais.

Síntese da Unidade 1

Nesta Unidade estudamos a jurisdição constitucional e os mecanismos


de controle e independência dos poderes, por meio dos quais cada po-
der (Legislativo, Executivo e Judiciário) controla o outro. Ao Judiciário,
porém, cabe uma espécie de salvaguarda para eventuais rupturas da
independência e equilíbrio entre os mesmos. Isso porque um ato de
governo contrário à Constituição é um ato de poder ilegítimo.

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EaD

Unidade 2
noções básicas de direito processual constitucional e a proteção dos direitos fundamentais

O CONTROLE DA CONSTITUCIONALIDADE

OBJETIVOS DESTA UNIDADE

Compreender o sistema brasileiro de controle de constitucionalidade das leis, em especial


o controle concentrado e a possibilidade de intervenção da figura do amicus curiae, nas ações
de controle de constitucionalidade.

AS SEÇÕES DESTA UNIDADE

Seção 2.1 – O Sistema Brasileiro de Controle da Constitucionalidade das Leis

Seção 2.2 – Do Controle Concentrado da Constitucionalidade

Seção 2.3 – Da Intervenção do Amicus Curiae

Seção 2.1

O Sistema Brasileiro de Controle da Constitucionalidade das Leis

As leis emanadas do processo legislativo de sua criação e submetidas à sanção ou veto


presidencial (poderes Legislativo e Executivo) podem, de certo modo, ofender a Constituição, seja
mediante o procedimento de sua criação ou seja pelo conteúdo violador aos direitos e garantias
constitucionalmente previstos no texto da Carta Maior. Há que se considerar que o órgão legis-
lativo, ao derivar da Constituição sua competência, não pode introduzir no sistema jurídico leis
contrárias às disposições constitucionais, sob pena de essas serem reputadas nulas, inaplicáveis
e inconsistentes com a ordem jurídica estabelecida (Bonavides, 2003).

15
EaD
Elenise Felzke Schonardie

1
O controle de constitucionalidade pode ser formal ou material. O
controle formal, pelo órgão competente, ocupa-se da verificação de
conformidade do processo de elaboração da lei, se houve correta ob-
servância das formas estatuídas, se a obra do legislador não infringe
preceitos constitucionais pertinentes à organização técnica dos pode-
res, tanto em suas relações horizontais quanto verticais, observando-se
a divisão dos poderes estatuída na Constituição.

O controle material incide sobre o conteúdo da norma, e é entendido como frágil pelos
doutrinadores, em razão do seu elevado teor político, que outorga a quem o exerce competência
para decidir sobre o teor e matéria da regra jurídica em questão.

Quanto ao órgão que exerce o controle de constitucionalidade, dependendo do Estado em


questão, pode ser realizado por um órgão político, como o ocorrido na história das instituições
francesas2 em 1852 e 1946 ou por um órgão jurisdicional, este último objeto de nosso interesse.

O controle jurisdicional da constitucionalidade da lei é a entrega do exercício dessa com-


petência a um órgão jurisdicional, no entanto, no caso brasileiro, essa determinação emana do
próprio texto constitucional, como trataremos em seguida.

Nascido nos Estados Unidos,3 o controle jurisdicional de constitucionalidade resulta da


reflexão acerca da supremacia da Constituição sobre as leis ordinárias, pois o princípio das Cons-
tituições rígidas impõe, necessariamente, a supremacia desta sobre as leis ordinárias.

Ademais, os poderes do Legislativo e Executivo são definidos e limitados na Constituição


escrita, isso porque nenhum ato legislativo ou executivo que contrarie a Constituição pode ter o
condão de modificá-la, ao contrário, é a Constituição que controla todo ato legislativo e executivo.
Em poucas palavras: todo ato legislativo ou normativo que contrariar o texto constitucional de
organização do Estado deve ser declarado inconstitucional.

O constitucionalismo norte-americano construiu esse mecanismo de verificação de cons-


titucionalidade das leis infraconstitucionais pelo poder Judiciário, por intermédio de inúmeros
precedentes. Foi, no entanto, por meio da decisão do caso Marbury vs. Madison, relatado pelo juiz

1
Disponível em: <http://www.concursospublicos.pro.br/ultima-palavra-da-jurisprudencia/concursos-publicos-
jurisprudencia-stf-constitucional-controle-constitucionalidade-lei-estadual-atuacao-agu-vacancia-cargo-governador-
escolha-ministro-quinto-porte-municao-tipicidade-regime-tributario>. Acesso em: 14 abr. 2013.
2
“O controle por um órgão político, na história das instituições francesas, conheceu outras tentativas igualmente
malsucedidas: a do Senado da Constituição de 14 de janeiro de 1852 e a do Comitê Constitucional da Constituição
de 27 de outubro de 1946. O primeiro se transformou praticamente numa segunda Câmara Legislativa, enquanto o
segundo se caracterizou por seu desempenho medíocre e obscuro” (Bonavides, 2003, p. 300).
3
[...] A Constituição federal dos Estados Unidos, de 1787, em seu artigo VI, cláusula 2º, dispunha: “Esta Constituição
e as leis dos Estados Unidos que se fizerem para aplicá-las serão a lei suprema do país; e os juízes em cada Estado
a ela se vincularão (...)”, ou no teor do art. III, Seção 2, §1º, que rezava: “O poder Judiciário se estende a todas as
causas, de direito ou de eqüidade, que terão sua fonte nesta Constituição, ou mais nas leis dos Estados Unidos e nos
tratados celebrados debaixo de sua autoridade” (Bonavides, 2003, p. 306).

16
EaD
noções básicas de direito processual constitucional e a proteção dos direitos fundamentais

presidente da Suprema Corte Norte-Americana, John Marshall, em 1803, que a tese da supre-
macia da lei constitucional sobre a lei ordinária ganhou força, visibilidade e aceitação. Segundo
a análise de John Marshall, é dever do poder Judiciário declarar o Direito e, caso uma lei venha
a colidir com a Constituição, ou se ambas se aplicam a uma determinada causa, à Corte compete
determinar qual das regras antagônicas se aplica ao litígio. Desde então, estabeleceu-se um “sis-
tema americano de controle que consagra a via de exceção, de maneira que todo tribunal federal
ou estadual, independente do seu grau hierárquico, poderá exercitar esse controle, sentenciando
numa demanda a inconstitucionalidade da lei” (Bonavides, 2003, p. 311).

A Europa não seguiu o modelo americano para assegurar a supremacia das normas cons-
titucionais. A partir do século 20, com base nas ideias de Kelsen, desenvolveu-se o controle de
constitucionalidade em abstrato, exercido por um órgão não pertencente ao poder Judiciário, um
Tribunal ou Corte Constitucional que examina a lei em questão com efeitos erga omnes (contra
todos).

O controle jurisdicional de constitucionalidade das leis, entretanto, aplica duas formas


básicas, a saber: o controle por via de exceção (controle concreto) e o controle por via de ação
(controle abstrato).

O controle por via de exceção,4 é o controle por via incidental, pois aplica-se às inconstitu-
cionalidades legislativas quando, no curso de uma demanda judiciária, uma das partes arguiu, em
defesa de sua causa, a objeção de inconstitucionalidade da lei que se lhe quer aplicar. É essencial
a existência do caso concreto e da provocação de uma das partes para ocorrer a intervenção do
Judiciário, cujo julgamento se estende unicamente às partes litigantes. Isto é, a sentença que
liquida a controvérsia constitucional não conduz à anulação da lei, mas tão somente a sua não
aplicação ao caso particular, objeto da demanda. O efeito da decisão é, somente, inter partes.

O sistema de controle por via de ação é o controle in abstracto da norma, e trata-se de


um controle direto, na medida em que, por meio de uma ação de inconstitucionalidade prevista
formalmente no texto constitucional, impugna-se perante determinado tribunal5 uma lei, que

Para Alfredo Buzaid (apud Bonavides, 2003, p. 304), os princípios que regem a declaração de inconstitucionalidade
4

pela via da exceção são: a) o tribunal não se pronunciará sobre a constitucionalidade de uma lei, exceto em litígio
regularmente submetido ao seu conhecimento; b) nenhum tribunal se manifestará sobre a validade de uma lei senão
quando isso for realmente necessário para a decisão do caso concreto; c) a declaração de inconstitucionalidade da
lei importa na sua não aplicação ao caso concreto, não tem o condão de revogá-la, fazê-la sumir do ordenamento
jurídico; d) o exame sobre a inconstitucionalidade representa questão prejudicial, não a questão principal da lide,
ou seja, não configura como objeto do processo e dispositivo da sentença; e) o tribunal só conhecerá da alegação de
inconstitucionalidade quando ela emanar de pessoa, cujos direitos tenham sido ofendidos pela lei.
O órgão competente para julgar a ação de inconstitucionalidade da lei poderá ser um tribunal ordinário, como uma
5

corte especial, a exemplo dos chamados tribunais constitucionais, dotados, para este fim, de jurisdição específica
(Bonavides, 2003). Nessas condições, questionava-se a devida observância à repartição dos poderes do Estado e o
distanciamento deste sistema do cidadão.

17
EaD
Elenise Felzke Schonardie

poderá perder sua validade constitucional. Se a lei em questão for declarada inconstitucional,
ela será removida da ordem jurídica com a qual se apresenta incompatível, sendo assim anulada
erga omnes.

Em síntese, pode-se apresentar o seguinte quadro, com relação às formas, órgãos e critérios
de controle de constitucionalidade:

Formas de controle de constitucionalidade a) Controle preventivo

b) Controle repressivo
Órgãos de controle a) Político

b) Judicial
Critérios de controle a) Difuso

b) Concentrado

Quanto aos meios de controle da constitucionalidade, os efeitos e natureza da decisão,


veja o quadro a seguir:

Meios de controle a) Por via incidental ou de defesa ou indireto

b) Por via principal ou de ação ou direto


Efeitos da decisão a) “Inter partes”

b) “Erga omnes”
Natureza da decisão a) “Ex tunc”

b) “Ex nunc”

Seção 2.1

O Sistema Brasileiro de Controle da Constitucionalidade das Leis

No Brasil, o sistema constitucional preceitua duas formas de controle de constitucionalidade:


o controle por via de exceção (indireto), e o controle por via de ação (direto). Esta previsão cons-
titucional revela certa evolução, tanto doutrinária quanto institucional do sistema brasileiro.

Ao longo da história do constitucionalismo brasileiro, nota-se, por exemplo, que desde


a Constituição de 1891 há instrumentos, como a via de exceção, para a defesa e proteção dos
direitos individuais. De inspiração liberal, muito próximo ao modelo norte-americano de con-

18
EaD
noções básicas de direito processual constitucional e a proteção dos direitos fundamentais

trole da constitucionalidade, desenvolve-se no Brasil, inicialmente, um modelo individualista e


liberal, de controle jurisdicional. A via de exceção, enquanto via judiciária de controle da consti-
tucionalidade conferiu à Justiça da União e às Justiças dos Estados a competência para recusar
aplicabilidade a atos inconstitucionais do Executivo e do Legislativo, sendo a decisão adotada a
cada caso particular, por ação adequada e executável entre as partes.

A arguição por via de ação, por sua vez, surge no sistema brasileiro com certa lentidão,
mas com traços peculiares, com o mais significativo sendo aquele referente à suspensão da lei,
que, todavia, não se anula.

A Constituição de 1934 foi um verdadeiro marco progressivo do Brasil, na direção do con-


trole direto de constitucionalidade. Isso porque o texto constitucional de 1934 introduziu quatro
modificações que aperfeiçoaram o nosso sistema de controle da constitucionalidade, a saber:

• adotou o sistema da maioria absoluta de votos da totalidade dos juízes como requisito
indispensável à declaração, pelos tribunais, da inconstitucionalidade de lei ou ato do
poder público;

• é deferida ao Senado Federal a competência para suspender a execução total ou parcial


de qualquer lei ou ato, deliberação ou regulamento, cuja inconstitucionalidade tenha
sido declarada pelo poder Judiciário;

• a instituição do mandado de segurança para a defesa de direito certo e incontroverso,


ameaçado ou violado por ato manifestamente inconstitucional ou ilegal de qualquer
autoridade e

• a mudança mais significativa para o nosso sistema de controle de constitucionalidade


foi, sem dúvida, a provocação do Procurador-Geral da República para que a Corte Su-
prema tomasse conhecimento da lei federal que houvesse decretado a intervenção da
União no Estado-membro em caso de inobservância de certos princípios constitucionais,
e lhe declarasse a constitucionalidade.

A Constituição do Estado-Novo de 1937, porém, significou um verdadeiro retrocesso no


sistema de controle da constitucionalidade, na medida em que determinou um reexame pelo
Parlamento da decisão dos tribunais, e por dois terços dos votos de cada uma das Câmaras o órgão
legislativo poderia invalidar a decisão judiciária, assim tornando eficaz a lei inconstitucional.

Não obstante, a Constituição de 1946 retoma os avanços do texto de 1934 e aduz que a
intervenção federal, pela violação dos princípios do inciso VII, do artigo 7º, só se decretava após
o Supremo haver examinado o ato arguido de inconstitucionalidade.

19
EaD
Elenise Felzke Schonardie

Ao longo do período de vigência da Constituição de 1946, a publicação e entrada em vigor


de dois textos legais foram de suma importância para a disciplina da constitucionalidade esta-
belecida na lei maior. A lei n. 2.271, de 22 de julho de 1954, criou novo instrumento processual,
a ação direta de declaração de inconstitucionalidade, que veio a se somar à já existente via
incidental ou de exceção.

Ocorre que esse novo caminho de verificação da constitucionalidade, via Judiciário, era
por demais estreito, abrangendo somente os atos vinculados a hipóteses de intervenção federal.
“Escapavam de seu campo de incidência os atos federais em geral e os estaduais que não ofen-
diam os princípios do artigo 7º, inciso VII, da Constituição Federal, bem como os atos locais que
ofendiam a Constituição estadual, além dos municípios” (J. L. Anhaia Mello apud Bonavides,
2003, p. 330).

A Emenda Constitucional n. 16, de novembro de 1965, ampliou o âmbito material do con-


trole de constitucionalidade por via da ação, na medida em que deu nova redação à aliena “k”
do artigo 101, inciso I, da Constituição de 1946. Dentre as competências originárias do Supremo
Tribunal Federal, inclui-se a competência originária para processar e julgar “a representação
contra inconstitucionalidade de lei ou ato de natureza normativa, federal ou estadual, encami-
nhada pelo Procurador-Geral da República”.

Artigo 2º As alíneas c , f , i e k do artigo 101, inciso I, passam a ter a seguinte redação:

c) os Ministros de Estado, os juízes dos Tribunais Superiores Federais, dos Tribunais Regionais do
Trabalho, dos Tribunais de Justiça dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios, os Ministros do
Tribunal de Contas e os Chefes de missão diplomática de caráter permanente, assim nos crimes co-
muns como nos de responsabilidade, ressalvado, quanto aos Ministros de Estado, o disposto no final
do artigo 92;

f) os conflitos de jurisdição entre juízes ou tribunais federais de justiças diversas, entre quaisquer juízes
ou tribunais federais e os dos Estados, entre juízes federais subordinados a tribunal diferente, entre
juízes ou tribunais de Estados diversos, inclusive os do Distrito Federal e os dos Territórios;

i) os mandados de segurança contra ato do Presidente da República, do Senado e da Câmara dos De-
putados ou das respectivas Mesas, do próprio Supremo Tribunal Federal, de suas Turmas ou de seu
Presidente do Tribunal Federal de Recursos, do Tribunal de Contas e dos Tribunais Federais de última
instância (art. 106, art. 109, I, e art. 122, I);

k) a representação contra inconstitucionalidade de lei ou ato de natureza normativa, federal ou estadual,


encaminhada pelo Procurador-Geral da República (Emenda Constitucional nº 16, de 1965).

A Constituição de 1967 e a Emenda Constitucional n. 1 de 1969 conservaram o instituto


do controle de constitucionalidade por via de ação, introduzido em nosso sistema pela Emenda
Constitucional n. 16 de 1965.

20
EaD
noções básicas de direito processual constitucional e a proteção dos direitos fundamentais

Observa-se que a verificação da constitucionalidade da lei ou de ato normativo estava ads-


trita à atribuição do Procurador-Geral da República, sendo este o único legitimado para o exercício
da ação. O que em 1970 acabou por gerar grande controvérsia em razão de uma representação
feita pelo Movimento Democrático Brasileiro contra o Procurador-Geral da República, por haver
este, por meio de despacho, mandado arquivar uma representação que lhe fora encaminhada por
aquela organização partidária que arguia a inconstitucionalidade do Decreto-lei n. 1.077, de 26
de janeiro de 1970, que estabelecera a censura prévia na divulgação de livros e periódicos.

Na época, o STF em decisão de 10 de março de 1971, interpretou de forma restrita, adu-


zindo competência exclusiva do Procurador-Geral da República à iniciativa da ação direta de
inconstitucionalidade. Em outras palavras, segundo o acórdão do STF, naquela época somente
o Procurador-Geral da República possuía legitimação ativa para promover a ação direta de in-
constitucionalidade em abstrato.

Com a Constituição Federal de 1988 muitas inovações foram introduzidas, não apenas no
sistema de controle da constitucionalidade, mas na previsão e garantia dos direitos (individuais
e coletivos) por meio de normas constitucionais programáticas.

Com a nova Constituição, não apenas o Procurador-Geral da República possui legitimi-


dade para interpor a Adin, nos termos do artigo 103, mas também acham-se legitimados o pre-
sidente da República, a Mesa do Senado Federal, a Mesa da Câmara dos Deputados, a Mesa
da Assembleia Legislativa ou Câmara Legislativa do Distrito Federal, o governador do Estado
ou do Distrito Federal, o Conselho da Ordem dos Advogados do Brasil, partido político com
representação no Congresso Nacional e confederação sindical ou entidade de classe de âmbito
nacional. Observe:

Art. 103. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constituciona-
lidade (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

I – o Presidente da República;

II – a Mesa do Senado Federal;

III – a Mesa da Câmara dos Deputados;

IV – a Mesa de Assembléia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal; (Redação dada


pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

V – o Governador de Estado ou do Distrito Federal (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45,
de 2004)

VI – o Procurador-Geral da República;

VII – o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;

VIII – partido político com representação no Congresso Nacional;

21
EaD
Elenise Felzke Schonardie

IX – confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.

§ 1º – O Procurador-Geral da República deverá ser previamente ouvido nas ações de inconstituciona-


lidade e em todos os processos de competência do Supremo Tribunal Federal.

§ 2º – Declarada a inconstitucionalidade por omissão de medida para tornar efetiva norma constitu-
cional, será dada ciência ao Poder competente para a adoção das providências necessárias e, em se
tratando de órgão administrativo, para fazê-lo em trinta dias.

§ 3º – Quando o Supremo Tribunal Federal apreciar a inconstitucionalidade, em tese, de norma legal


ou ato normativo, citará, previamente, o Advogado-Geral da União, que defenderá o ato ou texto
impugnado (Brasil, 2013).

Destaca-se, ainda, o fato de o texto constitucional de 1988 ter criado, também, a ação direta
de inconstitucionalidade por omissão. A omissão refere-se a não ação do legislador na criação ou
demora na criação de medida para tornar efetiva a norma constitucional. Isso porque o silêncio
(omissão) do legislador em relação às normas constitucionais programáticas poderia desencadear
diversos problemas em relação aos direitos sociais consagrados pelo texto constitucional.

No início da seção mencionamos que, atualmente, o sistema brasileiro de controle de cons-


titucionalidade abarca duas modalidades: o controle por via de exceção (indireto) e o controle
por via de ação (direto). Na seção que segue analisa-se, especificamente, o sistema de controle
concentrado de constitucionalidade.

Seção 2.2

Do Controle Concentrado da Constitucionalidade

O controle concentrado de constitucionalidade, também denominado de controle em abs-


trato ou direto de constitucionalidade, ou via principal ou de ação, é um processo de natureza
objetiva, no qual é questionada a constitucionalidade ou não de uma lei. Nesse processo não se
admitem discussões de interesses meramente individuais. Tem como principal objetivo ejetar
do ordenamento jurídico a lei ou o ato normativo contrários à CF, bem como declarar a omissão
inconstitucional.

22
EaD
noções básicas de direito processual constitucional e a proteção dos direitos fundamentais

Pela via jurisdicional do controle concentrado de constitucionalidade busca-se obter a decla-


ração de inconstitucionalidade da lei ou do ato normativo em tese, não dependendo da existência
de um caso concreto, tendendo obter a invalidação da lei, a fim de garantir-se a segurança das
relações jurídicas, que não podem ser sustentadas por normas que violem a Constituição, ou
seja, por normas inconstitucionais.

Essa modalidade de controle de constitucionalidade, regulamentada no ordenamento ju-


rídico brasileiro por meio da lei n. 9.868/99, apresenta as seguintes características:

• a ação deve ser proposta diretamente perante o STF;

• o objeto da ação é a própria declaração da constitucionalidade ou inconstitucionalidade


do ato legislativo ou normativo;

• a decisão produz efeito erga omnes (valendo para todos, produzindo coisa julgada,
também, para as pessoas e órgãos que não participaram da ação);

• quanto à titularidade a ação somente pode ser proposta pelas pessoas mencionadas
no artigo 103 da CF;

• no caso de declarada a inconstitucionalidade, a lei torna-se imediatamente inaplicável.

Apesar da decisão dessa ação ter efeito erga omnes, vinculante e ex tunc, nos termos do
artigo 102, § 2º da CF, todos os atos processuais e decisões definitivas de mérito, antes da decisão
do STF acerca da inconstitucionalidade da lei, não serão desfeitos. Isso porque o STF anulará
a lei e não os atos individuais e coisas julgadas. Todo indivíduo que se sentir prejudicado, no
entanto, poderá propor ação anulatória ou desconstitutiva ou rescisória, conforme o caso. Os
efeitos dessa ação encontram-se modulados no artigo 27 da Lei nº 9.868/99.

Um detalhe importante é que a competência originária do STF dá-se quando os parâmetros


forem as leis federais e as Constituições Estaduais – CE – perante a CF, e quando os parâmetros
forem as leis locais perante a CE a competência para a ação será do TJ.

No Direito Constitucional brasileiro o Controle Concentrado de Constitucionalidade pode


ser realizado por uma das cinco modalidades de ações previstas na CF, as quais são: 1) Ação
Direta de Inconstitucionalidade; 2) Ação Declaratória de Constitucionalidade; 3) Ação de Incons-
titucionalidade por Omissão; 4) Representação Interventiva e 5) Arguição de Descumprimento
de Preceito Fundamental.

1) Ação Direta de Inconstitucionalidade – ADI ou Adin (genérica): artigo 102, inciso I, alínea
“a”, CF, e normatizada pela Lei nº 9.868/99. Artigo 95, inciso XII, alínea “d”, da CE do RGS.
Súmulas STF: 360 e 642:

Esta modalidade de ação visa à declaração de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo


federal ou estadual ante a CF. A competência para a ação é originária do STF e o procedimento
a ser observado encontra-se previsto na lei n. 9.868/99. A Suprema Corte não torna a norma

23
EaD
Elenise Felzke Schonardie

inconstitucional, apenas declara uma inconstitucionalidade que já existia. Essa decisão, sobre
invalidade da lei ou ato normativo, é sempre desconstitutiva. Isso porque a incompatibilidade
com a Constituição é o defeito, e o juízo de inconstitucionalidade, a sanção. E nessa modalidade
de controle de constitucionalidade decreta-se a nulidade da lei ou do ato normativo.

No caso de controle de constitucionalidade de leis municipais, por meio da arguição de


inconstitucionalidade, em sede de Adi ou Adin, diante da CE, a competência originária será do
Tribunal de Justiça de cada Estado, não cabendo exame de inconstitucionalidade de Lei Muni-
cipal, por meio da Adin, diante da Constituição Federal.

Em síntese pode-se apontar como características da lei e ato normativo para Adi ou Adin:
abstração, generalidade e impessoalidade.

Quatro 1 – Sinopse da legitimidade para a propositura da Adin – artigo 103 do CF.

Legitimados – Presidente da República


(Podem impugnar qualquer matéria, – Procurador Geral da República
independentemente de comprovação de – Mesa do Senado Federal e da Câmara
interesse)
– Conselho Federal da OAB
– Partido político com representação no Congresso
Nacional
Legitimados Especiais – Governador do Estado e do Distrito Federal
(somente podem impugnar matéria em – Mesa da Assembleia Legislativa ou da Câmara
relação a qual comprovem interesse) Legislativa do DF
– Confederação Sindical ou entidade de classe de
âmbito nacional

Fonte: Elaboração da autora.

Observações gerais:

a) A EC nº 45, de 31/12/2004 – deu nova redação ao artigo 102, §2º da CF, determinando efeito
vinculante para as decisões definitivas de mérito, proferidas pelo STF, também em sede de
Adin, alterando, assim, a interpretação dada pelo STF ao parágrafo único do artigo 28 da Lei
9.868/99.

b) O Procurador-Geral da República, nos termos do artigo 103, § 1º, da CF, deverá ser previamente
ouvido em todas as ações de inconstitucionalidade e em todos os processos de competência
do STF, tendo assim um papel muito relevante na via concentrada, pois, além de poder propor
tais ações, deve sua opinião ser ouvida antes da tomada de decisão pelo Supremo.

24
EaD
noções básicas de direito processual constitucional e a proteção dos direitos fundamentais

c) Alguns processualistas constitucionais referem que a “ação direta interventiva” é uma moda-
lidade especial de ação concentrada e, possui dupla finalidade, na medida em que pretende
a declaração de inconstitucionalidade formal ou material da lei ou ato normativo estadual (fi-
nalidade jurídica) e a decretação de intervenção federal no Estado-membro ou DF (finalidade
política), constituindo-se, pois, um controle direto, para fins concretos [...] – nas hipóteses do
artigo 34, V e VII da CF.

d)Se o STF ao julgar a ação, efetivamente, declara a norma parcialmente inconstitucional, as-
severando a inconstitucionalidade em determinadas hipóteses de aplicação, consegue-se a
manutenção da norma no ordenamento jurídico.

e) A Adin é uma ação constitutiva negativa, pois seu intento é extinguir (desconstituir, aplicar
a sanção da invalidade) situação jurídica existente de validade (presumida) do ato normativo
(Barroso, 2004).

2) Ação Declaratória de Constitucionalidade – ADC ou Adecon: artigo 102, inciso I, alínea “a”,
segunda parte, da CF e normatizada pela Lei 9.868/99:

A ação declaratória de constitucionalidade foi introduzida pela EC nº 3 de 1993, a qual


tem por objetivo a declaração de constitucionalidade de uma lei ou ato normativo federal. A
finalidade dessa ação era dar ao governo a oportunidade de obter uma rápida decisão judicial
definitiva do STF, que produzisse efeitos erga omnes, no intuito de evitar decisões contrárias
em instâncias inferiores e o não cumprimento da medida legislativa adotada. O interessado
(legitimado) apenas comparece perante o STF para solicitar que este declare a constituciona-
lidade da lei.

Somente poderá ser objeto de ADC a lei ou ato normativo federal. Não cabe essa moda-
lidade de ação para a declaração de constitucionalidade de lei ou ato normativo estadual em
virtude de falta de previsão legal. Os pressupostos para seu ajuizamento são, por ocasião da
petição inicial, a demonstração de existência de séria divergência jurisprudencial que coloque
em risco a presunção de constitucionalidade do ato normativo sob exame, a fim de permitir ao
STF o conhecimento das alegações em favor e contra a constitucionalidade, bem como o modo
pelo qual estão sendo decididas as causas que envolvem a matéria.

Quanto à legitimidade para a propositura da ADC, observa-se o disposto no artigo 103


da CF. O artigo 13 da lei n. 9.868/99, contudo, que regulamenta o dispositivo constitucional,
restringe o rol do artigo 103, na medida em que determina que podem propor a ação declarató-
ria de constitucionalidade de lei ou ato normativo federal: I – o Presidente da República; II – a
Mesa da Câmara dos Deputados; III – a Mesa do Senado Federal e IV – o Procurador-Geral da
República.

25
EaD
Elenise Felzke Schonardie

Observações gerais:

a) Por ocasião da propositura da ação a comprovação da controvérsia exige prova de divergência


judicial, e não somente de entendimentos doutrinários diversos (ADC 8-MC, Rel. Min. Celso
de Mello, julgamento em 13-10-99, DJ de 4-4-03).

b) Em sede de ADC, o provimento cautelar deferido pelo STF, produz efeitos erga omnes e re-
veste de efeito vinculante em relação ao poder Executivo, nos termos do § 2º, do artigo 102,
da CF.

c) O procedimento a ser observado por ocasião da propositura e julgamento da ação encontra-se


disciplinado nos artigos 13 a 21 da lei n. 9.868/99.

d) Como a própria denominação indica, trata-se de uma ação meramente declaratória, visto que
tem por objetivo, simplesmente, a certificação da existência de situação jurídica de legitimidade
(presumida) do ato normativo.

3) Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão – AdinO: artigo 103, §2º, da CF, regula-
mentada pela lei n. 9.868/99, com as alterações introduzidas pela lei n. 12.063/09 que criou
o Capítulo II-A.

Nos termos do artigo 103, § 2º, da CF, “declarada a inconstitucionalidade por omissão de
medida para tornar efetiva norma constitucional, será dado ciência ao poder competente para
a adoção das providências necessárias e, em se tratando de órgão administrativo, para fazê-lo
em trinta dias”. O objeto da ação é suprir a omissão dos poderes constituídos, que deixaram de
elaborar a norma reguladora que possibilita o exercício de um direito previsto na CF. Ou seja,
essa ação é supridora de omissão quando a responsabilidade pela edição da norma faltante
prevista ou pela adoção das necessárias providências for, respectivamente, do legislador ou do
administrador. Seu papel é debelar a omissão por parte dos poderes competentes que atentem
contra a CF.

A omissão pode ser total, quando há falta da norma regulamentadora que possibilite o
exercício do direito, ou parcial, quando não permitir o integral cumprimento do direito previsto
na CF.

Quando ao objeto da ação, pode-se afirmar que o mesmo é o vício omissivo. Na decisão
judicial, no caso de inconstitucionalidade por omissão, o STF dará ciência ao poder competente
para que sejam tomadas as medidas necessárias à cessação da omissão. Tratando-se de omissão
administrativa, o órgão competente será cientificado para providenciar a norma regulamentadora
faltante no prazo de 30 dias.

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EaD
noções básicas de direito processual constitucional e a proteção dos direitos fundamentais

Nos casos de omissão legislativa, o Congresso Nacional será comunicado da mora, sem,
contudo, a estipulação de qualquer prazo para a elaboração da norma infraconstitucional, indis-
pensável para o exercício do direito previsto na CF, porém não autoaplicável.

Quando se tratar de omissão meramente administrativa, a decisão proferida na ação de


inconstitucionalidade por omissão só possui caráter mandamental. Nesta hipótese o órgão res-
ponsável deverá providenciar a edição da norma faltante, no prazo máximo de 30 dias, sob pena
de incidência na prática do crime de desobediência, previsto no artigo 330 do CP.

Tratando-se, entretanto, de inércia total ou de atuação normativa deficiente de qualquer um


dos poderes constituídos, Executivo, Legislativo ou Judiciário, o STF não pode se substituir ao
órgão estatal lento, providenciando, por si só, a edição do provimento normativo que falta. Nesta
hipótese, a decisão da Suprema Corte tem caráter de mera admoestação, isto é, de comunicação
do não cumprimento do preceito constitucional.

Quanto à legitimidade para a propositura da Adin por Omissão, observa-se, também, o


disposto no artigo 103, da CF, regulamentada pelo artigo 12-A da lei n. 9.868/99.

Observações gerais:

a) Fixação de parâmetro temporal razoável para cumprimento do disposto no artigo 18, § 4º, da CF
(ADI 3.682, julgada em 9-5-2007, na qual o STF declarou a omissão legislativa no cumprimento
do disposto do artigo 18, § 4º, da CF e, estabeleceu o prazo de 18 meses para a elaboração da
lei faltante, acolhendo o voto do ministro Gilmar Mendes).

b Quanto à legitimação para a propositura da ação, ressalte-se que a afirmação segundo a qual
os órgãos e entes legitimados para propor a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato
normativo, nos termos do artigo 103, caput, da CF, estariam igualmente legitimados a propor
a ação direta de inconstitucionalidade por omissão, prepara algumas dificuldades. Deve-
se notar que, naquele elenco, dispõem de direito de iniciativa legislativa, no plano federal,
tanto o presidente da República como os integrantes da Mesa do Senado Federal e da Mesa
da Câmara dos Deputados (CF, artigo 61). Assim, salvo nos casos de iniciativa privativa de
órgãos de outros poderes, como é o caso do Supremo Tribunal Federal em relação ao Estatuto
da Magistratura (artigo 93, caput, CF/88), esses órgãos constitucionais não poderiam propor
ação de inconstitucionalidade, porque, como responsáveis ou corresponsáveis pelo eventual
estado de inconstitucionalidade, seriam eles os destinatários primeiros da ordem judicial de
fazer, em caso de procedência da ação; todavia, “diante da indefinição existente, será inevitável,
com base no mesmo princípio de hermenêutica que recomenda a adoção da interpretação que
assegure maior eficácia possível à norma constitucional, que os entes ou órgãos legitimados a
propor a ação direta contra ato normativo – desde que sejam contempladas as peculiaridades
e restrições mencionadas – possam instaurar o controle abstrato da omissão. Não há como

27
EaD
Elenise Felzke Schonardie

deixar de reconhecer, portanto, a legitimidade ativa da Assembléia Legislativa do Estado de


Mato Grosso para propor a presente ação direta de inconstitucionalidade por omissão” (ADI
3.682, voto do ministro Gilmar Mendes, julgamento em 9-5-07, DJ de 6-9-07).

c) Segundo a jurisprudência do STF, não é possível a conversão da ação direta de inconstitucio-


nalidade, por violação positiva da Constituição, em ação de inconstitucionalidade por omissão
(violação negativa da Constituição). A jurisprudência da Suprema Corte, fundada nas múltiplas
distinções que se registram entre o controle abstrato por ação e a fiscalização concentrada
por omissão, firmou-se no sentido de não considerar admissível a possibilidade de conversão
da ação direta de inconstitucionalidade, por violação positiva da Constituição, em ação de
inconstitucionalidade por omissão, decorrente da violação negativa do texto constitucional
(ADI 1.439-MC, Rel. ministro Celso de Mello, julgamento em 22-5-96, DJ de 30-5-03).

4) Ação de Representação Interventiva – ADI Interventiva: artigos 129, inciso IV; 34 e 36,
inciso III, da CF

A ADI Interventiva tem por objetivo o restabelecimento da ordem constitucional no Estado


ou no município. Existem duas modalidades de ADI Interventiva: a federal e a estadual. Nos
termos dos artigos 34, 36, inciso III, e 129 da CF, a ação interventiva federal busca promover
a intervenção da União nos Estados, enquanto que a estadual, a intervenção dos Estados nos
municípios. Dessa forma, a intervenção federal é competência originária do STF e a estadual,
dos Tribunais de Justiça.

Há que se levar em consideração que a finalidade dessa ação é política. E que a interven-
ção da União nos Estados e destes nos municípios é medida excepcional, como o próprio caput
do artigo 34 da CF expressamente refere.

REPRESENTAÇÃO No caso de ofensa aos PGR → STF


INTERVENTIVA princípios sensíveis
(ADIn interventiva)

No caso de descumprimento PGR → STF


de lei federal (Ação de
executoriedade de lei federal)

No âmbito estadual, para o fim → PGJ → TJ


Intervenção em município

28
EaD
noções básicas de direito processual constitucional e a proteção dos direitos fundamentais

Observações gerais

a) As representações devem ser promovidas pelo PGR, nos casos de intervenção federal e, pelo
PGJ, nos casos de intervenção estadual.

b) Segundo jurisprudência do STF: “O instituto da intervenção federal, consagrado por todas


as Constituições republicanas, representa um elemento fundamental na própria formulação
da doutrina do federalismo, que dele não pode prescindir – inobstante a excepcionalidade
de sua aplicação –, para efeito de preservação da intangibilidade do vínculo federativo,
da unidade do Estado Federal e da integridade territorial das unidades federadas. A inva-
são territorial de um Estado por outro constitui um dos pressupostos de admissibilidade
da intervenção federal. O presidente da República, nesse particular contexto, ao lançar
mão da extraordinária prerrogativa que lhe defere a ordem constitucional, age mediante
estrita avaliação discricionária da situação que se lhe apresenta, que se submete ao seu
exclusivo juízo político, e que se revela, por isso mesmo, insuscetível de subordinação à
vontade do poder Judiciário, ou de qualquer outra instituição estatal. Inexistindo, desse
modo, direito do Estado impetrante à decretação, pelo chefe do poder Executivo da União,
de intervenção federal, não se pode inferir, da abstenção presidencial quanto à concreti-
zação dessa medida, qualquer situação de lesão jurídica passível de correção pela via do
mandado de segurança” (MS 21.041, Rel. ministro Celso de Mello, julgamento em 12-6-
91, DJ de 13-3-92).

c) RI federal no caso de impossibilidade do Estado-membro assegurar direito fundamental: “Re-


presentação do Procurador-Geral da República pleiteando intervenção federal no Estado de
Mato Grosso, para assegurar a observância dos ‘direitos da pessoa humana’, em face de fato
criminoso praticado com extrema crueldade a indicar a inexistência de ‘condição mínima’, no
Estado, ‘para assegurar o respeito ao primordial direito da pessoa humana, que é o direito à
vida’. (...) Representação que merece conhecida, por seu fundamento: alegação de inobservância
pelo Estado-membro do princípio constitucional sensível previsto no art. 34, VII, alínea b, da
Constituição de 1988, quanto aos ‘direitos da pessoa humana’. (...) Hipótese em que estão em
causa ‘direitos da pessoa humana’, em sua compreensão mais ampla, revelando-se impotentes
as autoridades policiais locais para manter a segurança de três presos que acabaram subtraídos
de sua proteção, por populares revoltados pelo crime que lhes era imputado, sendo mortos
com requintes de crueldade. Intervenção federal e restrição à autonomia do Estado-membro.
Princípio federativo. Excepcionalidade da medida interventiva. Autonomia do Estado-membro
na organização dos serviços de Justiça e segurança, de sua competência (Constituição, artigos
25, § 1º; 125 e 144, § 4º)” (IF 114, Rel. ministro Néri da Silveira, julgamento em 13-3-91, DJ
de 27-9-96).

29
EaD
Elenise Felzke Schonardie

5) Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental – ADPF: (Artigo 102, §1º, CF e


normatizada pela Lei 9.882/99

Esse instituto jurídico foi introduzido no ordenamento jurídico brasileiro pela CF de 1988.
Originalmente essa ação constitucional tinha sua previsão no parágrafo único do artigo 102 da
CF, mas, em razão da EC 3/93, que eliminou o parágrafo único do referido artigo e introduziu
dois novos parágrafos ao mesmo, sua previsão legal passou a constar no § 1º, com a seguinte
redação: “A arguição de descumprimento de preceito fundamental, decorrente desta Constituição,
será apreciada pelo Supremo Tribunal Federal, na forma da lei”.

Essa ação tem caráter subsidiário, na medida em que somente será admitida quando não
houver outro meio eficaz de sanar a lesividade, conforme previsão do § 1º, do artigo 4º da lei n.
9.868/99. Em regra, a ADPF será proposta quando não for cabível a ADI, ADC, AP, AR, RO, RI
ou qualquer outra medida judicial capaz de sanar, eficazmente, a situação de lesividade, con-
forme jurisprudência do STF. Essa ação pode ser proposta para fins de a) evitar ou reparar lesão
a preceito fundamental decorrente de ato ou omissão do poder público; b) quando for relevante
o fundamento da controvérsia constitucional acerca de lei ou ato normativo federal, estadual ou
municipal, inclusive aos anteriores à CF de 1988.

Há uma grande discussão sobre o que sejam os preceitos fundamentais, em que parte
respeitável da doutrina entende, em apertada síntese, que se manifestam nos princípios funda-
mentais da CF (Artigos 1º ao 4º), os princípios constitucionais sensíveis (artigo 34, VII), os que
compõem as cláusulas pétreas (artigo 60, §4º), e outros de mesma natureza, cuja violação possa
comprometer a ordem e o sistema constitucional.

Observações gerais

a) A legitimidade ativa para a ação é a do rol do artigo 103 da CF.

b) A decisão proferida em sede de ADPF possui eficácia erga omnes e efeito vinculante em re-
lação ao poder público.

c) Recentemente foi objeto de ADPF a lei federal que institui o sistema de cotas raciais para as
universidades públicas federais – ADPF nº 186/DF.

d) Outra questão, muitas vezes controversa, é a definição do que compreende os chamados


preceitos fundamentais. Nesse sentido é a jurisprudência do STF: “Argüição de Descum-
primento de Preceito Fundamental – ADPF. Medida Cautelar. Ato regulamentar. Autarquia
estadual. Instituto de Desenvolvimento Econômico-Social do Pará-Idesp. Remuneração de
pessoal. Vinculação do quadro de salários ao salário mínimo. Norma não recepcionada pela
Constituição de 1988. Afronta ao princípio federativo e ao direito social fundamental ao salário

30
EaD
noções básicas de direito processual constitucional e a proteção dos direitos fundamentais

mínimo digno (artigos 7º, inciso IV, 1º e 18 da Constituição). Medida liminar para impedir
o comprometimento da ordem jurídica e das finanças do Estado. Preceito fundamental: pa-
râmetro de controle a indicar os preceitos fundamentais passíveis de lesão que justifiquem
o processo e o julgamento da argüição de descumprimento. Direitos e garantias individuais,
cláusulas pétreas, princípios sensíveis: sua interpretação, vinculação com outros princípios e
garantia de eternidade. Densidade normativa ou significado específico dos princípios funda-
mentais. Direito pré-constitucional. Cláusulas de recepção da Constituição. Derrogação do
direito pré-constitucional em virtude de colisão entre este e a Constituição superveniente.
Direito comparado: desenvolvimento da jurisdição constitucional e tratamento diferenciado
em cada sistema jurídico. A Lei n. 9.882, de 1999, e a extensão do controle direto de normas
ao direito pré-constitucional. Cláusula da subsidiariedade ou do exaurimento das instâncias.
Inexistência de outro meio eficaz para sanar lesão a preceito fundamental de forma ampla,
geral e imediata. Caráter objetivo do instituto a revelar como meio eficaz aquele apto a sol-
ver a controvérsia constitucional relevante. Compreensão do princípio no contexto da ordem
constitucional global. Atenuação do significado literal do princípio da subsidiariedade quando
o prosseguimento de ações nas vias ordinárias não se mostra apto para afastar a lesão a pre-
ceito fundamental.” (ADPF 33-MC, Rel. ministro Gilmar Mendes, julgamento em 29-10-03,
DJ de 6-8-04).

e) É difícil indicar, a priori, os preceitos fundamentais da Constituição passíveis de lesão tão grave
que justifique o processo e julgamento da arguição de descumprimento. Não resta dúvida,
no entanto, de que alguns desses preceitos estão enunciados, de forma explícita, no texto
constitucional, como no caso dos direitos e garantias individuais (artigo 5º, dentre outros).
Da mesma forma, não se poderá deixar de atribuir essa qualificação aos demais princípios
protegidos pela cláusula pétrea do artigo 60, §4º, da CF.

f) O STF tem entendido, em sede de jurisprudência: “Argüição de descumprimento de preceito


fundamental: distinção da ação direta de inconstitucionalidade e da ação declaratória de
constitucionalidade. O objeto da argüição de descumprimento de preceito fundamental há
de ser ‘ato do Poder Público’ federal, estadual, distrital ou municipal, normativo ou não,
sendo, também, cabível a medida judicial ‘quando for relevante o fundamento da contro-
vérsia sobre lei ou ato normativo federal, estadual ou municipal, incluídos os anteriores à
Constituição’” (ADPF 1-QO, Rel. ministro Néri da Silveira, julgamento em 3-2-00, DJ de
7-11-03).

31
EaD
Elenise Felzke Schonardie

Seção 2.3

Da Intervenção do Amicus Curiae

Amicus Curiae é expressão latina que tem por significado literal “amigo da corte”. Repre-
senta aquele que pode prestar informações à corte quando algum de seus juízes tem dúvidas ou
comete equívocos em questões legais.

A intervenção do amicus curiae é garantia nas ações de controle concentrado de constitu-


cionalidade, por meio do § 2º, do artigo 7º, da Lei n. 9.868/99:

[...]

§ 2º O relator, considerando a relevância da matéria e a representatividade dos postulantes, poderá,


por despacho irrecorrível, admitir, observado o prazo fixado no parágrafo anterior, a manifestação de
outros órgãos ou entidades. [...] (Brasil, 2013).

Essa intervenção tem por objetivo pluralizar o debate constitucional, permitindo que o STF
venha dispor de todos os elementos informativos necessários e possíveis à resolução da contro-
vérsia, buscando superar a grave questão pertinente à legitimidade democrática das decisões
emanadas da Suprema Corte por ocasião do exercício de seu poder do controle concentrado de
constitucionalidade.

Segundo o STF, mediante a participação do amicus curiae, o tribunal conta com os bene-
fícios decorrentes dos subsídios técnicos, elementos de repercussão econômica que possam ser
apresentados e implicações político-jurídicas, dando caráter pluralista e aberto, fundamental
para o reconhecimento de direitos e a realização de garantias constitucionais, extremamente
importantes ao Estado Democrático de Direito. Em outras palavras, o amicus curiae promove
democrática abertura ao rol de intérpretes da Constituição nos processos de controle de consti-
tucionalidade.

A presença dessa figura nas ações de controle de constitucionalidade, encontra-se condicio-


nada à discricionária vontade do relator e sua vontade é irrecorrível, no entanto faz-se necessário
haver a relevância da matéria e a representatividade dos postulantes a amicus curiae.

Quanto às formas de manifestação do amicus curiae, inicialmente, era admitida apenas de


forma escrita, sendo-lhe vedada a sustentação oral. Por ocasião do julgamento da Adin 2.675/PE e
da Adin 2.777/SP, no entanto, o STF passou a admitir a manifestação oral do amicus curiae. Essa
permissão ensejou a Emenda Regimental nº 15/2004, que modificou o RISTF e a possibilidade
de manifestação oral do amicus curiae encontra-se expressa no § 3º do artigo 131 do RISTF.

32
EaD
noções básicas de direito processual constitucional e a proteção dos direitos fundamentais

Quadro 2 – Sinopse das ações concentradas de constitucionalidade


ADI ADC ADI por Omissão ADI INTERVEN- ADPF
AÇÃO 102,I , “a”; 102, I, “a”; 103, §2º TIVA 102, §1º
Lei 9868/99 Lei 9868/99 34, VII e 36, III Lei 9882/99

Objeto É a declaração É a declaração de É a declaração de É a declaração de É a declaração do


da ação de inconstitu- constitucionali- inconstitucionali- inconstitucionali- descumprimento de
cionalidade da dade da lei ou ato dade omissiva do dade de lei ou ato preceito fundamental.
lei ou ato nor- normativo federal. poder público (le- normativo contrá-
mativo federal gislador ou adminis- rio aos princípios
ou estadual. trador). sensíveis e conse-
quente intervenção
federal.
Pedido Inconstituciona- Constitucionali- Inconstitucionalida- Inconstitucionali- Constitucionalidade
lida-de. dade de Omissiva (vício dade de lei ou ato ou Inconstitucionalida-
 Há que se ter omissivo). normativo estadual. de: Ofensa a preceito
comprovada a fundamental, que nos
controvérsia termos legais se exte-
judicial. rioriza por evitar ou re-
parar lesão a preceito
fundamental, resul-
tante do ato do poder
público e quando for
relevante o funda-
mento da controvérsia
constitucional sobre
lei ou ato normativo
federal, estadual ou
municipal, incluídos os
anteriores à CF/88.
Finali- Expelir do siste- Afastar a inse- Garantir a plena Jurídica: declara- Defesa da integridade
dade ma jurídico lei gurança jurídica eficácia da norma ção de inconstitu- e preservação da CF,
ou ato inconsti- ou estado de constitucional. cionalidade; no que se refere aos
tucional incerteza sobre a Reprimir a omissão Política: Interven- preceitos fundamen-
validade da lei. por parte dos pode- ção federal. tais.
Transforma pre- res competentes que
sunção relativa da atentem contra a CF.
constitucionalida-
Declara a omissão, o
de em presunção
STF dará ciência ao
absoluta.
órgão competente
Objetivo: trans- para tomar as medi-
ferir ao STF a das necessárias para
decisão sobre a cessar a omissão. Se
constitucionalida- for a AP, esta deverá
de de um dispo- supri-la em 30 dias.
sitivo legal que
esteja ensejando o
controle difuso.
Exigên- NÃO SIM NÃO NÃO SIM para ADPF ajui-
cia de zada com base no arti-
compro- go 1º, parágrafo único,
vação de I, da Lei 9.882/99
contro- (ADPF incidental)
vérsia NÃO para ADPF
ajuizada com base no
caput do artigo 1º da
Lei 9.882/99 (arguição
autônoma)

Fonte: Baseado em Paulo; Alexandrino, 2007.

33
EaD
Elenise Felzke Schonardie

Síntese da Unidade 2

Nesta Unidade estudamos o sistema brasileiro de controle de constitu-


cionalidade das leis. No sistema de controle concentrado analisamos
as modalidades de ações: ADIN; ADC; Adino; ADI Interventiva e
ADPF; bem como a possibilidade de intervenção da figura do amicus
curiae, introduzido pela CF de 1988 nas ações de controle de consti-
tucionalidade.

34
EaD

Unidade 3
noções básicas de direito processual constitucional e a proteção dos direitos fundamentais

A PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL
DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS DO HOMEM

OBJETIVO DESTA UNIDADE

Compreender as características e historicidade dos direitos fundamentais e sua distinção


em relação às garantias fundamentais.

A SEÇÃO DESTA UNIDADE

Seção 3.1 – Dos Direitos e Garantias Fundamentais

Seção 3.1

Dos Direitos e Garantias Fundamentais

Os direitos fundamentais do homem são considerados indispensáveis à pessoa humana,


na medida em que são necessários para assegurar a todos os indivíduos (sejam eles homens ou
mulheres, crianças ou idosos, portadores de necessidades especiais ou não, etc.) uma existên-
cia digna, em que a liberdade e a igualdade entre os indivíduos devem ser respeitadas. Esses
direitos, ditos fundamentais, também são reconhecidos como garantias e informam a ideologia
política de cada ordenamento jurídico.

1
No patamar do Direito Positivo, os direitos e garantias fun-
damentais do homem tratam de situações jurídicas sem as quais
a pessoa humana não se realiza, nem mesmo sobrevive, e esses
direitos não devem ser reconhecidos apenas em âmbito formal,
faz-se necessário concretizá-los, incorporá-los, no dia a dia dos
cidadãos.

1
Disponível em: <http://lucileyma.blogspot.com.br/2011/04/direitos-fundamentais-assedio-moral-no.html>. Acesso
em: 14 abr. 2013.

35
EaD
Elenise Felzke Schonardie

Podem ser entendidos como uma limitação imposta pela soberania popular aos poderes
constituídos do Estado que dela dependem.

A República Federativa do Brasil constitui-se em um Estado Democrático de Direito e


possui dentre os seus fundamentos, nos termos do artigo 1º e incisos da CF, a cidadania e a
dignidade da pessoa humana. Isso significa que o princípio do Estado Democrático de Direito
e os direitos fundamentais encontram-se na CF e estes são elementos básicos para a realização
daquele.

A Constituição confere uma unidade de sentido, de valor e de concordância prática ao sistema dos
direitos fundamentais. E ela repousa na dignidade da pessoa humana, ou seja, na concepção que faz
a pessoa fundamento e fim da sociedade e do Estado (Miranda apud Piovesan, 2000, p. 53).

A CF de 1988 dedica o seu Título II aos direitos e garantias fundamentais. Este título é
dividido em cinco capítulos: I – Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos; II – Dos Direitos
Sociais; III – Da Nacionalidade; IV – Dos Direitos Políticos e V – Dos Partidos Políticos. Dessa
forma nossa Constituição, sob a denominação de “direitos e garantias fundamentais”, abrange
os direitos individuais, os coletivos, os sociais, os nacionais e os políticos.

Há que se observar ainda que a CF está vinculada à Declaração dos Direitos do Homem
e do Cidadão, à Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 e ratificada pelo Brasil em
1948 e também à Convenção Americana de Direitos do Homem de 1969 e ratificada pelo Brasil
apenas em 1992, por exemplo.

Embora a ideia de que os seres humanos tenham direitos e liberdades fundamentais, que lhes são
inerentes, e há muito tempo tenha surgido o pensamento humano, a concepção de que os direitos
constituem objeto próprio de regulação internacional, por sua vez, é bastante recente. Isto porque,
muitos dos direitos que hoje constam do Direito Internacional dos Direitos Humanos, emergiram
apenas em 1945 [...] (Piovesan 2000, p. 32).

Outro aspecto que merece destaque é o de que a CF de 1988 trouxe inúmeras inovações,
dentre as quais destacam-se: a) impôs deveres ao lado de direitos individuais e coletivos; b) foi
a primeira Carta Maior a fixar os direitos fundamentais antes da organização do próprio Estado,
e c) tutelou novas formas de interesses, denominados coletivos e difusos.

Quanto aos direitos fundamentais pode-se afirmar que possuem como principais caracte-
rísticas: 1) a historicidade; 2) a inalienabilidade; 3) a imprescritibilidade; 4) a irrenunciabilidade;
5) a universalidade e 6) a limitabilidade. Os direitos fundamentais, apesar de sua importância
para o Estado Democrático de Direito, não são absolutos. A própria inevitabilidade de assegurar
aos outros o exercício desses direitos revela a sua limitação.

36
EaD
noções básicas de direito processual constitucional e a proteção dos direitos fundamentais

A Constituição, ao referir-se no seu Título II “Dos Direitos e Garantias Fundamentais”,


mostra que há distinção entre esses. Por direitos entende-se aquelas normas de cunho material,
substancial e consistem nas disposições declaratórias que imprimem existência legal aos direi-
tos reconhecidos. As garantias, por seu turno, consistem naquelas disposições instrumentais,
processuais, que servem para defender os direitos. Analisando de forma alinhada, pode-se di-
zer que os direitos seriam as normas principais em relação às garantias, que seriam as normas
acessórias. Nesse sentido,

[...] os direitos fundamentais propriamente ditos referem-se diretamente aos indivíduos, integrando
sua esfera jurídica, fazendo parte de seu patrimônio jurídico. A razão de ser de um direito reside no
indivíduo. O direito é declarado, em atenção à pessoa. As garantias, diferentemente, reportam-se
aos direitos; só indiretamente elas concernem à esfera jurídica do indivíduo, exatamente na medida
em que atuam como instrumentos assecuratórios de seus direitos (grifos dos autores). Em nosso or-
denamento constitucional temos tanto remédios judiciais, que são maioria (habeas corpus, mandado
de segurança, habeas data, mandado de injunção, ação popular), quanto remédios administrativos
(direito de petição e direito de certidão). Alguns remédios são de índole individual (como o mandado
de segurança individual) e outros são de índole coletiva (como o mandado de segurança coletivo e a
ação popular) (Paulo; Alexandrino, 2005, p. 4).

Ao que se refere à natureza desses direitos, são situações jurídicas, objetivas e subjeti-
vas, definidas no Direito Positivo, a favor da dignidade, da igualdade e da liberdade da pessoa
humana. Quanto à eficácia e aplicabilidade das normas constitucionais que contêm os direitos
fundamentais, dependem de seu enunciado, pois trata-se de tema que está em função do Direito
Positivo. A CF de 1988, no entanto, é expressa quanto àquelas (eficácia e aplicabilidade), quando
estatui que as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata
(§ 1º, do artigo 5º).

Algumas normas constitucionais fundamentais têm aplicação plena, de forma que devem
ser executadas de plano. Outras, porém, têm eficácia contida ou limitada, de forma que vão de-
pender da criação da legislação infraconstitucional. Enquanto não surgir essa norma, o dispositivo
constitucional não será autoaplicável.

Quanto ao rol dos direitos individuais básicos do cidadão, expresso no artigo 5º da CF, este
não é taxativo, pois existem outras normas previstas na própria Constituição, contendo direitos
e garantias, como é o caso do caput do artigo 225 e artigo 150 da CF (o direito de viver em um
meio ecologicamente equilibrado e as garantias de ordem tributária, respectivamente).

37
EaD
Elenise Felzke Schonardie

Expressamente previstos no caput do artigo 5º da CF, são cinco os direitos individuais


básicos do cidadão: o direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e a propriedade. Os
demais direitos fundamentais reconhecidos ao longo dos incisos do referido artigo 5º são decor-
rências desses direitos básicos.

Síntese da Unidade 3

Nesta Unidade estudamos sucintamente os direitos e garantias fun-


damentais previstos na CF em vigor e a distinção doutrinária entre
direitos e garantias, bem como a forma de organização do Título II da
CF que trata dos direitos e garantias fundamentais.

38
EaD

Unidade 4
noções básicas de direito processual constitucional e a proteção dos direitos fundamentais

OS PROCEDIMENTOS CONSTITUCIONAIS EM ESPÉCIES

OBJETIVO DESTA UNIDADE

Compreender as modalidades e as principais características dos chamados remédios


constitucionais – ações – para a proteção dos direitos e garantias fundamentais do cidadão em
âmbito individual e/ou coletivo.

AS SEÇÕES DESTA UNIDADE

Seção 4.1 – Ação Civil Pública

Seção 4.2 – Ação Popular

Seção 4.3 – Habeas Corpus

Seção 4.4 – Habeas Data

Seção 4.5 – Mandado de Segurança (individual e coletivo) – Lei nº 12.016/09

Seção 4.6 – Mandado de Injunção

Seção 4.7 – Ação de Impugnação de Mandato Eletivo (Aime)

A Constituição de 1988, definida como uma “Constituição Cidadã”, trouxe diversas inova-
ções referentes às ações constitucionais de tutela de direitos fundamentais. Assim, o texto consti-
tucional faz menção às modalidades de ações que, em tese, visam à tutela dos direitos e garantias
fundamentais. São as chamadas ações constitucionais que buscam dar efetividade aos princípios
fundamentais do Estado Democrático de Direito, aos direitos e garantias definidos na CF.

Para fins específicos deste material, optou-se por uma resumida análise de cada uma das
modalidades de ações introduzidas pela CF em vigor, as quais são: Ação Civil Pública, Ação Po-
pular, Habeas Corpus, Habeas Data, Mandado de Segurança (individual e coletivo), Mandado
de Injunção e Ação de Impugnação de Mandato Eletivo (Aime).

39
EaD
Elenise Felzke Schonardie

Seção 4.1

Ação Civil Pública

Esta ação encontra seu embasamento legal na Lei nº 7.347/85 e foi incluída pela CF de
1988, de forma não privativa, entre as atribuições do Ministério Público. Tem por finalidade reger
as ações de responsabilidade por danos causados ao meio ambiente, ao consumidor e a bens e
direitos de valor artístico, histórico, turístico e paisagístico.

Em termos constitucionais, no que se refere à ação civil pública, esta encontra-se amparada
na Constituição atual, no artigo 129, inciso III, e prevê, como uma das funções institucionais do
Ministério Público, promover a ação civil pública para a proteção do meio ambiente, do patri-
mônio público e social e de outros interesses difusos ou coletivos (do consumidor), sem, é claro,
prejuízo da legitimação de terceiros.

Na Ação Civil Pública o Ministério Público tem a legitimação extraordinária como substituto
processual do exercício do direito de agir, na medida em que o sujeito que teve o bem lesado, a
coletividade, não é autor da demanda. Em outros termos, o Ministério Público tem legitimidade
ativa ad causam não exclusiva, mas concorrente aos entes estatais e paraestatais, como a Defen-
soria Pública ou algumas associações, desde que observadas as exigências legais do artigo 5º da
Lei n. 7.347/85. Se a demanda, porém, for ajuizada por associações ou outros entes legitimados,
o Ministério Público age como fiscal da lei.

Esta ação tutela dois tipos de direitos materialmente coletivos, os quais são:

a) essencialmente coletivos ou difusos;

b) coletivos em sentido estrito. A natureza da ação civil pública é de direito atribuído aos órgãos
públicos para dar guarida a interesses não individuais, o que exclui por completo a utilização
dessa ação para a defesa de interesses próprios/individuais.

O objeto imediato da ação civil pública consiste na condenação em dinheiro ou cumprimento


de obrigação de fazer ou de não fazer. Hoje é pacífico o entendimento que pode haver acumulação
de pedido, ou seja, é possível por meio da ACP acumular pedidos de obrigação de fazer e não
fazer com condenação em dinheiro por danos materiais e morais. Já o objeto mediato desta ação
é a tutela do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, do direito do consumidor e
dos bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico. Tais direitos são
considerados hoje direitos humanos fundamentais.

40
EaD
noções básicas de direito processual constitucional e a proteção dos direitos fundamentais

Como preparação a ACP há o inquérito civil. Um procedimento administrativo em que o


Ministério Público, por intermédio do promotor de Justiça, recolhe evidências acerca da exis-
tência da prática do ato lesivo aos interesses difusos ou coletivos. O inquérito civil, todavia, não
é imprescindível à propositura da ACP, pois podem os demais legitimados promoverem a ação,
com base em evidências outras que não colhidas por meio desse procedimento administrativo.

Seção 4.2

Ação Popular

Outro mecanismo que merece destaque, na questão da proteção de direitos ou garantias


fundamentais é a ação popular – AP. Esta encontra-se expressa no artigo 5º, LXXIII, da Consti-
tuição Federal de 1988, que refere:

Art. 5º – Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasi-
leiros e estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

[...]

LXXIII – Qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao
patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio
ambiente, ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas
e do ônus da sucumbência.

[...].

Na Ação Popular, a legitimidade ativa para propositura da ação está prevista no artigo 1º,
§ 3º, da Lei 4.717/65, ou seja, qualquer pessoa do povo que esteja no gozo de seus direitos polí-
ticos, e tal dispositivo legal exige que a prova da cidadania seja feita por meio do título eleitoral
ou documento que a ele corresponda.

Para fins de proteção de direito de natureza difusa, porém, como é o caso da moralidade
pública, do meio ambiente e do patrimônio histórico e cultural, tal restrição formal é comple-
tamente violadora ao acesso à Justiça, pois estaria restringindo o conceito de cidadão à ideia
política, impedindo de modo geral o livre acesso dos brasileiros e dos estrangeiros residentes no
país de demandar nas hipóteses cabíveis.

Como objeto imediato da AP pode-se destacar que consiste na anulação do ato le-
sivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade ad-
ministrativa, ao meio ambiente, ao patrimônio histórico e cultural e na condenação dos

41
EaD
Elenise Felzke Schonardie

responsáveis pelo ato, inclusive a inclusão dos destinatários, ao pagamento de perdas e


danos ou, alternativa ou cumulativamente, a repor a situação no status quo ante (situação
anterior à lesão).

E o objeto mediato desta ação constitui-se na proteção do patrimônio público ou de entidade


de que o Estado participe, da moralidade administrativa, do meio ambiente, ou do patrimônio
histórico e cultural, o que envolve a ideia de conservação, recuperação, preservação do patrimô-
nio público e da moralidade pública, bem como da qualidade ambiental.

Quanto aos pressupostos para a AP destacam-se:

a) cidadania; b) ilegalidade do ato e c) lesividade do ato. A moralidade administrativa


é um dos princípios que orientam a administração pública (artigo 37, caput, CF) e deve ser
compreendido como fundamento autônomo para a propositura da AP, independentemente da
comprovação de lesão ao erário público ou de ofensa à legalidade estrita, bastando apenas a
ofensa aos princípios éticos que devem informar toda ação realizada por pessoa responsável pelo
dispêndio de dinheiro público.

De acordo com a CF, não existe competência originária em relação à AP. As hipóteses de
competência originária previstas na CF para o mandado de segurança – MS – não se aplicam à
AP, em razão da ausência de previsão constitucional.

Seção 4.3

Habeas Corpus

O habeas corpus é a ação constitucional que tutela a liberdade individual. Pode ser uti-
lizada sempre que alguém estiver sofrendo, ou na iminência de sofrer constrangimento ilegal
no seu direito à liberdade. Sua previsão constitucional encontra-se no artigo 5º, inciso LXVIII:
“Conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência
ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder”.

1
Esta ação pode ser utilizada tanto em ações criminais como
em ações civis, desde que haja constrangimento ilegal quanto
ao direito de ir e vir do cidadão.

1
Disponível em: <http://artur-moritz.blogspot.com.br/2010/07/stf-limita-recebimento-de-habeas-corpus.html>. Acesso
em: 14 abr. 2013.

42
EaD
noções básicas de direito processual constitucional e a proteção dos direitos fundamentais

A CF prevê hipóteses de competência originária dos tribunais superiores, conforme o cargo


da autoridade indicada como coatora (pessoa em relação a quem é impetrada a ordem – legiti-
midade passiva) ou paciente (pessoa em favor da qual é impetrada a ordem de habeas corpus).
O artigo 102, inciso I, alínea “d”, da CF, prevê as hipóteses de competência originária do STF no
julgamento do habeas corpus: “o habeas corpus, sendo paciente qualquer das pessoas referidas
nas alíneas anteriores; (...)”.

O artigo 105, inciso I, aliena “c”, da CF, traz as hipóteses de competência originaria do STJ
no julgamento do habeas corpus:

[...], quando o coator ou paciente for qualquer das pessoas mencionadas na alínea a, ou quando o co-
ator for tribunal sujeito à sua jurisdição, Ministro de Estado ou Comandante da Marinha, do Exército
ou da Aeronáutica, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral [...].

No caso do artigo 108, inciso I, alínea “d”, da CF, refere-se às hipóteses de competência
originária dos TRFs no julgamento do habeas corpus: “(...), quando a autoridade coatora for juiz
federal”.

E as Constituições Estaduais também estabelecem casos de competência originária perante


os TJs, como é o caso da CE do Rio Grande do Sul, que no seu artigo 95, inciso XII, alínea “a”
expressa:

Habeas corpus, quando o coator ou paciente for membro do Poder Legislativo estadual, servidor ou
autoridade cujos atos estejam diretamente submetidos à jurisdição do Tribunal de Justiça, quando se
tratar de crime sujeito a esta mesma jurisdição em única instância, ou quando houver perigo de se
consumar a violência antes que outro Juiz ou Tribunal possa conhecer do pedido (...).

Também o CPP, nos artigos 647 a 667, estabelece o procedimento a ser adotado nas ações
de habeas corpus. Para a propositura do HC não se exige capacidade postulatória, inclusive o
Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil, lei n. 8.960/94, no artigo 1º, §1º, estabelece que a
impetração do habeas corpus não se inclui na atividade privativa de advocacia em qualquer ins-
tância ou tribunal. Assim, não há necessidade de instrumento procuratório na ordem impetrada
(ver artigo 654, § 1º, alínea c, do CPP).

O habeas corpus pode ser: a) liberatório ou repressivo, quando concede-se a ordem para
fazer cessar o constrangimento à liberdade de locomoção já existente; b) preventivo, quando
houver ameaça ao direito de liberdade. Neste caso expede-se um salvo-conduto pela autoridade
competente para que o sujeito (paciente) não venha a ter restringido o seu direito de locomoção;

43
EaD
Elenise Felzke Schonardie

e c) de ofício, quando a autoridade competente verificar no curso do processo que alguém está
sofrendo ou na iminência de sofrer constrangimento ilegal no seu direito de locomoção, nos
termos do artigo 654, § 2º, do CPP.

Seção 4.4

Habeas Data

Segundo o inciso LXXII, do artigo 5º da CF, qualquer cidadão deve ter acesso às infor-
mações constantes em seu nome em banco de dados mantido pelo Estado ou por entidades de
caráter público. Essa ação constitucional visa a assegurar a tutela do direito à informação e à
intimidade, bem como o direito de retificação desses dados. Trata-se de ação de aplicabilidade
imediata, gratuita e personalíssima, pois somente o próprio indivíduo pode ingressar com a ação
quando houver recusa de informações por parte da autoridade administrativa.

A ação de HD foi regulamentada pela lei n. 9.507/97 que, dispõe sobre o direito de acesso
a informações e disciplina o rito processual da ação.

Quanto à competência, o artigo 20 da lei n. 9.507/97 estabelece que esta poderá ser ori-
ginária do STF, STJ, TRF, TJ, ao juiz federal e ao juiz estadual, dependendo da autoridade que
negue ou não se manifeste acerca dos dados e informações do cidadão.

Art. 20. O julgamento do habeas data compete:

I – originariamente:

a) ao Supremo Tribunal Federal, contra atos do Presidente da República, das Mesas da Câmara dos
Deputados e do Senado Federal, do Tribunal de Contas da União, do Procurador-Geral da República
e do próprio Supremo Tribunal Federal;

b) ao Superior Tribunal de Justiça, contra atos de Ministro de Estado ou do próprio Tribunal;

c) aos Tribunais Regionais Federais contra atos do próprio Tribunal ou de juiz federal;

d) a juiz federal, contra ato de autoridade federal, excetuados os casos de competência dos tribunais
federais;

e) a tribunais estaduais, segundo o disposto na Constituição do Estado;

f) a juiz estadual, nos demais casos;

II – em grau de recurso:

44
EaD
noções básicas de direito processual constitucional e a proteção dos direitos fundamentais

a) ao Supremo Tribunal Federal, quando a decisão denegatória for proferida em única instância pelos
Tribunais Superiores;

b) ao Superior Tribunal de Justiça, quando a decisão for proferida em única instância pelos Tribunais
Regionais Federais;

c) aos Tribunais Regionais Federais, quando a decisão for proferida por juiz federal;

d) aos Tribunais Estaduais e ao do Distrito Federal e Territórios, conforme dispuserem a respectiva


Constituição e a lei que organizar a Justiça do Distrito Federal;

III – mediante recurso extraordinário ao Supremo Tribunal Federal, nos casos previstos na Constituição
(grifos nossos).

O HD possui uma dupla finalidade: a primeira é o conhecimento acerca de informações


pessoais, a segunda é a possibilidade de retificação de informações errôneas que constem nos
bancos de dados.

Quanto à legitimidade ativa para a ação, cabe a qualquer pessoa, física ou jurídica, brasileira
ou estrangeira, promovê-la. Já na legitimidade passiva, podem figurar entidades governamentais
da administração pública direta ou indireta, bem como pessoas jurídicas de direito privado que
mantenham bancos de dados abertos ao público, por exemplo: Bacen, Cadin, Serasa, Serviço de
Proteção ao Crédito.

Seção 4.5

Mandado de Segurança (individual e coletivo) – lei n. 12.016/09

O MS é a ação constitucional prevista nos incisos LXIX e LXX, do artigo 5º da CF, que
protege direitos líquidos e certos não amparados por HD ou HC quando o responsável pela ile-
galidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de
atribuições do poder público. Assim, o alcance desta ação dá-se por exclusão, ou seja, quando
o direito que se apresenta manifesto na sua existência e delimitado em sua extensão e apto a
ser exercido, violado em razão de constrangimento ilegal, não estiver tutelado por HC ou HD,
caberá a ação de MS.

A ação de MS pode ser individual ou coletiva – diz-se: MS Individual (artigo 5º, inciso
LXIX, da CF) ou MS Coletivo (artigo 5º, inciso LXX, da CF).

45
EaD
Elenise Felzke Schonardie

Quanto ao MS Individual este pode ser: a) MS repressivo, que visa a cessar constran-
gimento ilegal existente; ou b) MS Preventivo, que tem por finalidade pôr fim à iminência de
constrangimento ilegal a direito líquido e certo.

O MS foi regulamentado pela lei n. 1.533/51 (hoje substituída pela lei n. 12.016/09) e a
legitimidade ativa para a ação pode ser de qualquer pessoa física ou jurídica que esteja sofren-
do ou na iminência de sofrer ilegalidade ou abuso de poder por parte de autoridade pública. O
impetrante (sujeito que propõe a ação) é o titular do direito violado ou ameaçado de violação.
Quanto ao legitimado passivo, pessoa em relação a quem é proposto o MS, também denominada
de autoridade coatora, é a autoridade ou o agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições
do poder público.

Por autoridade pública entende-se qualquer pessoa física investida de poder de decisão
dentro da esfera de competência que lhe é atribuída pela norma legal, ou seja, quem exerce
alguma função pública com poder de decisão. Não pode, no entanto, ser autoridade coatora a
pessoa jurídica de direito público, embora possa figurar em juízo como assistente do coator ou
litisconsorte do impetrado.

Há que se observar o prazo de 120 dias, contados da ciência do ato impugnado pelo inte-
ressado, para a impetração do MS. Esse prazo é decadencial, não se suspende nem se interrompe
e sua constitucionalidade já foi reconhecida pelo STF.2 Expirado o prazo de 120 dias, resta ao
titular do direito (líquido e certo) violado somente as vias ordinárias para reclamar seus direitos,
não podendo utilizar-se da ação de MS.

Na hipótese do inciso LXX, do artigo 5º da CF, o MSC foi uma das novidades introduzidas
pela atual CF, que busca tutelar direitos coletivos em seu sentido amplo, abrangendo todas as
modalidades de direitos transindividuais, expressos no artigo 813 do CDC – direitos ou inte-
resses difusos, coletivos e individuais homogêneos – não amparados por HC ou HD, quando o
responsável pela ilegalidade for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício
de atribuições do poder público.

Como características o MSC apresenta a legitimação processual de órgãos coletivos, para


a defesa dos interesses de seus membros e o uso dessa ação constitucional para a proteção de
interesses coletivos decorrentes da nova dinâmica social.

STF, MS 21.362-DF, Rel. ministro Celso Mello.


2

Artigo 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente,
3

ou a título coletivo.
Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:
I – interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível,
de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato;
II – interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza
indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma
relação jurídica base;
III – interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum.

46
EaD
noções básicas de direito processual constitucional e a proteção dos direitos fundamentais

Quanto à legitimidade ativa para a ação, inúmeras controvérsias doutrinárias foram sus-
citadas, pois a jurisprudência do STF e do STJ tem sido restritiva na aceitação de MS coletivo.
Segundo a CF, podem impetrar o MSC: a) partidos políticos com representação no Congresso
Nacional, e b) sindicatos, entidades de classe ou associações constituídas há pelo menos um
ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados. Essa postura do STF tem gerado
a não apreciação do MSC de direitos e interesses coletivos violados, pertencentes a parcelas
significativas da população, como os aposentados, pois precisam estar representados por uma
entidade específica para tal.

A decisão denegatória do MSC, sem decidir o mérito, não impedirá que o requerente, por
ação própria pleiteie os seus direitos e os respectivos efeitos patrimoniais, conforme o artigo 19
da lei n. 12.016/09, pois nos MS, a decisão ocorre segundo a produção da prova exclusivamente
documental, a) sem julgamento de mérito; b) com julgamento de mérito (Zaneti Jr., 2011).4

A ação de MSC reveste-se de rito sumário, consolidado pela lei n. 12.016/09. Há possibili-
dade de obtenção de liminares em MS coletivos e essas podem ter natureza cautelar ou antecipa-
tória, conforme se verifique a tutela da segurança ou a satisfação antecipada dos efeitos finais.

Quadro 1 – Sinopse de distinção entre MS e MSC

Mandado de Segurança Individual Mandado de Segurança Coletivo


Postulam-se direitos individuais de uma única Postulam-se direitos coletivos.
pessoa.
O titular do direito é o impetrante (pessoa física). O titular do direito coletivo é o ente
coletivo, ou seja, o sindicato, a entida-
de de classe, a associação ou o partido
político.
Há possibilidade de haver em um único MS indi- Não há litisconsórcio ativo. Há apenas
vidual a presença de litisconsórcio ativo (por mo- um ente coletivo, pleiteando direitos que
tivos econômicos e praticidade). Diversas pessoas detêm a titularidade.
pleiteando direitos individuais.

Fonte: Elaboração da autora com base nas obras consultadas.

4
Sobre inovações no MS veja os anteprojetos de Código Brasileiro de Processos Coletivos e o PLS 222/2010.

47
EaD
Elenise Felzke Schonardie

Seção 4.6

Mandado de Injunção

O Mandado de Injunção é a ação constitucional que tem por finalidade efetivar um direito
assegurado na CF, no artigo 5º, inciso LXXI, no caso de não elaboração da norma regulamen-
tadora, inerente à nacionalidade, à soberania e à cidadania que não possam ser exercidos por
sua falta.

Como requisitos específicos para o MI, a leitura do dispositivo constitucional demonstra


ser necessário cumulativamente: a) que ocorra omissão legislativa que regulamente o exercício
de direitos e liberdades asseguradas constitucionalmente, ou para a efetividade de prerrogati-
vas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania, já afirmadas em legislação; b) que o
dispositivo careça de norma regulamentadora (omissão legislativa), impedindo o exercício pelo
titular da garantia constitucional acerca das liberdades e direitos, ou das prerrogativas inerentes
à nacionalidade, à soberania e à cidadania (Mazzei, 2011).

A ação de MI segue a via procedimental sumária, em observação à lei n. 12.016/09. No


âmbito federal a competência para ação de MI encontra-se fixada nos artigos 102, inciso I, alínea
“q” e, inciso II, alínea “a”; artigo 105, inciso I, alínea “h”; e art. 121, § 4º, todos da CF. Na esfera
estadual observar-se-á o disposto nas constituições dos Estados-membros.

No Estado do Rio Grande do Sul a competência para o Mandado de Injunção, nos termos
artigo 95, inciso XII, da CE, é do Tribunal de Justiça, contra atos ou omissões do governo do
Estado, da Assembleia Legislativa e seus órgãos, dos juízes de primeira instância, dos membros
do Ministério Público e do Procurador-Geral do Estado.

O MI e a Adino possuem como pressupostos a existência de um direito previsto na Cons-


tituição e a falta de norma regulamentadora que torne possível o seu exercício, no entanto são
institutos jurídicos distintos. A Adino é forma de controle de constitucionalidade em abstrato
(concentrado) e tem por objetivo compelir o poder competente a elaborar a norma necessária
para assegurar o exercício de direito previsto na CF e que a referida omissão da norma impeça
seu exercício. Já o MI, por sua vez, é uma garantia individual ou coletiva que busca assegurar ao
cidadão ou ao conjunto de cidadãos a concessão de uma medida que viabilize o exercício previsto
na CF, nas hipóteses de inércia legislativa ou administrativa do poder público competente para
a elaboração da norma faltante.

O MI examina a questão de forma concreta, podendo a ação ser proposta somente pelo
titular do direito lesado pela omissão administrativa ou legislativa, possuindo a decisão efeitos
inter partes.

48
EaD
noções básicas de direito processual constitucional e a proteção dos direitos fundamentais

Seção 4.7

Ação de Impugnação de Mandato Eletivo (Aime)

A CF estabeleceu a tutela constitucional dos direitos políticos e, por conta disso, estabe-
leceu, também, a Aime, cujo objetivo consiste em afastar da investidura popular aqueles que se
utilizaram ou se beneficiaram de meios ilegítimos para se eleger. Anteriormente à CF em vigor,
não havia outra forma de desconstituir o mandato eletivo a não ser por meio de Recurso Contra
a Expedição do Diploma previsto no artigo 262 do Código Eleitoral.

Considera-se que a lei n. 7.664/88 havia previsto a Aime ao estabelecer normas para
as eleições municipais de 1988. A CF, nos §§§ 9º, 10º e 11, do artigo 14 disciplina a matéria.
Também a Resolução do TSE nº 22.610/07 estabeleceu a perda de mandato por infidelidade
partidária.

Em seus julgados o TSE, referentes à matéria, assentou que, em se tratando de mandatos


alcançados por eleições municipais, a ação deve ser proposta perante a Zona Eleitoral respectiva,
ao passo que em se tratando de eleições estaduais a ação desconstitutiva deve seguir para o TRE,
e em grau de recurso, para o TSE, cuja competência originária há de julgar a Aime somente se
disser respeito à eleição presidencial (Barbosa, 2011).

O rito processual a ser seguido na Aime é o ordinário, previsto na LC nº 64/90 e não o do


CPC. O prazo para a propositura da ação é de 15 dias a contar da data da diplomação e é de
natureza decadencial. Quanto à legitimação para a ação, segundo entendimento prevalente no
TSE estão aptos para interpor a Aime, além dos que tenham interesse jurídico em sentido estri-
to – aqueles que foram derrotados pelo candidato vitorioso em razão do ardil político –, também
os que tenham participado do certame, independentemente do resultado final da eleição e do
cargo eletivo a que tenham almejado. Isto significa que candidato a vereador pode impugnar
mandato de prefeito eleito; ou que “candidato a prefeito pode impugnar mandato de vereador;
do mesmo modo que, o partido político e/ou coligação derrotada na eleição majoritária pode im-
pugnar governador eleito, ainda que o segundo colocado no certame não lhe tenha representado
na disputa” (Barbosa, 2011, p. 674).

Há que se considerar, segundo Djalma Pinto (apud Barbosa, 2011), que a Aime trata-se de
instrumento processual, de índole constitucional, colocado à disposição do candidato, partido
político e do Ministério Público para provocar a Justiça Eleitoral, com o objetivo de subtrair o
mandato eletivo nos casos em que o candidato vencedor se utilizou de corrupção, fraude ou
abuso do poder político ou econômico.

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EaD
Elenise Felzke Schonardie

Quadro 2 – Sinopse da Aime

Tipo de Eleição Cargos em disputa Competência originária


para conhecer da Aime
Municipal Prefeito, Vice-Prefeito e Vereador. Juiz Eleitoral
Estadual Governador, Vice-Governador, Deputado TRE
Estadual, Deputado Federal e Senador.
Nacional Presidente da República e Vice-Presi- TSE
dente.

Fonte: Barbosa, 2011.

Síntese da Unidade 4

Nesta Unidade estudamos as ações constitucionais em espécie que


visam à defesa de interesses ou direitos individuais, coletivos e difusos,
lesionados ou ameaçados de lesão.

50
EaD

Referências
noções básicas de direito processual constitucional e a proteção dos direitos fundamentais

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Belo Horizonte/MG: Fórum, 2008.

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Ações constitucionais. Salvador: Editora Jus Podivm, 2011. p. 659-703.

BARROSO, Luís Roberto. Controle de constitucionalidade no Direito Brasileiro. São Paulo: Sa-
raiva, 2004.

BRASIL. Constituição Federal. Organização de Odete Medauar. 10 ed. rev. ampl. e atual. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2012.

______. Constituição Federal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/


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______. Lei n. 9.507 de 1997. Dispõe sobre a ação de habeas data. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9507.htm>. Acesso em 14 abr. 2013.

______. Lei n. 8.078 de 1990. Dispõe sobre o Código de Defesa do Consumidor. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078.htm>. Acesso em: 14 abr. 2013.

BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 13. ed. São Paulo: Malheiros, 2003.

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FERRAJOLI, Luigi. Direito e razão. Madrid: Trotta, 1995.

MOREIRA, Vital. Princípio da constitucionalidade. In: Legitimidade e legitimação da justiça


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PAULO, Vicente; ALEXANDRINO, Marcelo. Remédios constitucionais. Rio de Janeiro: Impetos,


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RIO GRANDE DO SUL. Constituição do Estado do Rio Grande do Sul (1989). 22 ed. Porto Alegre:
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SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de Direito Processual Civil. São Paulo: Saraiva, 1995. V.1.

51
EaD
Elenise Felzke Schonardie

SIQUEIRA JÚNIOR, Paulo Hamilton. Direito processual constitucional. São Paulo: Saraiva,
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STF. ADI nº 2381 MC/RS. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJu-


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STRECK, Lenio Luiz. Jurisdição constitucional e hermenêutica: uma nova crítica do Direito. Porto
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SAIBA MAIS

CABRAL, NÚRIA. Direito processual constitucional & prática constitucional: roteiro para as aulas.
Disponível em: <https://docs.google.com/viewer?a=v&q=cache:OMeMVG1ZgWEJ:professor.
ucg.br/SiteDocente/admin/arquivosUpload/7771/material/>. Acesso em: 30 mar. 2013.

CORREA, Marcus Orione G. Direito Processual Constitucional. São Paulo: Saraiva, 1998.

DANTAS, Paulo Roberto de Figueiredo. Direito Processual Constitucional. São Paulo: Atlas,
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DIDIER JR., Fredie (Org.). Ações constitucionais. Salvador: Editora Jus Podivm, 2011.

DONIZETTI, Elpídio. Ações constitucionais. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009.

FAVOREU, Louis. As cortes constitucionais. Tradução Dunia Marinho Silva. São Paulo: Landy
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MAZZEI, Rodrigo. Mandado de Injunção. In: DIDIER JR., Fredie (Org.). Ações constitucionais.
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MEDINA, Paulo Roberto de Gouvêa. Direito Processual Constitucional. Rio de Janeiro: Forense,
2010.

MENDES, Gilmar Ferreira. Jurisdição constitucional: o controle abstrato de normas no Brasil e


na Alemanha. São Paulo: Saraiva, 1996.

PAULO, Vicente; ALEXANDRINO, Marcelo. Direito Constitucional Descomplicado. Rio de Ja-


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ZANETI JR., Hermes. Mandado de segurança coletivo. In: DIDIER JR., Fredie (Org.). Ações
constitucionais. Salvador: Editora Jus Podivm, 2011. p. 155-214.

52
EaD

Anexo
noções básicas de direito processual constitucional e a proteção dos direitos fundamentais

Lei n. 9.868/99

Presidência da República
Casa Civil
Subchefia para Assuntos Jurídicos

LEI No 9.868, DE 10 DE NOVEMBRO DE 1999.


Dispõe sobre o processo e julgamento da
ação direta de inconstitucionalidade e da ação
declaratória de constitucionalidade perante o
Supremo Tribunal Federal.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu


sanciono a seguinte Lei:

CAPÍTULO I

DA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE E DA AÇÃO DECLARATÓRIA


DE CONSTITUCIONALIDADE

Art. 1o Esta Lei dispõe sobre o processo e julgamento da ação direta de inconstitucionalidade
e da ação declaratória de constitucionalidade perante o Supremo Tribunal Federal.

CAPÍTULO II

DA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE

Seção I

Da Admissibilidade e do Procedimento da Ação Direta de Inconstitucionalidade

Art. 2o Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade: (Vide artigo 103 da Consti-
tuição Federal)

I – o Presidente da República;

II – a Mesa do Senado Federal;

53
EaD
Elenise Felzke Schonardie

III – a Mesa da Câmara dos Deputados;

IV – a Mesa de Assembleia Legislativa ou a Mesa da Câmara Legislativa do Distrito Fe-


deral;

V – o Governador de Estado ou o Governador do Distrito Federal;

VI – o Procurador-Geral da República;

VII – o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;

VIII – partido político com representação no Congresso Nacional;

IX – confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.

Parágrafo único. (VETADO)

Art. 3o A petição indicará:

I – o dispositivo da lei ou do ato normativo impugnado e os fundamentos jurídicos do pedido


em relação a cada uma das impugnações;

II – o pedido, com suas especificações.

Parágrafo único. A petição inicial, acompanhada de instrumento de procuração, quando


subscrita por advogado, será apresentada em duas vias, devendo conter cópias da lei ou do ato
normativo impugnado e dos documentos necessários para comprovar a impugnação.

Art. 4o A petição inicial inepta, não fundamentada e a manifestamente improcedente serão


liminarmente indeferidas pelo relator.

Parágrafo único. Cabe agravo da decisão que indeferir a petição inicial.

Art. 5o Proposta a ação direta, não se admitirá desistência.

Parágrafo único. (VETADO)

Art. 6o O relator pedirá informações aos órgãos ou às autoridades das quais emanou a lei
ou o ato normativo impugnado.

Parágrafo único. As informações serão prestadas no prazo de 30 dias contados do recebi-


mento do pedido.

Art. 7o Não se admitirá intervenção de terceiros no processo de ação direta de inconstitu-


cionalidade.

§ 1o (VETADO)

54
EaD
noções básicas de direito processual constitucional e a proteção dos direitos fundamentais

§ 2o O relator, considerando a relevância da matéria e a representatividade dos postulan-


tes, poderá, por despacho irrecorrível, admitir, observado o prazo fixado no parágrafo anterior, a
manifestação de outros órgãos ou entidades.

Art. 8o Decorrido o prazo das informações, serão ouvidos, sucessivamente, o Advogado-


Geral da União e o Procurador-Geral da República, que deverão manifestar-se, cada qual, no
prazo de 15 dias.

Art. 9o Vencidos os prazos do artigo anterior, o relator lançará o relatório, com cópia a todos
os ministros, e pedirá dia para julgamento.

§ 1o Em caso de necessidade de esclarecimento de matéria ou circunstância de fato ou de


notória insuficiência das informações existentes nos autos, poderá o relator requisitar informações
adicionais, designar perito ou comissão de peritos para que emita parecer sobre a questão, ou
fixar data para, em audiência pública, ouvir depoimentos de pessoas com experiência e autori-
dade na matéria.

§ 2o O relator poderá, ainda, solicitar informações aos Tribunais Superiores, aos Tribunais
federais e aos Tribunais estaduais acerca da aplicação da norma impugnada no âmbito de sua
jurisdição.

§ 3o As informações, perícias e audiências a que se referem os parágrafos anteriores serão


realizadas no prazo de 30 dias, contados da solicitação do relator.

Seção II

Da Medida Cautelar em Ação Direta de Inconstitucionalidade

Art. 10º. Salvo no período de recesso, a medida cautelar na ação direta será concedida por
decisão da maioria absoluta dos membros do Tribunal, observado o disposto no art. 22, após a
audiência dos órgãos ou autoridades dos quais emanou a lei ou ato normativo impugnado, que
deverão pronunciar-se no prazo de cinco dias.

§ 1o O relator, julgando indispensável, ouvirá o Advogado-Geral da União e o Procurador-


Geral da República, no prazo de três dias.

§ 2o No julgamento do pedido de medida cautelar, será facultada sustentação oral aos re-
presentantes judiciais do requerente e das autoridades ou órgãos responsáveis pela expedição
do ato, na forma estabelecida no Regimento do Tribunal.

§ 3o Em caso de excepcional urgência, o Tribunal poderá deferir a medida cautelar sem a au-
diência dos órgãos ou das autoridades das quais emanou a lei ou o ato normativo impugnado.

55
EaD
Elenise Felzke Schonardie

Art. 11. Concedida a medida cautelar, o Supremo Tribunal Federal fará publicar em seção
especial do Diário Oficial da União e do Diário da Justiça da União a parte dispositiva da decisão,
no prazo de dez dias, devendo solicitar as informações à autoridade da qual tiver emanado o ato,
observando-se, no que couber, o procedimento estabelecido na Seção I deste Capítulo.

§ 1o A medida cautelar, dotada de eficácia contra todos, será concedida com efeito ex nunc,
salvo se o Tribunal entender que deva conceder-lhe eficácia retroativa.

§ 2o A concessão da medida cautelar torna aplicável a legislação anterior, acaso existente,


salvo expressa manifestação em sentido contrário.

Art. 12. Havendo pedido de medida cautelar, o relator, em face da relevância da matéria
e de seu especial significado para a ordem social e a segurança jurídica, poderá, após a presta-
ção das informações, no prazo de dez dias, e a manifestação do Advogado-Geral da União e do
Procurador-Geral da República, sucessivamente, no prazo de cinco dias, submeter o processo
diretamente ao Tribunal, que terá a faculdade de julgar definitivamente a ação.

Capítulo II-A
(Incluído pela Lei nº 12.063, de 2009).

Da Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão 

Seção I

(Incluído pela Lei nº 12.063, de 2009).

Da Admissibilidade e do Procedimento da Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omis-


são 

Art. 12-A. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade por omissão os legitimados
à propositura da ação direta de inconstitucionalidade e da ação declaratória de constitucionali-
dade. (Incluído pela Lei nº 12.063, de 2009).

Art. 12-B. A petição indicará (Incluído pela Lei nº 12.063, de 2009).

I – a omissão inconstitucional total ou parcial quanto ao cumprimento de dever constitu-


cional de legislar ou quanto à adoção de providência de índole administrativa (Incluído pela Lei
nº 12.063, de 2009).

II – o pedido, com suas especificações (Incluído pela Lei nº 12.063, de 2009).

Parágrafo único. A petição inicial, acompanhada de instrumento de procuração, se for o


caso, será apresentada em 2 (duas) vias, devendo conter cópias dos documentos necessários para
comprovar a alegação de omissão (Incluído pela Lei nº 12.063, de 2009).

56
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noções básicas de direito processual constitucional e a proteção dos direitos fundamentais

Art. 12-C. A petição inicial inepta, não fundamentada, e a manifestamente improcedente


serão liminarmente indeferidas pelo relator (Incluído pela Lei nº 12.063, de 2009).

Parágrafo único. Cabe agravo da decisão que indeferir a petição inicial (Incluído pela Lei
nº 12.063, de 2009).

Art. 12-D. Proposta a ação direta de inconstitucionalidade por omissão, não se admitirá
desistência (Incluído pela Lei nº 12.063, de 2009).

Art. 12-E. Aplicam-se ao procedimento da ação direta de inconstitucionalidade por omis-


são, no que couber, as disposições constantes da Seção I do Capítulo II desta Lei (Incluído pela
Lei nº 12.063, de 2009).

§ 1o Os demais titulares referidos no art. 2o desta Lei poderão manifestar-se, por escrito,
sobre o objeto da ação e pedir a juntada de documentos reputados úteis para o exame da ma-
téria, no prazo das informações, bem como apresentar memoriais (Incluído pela Lei nº 12.063,
de 2009).

§ 2o O relator poderá solicitar a manifestação do Advogado-Geral da União, que deverá ser


encaminhada no prazo de 15 (quinze) dias (Incluído pela Lei nº 12.063, de 2009).

§ 3o O Procurador-Geral da República, nas ações em que não for autor, terá vista do proces-
so, por 15 (quinze) dias, após o decurso do prazo para informações (Incluído pela Lei nº 12.063,
de 2009).

Seção II

(Incluído pela Lei nº 12.063, de 2009).

Da Medida Cautelar em Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão 

Art. 12-F. Em caso de excepcional urgência e relevância da matéria, o Tribunal, por decisão
da maioria absoluta de seus membros, observado o disposto no art. 22, poderá conceder medida
cautelar, após a audiência dos órgãos ou autoridades responsáveis pela omissão inconstitucional,
que deverão pronunciar-se no prazo de 5 (cinco) dias (Incluído pela Lei nº 12.063, de 2009).

§ 1o A medida cautelar poderá consistir na suspensão da aplicação da lei ou do ato nor-


mativo questionado, no caso de omissão parcial, bem como na suspensão de processos judiciais
ou de procedimentos administrativos, ou ainda em outra providência a ser fixada pelo Tribunal
(Incluído pela Lei nº 12.063, de 2009).

§ 2o O relator, julgando indispensável, ouvirá o Procurador-Geral da República, no prazo


de 3 (três) dias (Incluído pela Lei nº 12.063, de 2009).

57
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§ 3o No julgamento do pedido de medida cautelar, será facultada sustentação oral aos


representantes judiciais do requerente e das autoridades ou órgãos responsáveis pela omissão
inconstitucional, na forma estabelecida no Regimento do Tribunal (Incluído pela Lei nº 12.063,
de 2009).

Art.12-G. Concedida a medida cautelar, o Supremo Tribunal Federal fará publicar, em seção
especial do Diário Oficial da União e do Diário da Justiça da União, a parte dispositiva da decisão
no prazo de 10 (dez) dias, devendo solicitar as informações à autoridade ou ao órgão responsável
pela omissão inconstitucional, observando-se, no que couber, o procedimento estabelecido na
Seção I do Capítulo II desta Lei (Incluído pela Lei nº 12.063, de 2009).

Seção III

(Incluído pela Lei nº 12.063, de 2009).

Da Decisão na Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão 

Art. 12-H. Declarada a inconstitucionalidade por omissão, com observância do disposto


no art. 22, será dada ciência ao poder competente para a adoção das providências necessárias
(Incluído pela Lei nº 12.063, de 2009).

§ 1o Em caso de omissão imputável a órgão administrativo, as providências deverão ser


adotadas no prazo de 30 (trinta) dias, ou em prazo razoável a ser estipulado excepcionalmente
pelo Tribunal, tendo em vista as circunstâncias específicas do caso e o interesse público envolvido
(Incluído pela Lei nº 12.063, de 2009).

§ 2o Aplica-se à decisão da ação direta de inconstitucionalidade por omissão, no que couber,


o disposto no Capítulo IV desta Lei (Incluído pela Lei nº 12.063, de 2009).

CAPÍTULO III

DA AÇÃO DECLARATÓRIA DE CONSTITUCIONALIDADE

Seção I

Da Admissibilidade e do Procedimento da Ação Declaratória de Constitucionalidade

Art. 13. Podem propor a ação declaratória de constitucionalidade de lei ou ato normativo
federal (Vide artigo 103 da Constituição Federal):

I – o Presidente da República;

II – a Mesa da Câmara dos Deputados;

III – a Mesa do Senado Federal;

IV – o Procurador-Geral da República.

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noções básicas de direito processual constitucional e a proteção dos direitos fundamentais

Art. 14. A petição inicial indicará:

I – o dispositivo da lei ou do ato normativo questionado e os fundamentos jurídicos do


pedido;

II – o pedido, com suas especificações;

III – a existência de controvérsia judicial relevante sobre a aplicação da disposição objeto


da ação declaratória.

Parágrafo único. A petição inicial, acompanhada de instrumento de procuração, quando


subscrita por advogado, será apresentada em duas vias, devendo conter cópias do ato normativo
questionado e dos documentos necessários para comprovar a procedência do pedido de decla-
ração de constitucionalidade.

Art. 15. A petição inicial inepta, não fundamentada e a manifestamente improcedente serão
liminarmente indeferidas pelo relator.

Parágrafo único. Cabe agravo da decisão que indeferir a petição inicial.

Art. 16. Proposta a ação declaratória, não se admitirá desistência.

Art. 17. (VETADO)

Art. 18. Não se admitirá intervenção de terceiros no processo de ação declaratória de


constitucionalidade.

§ 1o (VETADO)

§ 2o (VETADO)

Art. 19. Decorrido o prazo do artigo anterior, será aberta vista ao Procurador-Geral da Re-
pública, que deverá pronunciar-se no prazo de 15 dias.

Art. 20. Vencido o prazo do artigo anterior, o relator lançará o relatório, com cópia a todos
os Ministros, e pedirá dia para julgamento.

§ 1o Em caso de necessidade de esclarecimento de matéria ou circunstância de fato ou de


notória insuficiência das informações existentes nos autos, poderá o relator requisitar informa-
ções adicionais, designar perito ou comissão de peritos para que emita parecer sobre a questão
ou fixar data para, em audiência pública, ouvir depoimentos de pessoas com experiência e au-
toridade na matéria.

§ 2o O relator poderá solicitar, ainda, informações aos Tribunais Superiores, aos Tribunais
federais e aos Tribunais estaduais acerca da aplicação da norma questionada no âmbito de sua
jurisdição.

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§ 3o As informações, perícias e audiências a que se referem os parágrafos anteriores serão


realizadas no prazo de 30 dias, contados da solicitação do relator.

Seção II

Da Medida Cautelar em Ação Declaratória de Constitucionalidade

Art. 21. O Supremo Tribunal Federal, por decisão da maioria absoluta de seus membros,
poderá deferir pedido de medida cautelar na ação declaratória de constitucionalidade, consisten-
te na determinação de que os juízes e os Tribunais suspendam o julgamento dos processos que
envolvam a aplicação da lei ou do ato normativo objeto da ação até seu julgamento definitivo.

Parágrafo único. Concedida a medida cautelar, o Supremo Tribunal Federal fará publicar
em seção especial do Diário Oficial da União a parte dispositiva da decisão, no prazo de dez
dias, devendo o Tribunal proceder ao julgamento da ação no prazo de 180 dias, sob pena de
perda de sua eficácia.

CAPÍTULO IV

DA DECISÃO NA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE E NA AÇÃO


DECLARATÓRIA DE CONSTITUCIONALIDADE

Art. 22. A decisão sobre a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade da lei ou do ato


normativo somente será tomada se presentes na sessão pelo menos oito Ministros.

Art. 23. Efetuado o julgamento, proclamar-se-á a constitucionalidade ou a inconstituciona-


lidade da disposição ou da norma impugnada se num ou noutro sentido se tiverem manifestado
pelo menos seis Ministros, quer se trate de ação direta de inconstitucionalidade ou de ação
declaratória de constitucionalidade.

Parágrafo único. Se não for alcançada a maioria necessária à declaração de constituciona-


lidade ou de inconstitucionalidade, estando ausentes Ministros em número que possa influir no
julgamento, este será suspenso a fim de aguardar-se o comparecimento dos Ministros ausentes,
até que se atinja o número necessário para prolação da decisão num ou noutro sentido.

Art. 24. Proclamada a constitucionalidade, julgar-se-á improcedente a ação direta ou proce-


dente eventual ação declaratória; e, proclamada a inconstitucionalidade, julgar-se-á procedente
a ação direta ou improcedente eventual ação declaratória.

Art. 25. Julgada a ação, far-se-á a comunicação à autoridade ou ao órgão responsável pela
expedição do ato.

Art. 26. A decisão que declara a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade da lei ou


do ato normativo em ação direta ou em ação declaratória é irrecorrível, ressalvada a interposição
de embargos declaratórios, não podendo, igualmente, ser objeto de ação rescisória.

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noções básicas de direito processual constitucional e a proteção dos direitos fundamentais

Art. 27. Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista razões
de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o Supremo Tribunal Federal,
por maioria de dois terços de seus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir
que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de outro momento que venha a
ser fixado.

Art. 28. Dentro do prazo de dez dias após o trânsito em julgado da decisão, o Supremo Tri-
bunal Federal fará publicar em seção especial do Diário da Justiça e do Diário Oficial da União
a parte dispositiva do acórdão.

Parágrafo único. A declaração de constitucionalidade ou de inconstitucionalidade, inclusi-


ve a interpretação conforme a Constituição e a declaração parcial de inconstitucionalidade sem
redução de texto, têm eficácia contra todos e efeito vinculante em relação aos órgãos do poder
Judiciário e à administração pública federal, estadual e municipal.

CAPÍTULO V

DAS DISPOSIÇÕES GERAIS E FINAIS

Art. 29. O art. 482 do Código de Processo Civil fica acrescido dos seguintes parágrafos:

“Art. 482. ...........................................................................

§ 1o O Ministério Público e as pessoas jurídicas de direito público responsáveis pela edição


do ato questionado, se assim o requererem, poderão manifestar-se no incidente de inconstitucio-
nalidade, observados os prazos e condições fixados no Regimento Interno do Tribunal.

§ 2o Os titulares do direito de propositura referidos no art. 103 da Constituição poderão


manifestar-se, por escrito, sobre a questão constitucional objeto de apreciação pelo órgão especial
ou pelo Pleno do Tribunal, no prazo fixado em Regimento, sendo-lhes assegurado o direito de
apresentar memoriais ou de pedir a juntada de documentos.

§ 3o O relator, considerando a relevância da matéria e a representatividade dos postulantes,


poderá admitir, por despacho irrecorrível, a manifestação de outros órgãos ou entidades.”

Art. 30. O art. 8o da Lei no 8.185, de 14 de maio de 1991, passa a vigorar acrescido dos
seguintes dispositivos:

“Art.8o .............................................................................

I – .....................................................................................

n) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Distrito Federal em


face da sua Lei Orgânica;

.......................................................................................

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§ 3o São partes legítimas para propor a ação direta de inconstitucionalidade:

I- o Governador do Distrito Federal;

II – a Mesa da Câmara Legislativa;

III – o Procurador-Geral de Justiça;

IV – a Ordem dos Advogados do Brasil, seção do Distrito Federal;

V – as entidades sindicais ou de classe, de atuação no Distrito Federal, demonstrando


que a pretensão por elas deduzida guarda relação de pertinência direta com os seus objetivos
institucionais;

VI – os partidos políticos com representação na Câmara Legislativa.

§ 4o Aplicam-se ao processo e julgamento da ação direta de inconstitucionalidade perante


o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios as seguintes disposições:

I – o Procurador-Geral de Justiça será sempre ouvido nas ações diretas de constituciona-


lidade ou de inconstitucionalidade;

II – declarada a inconstitucionalidade por omissão de medida para tornar efetiva norma da


Lei Orgânica do Distrito Federal, a decisão será comunicada ao poder competente para adoção
das providências necessárias, e, tratando-se de órgão administrativo, para fazê-lo em 30 dias;

III – somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou de seu órgão especial,
poderá o Tribunal de Justiça declarar a inconstitucionalidade de lei ou de ato normativo do Dis-
trito Federal ou suspender a sua vigência em decisão de medida cautelar.

§ 5o Aplicam-se, no que couber, ao processo de julgamento da ação direta de inconstitu-


cionalidade de lei ou ato normativo do Distrito Federal em face da sua Lei Orgânica as normas
sobre o processo e o julgamento da ação direta de inconstitucionalidade perante o Supremo
Tribunal Federal.”

Art. 31. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 10 de novembro de 1999; 178o da Independência e 111o da República.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO


José Carlos Dias

Este texto não substitui o publicado no DOU de 11.11.1999

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