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INTRODUÇÃO À LÓGICA

autora
CLARA MARIA CAVALCANTE BRUM DE OLIVEIRA

1ª edição
SESES
rio de janeiro  2019
Conselho editorial  roberto paes e gisele lima

Autor do original  clara maria cavalcante brum de oliveira

Projeto editorial  roberto paes

Coordenação de produção  andré lage, luís salgueiro e luana barbosa da silva

Projeto gráfico  paulo vitor bastos

Diagramação  bfs media

Revisão linguística  bfs media

Revisão de conteúdo  antonio sérgio giacomo macedo

Imagem de capa  gosphotodesign | shutterstock.com

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip)

O48i Oliveira, Clara Maria Cavalcante Brum de


Introdução à lógica / Clara Maria Cavalcante Brum de Oliveira.
Rio de Janeiro: SESES, 2019.
112 p: il.

isbn: 978-85-5548-686-9.

1. Lógica Clássica. 2. Cálculo Proposicional. 3. Silogismo. 4. Dedução.


I. SESES. II. Estácio.
cdd 160

Diretoria de Ensino — Fábrica de Conhecimento


Rua do Bispo, 83, bloco F, Campus João Uchôa
Rio Comprido — Rio de Janeiro — rj — cep 20261-063
Sumário
Prefácio 5

1. O que é lógica? 7
Por que a Lógica é importante para a Filosofia? 13

Um pouco de história não faz mal a ninguém 15

Termos importantes no contexto da investigação lógica 20


Raciocínio, juízo e conceito 20
Inferência, proposição e argumento 22

2. Proposições e o argumento 29
Os termos da proposição 30
Classificação das proposições 30
Oposição das proposições 34
A conversão das proposições 38

A argumentação 40

Entimemas, Sorites e Dilemas 46

3. A linguagem da lógica 51
A linguagem simbólica 52

Tabelas de verdade 60

A estrutura do silogismo categórico e seus princípios lógicos 64

4. Estudo dos predicados 71


Da predicação 72

A lógica de predicados 76

Dos estudos sobre categorias e predicamentos aristotélicos 80


5. Falácias 89
O estudo das falácias 90

Sofismas e paralogismos 98
Prefácio

Prezados(as) alunos(as),

A formação acadêmica em Filosofia envolve, primeiramente, a formação de


pessoas e tem como compromisso o ideal de um pensamento reflexivo, crítico,
no horizonte do correto pensar. Assim, o presente livro representa uma primeira
aproximação com a Lógica, uma área da Filosofia tão importante quanto a Ética,
a Metafísica, a História da Filosofia e outras. E, neste horizonte, o olhar filosófico
oportuniza um modo singular de proceder, bem como problematizar o conheci-
mento, a linguagem e o pensamento.
Nesse sentido, o livro foi estruturado em cinco capítulos. No Capítulo 1 – O
que é Lógica? Buscou-se compreender o que é lógica e sua importância como uma
área da Filosofia. No Capítulo 2 – Proposições e argumentos, a análise priorizou as
proposições como elementos importantes para argumentação, bem como os silo-
gismos dedutivos e indutivos. No Capítulo 3 – A linguagem da Lógica, buscou-se
conhecer as especificidades da linguagem simbólica ou proposicional para análise
das inferências e avaliação dos argumentos. No Capítulo 4 – Estudo dos Predicados,
investigou-se os tipos de predicáveis, as categorias e os predicamentos aristotélicos.
E, por fim, no Capítulo 5 – Falácias, analisou-se o fenômeno das falácias ou sofis-
mas como erros de raciocínio.
O estudante encontrará, portanto, um estudo propedêutico que não dispensa
a leitura de obras clássicas, em especial, do Organon de Aristóteles, por ser a obra
inaugural e fundamental no campo da Lógica. Deste modo, pode-se indagar: por
que ler os clássicos? Porque esse é o método inerente à própria Filosofia, ler os
autores diretamente, para conceder às ideias e à reflexão o mais acirrado rigor para
o melhor filosofar, que não se confunde com o ato de citar filósofos, mas construir
novas ideias num movimento de afastamento de crenças irrefletidas.

Bons estudos!

5
1
O que é lógica?
O que é lógica?
Neste primeiro capítulo, com caráter propedêutico, estudaremos o que
podemos entender por lógica e sua importância como uma área da Filosofia.
Identificaremos que nossa inteligência natural é capaz de utilizá-la nas inferências
mais simples do cotidiano, mas poderá falhar diante de argumentos complexos.
Assim, conheceremos as definições para lógica, seus termos mais importantes, a
sua origem no pensamento aristotélico e, veremos também, que a lógica possui
uma história que se confunde em certo sentido com a própria história da razão.

OBJETIVOS
•  Analisar o conceito de lógica e suas características;
•  Reconhecer a importância da lógica para o filosofar;
•  Identificar a origem da lógica no pensamento aristotélico;
•  Definir os termos raciocínio, juízo, conceito, inferência, proposição e argumento.

“Todo dia ela faz tudo sempre igual/me sacode às seis horas da manhã/me sorri um
sorriso pontual/ e me beija com a boca de hortelã”. Neste pequeno trecho da música
“Cotidiano” de Chico Buarque podemos identificar a ideia de cotidiano. Sim, co-
tidiano, esse lugar que habitamos todos os dias em que nos dispomos a conversar
com nossos familiares, amigos, estranhos e com nós mesmos. Há quem fale mui-
to, quem fale pouco e quem fale mesmo depois de falar. E como falamos! Somos
mediados pela linguagem que nos aproxima, nos afasta do outro e nos humaniza.
Em muitas situações no dia a dia conversamos, discutimos sobre diferentes
assuntos, tais como amor, escolhas de vida, lazer, política, ética etc. Julgamos o
tempo todo e somos desafiados a explicar melhor nossas opiniões. Muitas vezes
não estamos apenas expondo nossas ideias a respeito de algo, precisamos ir além,
precisamos persuadir (ARANHA; MARTINS, 2003). Precisamos convencer o
outro e, até mesmo, provocar reações no outro. Pense agora em suas conversas,
em todos os momentos em que você desejava convencer alguém e se esforçou para
isso. Se somos assim, seria possível fazer tudo isso sem ter minimamente ideias
organizadas em nossas mentes?
Se o seu interlocutor não demonstrar uma boa organização das ideias, em sua
fala, certamente você dirá: “de que se trata?” ou “o que você diz não tem lógica!”

capítulo 1 •8
e será uma colocação verdadeira de sua parte. A lógica faz parte de nossa vida,
pois é um importante instrumento da comunicação (CHAUÍ, 2010). Mas o que
podemos entender por lógica? Nossa intuição imediata nos remete ao conceito de
coerência, conexão entre duas ideias, harmonia e até razoabilidade. “uma pessoa
com espírito lógico é uma pessoa ‘razoável’; um procedimento ‘irrazoável’ é aquele
que se considera ilógico” (COPI, 1978, p. 19, destaques do autor).
Em muitas situações usamos a palavra lógica para expressar alguma coisa evi-
dente, ou seja, uma conclusão compartilhada e que se pretende óbvia. Imagine que
você foi convidado para o show de uma banda com muito sucesso. Possivelmente
sua resposta será: “É lógico que eu vou!”. É lógico, mas o que significa isso?
Significa dizer que em nossa existência mais cotidiana, mais espontânea, consi-
deramos como bom, atraente, seguro e interessante, aquilo que se apresenta com
coerência ou por meio de um raciocínio que denote uma organização das ideias,
com início, meio e fim. A lógica é uma ciência que faz parte do nosso existir e
muitas vezes nem temos consciência disso.
O filósofo italiano, Nicola Abbagnano (1901-1990)1, em seu célebre
Dicionário de Filosofia (2009, p. 596), observa que a palavra “lógica”, do inglês lo-
gic, francês logique e alemão logik, tem origem etimológica no grego, no termo lo-
gos que significa palavra, proposições, oração e pensamento. Esta origem etimológica
nos permite observar que o pensar e o pensamento estão interligados e viabilizam
compreender o que é lógica. Por quê? Porque quando alcançamos a fase racional
identificamos que nosso pensar opera por meio de uma ordem, segue um processo
para se alcançar conclusões, descobre-se que existem regras. Trata-se do raciocínio.
Segundo Irving M. Copi (1978, p. 19)2, o estudo da lógica é aquele que investiga
“os métodos e princípios usados para distinguir o raciocínio correto do incorreto”.
O sujeito que pensa são os sujeitos do pensar e esse sujeito produz um pensa-
mento que é o resultado deste ato. Pensar é um ato que sempre se renova a cada
momento. Penso sobre um remédio, penso sobre uma flor, penso sobre um livro,
uma pessoa e etc. Cada pensamento é um ato do pensar renovado. Os objetos
pensados reais ou não se tornam pensamentos e deixam de existir no tempo e
no espaço, como objetos concretos, passam a habitar as mentes humanas. Viram
conceitos que ficam em nossas mentes. E podemos pensar em tais conceitos ainda
que não se produza um contato físico com o objeto material.
1  Nicola Abbagnano (1901- 1990) filósofo e autor italiano, professor de História da Filosofia na Universidade de
Turim. Fonte: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Nicola_Abbagnano>.
2  Irving Marmer Copi (1917-2002) foi um Filósofo especializado em lógica de origem norte americana, autor
de vários livros sobre Lógica, Professor Emérito do Instituto de Lógica das Universidades de IllInois, Princeton,
Georgetown e Michigan. Fonte: <https://en.wikipedia.org/wiki/Irving_Copi>.

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Posso pensar que necessito comprar determinado livro, sem, no entanto, vê-lo
numa livraria. Então, nossa inteligência natural nos diz que temos o sujeito, o ato
do pensar e o pensamento. A lógica estuda o pensamento (SANTOS, 1959). Mas
não é qualquer tipo de pensamento, pois “se pensamento é qualquer tipo mental
que se produz na psique das pessoas, nem todo o pensamento constitui um objeto
de estudo lógico. Todo raciocínio é pensamento, mas nem todo pensamento é
raciocínio” (COPI, 1979, p. 20). Pensamentos de livre associação, divagações e
similares são mais interessante para psicólogos e não para a Lógica.
Conforme preleciona Mario Ferreira dos Santos3 (1959, p. 15): a lógica é
“a ciência dos pensamentos enquanto pensamentos, prescindindo dos outros as-
pectos e dos outros elementos que se relacionam com eles, (...) permite a melhor
aplicação do pensamento, evitando erros comuns”. Desta definição precisamos
perceber que não são todos os pensamentos e sim no processo do raciocínio, no
caminho que se percorreu para se chegar à conclusão, se as premissas fornecem
sustentação para essa conclusão. Segundo Irving M. Copi (1979, p. 21):

Ao lógico só interessa a correção do processo, uma vez completado. Sua interrogação


é sempre esta: a conclusão a que se chegou deriva das premissas usadas ou pres-
supostas? Se as premissas fornecem bases ou boas provas para a conclusão, se a
afirmação da verdade das premissas garante a afirmação de que a conclusão também
é verdadeira, então o raciocínio é correto. (...) A distinção entre o raciocínio correto e o
incorreto é o problema central que incumbe à lógica tratar.

De um modo geral, entende-se por lógica uma área do conhecimento humano que
investiga o raciocínio dedutivo, a relação de consequência dedutiva para conclusões váli-
das. Trata-se de uma investigação sobre como funciona a nossa razão, a forma como ra-
ciocinamos para o conhecimento verdadeiro. Seguindo essa mesma concepção, da lógica
como o estudo do ato de raciocinar, Jacques Maritain4 (1970, p. 17) reforça que

A lógica estuda a razão como instrumento da ciência ou meio de adquirir e possuir


a verdade. Pode-se defini-la: a arte que dirige o próprio ato da razão, isto é, que nos
permite chegar com ordem, facilmente e sem erro, ao próprio ato da razão. (...) daí seu
nome de ciência da razão ou do logos.

3  Mario Ferreira dos Santos (1907-1968), Jurista e filósofo brasileiro, criador do sistema filosófico designado
como Filosofia Concreta. Fonte: <https://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A1rio_Ferreira_dos_Santos>.
4  Jacques Maritain (1882-1973) foi um famoso filósofo francês, autor de várias obras clássicas em Filosofia.
Algumas de suas ideias foram incorporadas na Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948. Disponível em:
<https://educacao.uol.com.br/biografias/jacques-maritain.htm>.

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Henri Lefebvre5 (1991, p. 81) observa, no mesmo sentido, que a lógica:

determina através do puro pensamento as regras do seu emprego correto, ou seja, as


regras gerais da coerência, do acordo do pensamento consigo mesmo. (...) É, e será
sempre verdadeiro que o pensamento deve ser coerente. Temos aí uma lei universal, ne-
cessária, objetiva, que se impõe, por conseguinte, a todo ser humano capaz de reflexão.

O dicionário Caudas Aulete Digital define lógica como um substantivo femi-


nino que designa “forma de raciocinar coerente em que se estabelecem relações de
causa e efeito; a coerência desse raciocínio; modo de raciocinar próprio de alguém;
modo coerente pelo qual coisas ou acontecimentos se encadeiam; parte da filosofia
que estuda as leis do pensamento e que expõe as regras que devem ser observadas
na exposição da verdade”.6
Hilton Japiassú e Danilo Marcondes (2001, p. 120), observam que podemos
definir lógica como “o estudo da estrutura e dos princípios relativos à argumenta-
ção válida, sobretudo da inferência dedutiva e dos métodos de prova e demonstra-
ção”. Outros estudiosos de filosofia como Maria Lúcia de Arruda Aranha e Maria
Helena Pires Martins (2003, p. 100), definem como “estudo dos métodos e prin-
cípios da argumentação. Ou, então, como a investigação das condições em que
a conclusão de um argumento se segue de suas premissas”. Cada autor com suas
palavras apresentou a lógica como o estudo do pensar correto quanto à validade
das inferências, do raciocínio.
Uma das finalidades da lógica é justamente organizar as regras para o racio-
cínio para que nossa inferência seja válida. Então, inferir significa partir de certas
proposições, afirmativas ou assertivas que a lógica designa pelo nome ‘premissas’
para alcançarmos uma conclusão válida. Interessa à lógica perceber esse movimen-
to das premissas à conclusão e verificar se estamos realmente apresentando uma
conclusão válida ou não (ARANHA; MARTINS, 2003). Por isso, alguns autores
em Lógica propõem como definição para lógica a ideia de uma ciência da conse-
quência e da verdade da argumentação (VAN ACKER, 1971).
Existe uma discussão interminável se a lógica é teórica, normativa, uma arte
ou técnica. Alguns autores como Mario Ferreira dos Santos (1959), entendem que
num aspecto ou em outro a lógica envolve todos esses elementos. Jacques Maritain
(1970, p. 17), afirma que a “lógica é a arte que nos faz proceder, com ordem, fa-
cilmente e sem erro, no ato próprio da razão”.
5  Henri Lefebvre (1901-1991) filósofo marxista e sociólogo francês. Disponível em: <http://henrilefebvre.
blogspot.com/>.
6  O dicionário Caudas Aulete Digital está disponível em: <http://www.aulete.com.br>.

capítulo 1 • 11
E podemos dizer, considerando-se a lógica de Aristóteles que ela possui as se-
guintes características: é instrumental porque é uma ferramenta para o pensar corre-
to; é formal porque não se ocupa com conteúdos e sim com a forma; é propedêutica
porque configura um conhecimento preliminar importante antes de se iniciar uma
investigação; é normativa porque nos oportuniza princípios, regras para o pensa-
mento correto; é uma doutrina da prova porque observa as condições e fundamentos
para as demonstrações. “dada uma certa hipótese, a lógica permite verificar suas
consequências necessárias; dada uma certa conclusão, a lógica permite verificar se
é verdadeira ou falsa” (CHAUI, 1995, p. 255); é atemporal e geral porque fornece
formas para o pensar em geral e suas regras e princípios são atemporais, “universais,
necessárias e imutáveis como a própria razão (CHAUÍ, 1995, p. 255).
A partir de tais considerações, temos que destacar, também, que a lógica se
divide em duas partes: a lógica menor ou formal e a lógica maior ou material.
Segundo o filósofo francês Maritain (1970, p. 26-27), a lógica menor “estuda as
condições formais da ciência; (...) ensina as regras a se seguir para que o raciocí-
nio seja correto ou bem construído”. Analisa-se a forma do raciocínio em que a
dedução foi bem realizada e, neste caso, não se observa o conteúdo, a matéria. O
que está em jogo nesta parte da lógica é o raciocínio, a abstração feita. Van Acker
(1971, p. 12), define a lógica formal como aquela que

examina as condições da consequência da argumentação. (...) Chama-se formal, por-


que a consequência, por ela examinada, é a própria forma ou estrutura da argumenta-
ção, a ponto de não poder, sem consequência, haver argumentação genuína, quer seja
verdadeira ou falsa, ou puramente formal, sem sentido determinado.

A lógica maior ou material é aquela que investiga o conteúdo para que se ob-
tenha a conclusão verdadeira. Podemos ter um raciocínio correto, segundo as suas
regras, mas não verdadeiro quanto ao conteúdo que está sendo demonstrado. E,
neste aspecto, Van Acker (1971, p.12) nos auxilia dizendo que

A lógica material é assim chamada, porque a verdade da argumentação, por ela exami-
nada, não depende da estrutura consequente da argumentação, mas sim da verdade
das proposições que a compõem e lhe são, neste sentido, uma espécie de material.

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Por que a Lógica é importante para a Filosofia?

Argumentos são os tijolos com os quais se constroem as teorias filosóficas; a lógica


é a palha que mantém os tijolos unidos. Boas ideias valem pouco, a menos que sejam
sustentadas por bons argumentos – estes precisam ser justificados racionalmente, e
isso não pode ser feito sem bases lógicas firmes e rigorosas (DUPRÉ, 2015, p. 112).

A lógica é uma disciplina filosófica, é uma área da Filosofia que estuda e iden-
tifica nossa maneira de argumentar. Por isso já conversamos na seção anterior que
a lógica se interessa pelo estudo cuidadoso dos nossos argumentos. Mas você pode
estar pensando: o que são, efetivamente, argumentos? O que estamos imaginando
quando falamos a palavra “argumento”? Será que somos sempre claros em nossos ar-
gumentos? Às vezes sim, por vezes não. Dependerá de a maneira como organizarmos
as ideias para o nosso interlocutor. E não raro proferimos frases que são, em verdade,
conclusões de raciocínios que carregamos em nossas mentes, a partir de premissas
implícitas ou subentendidas. Ora o argumento é o raciocínio, a conclusão, a infe-
rência que realizamos ao pensar. “Pensar é raciocinar” (MURCHO, 2015, p. 19).
Tente abstrair momentaneamente a informação segundo a qual a Lógica é
uma área da Filosofia. Imagine que você não tem essa informação e alguém indaga
qual a relação entre lógica e Filosofia. Como responder a essa pergunta?
Em geral podemos começar lembrando que a Filosofia é um saber teórico e
crítico que investiga os fundamentos de todas as coisas, problematiza a vida e o
mundo, busca a verdade. Podemos ir ao seu nascimento na Grécia antiga com os
pré-socráticos, demonstrando que o seu advento se deu na passagem da narrativa
mítica à narrativa racional. Ou, ainda, podemos invocar o célebre confronto entre
Sócrates e os Sofistas que nos legou Platão em seus diálogos. Diálogos que nos
lembram a palavra dialética. Filosofia envolve ideias, argumentos, diálogo, debate,
investigação e fundamentação (ARANHA; MARTINS, 2003).
Pensando nisso, podemos afirmar que a lógica é para o filósofo uma ferramen-
ta para construir suas teorias, enfrentar objeções de interlocutores como demons-
trou Platão na maiêutica de Sócrates, para organizar as ideias de maneira crítica e
fundamentada como reivindicou Descartes no Discurso do Método e tantos outros.
O estudo da Filosofia nos proporciona uma atitude crítica diante da realidade e
sem esta atitude crítica não há que se falar em olhar filosófico ou atitude filosófica.
E o que seria essa atitude crítica se não discutir ideias, considerar argumentos,
dissecá-los, apontar suas fragilidades e pontos fortes.

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Em Filosofia estudamos os filósofos e suas teorias, ou seja, seus argumentos, por-
que as teorias são construídas a partir de argumentos. Nesse estudo não vale tanto
repetir o que dizem os pensadores, mas compreender como chegaram à determinada
ideia, por isso que se diz que em “Filosofia aprende-se a filosofar” (KANT, 1992), a
pensar melhor sobre a vida e sobre si mesmo. E para pensar melhor é fundamental o
estudo de instrumentos que viabilizam as condições de possibilidade para o correto
pensar, porque esta não é uma habilidade espontânea do senso comum.
A lógica é uma condição necessária que precisa ser alcançada com esforço e de-
dicação, embora não seja suficiente. A lógica é importante para a atitude filosófica
porque fornece os instrumentos elementares para a argumentação.
Immanuel Kant (1724-1804), por exemplo, afirma que a Lógica é uma “ciên-
cia das leis necessárias do entendimento e da razão em geral” (1992, p. 30, A4/
AK13), o que a torna uma propedêutica a todo o uso do entendimento. Então,
pelo que verificamos até agora é inegável o seu valor e utilidade para Filosofia,
confirmada pelos próprios filósofos, como disse Kant, porque a arte de filosofar é
a arte de construir argumentos sólidos e não falácias (argumentos inválidos).
E por falar em falácias, que estudaremos mais adiante, mas só para ilustrar
melhor a relação entre Lógica e Filosofia, podemos imaginar uma pessoa sem qual-
quer treino lógico, usa sua inteligência natural. Imagine que ela faz uma leitura
de um editorial de um periódico qualquer e aceita passivamente um argumento
como válido, sem, no entanto, identificar as premissas subjacentes a esse argumen-
to que, em verdade, o tornam inválido. Ela poderá reproduzir uma visão equivo-
cada da vida, poderá perpetuar preconceitos.
É claro que essa invalidade não é grosseira, nem evidente, mas não passaria
despercebida ao olhar de uma pessoa com algum conhecimento em lógica. Em si-
tuações com argumentos complexos, uma inteligência sem intimidade com a lógica
pode falhar. Então, “uma pessoa com conhecimento de lógica tem mais probabili-
dades de raciocinar corretamente do que aquela que não se aprofundou nos princí-
pios gerais implicados nessa atividade” (COPI, 1979, p. 20). Como estar preparado
para o debate filosófico, debate sobre argumentos complexos, sem o apoio da lógica?
A Filosofia nos impõe o pensamento fundamentado em motivos que podem
ser compartilhados, comunicados; e, através da Lógica, nos preparamos melhor
para isso. Podemos até errar porque somos seres falíveis e enxergamos o mundo
a partir de nosso quadro conceitual, mas nos esforçaremos para ter uma postura
mais cautelosa a partir de uma reflexão ponderada que nos adverte que não deve-
mos formular conclusões falsas.

capítulo 1 • 14
A lógica é importante à Filosofia porque a leitura de textos filosóficos exige o
contato com um conhecimento filosófico que passa necessariamente pelo conheci-
mento dos filósofos envolvidos, seus conceitos, os problemas filosóficos que iden-
tificaram e as soluções por eles proposta. O conhecimento filosófico se faz com
o tempo, disciplina e dedicação em leituras abundantes e seguidas. É equivocado
pensar que nesta área do conhecimento lidamos com dados, fatos exteriores ao
pensamento para apenas identificar ou registrar. O pensamento filosófico nos re-
mete a uma interioridade, a uma emergência de novos sentidos, a uma razão livre
que constrói sua leitura sobre o que já foi pensado por outros. Reproduzir o que
disse um pensador não é filosofar. Por isso, a lógica é indissociável da Filosofia; é
indissociável do próprio pensamento (FOLSCHEID; WUNENBURGER, 2006).
Mário Ferreira dos Santos (1959, p. 21, grifos da autora), observa ainda que
possivelmente, para Aristóteles, a lógica era muito mais que o estudo do pen-
samento, era uma metodologia necessária para a Filosofia, sobre isto assevera:
“Aristóteles, porém, nunca considerou a lógica apenas formal, como um estudo
do pensamento como pensamento, mas sim como uma espécie de introdução me-
todológica para a Filosofia”.
Através do estudo da lógica podemos evitar os erros de raciocínio nas leituras
dos filósofos, podemos analisar com ponderação os problemas que identificaram,
avaliar as fragilidades e pontos fortes de suas teorias e argumentos. Podemos discu-
tir filosoficamente suas ideias. Conforme a epígrafe, a lógica é a palha que mantém
os tijolos unidos.

Um pouco de história não faz mal a ninguém

A inteligência está ausente. Estas palavras foram proferidas por Platão, ao verificar,
certo dia, que Aristóteles não se encontrava na Academia. Contemporâneos dos dois
filósofos declararam que Platão costumava chamar seu maior discípulo de o Espirito,
o Entendimento, o Ledor. (Goffredo Telles Júnior, estudo introdutório, In: Aristóteles,
Arte Retórica e Arte Poética)

Agora que já compreendemos, em linhas gerais, o que é lógica e sua importân-


cia para a atitude filosófica podemos voltar nossa atenção para uma curiosidade:
como ela surgiu? Em que autor ou autores?
A história da Filosofia nos revela que o próprio advento da Filosofia por oca-
sião do surgimento dos pré-socráticos denota que alguns sábios estavam inquietos

capítulo 1 • 15
diante da realidade e da resposta que a tradição mítica ofertava a essa inquietude.
As indagações que surgiram nesta primeira fase, demonstram que buscavam coe-
rência, relações válidas entre fenômenos, justificativas para explicar o mundo da
physis (REALE; ANTISERI, 1990).
É fato que o pensamento destes primeiros filósofos seguiram um raciocínio,
um sentido, buscaram os nexos causais, nomearam coisas e objetos. É possível que
estivessem mergulhados em questões lógicas, sem ainda surgir um estudo sistemá-
tico com esse nome, porque lhes faltavam instrumentos para tal. Mais tarde com
o deslocamento da temática da natureza para o ser humano teremos em Sócrates e
Platão a mesma possibilidade (REALE; ANTISERI, 1990).
É evidente que nos diálogos de Platão através do método maiêutico, Sócrates
buscava refutar falsas ideias em nome de um conhecimento verdadeiro. Os sofistas
com soberba e ‘ar de quem sabe tudo’ desafiavam o filósofo com seus argumentos.
Segundo Reale e Antiseri (1990, p. 99), “Sócrates pôs em movimento o proces-
so que levaria à descoberta da lógica, contribuindo de modo determinante para
essa descoberta, mas ele próprio não a alcançou de modo reflexo e sistemático”.
Abriu caminho para o estudo do conceito e da definição, mas não estabeleceu
sua estrutura.
Platão, por exemplo, na busca de sua realidade inteligível, caminhou na di-
reção de uma libertação dos sentidos do mundo sensível, do simulacro para o
nível do raciocínio puro, lugar do intelecto. Por meio de uma dialética ascendente
colocou o filósofo liberto dos sentidos em direção às ideias, em direção à verdade
(REALE; ANTISERI, 1990). Igualmente enfrentou questões lógicas ao reunir em
sua doutrina das ideias o devir de Heráclito e a permanência de Parmênides.
De qualquer sorte, foi Aristóteles (384-322 a.C.) quem elaborou o primeiro
estudo sistemático sobre a lógica. Esse estudo se encontra em escritos organizados
e designados pelo nome de Organon, que significa instrumento para o correto
pensar (ABBAGNANO, 2009). Os escritos que compõem o Organon são:
1. Categorias;
2. Da interpretação;
3. Analíticos Primeiros;
4. Analíticos Segundos;
5. Tópicos;
6. Refutações sofísticas.

capítulo 1 • 16
O que podemos considerar como tratado da lógica aristotélica pode ser iden-
tificado nos Analíticos Primeiros em que o estagirita7 apresenta a estrutura do ra-
ciocínio por meio do silogismo. A seguir, nos Analíticos Segundos em que faz o
estudo de um tipo específico de silogismo, que é o silogismo científico que busca a
verdade. E os Tópicos e Refutações Sofísticas em que analisa o raciocínio que, embo-
ra correto, apresenta uma conclusão inválida. Antes desses textos, temos Categorias
e Da interpretação que são textos com conhecimentos gerais que estudam o voca-
bulário, os termos ou palavras que precisamos conhecer para a investigação lógi-
ca. Marilena Chauí (1994, p. 256), sinaliza que “do ponto de vista cronológico,
Aristóteles escreveu primeiro as categorias e parte dos Tópicos ( livros II a VII), e
só mais tarde, ao estudar as regras do raciocínio, escreveu os dois Analíticos.”
A ideia de Aristóteles era que a lógica ao apresentar como funciona o pensa-
mento, sua estrutura, seus elementos se torna um instrumento importante para
qualquer investigação ficando como instrumento para todas as ciências, as teo-
réticas, práticas, poiéticas ou produtivas. Não faz parte de nenhuma destas três
ciências em particular, mas está na base para o pensar correto de um modo geral,
pressuposto necessário para o conhecimento seja teorético, prático ou poético.
Segundo Reale e Antiseri (1990, p. 211), a lógica

não encontra lugar no esquema com base no qual o estagirita subdividiu e sistemati-
zou as ciências porque considera a forma que deve ter qualquer tipo de discurso que
pretenda demonstrar algo e, em geral, que queira ser probante.

Foi Alexandre de Afrodísia (198 – 209 d.C.) quem usou o termo Organon
para designar o conjunto de escritos de Aristóteles, o que já indica em si a ideia
de a lógica ser um instrumento necessário e básico para qualquer investigação,
conforme ressaltou o próprio filósofo (REALE; ANTISERI, 1990).
No início do escrito com título de Analíticos, Aristóteles apresenta uma obser-
vação sobre a necessidade de definição. Ele diz: “Nossa primeira tarefa consiste em
indicar o objeto de estudo de nossa investigação e a que ciência ele pertence: que
concerne à demonstração e que pertence a uma ciência demonstrativa” (Analíticos,
I, 24a10; 2010, p. 111), mas não nomeou com o nome de “Lógica”. O termo que
usava era “analítica”, o que justifica o título de seus primeiros escritos considerados
como fundamentais. A palavra analítica decorre do grego análysis que significa
7  Aristóteles nasceu na cidade de Estagira, cidade grega e então colônia da Macedônia Sobre os dados biográficos
cf. ARISTÓTELES. Órganon. Tradução Edson Bini. 2. ed. São Paulo: Edipro, 2010, p. 9-15.

capítulo 1 • 17
resolução e designa o método por meio do qual investigamos uma dada conclusão
a partir dos elementos da qual resulta e, portanto, buscamos seu fundamento, sua
justificação (REALE; ANTISERI, 1990).
O que Aristóteles quis dizer é que a analítica ou lógica é o conhecimento que
precisamos desenvolver antes de um aprofundamento filosófico ou uma investiga-
ção científica. Em Aristóteles, é “uma disciplina vestibular, um conhecimento que
deve anteceder aos outros conhecimentos, sendo por isso uma propedêutica (de
pró-, antes e paideía, formação: propaideía)” (CHAUÍ, 1994, p. 255).
É interessante perceber que mesmo considerando-o como pai da lógica, de-
signada posteriormente como lógica aristotélica ou lógica clássica o termo apareceu
somente nos escritos estoicos com o sentido de arte do discurso dirigido à persua-
são. Sobre isto diz Abbagnano (2009, p. 597): “Aristóteles deixou a Lógica não
somente sem um nome próprio para designá-la, mas também equívoca em seu
status como disciplina e não bem determinada com relação à sua matéria subietcta”.
Após os estoicos a nomearem como Lógica, com os comentadores peripatéti-
cos, neoplatônicos e ecléticos como Cícero, por exemplo, e nas próprias reflexões
de Alexandre de Afrodísia, que o termo apareceu como a doutrina apresentada na
obra Analíticos de Aristóteles. Surgiu a Lógica como a doutrina do silogismo e
demonstração (ABBAGNANO, 2009).
Ocorre que com Boécio (477 – 524 d.C.), a doutrina contida no Organon
também recebeu o nome de Lógica e, por vezes, de Dialética. É interessante que
Boécio introduziu a obra Isagoge de Porfírio, que ele havia traduzido para o latim
atribuindo esse nome, como se fosse uma introdução geral à Lógica de Aristóteles.
Porfírio de Tiro era um filósofo grego famoso por ter elaborado a biografia do filó-
sofo platônico Plotino. E ficou conhecido, também, por ter difundido o neoplato-
nismo durante o Império Romano. O nome original da obra traduzida por Boécio
como Isagoge era Introductio in Praedicamenta que apresentava um comentário
sobre o primeiro texto que compõe o Organon, intitulado Categorias (REALE;
ANTISERI. 1990; ABBAGNANO, 2009).
E assim, durante a Idade Média, a partir do séc. XII, se estudava primeiro a
obra porfiriana para depois ingressar nas leituras do Organon. Posteriormente, o
pensamento medieval acrescentou mais doutrinas aos escritos originais de origem
aristotélica. Foram inseridas partes que integram a doutrina da Lógica conhecida
como semântica (ABBAGNANO, 2009).
Durante a idade média a obra Isagoge e os escritos aristotélicos desencadearam
o que se denominou de querela dos universais. A questão central era se os universais

capítulo 1 • 18
seriam ou não substâncias reais. De um lado, os realistas como Anselmo di Aosta,
que afirmavam a existência real dos universais e, de outro, os nominalistas, como
Abelardo discutiam essa questão negando a existência real dos universais. A lógica
medieval passou a ser pensada a partir das duas correntes ou métodos. Sendo o
ponto de vista de Abelardo o que predominou, de certo modo, até início da Idade
Moderna, divulgando-se a tese de que o problema dos universais estaria mais vin-
culado a metafísica e gnosiologia que a Lógica propriamente (ABBAGNANO,
2009). No período moderno, a lógica sofreu influência do pensamento de Galileu
Galilei (1564-1642) e de Francis Bacon (1561-1626), assimilando método de
experimentação e da matemática, bem como novas regras a partir da influência de
John Stuart Mill (1806-1873) (SANTOS, 1959).
Podemos organizar os escritos de Aristóteles em áreas porque o estagirita es-
tudou praticamente todos os ramos do saber de sua época. Na área da lógica:
Organon. Na área da filosofia natural, Física, o Céu, A geração e a corrupção e a
Meteorologia. Na área da psicologia, o tratado Sobre a Alma e opúsculos sob o
título Parva naturalia. A famosa Metafísica composta de 14 livros. As obras de
filosofia moral e política como Ética a Nicômaco, Grande Ética, Ética a Eudemo
e a Política. Poética e Retórica e sobre ciências naturais História dos animais,
As partes dos animais, O movimento dos animais e A geração dos animais (REALE;
ANTISERI, 1990).
De qualquer sorte a contribuição de Aristóteles foi inestimável e podemos dizer
que ainda enxergamos o mundo e vivemos nele seguindo muitas de suas ideias. Por
exemplo, até hoje usamos os princípios da lógica aristotélica e que figuram na base
de toda argumentação, tais como o princípio da não contradição, o princípio de iden-
tidade e o princípio do terceiro excluído. Imagine-se convivendo com alguém que age
de uma maneira e depois nega o que falou ou fez, uma pessoa que menciona que
branco é verde e verde é azul, ou que confunde a verdade com a falsidade e tenta
criar um terceiro modo que seja ao mesmo tempo verdadeiro e falso. Complicado.
O princípio lógico da não contradição é aquele que diz que ‘o que é, é; o que
não é, não é’. Se o objeto que tenho nas mãos é um livro, é um livro e não po-
derá ser, simultaneamente, uma cadeira. Este princípio lógico está intimamente
ligado ao princípio da identidade porque estabelece que nenhum objeto poderá,
ao mesmo tempo, ser ele mesmo e outro. Se afirmo que o objeto que seguro em
minhas mãos é um livro e depois afirmo que é uma caneta estou produzindo um
conhecimento contraditório, ferindo os dois princípios, o da identidade e o da
não contradição (REALE; ANTISERI. 1990; ABBAGNANO, 2009).

capítulo 1 • 19
O princípio da identidade traz a ideia de coerência, de rigoroso pensamento
e apresenta uma repetição: o carro é o carro – o ser é o ser. Se estamos lendo con-
tos, fantasias, mitos, carregados de uma linguagem simbólica, temos consciência
disso. Enfrentamos contradições admitidas no pensamento enquanto tais. Todavia
a contradição irrefletida, não consciente, fere a exigência básica de coerência. O
princípio da identidade nos permite perceber também a diferença (cadeira não é
mesa), a relação e a contradição (LEFEBVRE, 1991).
E o princípio do terceiro excluído? O que significa? É plenamente aceito que
o contrário de certo é o errado. Certo e errado são termos contrários como noite/
dia, por exemplo. Ora, se já identificamos que dois enunciados contraditórios não
podem ser ambos certos, consequentemente um será errado. E pelo princípio do
terceiro excluído, se um for certo o outro será necessariamente errado, pois não há
um terceiro elemento designado como certo-errado, ou será certo ou será errado
(ARANHA; MARTINS, 2003; SANTOS, 1959). Então, é inegável que a lógica
continua vinculada às suas raízes no pensamento Aristotélico.

Termos importantes no contexto da investigação lógica

Raciocínio, juízo e conceito

Já identificamos que a lógica definida, de um modo geral, como a ciência


das leis do pensamento, não trabalha com qualquer tipo de pensamento que é
produzido por nossa inteligência. O pensamento que interessa ao campo da ló-
gica é o pensamento identificado por um raciocínio. A lógica estuda a forma do
raciocinar. E o que podemos designar como raciocínio? Como posso identificar
um raciocínio?
O filósofo Irving M. Copi (1978, p. 21), define raciocínio como “um gênero
especial de pensamento no qual se realizam inferências ou se derivam conclusões
a partir de premissas”. E o que realmente vai interessar nessa forma do pensar
é como as premissas se relacionam com a conclusão. Se as premissas sustentam a
conclusão teremos um raciocínio correto ou válido, se as premissas não sustentam a
conclusão teremos um raciocínio incorreto ou inválido.
O racionar é uma operação complexa, mas indivisa ou uma, que realizamos
para se alcançar uma conclusão, ou seja, tornar algo evidente. Como é uma ope-
ração complexa é constituída por atos distintos e cada um dos atos é designado
como juízo. O raciocínio supõe o juízo, o julgar. Quando julgamos afirmamos

capítulo 1 • 20
ou negamos algo e nos colocamos na posse de uma verdade sobre determinado
assunto ou objeto (MARITAIN, 1970).
Segundo Abbagnano (2009), o juízo é um termo oriundo da linguagem ju-
rídica e que apresenta quatro significados distintos, a saber: como faculdade de
distinguir ou avaliar; uma parte da lógica; ato no qual se baseia uma proposição
discordando-se ou não sobre algo e, por fim, uma operação intelectual que se
afigura na proposição. Na obra Sobre a alma, Aristóteles a identifica como uma
faculdade da alma que permite discriminar, avaliar (III, 9, 15). Julgar significa
avaliar, escolher e sempre indica o sentido de uma atividade julgadora. Uma ati-
vidade valorativa.
Assim como o raciocínio pressupõe o juízo, este pressupõe outra operação
designada pelo nome concepção ou percepção. Maritain (1970, p. 19), define con-
ceber como o ato de “formar em si uma ideia, na qual se vê, atinge ou apreende
alguma coisa”. Conceber significa formar uma ideia. Exemplo: chuva, inverno,
criança etc. Para proferirmos um juízo, temos que ter essa capacidade de conceber.
Como sei o que significa doce posso proferir o seguinte juízo: o doce contém açú-
car. Lefebvre (1991, p. 143), observa que a fórmula “A é B” é a “forma de todo o
juízo”. Essa fórmula liga por meio do verbo “ser” que em lógica chama-se cópula,
“um sujeito e um atributo que não seja a repetição do sujeito”. O raciocínio pres-
supõe o juízo que pressupõe o ato de conceber ou perceber.
O conceito é aquilo que a inteligência é capaz de produzir e, segundo a lógica
aristotélica, precede o juízo. No ato de intelecção produzimos ideias em nós mes-
mos. Ao olharmos uma cadeira, independente de sua matéria, identificamos que
aquele objeto é uma cadeira. Criamos uma imagem ou como diz Maritain (1970,
p. 42), “similitude espiritual da coisa em nós” e, acrescenta, “denomina-se ainda
ideia, noção ou verbo mental, e, mais precisamente, conceito mental ou conceito
formal.” Por isso, através dos conceitos somos capazes de conhecer alguma coisa.
Os conceitos integram as proposições.
Abbagnano (2009), observa que conceituar significa descrever, classificar os
objetos cognoscíveis. Por isso, podemos construir um conceito de mesa, do núme-
ro cinco, por exemplo, de um período da nossa história, e, esse conceito, não se
confunde com o nome que atribuímos às coisas porque por equívoco um mesmo
nome poderá conter muitos conceitos. O conceito poderá se referir a fatos, dados,
coisas inexistentes, situações passadas. É um símbolo linguístico comunicável e a
sua função principal é a comunicação.

capítulo 1 • 21
Quanto à sua natureza, o conceito revela a essência das coisas, uma essência
necessária, sem a qual deixaria de existir. Essa foi a contribuição que a filosofia
grega nos ofertou. E para se alcançar a essência é preciso subtrair a diversidade, a
mudança, as opiniões e buscar os traços que não se alteram, no sentido do que o
objeto é realmente. Essa era a tarefa que os gregos entendiam como a do ser huma-
no enquanto ser racional – uma tarefa da razão (ABBAGNANO, 2009).
Para Aristóteles, por exemplo, conceito pode ser visto como idêntico à subs-
tância que significa a ideia de estrutura necessária do ser. Ele diz: “Temos conhe-
cimento das coisas particulares somente quando conhecemos a essência necessária
das mesmas” (Metafísica, VII, 6, 1031 b 6). A função mais importante do conceito
é permitir a descrição dos objetos da experiência para viabilizar seu reconheci-
mento, bem como a de organizar os dados da experiência para que as conexões de
ordem lógica sejam possíveis (ABBAGNANO, 2009).
Através dos conceitos identificamos as características e os aspectos que distin-
guem algo. Imagine o conceito ‘cachorro’. Podemos observar várias características
e aspectos Inteligíveis que definem um cachorro: um mamífero carnívoro, domes-
ticável e que possuem quatro patas, por exemplo. Neste caso, não iremos confun-
dir com o sentido figurado do termo que designa alguém com conduta perversa.
Então, conceito, percepção, juízo e raciocínio estão intimamente relacionados.

Inferência, proposição e argumento

Inferência é um termo especial usado pelo filósofo lógico e aponta para um


procedimento por meio do qual se alcança uma proposição, construída, tendo-se
por base outras proposições anteriores. Proposições podem ser falsas ou verdadeiras
e representam o significado de uma sentença ou uma oração. Aristóteles (Da int.,
IV, 30, 16b1, 2010, p. 84) define sentença como:

(...) fala dotada de significação, sendo que esta ou aquela sua parte pode ter um sig-
nificado particular de alguma coisa, ou seja, que é enunciado, mas não expressa uma
afirmação ou negação. Que eu o explique mais minuciosamente. Tomemos a palavra
homem. Com certeza esta encerra um significado, porém nem afirma nem nega; é
preciso que algo lhe seja acrescentado para que possa afirmar ou negar.

capítulo 1 • 22
Então, percebemos que o silogismo das mulheres e as rosas ofereceu um ra-
ciocínio incorreto. Irving M. Copi (1978, p. 22), oferece um bom exemplo para
essa ideia:
1. “João ama Inês”;
2. “Inês é amada por João”.

Temos duas sentenças ou orações diferentes (1 e 2), mas apresentam o mesmo


significado de que uma pessoa ama a outra. A palavra proposição refere-se a esse
significado que é identificado. A proposição é o significado de uma sentença ou
oração. E Aristóteles (Da int., IV, 30, 17a1, 2010, p. 84) nos diz: “Chamamos
de proposições somente as que encerram verdade ou falsidade em si mesmas”,
porque afirmam ou negam alguma coisa. Para clarificar um pouco mais se enten-
de pelo termo proposição podemos destacar mais um exemplo do filósofo lógico
Copi (1978, p. 22):
1. “Chove”;
2. “It is raining”;
3. “Il pleut”;
4. “es regnet”.

Neste exemplo temos quatro diferentes sentenças, em idiomas diferentes, mas


o que guardam em comum? O mesmo significado. Em todas o significado é o
mesmo: está chovendo. Diferentes sentenças ou orações podem apresentar a mes-
ma proposição, ou seja, o mesmo significado. Existem autores em filosofia que
usam os termos enunciado ou declaração para designar o mesmo que proposição,
mas de um modo geral usa-se com mais frequência o termo proposição.
E o argumento? O que se entende por argumento? Em cada inferência se iden-
tifica um argumento correspondente que é o objeto de investigação para o filósofo
lógico. Copi (1978, p. 23), define argumento como “qualquer grupo de proposi-
ções tal que se afirme ser uma delas derivada das outras, as quais são consideradas
provas evidentes da verdade da primeira”. Um argumento possui uma estrutura
específica. Nessa estrutura temos as premissas e uma conclusão, por isso o filósofo
definiu como um grupo de proposições em que uma (conclusão) é derivada de
outras (premissas).

capítulo 1 • 23
Então, podemos descrever a estrutura de um argumento da seguinte maneira:
temos a conclusão do argumento que, na verdade, é uma proposição, um signifi-
cado que se afirma com base em duas outras proposições e, essas proposições, na
estrutura de um argumento, ganham o nome de premissas.
Vejamos um exemplo clássico para identificarmos a estrutura de um argumento:
Todo homem é mortal (sentença com significado = proposição) — PREMISSAS
Sócrates é homem (sentença com significado = proposição) — PREMISSAS
____________________________________________________
Logo, Sócrates é mortal (proposição final) — CONCLUSÃO

Neste exemplo, percebemos a estrutura de um argumento que é constituída


por premissas que são as proposições enunciadas como razões para justificar uma
possível conclusão, ou seja, proposição final, a partir do que foi enunciado antes.
Pode-se argumentar a partir do seguinte silogismo:
1. Todo homem é mortal. (premissa 1)
2. Pedro é homem. (premissa 2)
3. Logo, Pedro é mortal. (conclusão)

Esse é um silogismo clássico que apresenta um argumento válido, porque a


conclusão é válida e segue o que foi dito nas afirmativas – a forma lógica é válida;
Se olharmos o conteúdo de cada proposição, identificaremos que são verdadeiras –
a forma lógica é válida e a conclusão é verdadeira. Todavia, podemos criar muitos
silogismos semelhantes, mas nem todos podem trazer um argumento válido e uma
conclusão verdadeira. Em alguns casos fica clara a validade do argumento, mas a
não veracidade do conteúdo da conclusão. Vejamos:
1. Todas as rosas são flores. (premissa 1)
2. Algumas mulheres são Rosas. (premissa 2)
3. Algumas mulheres são flores. (conclusão)

As duas premissas estão corretas, mas a conclusão, embora válida quanto a


forma do raciocínio, é falsa no seu conteúdo, mulheres não são flores. Mulheres
podem ter o prenome “Rosa”, mas não significa dizer que são flores, são seres hu-
manos. Vejamos mais um exemplo:
1. Todos os taxistas conduzem automóvel. (premissa 1)
2. Alguns taxistas são idosos. (premissa 2)
3. Logo, todos os taxistas são idosos. (conclusão)

capítulo 1 • 24
Neste último silogismo também podemos identificar que as premissas são ver-
dadeiras, mas a conclusão, embora válida sob o ponto de vista da forma lógica, traz
uma informação falsa, pois nem todos os taxistas são idosos.
Esses silogismos nos ajudam a perceber outro detalhe em lógica. Alguns lógi-
cos fazem uma distinção entre argumentos válidos e argumentos corretos. Quando
mencionamos que um argumento é válido estamos no plano da forma lógica como
visto anteriormente. A conclusão segue a partir das premissas. Quando menciona-
mos que um argumento é correto podemos prová-lo, justificá-lo. Nos dizeres de
Harry J. Gensler (2016, p. 10-1):

Dizer que um argumento é ‘válido’ não diz nada sobre se suas premissas são verdadei-
ras. Mas dizer que um argumento é “correto” quer dizer que ele é válido (a conclusão
segue a partir das premissas) e que suas premissas são verdadeiras.

Assim, podemos identificar uma sentença e sua proposição, ou seja, em língua


portuguesa, uma oração e seu significado. E podemos, também, identificar as partes
integrantes de um argumento, as premissas (duas ou mais proposições que nascem de
sentenças) e a sua conclusão (proposição final). Quando se pensa em argumentos, se
pensa nessa estrutura complexa que revela o processo de inferência que a nossa inteli-
gência é capaz de realizar. É essa estrutura que interessa para investigação lógica. O
filósofo Irving Copi (1978, p. 23), observa uma importante advertência essa estrutura:

Nenhuma proposição, tomada em si mesma, isoladamente, é uma premissa ou uma


conclusão. Só é premissa quando ocorre como pressuposição num argumento ou ra-
ciocínio. Só é conclusão quando ocorre num argumento em que se afirma decorrer das
proposições pressupostas nesse argumento.

Com efeito, quando estamos lendo um texto, filosófico ou não, nem sempre
os argumentos estão organizados dessa maneira. É muito frequente identificar a
conclusão em primeiro lugar ou de forma mais evidente e, depois, as premissas
que estariam justificando-a. Não podemos esquecer que um argumento envolve
uma conclusão e duas outras proposições, não importa se estão localizadas de
maneira diferente da forma como didaticamente identificamos e estudamos a sua
estrutura. “A conclusão de um argumento não tem de ser enunciada, necessaria-
mente, no seu final ou no seu começo. Pode estar – e frequentemente está - inter-
calada entre as diferentes premissas oferecidas em seu apoio” (COPI, 1978, p. 24).

capítulo 1 • 25
A tarefa do filósofo lógico não é tão fácil assim, porque identificar e distinguir
argumentos num texto, separando as premissas e suas conclusões requer certo
treinamento. Como podemos reconhecer argumentos num texto? O que poderá
nos auxiliar nesta tarefa? Quando estudamos lógica aprendemos que existem pa-
lavras ou frases que denunciam tratar-se de uma conclusão de um argumento, por
exemplo. Que palavras ou frases seriam? Posso indicar ao meu leitor uma conclu-
são quando uso os termos: portanto, logo, daí, consequentemente, assim, conclui-se,
podemos inferir que, segue-se que, dentre outras semelhantes.
E as premissas? Como posso localizá-las? Copi (1978), observa que autores
usam termos como porque, desde que, pois, que, como, dado que e semelhantes para
indicar as premissas que fundamentam a conclusão do argumento. Tais elementos
que estruturam o argumento podem estar localizados em diferentes partes do tex-
tos. Essas palavras podem ser úteis para a identificação de argumentos num texto
que poderá apresentar dados e informações, às vezes, irrelevantes. O autor de um
texto poderá construir um argumento central, argumentos menores interligados
ou não.
Jacques Maritain (1970, p. 17), nos oferece um silogismo que podemos rees-
crever para exemplificar como, num texto, os termos nem sempre estão ordena-
dos. Podemos dizer:
1. “É claro que a alma humana é incorruptível”
2. “Ora, a alma humana é espiritual”.
3. “Tudo o que é espiritual é incorruptível.”

Veja que nesse exemplo, que tomamos emprestado do filósofo francês, come-
çamos pela conclusão. Se reordenarmos os termos do argumento ficaria assim: as
duas premissas e a sua conclusão. Nada obsta de que uma pessoa, na sua escrita ou
em sua fala, comece pela conclusão.

“Tudo o que é espiritual é incorruptível


Ora, a alma humana é espiritual
Logo, ela é incorruptível”

Se nos aproximarmos um pouco mais da experiência lógica, aos poucos identi-


ficaremos com mais clareza os argumentos de um autor, de seus personagens numa
obra literária, independentemente da ordem de seus termos. Saberemos identi-
ficar argumentos centrais e secundários, fortes ou fracos, em qualquer escrito,

capítulo 1 • 26
acadêmico ou não. Aprenderemos a examiná-los com cuidado e pensamento críti-
co, não apenas no aspecto formal, mas também no material.
Como uma ciência, a lógica nos ensina a raciocinar metodicamente, ou seja,
uma disciplina que proporciona um conhecimento estruturado sobre o próprio
raciocinar, investigando as condições da consequência e da verdade.

ATIVIDADES
01. Estudar lógica pode fazer toda diferença para quem deseja ingressar nos estudos filo-
sóficos, mas sem dúvida será interessante, também, em outras situações. Pesquise e aponte,
pelo menos, três vantagens que justifiquem por que precisamos estudar lógica em pleno
século XXI.

02. Estudamos que um argumento poderá ser válido ou inválido. Assim, analise os argumen-
tos a seguir e diga se apresentam forma lógica válida ou inválida.
a) Pedro está no Brasil, está na América Latina. /Pedro não está no Brasil/ Logo, Pedro
não está na América Latina.
b) Todos os ricos têm contas a pagar. / Carlos tem contas a pagar. / Logo, Carlos é rico.
c) Todos os cachorros latem. / Lucky é um cachorro. /Logo, Lucky é um latidor.

REFLEXÃO
Neste capítulo identificamos que a lógica é uma ferramenta realmente importante para
análise crítica de argumentos, nos auxilia a clarificar nossas próprias ideias e é um instrumen-
to imprescindível para quem deseja ingressar nos estudos filosóficos. A lógica nos convida a
desenvolver habilidades analíticas para o correto raciocinar. As contribuições de Aristóteles
são inestimáveis.

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ARANHA, Maria Lucia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando. 3.ed. São Paulo:
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capítulo 1 • 27
ARISTÓTELES. Organon. Analíticos Anteriores. Tradução de Pinharanda Gomes. Lisboa: Guimaraes
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______. Órganon. Categorias. Da interpretação. Analíticos Anteriores. Analíticos Posteriores. Tópicos.
Refutações Sofísticas. Tradução Edson Bini. 2. ed. São Paulo: EDIPRO, 2010.
______. Sobre a alma. Tradução de Ana Maria Lóio. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda, 2010.
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DUPRÉ, Bem. Cinquenta ideias de filosofia que você precisa conhecer. São Paulo: Planeta, 2015.
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MARITAIN, Jacques. A ordem dos conceitos. Lógica menor. Tradução de Ilza das Neves e Adriano
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SANTOS, Mário Ferreira. Lógica e dialética. 4.ed. São Paulo: Logos, 1959.
VAN ACKER, Leonardo. Elementos de lógica clássica formal e material. São Paulo: UCSP, 1971.

capítulo 1 • 28
2
Proposições e o
argumento
Proposições e o argumento
Neste capítulo, estudaremos as proposições como elemento importante para
argumentação. Para tanto, analisaremos a sua classificação em proposições univer-
sais, particulares, singulares, indefinidas, simples ou compostas. Identificaremos
também as regras para oposição das proposições em contrárias e contraditórias e
a conversão de seus termos. Finalizaremos essa parte do estudo com os silogismos
dedutivo e indutivo e as figuras do entimema, sorites e dilema.

OBJETIVOS
•  Identificar os tipos de proposições que integram um argumento;
•  Aplicar as regras para oposição das proposições em contrárias e contraditórias;
•  Evidenciar as diferenças entre o silogismo dedutivo e indutivo;
•  Identificar silogismos contendo entimemas, sorites e situações de dilema e contra dilema.

Os termos da proposição

Classificação das proposições

Os autores em lógica geralmente definem proposição como elemento da argu-


mentação em que um termo, premissa ou conclusão, pode ser afirmado ou negado
a partir de sua relação com outro. De uma proposição podemos construir muitas
argumentações possíveis e a ligação entre elas se dá por negação ou afirmação.
Podemos enumerar as proposições em simples e compostas segundo a diversida-
de de cópulas. Se analisarmos uma proposição perceberemos que existe o sujeito da
proposição e o seu predicado ligados por uma cópula que é o elemento formativo
das proposições. Numa proposição em que temos tais termos ligados por uma có-
pula verbal “é”, por exemplo, identificamos esta proposição como simples, categó-
rica ou atributiva. Se encontrarmos duas proposições consideradas simples ligadas
por meio de uma outra cópula, com “e” ou “se”, recebe o nome de hipotética ou
composta (MARITAIN, 1970).

capítulo 2 • 30
Considerando tais elementos, podemos dividir as proposições em uma di-
mensão material quando falamos em sujeito e predicado e uma dimensão formal
quando observamos a cópula (VAN ACKER, 1971). Por exemplo:
Todo homem é racional (proposição)
“homem” = sujeito
“é” = cópula (poderá ser afirmativa ou negativa)
“racional” = predicado

A cópula poderá ser afirmativa ou negativa. Evidencia-se uma cópula afirma-


tiva quando identifica o sujeito ao predicado e, por outro lado, negativa, quando
pretende distinguir os termos negando uma relação. Se digo “O homem não é
imortal” estou usando a cópula da maneira negativa, negando a relação entre ho-
mem e imortalidade.
Normalmente, os estudiosos em lógica convencionaram usar o símbolo mate-
mático atribuído à divisão (:) para representar o termo cópula no sentido negativo.
A cópula afirmativa é representada, em geral, pelo sinal de igualdade (=). Frise-se
que é apenas uma representação por sinal, não possui o mesmo sentido de uma
operação matemática que divide, soma ou subtrai. É importante observar também
que a cópula poderá estar implícita numa proposição. Segundo Van Acker (1971,
p. 26), podemos identificar uma cópula implícita na seguinte frase: “Deus existe”
e a explícita na proposição “Deus é existente”.
As proposições lógicas podem ser classificadas segundo sua quantidade, sua
qualidade essencial ou qualidade contingente. Temos, por exemplo proposições
com quantidade quando afirmamos “Todo homem é mortal”. São designadas
como proposições com quantidade “totais” ou “universais” – uma generalidade
abstrata. Podemos usar também, no mesmo sentido de universalidade, o termo
“nenhum”. E este tipo universal se opõe às proposições com quantidades parti-
culares ao usarmos a palavra “algum” ou “alguns” ou prenomes designando uma
individualidade. Vejamos:
Todo homem é mortal – proposição com quantidade total ou universal
Algum homem é desonesto – proposição com quantidade particular

Existem ainda proposições compostas do tipo “Os valentes se sacrificam e


os covardes se enriquecem” (MARITAIN, 1970, p. 127) e aquelas que não indi-
cam quantidade, são proposições singulares ou indefinidas. Quando menciono
“Sócrates é mortal”, identifico um sujeito singular. Numa proposição indefinida

capítulo 2 • 31
posso dizer “O francês não é simpático”. Significa dizer que muitos ou alguns, não
são simpáticos, embora nem todos sejam assim. Fica indefinido.
Sócrates é mortal – proposição sem quantidade singular
O francês não é simpático – proposição sem quantidade, indefinida

Se analisarmos a proposição sob o aspecto da cópula podemos classificá-la em


proposições categóricas afirmativas ou negativas; proposições hipotéticas condicionais,
disjuntivas ou conjuntivas. O nome “categórico” significa que as proposições apre-
sentam uma cópula lógica no sentido de ligação atributiva por afirmação (“é”) ou
negação (“não”). Atribui um predicado ou o nega. Exemplo:
Todo homem é mortal - proposição categórica afirmativa
Todo homem não é imortal – proposição categórica negativa

As proposições hipotéticas apresentam uma cópula chamada de hipotética ou


supositiva, além da cópula atributiva que é aquela que já vimos e que atribui algo a
alguém. Neste caso, alega-se uma hipótese, uma suposição com possibilidades de
outras proposições. Se é condicional, a cópula hipotética “se”, ou, seu equivalente,
estabelece um antecedente e um consequente (VAN ACKER, 1971).
E se observarmos a partir da estrutura do raciocínio podemos dizer que a
premissa apresenta o antecedente e a conclusão o consequente. Para este tipo de
proposição, Van Acker (1971, p. 34), nos oferece o seguinte exemplo: “Se todo
homem é racional, todo homem é social”. A condição liga-se ao consequente, de
maneira a destruição da condição ocasiona eliminação da conclusão.
Entretanto, nem sempre as premissas apresentarão essa relação recíproca verdadei-
ra e, mais, nem todas as proposições são lógicas. Não podemos confundir a proposi-
ção condicional lógica com simples proposições gramaticais do tipo: “Se estudar muito,
passarei na prova”. Neste último exemplo não há nexo lógico ligando o antecedente e
o consequente. Por quê? Porque o examinador poderá ser mais rigoroso, poderá o can-
didato passar mal durante a realização da prova, dentre outras variáveis interferem no
resultado eliminando uma relação, um nexo lógico entre antecedente e consequente.
As proposições disjuntivas são aquelas em que a cópula hipotética assume a
forma: “ou ... ou”. Temos, pelo menos, dois elementos equivalentes em que um
sendo escolhido, elimina o outro e vice-versa. Exemplo: “Haverá um único chefe,
ou as coisas serão mal governadas” (MARITAIN, 1970, p. 127). E, neste caso,
cabe a mesma advertência para não confundirmos com as proposições puramente
gramaticais (VAN ACKER, 1971).

capítulo 2 • 32
No caso de uma disjuntiva lógica eliminando-se um elemento, frise-se, necessa-
riamente teremos que assumir ou outro, na gramática não há essa situação. Posso di-
zer: “Vou viajar, mas não sei se vou de avião ou de trem”. Existem outros transportes
tais como automóvel particular, navio, helicóptero etc. No exemplo: “A prova deverá
ser feita com caneta preta ou azul” – tenho uma disjuntiva lógica, pois se não usar
caneta preta necessariamente usarei a caneta azul (VAN ACKER, 1971).
As proposições conjuntivas lógicas são aquelas em que a cópula hipotética traz
um sentido que nega que duas proposições podem ser verdadeiras simultaneamen-
te. “Não se pode ser ao mesmo tempo ator e espectador” (MARITAIN, 1970, p.
127). Vejamos outro exemplo de proposições conjuntivas que nos auxilia a perce-
ber que os dois elementos são mencionados no raciocínio e que não são válidos ao
mesmo tempo (VAN ACKER, 1971, p. 38):
“No mesmo tempo, Sicrano ou está em casa, ou fora dela.
Ora, ontem ao meio dia, Sicrano estava em casa.
Logo, ontem ao meio dia, Sicrano não podia estar fora de casa”.

Existem proposições modais ou com modalidade. Entende-se por modalidade


um aspecto ou forma que algo pode ter. Neste tipo observamos o uso de palavras
como necessário e contingente. Immanuel Kant (1724-1804), em suas lições de
lógica nos ajuda a compreender o que seriam características necessárias e caracte-
rísticas contingentes. Preleciona o filósofo (1992, AK 60, A89):

As características necessárias (...) são aquelas que têm que ser encontradas sempre
na coisa representada. Semelhantes características chamam-se também essenciais e
se opõem às características extra essenciais e contingentes, que podem ser separa-
das do conceito da coisa.

Daí chamarmos de proposições modais necessárias ou proposições modais contin-


gentes. Nas proposições: “É necessário os homens serem racionais” e “É contingente
algum homem ser alto” – percebemos que expressam o sentido de proposições mo-
dais necessárias e modais contingentes. Lembrando-se que o que é necessário não
poder ser de outro modo, mas o que é contingente reduz-se ao sentido do possível,
do provável. “É contingente que alguém vá ao supermercado hoje” é uma propo-
sição que evidencia essa probabilidade (VAN ACKER, 1971).
Então, no estudo das proposições lógicas verificamos que podemos classifi-
cá-las em proposições com quantidade (universais, totais ou particulares) e sem

capítulo 2 • 33
quantidade (singulares e indefinidas), em categóricas afirmativas ou negativas, hipo-
téticas condicionais, disjuntivas ou conjuntivas quanto à cópula e, pela modalidade,
em necessárias e contingentes. E mais, vimos a advertência de não as confundir com
simples proposições gramaticais.

•  Universais ou totais;
Proposições com quantidade
•  Particulares.

•  Singulares;
Proposições sem quantidade
•  Indefinidas.

•  Simples: afirmativas ou;


Proposições categóricas
•  Compostas: hipotéticas condicionais,
disjuntivas ou conjuntivas.

Oposição das proposições

Há a possibilidade, em lógica, de as proposições poderem se opor mutuamen-


te. Nesse sentido existem regras lógicas para tal oposição. Quais seriam as con-
dições para oposições lógicas? Primeiramente, para identificarmos uma oposição
lógica mútua é necessário que as proposições apresentem os mesmos termos, os
mesmos sujeitos e predicados, sendo que numa proposição há uma afirmação e,
em outra, há uma negação. Elas possuem cópula lógica categórica opostas. Exemplo:
a proposição “Pedro é alto” configura uma oposição lógica com a proposição
“Pedro não é alto.” Existem, portanto, oposições lógicas evidentes que identifica-
mos com facilidade e outras nem tanto.
Existem três graus diferentes de oposição nas proposições, a saber: a) a de-
nominada contradição ou também designada como contrariedade que representa
uma oposição em grau máximo e evidente. Exemplo: “João é honesto”/“João não
é honesto”; b) o que se chama contrariedade que representaria um grau mediano
de oposição em que temos situações com proposições universais opostas do tipo:
“Todo homem é moral”/“Nenhum homem é moral”; e, por fim, c) a subcontrarie-
dade que apresenta um grau pequeno de oposição entre proposições particulares

capítulo 2 • 34
afirmativas e particulares negativas. Exemplo: “algum homem é médico” /” algum
homem não é médico”.
Existem alguns casos específicos de oposição que precisamos conhecer para
analisarmos os argumentos, são eles: a) a oposição apenas pela cópula; b) oposição
por meio da cópula e da quantidade; c) oposição pela cópula, quantidade e modali-
dade; d) oposição pela cópula e modalidade. Temos que perceber que nesta primeira
etapa as oposições ocorrem sempre considerando a cópula que já vimos como
termo formal das proposições.
Quando tratamos do primeiro tipo, a oposição pela cópula apenas, precisamos
destacar que acontecem na hipótese de proposições singulares e indefinidas. De
que maneira? “Aristófanes é filósofo” / “Aristófanes não é filósofo”, esta é uma pro-
posição singular porque fala-se em alguém específico, com oposição apenas pela
cópula ( “é” x “não é”). Na proposição “O brasileiro é poeta” / “O brasileiro não é
poeta” temos uma proposição somente pela cópula, numa proposição indefinida
que se refere ao brasileiro.
Quando ocorre a oposição pela cópula e pela quantidade podemos encon-
trar uma proposição do tipo universal afirmativa oposta a uma universal negati-
va: “Todo homem é bom” / “Todo homem não é bom” ou “Nenhum homem é
bom”. E podemos formular uma proposição afirmativa particular em oposição a
uma negativa particular: “Algum homem é bom” / “Algum homem não é bom”.
Neste exemplo podemos identificar uma relação de oposição e uma relação de
contradição.
Vamos identificar isso melhor formando o famoso quadrado lógico? Seguindo
a sugestão de Van Acker (1971, p. 41), vamos convencionar algumas letras para
representar os tipos de proposições pelas letras A, E, I e O da seguinte maneira:
“a afirmativa total [universal], designada por “A” (primeira vogal de afirmo); a
afirmativa particular designada por “I” ( segunda vogal de afirmo); a negativa to-
tal [universal], designada por “E” (primeira vogal de nego); a negativa particular,
designada por “O” (segunda vogal de nego). O nosso quadrado lógico organiza as
proposições inserindo à esquerda as afirmativas, à direita as negativas e as particu-
lares abaixo das totais ou universais.

capítulo 2 • 35
A contrárias E

subalternas

subalternas
con
itó rias trad
trad itór
ias
con

I subcontrárias O

A e E ou I e O são proposições contrárias


A e O ou E e I são proposições contraditórias

Se inserirmos as proposições formuladas neste quadro lógico vamos entender


melhor o sentido de serem contrárias, contraditórias, subalternas e subcontrárias.
Todo homem é bom Nenhum homem é bom
(A) contrárias (E)
subalternas

subalternas

as con
itóri trad
trad itór
ias
con

(I) subcontrárias (O)


Algum homem é bom Algum homem não é bom

Em lógica, o conteúdo da letra A e I não apresentam cópula opostas, nas duas


proposições a cópula é a mesma (“é”). Portanto, são chamadas de subalternas ou
interdependentes. O mesmo ocorre entre as letras E e O.
As proposições que estão nas letras A e E são proposições universais ou totais;
as proposições nas letras I e O são proposições particulares. Como o universal é
mais forte que o particular, porque o particular deriva do universal, os lógicos
dizem que A e E são subalternantes e as letras I e O subalternadas. Como assevera
Kant (1992, A181, AK116), “um iudicium chama-se subalternatum na medida
em que está contido sob o outro; assim como, por exemplo, os juízos particulares
sob os universais”.

capítulo 2 • 36
Existem outras formas, temos também a oposição pela cópula, quantidade
e modalidade. Não podemos esquecer que quando falamos em cópula estamos
pensando no verbo “ser”, no caso de quantidade em algo universal ou total em
relação a algo particular ou singular. A modalidade se refere ao que é necessário ou
contingente. Vejamos, então. Vamos organizar um quadro seguindo a forma como
os estudiosos em lógicas preferem construir?
•  Proposições necessárias:
Necessária afirmativa universal ou total – sigla NA
Necessária afirmativa particular – sigla NI
Necessária negativa universal ou total – sigla NE
Necessária negativa particular - sigla NO (O de nego)

•  Proposições contingentes:
Contingente afirmativa universal ou total – sigla CA
Contingente afirmativa particular – sigla CI
Contingente negativa universal ou total – sigla CE
Contingente negativa particular - sigla CO (O de nego)

É necessário todo ho- contrárias É necessário todo ho-


mem ser bom (NA) ←----→ mem não ser bom (NE)

É necessário algum subcontrárias É necessário algum ho-


homem ser bom (NI) ←-----→ mem não ser bom (NO)

É contingente todo ho- contrárias É contingente todo ho-


mem ser bom (CA) ←-----→ mem não ser bom (CE)

É contingente algum subcontrárias É contingente algum ho-


homem ser bom (CI) ←-----→ mem não ser bom (CO)

Neste quadro lógico temos as proposições contrárias NA/NE e CA/CE. As


proposições particulares NI/NO e CI/CO são subcontrárias. Temos ainda que
pensar nas possibilidades de existirem proposições contraditórias. Como ficariam?
As proposições NA/CO, NE/CI, NI/CE, NO/CA são contraditórias.

capítulo 2 • 37
É necessário todo homem É necessário todo homem
ser bom (NA) não ser bom (NE)

É necessário algum homem É necessário algum homem


ser bom (NI) não ser bom (NO)

É contingente todo homem É contingente todo homem


ser bom (CA) não ser bom (CE)

É contingente algum homem É contingente algum homem


ser bom (CI) não ser bom (CO)

Quando estamos diante de proposições opostas contraditoriamente entre si,


a verdade de uma é deduzida da falsidade da outra e vice-versa. Neste caso, Kant
acrescenta a aplicação do princípio do terceiro excluído que reforça que ambas pro-
posições contraditórias não podem ser verdadeiras, nem simultaneamente falsas.
Se uma for verdadeira a outra será então falsa (KANT, 1992, A182, AK117).
Nas hipóteses de proposições contrárias temos uma proposição universal-
mente afirmativa e outra universalmente negativa, “então é certo que os dois não
podem ser verdadeiros, embora possam ser falsos ambos os dois” (KANT, 1992
A183, AK117).
Quando identificamos proposições subcontrárias temos a seguinte situa-
ção: duas proposições particulares em que um “afirma ou nega particularmente
(particulariter) o que o outro nega ou afirma particularmente” ( KANT, 1992,
A183, AK117). Neste caso, as duas proposições podem ser verdadeiras, embora
não possam ser ambas falsas. O que poderá ocorrer é que uma poderá ser falsa e a
outra verdadeira.
Nas análises de textos, teorias ou doutrinas podemos aplicar tais regras para
identificarmos se os argumentos apresentam oposição contraditória ou oposição con-
trária, pois percebemos melhor sua estrutura verificando as proposições.

A conversão das proposições

Além das oposições é possível a conversão das proposições. E o que significa


converter uma proposição? Significa que podemos inverter os termos mantendo
a mesma ideia. Exemplo: Nenhum homem é um anjo. Ao invertermos a ordem
dos termos temos: nenhum anjo é homem. Segundo Maritain ( 1970, p. 165), “a
conversão de uma proposição é, pois, a inversão dos extremos, efetuada de manei-
ra a exprimir a mesma verdade.” Ocorre que o predicado da proposição original

capítulo 2 • 38
se transforma no sujeito da nova formulação, mas deve-se conservar os mesmos
termos para não desvirtuar a verdade que se pretende enunciar.
Algumas regras podem ser úteis para essa conversão. Numa proposição nega-
tiva universal que designamos pela letra maiúscula “E” temos: Nenhum homem
é aracnídeo. A conversão simples de uma proposição universal negativa ficaria
assim: Nenhum aracnídeo é homem.
Se temos uma proposição particular afirmativa que designamos pela letra
maiúscula “I”, do tipo Algum homem é justo, poderia ser convertida para Algum
justo é homem. E a afirmativa universal designada pela letra maiúscula “A” do
tipo Todo homem é um ser sensível para Algum ser sensível é homem.
Nas proposições particulares negativas que identificamos pela letra “O”, en-
contramos uma dificuldade na conversão. Vejamos: “Algum homem não é justo” é
a proposição original. A conversão ficaria estranha: “Algum justo não é homem.”
O que altera a verdade da proposição original. Então, proposições do tipo “O”
não podem ser convertidas por conversão simples, precisando ocorrer apenas por
contradição e ficaria assim: “ Algum não justo não é não homem” que seria equi-
valente a dizer “Algum não justo é homem” (MARITAIN, 1970, p. 166).
Segundo Maritain (1970, p. 166-7), é interessante afinarmos nosso olhar para
as conversões porque muitos sofismas fazem conversões supostamente verdadeiras
e que poderão passar despercebidas aos olhos não treinados. E nos fornece dois
exemplos de sofismas:

‘Todo artista genial assombra o vulgo’ a esta proposição: ‘Todo artista que assombra o
vulgo é um artista genial’; ou desta (suposta verdadeira): ‘Todo espírito poderoso tem
cérebro grande’ a esta outra: ‘Todo homem de cérebro grande tem espírito poderoso’.

Só há conversão quando se exprime a mesma verdade, ou como assevera


Maritain ( 1970, p. 167), “dizer que uma proposição conversível se converte sim-
plesmente, é dizer que, supondo-se verdadeira a proposição em jogo, sua conver-
são simples exprime a mesma verdade.”
Em síntese, quando nos deparamos com uma proposição afirmativa singular
converte-se para o tipo “I”. Na hipótese de ser uma negativa, converte-se em “E”.
E uma singular afirmativa em “A” e uma singular negativa em “E”.1

1  Vamos relembrar essa convenção lógica? As proposições afirmativas universais, são designadas por “A” (primeira
vogal de afirmo); a afirmativa particular designada por “I” (segunda vogal de afirmo); a negativa total ou universal
designada por “E” (primeira vogal de nego); a negativa particular, designada por “O” (segunda vogal de nego).

capítulo 2 • 39
A argumentação

Jacques Maritain (1970, p. 120) define discurso, do termo em latim oratio,


como “todo encadeamento ou toda construção de conceitos ou termo.” Esse dis-
curso poderá ser perfeito, completo ou imperfeito e impreciso. E podemos distinguir
três tipos de discursos: o enunciado ou proposição, o discurso de intenção prática
que expressa algo a se fazer e a argumentação que expressa um raciocínio.
Segundo o filósofo francês, a lógica se preocupa com a proposição e a argu-
mentação, porque investiga a linguagem enquanto ligada ao sentido do verdadeiro
e falso (Maritain, 1970).Toda argumentação se caracteriza por ser um conjunto de
proposições em que se alcança uma conclusão. Existem premissas e uma conclu-
são. Os lógicos designam como antecedente as premissas e consequente, a conclusão.
São elementos inferenciais que estão relacionados reciprocamente por meio de
uma inferência. Do ponto de vista formal, as inferências podem ser de dois tipos:
a) argumentação dedutiva ou silogística; b) argumentação indutiva.
Podemos definir silogismo como uma argumentação em que colocado um
elemento antecedente, chega-se ao consequente. O próprio Aristóteles observou
em seus Analíticos Anteriores (I, 1, p. 24b 18-20): “discurso em que, postas certas
coisas, segue-se necessariamente algo diferente delas, mas em virtude delas”. Para
Van Acker (1971, p. 55), o silogismo é

uma argumentação em que a conclusão resulta das premissas, por necessidade ou


exigência formal da posição das mesmas, e independente do caráter verdadeiro ou
errôneo da respectiva matéria ou assunto.

Alguns autores também definem como uma argumentação que parte formal-
mente do geral para o particular com base no método dedutivo ou como o pro-
cedimento que segue do formalmente geral para o particular. Van Acker (1971,
p. 56, grifos do autor), apresenta os seguintes exemplos de silogismo em que o
nexo entre o antecedente e o consequente está implícito:

EXEMPLOS
Exemplo 1: Se algum homem é social, algum homem é racional. Ora, algum homem é
social. Logo, algum homem é racional. Subentende-se: todo social é racional, ou o social é
necessariamente racional em todo ou qualquer caso.

capítulo 2 • 40
Exemplo 2: Se alguma planta é animal, ela é imaginativa. Ora, alguma planta é animal.
Logo, ela é imaginativa. Subentendendo-se: todo animal é necessariamente imaginativo, sem
exceção possível.

Em regra, a interpretação do silogismo dedutivo é a de que o raciocínio par-


te do geral para o particular, mas com cautela podemos identificar silogismos
dedutivos que partem do geral para outro igualmente geral. Vejamos mais um
exemplo: “Todo animal é instintivo, ora, todo sensível é animal. Logo, todo sen-
sível é instintivo” (VAN ACKER, 1971, p. 58). Cumpre não esquecer que existe
tal possibilidade.
Os silogismos podem ser classificados em dois tipos. Temos os silogismos ca-
tegóricos que são integrados por proposições categóricas ou somente por proposi-
ções hipotéticas. Por que os lógicos também falam em proposições só hipotéticas?
Porque neste caso se todas as proposições são hipotéticas o argumento se torna
total, absoluto ou categórico. Van Acker ( 1971, p. 62-3), menciona dois exemplos
que configuram esses dois tipos dos silogismos categóricos, a saber:

1. “Tudo o que garante melhoria social, realizada de modo justo e humano, é digno de
aprovação. Ora, toda boa revolução garante melhoria social, realizada de modo justo e
humano. Logo, toda boa revolução é digna de aprovação.”
2. “Se algo garante melhoria social, realizada de modo justo e humano, é digno de
aprovação. Ora, se uma revolução é boa, ela garante melhoria social, realizada de modo
justo e humano”.

O segundo tipo, o silogismo hipotético apresenta a primeira premissa como


uma proposição hipotética e as demais categóricas. Percebemos neste tipo uma
diferença entre a parte hipotética e a parte categórica, pois a argumentação se mo-
difica e deixa o aspecto condicional teórico para o categórico. No exemplo de Van
Acker (1971, p. 63), identificamos essa modificação:

Se uma revolução é boa, garantindo melhoria social realizada de modo justo e humano,
ela é digna de aprovação. Ora, há uma revolução boa, garantindo melhoria social, reali-
zada de modo justo e humano. Logo, esta revolução é digna de aprovação.

Além do silogismo dedutivo temos também o raciocínio indutivo ou ar-


gumentação indutiva. Ambos fazem parte de nossa vivência, mas o argumento

capítulo 2 • 41
indutivo está muito presente na nossa vida cotidiana porque, em geral, argumen-
tamos a partir de certos padrões que observamos no mundo da vida e partimos
dessas percepções e crenças particulares para um raciocínio indutivo em termos de
probabilidades e não certezas. Sobre isto, destaca Genslerdestaca Gensler (2016,
p. 101): “muitos de nossos raciocínios do dia a dia lidam com probabilidades.
Observamos padrões e concluímos que, baseados nesses, tal ou tal crença é prova-
velmente verdadeira. Isso é raciocínio indutivo”.
Como estudamos, o raciocínio dedutivo guarda uma relação estreita entre
premissas e conclusão. A “validade dedutiva é uma questão de tudo ou nada”
(GENSLER, 2016, p. 101). Todavia isso não ocorre no indutivo porque neste
lidamos com probabilidades.
Inspirando-nos nos exemplos do filósofo lógico Gensler (2016, p. 101), ima-
gine-se fazendo uma trilha numa região árida, muito extensa e com várias paradas
em abrigos para viajantes. No início do percurso você analisa em que abrigo pre-
tende passar a noite para repor as energias e os suprimentos de viagem. É preciso
saber se nos abrigos escolhidos realmente você encontra o que precisa. Um mem-
bro do grupo menciona que em experiências anteriores 90% dos abrigos atende-
ram as exigências do grupo. O raciocínio indutivo poderia ser:

Em 90% dos abrigos encontramos os suprimentos necessários.


“A” é um abrigo que fica numa localidade razoável.
Provavelmente “A” tem os suprimentos necessários.

Temos no exemplo um raciocínio indutivo que trabalha com a probabilidade


e poderá ser comprovado como falso, pois ao chegar no abrigo, os viajantes podem
constatar que não encontram ali os suprimentos necessários para a viagem. Outro
raciocínio indutivo clássico é aquele que diz: O cisne “A” é branco. O cisne “B”
é branco. O cisne “C” é branco. Logo, todos os cisnes são brancos. O observador
parte de experiências particulares e posteriormente generaliza uma informação
particular. Por isso, muitos também definem o raciocínio indutivo com aquela
que parte do particular para o geral. Exemplo: (ARANHA; MARTINS, p. 104)

O cobre é condutor de eletricidade.


O ouro, o ferro, o zinco e a prata também.
Logo, o metal é condutor de eletricidade.

capítulo 2 • 42
Como podemos diferenciar argumentos dedutivos de argumentos indutivos?
Os argumentos indutivos sempre variam conforme a força de persuasão das pre-
missas para apoiar uma conclusão possível. E mais, ainda que as premissas sejam
bem convincentes, há uma fraca conexão entre as premissas e conclusão. Poderá
ocorrer de as premissas serem verdadeiras como as do cisne e a conclusão ser falsa,
porque poderá aparecer um cisne negro. Conforme explica Gensler ( 2016, p. 102),
o “raciocínio indutivo é uma forma de adivinhar baseada em reconhecimento e
enstender padrões conhecidos e semelhanças”. Vejamos um quadro comparativo:

ARGUMENTO DEDUTIVO ARGUMENTO INDUTIVO


Sendo as premissas verdadeiras é logi-
Se as premissas são verdadeiras é pro-
camente necessário que a conclusão
vável que a conclusão também o seja.
seja verdadeira.

Conforme estudamos no capítulo anterior, os argumentos dedutivos podem


ser válidos quanto a forma lógica e corretos quanto ao conteúdo, porque há vera-
cidade das premissas. Então, um raciocínio correto é aquele que inclui as duas pos-
sibilidades: validade e veracidade. Para os indutivos não podemos usar a mesma
nomenclatura porque traz uma conclusão provável. O que podemos dizer é que
um raciocínio indutivo poderá ter premissas verdadeiras e fortes e uma conclusão
provável e confiável. O dedutivo pode ser válido e correto enquanto o indutivo
poderá ser forte e confiável (GENSLER, 2016).
O argumento indutivo poderá ser forte e não confiável porque a sua conclusão
é fraca e o argumento parece-nos pouco confiável o que torna esse tipo de argu-
mento controvertido. No exemplo a seguir percebemos isso:

O time X perde 80% dos jogos.


O time X está jogando agora.
Provavelmente perderá.

Na verdade, a conclusão não é confiável porque variáveis podem interferir e o


time X vencer a partida. Irving M. Copi (1978, p. 35) menciona:

Um raciocínio indutivo (...) envolve a pretensão, não de que suas premissas proporcio-
nem provas convincentes da verdade de sua conclusão, mas de que somente forne-
çam algumas provas disso.

capítulo 2 • 43
Um dos argumentos indutivos mais frequentes é o argumento por analogia
e, em geral, nossas inferências na experiência cotidiana utiliza muitas analogias.
Como diz Copi (1978, p. 314), “A analogia constitui o fundamento da maior
parte dos nossos raciocínios comuns, na qual, a partir de experiências passadas,
procuramos discernir o que nos reservará o futuro.” Por ser um argumento do tipo
indutivo, as conclusões são prováveis e, por isso, o argumento por analogia, o mais
famoso dos argumentos indutivos pode ser classificado como fortes e confiáveis.
Existem diferentes usos da analogia que não se confundem com o argumento
analógico. Existe o uso literário, na metáfora, na explicação para esclarecer ideias
complexas, mas é preciso caracterizar um argumento analógico que é diferente des-
ses usos. Quando temos um argumento analógico a inferência parte de duas ou mais
semelhanças e a conclusão apresenta a semelhança com outroa aspecto. Segundo
Copi (1978, p.315), podemos representar o argumento analógico da seguinte forma:

a, b, c, d tem todos as propriedades P e Q.


a, b, c tem todos a propriedade R.
Portanto, d tem a propriedade R.

Na hipótese de argumentos analógicos, podemos afirmar que apresentam con-


clusões mais ou menos convincentes, mas não que apresentam conclusão, neces-
sariamente lógica. Avaliamos esses argumentos segundo as probabilidades. Vamos
conhecer alguns critérios que os filósofos lógicos, como Copi (1978), destacam
neste tipo de argumento indutivo analógico?
Como um primeiro critério podemos destacar o número de elementos que guar-
dam analogia entre si e percebemos esse critério mais forte no senso comum quan-
do tentamos convencer alguém sobre algo. Imagine que você teve uma experiência
ruim ao comprar numa determinada loja. Certo dia, narra seu aborrecimento a um
amigo que poderá pensar que foi um fato isolado o que não significa dizer que irairá
acontecer outras vezes. Agora imagine uma situação em que três ou quatro pessoas
conhecidas passam pelo mesmo aborrecimento. Neste caso, há uma probabilidade
maior de que a conclusão seja provável. Vejamos o exemplo de Copi ( 1978, p. 318):

Se eu conhecesse apenas um cão pequinês e este fosse de mau gênio, tal fato daria
alguma probabilidade à conclusão de que o próximo pequinês que eu encontrasse
também fosse de mau gênio. Por outra parte, se conheci dez pequineses, todos de
mau gênio, isto dá uma probabilidade, consideravelmente, maior, à conclusão de que o
próximo também tenha mais gênio.

capítulo 2 • 44
Outro critério que temos para os argumentos analógicos é o da quantidade de
aspectos análogos que fortalecem a probabilidade da conclusão. Posso adquirir um
par de sapatos novos na mesma loja, da mesma marca, do mesmo modelo porque
o par antigo serviu muito bem durante longos anos e concluo que se comprar o
mesmo tipo no mesmo lugar terei o mesmo proveito. O que importa perceber é
que a analogia precisa ser relevante para causar determinada conclusão. As cone-
xões causais são importantes neste tipo de argumento.
Então, os argumentos por analogia são aqueles do tipo indutivo e que não são
válidos no sentido de que sua conclusão ser deduzida das premissas por relação lógica
necessária. Em verdade, podem ser, no máximo, mais convincentes ou não, conforme
o grau de probabilidade com que suas conclusões são apresentadas. Frise-se nesta parte
que no argumento por analogia não estamos considerando similaridades triviais, ao
contrário, estamos destacando no nosso argumento similaridades relevantes. E como
saber quais são ou não relevantes? Neste caso nosso conhecimento e informação sobre
a questão vai ser decisivo para escolhermos o que é realmente relevante.
Além do exemplo de argumentos por analogia temos o argumento estatís-
tico que também evidencia a mesma probabilidade. Podemos dizer que “N por
cento de A são B. X é um A. Portanto, é N por cento provável que X seja B”
(GENSLER, 2016, p.102).
Sobre o raciocínio indutivo também podemos pensar naquele construído por
amostras e sua força estará no tamanho, variedade das amostras e na prudência de
uma possível conclusão. Uma amostragem restrita não é tão convincente quanto
uma maior. A variação decorre da diversidade de fenômenos analisados, situações
distintas identificadas e evidenciadas num estudo e de qualquer sorte o raciocínio
indutivo de apresentar conclusões com muita prudência porque há riscos de um ou-
tro resultado (GENSLER, 2016). Como exemplo de um raciocínio amostral temos:

60% dos eleitores não gostariam de ter eleições obrigatórias.


Um grande e variado grupo de eleitores participou da pesquisa.
Provavelmente, 60% de todos os eleitores preferem eleições não obrigatórias.

Em Filosofia, encontraremos, em maior quantidade, raciocínios indutivos e


não raciocínios dedutivos com conexão lógica das premissas com a conclusão.
Verdadeiramente, encontraremos raciocínios indutivos e o seu devido debate so-
bre as razões para se aceitar ou não uma determinada conclusão.

capítulo 2 • 45
Entimemas, Sorites e Dilemas

Em nossas conversas e leituras percebemos alguns argumentos, mas nem sem-


pre estão completos e explícitos. Então podemos perceber que muitos não foram
explicitamente enunciados. Em geral, encontramos a conclusão e as premissas são
subentendidas. O que acontece no caso? A premissa faltante deve ser, de algum
modo, identificada.
Quando menciono que João é cidadão estou pressupondo que a cidadania é
o efeito do pertencimento de alguém a um Estado, nasceu naquele lugar – nós
compartilhamos essa informação. Vamos imaginar que alguém fala: “João é cida-
dão.” Entendemos essa proposição, pois todos os brasileiros natos, por exemplo,
são cidadãos. Podemos identificar e construir o silogismo completo a partir da
conclusão João é cidadão. Ficaria assim:
Todos os brasileiros natos são cidadãos.
João é um brasileiro nato.
Logo, João é cidadão. (conclusão)

Em lógica, caracteriza-se um argumento incompleto sob o ponto de vista de


seu enunciado pelo nome de entimema. E podemos até afirmar que na nossa vida
cotidiana nossa linguagem é entimemática. Por quê? Porque vivemos numa socie-
dade, estamos mergulhados em valores, práticas compartilhadas e em nossas falas,
nossa comunicação “há uma grande quantidade de proposições que se pressupõe
ser de conhecimento comum” (COPI, 1978, p. 208).
Frequentemente percebemos que enunciados entimemáticos são mais atraen-
tes, mais retóricos, muito embora os lógicos não apreciem muito essa prática.
Conforme explica Copi (1978, p. 208),

a maioria dos oradores e escritores evita mais complicações por não ter que repetir
proposições bem conhecidas e, talvez, trivialmente verdadeiras, que os seus ouvintes
os leitores podem perfeitamente suprir por sua iniciativa própria.

Mas como já vimos, o lógico não gosta muito dessa situação de entimema,
porque para determinar a validade de um argumento precisa verificar essa incom-
pletude, as partes que foram propositadamente suprimidas em um entimema.
A premissa suprimida precisa ser identificada e formulada. Subentende-se que
o autor de determinado argumento entimemático tinha em mente algo mais do

capítulo 2 • 46
que realmente expressou e acredita que seus leitores ou ouvintes aceitarão seu
argumento. Então frise-se no entimema, a conclusão está explícita, mas a sua pre-
missa não.
Os entimemas mais estudados são aqueles que apresentam silogismos expres-
sos de modo incompleto e os lógicos organizam os tipos em três ordens distintas,
a saber: os entimemas de primeira ordem que são “aqueles em que não se enuncia
a premissa maior do silogismo” (COPI, 1978, p. 209). Os entimemas de segunda
ordem em termos apenas a premissa maior e a conclusão e que pode ser expresso
no seguinte exemplo: “Todos os estudantes se opõem ao novo regulamento, assim
como todas as alunas se opõem a ele.” Neste exemplo temos a supressão da pre-
missa menor que poderia ser formulada assim: “Todas as alunas são estudantes”
(COPI, 1978, p. 209). O terceiro tipo de entimema é aquele que temos as duas
premissas a maior e a menor, mas não temos a conclusão que fica implícita. E
podemos identificar esse tipo no seguinte exemplo: “Nenhum verdadeiro cristão
é vaidoso, mas algumas pessoas que frequentam a igreja são vaidosas”. Conclusão
implícita: “Algumas pessoas que frequentam a igreja não são verdadeiros cristãos”
( COPI, 1978, p. 209).
A partir desses tipos como podemos evidenciar que um entimema é válido?
Para essa tarefa é necessário primeiramente identificar e completar o argumento
com as premissas faltantes e, depois, aplicar o teste geral de validade do silogismo.
Além de entimemas, temos a figura dos sorites que ocorre quando temos um
silogismo, mas que não é suficiente para se extrair uma conclusão das premissas
enunciadas (COPI, 1978, p. 211). Neste caso, será preciso um processo de argu-
mentação em que se forma uma cadeia de silogismos, não apenas um, mas mais
de um interligados para se chegar a uma conclusão. Nessa cadeia a conclusão do
primeiro silogismo se torna na premissa do segundo silogismo. Vejamos o exem-
plo de Copi (1978, p. 211) sobre a relação entre dois silogismos:

Todos os diplomatas são indivíduos de tato.


Alguns funcionários do governo são diplomatas.
Portanto, alguns funcionários do governo são indivíduos de tato. (conclusão 1 e pre-
missa do segundo silogismo)
Todos os funcionários do governo são homens na vida pública.
Portanto, alguns homens na vida pública são indivíduos de tato. (conclusão 2)

capítulo 2 • 47
Irving M. Copi (1978, p. 212), esclarece que “quando um argumento deste
gênero [cadeia de silogismos] é expresso de modo entimemático, em que só são
enunciadas as premissas e a conclusão final, recebe o nome de sorites”.
Além do entimema e do sorites, o dilema é uma situação que pode surgir com
frequência na linguagem cotidiana. Para os lógicos não é tão atraente como para os
que gostam do aspecto retórico porque é um instrumento usado para persuasão.
Geralmente, usamos a palavra dilema para expressar situações de escolha que nos
impõe alternativas difíceis. Tradicionalmente, dilema “é um argumento destinado,
justamente, a colocar um adversário nessea situação” (COPI, 1978, p. 219).
Diante de um dilema, seja qual for, o interlocutor se vê perante uma escolha
que poderá ser agradável ou desagradável. E sob o ponto de vista da lógica, o
dilema poderá apresentar uma conclusão contendo um exemplo de proposição
disjuntiva ou alternativa. Copi (1978, p. 219), nos oferece um exemplo de dilema
agradável, porque nem todos podem trazer um desfecho desagradável. Vejamos

Se os bem-aventurados, no céu, não tem desejos, estarão perfeitamente contentes;


também estarão, se os seus desejos são plenamente satisfeitos; mas, quer não te-
nham desejos ou os tenham plenamente satisfeitos, eles serão, portanto, criaturas
perfeitamente contentes.

O fato é que o maior desafio, quando estamos diante de um dilema, é saber


como escapar dele ou replicá-lo por meio de um contra dilema. Tentar escapar é
sempre uma opção sedutora e, se estamos diante de uma disjunção, precisamos
buscar argumentos para mostrar que essa alternativa é falsa e que não há como
sustentar a suposta conclusão nas premissas anteriores.
No dilema “Se um estudante gosta de estudar, não necessita de estímulo al-
gum, e se não lhe agrada aprender, não haverá estímulo que o satisfaça. Mas a
qualquer estudante ou lhe agrada aprender ou lhe desagrada. Portanto, o estímulo
ou é desnecessário ou é ineficaz” (COPI, 1978, p. 220), encontramos um argu-
mento válido sob o ponto de vista da forma lógica.
Mas será que a premissa disjuntiva é verdadeira? Será que não existem dife-
rentes possibilidades na relação do estudante com a sua aprendizagem, ou é tudo
ou nada? Alguns gostam, outros gostam um pouco e alguns gostam só de certos
aspectos e assim por diante. E, para muita gente, um estímulo ao estudo pode ser
eficaz. O que podemos dizer sobre este dilema? Que o argumento não oferece base
para sustentar a conclusão.

capítulo 2 • 48
Então um caminho é rechaçar a premissa que possui a disjunção, negando
uma de suas partes. Outro caminho é usar um contra dilema. O que seria um
contra dilema? Usando a criatividade, o interlocutor cria um outro dilema para
rebater o dilema original apresentado. Ele vai refutar um dilema apresentando um
contra dilema em sua réplica, em sua resposta. Sobre esta situação sempre muito
divertida sob o ponto de vista do discurso, Copi (1978, p. 2210), nos oportuniza
um exemplo clássico de uma mãe grega que tentava persuadir o filho a não se
envolver na política.

Mãe: “Se dizer o que é justo, os homens te odiarão; se dizer o que é injusto, os deuses
te odiarão; mas terás que dizer uma coisa ou outra; portanto serás odiado.”
Filho: “Se digo o que é justo, os deuses amar-me-ão; se digo o que é injusto, os ho-
mens amar-me-ão. Terei que dizer uma coisa ou outra. Portanto, eu serei amado!”

Conforme o exemplo da mãe ateniense, o contra dilema do filho serve para


mostrar uma conclusão diferente e a réplica, então, vem derrubar o argumento
original. “O contra dilema serve, simplesmente, para estabelecer uma conclusão
diferente da do dilema original” (COPI, 1978, p. 221).

ATIVIDADES
01. Analise as frases em destaque e diga se a classificação apresentada está correta ou er-
rada.
a) Todo médico é formado em medicina. Nesta frase temos uma proposição contendo có-
pula lógica categórica negativa.
b) Todos os seres humanos são mortais. Nesta frase encontramos uma proposição com
quantidade e do tipo universal ou total.
c) É contingente algum brasileiro ser professor. Nesta frase temos uma proposição mo-
dal necessária.
d) Algum ser humano é engenheiro. Nesta frase temos uma proposição com quantida-
de particular.
e) O brasileiro é hospitaleiro. Nesta frase temos uma proposição universal indefinida.
f) Se a criança está na escola, não está em casa. Nesta frase temos uma proposição hipo-
tética conjuntiva.

capítulo 2 • 49
02. Classifique os graus de oposição nas frases abaixoa seguir:
a) Algum brasileiro é professor/ Algum brasileiro não é professor.
b) A rosa é amarela/A rosa não é amarela.
c) Todo ser humano é um ser histórico/ Nenhum ser humano é um ser histórico.

03. Verifique os silogismos abaixo a seguir e diferencie um argumento dedutivo do indutivo.


a) Em 90% dos encontros de jovens identificamos membros do grandes centros do país.
“A” é um membro do encontro de jovens. Provavelmente “A” reside em um dos grandes
centros do país.
b) Todo engenheiro é formado em engenharia. Pedro é engenheiro. Logo, Pedro é formado
em engenharia.

REFLEXÃO
Neste capítulo identificamos como podemos classificar as proposições que integram
um silogismo para formar um argumento. Ademais, verificamos os tipos em relação ou não a
quantidade, formação simples ou composta, as formas categóricas, as proposições modais e
as especificidades do argumento por meio do silogismo dedutivo e indutivo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARISTÓTELES. Organon. Analíticos Anteriores. Tradução de Pinharanda Gomes. Lisboa: Guimaraes
Editores, 1985. V.2.
______. Órganon. Categorias. Da interpretação. Analíticos Anteriores. Analíticos Posteriores. Tópicos.
Refutações Sofísticas. Tradução Edson Bini. 2. ed. São Paulo: EDIPRO, 2010.
COPI, Irving M. Introdução à lógica. Tradução de Álvares Cabral. São Paulo: Mestre Jou, 1978.
LEFEBVRE, Henri. Lógica formal, Lógica dialética. Tradução de Carlos Nelson Coutinho. 5. ed. Rio
de Janeiro: Civilização Brasileira, 1991.
MARITAIN, Jacques. A ordem dos conceitos. Lógica menor. Tradução de Ilza das Neves e Adriano
Kury. 6. ed. Rio e Janeiro: AGIR, 1970
VAN ACKER, Leonardo. Elementos de lógica clássica formal e material. São Paulo: UCSP, 1971.

capítulo 2 • 50
3
A linguagem da
lógica
A linguagem da lógica
Neste capítulo, estudaremos a linguagem simbólica ou proposicional para
análise das inferências e avaliação dos argumentos. Para tanto, identificaremos os
conectivos lógicos nos enunciados conjuntivos, disjuntivos e hipotéticos condi-
cionais e bicondicionais. Ademais consideraremos também a representação gráfica
das condições de verdade das proposições, as tabelas de verdade, bem como a
estrutura e os princípios do silogismo categórico.

OBJETIVOS
•  Aplicar os recurso da linguagem simbólica ou proposicional;
•  Identificar os conectivos lógicos nos enunciados conjuntivos, disjuntivos e hipotéticos;
•  Analisar as tabelas de verdade das proposições;
•  Identificar a estrutura e os princípios do silogismo categórico.

A linguagem simbólica

Em lógica, existe uma linguagem simbólica ou proposicional compartilhada,


para auxiliar na análise dos enunciados que integram um argumento. Num pri-
meiro olhar pode parecer algo complicado, numa linguagem simbólica, mas em
verdade, trata-se de uma convenção em relação a alguns símbolos para substituir
as frases e expor as estruturas lógicas de uma proposição com mais clareza que na
linguagem natural.
Segundo Copi (1978, p. 226), o “valor dos símbolos lógicos consiste na ajuda
que proporciona no uso e manipulação reais de enunciados e argumentos”. Assim,
os lógicos acreditam que facilita a análise das inferências e avaliação dos argumentos.
Já investigamos que podemos ter argumentos com enunciados simples e argu-
mentos com enunciados compostos. Quando ele é simples, fica tranquilo, pois se
apresenta num único enunciado do tipo ‘Pedro é formado em medicina’. Todavia,
quando nos deparamos com um enunciado composto, temos uma outra estrutura
porque neste tipo dois enunciados estão conectados. Um exemplo para enuncia-
dos compostos é ‘Pedro é médico e Marcos é psicólogo.’ Temos dois enunciados
diferentes ligados a partir de um conectivo.

capítulo 3 • 52
Quando dois enunciados estão ligados pela palavra “e” temos um enunciado
composto por conjunção e designamos os dois enunciados como uma combinação
conjuntiva ou enunciados conjuntivos. Se digo, ‘Pedro é médico e Marcos é psi-
cólogo’ temos uma conjunção, logo dois enunciados conjuntivos. O primeiro
enunciado conjuntivo é ‘Pedro é médico’ e o segundo enunciado conjuntivo é
‘Marcos é psicólogo’. Não podemos confundir enunciados conjuntivos com frases
que, em verdade, não apresentam conjunção (“e”) no sentido de conexão entre
dois enunciados. Por exemplo: Maria e Ana estudam juntas.
Na linguagem simbólica, os filósofos lógicos usam o símbolo do ponto (.)
para designar a função de interligar conjuntivamente os enunciados. O ponto (.)
é o símbolo usado para designar a conjunção “e”. Vejamos um exemplo. ‘Pedro
é médico e Marcos é psicólogo’. Se combinarmos que o primeiro enunciado con-
juntivo é simbolizado pela letra maiúscula M e o segundo pela letra maiúscula
P, podemos escrever a conjunção na seguinte linguagem simbólica: M . P. Então,
sendo M e P os representantes dos dois enunciados conjuntivos usamos o ponto
para representar essa relação de conjunção.
Pedro é médico = M
Marcos é Psicólogo = P
Pedro é médico e Marcos é Psicólogo = (M e P) = ( M . P)

Pode-se escolher letras maiúsculas para representar os enunciados na sua in-


tegralidade. Verifique-se que a letra “S” representa toda frase ‘eu moro em São
Paulo”. Do mesmo modo a letra maiúscula “R” representa a frase ‘eu não moro
no Rio de Janeiro’ também na sua integralidade. Recomenda-se que não devemos
usar as letras maiúsculas A, E, I e O, porque já vimos que representam certos tipos
de proposições e para não confundir, escolha outras letras do alfabeto.

LINGUAGEM TIPOS DE
ENUNCIADOS SIMBÓLICA ENUNCIADO
Eu moro em São Paulo S Simples

Eu moro em São Paulo


e eu não moro no Rio de S.R Composto conjuntivo
Janeiro

capítulo 3 • 53
Além da conjunção, temos a disjunção na hipótese em que dois enunciados são
formados com o uso da palavra “ou”, ligando-os. Quando isso ocorre designamos
pelo nome de enunciados disjuntivos ou enunciados alternativos.
A palavra “ou“, em lógica, é representada pelo símbolo ‘v’ (que alguns lógicos
chamam de vê ou cunha). E mais, quando usamos a palavra “ou” podemos enten-
der duas coisas diferentes: podemos designar o sentido de ‘um e outro’, ou seja,
ambos, bem como podemos também expressar o sentido de ‘um ou outro’.
Quando ocorre o sentido de ambos, um e outro, temos o sentido de uma dis-
junção inclusiva. Exemplo: Não trocaremos mercadorias sem nota fiscal ou com
avarias típicas do uso. Há uma disjunção inclusiva porque em ambos os casos a
mercadoria não será trocada. E, lógicos como Copi (1978, p. 229), designam esta
disjunção como fraca, débil e nos fornece o seguinte exemplo: “Não se pagarão
prêmios no caso de doença ou desemprego” – logo, não há pagamento de prêmio
nas duas hipóteses, por isso o nome de inclusiva, podemos dizer que inclui ambas
as alternativas.
Há também o uso da disjunção “ou” no sentido forte ou exclusivo. Vamos ver?
Neste caso, o significado do uso é “pelo menos um e no máximo um”. Imagine que
você vai a uma sessão de cinema com a promoção de escolher um refrigerante ou
água incluída no valor do bilhete. Fica claro que o consumidor não terá direitos às
duas alternativas, mas apenas uma delas. Neste caso o uso do “ou” é no sentido de
exclusividade para uma das opções, por isso disjunção é designada por exclusiva.
Sobre os dois usos da palavra “ou” ensina Copi (1978, p. 229):

Interpretamos a disjunção inclusiva de dois enunciados no sentido de que afirma que,


pelo menos, um dos enunciados é verdade; e a disjunção exclusiva como afirmado,
que, pelo menos, um dos enunciados é verdadeiro, mas não ambos são verdadeiros.

Em latim, a palavra vel expressa a disjunção débil ou inclusiva e a palavra em


latim aut a disjunção forte ou exclusiva. Eventualmente, você poderá encontrar
livros contendo o símbolo “v” para disjunção inclusiva e aut para disjunção ex-
clusiva. De um modo geral, os lógicos mais modernos usam a letra ‘v’ (vê) para
designar um enunciado disjuntivo inclusivo e “vv” para o exclusivo. Frise-se que

capítulo 3 • 54
os autores esclarecem as convenções feitas em suas obras para tornar seu trabalho
inteligível. Se a letra maiúscula P representa um enunciado qualquer ligado a ou-
tro enunciado representado pela letra maiúscula S, numa relação disjuntiva, ficaria
assim:

1. (P v S) que é o mesmo que dizer: P ou S, ou ambos – enunciado disjuntivo inclusivo.


2. (P vv S) que é o mesmo que dizer: P ou S – enunciado exclusivo, mas não ambos.

Segundo Copi ( 1978, p. 234), “se dois enunciados se combinam mediante a


colocação da palavra se antes do primeiro e a inserção da palavra então entre eles,
o resultante composto é um condicional”. Os lógicos também denominam de
enunciado hipotético, implicativo ou simplesmente de implicação ou condicional.
Este tipo apresenta uma estrutura que pode ser representada da seguinte ma-
neira: se – enunciado antecedente ou implicante – então – enunciado consequen-
te ou implicado. Por exemplo: Se Pedro é vizinho de João que mora em Ipanema,
então, Pedro mora em Ipanema. Neste enunciado composto percebemos que o
antecedente implica o consequente. E, neste caso, se o antecedente for verdadeiro
o consequente também o será.

Se Pedro é vizinho de João que mora em Ipanema, então, Pedro mora em Ipanema.

⇓ ⇓
antecedente consequente

Na estrutura do silogismo condicional podemos ter no antecedente uma pre-


missa maior que é a proposição condicional e uma premissa menor. A conclusão
dispõe o antecedente. A regra neste caso é: “posto o antecedente ou a condição,
põe-se o consequente ou o condicionado” (VAN ACKER, 1971, p. 85).
A implicação é ponto central e nos dizeres de Copi (1978, p. 235), “o sig-
nificado essencial de um enunciado condicional reside na relação de implicação
que se afirma existir entre o antecedente e o consequente nesta ordem”. Para um
correto entendimento deste tipo de enunciado preciso identificar a implicação. E,
é neste sentido, que a expressão “se...então” é identificada pela palavra implicação.
Temos alguns exemplos:

capítulo 3 • 55
EXEMPLOS
Se todos os homens são mortais e Sócrates é homem, então, Sócrates é mortal.
Se Pedro é solteiro, então, Pedro não está casado.
Se moro com meus pais, então, não moro sozinho.

Os silogismos hipotéticos condicionais apresentam enunciados condicionais e


bicondicionais. Neste tipo temos dois enunciados, sendo um antecedente e outro
consequente. O antecedente é aquele que antecede o conectivo e o consequente é
o que fica depois do conectivo (GENSLER, 2016).
Os condicionais são aqueles que apresentam uma condição no antecedente
para o consequente ou conclusão que possa ocorrer, temos a seguinte estrutura
proposicional: Se A, então B, colocamos as letras que representam os enunciados
entre o símbolo da ferradura (⊃) ou da seta que representa condicional ou impli-
cação (→) (GENSLER, 2016). Neste caso podemos escrever assim: (A → B). Há
uma hipótese inicial que precisa ocorrer.

Se Pedro é solteiro, então, Pedro não está casado.

⇓ ⇓

A B


Os enunciados bicondicionais são aqueles em que se diz: se e somente se. O


antecedente e o consequente implicam-se mutuamente. Exemplo: Vou à praia se
e somente se não chover. Alguns autores gostam de usar a expressão: “se, somente
se”. Neste caso a representação seria pela figura das três linhas (≡) ou da seta que
representa equivalência (↔): ( A ↔ B). Então podemos ampliar o nosso quadro:

capítulo 3 • 56
LINGUAGEM TIPOS DE
ENUNCIADOS SIMBÓLICA ENUNCIADO
Eu moro em São Paulo. S Simples

Eu moro em São Paulo


e eu não moro no Rio de S.R Composto conjuntivo
Janeiro.

Se chover, então, vou ao


A→B Condicional
teatro.

Só irei à praia se e so-


A↔B Bicondicional
mente se não chover.

Em lógica simbólica ou proposicional, existem autores que estabelecem alguns


símbolos diferentes, mas sempre informam ao leitor as convenções feitas para a
inteligibilidade da escrita. Por meio dessa linguagem, podemos testar a validade
dos argumentos de forma mais precisa, pois às vezes a linguagem natural pode nos
confundir.
Geralmente, os conectivos lógicos são representados da seguinte maneira, sen-
do alguns com mais de uma forma e que você poderá encontrar em diferentes
livros de lógica (GENSLER, 2016):

~ til “não”

. OU ∧ Ponto ou vê invertido Conjunção: “e”

Disjunção:
“vê” para inclusiva e vevê
V OU VV para exclusiva
“ou” – inclusivo
“ou” exclusivo

Ferradura ou seta Condicional: “Se-então” –


⊃ OU → condicional Se ocorre X, ocorre Y.

Bicondicional: “Se-e-so-
Três barras ou seta
≡ OU ↔ bicondicional
mente-se” – Ocorre X se,
e somente se, ocorre Y

capítulo 3 • 57
Vamos imaginar que P e S são dois enunciados e vamos aplicar os conectivos
identificados. Podemos escrevê-los assim:

~ Não-P ~P

. OU ∧ Ambos P e S (P . S) ou (P∧S)

V / VV Ou P ou S (P v S) ou (P vv S)

⊃ OU → Se P, então S (P ⊃ S) ou (P → S)

≡ OU ↔ P se, e somente se, S (P ≡ Q) ou (P ↔ S)

Quando temos um enunciado simples não é preciso usar o recurso do parênte-


ses e podemos representar apenas por meio da letra maiúscula. Então uma frase do
tipo ‘Eu moro em Niterói’, pode ser representada pela letra N. E a frase negativa
‘Eu não moro em Niterói’ pelo til (~) antecedendo a letra N: ~ N.

Eu moro em Niterói = N
Eu não moro em Niterói = ~N

O uso do parênteses ( ), forma o que os lógicos chamam de expressão parentética


e, esse uso, destina-se aos enunciados compostos com os conectivos específicos para
enunciados compostos. Somente coloque entre parênteses uma proposição composta.
Gensler (2016, p. 147), apresenta o seguinte exemplo: “Eu moro em Paris e
eu não moro em Quebec”, uma proposição composta, do tipo conjuntiva, sendo
representada da seguinte maneira: (P . ~Q). Como é composta, ficará entre parên-
teses, sendo P o primeiro enunciado conjuntivo e ~Q, o segundo enunciado con-
juntivo, formados pelo conectivo lógico representado pelo ponto (.) ou, se você
preferir, pelo “vê” invertido (∧). Acrescente o parênteses sempre que vir “ambos”,
“ou”, “se”, acaba sendo uma regra interessante que facilita a operação lógica.
(P . ~Q)
(P∧~Q)

O uso do recurso do parênteses evita ambiguidades na linguagem porque


a ordem dos símbolos altera o entendimento. Como podemos ler uma repre-
sentação de enunciados compostos conjuntivos ou disjuntivos? Gensler (2016,

capítulo 3 • 58
p. 148), observa que devemos usar parênteses e fazer a leitura da seguinte manei-
ra: se escrevo na linguagem da lógica simbólica ( ~P . Q), leio “não-P”, pausa, “e
Q”. Se escrevo ~(P.Q) devo ler assim: “não”, pausa, “P e Q”. Vamos tentar algu-
mas possibilidades?
(P . ( Q → R) ) = P, e se Q então R.
(( P . Q ) → R ) = Se P e Q, então R.
(~A v B ) = Não-A ou B
~ (A v B) = Não A ou B
( ( A . B ) → C ) = Se ambos A e B, então C
~( ~A . B ) = Não ambos não A e B
(A → (B . C ) = Se A, então B e C
( ( A → B) . C) = Se A, então B, e C

No exemplo de Gensler ( 2016, p. 149), “Se nevar, então eu vou para fora e eu
vou esquiar” podemos fazer assim: a letra N representa o enunciado “ se nevar”,
a letra V representa “eu vou para fora”, a conjunção “e” coloco o sinal de ponto
(.) e a frase “eu vou esquiar” a letra K, ficando, portanto, na linguagem lógica:
(N → (V . K)).

Se nevar, então eu vou para fora e eu vou esquiar.

⇓ ⇓ ⇓
N V K

(N → (V . K))

Podemos escolher a letra que for conveniente e tomar cuidado na ordem dos
enunciados, sobretudo, quando usarmos o conectivo da ferradura (⊃) ou seta (→)
e, mais uma vez, vamos nos socorrer nos exemplos de Gensler ( 2016, p. 149): “Se
é um cachorro, então é um animal” esta frase ficaria representada assim: (C ⊃ A)
ou (C → A). A letra C designa “é um cachorro” e a letra A designa “é um animal”,
o símbolo da ferradura ou seta, o sentido de “se-então”. Se decidir inverter as frases
será necessário inverter as letras na representação, combinado? Portanto, na frase
“se é um animal, então é um cachorro” devo colocar invertendo a posição das
letras (A ⊃ C) ou (A → C) (GENSLER, 2016).
Podemos resumir os tipos de enunciados e os cinco conectivos estudados para
a linguagem simbólica da seguinte maneira. Alguns autores preferem designar

capítulo 3 • 59
como conectivos verofuncionais, ou seja, conectivos funcionais de verdade em
que o valor de verdade da proposição está ligado a esses elementos. Conectivos são
palavras ou expressões que podem trazer mais conteúdo e criar uma frase.

CONECTIVO FORMA DO
ENUNCIADOS SIGNIFICADO LÓGICO ENUNCIADO
Negação Não-A ~ ( til) ~A
. (ponto) ou ∧ (vê
Conjuntivo AeB (A . B)
invertido)
Disjuntivo
A e/ou B v (vê) (A v B)
Inclusivo
Disjuntivo vv (duas vezes o
A ou B (A vv B)
exclusivo vê)
Condicional Se A, então B. → (implicação) (A → B)
A se e somente
Bicondicional ↔ (equivalência) (A ↔ B)
se B

Tabelas de verdade

O que são tabelas de verdade? São representações gráficas das combinações de


valores nas proposições. Quando elaboramos argumentos os seus enunciados ou
proposições podem ser verdadeiros ou falsos, o que significa dizer que possuem
valores de verdade (GENSLER, 2016).
Temos dois valores de verdade possíveis: o verdadeiro que simbolizamos pela
letra “V” e o falso que representamos pela letra “F”. Então dependendo do valor
de verdade dos enunciados numa conjunção, disjunção ou condicional, a conclu-
são poderá ser verdadeira ou falsa.
Na hipótese de negação simples, num enunciado simples, a tabela de verdade
ficará com o valor de verdade invertido. Se P é verdadeiro, não-P será falso e vice
versa. Vejamos:

P ~P
V F
F V

capítulo 3 • 60
Na hipótese de enunciados conjuntivos que são aqueles representados pelo
ponto (.) ou a letra vê invertida (∧), formamos a seguinte ideia: considerando P e
Q como dois enunciados diferentes e que (P . Q) é uma conjunção em que os dois
enunciados estão conectados pela palavra “e”; se P é um enunciado verdadeiro, Q
é um enunciado verdadeiro. Logo, a conjunção (P . Q) será verdadeira. Se P é ver-
dadeiro, mas Q é falso, a conjunção será falsa. Se P é falso e Q é verdadeiro, a con-
junção será falsa. Se P e Q são falsos, a conjunção será falsa (GENSLER, 2016).

Se P é verdadeiro, Q é verdadeiro. Logo, a conjunção (P . Q) será verdadeira.


Se P é verdadeiro, Q é falso. Logo, a conjunção (P . Q) será falsa.
Se P é falso, Q é verdadeiro. Logo, a conjunção (P . Q) será falsa.
Se P é falso, Q é falso. Logo, a conjunção (P . Q) será falsa.

Podemos formar a seguinte tabela de verdade para conjunção e evidenciar que


no caso de conjunção o resultado do enunciado composto só será verdadeiro se os
enunciados conjuntivos forem, ambos, verdadeiros. Vejamos a tabela:

P Q (P . Q)
V V V
V F F
F V F
F F F

Na hipótese de enunciados disjuntivos, o símbolo “v” representa o sentido


inclusivo da palavra “ou”. No caso de “ou” exclusivo, lógicos usam “vv” quando
apenas um enunciado será escolhido, será verdadeiro. E como ficará a tabela de
verdade para disjunção?

P Q (P V Q)
V V V
V F V
F V V
F F F

capítulo 3 • 61
Quando P for um enunciado verdadeiro e Q for verdadeiro, a disjunção será
verdadeira. Quando P for verdadeiro e Q for falso, a disjunção será verdadeira.
Quando P for falso e Q for verdadeiro, a disjunção será verdadeira. Quando P e
Q forem falsos, a disjunção será falsa (VAN ACKER, 1971; GENSLER, 2016).
Você observou que só teremos uma opção com falsidade no caso da disjun-
ção inclusiva em que os dois enunciados forem falsos? Por que na relação entre
um enunciado falso e outro verdadeiro terei uma disjunção verdadeira? O lógico
Copi (1978, p. 230), poderá nos socorrer nesta parte quando apresenta o seguinte
exemplo:

O cego tem um chapéu vermelho ou o cego tem um chapéu branco [1ª premissa
com disjunção].
O cego não tem chapéu vermelho [2ª premissa é uma negação de um disjuntivo da
primeira premissa].
Portanto, o cego tem um chapéu branco [conclusão].

Então, neste exemplo, quando a segunda premissa nega o primeiro enunciado


da primeira premissa do enunciado composto por disjunção, ao mesmo tempo,
confirmou o segundo enunciado disjuntivo, não foi? Se o segundo foi confirmado,
a conclusão só poderá ser verdade, o chapéu é branco. Ele tem um chapéu branco.
Na tabela lógica de verdade da disjunção, a relação entre enunciado falso e ou-
tro verdadeiro, resultará no verdadeiro. Frise-se, neste caso, o silogismo será válido
porque existem duas alternativas e se há uma verdade em alguma delas, será ver-
dadeira. E somente quando os dois enunciados forem falsos a disjunção será falsa.
Existem os enunciados que apresentam um condicional “se então” e que já
vimos que podemos simbolizar com a ferradura (⊃) ou seta (→). No enunciado
composto com uma condicionante: Se eu fui para São Paulo, então eu fui para
Bahia, posso representar da seguinte maneira: (P ⊃ B) ou (P → B) em que P é
o enunciado antecedente e B é o enunciado consequente. Como ficaria a tabela
lógica para enunciado condicional? Vejamos!

P B (P → B)
F F V

F V V

capítulo 3 • 62
P B (P → B)
V F F

V V V

Na primeira verificação de verdade podemos dizer que se não fui para São
Paulo e não fui para Bahia, o enunciado composto está correto, apresenta uma
informação verdadeira, não fui a esses dois lugares.
Na segunda verificação posso dizer que não fui a São Paulo, mas fui para
Bahia, logo o enunciado composto apresenta uma informação também verdadei-
ra, porque fui para Bahia e este enunciado é o consequente e está correto. Como o
segundo enunciado é o consequente, na hipótese de esse estar incorreto, o resulta-
do será falso (COPI, 1978; VANACKER, 1971; GENSLER, 2016).
Não posso dizer que se fui a São Paulo, então eu fui a Bahia, o antecedente é
verdadeiro, logo o seu consequente será falso e o resultado será falso. E, por fim,
se o antecedente e o consequente forem verdadeiros, o resultado será também
verdadeiro. Vamos ver como ficaria uma tabela completa:

ANTECEDENTE CONSEQUENTE (P → B)
O que afirmo é verdadei-
Se eu fui a São Paulo então fui à Bahia
ro, não fui a ambos os
(Falso = eu não fui) ( falso = eu não fui)
lugares. Logo, F+ F = V.

O que afirmo é verdadei-


Se eu fui a São Paulo então fui à Bahia
ro. Logo,
(Falso = eu não fui) (verdadeiro = eu fui)
F + V = V.

O que afirmo no conse-


Se eu fui a São Paulo então fui à Bahia
quente é falso.
(verdadeiro = eu fui) ( falso = eu não fui)
Logo, V+F = F.

Se eu fui a São Paulo então fui à Bahia O que afirmo é verdadei-


(verdadeiro = eu fui) (verdadeiro = eu fui) ro. Logo, V+ V = V.

E como ficaria a tabela de verdade dos enunciados bicondicionais, ou seja,


aqueles que apresentam a expressão “se, e somente se”? Os enunciados bicondi-
cionais serão verdadeiros se, e somente se, P e B apresentam o mesmo valor de
verdade. Se ambos forem verdadeiros, será verdadeiro. Se ambos forem falsos, será
verdadeiro. Nas demais hipóteses serão falsos (GENSLER, 2016).

capítulo 3 • 63
P B (P → B)
V V V

V F F

F V F

F F V

Enfim, a análise do valor de verdade de uma proposição é a verdade ou falsida-


de dessa proposição que identificamos, por isso, é importante conhecer as tabelas
de verdades básicas aqui estudadas.

A estrutura do silogismo categórico e seus princípios lógicos

O silogismo apresenta uma estrutura constituída por proposições e termos.


As proposições são designadas por Premissa Maior (PM), premissa menor (pm) e
conclusão (c). Além desses três elementos, sob o ponto de vista material temos três
termos, a saber: o termo maior (TM), o termo médio (Tmed) e o termo menor
(tm). Ao observarmos os seis elementos que integram a estrutura silogística, temos
o que os lógicos designam por matéria do silogismo (VAN ACKER, 1971; COPI,
1978; GENSLER, 2016).
No clássico silogismo de Sócrates, podemos identificar tais termos. A Premissa
Maior é aquela que contém o termo maior (TM), com maior extensão, abrangên-
cia, amplitude. O termo extensão em lógica significa “um conjunto dos seres ou
indivíduos que designa, isto é, todos os homens no caso do termo ‘homem’”. E,
por outro lado, acrescenta Lefebvre, ele tem também uma compreensão: o con-
junto das qualidades possuídas pelo ser designado, como por exemplo, no caso do
homem, o fato de ser vertebrado, mamífero, racional, mortal etc.” (LEFEBVRE,
1991, p. 139). A premissa menor (pm), a que expressa o termo menor (tm) que
aparece na conclusão e que tem uma extensão consequentemente menor. O ter-
mo médio (Tmed) deve aparecer nas duas premissas porque ele é justamente o
intermediário entre os dois termos, o maior e o menor, e evidencia a ligação entre
ambos. Vejamos como podemos identificá-los:

capítulo 3 • 64
Tmed TM
Todo homem é mortal.
Sócrates é homem.
tm
Sócrates é morta.

TM Termo maior Aparece como predicado na conclusão.

Apresenta uma extensão intermediária e


Tmed Termo médio
estabelece a conexão entre as premissas.

Apresenta uma extensão menor e aparece


tm Termo menor
como sujeito na conclusão.

Existe a possibilidade de formarmos quatro figuras a partir da localização do


termo médio na estrutura do silogismo. Ora o termo médio ocupa o lugar do
sujeito (Sub do latim subjectum), ora ocupa o lugar do predicado (Prae do latim
praedicatum). Por isso, os lógicos designam como Sub-Prae, Prae-Prae ou bis Prae,
Sub-Sub ou bis Sub e Prae-Sub. As figuras do silogismo recebem essas abreviações
porque decorrem dos termos em latim.
Outro elemento são os modos do silogismo que são variações da estrutura
silogística conforme a quantidade e qualidade (GENSLER, 2016; LEFEBVRE,
1991; VAN ACKER, 1971; COPI, 1978). Para tanto, aplicamos aquela conven-
ção que estudamos com as letras maiúsculas A, E, I e O. Vamos lembrar?
Quando encontramos uma afirmativa total ou universal, designada por “A”
que representa a primeira vogal de afirmo, temos uma proposição afirmativa uni-
versal ou total; a afirmativa particular designada por “I” em razão da segunda
vogal de afirmo, nos fala de um proposição afirmativa particular; a negativa total
ou universal, designada por “E” por causa da primeira vogal de nego, nos fala de
uma proposição universal negativa; a negativa particular, designada por “O” por
conta da segunda vogal de nego, evidencia uma proposição negativa particular.

capítulo 3 • 65
LUGAR
ESTRUTURA DO EXEMPLOS DE DO MODOS DO
SILOGISMO E SILOGISMOS TERMO SILOGISMO
SEUS TERMOS MÉDIO
AAA
1. Tmed / TM (PM) Todo homem é mortal.
EAE
Tm / Tmed (pm) Sócrates é homem. Sub-Prae
AII
Tm / TM (C) Logo, Sócrates é mortal.
EIO

Há animais que têm asas.


EAE
2. TM / Tmed (PM) Ora, alguns insetos
Prae - AEE
Tm / Tmed (pm) têm asas.
Prae EIO
Tm / TM (C) Logo, os insetos são
AOO
animais.

Os pardais são mamíferos. AAI


3. Tmed / TM (PM)
Os pardais são voadores. IAI
Tmed /Tm (pm) Sub-Sub
Alguns voadores são AII
Tm / TM (C)
mamíferos. EAO

Os brasileiros são AAI


4. TM /Tmed (PM) homens. AEE
Tmed /Tm (pm) Os homens são racionais. Prae-Sub IAI
Tm / TM (C) Alguns racionais são EAO
brasileiros. EIO

Agora que já identificamos as quatro figuras e os modos dos silogismos, pode-


mos construí-los na forma das proposições A, E, I e O. Vejamos:

1ª Figura
Modo: AAA Modo: EAE Modo: AII Modo: EIO
Todo Tmed é TM. Nenhum Tmed Todo Tmed é TM. Nenhum Tmed
Todo Tm é Tmed. é TM. Algum Tm é Tmed. é TM.
Logo, todo Tm é Todo Tm é Tmed. Logo, algum Tm Algum Tm é Tmed.
TM. Logo, nenhum Tm é TM. Logo, Algum Tm
é TM. não é TM.

capítulo 3 • 66
2ª Figura
Modo: EAE Modo: AEE Modo: EIO Modo: AOO
Nenhum TM Todo TM é Tmed. Nenhum TM Todo TM é Tmed.
é Tmed. Nenhum Tm é Tmed. Algum Tm não
Todo Tm é Tmed. é Tmed. Algum Tm é Tmed. é Tmed.
Logo, nenhum Tm Logo, nenhum Tm Logo, algum Tm Logo, algum Tm
é TM. é TM. não é TM. não é TM.
3ª Figura
Modo: AAI Modo: IAI Modo: AII Modo: EAO
Todo Tmed é TM. Nenhum Tmed Algum Tmed é TM. Nenhum Tmed
Todo Tmed é Tm. é TM. Todo Tmed é Tm. é TM.
Logo, Algum Tm Todo Tmed é Tm. Logo, algum Tm Algum Tmed é Tm.
é TM. Logo, algum Tm é TM. Logo, Algum Tm
não é TM. não é TM.
4ª Figura
Modo: AAI Modo: AEE Modo: IAI Modo: IAI
Todo TM é Tmed. Todo TM é Tmed. Algum TM é Tmed. Algum TM é Tmed.
Todo Tmed é Tm. Nenhum Tmed Todo Tmed é Tm. Todo Tmed é Tm.
Logo, Algum Tm é Tm. Logo, algum Tm Logo, algum Tm
é TM. Logo, nenhum Tm é TM. é TM.
é TM.
Modo: EIO
Nenhum TM
é Tmed.
Algum Tmed é Tm.
Logo, algum Tm
não é TM.

No estudo dos silogismos categóricos, temos alguns princípios e regras impor-


tantes. Com relação aos termos estudados (TM, Tmed e tm), encontramos dois
princípios. O primeiro menciona que dois termos idênticos a um terceiro, são
idênticos entre si. Se A é igual a B e B é igual a C, logo A e C são idênticos.
O segundo afirma o oposto, ou seja, se dois termos não são idênticos a um
terceiro, não são idênticos entre si. E mais, o predicado que se afirma de um ter-
mo total ou universal, afirma-se de todos os sujeitos dos quais se afirma o referido
termo total. Todo homem é racional. O predicado ‘racional” aplica-se a todos
os homens. E o mesmo para negativa. O predicado que se nega de um termo
que seja total ou universal, nega-se de todos os sujeitos dos quais se afirma este
termo total (VAN ACKER, 1971). Temos os princípios da Identidade, o da não

capítulo 3 • 67
contradição e do terceiro excluído, que já estudamos e podemos representá-los da
seguinte maneira:
Princípio da identidade: A → A
Princípio do terceiro excluído: A v ~A
Princípio da não contradição: ~(A . ~A)

Existe, ainda, algumas regras que atuam nos silogismos categóricos. A primei-
ra delas observa o que já vimos: num silogismo categórico há a presença necessária
dos três termos: o termo maior, o termo médio e o termo menor. A segunda regra
observa que os termos maior e menor não podem aparecer na conclusão com
maior extensão que nas premissas. A terceira afirma que o termo médio deve ser
pelo menos uma vez total ou universal. A quarta, que o termo médio não poderá
aparecer na conclusão. A quinta regra diz que de duas proposições afirmativas
não se pode inferir uma conclusão negativa, ou seja, uma conclusão negativa não
é possível de duas premissas afirmativas. Na sexta encontramos a ideia oposta, de
duas proposições negativas não há como se inferir uma conclusão, porque nada se
pode concluir (VAN ACKER, 1971).
A sétima regra diz que, havendo conclusão possível, esta deve ser em confor-
midade à premissa negativa do ponto de vista da cópula e à particular do ponto de
vista da quantidade. Esta regra implica três hipóteses distintas a saber: na primeira
as premissas são todas afirmativas, sendo uma total e outra particular a conclusão
será afirmativa particular. A segunda, todas as premissas são totais, sendo uma
afirmativa e outra negativa. Neste caso, a conclusão será negativa. E uma terceira
hipótese que diz que se há uma premissa afirmativa e outra negativa, sendo uma
total e outra particular, a conclusão será negativa particular (VAN ACKER, 1971).
A oitava regra observa que duas proposições particulares não resultam em
conclusão. E mais, a ideia também ocorre se das duas premissas particulares uma
for afirmativa e outra negativa (VAN ACKER, 1971). A importância de saber as
regras do silogismo categórico está no fato de poder justificar a conclusão de um
raciocínio, formando um argumento justificável. Há também a vantagem de se
poder analisar criticamente qualquer inconsistência na inferência e, por fim, poder
construir um silogismo correto, coerente.

capítulo 3 • 68
ATIVIDADES
01. Correlacione as colunas.
1. Não ambos A e B
2. Ou Ambos A e B ou C
3. Se A então B, ou C

( ) ((A ⊃ B) v C
( ) ~(A . B)
( ) ((A ⊃ B) v C)

02. Complete a tabela de verdade

P Q (P . Q) P B (P→ B) P B (P ↔ B)
V V F V V V
V F F V V F
F V V F V F
F F V V F F

03. Complete as colunas contendo os conectivos lógicos e a forma do enunciado ou lingua-


gem simbólica de cada um.

CONECTIVO FORMA DO
ENUNCIADOS SIGNIFICADO
LÓGICO ENUNCIADO
Negação Não-A
Conjuntivo AeB
Disjuntivo
A e/ou B
Inclusivo
Disjuntivo
A ou B
exclusivo
Condicional Se A, então B.
A se e somente
Bicondicional
se B

capítulo 3 • 69
REFLEXÃO
Neste capítulo identificamos as regras da linguagem lógica simbólica ou lógica proposi-
cional nos seus elementos básicos, bem como estudamos com mais detalhes, as variações
da estrutura silogística categórica e os princípios fundamentais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARISTÓTELES. Organon. Analíticos Anteriores. Tradução de Pinharanda Gomes. Lisboa: Guimaraes
Editores, 1985. V.2.
______. Órganon. Categorias. Da interpretação. Analíticos Anteriores. Analíticos Posteriores. Tópicos.
Refutações Sofísticas. Tradução Edson Bini. 2. ed. São Paulo: EDIPRO, 2010.
COPI, Irving M. Introdução à lógica. Tradução de Álvares Cabral. São Paulo: Mestre Jou, 1978.
LEFEBVRE, Henri. Lógica formal, Lógica dialética. Tradução de Carlos Nelson Coutinho. 5. ed. Rio
de Janeiro: Civilização Brasileira, 1991.
MARITAIN, Jacques. A ordem dos conceitos. Lógica menor. Tradução de Ilza das Neves e Adriano
Kury. 6. ed. Rio e Janeiro: AGIR, 1970
VAN ACKER, Leonardo. Elementos de lógica clássica formal e material. São Paulo: UCSP, 1971.

capítulo 3 • 70
4
Estudo dos
predicados
Estudo dos predicados
Neste capítulo, estudaremos os tipos de predicáveis classificados em unívocos
e não unívocos ou análogos, bem como as funções proposicionais e quantifica-
dores nas proposições singulares afirmativas e negativas. Após, analisaremos as
categorias e os predicamentos aristotélicos.

OBJETIVOS
•  Identificar os tipos de predicáveis unívocos e não unívocos;
•  A analisar a representação da proposição singular afirmativa e negativa;
•  Aplicar os símbolos quantificadores universal e singular;
•  Analisar as categorias ou predicamentos aristotélicos.

Da predicação

O estudo dos predicados é significativo quando desejamos saber se o predicado é


real, ou seja, pode ser atribuído ao sujeito. Em algumas situações a predicação pode
ser direta ou indireta. Já vimos que numa argumentação considerada autêntica ou
também chamada de consequente, se as premissas são verdadeiras, a conclusão será
verdadeira. Sendo uma premissa falsa ou até todas falsas, a conclusão poderá ser
verdadeira ou falsa. Vejamos um bom exemplo (VAN ACKER, 1971, p. 126):

Todo homem é pedra.


Toda pedra é animal.
Logo, todo homem é animal.

Todavia, na indução, estudamos que a consequência não é necessária e sim


provável, neste caso, mesmo as premissas sendo certas, a conclusão poderá ser
falsa. Exemplo:
O cisne que apareceu hoje é branco (premissa verdadeira)
O cisne que apareceu ontem era branco (premissa verdadeira)
Logo todos os cisnes são brancos (é possível que apareça um cisne negro – falsa
em virtude de vivências ulteriores)

capítulo 4 • 72
Na lógica material, diferente da lógica formal que estudamos até aqui, obser-
va-se a veracidade ou falsidade da argumentação. Nesta parte, os termos só valem
enquanto predicáveis e as proposições enquanto predicações de um sujeito. E o que
significa ser predicável? Quando falamos no conceito predicável, estamos observando
uma ideia universal que poderá ser aplicada a vários sujeitos. E mais, esses sujeitos
são compreendidos como um termo do argumento, podendo ser pessoas reais ou
uma ideia universal. Van Acker (1971, p. 127), conceitua predicável como:

A ideia ou o conceito universal logicamente identificável a vários sujeitos, quer sejam


indivíduos reais, atuais ou possíveis, quer sejam outras ideias universais.

Quando imaginamos algo universal, imediatamente identificamos algo que


poderá ser atribuído a vários objetos ou pessoas quer positiva ou negativamente.
Podemos evidenciar uma realidade, uma causa universal e poderá, então, ser iden-
tificada em vários sujeitos diferentes. Podemos imaginar o silogismo de Sócrates,
todos os homens são racionais. Pode ser uma natureza comum, algo idêntico,
diferente quando pensamos que cada pessoa é uma individualidade e essa ideia é
aplicável a todos, enfim, no que é análogo ou semelhante.
Podemos classificar os predicados, segundo sua essência ou natureza de uni-
versais lógicos ou conforme diferentes aspectos acidentais e complementares. E,
é por isso que posso dizer que existem predicados universais que são estritos, ou
seja, são aqueles idênticos para todos, posso atribuir a todos. Todos os homens são
mortais. Mortais é um universal estrito.
Será que posso atribuir o predicado de honesto, bom e útil a todos os seres
humanos? Acho que não seria possível. Neste caso temos a possibilidade de um
universal não estrito, ou seja, aquele que podemos atribuir a vários sujeitos, de
maneira relativa, mas não de maneira idêntica. E mais, os predicados estritos se
dividem em essenciais e não essenciais. O termo nos auxilia, pois tomamos como
algo essencial aquilo que é “ontologicamente fundamental” (VAN ACKER, 1971,
p. 129). O que não é essencial, como seu contrário, o que é contingente.
Os predicáveis universais estritos essenciais podem ser de três tipos: genéricos ou
amplos, diferenciais porque estabelece uma diferença ou, ainda, específicos. Para o
ser humano podemos usar os predicáveis genéricos como indivíduo, animal, ser
vivo. Podemos usar o predicável racional como um diferencial entre os demais
seres vivos e o específico ao articularmos o termo racional com animal, o ser hu-
mano é um animal racional. Esse predicável diferencial e específico poderá ser
atribuído a todos da espécie, não é?

capítulo 4 • 73
O predicável genérico animal, por exemplo, podemos atribuí-lo a outras es-
pécies, é mais amplo. A diferença entre os predicáveis diferencial e específico de
um lado e o genérico de outro é que este último poderá ser atribuído de forma
mais abrangente.
Quando observamos os predicáveis unívocos, mas não essenciais, podemos clas-
sificá-los em próprios e não próprios. Serão não essenciais e próprios aqueles que
podemos atribuir a todos o sujeito de determinada espécie ou classe. Podemos
dizer que os seres humanos são capazes de expressar uma linguagem emotiva. Os
não próprios são aqueles não podem ser atribuídos a todos de um espécie, mas a
um especificamente.
Os predicáveis não estritos que também podem ser chamados de análogos, são
aqueles que se subdividem em dois: os extrínsecos e, o seu contrário, intrínsecos.
Quando estamos na dimensão dos extrínsecos são atributos que vem de fora e
permanecem externos e o seu inverso o intrínseco. Existe um analogado principal
que é intrínseco e um analogado secundário que é extrínseco. Se digo que alguém
é saudável o seu analogado principal intrínseco é o organismo saudável. O ana-
logado extrínseco é o que revela, por exemplo, o aspecto saudável, o externo, a
aparência saudável.
Esses predicáveis extrínsecos ou intrínsecos podem ser divididos em análogos
por relação, por meio de uma relação de causalidade entre o elemento principal
e o secundário. E, análogos por proporção, que são aqueles baseados numa relação
de semelhança. Em síntese podemos organizar um quadro para essa classificação:

•  Essenciais: genéricos, diferenciais e específicos;


Predicáveis unívocos
•  Não essenciais: próprios e não próprios.

•  Extrínsecos: por relação e por proporção;


Predicáveis não uní-
vocos/ análogos
•  Intrínsecos: por relação e por proporção.

Os predicáveis podem ser analisados conforme seu grau de clareza. Existem


predicáveis obscuros em casos que verificamos predicáveis negativos, por exem-
plo, ‘A é não-B’. E, neste campo, também há certa obscuridade nos predicáveis
análogos por conta da variabilidade de sentido que podem ser invocados na analo-
gia. E, estes últimos, afetam os argumentos filosóficos, bem como os argumentos
científicos.

capítulo 4 • 74
Para lidar com ideias obscuras é importante a conceituação adequada, ou seja,
que conceitos sejam unívocos. Que sejam conceitos claros que possam ser atri-
buídos sempre aos sujeitos de determinada espécie, como o conceito de ‘racional’.
Devem ser claros e essenciais, aqueles que são diferenciais e específicos. Quando
mencionamos que o ser humano é racional, temos um predicável claro, unívoco e
universal. Os predicáveis obscuros não são atribuíveis sempre a uma universalida-
de, podem até ser genéricos, mas não são essenciais.
Para a construção de predicáveis claros temos duas orientações da Lógica
Material. O primeiro é o cuidado com a definição porque a definição, como nome
diz, define o sujeito e o esclarece, o explica. Ao lado da definição, a segunda reco-
mendação está na divisão, pois para definir preciso dividir o objeto naquilo que
ele possui de essencial ou não. Posso dizer que o ser humano é corpóreo, ser vivo,
animal e racional. Identifiquei que não é incorpóreo, que não é um ser não-vivo,
que não é um não-animal ou não-racional. Assim procedendo, alcanço uma defi-
nição específica sobre o sujeito a partir de sua especificidade, pois temos elementos
de natureza essencial e elementos de natureza contingente ou acidental.
É fato que a clareza dos predicados dependerá muito das palavras escolhidas
e o cuidado na definição das palavras contribui para predicáveis claros. Podemos
usar definições etimológicas que explicam a origem da palavra. Exemplo: Filosofia
decorre de duas palavras gregas, philos e Sophia. Também podemos usar o sentido
semântico, interpretando o seu sentido no contexto. Posso usar a palavra manga
no sentido de elemento que integra a estrutura de uma camisa ou falar da sabo-
rosa fruta da mangueira.
A tradução de termos de outra língua torna essa tarefa um pouco mais com-
plexa, porque muitas palavras não encontram um correspondente em outro idio-
ma e recorre-se a vocábulos aproximados ou equivalentes. Por conta disso, em
Filosofia, os textos são lidos no original a fim de identificar o sentido apresentado
pelo autor, o sentido originário. E, quando muito, nas traduções clássicas dos
melhores comentadores de determinada teoria em que o tradutor é o especialista
naquele filósofo e em sua teoria, muito antes de ser um mero tradutor habilitado
para fazer traduções.
Será que todo sujeito pode ser definido ou explicado por um predicável? Para
tanto, precisa ter unidade e comunidade. Como assim? Ficará difícil a definição de
um conjunto de diversos objetos diferentes, por exemplo, canetas, quadros, carros,
relógios tomados no seu conjunto, por não formarem uma unidade, dificultam uma
definição. Posso definir cada um isoladamente, mas não definir o conjunto.

capítulo 4 • 75
Em muitos argumentos coisas distintas são tomadas em conjunto, compro-
metendo sua definibilidade. E um olhar treinado em lógica é capaz de identificar
que essa diversidade não pode ser pensada naquele predicável. Quando se fala
em comunidade, observa-se a ideia de gênero e espécie, pertence a uma espé-
cie, a uma classe que permite identificá-los. Se falta a comunidade dificulta-se
a definibilidade.
Enfim, podemos reunir algumas dicas para boas definições, o que é impres-
cindível em Filosofia. A definição precisa ser adequada ao sujeito, podendo ser
atribuída sempre e universalmente. Exemplo: defino o ser humano como animal
racional, sempre. Também precisa ser mais clara que o sujeito a que se refere por-
que a finalidade da definição é esclarecê-lo. A definição não pode repetir o sujeito,
deve-se evitar conceitos negativos ou análogos porque são obscuros, recomenda-se
que seja breve, deve respeitar a ordem do geral para o particular.
Quanto à divisão precisamos identificar o que é essencial do que acidental.
Em lógica, essencial é aquilo que é fundamental ou substancial para que a coisa
seja o que é. Se perder essa característica deixará de ser. O que é acidental é aces-
sório, poderá ocorrer ou não. É essencial que Pedro seja animal racional, mas é
contingente que seja alto e magro. Poderia ser baixo e gordo. Além desse aspecto
dos predicáveis quanto à divisão, podemos verificá-los quanto a complexidade
material, ou seja, se são predicáveis simples ou complexos. O que é simples possui
uma só essência ou natureza e um só acidente e o que é complexo, várias essências
e vários acidentes. Posso dizer que Pedro é animal racional ou Pedro é justo. No
sentido complexo, posso dizer que Pedro é animal racional, mamífero, médico,
alto e justo.

A lógica de predicados

No silogismo, ‘Todos os humanos são mortais. Sócrates é humano. Logo,


Sócrates é mortal’, temos, na segunda premissa, o exemplo de um enunciado sim-
ples, ou seja, não composto e que os lógicos chamam de proposição singular, em
que há um sujeito e uma qualidade atribuída a ele. Definem-se as proposições sin-
gulares do tipo afirmativa como aquelas que declaram que determinado indivíduo
possui uma propriedade específica (COPI, 1978).
Evidentemente, um mesmo sujeito poderá ter muitas propriedades diferentes
e uma mesma propriedade poderá ser atribuída a diferentes sujeitos. Posso dizer:
“Aristóteles é humano”, “Brasil é humano”, “Chicago é humano”, “Diógenes é

capítulo 4 • 76
humano” (Copi, 1978, p. 282). Como indivíduo, posso identificar pessoas ou
qualquer outra coisa como uma caneta, país e cidade, por exemplo. Em lógica, se
o predicado é um adjetivo ou substantivo não terá a mesma importância que nos
estudos gramaticais. Temos assim: os termos individuais e o predicado.
Para os termos individuais como, nomes próprios, usa-se a letra grafada em
minúscula de a até w (não usaremos o x porque essa letra possui uma função espe-
cífica). Assim, Pedro ficaria com a letra p, por exemplo. E para o predicado a letra
maiúscula. Na frase: Pedro é médico, podemos representar: Mp. Então, frise-se,
para objetos individuais, utiliza-se letra minúscula e para os predicados a maiús-
cula, além dos conectivos que estudamos no capítulo anterior.
Por que se colocou o M antes do p no caso de proposições singulares? Porque
temos símbolos distintos para representar de um lado, o indivíduo e, de outro,
as propriedades. O símbolo da propriedade deve ser colocado do lado esquerdo
do símbolo do indivíduo, configurando, deste modo, a tradução simbólica de
uma proposição singular que informa que um determinado indivíduo possui uma
propriedade específica. Cada representação de uma proposição singular evidencia
que há um indivíduo singular e uma propriedade a ela atribuída. “Assim, a pro-
posição ‘Sócrates é humano’, será simbolizada como Hs” (Copi, 1978, p. 283).
Podemos ter:

Sócrates é humano – Hs (propriedade + indivíduo)


Pedro é racional – Rp (propriedade + indivíduo)
Joana é mortal – Mj (propriedade + indivíduo)
Cadeira é antiga – Ac ( propriedade + indivíduo)

Você percebeu que em lógica usa-se muito as letras maiúsculas e minúsculas


para representar algo. Em termos gerais, os lógicos mais modernos usam a se-
guinte regra para letras maiúsculas e minúsculas, conforme vimos anteriormente
(GENSLER, 2016, p. 222):

Uma letra maiúscula, sozinha, não seguida por


N Está nevando.
uma minúscula representa um enunciado.

Uma letra maiúscula seguida por uma única le-


Ir Romeu é italiano.
tra minúscula representa um termo geral.

capítulo 4 • 77
Uma letra maiúscula seguida por duas letras
Arj Romeu ama Julieta.
minúsculas representa uma relação.

Uma letra minúscula de ‘a’ até ‘w’ é uma


constante e denota uma pessoa ou coisa Ir Romeu é italiano.
específica.

Uma letra minúscula de ‘x’ a ‘z’ é uma variável


e não denota uma pessoa ou coisa específica Ix X é italiano.
(qualquer coisa poderá substitui-la).

O padrão comum para as proposições singulares insere a propriedade segui-


da do símbolo do indivíduo e, segundo Copi ( 1978), usa-se a letra x que não é
utilizada para designar indivíduos, pois em lógica só usamos da letra a a w, para
denotar o padrão comum podendo o x representar uma individualidade qualquer,
como mero indicador de que ali deve ficar o símbolo do indivíduo. A represen-
tação Mx, Hx, Px apenas indicam a existência de uma função proposicional que
é uma expressão que possui uma variável individual que é substituída por uma
constante individual. Essas funções proposicionais são designadas de predicados
simples. Assim, Copi (1978, p. 283) orienta que:

A letra x, à qual se dá o nome de variável individual, é um mero indicador de lugar,


servindo para indicar onde as várias letras de a a w – nossas constantes individuais –
podem ser escritas para que se originem proposições singulares.

Na lógica dos predicados temos, também, operadores lógicos que são chama-
dos de quantificadores por expressarem as palavras qualquer, todo, cada, algum, ne-
nhum e existe. Os lógicos chamam de lógica quantificacional que segundo Gensler
(2016, p. 221), “fundamenta-se sobre a lógica proposicional e estuda argumentos
cuja validade depende de ‘todo, ‘nenhum’, ‘algum e noções similares”. Esses termos
denotam exatamente a ideia de quantidade, por isso quantificadores. E podem ser
universais e, neste caso, usamos o símbolo ou como os lógicos modernos, o sím-
bolo (x) que significa “qualquer que seja” ou “para todo” (ARANHA;MARTINS,
2003).
As proposições particulares em que encontramos algum, para pelo menos um,
para algum, usa-se o símbolo ∃. “Termos predicados ocorrem frequentemente em
proposições que não são singulares” (COPI, 1978, p. 284). Posso dizer ‘Todos são
racionais’, ‘Alguém é justo’. E por que não são proposições singulares? Não são

capítulo 4 • 78
proposições singulares porque não apresentam indivíduos particulares identifi-
cados. São o que os lógicos chamam de proposições gerais. Para resumir a regra
podemos colocar assim (GENSLER, 2016, p. 224):

Todo (cada): (x) Todos são italianos. (x) Ix

Nem todo ( não cada):


Nem todos são italianos. ~(x) Ix
~(x)

Algum: (∃x) Alguns são italianos. (∃x) Ix

Nenhum: ~(∃x) Ninguém é italiano. ~(∃x) Ix

Copi (1978, p. 284), observa que podemos formular o seguinte silogismo:


“Todas as coisas são mortais” ou “Dado qualquer x no universo, x é mortal” e
usando-se a regra estudada a notação ficaria Mx, sendo M em letra maiúscula
para designar a propriedade e x o sujeito que recebe esse predicado que no caso
é “Dado qualquer x no universo”. Neste caso o x representa um quantificador
universal porque é qualquer x no universo! Assim poderá ser notada da seguinte
forma: “(x) Mx”.
Aranha e Martins ( 2003, p. 114), oferecem o seguinte exemplo: “Qualquer
que seja x, se x é S, então x é p”. Como ficaria a representação desta frase? Se para
“qualquer que seja” posso usar Ɐ e vimos que o conectivo para “se então” é →,
podemos escrever a representação assim: Ɐx (Sx → Px). Qualquer que seja: Ɐx.
Se x é S, fica igual a Sx, então X é P fica igual a Px. Vejamos mais um exemplo
(Copi, 1978, p. 285): “Algo é belo” (algo = x; belo = B). “Existe, pelo menos, uma
coisa que é bela” (pelo menos um = ∃; coisa = x; belo = B). “Existe, pelo menos,
um x tal que x é belo” (um x que é Bx; pelo menos um = ∃). Resultado (∃x) Bx.
Uma dica: quando o enunciado começar com quantificadores, estes deverão
ser representados fora dos parênteses, ok? Se digo “Todos são ricos ou italianos”
represento, assim: (x) para “todos” e (Rx v Ix), então ficaria assim: (x) (Rx v Ix).
Percebeu que o símbolo que representou “todos” ficou fora do parênteses? Então,
anote esse regra.
Como ficará essa regra para as proposições singulares negativas? Usamos o co-
nectivo para negação (~). Por exemplo: “Sócrates é mortal” e “Sócrates não é mor-
tal”, temos Ms e ~Ms. Não devemos esquecer que existem proposições opostas
que se negam mutuamente tais como: “Tudo é mortal” é negada pela proposição
“Algo não é mortal”, que ficaria (x) Mx e (∃x) ~Mx (Copi, 1978, p. 285).

capítulo 4 • 79
Dos estudos sobre categorias e predicamentos aristotélicos

No estudo sobre as categorias, se separarmos o sujeito do seu predicado, aqui-


lo que é predicável, encontraremos o que Aristóteles designou como categorias,
estudadas na Metafísica e no tratado sobre as Categorias que integra o conjunto de
estudos lógicos sob o nome de Organon. Se realizarmos essa separação encontra-
remos a substância, a quantidade, a qualidade, a relação, o onde, o quando, o estar
em uma posição, o estado ou condição, a ação ou o sofrer algo. O próprio Aristóteles
(Cat. IV,25, p. 41) diz:
Cada uma das palavras ou expressões não combinadas significa uma das seguintes
coisas: o que (a substância), o quão grande, quanto (a quantidade), que tipo de coisa
(a qualidade), com o que se relaciona (a relação), onde (o lugar), quando (o tempo),
qual a postura (a posição), em quais circunstâncias (o estado ou condição), quão ativo,
qual o fazer (ação), quão passivo, qual o sofrer (a paixão).

Na dimensão metafísica, as categorias aristotélicas representam os significados


do ser. No campo do Organon são os predicamentos do sujeito. Na frase ‘João está
na livraria’, temos numa decomposição, a substância, João, o ser e a categoria
‘onde’ que é livraria (REALE; ANTISERI, 1990). A palavra categoria decorre do
grego kategoría que significa falar, dar a conhecer, indicar, revelar e outros é um
“indicador de alguma coisa que serve para revelar, dar a conhecer, tornar visível”
(CHAUÍ, 1994).
Giovanni Reale e Danilo Antiseri (1990, p. 212), observam que o “termo ca-
tegoria foi traduzido por Boécio como predicamento”. Segundo a doutrina aristoté-
lica, a substância é a primeira categoria e sempre desempenha a função de sujeito;
já as demais funcionam como predicamentos, figuras de possíveis predicados. A
primeira é o ser de quem se diz algo e as demais o que se diz desse ser. E, por este
motivo, que a verdade ou falsidade não está nas palavras isoladamente, mas quan-
do unidas formando a estrutura sujeito e predicado.
Segundo Marilena Chauí (1994, p. 256), categorias “são, pois, as palavras
quando não combinadas com outras e que aparecem em tudo quanto dizemos ou
pensamos”. Exemplos de Aristóteles (Cat. IV, 25, p. 42) para cada uma:

Substância: homem, cavalo;


Quantidade: dois côvados de cumprimento, três côvados de comprimento;

capítulo 4 • 80
Qualidade: branco e gramatical;
Relação: metade, dobro, maior;
Lugar: no Liceu, no mercado;
Tempo: ontem, ano passado;
Posição: deitado ou sentado;
Estado: calcado ou armado;
Ação: corta ou queima;
Paixão: cortado ou queimado.

As dez categorias são gêneros que o filósofo chamou de gêneros supremos e po-
demos reduzi-los a esses gêneros. Um predicado que traga uma quantificação pode
ser reduzido à categoria de quantidade. Um predicado que diga sobre um lugar,
uma livraria, um supermercado, um restaurante, uma escola, indica a categoria
onde ou lugar, que fale em algo acontecendo no agora, menciona a categoria do
quando. Então podemos reduzir vários termos a essa lista de categorias, tornando-
se o elemento primário ou primeiro (REALE; ANTISERI, 1990).
Podemos identificar a categoria substância como o ser que existe em si, por isso
é o sujeito dos predicamentos. É aquele que possui certas características ou pro-
priedades. A substância não se confunde com as demais categorias, embora tragam
a ideia de serem seu complemento (VAN ACKER, 1971). Ela não é um atributo
ou predicado, portanto, é uma substância primeira ou “a coisa na sua individuali-
dade” (CHAUÍ, 1994, p. 257), a palavra homem denota essa ideia. Todavia posso
dizer ‘Sócrates é homem’, transformando a substância primeira em substância se-
gunda quando coloco o gênero ou espécie. Como substância primeira será sempre
individual sem qualquer variação. O próprio estagirita esclarece que

Substâncias, em sua acepção mais própria e mais restrita, na acepção fundamental


do termo, é aquilo que não é nem dito de um sujeito nem em um sujeito. A título de
exemplos podemos tomar este homem em particular ou este cavalo em particular.
Entretanto, realmente nos referimos a substâncias secundárias, aquelas dentro das
quais – sendo elas espécies – estão incluídas as substâncias primárias ou primeiras e
aquelas dentro das quais – sendo estas gênero – estão contidas as próprias espécies.
Por exemplo, incluímos um homem particular na espécie denominada humana e a pró-
pria espécie, por sua vez, é incluída no gênero denominado animal. Estes, a saber, ser
humano e animal, de outro modo espécie e gênero, são, por conseguinte, substâncias
secundárias (Cat., V, 10-15, p. 42, grifos da autora)

capítulo 4 • 81
As categorias são percebidas por nós como algo que identificamos numa coisa
ou algo e as utilizamos quando desejamos exprimir essa coisa ou algo, o que ela
é. E, segundo o estagirita, a substância é a categoria mais importante porque é
dela que falamos e, portanto, é a razão de ser das demais. Nesse sentido, podemos
destacar seus atributos principais: em primeiro lugar como disse Aristóteles, não
está em um sujeito, o que significa dizer que não se confunde com os predicados
atribuíveis a um sujeito, mas é o sujeito em si. Em segundo, poderá ser predicável
somente enquanto substância segunda, ou seja, gênero ou a espécie a que o su-
jeito pertence, exemplo: “homem”. Em terceiro lugar, como substância primeira
será sempre individual, sem diferenças em graus e sem contrários. Todavia, quan-
do estiver na condição de substância segunda, poderá admitir graus e qualidades
contrárias, por exemplo: se penso numa rosa e no botão de rosa, temos graus
diferentes. Na rosa que desabrochou temos mais rosa que na ideia de um botão
(CHAUÍ, 1994).
Em termos lógicos, as categorias, em si mesmas, não podem ser consideradas
verdadeiras ou falsas. Essa qualificação somente será possível quando formam uma
proposição que poderá ser analisada e provada. Assim, “a prova se refere à propo-
sição e não à categoria” (CHAUIÍ, 1994, p. 258).
As categorias possuem duas propriedades: a extensão e a compreensão. O que
significam? Chauí (1994, p. 258), apresenta que por extensão podemos entender “o
conjunto dos objetos designados por um termo” e compreensão “ o conjunto das
qualidades que este mesmo termo indica ou significa”. A extensão do Maria, Ana,
Pedro e João é ser humano; a extensão de ouro, prata e cobre é metal. A compreen-
são é diferente, posso tomar o termo homem por “animal, vertebrado, mamífero,
bípede, mortal e racional” – denotam uma compreensão do termo indicado. Há
uma regra: quanto maior a extensão menor a compreensão e vice versa. Com isso,
podemos identificar a diferença entre gênero, espécies e indivíduos, partimos da
maior extensão para menor e da menor compreensão para maior (CHAUÍ, 1994).
Além das Categorias, na obra Da interpretação que também integra o Organon,
o estagirita estabelece mais uma distinção entre nome, verbo, discurso, proposição
e afirmação-negação. Por nome, entende o som vocal com o significado convencio-
nado. Nas palavras de Aristóteles (Da interp. II, 15, p. 82),

O nome é um som que possui significado estabelecida somente pela convenção, sem
qualquer referência ao tempo, sendo que nenhuma parte dele tem qualquer significa-
do, se considerada separadamente do todo.

capítulo 4 • 82
O verbo é o signo do que se diz de uma outra coisa, dos predicados. E diferente
do nome, diz Aristóteles (Da interp. III, 5, p. 83)

O verbo é o que não apenas transmite um significado particular, como também possui
uma referência temporal. Nenhuma parte por si mesma tem um significado. Ele indica
sempre que alguma coisa é dita ou predicada de outra coisa. (...) Por exemplo, saúde é
um nome; está saudável é um verbo, não um nome, pois além de transmitir seu próprio
significado, indica que o estado significado (ou seja, saúde) existe agora.

O discurso, o logos, é o som vocal que possui significado convencionado e


no qual cada parte, tomada em separado, tem seu significado como enunciação.
Discurso representa uma convenção que difere de proposição, pois enuncia sem
se preocupar com o fato de ser verdadeiro ou falso. A proposição é um discurso
declarativo que afirma ou nega, “reúne o nome e o verbo, corresponde a um pen-
samento” (CHAUÍ, 1994, p. 258). Agrupa ou divide e, nesse sentido, podemos
dizer se é verdadeiro ou falso . Aristóteles (Da interp. IV, 30, 17ª1, p. 84)

A sentença é a fala dotada de significação, sendo esta ou aquela sua parte pode ter
um significado particular de alguma coisa, ou seja, que é enunciado, mas não expressa
uma afirmação ou uma negação. (...) Chamamos de proposições somente as que en-
cerram verdade ou falsidade em si mesmas.

Na obra Da interpretação, temos em Aristóteles uma teoria da proposição que


é a expressão do pensamento e será esse juízo que poderá ser verdadeiro ou falso.
A proposição representa o juízo porque expressa um pensamento e a sua realidade,
declara alguma coisa. Neste estudo, Aristóteles observa que a proposição pode ser
existencial porque, neste caso, expressa uma ação ou paixão ou passividade, por
exemplo, ‘Pedro corre’ ou ‘João está doente’. Além de expressar a dimensão exis-
tencial, há a possibilidade de exprimir a ideia de predicação, ou seja, a atribuição
de alguma coisa a um sujeito através de uma cópula, conforme já estudamos, por
exemplo, ‘Pedro é honesto’(CHAUÍ, 1994).
Nos Analíticos Anteriores, o estagirita analisa a inferência, ou seja, o processo por
meio do qual alcançamos uma proposição a partir da análise de outras. Esse proce-
dimento nos conduz à conclusão que consubstancia uma ideia que já estava presente
nas proposições anteriores. O raciocínio ou a inferência é o que Aristóteles chamou
de procedimento mediato, porque nasce de uma mediação. Nas proposições consi-
deradas como imediatas não há essa mediação e neste caso podemos identificar algo
imediatamente sem necessitar do processo de inferência (CHAUÍ, 1994).

capítulo 4 • 83
É a essa forma mediada de raciocínio que o estagirita denominou de silogis-
mo que em grego liga-se ao termo raciocínio, conjectura, unir pelo pensamento.
O estudo do silogismo foi a grande contribuição que o filósofo de Estagira nos
legou. Assim, nos Analíticos Anteriores realizou a teoria geral do silogismo e tudo
o que estudamos, sobre este ponto da lógica, encontra seu fundamento nesta obra
que compõe o Organon. Aristóteles definiu silogismo como

uma locução em que, uma vez certas suposições sejam feitas, alguma coisa distinta
delas se segue necessariamente devido à mera presença das suposições como tais.
Por ‘devido à mera presença das suposições como tais’ entendo que é por causa delas
que resulta a conclusão, e por isso quero dizer que não há necessidade de qualquer
termo adicional para tornar a conclusão necessária (A. Anter., I, 15-20, p. 112-3).

Nos Analíticos Posteriores, investigou os silogismos científicos. Vimos os si-


logismos dedutivos que partem de afirmações universais ou gerais para particu-
lares e, se é dedutivo, apresenta uma conclusão necessária a partir das premissas.
Estudamos também que a premissa chamada premissa maior é aquela que contem
o termo maior e o termo médio; já a premissa menor é a que contém o termo
menor e o termo médio. Nesta caso, vimos que a conclusão possui o termo menor
e maior e nunca o termo médio. Conforme preleciona Chauí (1994, p. 264),

O silogismo só realiza a inferência ou ligação entre os extremos por meio do termo


médio e por isso a arte demonstrativa do silogismo estará em saber encontrar o termo
médio.

Além do estudo da dedução, vimos que há os silogismos indutivos, sendo


certo que neste último o termo médio aparece na conclusão, o que não acontece
no dedutivo. Para Aristóteles, a ciência opera por meio de investigação e, depois,
apresenta ou demonstra seu resultado por meio da dedução. Por isso, em ciência
há a precedência da investigação em relação a demonstração. E o que seria uma
demonstração para o estagirita?

O conhecimento é demonstrativo quando o possuímos em virtude de dispormos de


uma demonstração. Portanto, as premissas das quais é inferida a demonstração são
necessariamente verdadeiras, o que nos obriga a compreender a natureza e o caráter
das premissas das quais procede a demonstração (A. Post., Livro 1, IV, 20-25, p. 258).

capítulo 4 • 84
Nos Analíticos Posteriores, investiga os silogismos científicos diferenciando-os dos
silogismos dialéticos. Assim, o estagirita entendeu “por [silogismo] científico aquele
em virtude do qual compreendemos alguma coisa pelo mero fato de apreendê-la” (A.
Post., Liv. I, II, 15-20, p. 253). E o que ele evidenciou como silogismos dialéticos? São
aqueles que estão no horizonte do que é provável, com natureza de argumentação.
As premissas do silogismo dialético são opiniões que podem ser contraditadas, pois
se referem ao que é contingente e precisam, por conseguinte da persuasão. Aristóteles
(Tóp. Liv. 1, I, 30, 100b18, p. 348), define o silogismo dialético como aquele

no qual se raciocina a partir de opiniões de aceitação geral (...) Opinião de aceitação


geral, por outro lado, são aquelas que se baseiam no que pensam todos, a maioria ou
os sábios, isto é, a totalidade dos sábios, ou a maioria deles, ou os mais renomados e
ilustres entre eles.

Por isso, dialética para ele é discussão, debate, encontro de opiniões em que há
argumentos contrários. E, neste processo, a persuasão exerce sua força para uma
possível conclusão (CHAUÍ, 1994). O melhor exemplo que podemos ter são os
diálogos de Platão que nos mostram o embate entre Sócrates e sofistas. Sobre este
ponto Chauí (1994, p.269) observa:

A crítica aristotélica aos sofistas não se dirige à retórica, mas à erística, isto é, a silogis-
mos que aparecem partir de premissas prováveis ou possíveis, mas não são. A dialética
torna-se, com Aristóteles, arte da discussão e da persuasão (na retórica), e exercício
preparatório para a lógica, porque lhe aponta os três princípios do pensamento, o papel
da predicação, os diferentes tipos de juízos e proposições.

Será que a ciência poderia operar com essa ideia do processo dialético? Não. A
ciência não opera com oposições, suas premissas são universais e necessárias e não
podem ser refutadas com base na persuasão, segundo Aristóteles. Algumas condi-
ções aparecem no silogismo científico: as premissas devem ser verdadeiras; devem
ser primárias ou primeiras para não precisarmos regressar ao infinito; devem ser
mais inteligíveis que a conclusão; devem ser a causa da conclusão. Sobre este pon-
to pondera Aristóteles (A. Post., Liv. I, II, 5-10, p. 255), que

capítulo 4 • 85
Argumentar a partir de premissas originárias (primárias) corresponde a argumentação
a partir de primeiros princípios apropriados, pois por premissas primárias e primeiro
princípio entendo a mesma coisa. O primeiro princípio de uma demonstração é uma
premissa imediata, e uma premissa imediata é aquela que não tem nenhuma outra
premissa anterior a ela. Uma premissa é uma ou a outra parte de uma proposição e
consiste em um termo predicado de um outro.

As premissas de uma ciência podem ser: axiomas, ou seja, os princípios que


estudamos, o da identidade, não contradição e terceiro excluído, são afirmações
evidentes em si mesmas; postulados, pressuposições de um estudo; definições que
são as premissas mais importantes porque oferecem o conceito da coisa, sua es-
sência por meio das categorias que estudamos e respondem às perguntas básicas
sobre: o que, por que, e se e, o que é. A definição oportuniza a essência da coisa ou
algo, suas propriedades essenciais e necessárias (CHAUÍ, 1994).
Para Aristóteles, só podemos dizer que há conhecimento científico quando
há, portanto, ao mesmo tempo, causalidade e necessidade, que para o filósofo, são
elementos fundamentais para a ciência:

Julgamos conhecer cientificamente cada coisa, de modo absoluto e não, à maneira so-
fística, por acidente, quando julgamos conhecer a causa pela qual a coisa é, que ela é a
sua causa e que não pode essa coisa ser de outra maneira (A. Post. Liv. 1, II, 71b, 9-12).

O Organon de Aristóteles é uma das obras mais importantes na história da Filosofia


porque reúne reflexões sobre o correto pensar. Reflexões que formaram a base dos estu-
dos lógicos que designamos por lógica clássica. Como vimos, a lógica é o instrumento
para o pensamento correto, entendendo-se por correto, a relação entre o predicamento
e a coisa. Diferentemente de Platão, Aristóteles não coloca o conhecimento verdadeiro
no inteligível, mas na imanência, na relação entre o conceito e a realidade, na operação
do pensamento que une predicados a um sujeito (GENSLER, 2016).
Assim, o estudo formal do pensamento começa com Aristóteles no mundo anti-
go e se desenvolve passando pelos estoicos até nossos dias, com teorias mais moder-
nas. Ele identificou e analisou o silogismo, as proposições classificando-as, os termos
universais , ‘todos’, particulares como ‘algum’, a condicional ‘se-então’, a conjunção
e a disjunção. Ele utilizou as letras como variáveis e depois inspirou os estoicos na
utilização de números. Formulou ideias que resultaram em princípios importantes
como o da identidade, não contradição e terceiro excluído (GENSLER, 2016).

capítulo 4 • 86
Os medievais se apropriaram de todo o pensamento aristotélico concedendo à
lógica um lugar na educação superior e, autores importantes surgem neste cenário
como Boécio, Anselmo, Pedro Abelardo e o interesse medieval pelo problema dos
universais. A lógica foi importante para os filósofos medievais e para as primeiras
universidades que passaram a florescer na Europa. O interessante verso Barbara,
Celarent, Darii, ferioqui, prioris, os termos modus ponens, a priori e a posteriori,
frutos do trabalho dos lógicos medievais são usados até hoje. O fato é que a in-
fluência aristotélica perdurou até o séc. XIX, paralela a lógica dialética de Hegel,
por exemplo (GENSLER, 2016).
Temos, atualmente, muitos ramos da Lógica e até a filosofia da lógica que
investiga a natureza da realidade que envolve metafísica, ou a fundação do co-
nhecimento que está no âmbito da epistemologia. Nesta área dos estudos lógicos,
Gensler (2016, p. 446) observa:

Das muitas questões possíveis, lidaremos com estas: existem entidades abstratas, e
lógica as pressupõem? A lógica nos oferece a chave para compreender a estrutura
da realidade? Qual é a base para leis lógicas – elas são empíricas ou verdadeiras por
convenção? O que é verdade, e como diferentes visões sobre verdade afetam a lógi-
ca? Qual o escopo da lógica?

Podemos falar em Lógica Antiga, Lógica Medieval, em lógica do Iluminismo


e em metalógica que configura o estudo de sistemas lógicos como, por exemplo, o
expoente Kurt Gödel com o seu teorema de Gödel (GENSLER, 2016). A lógica
em Filosofia nos auxilia igualmente na análise de argumentos para identificá-los
segundo a veracidade e validade, a percebê-los com conclusões que não estão em-
basadas nas premissas e/ou que podem ser falsas. Nem todos os argumentos po-
dem ser aceitos, nem todos são evidentes, nem todas as premissas podem ser acei-
tas sem críticas. E, muitas vezes, argumentamos no mundo da vida sem evidenciar
proposições verdadeiras para embasar nossas conclusões. Em Filosofia é desejável
enunciar argumentos com premissas claras e verdadeiras.

ATIVIDADES
01. Observe as proposições singulares descritas a seguir e elabore sua representação.
a) Pedro é humano d) Aristóteles é filósofo
b) Diógenes é mortal e) A baleia é mamífera
c) Paris é bela f) A caneta é macia

capítulo 4 • 87
02. Correlacione as colunas:
A
a) Ɐ ou (x)
b) ∃
c) X
d) A ou w

( ) Representa uma constante individual.


( ) Representa um quantificador singular.
( ) Representa um quantificador universal.
( ) Representa uma variável individual, indicadora de lugar.

REFLEXÃO
Neste capítulo, conhecemos um pouco mais sobre a lógica aristotélica, no estudo sobre
as categorias e identificamos que as provas quantificacionais funcionam de maneira pare-
cida com as proposicionais, todavia utilizam símbolos específicos. Ademais estudamos a
classificação dos predicáveis segundo a lógica material.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARANHA, Maria Lucia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando. 3.ed. São Paulo:
Moderna, 2003.
ARISTÓTELES. Órganon. Categorias. Da interpretação. Analíticos Anteriores. Analíticos Posteriores.
Tópicos. Refutações Sofísticas. Tradução Edson Bini. 2. ed. São Paulo: EDIPRO, 2010.
CHAUI, Marilena. Introdução à história da filosofia. Dos pré-socráticos a Aristóteles. 2. ed. São
Paulo: Brasiliense, 1994.
COPI, Irving M. Introdução à lógica. Tradução de Álvares Cabral. São Paulo: Mestre Jou, 1978.
GENSLER, Harry, J. Introdução à lógica. São Paulo: Paulus, 2016.
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia. Antiguidade e Idade Média. São Paulo:
Paulus, 1990.
VAN ACKER, Leonardo. Elementos de lógica clássica formal e material. São Paulo: UCSP, 1971.

capítulo 4 • 88
5
Falácias
Falácias
Neste capítulo, estudaremos as falácias, formais e não formais como erros de
raciocínio que podem ser divididos em falácias de relevância e falácias de ambigui-
dades. Investigaremos os tipos mais comuns de argumentos falaciosos, a diferença
entre sofisma e paralogismo e a importância do raciocínio correto.

OBJETIVOS
•  Reconhecer a importância do estudo das falácias ou sofismas;
•  Identificar os tipos mais frequentes de falácias;
•  Diferenciar sofisma de paralogismo.

O estudo das falácias

Aprender a escrever é, em grande parte, se não principalmente, aprender a pensar.


(Othon Garcia, 1986, p. 291)

Construir bons argumentos pode não ser uma tarefa muito fácil. Variáveis po-
dem interferir em nosso raciocínio. Vimos que a lógica nos oportuniza identificar
as características de um bom argumento, identificar possíveis falácias, construir e
analisar argumentos alheios com mais segurança. Segundo Gensler (2016, p. 70),
algumas recomendações são relevantes e o argumento, precisa:

1. Ser dedutivamente válido (ou indutivamente forte) e possuir todas as premissas


verdadeiras;
2. Que sua validade e a veracidade de suas premissas sejam o mais evidente possí-
vel para as partes envolvidas;
3. Ser enunciado de maneira clara (utilizando linguagem compreensível e deixando
claro o que é premissa e o que é conclusão);
4. Evitar circularidade, ambiguidade e linguagem emocional;
5. Ser relevante para a questão tratada.

capítulo 5 • 90
Por que enunciar tais regras? Porque, em geral, nos sentimos seguros em criti-
car argumentos cuja conclusão não decorre das premissas e/ou quando uma delas
é falsa. Daí a importância de um argumento dedutivo válido e indutivo forte. Às
vezes, as premissas que utilizamos são aceitas apenas por quem compartilha da
mesma visão e mundo que temos. A ideia é que sejam evidentes, incontroversas. A
linguagem também tem seu lugar especial porque poderá acarretar ambiguidades
e equívocos. Neste aspecto, assevera Gensler (2016, p. 71),

As pessoas, com frequência, argumentam sem tornar claro o que é premissa, o que
é conclusão; às vezes temos fluxos de consciência incoerentes polvilhados com um,
‘portanto’ ocasional. (...), com frequência não há problema em omitir premissas que são
óbvias às partes envolvidas.

Em Filosofia, temos uma exigência de clareza em nossos argumentos e quando


formulamos uma premissa controversa há uma consciência dessa ideia contro-
vertida. E considerando as regras elencadas por Gensler (2016), identificamos os
tipos mais comuns de falácias.
A palavra falácia possui sentidos ou acepções distintas. Em Lógica, usamos
para designar uma ideia equivocada ou falsa crença e, num sentido mais estrito
e técnico, como erro no raciocínio ou argumentação. Conforme preleciona Copi
(1978, p. 73), “uma falácia, tal como usaremos o termo, é um tipo de raciocínio
incorreto. Alguns são evidentes e outros nem tanto, mas a ponto de nos persuadir.
Usa-se o termo para falar exatamente das formas que podem nos enganar. Assim,
“definimos falácia como uma forma de raciocínio que parece correta, mas que,
quando examinada cuidadosamente, não o é” ( COPI, 1978, p. 73).
Nas Refutações Sofísticas, Aristóteles analisa o que ele entendeu especificamen-
te por falácias, “argumentos que parecem ser refutações (contestações), porém são
realmente falácias, e não refutações” (RS, 164ª2d, 25, p. 545).
Podemos estudar as falácias em dois grupos diferentes que os lógicos chamam
de falácias formais e falácias não-formais (COPI, 1978). Quando mencionamos
que são falácias formais estamos no horizonte daquelas estudadas conforme certos
padrões de inferência. Por outro lado, as não-formais são erros de raciocínio a que
somos induzidos por alguma falta de atenção, somos iludidos de alguma forma
por ambiguidades na linguagem que forma o argumento. Copi (1978, p. 74),
acrescenta que as falácias não-formais podem ser subdivididas em “falácias de re-
levância” e “falácias de ambiguidades”.

capítulo 5 • 91
Nas falácias de relevância encontramos a situação em que as premissas são, sob o
ponto de vista da lógica, irrelevantes para se chegar às conclusões e, portanto, serem
incapazes de estabelecer a verdade dessas conclusões. Frise-se que a irrelevância é
sob o ponto de vista da lógica. Neste campo existem alguns nomes atribuídos para
evidenciar casos em que atitudes que podem levar a aceitação de certas conclusões.
Vamos conhecê-los? Alguns nomes estão em latim, a saber: argumentum ad baculum;
argumentum ad hominem, argumentum ad ignorantiam, argumento ad misericordiam,
argumentum ad populum, argumentum ad verecundiam, argumento por acidente,
argumento por falsa causa, petitio principii, pergunta complexa, Ignoratio elenchi.
O argumentum ad baculum significa uso da força, recorre-se à força como ele-
mento de convencimento, por isso, é uma falácia em que se apela para ameaça ou
força para tentar provocar a aceitação de uma conclusão. O argumentum ad homi-
nem poderá ser do tipo ofensivo em que o argumento é dirigido contra o homem.
Neste tipo de argumentum ad hominem, como forma ofensiva o interlocutor
não refuta o argumento em si, mas ataca quem o diz, a pessoa que profere alguma
ideia como se certa condição ou estado atribuído à pessoa pudesse desqualificar o
seu argumento. É falacioso porque em verdade a pessoa em si é irrelevante para se
determinar a verdade ou falsidade de um argumento. O certo é avaliar o argumento.
Então, grupos ideológicos rivais, por exemplo, podem configurar esse tipo de
falácia quando tentam desmerecer a pessoa para, com isso, tentar desqualificar o
que ela diz, mas sem refutar o seu argumento. Criticar que uma proposição é falsa,
atacando-se a pessoa em si e não seu argumento, é raciocinar de modo falacioso.
Os lógicos observam que neste tipo de falácia o sujeito provoca uma atitude
de desaprovação, num mero processo psicológico, em que transborda a dimensão
emocional e não racional, a lógica não aceita essa maneira falaciosa (COPI, 1978).
Podemos configurar esse tipo de falácia quando alguém que não tem argumentos
para sua defesa ou para defesa de alguma ideia, ataca o seu interlocutor, ofenden-
do-o como pessoa. Esse tipo é muito frequente em debates entre políticos.
Além do argumentum ad hominem ofensivo, existe o circunstancial em que o
foco está numa circunstância e nas convicções da pessoa. Nesta falácia, abando-
na-se a análise do argumento proferido para tentar provar que o interlocutor deve
fazer algo em razão de alguma circunstância especial. Podemos pensar no exemplo
de um religioso cuja doutrina possui características específicas e o seu interlocutor
tenta convencê-lo a não dar assentimento a determinada proposta que se supõe
contrária à doutrina que abraçou. Não se analisa aqui a verdade ou falsidade do
argumento, que fica completamente esquecido, mas a circunstância.

capítulo 5 • 92
Irving Copi (1978), nos oferece um exemplo interessante quando menciona a
figura de um esportista especializado em caçadas de animais selvagens. Se interpelado
apresenta um argumentum ad hominem circunstancial quando diz que o seu interlocu-
tor se alimenta de carne bovina, logo mata animais inocentes e, por isso, não poderia
admoestá-lo. Não há refutações ao argumento para se verificar a verdade ou falsidade
de um argumento, mas busca-se persuadir com base nas circunstâncias especiais.
O argumentum ad ignorantiam, significa argumento pela ignorância, toman-
do-se o termo ignorância como ignorar, desconhecer. Este tipo de falácia se afigu-
ra sempre que uma proposição é apresentada como verdadeira no sentido de que
não foi provada a sua falsidade. A ideia é se não posso provar que é falso, então será
verdadeiro. Exemplo ( GENSLER, 2016, p. 76):

Ninguém provou A.
Logo, A é falso.
Ninguém refutou A.
Logo, A é verdadeiro.

O argumentum ad misericordiam, é mais conhecido porque muitos usam no cotidia-


no essa ideia. Quem nunca apelou para misericórdia? Então, trata-se do apelo à piedade,
um tipo de falácia que se comete quando se apela à piedade ou compaixão para se obter
o assentimento ou aceitação de uma conclusão. Na obra platônica Apologia de Sócrates,
temos um bom exemplo desse argumentum ad misericordiam na seguinte passagem:

Assim seja, ó cidadãos: é mais ou menos isso que eu poderei dizer em minha defesa
ou qualquer coisa semelhante. Provavelmente, porém, algum de vós poderá ficar enco-
lerizado, recordando-se de si mesmo. Se sustentou uma contenda, embora em menor
proporções do que essa minha, pediu e suplicou aos juízes, com muitas lágrimas, tra-
zendo aqui os filhos, e muitos outros parentes e amigos, a fim de mover a piedade ao
seu favor. Eu não farei certamente nada disso, embora vá ao encontro, como se pode
acreditar, do extremo perigo.
É possível que qualquer um, considerando isso, pudesse irritar-se contra mim, e, enco-
lerizado por isso mesmo, desse o voto com ira. Se, de fato, algum de vós está em está
em tal estado de alma, a mim me parece que poderei dizer-lhe o seguinte: Também
eu, meu caro, tenho uma família, e bem posso, como em Homero, dizer que não nasci:
"de um carvalho nem de um rochedo", pois eu também tenho parentes e filhinhos, ó
cidadãos atenienses: três, um já jovenzinho e duas meninas; mas contudo, não farei vir
aqui nenhum deles para vos rogar a minha absolvição (PLATÃO, 212, p. 96).

capítulo 5 • 93
O argumentum ad populum, pode ser definido como sendo as falácias que se
cometem ao dirigir um apelo ao emocional, ao povo, para que uma determinada
conclusão que, em verdade, não está sustentada em boas provas. A concordância
popular é um recurso utilizado por demagogos, que são pessoas interesseiras e
ambiciosas, que desejam mobilizar o sentimento público. Um bom exemplo está
na segunda cena do terceiro ato da tragédia de Júlio Cesar, de William Shakespeare
(1969, p. 449), em que Marco Antônio faz seu discurso fúnebre sobre o corpo de
Júlio Cesar.1 Vejamos um trecho da tragédia:

Irmãos, romanos, conterrâneos, me ouçam!


Eu venho enterrar César, não o louvar. O mal que os homens fazem vive sempre, Mas
o bem é enterrado com seus ossos. Que assim seja com César. O bom Bruto dis-
se que César era ambicioso. Se for verdade, eis um grave crime. E César foi puni-
do gravemente.
Com permissão de Bruto e os outros todos
— Porque Bruto é um homem muito honrado; e os outros todos, homens muito honra-
dos — Venho falar no funeral de César. Foi meu amigo, justo, bom, leal; mas Bruto diz
que ele era ambicioso. E Bruto é um homem muito honrado.

Um exemplo mais frequente de argumento com apelo ao povo poderia ser


formulado no seguinte silogismo indicado por Gensler ( 2016, p. 75):

A maioria das pessoas acredita que A.


Logo, A é verdadeiro.
A maioria das pessoas acredita que Wheaties [cereal].
Wheaties é bastante nutritivo.

O argumentum ad verecundiam, o argumento de autoridade, é o recurso a uma


autoridade pelo sentimento de respeito que as pessoas alimentam pelos indivíduos
famosos. Trata-se de uma referência a uma autoridade no campo de sua competên-
cia e que poderá conferir legitimidade a uma opinião e ser uma prova relevante. É
interessante que estamos acostumados a citar autores clássicos, exatamente nesse

1  A íntegra do discurso de Marco Antônio poderá ser apreciada no site: <http://www.teatrodomundo.com.br/


vox-populi-vox-dei-ou-marco-antonio-contra-brutus-como-inflamar-a-opiniao-publica-a-fazer-justica-a-homens-
honrados/>.

capítulo 5 • 94
sentido de trazer um argumento de autoridade para fortalecer nossas premissas e
conclusões. Exemplo (GENSLER, 2016, p. 78):

X sustenta A é verdadeiro.
X é uma autoridade no assunto.
O consenso de autoridade concorda com X.
Logo, existe uma presunção de que A seja verdadeiro.

A falácia por acidente consiste em aplicar uma regra geral a um acaso particular,
cujas instâncias acidentais tornem a regra inaplicável. Neste caso uma regra geral
se torna inaplicável devido as circunstâncias. Um bom exemplo está na República
de Platão, Livro I, em Sócrates observa uma situação de inaplicabilidade da regra
geral de devolver objetos confiados em depósito, a saber:

Sócrates — As tuas são palavras maravilhosas, ó Céfalo.


Mas essa virtude de justiça resume-se em proferir a verdade e em restituir o que se
tomou de alguém, ou podemos dizer que às vezes é correto e outras vezes incorreto
fazer tais coisas? Vê este exemplo: se alguém, em perfeito juízo, entregasse armas a um
amigo, e depois, havendo se tomado insano, as exigisse de volta, todos julgariam que o
amigo não lhe as deveria restituir, nem mesmo concordariam em dizer toda a verdade a
um homem enlouquecido.
Céfalo — Estou de acordo.

Existe ainda a falácia por acidente convertido que representa generalizações


apressadas ou precipitadas. Muitas vezes uma pessoa passa por experiências deter-
minadas e depois generaliza rotulando pessoas ou coisas, sem atentar que toda ge-
neralização é abusiva. A falácia por falsa causa é aquela em que se considera como
causa o que, na verdade, é um efeito. Supõe-se que é uma causa, mas em verdade
não o é. Exemplo ( GENSLER, 2016, p. 76):

A aconteceu depois de B.
Logo, A foi causado por B.
Paulo tomou uma cerveja e então obteve 104% em seu teste de lógica. Logo, ele
obteve 104% porque tomou cerveja.

capítulo 5 • 95
A petitio principii, petição de princípio é uma falácia em que se usa como pre-
missa a própria conclusão que deveria ser provada. Quando a premissa é idêntica
à conclusão a falácia fica evidente, mas nem sempre isso ocorre, muitas vezes não
há essa identidade. Como exemplo de uma petição de princípio, Copi (1978,
p. 84), nos fornece o seguinte exemplo:

Por vezes, uma cadeia de numerosos argumentos é usada na tentativa de estabele-


cer uma conclusão. Assim, uma pessoa pode argumentar que Shakespeare é o maior
escritor do que Spillane, porque as pessoas com bom gosto literário preferem Sha-
kespeare. E se lhe for perguntado como é que se definem as pessoas com bom gosto
literário, a resposta será que tais pessoas se identificam pelo fato de preferirem Sha-
kespeare a Spillane. Trata-se, pois, de um raciocínio circular que incorre na falácia de
petitio principii.

Existe um tipo de falácia que se afigura em perguntas complexas. São aquelas


situações em que alguém elabora uma pergunta ardilosa contendo perguntas im-
plícitas. Copi (1978, p. 84), menciona o exemplo da mãe que pergunta ao filho:
“quer ser um bom menino e ir para cama?” Nesta indagação temos duas pergun-
tas: se o menino quer ser bom e o dever de ir para cama. Na verdade, as perguntas
não se implicam mutuamente, mas ardilosamente a mãe as conectou. É claro que
ele quer ser um bom menino e vai responder que sim e cumprir a “ordem”. Outro
exemplo está na pergunta: “Você abandonou os seus maus hábitos?” Neste caso
a pessoa se vê obrigada a assumir que tinha maus hábitos e que agora os abando-
nou. A falácia está em induzir o interlocutor a dar uma única resposta a ambas
as perguntas.
A falácia por Ignoratio elenchi, ou seja, por conclusão irrelevante, ocorre quan-
do um argumento que pretende estabelecer uma determinada conclusão é diri-
gido para provar uma conclusão diferente. Geralmente, neste caso, há um apelo
emocional envolvido. Imagine-se um sujeito que pretende incriminar alguém por
ter praticado homicídio. Em lugar de apresentar as provas contra essa pessoa que
comprovem efetivamente a autoria e materialidade do crime, discursa sobre como
o homicídio é uma coisa horrível, sendo esta a conclusão. Claro que todos con-
cordarão que o homicídio é horrível, mas e as provas se aquela pessoa é ou não
realmente culpada? Nesse tipo de falácia, visa-se prolongar a discussão para cansar,
fatigar, gerar desatenção e induzir a aceitar a ideia.
Nas falácias por ambiguidades, falácias não-formais, podemos usar também a
expressão de falácias de clareza, são aquelas que apresentam argumentos contendo

capítulo 5 • 96
frases e/ ou palavras ambíguas com significados diferentes, plurívocas que po-
dem conduzir a uma interpretação equivocada. Sobre este tipo de falácia observa
Aristóteles nas Refutações Sofísticas (V, 25, p. 553):

Nas falácias ligadas à equivocação e à ambiguidades, o erro nasce da incapacidade de


distinguir os vários significados de um termo ( uma vez que há alguns que não são fáceis
de distinguir, do que são exemplos os significados de unidade, ser e identidade). Nas
falácias vinculadas à combinação e à divisão, o erro se deve à suposição de que não
faz diferença se o termo está combinado ou dividido, como de fato geralmente é o caso.

Uma falácia por ambiguidade pode apresentar, portanto, o sentido de ‘equívo-


co’ que decorre do erro no significado das palavras, pois algumas palavras têm sen-
tidos diferentes. Irving M. Copi (1978, p. 91), oferece o seguinte exemplo: “o fim
de uma coisa é a sua perfeição; a morte é o fim da vida; logo, a morte é a perfeição
da vida”. Temos um silogismo que apresenta uma falácia por ambiguidade com
um equívoco porque usa o termo “fim” como meta e como encerramento de algo.
Nesse sentido o que configura a falácia é o uso com a intenção de confundir os
termos. As premissas separadamente não trazem problema lógico, mas a conclusão
acusa a situação de falácia.
Copi (1978), ressalta que neste tipo de falácia, por equívoco, temos o caso
clássico dos termos relativos que assumem diferentes significados em contextos
distintos. Por exemplo, posso mencionar que uma pessoa é boa porque é boa em
organização. O fato de alguém ter uma boa organização não implica que seja uma
pessoa boa. O termo “boa” é relativo. Ou como menciona Copi (1978, p. 92),
“quando se diz que Fulano seria um bom presidente, porque é um bom general,
ou que deve ser uma boa pessoa, porque é um bom matemático, ou que é um bom
professor, porque é um bom cientista”.
Em alguns casos a ambiguidade pode ser identificada na construção gramati-
cal e, neste tipo, os lógicos chamam de falácia por ambiguidade com anfibologia.
Um enunciado anfibológico não é claro em razão do modo como estão combina-
das as palavras. Um interessante exemplo de Copi ( 1978, p. 92), para este tipo é o
do Oráculo de Delfos consultado por Creso, rei da Lídia que intencionada invadir
a Pérsia. Segundo o relato o referido rei consultou o oráculo e a resposta foi a se-
guinte: “Se Creso declarar guerra à Pérsia, destruirá um reino poderoso”. Assim o
fez, foi derrotado, teve o seu próprio reino destruído.
A falácia por ambiguidade também poderá ser por ênfase, composição e divi-
são. Quando há uma falácia por ênfase, significa que depende da ênfase que se dá

capítulo 5 • 97
a uma parte do argumento. A ênfase poderá mudar o sentido do que está sendo
dito. Posso proferir uma frase sem qualquer ênfase: “não devemos falar mal dos
nosso amigos” (Copi, 1978, p. 93). E podemos dizê-la dando ênfase especial “dos
nossos amigos”, o que poderá denotar que podemos falar mal de todos que não
forem amigos. Temos assim um exemplo que os lógicos assinalam como de falácia
por ambiguidade de ênfase.
A falácia por divisão-composição, poderá ocorrer se o raciocínio partir das pro-
priedades de um todo e atribuir a este todo a mesma ideia que atribuiu às suas
propriedades. Ao pensarmos nas peças que integram uma máquina de lavar, pode-
mos dizer que determinadas peças são leves. O erro está em inferir que nesse caso
a máquina igualmente será leve. A ideia é essa, a de se atribuir falaciosamente as
características das propriedades das partes ao todo, em si, bem como o seu inverso.
Numa falácia por composição no sentido inverso temos a ideia: a máquina é pesada,
logos os seus componentes são todos pesados. Nos dois sentidos, das partes ao
todo e do todo às partes, temos, segundo Copi (1978), uma falácia por divisão-
composição. Exemplo (GENSLER, 2016, p. 77):

Isto é F.
Logo, toda parte disto é F.
Toda parte disto é F.
Logo, isto é F.

Quando estudamos as falácias podemos imaginar se realmente seríamos capazes


de cair numa armadilha desse tipo. Ocorre que muitas são sutis e podem passar desper-
cebidas, por isso os lógicos nos oportunizam um olhar mais atento, embora não exista
uma regra a ser aplicada para nos liberar desse perigo do raciocínio. O aprofundamen-
to nos estudos filosóficos representa o fortalecimento de um olhar reflexivo que opera
mediante conceitos rigorosamente definidos, mas pode não ser suficiente para tais
armadilhas. Então, vamos aprofundar um pouco mais nesse estudo?

Sofismas e paralogismos

Nos estudos lógicos, quando investigamos a natureza do erro, refletimos sobre


três questões: primeiramente, podemos errar porque raciocinamos mal, embo-
ra utilizamos dados corretos; segundo raciocinamos bem, mas nos apoiamos em
dados incorretos ou falsos e, terceiro, raciocinamos mal e, para piorar, utilizamos

capítulo 5 • 98
dados incorretos ou falsos. Existe, portanto, a possibilidade de configurar o vício
formal que configura o raciocínio ruim e o vício material que significa o descuido
com relação a veracidade dos dados utilizados, não obstante o raciocínio seja bom
(GARCIA, 1986).
Em Filosofia, designamos o raciocínio falacioso, que estudamos anteriormen-
te, como sofisma. Sofisma é o “falso raciocínio elaborado com a intenção de en-
ganar” (GARCIA, 1986, p. 307). O sofisma pressupõe a ideia de que a pessoa
está de má-fé, a intenção é enganar o outro. Quando não há a intenção de enga-
nar, os lógicos chamam de paralogismo. O paralogismo é um raciocínio falso, mas
não intencional.
O cuidado que temos que tomar é em relação ao que é e ao que não é silo-
gismo. Nem todas as ideias são silogismos, podem ser impressões pessoais que
os lógicos chamam de inspeção, ou seja, análises pessoais superficiais dos fatos,
sem aprofundamento e que foram motivadas emocionalmente. Sobre este cuidado
Othon Garcia (1986, p. 307), observa que

Para que haja erro é preciso ter julgamento, uma declaração, uma opinião expressa,
que nega o que é e afirma o que não é. Erramos, pois, quando declaramos ou gene-
ralizamos apressadamente. Mas, quando dizemos: ‘Fulano é antipático’ ou ‘Fulano só
falou comigo uma vez e já me considera antipático’, não há propriamente, raciocínio;
manifestou-se apenas uma impressão resultante daquilo que, em Lógica, se chama
‘simples inspeção’ ( ausência de análise dos fatos ou análise superficial deles) que nos
leva a pronunciamento motivados por impulsos efetivos, a expressão de sentimentos e
não a juízos pautados pela razão.

Os lógicos dividem os sofismas em formais, ou seja, vício de forma e mate-


riais, vício ou engano na apreciação da matéria, dos dados, fatos envolvidos no
raciocínio. E podemos ter uma outra classificação além daquela estudada para as
falácias, a saber: a definição inexata; a divisão incompleta, os falsos axiomas; a ig-
norância ou desconhecimento da questão; a petição de princípio, o círculo vicioso,
a observação inexata; a ignorância da causa; o erro de acidente, e a falsa analogia.
Para falarmos de falsos axiomas precisamos saber o que são axiomas. Axiomas
são princípios necessários que se aplicam a todos os casos, são evidentes em si
mesmos, não precisam ser demonstrados, por isso, os lógicos dizem que são prin-
cípios indemonstráveis. Um bom exemplo de axioma é quando mencionamos: ‘o
todo é maior do que as partes’. É preciso demonstrar o que é evidente? Não, não é
preciso. Usa-se muito o termo axioma na matemática, mas gostamos de utilizá-los

capítulo 5 • 99
em teorias filosóficas, muitas vezes na área da Filosofia Prática, quando desejamos
tomá-lo emprestado para designar algo aceito por todos, algo evidente.
Ocorre que algumas máximas podem tomar a feição de axiomas sem o ser e
oradores mal intencionados utilizam a ideia como se fosse um axioma para não
justificarem ou provarem seus argumentos. Um falso axioma apresenta uma verda-
de aparente tentando impor a ideia de que não precisam ser demonstrados quan-
do, em verdade, precisam. Immanuel Kant, na obra Lógica, define axioma como
princípios intuitivos que podem ser exibidos na intuição. Diz o filósofo (# 35,
p. 129): “os princípios são ou intuitivos ou discursivos. – Os primeiros podem ser
exibidos na intuição e chamam-se axiomas (axiomata)”.
E como podemos entender melhor essa questão de ser ou não demonstrá-
vel? O próprio Kant (Lóg. #33, p. 129), nos auxilia a entender melhor essa ideia
quando menciona que “Proposições demonstráveis são aquelas que são passíveis
de uma prova; as que não são passíveis de prova denominam-se indemonstráveis”.
Ora, os axiomas são evidentes, logo indemonstráveis. Essa talvez seja uma caracte-
rística importante que nos ajude a perceber o que realmente é ou não um axioma.
Outra questão interessante quando se analisa sofismas é a ignorância da ques-
tão, um tipo de falácia que analisamos como mais frequente no mundo da vida.
É mais frequente o silogismo por ignorância da questão em que há um desvio para
uma dimensão emocional com o propósito de comover, irritar, causar desesperos,
fugindo completamente dos fatos. É claro que alguns cometem este equívoco sem
consciência, mas há quem utilize como uma ferramenta para enganar. Portanto,
quando há a intencionalidade de enganar ou escamotear, temos o sofisma. Além
deste tipo a petição de princípio também conduz ao mesmo erro porque toma
como verdade o que deveria ser provado e não o foi. Neste caso, já admite como
verdade algo que não foi provado e que primeiramente deveria ser comprovado.
Podemos destacar dois exemplos assinalados por Othon Garcia (1986, p.309),
“Fulano morreu de velho, porque viveu muitos anos” ou “Fulano morreu pobre
porque não tinha dinheiro”. Ocorre que a segunda parte das frases, após o termo
“porque’, nada diz, apenas repete o que está na parte antecedente, sem justificá-la.
Por isso, muitos lógicos chamam de petição de princípio ou círculo vicioso. Na
frase ‘o agrotóxico faz mal a saúde, porque prejudica o organismo’ – temos uma
ideia verdadeira, mas não temos um argumento, uma causa. O que percebemos
é que se repete o que já foi dito. Neste caso pode ser uma tautologia que é dizer a
mesma coisa com outras palavras ou redundância que significa repetir.

capítulo 5 • 100
No campo das falácias podemos destacar também o erro de julgamento por
observação inexata e muitos lógicos dizem que é um paralogismo e não sofisma. O
fato é que podemos nos distrair e observar mal alguma situação ou fenômeno. Isso
ocorre por desatenção na observação dos fatos ou dados concretos. A ignorância
ou desconhecimento poderá ocorrer porque não sabemos tudo e nem sempre a
simples observação do senso comum é segura. Podemos confundir o que tem apa-
rência de verdade com o verdadeiro, porque nem tudo é ponderável.
Vimos também o erro por acidente que é aquele em que se usa o termo aci-
dente na acepção aristotélica, ou seja, confunde-se o que é acessório com o que é
principal. Acidente é o que é contingente e não essencial e poderá conduzir a uma
generalização abusiva ou falsa. Por exemplo, um comercial poderá ser identificado
como desonesto e as pessoas passarem a dizer que todos os comerciantes são deso-
nestos. Geralmente, as generalizações são abusivas porque atribuem algo que não
é essencial a todos indistintamente. O próprio Aristóteles nos esclarece no texto
Refutações Sofísticas que integra o Organon (V, 30, p. 552):

Falácias ligadas ao acidente ocorrem quando é sustentado que algum atributo perten-
ce similarmente ao sujeito e ao seu acidente, pois uma vez que o mesmo sujeito possui
muitos acidentes, não se segue necessariamente que todos os mesmos atributos se
aplicam a todos os predicados de uma coisa e também ao seu sujeito.

Uma outra situação de erro no raciocínio é a falsa analogia. Trata-se da situa-


ção em que se parte de uma suposta semelhança em ideias ou procedimentos e o
raciocínio conclui que sendo observadas tais semelhanças é possível a analogia.
Esse tipo de raciocínio apresenta, na verdade, uma hipótese que os lógicos desig-
nam como indução imperfeita. Othon Garcia (1986, p. 313), observa o seguinte
exemplo: “Marte deve ser habitado, pois, como a Terra, também tem rotação e
revolução, também tem uma atmosfera, além de se parecer com a própria Terra
pela forma”. Na verdade, temos uma hipótese por indução imperfeita, pois não há
certezas. A analogia concluir do particular para outro particular em razão da se-
melhança e, se é construído com a intencionalidade de enganar, é sofisma porque
nos oferece probabilidades. Vejamos outros exemplos:
Dor de cabeça, é fígado! Toma boldo.
Dói os pontos de uma antiga cirurgia, vai chover!

capítulo 5 • 101
Nós gostamos de dar opiniões, mas a Lógica chama atenção para a validade de
nossas declarações pessoais que são aquelas que indicam ou aprovam determinada
coisa ou situação. Essas declarações pessoais não apresentam provas, porque para
tal é necessário estar amparado em fatos. Neste caso, se nosso argumento não está
baseado em provas, como podem convencer? Não podem. Na verdade, tornam-
se para lógica, declarações infundadas, contestáveis. Num diálogo acalorado, por
exemplo, uma pessoa poderá acusar a outra de ser ladrão. Em defesa, a pessoa
ofendida poderá dizer que não é ladrão. Temos uma afirmativa e uma negativa,
ambas com o mesmo peso, ambas sem fundamento, sem apresentar provas. Quem
tem a razão? As duas colocações pessoais expressam opiniões que podem estar
amparadas em sentimento diversos, inclusive aqueles menos nobres, como o pre-
conceito. Portanto, tem validade relativa.
Ainda falando um pouco mais sobre opinião pessoal, existe a possibilidade de
uma opinião balizada? O que seria? Segundo Othon Garcia (1986, p. 292), é a
“opinião de quem, pela reputação baseada no saber e na experiência, merecem tal
crédito, que a prova dos fatos se tornasse desnecessária ou supérflua”. A pessoa,
por sua reputação, poderá conferir credibilidade à informação. Todavia, é preciso
usar este recurso com parcimônia, pois comprovar o que está sendo dito é sempre
importante. Algumas situações prescindem de provas conforme preleciona Othon
Garcia (1986, p. 293), vejamos:

I. Quando a declaração expressa uma verdade universalmente aceita;


II. Quando é evidente por si mesma ( axiomas, postulados);
III. Quando tem o apoio de autoridade (testemunho autorizado);
IV. Quando escapa ao domínio puramente intelectual.

Existem ainda outras situações que prescindem de provas porque não ex-
pressam um conhecimento ou informação, por exemplo, quando expresso um
sentimento, ‘estou triste hoje’; uma emoção, ‘que bom passear aos domingos’;
uma apreciação estética, ‘gosto de pinturas pós-modernas’ ou ‘não como quiabo’;
quando diz respeito à religiosidade, porque estamos no âmbito da crença que nos
remete ao foro íntimo.
Com base em tais ideias, os lógicos recomendam, nos estudos das falácias, que
diferenciemos fatos de indícios. E como diz Othon Garcia (1986, p. 293), “Fatos
não se discutem; opiniões, sim.” Alguns preferem dizer: ‘contra fatos não há ar-
gumento’. Quando mencionamos a palavra fato estamos no terreno de algo que

capítulo 5 • 102
poderá ser verificado, identificado, mensurado e nos conduzirá a uma ideia clara e
distinta. Indícios são de outra natureza porque estão no terreno das possibilidades,
das relatividades, das aparências.
Assim, muitas de nossas inferências não são apoiadas em fatos e sim em indí-
cios e, por isso, podem ser prováveis ou improváveis. Quando inferimos baseados
em indícios, agimos por presunção. Se percebo o céu carregado de nuvens vou
presumir que vai chover. Se durante uma prova um aluno conversa com outro,
posso presumir que estão passando informações sobre a prova. “Indícios podem
persuadir, mas não provam” (GARCIA, 1986, p. 294).
Alguns fatos precisam ser analisados, organizados para que possam fundamen-
tar uma inferência. Os estudiosos chamam de exame acurado dos fenômenos e, por
isso, pesquisadores utilizam métodos e técnicas de pesquisa para suas investiga-
ções, pois os fatos em si podem não trazer uma informação segura. E essas pesqui-
sas precisam apresentar dados suficientes para ter credibilidade. Imagine-se uma
pesquisa de campo em que os pesquisadores investigam uma quantidade muito
pequena da população de certa cidade e pretendem generalizar as informações,
temos um falácia com dados insuficientes. Neste horizonte de fatos inadequados
ou insuficientes, Othon Garcia (1986, p. 295), menciona:

Quem alegasse como motivo para a abolição dos exames orais a intensidade do calor
no mês dezembro, estaria apresentando um fato irrelevante: o calor não constitui ar-
gumento ‘de peso’; nenhuma atividade importante dessa, no Brasil pelo menos, só por
causa dele. Se recomendo a um amigo que não ande de bicicleta, porque, certa vez, ao
fazê-lo, levei um bruto tombo, meu argumento é falho, pois as circunstâncias em que
se veria meu amigo, se fizesse a experiência, poderiam ser bem diversa: diferença de
idade, de hábitos esportivos, de senso de equilíbrio e outras. Meu argumento não vale:
os fatos que apresento como razões não são adequados.

Na visão de Aristóteles, no Organon, o silogismo, conforme já investigamos, é


baseado em proposições e uma conclusão que encontra na possibilidade de refuta-
ção a sua contradita. Nesse horizonte, algumas refutações não alcançam o objeto,
mas apenas em aparência tentam contradizê-lo. E muitos pouco acostumados na
linguagem, podem ser manipulados ou ludibriados por indivíduos mais experien-
tes com seus falsos silogismos ou falácias.
Essa é a arte do sofista que “consiste na sabedoria aparente e não na real” e
acrescenta o estagirita, o “sofista é aquele que ganha dinheiro graças a uma sabe-
doria aparente e não real” (RS, 165a1, 20, p. 546). Para Aristóteles quem detém o

capítulo 5 • 103
conhecimento deve abster-se de argumentos falaciosos e denunciar aqueles que o
fazem e, neste ponto, os sofistas parecem sábios, mas não o são.
Os falsos argumentos são os almejados pelos sofistas, segundo Aristóteles. É
importante destacar que em sua época os sofistas representavam um movimento
significativo. Eram influentes e influenciadores e, na ocasião, existia a Escola de
Retórica de Isócrates, rival da Academia e do Liceu, além da influência de célebres
sofistas como Protágoras, Pródigo, Górgias e Hípias que influenciaram muitos jo-
vens atenienses de famílias importantes na política da cidade, o que significa dizer
que tiveram um papel significativo na política de Atenas. A narrativa da Apologia
de Sócrates nos revela essa força.2
Os sofistas evidenciaram a tese do caráter artificial e convencional da virtude
e do conhecimento, o que representa uma oposição ao pensamento de Sócrates,
Platão e o próprio Aristóteles. A palavra sofista significa aquele que se revela pos-
suidor de uma arte, possivelmente um sábio. O sentido negativo do termo como
embusteiro ou rábula decorre dos olhares de Platão e Aristóteles. E é interessante
perceber a proximidade morfológica que passa a existir entre sofista e sofisma.3
É, portanto, nas Refutações Sofísticas, último texto que integra o Organon, em
que o estagirita passa a discutir os argumentos sofísticos ou falácias. Essa é uma obra
importante para aqueles que desejam investigar os sofismas com maior profundi-
dade. Na parte II, apresenta quatro tipos de argumentos, os instrucionais, dialéticos,
examinacionais e contenciosos. Os instrucionais “são os que raciocinam dedutivamen-
te a partir dos princípios apropriados a cada ramo do aprendizado, e não a partir
das opiniões do respondente” (165b1, 5, p. 548). Os argumentos dialéticos “são os
que, partindo de opiniões de aceitação geral, deduzem visando estabelecer uma con-
tradição” (165b1, 5, p. 548). Os examinacionais “são os que, baseados em opiniões
sustentadas pelo respondente e necessariamente conhecidos de quem reivindica co-
nhecimento da disciplina envolvida” (165b1, 5, p. 548). E, por fim, os contenciosos
“são os que deduzem ou parecem deduzir a partir de opiniões que parecem ser geral-
mente aceitas, mas não o são realmente” (165b1, 5, p. 548).
Considerando os tipos de argumentos, para Aristóteles os que polemizam,
ou gostam de polemizar, evidenciam em seu agir algumas finalidades que elen-
cou como: refutação, falácia, opinião extraordinária ou paradoxo, o solecismo e
a redução do interlocutor à redundância. A primeira etapa é refutar. Mas o que
significa refutar? O próprio filósofo nos diz:
2 cf. Refutações Sofísticas tradução de Edson Bini, da Edipro, nota 663, p. 547.
3 cf. Refutações Sofísticas, tradução Edson Bini, da Edipro, nota 664, p. 547.

capítulo 5 • 104
Uma refutação é uma contradição de um mesmo predicado, não de um nome, mas
de uma coisa, e não de um nome sinônimo, mas de um nome idêntico, baseado nas
premissas dadas e resultado necessariamente delas (o ponto original em pauta não
sendo concluído) no mesmo aspecto, relação, modo e tempo (RS, V, 20-25, p. 553).

Assim, os que polemizam incialmente refutam, depois mostram que o inter-


locutor está mentindo, proferindo uma falácia ou sofisma, em seguida o conduz
ao paradoxo. Depois o induz a cometer o solecismo que é fazer o interlocutor
discursar em termos rudimentares, de forma inculta e, por fim, levá-lo a repetir a
mesma coisa que já disse, a redundância (RS, III, 5-20, p. 548).
Em filosofia, precisamos estar conscientes de que temos a tarefa de construir
bons argumentos. E uma estratégia recomendada é ter o hábito de leitura e ex-
pressar as ideias de maneira clara e distinta. É fato que quando pensamos, nem
sempre nossas ideias são claras, mas o trabalho do rigor conceitual, a constante
pesquisa e a perseverança, colaboram para o aperfeiçoamento de nossa forma de
pensar (GENSLER, 2016).
Para se argumentar contra uma teoria filosófica, por exemplo, é recomen-
dável conhecê-la o suficiente para encontrar em seu interior alguma implicação
equivocada. Só poderemos argumentar se há um conhecimento construído pre-
viamente, do contrário, cairemos em falácias do tipo ‘não li e não gostei’. Um bom
argumento deve ser relevante, deve focalizar a questão que merece ser apreciada
(GENSLER, 2016). Um bom argumento é válido porque suas premissas e con-
clusão são verdadeiras.
Existem pessoas que não estão abertas a debater por meio de argumentos ra-
cionais, preferem seguir a emoção, há quem ainda acredite que o planeta terra
não é redondo e que o sol é um pequeno planeta que gira ao seu redor. Tudo
bem. Todavia, “o estudo da lógica pode nos ajudar a defendermo-nos de argu-
mentos ruins” (GENSLER, 2016, p. 74). Pode nos auxiliar na identificação das
falácias que significam, acima de tudo, um erro de pensamento com finalida-
de enganadora.
A lógica é o estudo para o correto racionar, por isso, analisa e avalia argumen-
tos. E o estudo das falácias é o estudo das inconsistências, do erro do pensamento
que evidencia que nosso raciocinar não está no caminho certo e, muitas visões
não avaliadas, podem nos conduzir a caminhos incoerentes. Lógica é, sobretudo,
coerência.

capítulo 5 • 105
•  Formais: conforme padrão de
inferência;
Falácias
•  Não formais: erros de raciocínio por
relevância ou ambiguidade.

TIPOS DE ARGUMENTOS
Argumentum ad baculum Uso da força ou agressividade.

Ofende-se a pessoa e focaliza o


Argumentum ad hominem
argumento.

Desconhecimento, ignorância sobre o


Argumentum ad ignorantiam
assunto.

Argumentum ad misericordiam Apela-se à piedade de alguém.

Argumentum ad populum Apela-se ao povo.

Argumento de autoridade pelo reconhe-


Argumentum ad verecundiam cimento e competência de determinada
pessoa numa área de saber.

Aplica-se uma regra geral a um caso


Por acidente
particular.

Se usa como premissa a própria conclu-


Petitio principii são. Toma-se como verdade o que deve-
ria ser provado.

O argumento é dirigido para provar uma


Ignoratio elenchi
conclusão diferente.

Falta de clareza, conceitos plurívocos


Por ambiguidade para interpretação equivocada. Podem
ser gramaticais ou anfibológicos.

Falso raciocínio com a intenção


de enganar.
Por composição
Raciocínio falso sem a intenção de
enganar.

capítulo 5 • 106
NATUREZA DO ERRO
Racionar mal, apoiado em dados corretos.

Raciocinar bem, apoiado em dados incorretos.

Raciocinar mal, apoiado em dados incorretos.

ATIVIDADE
01. Identifique as falácias nos exemplos a seguir. Para tanto utilize a seguinte nomenclatura
para os argumentos: aa: apelo à autoridade; ap: apelo ao povo; ci: circular; ah: ad hominem;
ab: ambíguos (adaptado GENSLER, 2016).
a) A carta de recomendação menciona: “Não devo louvar os hábitos de estudo em demasia”.
b) Especialistas demonstraram na primeira década do século 21 que o Iraque estava de-
senvolvendo armas de destruição em massa; então isso deve ser verdade.
c) Não deveríamos escutar quando este republicano argumenta sobre diminuição de im-
postos para os ricos; afinal sua família era muito rica.
d) Colar nas provas não pode ser errado; afinal, todos o fazem.
e) Deus deve ter criado o mundo, já que com certeza alguém deve tê-lo criado.

REFLEXÃO
Neste capítulo, conhecemos o que os lógicos designam como falácias, ou seja, erro de
raciocínio e seus tipos. Investigamos também a origem desse estudo em Aristóteles no texto
Refutações Sofísticas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARANHA, Maria Lucia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando. 3.ed. São Paulo:
Moderna, 2003.
ARISTÓTELES. Órganon. Categorias. Da interpretação. Analíticos Anteriores. Analíticos Posteriores.
Tópicos. Refutações Sofísticas. Tradução Edson Bini. 2. ed. São Paulo: EDIPRO, 2010.

capítulo 5 • 107
CHAUI, Marilena. Introdução à história da filosofia. Dos pré-socráticos a Aristóteles. 2. ed. São
Paulo: Brasiliense, 1994.
COPI, Irving M. Introdução à lógica. Tradução de Álvares Cabral. São Paulo: Mestre Jou, 1978.
GARCIA, Othon M. Comunicação em prosa moderna. 13.ed. Rio de Janeiro: FGV, 1986.
GENSLER, Harry, J. Introdução à lógica. São Paulo: Paulus, 2016.
PLATÃO. Apologia de Sócrates. Sobre a piedade. Sobre o dever. Porto Alegre: L&PM, 2012.
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia. Antiguidade e Idade Média. São Paulo:
Paulus, 1990.
SHAKESPEARE, W. J Obra Completa. Júlio Cesar. Rio de Janeiro: GB Companhia Aguilar, 1969. v. 1.
VAN ACKER, Leonardo. Elementos de lógica clássica formal e material. São Paulo: UCSP, 1971.

GABARITO
Capítulo 1

01. Identificamos que estudar lógica traz algumas vantagens, a saber: ajuda a organizar as
ideias, a investigar melhor os argumentos próprios e alheios, a raciocinar melhor diante dos
desafios do cotidiano, evitar os erros de raciocínio na leitura dos livros em geral, dentre ou-
tras possibilidades numa sociedade complexa da tecnologia e da informação em que somos
mediados pela linguagem.

02. As letras (a) e (b) apresentam uma forma lógica válida porque a lógica estuda a forma
do raciocínio. Todavia, Pedro pode estar em outros países da América Latina e o fato de
Carlos ter contas a pagar não o torna uma pessoa rica. O raciocínio seguiu um procedimento
correto, mas a conclusão a partir das premissas não é verdadeira. Na letra (c) temos um
procedimento correto e uma conclusão verdadeira, pois os cachorros, mamíferos, carnívoros
e domesticáveis são latidores.

Capítulo 2

01. Na letra (a) Todo médico é formado em medicina. A afirmativa está errada, porque a pro-
posição contém a cópula lógica categórica afirmativa (é). Na letra (b) Todos os seres humanos
são mortais. Está correta pois trata-se de uma proposição com quantidade e do tipo universal

capítulo 5 • 108
ou total (Todos). Na letra (c) É contingente algum brasileiro ser professor. Está errada porque
nesta frase temos uma proposição modal contingente (É contingente...). Na letra (d) Algum ser
humano é engenheiro. Está correta porque temos uma proposição com quantidade particular
que menciona apenas alguns e envolve quantidade. A letra (e) O brasileiro é hospitaleiro. Está
errada porque na frase encontramos uma proposição singular (o brasileiro) e indefinida. Na
letra (f) Se a criança está na escola, não está em casa. Está correta, porque nesta frase identi-
ficamos uma proposição hipotética conjuntiva que é a situação em que a cópula hipotética traz
um sentido que nega que duas proposições podem ser verdadeiras simultaneamente.

02. Na letra (a) encontramos uma proposição particular afirmativa em oposição a uma par-
ticular negativa, logo temos uma oposição por subcontrariedade. Na letra (b) temos uma
posição em grau máximo e evidente expresso numa cópula afirmativa oposta a uma negativa.
Na letra (C) temos uma oposição entre proposições universais por contrariedade.

03. Na letra (a) temos um modelo de silogismo indutivo estatístico amostral que poderá ser
forte e confiável, sendo o argumento provável. Na letra (b) um silogismo dedutivo em que as
premissas conduzem necessariamente à conclusão que poderá ser válida e correta, sendo o
argumento correto.

Capítulo 3

01. A ordem da correlação é 2 – 1 – 3.

02.

P Q (P . Q) P B (P→ B) P B (P ↔ B)
V V V F F V V V V

V F F F V V V F F

F V F V F F F V F

F F F V V V F F V

capítulo 5 • 109
03.

CONECTIVO FORMA DO
ENUNCIADOS SIGNIFICADO
LÓGICO ENUNCIADO
Negação Não-A ~ ( til) ~A
. (ponto) ou ∧ (vê
Conjuntivo AeB (A . B)
invertido)
Disjuntivo
A e/ou B v (vê) (A v B)
Inclusivo
Disjuntivo
A ou B vv (duas vezes o vê) (A vv B)
exclusivo
Condicional Se A, então B. → (implicação) (A → B)
Bicondicional A se e somente se B ↔ (equivalência) (A ↔ B)

Capítulo 4

01. a) Hp; b) Md; c) Bp; d) Fa; e) Mb; f) Mc. A regra é colocar o símbolo da propriedade do
lado esquerdo do símbolo do indivíduo.

02. d, b, a, c.

Capítulo 5

01. (a) ab; (b) aa; (c) ah; (d) ap; (e) ci.

capítulo 5 • 110
ANOTAÇÕES

capítulo 5 • 111
ANOTAÇÕES

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