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MONSTRUÁRIO DE FOMES

RUY PROENÇA
para

Ronald Polito, por ter despertado em mim o desejo de voltar ao poema em prosa, e Aníbal
Machado, por seu livro-talismã Cadernos de João, Editora José Olímpio, 1957
Nem existir é mais que um exercício
de pesquisar de vida um vago indício,

a provar a nós mesmos que, vivendo,


estamos para doer, estamos doendo.

(Carlos Drummond de Andrade, Relógio do Rosário, Claro Enigma)

Vamos buscar os vagalumes da baixa para alumiar a casa?

(Dalcídio Jurandir, Belém do Grão Pará)


ESTETOSCÓPIO
ANTIDEUS

um raio começou a ser gestado no céu entre nuvens adiposas, onde pastam
elétricos porcos-espinhos. uma faca, uma tesoura, uma baioneta de megavolts
fura a atmosfera, rasga a vertigem da hora, atinge a medula do homem sentado
à mesa, à luz do abajur, todo transpiração, deitando palavras sem nexo sobre o
papel. o cerne do homem implode e, no milissegundo seguinte, o buraco negro
de sua alma explode com a máxima violência. farpas de costelas atravessam o
cômodo e cravam-se nas paredes. fêmur, tíbia, ilíaco arrebentam as vidraças,
destelham a casa, buscam o subsolo. de todo absurdo, de toda morte, nasce um
peixe, um pássaro, um inseto, uma gramínea. a vida quer viver, quer felicidade,
quer amor. rebelde, desafia cara a cara a ira dos deuses.
PELIGRO

o muro que adentra o mar mais faz pensar em um quebra-ondas do que em um


píer. nele, em tinta branca, está escrita a palavra peligro. nadadores atravessam a
enseada, cargueiros deslocam-se no horizonte, enquanto pacientes, sentados na
amurada da praia, de frente para o mar, esperamos o sol se pôr. no entanto, a
palavra peligro. há um risco iminente de que não nos damos conta? onde? miro
o mar sem ondas, miro os grafites no muro que circunda a praia, miro o alto
dos prédios, miro a avenida da orla e o calçadão, que aqui chamam rambla. miro
minha companheira. não é de hoje a onda gigante que quebra no fundo de nosso
olhar. peligro. que ameaça nos ronda?
ATERRISSAGEM

sonho. paisagem marinha. vou de passageiro no banco de trás de um 4x4. o


motorista começa a subir a encosta muito escarpada de uma duna e, ousado,
acelera cada vez mais quando nos aproximamos da crista. o carro perde o
contato com o solo e passa a girar no céu. digo a mim mesmo: “medo? devo
confiar no motorista, é profissional, sabe o que faz”. após inúmeros cavalos de
pau no céu, o carro aterrissa na praia, espalhando areia para todos os lados.
estou vivo. conto para minha terapeuta. diz que hipoteticamente ela pode ser a
motorista. mas de modo algum garante uma aterrissagem segura.
O BICHO

morraria. cume. o bicho-homem chega. os bezerros fogem. as seriemas fogem.


o silêncio não foge, não pode. está enraizado na paisagem. o bicho-homem se
aflige com o silêncio. enlouquecedor. o bicho-homem não está preparado para
um mar de silêncio. há muito ruído dentro do bicho-homem. muito barulho de
sofrimento e prazer. vidros se quebrando, gemidos, furadeiras trabalhando,
navios indo a pique. ele quer fugir de si, fugir do silêncio, mas não pode. um
grilo, um mosquito, um anu o aliviam de quando em quando. o sol está a ponto
de fugir também, partir. antes de despencar, se quebrar, sangrar por trás da
morraria, espalha sua luz dourada sobre as partículas suspensas de poeira, a
relva, as árvores. o bicho-homem, tão pequeno, esquece a dor quando vê de
cima a taça iluminada de uma araucária.
FALO COM ELA

quero uma bailarina dançando em meu pensamento. uma bailarina em cujo


braço tenha pousado uma joaninha azul que dance com ela. ambas girando na
caixinha de música de meu cérebro. quero Bach ou uma pomada que alivie em
mim a árvore da dor. quero baixar as pálpebras como a persiana blackout de
uma janela face ao sol da meia-noite. como uma porta de enrolar ou porta
guilhotina do comércio em dia de luto. quero me anestesiar. com o barbeador
elétrico roçar o mato rasteiro que se enredou na pele áspera da alma. chega de
pesadelo acordado! quero sonhar a cotovia que cante para mim enquanto dura
o coma. e quando o cadáver tiver me esquecido, quando o luto refluir na maré
vazante, quando abrir as pálpebras novamente, quero dar de cara com os
girassóis no olhar da mulher-deus-cadela que me lambe sem parar.
VÁLVULA

meu império é um quarto 3x4. nele cabem uma cama, uma mesa, uma cadeira.
a mesa tem uma gaveta onde cabem uma caixa de fósforos, um caderno, um
cachimbo, uma vela. na caixa de fósforos cabe uma foto 3x4, infinitamente
menor do que o quarto. na foto vive uma rainha. quando estou tristíssimo, entro
no quarto, abro a gaveta, a caixa de fósforos. sempre dou um jeito de chegar até
os aposentos da rainha. deitamos então, eu e ela. conversamos horas a fio, fora
do mundo. às vezes ficamos em silêncio, abraçados. às vezes fazemos amor, a
coisa mais sagrada. e ficamos sem fôlego. e novamente ficamos em silêncio.
depois rimos a valer. espirituosos espíritos passeiam sobre nossos corpos. a
rainha é meu encanto. mistério de meu império. há quem a chame válvula. de
escape? a mim, pouco importa.
ENFERMARIA

guarda-chuvas são animais solitaríssimos. quando adoecem, são abandonados


por seus donos. muitas vezes, os encontro no meio-fio, encolhidos, com uma
costela quebrada. encontro-os gemendo baixinho, ensopados da cabeça às
patas, como se já estivessem mortos. recolho-os com todo o cuidado, para que
não padeçam ainda mais. levo-os no colo até o escritório e planto-os em meu
jardim imaginário. trato-os com o melhor adubo e rego-os todas as manhãs,
antes do sol nascer. mais cedo ou mais tarde hão de recobrar as forças,
desabrochar. então, o meu jardim de guarda-chuvas, ninguém terá visto outro
tão belo. e quando estiver no auge de seu viço, prepararei mudas em pequenos
berços e as depositarei na porta dos antigos donos.
HORAS MORTAS

o céu, esse denso azul de metileno, ameaça desabar sobre minha cabeça. vazio,
belo, opressivo. meio-dia? pela manhã, Magritte passou varrendo as nuvens e
as sombras, e pôs os pássaros da vizinhança para dormir. meu quintal agora é
um punhal polido. nenhum ruído de cidade grande. tudo limpo, silêncio. só o
gosto amargo do café. faço um esforço extremo para manter a respiração. a
romãzeira não se mexe um milímetro. não tenho coragem de entrar. e se os
relógios estiverem parados?
TERAPIA

sempre que fica triste, de mau humor, paralisada, eu a abraço, beijo, saio de
dentro de casa com ela no colo e a levo ao quintal para fazer fotossíntese.
deposito-a docemente sobre a laje do armário de vassouras e produtos de
limpeza e a deixo descansar assim, sob o sol, por meia hora. o efeito se produz
aos poucos. as lágrimas vão secando e os olhinhos úmidos voltam a mexer, a
piscar. as pernas principiam a pedalar. as mãos batem palmas. essa, a mulher
que amo. todos os dias me esforço, rezo, para que se repita esse milagre.
GÊMEOS

levito. os pés descolaram do chão. estou como o pobre padre Adelir, que se
pendurou em balões de hélio – mil balões de festa coloridos – e desapareceu
mar adentro. dizem as línguas afiadas que ganhou o prêmio Darwin por ter se
eliminado da espécie. um sentimento me aquece, me torna mais leve do que o
ar. eu, balão sem balões. a brisa sopra para o alto, para longe. navego sem
instrumentos de bordo além do meu desejo e de meus sentidos. ikrek em
húngaro quer dizer gêmeos. palavra crocante. miro a cidade pontiaguda sem
saber onde nem como pousar. o padre olhou assim o mar. fascínio e desespero.
sou aprendiz.
ESPETÁCULO DA PRIVACIDADE

entramos no parque aonde eu fora uma única vez quando estava na


universidade. ela também, uma única vez quando menina. ela se lembrava do
lago e dos patos. eu me lembrava dos peixes quase invisíveis. andamos de mãos
dadas um bom pedaço, beirando o lago, observando os patos, procurando um
lugar sossegado para um beijo demorado. enquanto nos beijamos, um grupo de
adolescentes festeja com palmas. não é um sonho. rir ou chorar? melhor rir,
assim pede a ocasião. continuamos a contornar o lago, até achar um banco de
madeira, sob um caramanchão, onde nos sentamos. um mendigo dorme no
banco ao lado. meia hora gorda assim ficamos, sossegados e fogosos, entre
carinhos e beijos. voltamos a andar, que a tarde já caminhava para seu fim. mais
uma vez paramos para um beijo demorado. desta vez, como da primeira, em pé
mesmo. e lá estava novamente a claque de adolescentes. nos festejavam?
zombavam de nós? saímos do parque mais leves do que entramos. porém, e se
tivéssemos nos afogado de outro modo, mais real? lá estaria a claque nos
festejando?
O AMOR

o amor é uma pinguela sobre um precipício. quem ama deve verificar todos os
dias as tábuas, os parafusos, as porcas, as cordas. proclamar à exaustão alto e
bom som: “eu te amo”, “eu te amo”. trazer flores do vendedor do semáforo.
programar viagens para Istambul, São Petersburgo. achar água no deserto.
inventar miragens. lapidar o diamante bruto do senso comum. deixar-se iludir
pelo boca a boca. o amor é um produto falso contrabandeado do país vizinho?
BANDAGENS

primeira quinzena de setembro: a pequena corça se salvou do incêndio na mata.


não fosse a interferência de um homem, duas semanas depois, dois cachorros a
teriam encurralado e matado. 10 de outubro: um raio destroçou a mais alta das
araucárias. no dia seguinte, um garrote – doente? – caiu duas vezes no mesmo
buraco e duas vezes foi salvo por um grupo de homens. um dia será executado
no matadouro sem que alguém mova um dedo para salvá-lo. o poeta mexicano
Luis Aguilar se curou de um câncer, mas perdeu um ex-companheiro no
terremoto de 19 de setembro de 2017. o atendado à bomba ontem na Somália
matou até agora 276 pessoas e feriu outras 300. não moro no fogo cruzado.
entretanto, tenho a sensação de ser salvo a cada dia por alguma descoincidência.
DENTES

faz três meses, os dentes pararam de cair. andará melhor a vida? antes não
paravam de cair. dentes debulhados: o volume vai crescendo dentro da boca a
ponto de não caber mais. quando acontece, cuspo, um a um, para dar lugar aos
que vêm chegando. a boca é uma constrangedora máquina de produzir dentes.
fatigada metralhadora, cuspo. um a um. impossível beijar nesta condição. seria
mais natural cuspir caroços de azeitona. mas não. que decamilenar antepassado
legou esta remoente aflição a nossos dias? e no entanto, aparentemente, a vida
segue seu curso. terá dado uma trégua?
O MUNDO QUE EU VENCI DEU-ME UM AMOR

o relógio do amor gira ao contrário. o tempo fora do tempo. minha amada é a


paisagem dentro do retábulo. é o pássaro inominável cortando o céu. abaixo do
pássaro, o mar às vezes é remanso, às vezes, tumulto. meu amor é um ser com
asas. um dia o sol se põe no mar e quedamos extasiados atrás dos óculos de sol.
outro dia, as nuvens ou as asas escondem o sol e debulhamos lágrimas que se
somam à chuva. ainda agora ouço as ostras trabalhando em sua oficina de
pérolas – dor e doação. acima da linha d’água um colar de pérolas flutua no ar
e se ajusta ao colo de minha amada. quantas vezes me envolvi nesse colar a
ponto de me afogar! todo dia é dia santo. vem, meu amor, sai desse retábulo,
caminha sobre as águas. vem e me abraça. me beija. tatua seu arpejo nas cordas
de meu desejo.
ELA

muitas vezes ela se desmaterializa. só ela, as outras não. e precisa de proteção


para se materializar novamente. uma pequena nuvem vai se formando perto da
grama até que volte. o processo é delicado, não admite interferência. muitas
pessoas à volta não compreendem, querem tocar, experimentar a nuvem, e
prejudicam a materialização. cuidamos, meu amigo e eu, para que ninguém se
aproxime enquanto ela retorna. somos os únicos a conhecer o enigma. ficamos
felicíssimos quando a metamorfose se completa. ela é viva, esperta, alegre,
morena. pergunta para nós quem a protegeu. respondo prontamente:  nós
dois. não quero que pense que foi só meu amigo. algo nela me atrai.
MAR SEM FIM

não parar de dar braçadas. o alto-mar é feito de vales e montanhas que passam
sem parar, sem fazer espuma. sou um quintalzinho no universo, um simulacro
de jangada. vejo a claridade do sol pela lente verde da água. tenho de dar
braçadas e respirar. não posso parar. meu destino qual é? um dia chegarei em
terra firme. por enquanto, é dar braçadas e respirar. quanto mais avanço, mais
o horizonte se afasta. o que acontece? alguma coisa segue seu curso. um dia estarei em
casa e a mulher reclamará da água da chuva que transbordou da calha para o
interior. triste, exausto, mas sem reclamar, pegarei a escada mais alta e limparei
a calha. a água voltará a fluir da calha para o tubo, eu voltarei a fluir pela vida.
um dia.
TEATRO

as altas paredes de vidro do teatro. da cidade, lá fora, só se vê o céu, negro.


desaba o temporal. aqui dentro, um navio. Bach preenche a nave, a catedral ─ o
sagrado. o eu profundo está solto. pulou para dentro da cena. deus e o diabo
estão soltos. um anjo negro desce do temporal, surge, por uma escada de
marinheiro. tudo é estranho e novo e nu. Sampântano. desoras. nau à deriva?
um bando de anjos negros, corvos. nós, no barco, os sem-pátria? o temporal é
prata na ventania rabiscando o quadro-negro. agora, desce, aparece, quem?
Nossa Senhora Aparecida. nua, coberta só de gotas de prata entre pratas,
cintilante. vem e me tira para dançar. ajoelha-me e se aninha a cavalo sobre meu
púbis. beija-me um beijo de língua. ave, quem sou eu nessa hora?
TERMÔMETRO

um pássaro pousou na fratura exposta pensando estar num galho. o pássaro não
faz ideia do sangue pisado por onde pisa. tampouco faz julgamento moral. o
pássaro é um ser lírico. feito para entoar uma ária, que repete pela vida afora,
procurando seduzir. fosse um ser político, não assobiava. passava a vida
arquitetando artimanhas para nunca deixar a política, nunca perder o poder,
nunca perder o poder de decretar o certo e o errado (para si). sabemos que
poder e dinheiro gostam de andar juntos. há muitas maneiras de facilitar ou
dificultar as coisas quando se quer ganhar dinheiro. há bem poucos homens
públicos que não se guiam por dinheiro. Mujicas são raros. os pássaros cantam
o que já nasceram predestinados a cantar. papagaios não cantam, no máximo
repetem palavras ocas, divertidas. só os músicos poderiam cantar a política. mas
estes andam muito deprimidos.
SELF-MADE WOMAN

Mara, aliás, srta. Marildes, como faz questão de ser chamada depois que se
divorciou, é uma funcionária exemplar. dedicada, com iniciativa, mandona. vive
para lá do Jardim Ângela. pega dois ônibus todos os dias para vir ao trabalho.
1,5 horas na vinda, 2 horas na volta, todo santo dia. srta. Marildes tem um filho
já grande para criar, Huang, quase adulto, que não gosta de estudar; prefere o
celular, o videogame, a internet, o tempo todo, todo dia. srta. Marildes ama
shopping. gostaria de fazer carreira, mas não teve formação escolar. no início,
ainda tentou um supletivo à noite, mas o tempo não deu. conta apenas, pois,
com sua força de vontade. começou na faxina, passou a recepcionista (malcriada
ao telefone com os clientes – a vida é muito sofrida) e hoje é auxiliar de
secretária. trabalha dentro da sala do sócio-presidente. é uma pessoa feliz, a srta.
Marildes. gosta de fazer selfies com os colegas. mas se sente um tanto
prejudicada. deixou pais e irmãos no Maranhão, na roça, para fazer a vida em
São Paulo. a maior parte do tempo, sente saudades.
O TEMPO FORA DO TEMPO

mesa na varanda, vista para o vale. das mãos inaptas da mãe, antes pianista, o
vento sequestrou o guardanapo, levou-o cada vez mais alto para o leste, em
ziguezague, até tornar-se uma estrela, ferida de mortal beleza pela luz do sol
cadente. sentadas ao redor da mesa, a mãe, com Parkinson há muitos anos, a
filha e a neta conversam. por alguns minutos, deixam-se levar pelo espanto da
flutuante viagem. seguindo o rastro do guardanapo, uma semana depois – 17
de janeiro de 2008 –, a mãe partiu num desastre de automóvel. muito antes, eu
sabia do poema visual de Beleza Americana – um saco plástico bailando nos
braços do vento. o mundo em suspensão. agora, em 2016, assisto à cena de
cinema – Dinamarca, alto de um promontório: um casal de amigos, Gerda e
Hans, vê o lenço de seda ser-lhes raptado das mãos pelo vento, num fim de
tarde de 1930, e seguir volteando o rastro de sua antiga dona, Lili Elbe (antes o
pintor de paisagens Einar Weneger), que partira há a algum tempo,
convalescente de uma ousada, desejada e malsucedida vaginoplastia.
MARCAS

prenúncio: dez dias antes de minha mãe partir em um acidente de automóvel,


seu guardanapo de papel alçou voo da mesa na varanda em que conversava, à
meia encosta da serra, com a filha e a neta, três gerações reunidas. o guardanapo
subiu ao céu e a luz do sol poente o atingiu, transformando-o em estrela
vespertina. fado: no dia em que partiu, o carro transportava, além dela e de meu
pai, que dormiu ao volante, um arquivo com fichas médicas de pacientes, um
par de candelabros velhos restaurados, presente do afilhado do casal, e uma
montanha de coisas mais. das diversas colisões e capotamentos que o
automóvel sofreu, restaram incólumes apenas o banco do motorista com meu
pai sentado e um candelabro. tudo o mais ficou arruinado. meu irmão, que se
deslocou até o local, além dos destroços, viu centenas de fichas espalhadas pela
estrada, canteiro central e acostamento. na primeira em que pousou os olhos, o
nome do paciente era Jesus. posfácio: sobre o piano do apartamento em que
moravam e que haviam deixado para passar o fim de semana no campo, o livro
de partituras aberto na página de Adiós nonino.
UM OÁSIS

equipado com tubos coloridos de neon e alto-falante, um carro-propaganda


despeja 140 decibéis em meu crânio. uma moto com o escapamento aberto
dispara e despeja 140 decibéis em meu crânio. as caixas de som da cantina
despejam 140 decibéis em meu crânio. ainda se viesse uma sirene de ambulância
despejar 140 decibéis em meu crânio... só eu faço silêncio. suplico: um minuto
de silêncio. exatamente hoje faz dez anos que minha mãe se foi. procuro um
oásis, um lago, um parêntesis de silêncio, para lhe fazer uma oração, conversar
com ela, enquanto não inventam um celular cósmico, sobrenatural.
MÓBILE

a escultura Black Widow de Alexander Calder foi doada ao Instituto de


Arquitetos do Brasil, Departamento São Paulo, em 1954, lá estando bem
tombada e integrada. o instituto fica à rua Bento Freitas, 306, 4º andar – Vila
Buarque. o móbile tem 3,5 m de altura. ontem, 27 de junho de 2015, 97º
aniversário do nascimento de Guimarães Rosa, fui a uma conferência de Rafael
RG (criador do museu da arte invisível) sobre obras de arte roubadas. a palestra
versava sobre o roubo ocorrido no museu da Chácara do Céu, no bairro Santa
Teresa, Rio de Janeiro, em 24 de fevereiro de 2006, uma sexta-feira de carnaval.
os ladrões levaram as obras Les deux balcons, de Dalí, La danse, de Picasso, Marine,
de Monet, e Jardin du Luxembourg, de Matisse. além disso, os bandidos
quebraram uma vitrine para levar uma edição de Toros, livro de gravuras de
Picasso. a facilidade com que esse e outros roubos são perpetrados, sugere a
Daniel, um dos ouvintes, que alguém possa pensar que a escultura Black Widow,
exposta no IAB, talvez estivesse mais segura em sua propriedade privada. então,
não seria difícil produzir uma réplica perfeita e, com algum planejamento e
ajuda, quando a ocasião se fizesse, retirar o original e pendurar a cópia em seu
lugar. essencial, porém, uma questão se impõe. quantos já não terão tido a
mesma ideia? quem garante que o móbile de Calder exposto no 4º andar do
prédio do IAB, no nº 306 da Bento Freitas, não seja já a oitava ou nona cópia
de um original há muito desaparecido?
VERDADE OU MENTIRA?

a imagem: uma garça pousada no teto de uma Kombi branca. a Kombi


estacionada em frente ao muro do cemitério da Consolação. centro de São
Paulo. prédios ao fundo. a Kombi parou de ser produzida em 2013. está se
tornando cada vez mais rara. um dia, desaparecerá da face do planeta. garças
são raras em São Paulo. às vezes podem ser vistas nos poluídos rios Pinheiros,
Tietê. no centro de São Paulo, garças são inverossímeis. de tão perfeita, é difícil
saber se esta é apenas a representação de uma garça. o amor não é uma garça
(embora, graça, se pareça com uma). e é bem mais difícil de ser representado.
mesmo assim, existe. o nosso sobretudo. raro. um enigma.
APARIÇÃO FRANCÔNIA

por entre mesas e cadeiras ao ar livre, distraído, saio do restaurante francônio.


na rua calçada com pedras, um cisne vem ao meu encontro. impressiona-me
seu porte altivo (metro e meio), sua alvura e, sobretudo, suas patas pretas. receio
que me ataque como um ganso irascível. sou estrangeiro. por precaução, dou
um passo para trás. o cisne se aproxima mais e faz alguns salamaleques. reina
um silêncio reverencial.
MINA SUBJETIVA

o reino das palavras é a jazida das palavras. extraí-las, tratá-las, lavá-las, como
se lava o arroz, o feijão, o minério. jogar fora as impurezas. ficar só com o mais
substantivo, essencial. jogar fora o açúcar, ficar com as formigas. obter um
concentrado que brilhe como o sol, o ouro, o ébano, a lua, o césio. césio que
fascine sem matar. no mínimo de palavras, o máximo de vida.
ELEFANTE

um elefante azul. um elefante azul no meio da rua. um elefante azul no meio da


rua no fim do quarteirão. meu horizonte. rua fechada para carros. rua para
pedestres. rua para lazer. a importância, o relevo de um elefante azul? o nada
que é tudo. daltonismo. nem sempre é fácil identificar a cor. é raro encontrar
um elefante no meio da rua. e um elefante azul. grande miragem,
acontecimento, num dia banal de céu anil. o que estava encoberto. júbilo.
ARTIFÍCIO REAL

a borboleta artificial bate asas, gira, dança. está presa a uma haste fincada na
boca de uma cabaça. é um robô movido a bateria solar. não é inteligência
artificial. é lirismo artificial. batem as asas de meu coração bombeando por você.
meu coração é a borboleta. ressonância. mas não vai ficar preso. vai viajar em
seu corpo, conhecer a Ásia, ir a lugares desconhecidos. voar rasante sobre sua
penugem, seu continente aquático, suas florestas amazônicas, recônditas. a
felicidade são as asas dessa borboleta que me transportam ao sentimento do
mundo. sou um pária, uma parábola desgovernada, que conhece exatamente o
porto onde ancorar. seu acolhimento.
DUPLO SOL

são dois sóis. não é miopia. a missão de um sol é iluminar o outro. quando o
fogo de um sol diminui, o outro aumenta a onda de calor que transfere ao mais
frágil. a nuvem, a fuligem, a chuva nunca apaguem um sol. o sol conhece seu
destino: ser lua, cinzas. mas sabe também que isso demora a acontecer. e dois
sóis que cuidam um do outro são infinitamente.
FLORICULTURA

eu queria lhe dar o sol. como delicado decalque que se solta na água, colá-lo em
sua alma. mas não tenho esse poder. você que é sol sabe que não tenho o poder
de colher um sol e colá-lo sobre outro. não tenho sequer o poder de pegar sua
alma na mão. se não posso isso, posso, meu amor, lhe dar um girassol no vaso.
único, lindo, lúcido, ridente. ao redor dele, botões. quando um girassol fenecer,
outro se abrirá. um para cada dia da semana.
NOTURNO

atrás de comida, um gato entrou no restaurante sem portas, tipo varanda. de


pronto, foi enxotado pela garçonete. ela sabe muito bem que o patrão não gosta
de gatos no restaurante. espantam a freguesia. de cerca de trinta mesas, umas
vinte e quatro estão vazias. um caminhão, todo colorido por luzes, espantoso,
aparece e estaciona na praça, a uns duzentos metros. de longe, não adivinho o
que seja. parece uma centopeia eletrônica. quando volta a se movimentar e passa
pelo restaurante, noto ser uma espécie de city tour. quem diria, nesta cidade,
onde não há sequer um único sítio turístico! a música, alta de tampar os
tímpanos, rola solta dentro do caminhão, onde há uns quatro gatos pingados.
funcionários? mal pagos? com fome?
UM RIO

você veio se banhar no rio do meu coração. estranho rio – raso, turbulento,
vermelho. rio que não lava, tinge. que rio é esse que passa tantas vezes, o
mesmo, pelo mesmo lugar? nele pássaros não vêm beber, nem onças, nem bois.
nele não nadam peixes. rio de sangue, de lava. haverá vida nesse rio? sim, você
se banhando. alumbramento, iara nuinha, tingida de urucum. tenhamos
cuidado, iara: nesse rio não há salva-vidas.
RATO

rato. percebemos que há um. pequenas fezes sobre o fogão, perto da panela de
sopa; sobre a pia; no chão. para um desavisado, caroços de azeitona. começa a
busca, a caçada. a cabeça sofre, torturada pelo medo, asco. procuramos atrás,
dentro do fogão, dentro dos armários, embaixo dos móveis. uma lanterna,
alguém diz. afastamos a geladeira da parede e iluminamos embaixo o
compartimento do motor. lá está ele, encolhido. tocado pela piaçava da vassoura,
escapole. corre, corre, roda pela cozinha. gritamos como se nos descabelando
numa montanha russa. vamos chamar o guarda noturno, outro diz, ele deve ter mais
experiência. vem o guarda. pede para fechar as portas. assim ele não escapa.
novamente o localizamos (o rato). corre, corre, roda pela cozinha, até se
esconder nos vãos do fogão. o guarda é testemunha. diz, tenho certeza. escalou,
caiu, voltou a subir. tiramos o piso do forno. nada. acendemos o forno. nada. a
lanterna, um lembra. iluminamos o desvão acima do forno, abaixo das bocas.
difícil achá-lo, um labirinto de tubos. até que alguém diz, lá no fundo, no canto
esquerdo. o guarda pergunta, tem espeto velho? respondo, tem o de churrasco, não é velho.
e emendo, não tem outro, vai com ele mesmo. cutuca que cutuca. o rato salta no ar e
corre. silencioso, sem guincho. um, com o rodo, acerta-lhe a cabeça na quina
da parede. fios de sangue pelo ladrilho. torturada, a cabeça sofre. o rato
estertora. com a pá, o colocamos dentro de um saco plástico, amarramos bem,
para sufocar, e levamos para o lixo da rua. o lixeiro passa daqui a pouco, alguém
diz. lavamos as manchas de sangue, esfregamos, desinfetamos. lavamos as mãos
até esfolar a pele. a bagunça dos móveis fica para amanhã, alguém diz. vamos jogar fora
a sopa e pedir uma pizza, outro diz. estou morto, digo. aquele rato sou eu.
PREVISÃO DO TEMPO

é noite. o vento traz um cheiro úmido. faz pensar que vai chover. mas chuva
aqui é algo raro como irmãos siameses, cachorro de seis patas. coisas que jornais
populares gostam de estampar, para vender, é claro. só a plateia ignara e os
poetas veem nisso algum sentido. o vento traz um cheiro úmido e frio ao
semiárido. é inusitado. mas não muda nada. ao fim, nada acontece.
O MEDO

o dia quer nascer. mas sol não há mais. sequestraram, executaram o sol. agora
há o grande círculo do medo. outro astro, maior, falso, vazio, impondo sua
sombra de terror sobre os viventes. a semente da flor não mais será flor. a flor
existente não virará fruto. a vaca enlouquecerá e não mais dará leite. o rio
estagnará insalubre. não mais o aperto de mão, não mais o abraço, não mais
meu semelhante. todos desconfiarão de todos. cavalos e cavaleiros pisotearão
nas ruas a esperança. a mentira dita três vezes será a verdade trespassada em
nosso fígado pelo disparo dos fuzis. nos porões da hierarquia, a poesia morrerá
asfixiada. depois dirão que se matou. onde andará a canção do amor? a ordem
da hora é marchar. hoje é o dia do medo.
BÚSSOLA

um motoboy veio me trazer a notícia da morte. cuidou, a morte, de colocá-la


em papel timbrado, dentro de um envelope. abri, vi, não entendi aquela língua.
foi necessário alguém  quem eu mais amava  me traduzir. eu assim parado
no meio de uma rotatória, pensando que nenhuma daquelas saídas – norte, sul,
leste, oeste – me levaria a lugar algum.
A FÓRCEPS

uma ordem sem rosto faz baixar o preso ao porão. uma ordem não: reza o
manual – um princípio. melhor não pensar em Deus hoje: o manda-chuva está
de folga. um centro cirúrgico, sim, seria razoável pensar. instrumentos vários:
alguns toscos, outros nem tanto (lembram eletrodomésticos). simbolicamente,
tudo pode ser figurado por um fórceps maior que o normal (embora nessas
circunstâncias seja difícil precisar o que é normal). objetivamente, o fórceps
serve para extrair o preso de si. a operação é feita sem anestesia. no início, só
os paramédicos falam. normalmente gritam. como se eles já estivessem fora de
si. as intervenções são levadas a tal ponto que fazem lembrar um culto, uma
sessão de exorcismo. esse ponto, em geral, pode ser entendido como uma
encruzilhada, uma bifurcação. uma das hipóteses é o paciente começar também
a falar, aos poucos. chama-se isso, no jargão, soltar a língua. quando acontece,
é sinal de que as coisas estão indo bem. às vezes, o organismo do paciente resiste
e é necessário intensificar os procedimentos. a frequência da voz pode se
esgarçar (como se puséssemos um vinil 33 rpm para tocar em 16). esta situação
é muito delicada. requer atenção redobrada. ocorrendo um ponto de virada,
pode se instaurar a segunda hipótese: o paciente emudece novamente. no
jargão, isso se chama língua presa. quando isso se dá em termos absolutos e
definitivos, é sinal de que a operação fracassou (como se tivéssemos ligado um
gravador 110 volts numa tomada de 220). uma ordem sem rosto faz baixar o
preso ao caixão. encomenda a um médico (com diploma) um laudo: suicídio,
por exemplo. um juiz assina embaixo: atestado de óbito. antes que se esqueça:
na primeira hipótese, de sucesso, o preso nunca mais será o mesmo. (pois,
obviamente, foi extraído de si.)
O FUNDO DA CARTOLA

quem te espera no fundo do universo? o que te aguarda? um cabide para,


cansado, pendurar a roupa? teu avô alemão que abandonou o corpo em tuas
mãos e partiu em sã consciência? uma lata de lixo, para se desfazer dos últimos
apegos, das últimas ilusões, das últimas más notícias? um cachorro que te ama
quem sabe mais que teus próximos? uma boa cama com abajur para ler teus
livros? haverá sol no fundo do universo para um banho de sol? que lua
carunchada ainda subirá ao palco do firmamento para que se renove o pacto do
amor? Bernardo Soares te aguardará burocraticamente na mesa de bar para um
brinde pós-expediente? haverá um milhão de spams no fundo do universo?
terás a mulher que queres, contagiosa, na cama que escolherás? um sistema de
alarme ainda será necessário para te proteger das perversidades? haverá trilha
sonora? Apassionata, de Beethoven? Três da madrugada, de Torquato?
PAPEL-CARBONO
PROCURO A MORTE

quero morrer. procuro um jeito. já tentei roleta russa com arma. já experimentei
salada temperada com raticida. realidade ou fantasia? procurei um matador do
bairro. pergunto quanto cobraria pra me matar. ele: não, isso não posso fazer. matar
a irmã de amigo, não. insisto. sem convencê-lo, resolvo perguntar: quanto custa
matar alguém? depende de quem. como começou na profissão? minha família foi
morta numa chacina. comecei a matar pra me vingar. o primeiro foi mais difícil, depois
acostuma. passou um tempo, fiz um aborto. abortar é uma mistura de homicídio
com suicídio. a gente acostuma. hoje trabalho como cuidadora de doentes e
idosos. sempre gostei. meu pai morreu. preciso falar sobre isso.
O COMERCIANTE

o baú aberto do caminhão com mercadorias, bugigangas da cidade. os


camponeses embrutecidos se aproximando. constrangidos, seduzidos. quanto
custam estas botas? 25 kg de batata. quanto custa este batom? 10 kg de batata.
esses lenços? quanto custa esta lâmpada? 5 kg de batata. e o papel higiênico? 1
kg de batata. venham, vejam, crianças: bolhas de sabão! sei que gostam. vamos,
chamem seus pais e peçam para comprar. a idosa desdentada: preciso daquele
ralador. 5 kg de batata. ai, ai, não tenho dinheiro nem batatas, não tenho
ninguém. tudo custa, vovó, são meus problemas financeiros. então me dê de
presente, moço, preciso.
NO BUTÃO

meu marido tem uma amante. pensei em falar com ele, mas não tenho coragem.
para onde eu iria? tem um lugar. minha filha aprendeu na escola. todo mundo
é feliz no Butão (em 2006, após pesquisa global, a revista BusinessWeek avaliou
o Butão o país mais feliz da Ásia e o oitavo país mais feliz do mundo). em vez
de Produto Interno Bruto, só Felicidade Nacional Bruta. você está ouvindo a
Rádio Butão? e se tivéssemos isso aqui? e se eu fosse para o Butão com você?
você anda muito distraído! é? minha mãe sempre dizia: às vezes, o trem errado
leva à estação certa.
ANATOMIA BATAILLIANA

o tubo na horizontal não é um tubo. é um homem deitado. encoste o ouvido


no tubo. se ronca, o homem dorme. ou tem fome. se faz barulho de água
caindo, sonha com banho ou chuva. se há peristalse, o corpo é saudável,
processa. o tubo na vertical é um homem em pé. se sai fumaça do tubo, o
homem está fumando. fuma, apesar dos prognósticos negativos. quando está
em pé de guerra, ou em pânico, o tubo se estica ao máximo, se deforma. a
cintura do tubo se retrai e o diâmetro nas extremidades aumenta. o homem
irado, angustiado, é um magérrimo trombone. a boca é sua proa. dirige-a para
o alto, como uma mangueira de água chicoteando sem controle. seu grito
ancestral é um facho, é seu rosto oral. se grita de pavor, por dentro o tubo se
contorce, padece de dores, espasmos. a popa, isto é, o ânus, é um navio indo a
pique. sem socorro, sem esfíncter, sem bote salva-vidas. afoga-se este segundo
rosto, sacral. o tubo, antes vértebra, agora é víscera. um réptil.
LIVRE-ARBÍTRIO

crack. fissura. rachadura. hematomas. fratura. sim, somos usuários. sim, meu
marido bate em mim, me espanca. recorrer a quem? à delegacia da mulher? não
senhora, lá a polícia não entra. fiz o que tinha de fazer. recorri aos líderes da
comunidade. deram uma coça nele, uma tunda, uma surra enorme. a ponto dele
sumir de São Paulo, voltar pra Sergipe, onde vive parte de sua família. o que
pedi aos líderes? o que pensei que fariam? aqui é assim, quando a gente pede
ajuda, sabe que eles é que decidem. bater em mulher com criança no colo, como
meu marido faz, não pode. sim, depois fiquei deprimida, sem me alimentar, não
saía da cama, comi o pão que o diabo amassou. agora meu marido voltou para
casa. antes de voltar, os líderes fizeram um julgamento. decidiram que podia
voltar. mas vão ficar de olho nele.
DESVELO

ela pede aos traficantes que entregam cocaína de moto em sua casa para não lhe
vender mais pó. um dia chama um deles (aquele que acha que respeitaria seu
pedido – “o outro ia acabar vendendo”) e tenta convencê-lo. ele: “não, não vou
te vender pó”. “se quiser, se não estiver bem, podemos ir ao cinema. mas não
vou te vender pó.”
POR QUE VOCÊ É TÃO DESCONFIADA?

acha que todos te perseguem? que ninguém te quer? só porque teu pai foi
embora? tua mãe se matou? tuas tias não te acolheram? tua madrasta te usou?
teus irmãos fugiram? que bobagem, todos temos problemas!
RECEITAS

tinha compulsão por laranjas. sentava-se na varanda com a bacia no colo e a


faca na mão. só parava de chupar quando não havia senão cascas. lambuzava-
se toda nos gomos, até a exaustão. com o tempo, a pele foi amarelando. foi a
vários médicos. só sarou quando uma amiga lhe prescreveu sessões de
masturbação.
PERTURBAÇÃO

o velho me chamava para dar balas. eu ia porque gostava de balas. depois saía
correndo para ele não fazer como da primeira vez. me pôs no colo, colocou o
dedo por dentro de minha calcinha, cheirou e dividiu comigo: cheira, cheira, sente!
SANTINHOS

minha mãe se matou. a coleção de santinhos foi a única herança que me sobrou.
eu mudava de casa todos os anos, ela me acompanhava. era meu amuleto. um
dia, eu a encontrei no lixo junto com os restos de comida. obra da minha
madrasta.
GARRULICE?

só para continuar a conversa difícil. sentei perto de Clara. ela ria com garrulice.
então me olhou de relance. e seus olhos tão belos... meu deus, estavam
impressionantes de tristeza! saí da casa com aquele olhar fortíssimo até agora.
enfim.
DEPOIMENTO 1 – TIRO

uma noite, quando servia o exército, minha unidade foi designada para impedir
um atentado suicida capturando um terrorista num povoado perto de Shrem.
mobilizei nossas forças. para desentocá-lo, disparamos nas paredes como
demonstração de força. uma mulher saiu da casa, com uma garotinha no colo e
outra trazida pela mão. eram três da madrugada. apavorada, a menina correu
em nossa direção. tive medo que fosse atingida. gritei em árabe: pare! ela
continuou. disparei por sobre sua cabeça. ela parou. naquele instante, o tempo
parou. foi o momento mais curto e mais longo da minha vida. a garotinha ficou
viva. eu fiquei vivo. ao mesmo tempo, algo morreu em nós dois.
DEPOIMENTO 2 – ÁGUA

esse ano, cobri uma seca muito severa no estado de Maharashtra. por um lado,
vi pessoas desamparadas por causa da crise hídrica. por outro, vi prédios sendo
construídos com piscina em cada andar. não eram prédios de três ou quatro
andares. em Mumbai, duas torres gêmeas estão sendo construídas com trinta e
sete andares cada. ou seja, setenta e quatro piscinas. fui ver quem eram os
trabalhadores dessa obra. são todos sem-terra e pequenos agricultores que
deixaram seus povoados como retirantes da seca. e estão na cidade construindo
piscinas.
CARTÃO-POSTAL

minha terra tem palmeiras. não quero morrer sem ter ido ao zoo com você
numa tarde de verão (quem sabe soltamos os animais?), ao planetário numa
tarde de inverno. saio do pensamento e vou a todos os lugares do mundo. a
gente sempre acha que é Fernando Pessoa. ou seu avesso. sou de um tempo em
que viajar é partir. Pedra Sonora, Uruguai, Amsterdã, Londres, Irlanda, País de
Gales, Espanha, Estados Unidos, Paraguai, Maranhão, Bahia, Pernambuco,
Ceará, Bariloche, Buenos Aires, Búzios, Brasília, Campos do Jordão, Roma,
Paris, Santiago, São Paulo, Portsmouth e, principalmente, Rio e Niterói, onde
nasci. esse o meu pequeno mundo, meu exílio. minha terra é onde não estou.
vivo. vivo fingindo. finjo que vivo. a poesia é uma mentira. não quero morrer
antes de ver meteoros jamais vistos se beijarem impotentes. não quero morrer
sem experimentar óculos para daltônico. não quero morrer antes de preencher
meu caderno terapêutico. não quero. e se morrer antes disso não verei a lua de
perto. sobrevivo. sobrefinjo. parece que há uma saída exatamente aqui onde
pensava que todos os caminhos terminam. uma saída de vida. agora que você
está chegando, não preciso mais me roubar.
FOTO

reparou na primavera? meu pai gostava muito dela. mandou plantar rente ao
muro, no fundo do terreno em queda, bem à vista, entre a casa e o mar. durante
anos, ela nunca floresceu. e ele ficava muito triste com isso. no ano em que ele
morreu, ela finalmente explodiu em flores. por que mandou plantar? por que
não plantou ele mesmo? não sugere Aníbal Machado, em Noite numa folha, que
as árvores têm alma? tivesse plantado e cuidado, ela teria precipitado sobre ele
suas brácteas de noiva.
A ARTE DE GIRAR PRATOS

mulher, você, que durante a vida aprendeu a girar vários pratos sobre hastes ao
mesmo tempo, receba mais este que lhe dou de presente. pensará – “que
presente de grego”. e isso poderá deprimi-la. contudo, ao girar, preste atenção.
encoste o ouvido à borda do prato. sem agulha visível, uma música antiga se
fará ouvir. uma melodia que a fará desabrochar para o dia. a felicidade será
pequena, mas suficiente para fazer você se sentir capaz de equilibrar mais
pratos.
JANELAS

em novembro de 1977, indo para Campo Formoso, no sertão baiano, hospedei-


me um dia no apartamento de uma querida amiga bailarina, Lia, na praia da
Pituba, em Salvador. à noite, sentados no sofá, luzes da sala apagadas, olhando
pela janela, ela disse: “olhe aquele prédio escuro, com algumas janelas acesas,
pequenos quadrados de luz. imagine a parede do prédio tão mais escura que se
confunda com o bloco negro da noite sem lua. não vê que as janelas acesas são
pequenos buracos por onde passa a luz que existe do outro lado da parede do
mundo?”. tempos depois, lendo Introdução à história da filosofia, de Hegel, vejo
que Anaximandro, 2.600 anos antes, teve a mesma ideia observando as estrelas.
elas são furos na sólida abóbada celeste, por onde se pode ver a luz do fogo
eterno envolvendo a terra. mais tarde, em 1990, em uma oficina de poesia,
escrevi o poema Olhar antigo, fruto dessa experiência:

vem a noite
indisfarçável
sem maquiagem
memória solitária
campo de girassóis do pensamento

em seu compacto escudo negro


longínquo
cada estrela
é uma escotilha
debruçada sobre a claridade
de um dia eterno
DILACERAÇÃO

amanhã me caso. hoje me ligam da antiga república, em outra cidade, para dizer:
seu cachorro está morrendo. faz tempo que não o vejo. preto. pastor. barão. muitos
anos me acompanhou. todos os dias no alvorecer arranhava a janela para me
acordar. ao abri-la, lá estava ele. apoiado nas patas traseiras, me lambia. adotei-
o com três meses. hoje tem onze anos. e câncer. ao volante do carro, não
contenho o choro. uma represa se rompeu em mim. quero viajar, abraçar meu
cão, antes que morra. amanhã me caso. me ligaram: seu cachorro está morrendo.
ESTETOSCÓPIO

querida Julia, estou lendo Covil. uma primeira leitura, pois você sabe, poesia
exige várias, para ir apreendendo aos poucos o texto. aquela metáfora (do
Barthes?) de que a poesia precisa ser lida como uma cebola – ir abrindo camada
por camada, até chegar ao cerne, ao núcleo. estou gostando bastante do livro.
aí me deparo com o poema O cão. adorei. queria eu o ter escrito. mas o que
desejo lhe contar é outra pequena história. o cão ignora a morte, você escreve. e
fiquei matutando sobre uma dachshund de minha irmã. já velhinha, frágil, um
dia em que só estavam na casa ela e a senhora que lá trabalha, sai de sua caminha,
vai até o quarto de minha sobrinha – que então morava fora. sobe na cama,
cheira. sai, vai até o quarto de meu sobrinho. sobe na cama, cheira. sai, vai até
o quarto de minha irmã. sobe na cama, cheira. volta para sua caminha, deita e...
morre. fico me perguntando: será? o cão ignora a morte?
O ÚLTIMO TREM

pessoas não são pessoas. pessoas são malas. cheias de alguma coisa,
despachadas a destinos, jogadas pra lá, pra cá, achadas e perdidas, de repente
esvaziadas pela metade, abarrotadas mais do que nunca. até que, afinal, o último
carregador as joga no último trem, em que se vão sacolejando.
DIRETIVAS ANTECIPADAS DE VONTADE

e por ele me foi dito que vem declarar suas diretivas antecipadas de vontade,
que devem ser cumpridas caso ocorra consigo quaisquer das seguintes
hipóteses: 1) estar em irreversível processo de falecimento, sem perspectivas de
melhora, em que qualquer terapia de sobrevivência seja um mero
prolongamento de sofrimento; 2) em virtude de uma lesão cerebral,
determinada por acidente, derrame ou inflamação causada por tentativas de
reanimação, choques ou disfunções pulmonares e que, segundo a avaliação de
dois médicos experientes, ocasionaram a irreversibilidade da incapacidade de
discernir, tomar decisões e comunicar-se com as pessoas, mesmo que seja
impossível um prognóstico sobre o momento do óbito; 3) devido a processo
avançado de debilitação cerebral e/ou mental, demência, em que, mesmo sob
constante acompanhamento médico, não esteja mais em condições de receber
alimentação sólida ou líquida de forma natural. ante tais circunstâncias, mesmo
ciente, como diz, de que nas situações de inconsciência e até na entrada do
estado de vida vegetativo pode estar preservada a capacidade de receber
estímulos, sendo possível um “despertar”, declara textualmente, a seguir, suas
disposições: “não devem ser adotadas quaisquer medidas para prolongar minha
vida, evitando o retardamento do óbito e prolongando o sofrimento moral e
físico; aquelas já iniciadas devem ser interrompidas. não quero fazer uso de: a)
respiração artificial, sendo que, na hipótese de ter sido iniciada, seja
interrompida e substituída por medicação que alivie a falta de ar; b) diálise; c)
implantes de órgãos e tecidos de estranhos; d) transfusões de sangue,
antibióticos e medicamentos outros que não representem exclusivamente
lenitivo de dores. fome e sede devem ser mitigadas de forma natural, mesmo
que com ajuda para a ingestão de alimentos líquidos e sólidos, tudo conforme
avaliação médica, sem que, todavia, se faça uso de sondas ou acessos venosos.
desejo ter bom tratamento bucal e das mucosas; alojamento digno e com asseio
corporal; tratamento profissional para alívio das dores, ajuda na respiração
penosa, nos enjoos e em qualquer outra forma de sofrimento físico e moral;
apoio no medo e na inquietação; anestésicos do estado de consciência, na
hipótese de não haver a menor possibilidade de controle dos sintomas e alívio
das dores. nos casos de anestesia, tenho consciência e aceito o fato de que
podem causar involuntariamente a redução do tempo de vida. não pretendo
doar órgãos. caso o médico ou componente de equipes de enfermagem não
estejam dispostos a acatar as diretrizes aqui expressas, as duas pessoas por mim
indicadas, responsáveis pela aplicação e manutenção das minhas estipulações
devem procurar alternativas com outras equipes, que se aproximem ao máximo
daquilo que nesta escritura ficou estipulado, concretizando assim a minha
vontade. as situações não previstas nesta escritura devem ser analisadas e
solucionadas em conjunto entre as pessoas por mim indicadas e os profissionais
que me atenderem; entretanto, havendo discordância, deve prevalecer a vontade
daquelas que escolhi para agir por mim. desde que eu não tenha previamente
revogado estas minhas diretivas, elas não devem ser contrariadas. caso meus
gestos, atitudes e expressões, no decorrer dos processos hipotéticos na presente
aventados, demonstrem uma atitude que contrarie o estipulado, deverá então
haver um consenso entre os profissionais e as duas pessoas por mim designadas,
com prevalência da vontade destas últimas, para avaliar se as estipulações ainda
correspondem à minha vontade. estou ciente do conteúdo e das consequências
das decisões neste instrumento insertas e declaro estar no pleno uso das minhas
faculdades mentais, não tendo sofrido qualquer tipo de coação, sugestão ou
induzimento”.
O EU COMPLETO

torne sua mente livre e serena. aplique o método da subtração. descarte todas
as fotografias acumuladas no cérebro, todos os milhões de pensamentos e
emoções armazenados nessas fotografias, toda a vida vivida. retorne à origem,
antes da existência do mundo. quanto mais a mente se esvazia, mais o latão de
lixo enche, mais fácil resolver os problemas da mente. se ainda assim não
resolver, descarte a própria mente ou, no limite, a vida.
AGORA

agora na fruteira o mamão apodrece agora o céu escurece agora apedrejam


agora a lua rachou agora na rua o cachorro sou eu agora não mais tenho mulher
agora a tira da havaiana se rompeu agora perco o ônibus e a esperança agora
roubaram minha graça agora as estrelas se afogam agora meus olhos são míopes
agora no lixo a salamandra e minha Szymborska agora minha mãe morreu agora
o mar me derruba agora a morte me tira para dançar agora a cerveja está quente
agora o pneu furou agora a faca de legumes me corta agora a canção me faz
chorar agora o mundo sempre injusto agora entraram em minha casa agora as
milícias matam o diferente e o igual agora a mata me perde agora nos presídios
os evangélicos são facção agora passo fome agora não tenho nome agora meu
amigo se foi agora meu eu se parte agora o vinho avinagra agora o leite azeda e
transborda agora a vida é um bordel agora não tem mais por quê agora perco o
sono agora perdi coisas e peso agora perdi o medo agora quero voar agora
busco calor agora busco o sol agora sou coletivo agora sou cidadão agora grito
meu sonho agora sou multidão agora sou uma voz agora atravesso paisagens
agora cruzo países agora sou flecha a caminho agora nunca termino
Voar com asa ferida?
Abram alas quando eu falo.
Que mais foi que fiz na vida?

(Paulo Leminski, Asas e azares, Distraídos venceremos)


DEDICATÓRIAS

FALO COM ELA, ELEFANTE, ARTIFÍCIO REAL, MULHER EM


VESTIDO DE CHITA – para Cecília Furquim

GÊMEOS – para Ricardo Rizzo

O MUNDO QUE EU VENCI DEU-ME UM AMOR (com Mário Faustino,


Farnese de Andrade e Rubem Alves, ao som das 6 suítes para violoncelo de Johann Sebastian
Bach), DUPLO SOL, FLORICULTURA – para Marisa Proença

SELF-MADE WOMAN – para Marildes Lira

ANATOMIA BATAILLIANA – para Eliane Robert Moraes (a propósito de sua fala


O vestíbulo de Deus, sobre Hilda Hilst)

CARTÃO-POSTAL – para Ana Cristina Cesar

DILACERAÇÃO – para Jorge Luís Roberti Proença

ESTETOSCÓPIO – para Julia de Souza

AGORA – para Arnaldo Antunes (em ressonância com sua letra homônima)

Vários poemas da segunda parte do livro, Papel-carbono, foram escritos a partir


de referências alheias, públicas ou privadas  falas, textos, documentos,
publicidade, protótipos de poemas. Às fontes pessoais  cada qual saberá
identificar sua contribuição , gostaria de registrar meu profundo
agradecimento.
NOTAS SOBRE OS POEMAS

Alguns poemas deste livro foram publicados anteriormente em revistas, jornais,


plaquetes e sites. Entre estas publicações e o livro atual eventualmente
ocorreram modificações.

Agradeço aos respectivos editores pela oportunidade de mostrar os poemas em


suas primeiras versões.

 Terapia. Ave de Rapina – Zine, nº 1, maio 2016, editoria de Hélio Neri;


 Termômetro, Terapia, Horas mortas, O tempo fora do tempo, Procuro a morte, Self-made
woman, Móbile, No Butão, Gêmeos. 9 poemas de Ruy Proença. Mallarmagens –
revista de poesia e arte contemporânea, ISNN 2316-3887, 20/12/2016,
editoria de Tito Leite (http://www.mallarmargens.com/2016/12/9-
poemas-de-ruy-proenca_20.html);
 Válvula, Caderno Ilustríssima, Folha de São Paulo, 5/3/2017;
 Válvula. Quelônio Solto nº 2 (plaquete). Org. Bruno Zeni e Sílvia Nastari.
Editora Quelônio, SP, março/2017;
 Válvula, Terapia, Horas mortas, Enfermaria, Rato, Termômetro, O tempo fora do
tempo, Dentes, Procuro a morte, No Butão, Self-made woman, Gêmeos, Móbile, Um
rio, Anatomia batalilliana, A fórceps. Gabinete de curiosidades, Galileu
Edições, PR, setembro/2017 (plaquete produzida por Jadel Dias
Cavalcanti);
 Procuro a morte, Cândido – Jornal da Biblioteca Pública do Paraná, Secretaria
da Cultura, Edição 76, novembro/2017, editoria de Luiz Rebinski, ilustração
de Caco Galhardo;
 Cartão-postal. A nossos pés. Org. Manoel Ricardo de Lima. Editora 7 Letras,
RJ, 2017;
 Enfermaria. Primeiras vozes (plaquete). Org. Tarso de Melo e Heitor Ferraz.
Editora Quelônio, SP, junho/2018;
 Aterrissagem. Três poemas de Ruy Proença – Brancos, Topo, Aterrissagem.
Revista Literatura e Fechadura, editoria de Jean Narciso Bispo Moura,
26/7/2018 (http://www.literaturaefechadura.com.br/2018/07/26/tres-
poemas-de-ruy-proenca/);
 Enfermaria, Procuro a morte, Antideus, Depoimento 1 – tiro, Depoimento 2 – água,
Self-made woman, O tempo fora do tempo, Previsão do tempo, O último trem. Ruy
Proença: que ameaça nos ronda, Germina Revista de Literatura e Arte,
editoria de Tito Leite e Silvana Guimarães, 2018
(http://www.germinaliteratura.com.br/2018/naberlinda_ruyproenca_mar
18.htm);
 O mundo que eu venci deu-me um amor, Antideus, Peligro, Receitas. 4 poemas de Ruy
Proença. Revista Gueto, editoria de Tito Leite, 2018
(https://revistagueto.com/2018/02/19/quatro-poemas-de-ruy-proenca/);
 O eu completo. 5 poemas de Ruy Proença Proença – Praga, Êxtase, Pedra,
Totem, O eu completo. Ruído Manifesto, editoria de Matheus Guménin
Barreto, 15/12/2018 (http://ruidomanifesto.org/cinco-poemas-de-ruy-
proenca/?fbclid=IwAR3OZAewPeqbC2nB8g_UURyqe6jPGJW79Nd6_q-
vtvE5iDWxfpfCtg5qSmo);
 Válvula, Procuro a morte, O fundo da cartola. Detrás de árboles secos. 13 poemas
de Ruy Proença. Vallejo & Co, editoria de Fabrício Marques, 14/5/2019
(http://www.vallejoandcompany.com/detras-de-arboles-secos-13-poemas-
de-ruy-
proenca/?fbclid=IwAR2fXqJcNHVU2xVb3_mRKza3GYoSqO1t9aOB1-
xVjd5cHucLtBNBMtEHNDk).
AGRADECIMENTOS

Agradeço aos amigos queridos que compartilharam comigo no todo ou em


parte a elaboração e a publicação deste livro: Cecília Furquim, Eduardo Lacerda,
Fabio Weintraub, Fernando Paixão, Iara Salles Oliveira, Luciana Inhan, Marisa
Proença, Paulo Ferraz, Renan Nuernberger, Ricardo Rizzo, Ronald Polito,
Tarso de Melo e Viviana Bosi.
SOBRE O AUTOR

Ruy Proença nasceu em 9 de janeiro de 1957, na cidade de São Paulo. Participou


de diversas antologias de poesia, entre as quais se destacam: Anthologie de la poésie
brésilienne (Chandeigne, França, 1998), Pindorama: 30 poetas de Brasil (Revista Tsé-
Tsé, nos 7/8, Argentina, 2000), Poesia brasileira do século XX: dos modernistas à
actualidade (Antígona, Portugal, 2002), New Brazilian and American Poetry (Revista
Rattapallax, nº 9, EUA, 2003), Antologia comentada da poesia brasileira do século 21
(Publifolha, 2006), Traçados diversos: uma antologia da poesia contemporânea
(organização de Adilson Miguel, Scipione, 2009) e Roteiro da poesia brasileira: anos
80 (organização de Ricardo Vieira de Lima, Global, 2010). Traduziu Boris Vian:
poemas e canções (coletânea da qual foi também organizador, Nankin, 2001), Isto é
um poema que cura os peixes, de Jean-Pierre Siméon (Edições SM, 2007), Um certo
Pena, de Henri Michaux (Pãooupães Editorial, 2017) e, de Paol Keineg, Histórias
verídicas (Dobra, 2014), Dahut (Espectro Editorial, 2015) e Entre os porcos
(Pãooupães Editorial, 2018). É autor dos livros de poesia Pequenos séculos
(Klaxon, 1985), A lua investirá com seus chifres (Giordano, 1996), Como um dia come
o outro (Nankin, 1999), Visão do térreo (Editora 34, 2007) e Caçambas (Editora 34,
2015). Publicou também os poemas infantojuvenis de Coisas daqui (Edições SM,
2007) e Tubarão vegano e outros elementos (Espectro Editorial, 2018).
ÍNDICE

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