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Hall reconhece que os os estudos culturais têm sido formados por interrupções na sua
trajetória e a na sua missão. O que é estável nos estudos culturais, segundo Hall, é a
compreensão de “conhecimento conjuntural” de Gramsci a que consiste no
conhecimento situado no e aplicado a circunstâncias históricas ou politicas imediatas;
consciência de que uma estrutura de representações que formam o alfabeto e a
gramatica de uma cultura são instrumentos de poder social requerendo assim, uma
examinação critica e ativista.
Stuart Hall pretende, neste texto, absolver-se das representações que carrega consigo
afirmando que carrega consigo pelo menos três: de falar:
1. Pela comunidade negra inteira
2. Pelas politicas britânicas
3. Pelos estudos culturais
Stuart afirma que pretende falar de forma autobiográfica abrindo espaço para
reflexões do estudo cultural como uma prática na sua posição institucional e no seu
projeto e, de forma a atingir o que pretende, irá referir-se a certos legados e momentos
teóricos.
O primeiro traço que Stuart pretende desconstruir tem a ver com o facto de que os
estudos culturais britânicos tornaram-se uma prática critica marxista. Stuart entrou no
ramos dos estudos culturais através da New Left e afirma que esta sempre considerou
o Marxismo como um problema, um perigo e não uma solução. Os estudos culturais
não foram desde o inicio orgulhosamente influenciados pelas questões que o
marxismo, como projeto teórico, colocava em cima da mesa, por assim dizer. Estas
questões seriam questões de poder; questões de classe, exploração; de alcance global
e história. Estas questões centrais de grande importância são o que se entende por
trabalhar a uma distância gritante do marxismo, trabalhando no marxismo,
trabalhando contra o marxismo, trabalhando com ele, trabalhando para tentar
desenvolver o marxismo. Nunca houve um momento anterior em que os estudos
culturais e o marxismo representassem uma teoria perfeita. As coisas de que o
marxismo não falava ou parecia não entender eram, precisamente, o objeto
privilegiado dos estudos culturais: a cultura, ideologia, língua, o simbolismo. Isto para
afirmar que o encontro entre os estudos culturais britânicos e o marxismos deve ser
entendido, primeiramente, como o combate para um problema. Como tal, a noção de
que o marxismo e os estudos culturais reconheceram uma afinidade imediata, uniram-
se num momento de síntese e que posteriormente se deu o momento fundador dos
estudos culturais é completamente errada.
Stuart menciona Gramsci como alguém que muito fez pelos estudos culturais e afirma
que há algo que ele quer transmitir dos seus ensinamos que consiste, de acordo com
Stuart, na necessidade de refletir sobre a nossa posição institucional e a nossa prática
intelectual. Inúmeras pessoas nos estudos culturais tentaram descrever o que
pensavam que estavam a fazer, tendo em conta o seu trabalho intelectual. A expressão
de Gramsci “ intelectual orgânico” foi a que lhe pareceu mais próxima para definir o
que estavam a fazer. No entanto, há um problema com esta expressão que aparenta
alinhar os intelectuais com o surgimento de um movimento histórico e, na altura e até
mesmo nos dias de hoje, onde o começo do movimento histórico pode ser encontrado.
Assim sendo, eles seriam intelectuais orgânicos sem nenhum ponto orgânico de
referência.
Um segundo aspeto na definição de intelectual de Gramsci é que estes “intelectuais
orgânicos” devem trabalhar em duas frentes de uma só vez e ao mesmo tempo. Por
um lado, têm que estar à frente/em primeiro plano no trabalho intelectual teórico
porque, como Gramsci afirma, é seu dever saber mais do que os intelectuais
tradicionais sabem, é necessário genuinamente conhecer e saber. E, por outro lado
que é igualmente crucial, os “intelectuais orgânicos” não poderiam guardar esse
conhecimento só para si tendo a obrigação de passar, transmitir essas ideias,
conhecimentos para aqueles que não pertenciam, profissionalmente, no campo da
classe intelectual.
Stuart quis também olhar para dois outros momentos teóricos nos estudos culturais
que interromperam a já interrompida história da sua formação. Diversas vezes, o
denominado desenrolar dos estudos culturais foi interrompido por uma pausa, por
reais ruturas, por forças exteriores. Estas interrupções, por assim dizer, de novas ideias
que surgiram do que parecia ser a acumulação da pratica do trabalho. Stuart aponta
que houveram pelo menos duas interrupções no trabalho do Centro de Estudos
Culturais Contemporâneos: o primeiro foi o feminismo e o segundo envolvia questões
de raça. Para os estudos culturais, a intervenção do feminismo foi especifico e
decisivo. Reorganizou o campo de formas extremamente concretas. Primeiro, com a
abertura da questão da pessoa como politica e as suas consequências por mudar o
objeto de estudo nos estudos culturais foi completamente revolucionaria numa forma
teórica e pratica. Segundo, a radical expansão da noção de poder que tinha, até aos
dias, sido muito desenvolvida ao olhar da noção do publico, do domínio publico, com
o efeito de que não se poderia usar o termo poder. Em terceiro lugar, a centralização
de questões de género e sexualidade para a compreensão de poder em si. Em quarto,
a abertura de inúmeras questões que se considerava terem sido abolidas em torno do
subjetivo e do sujeito, que apresenta essas questões no centro dos estudos culturais
como prática teórica. Já em quinto trata-se da reabertura da barreira fechada entre a
teoria social e a teoria do inconsciente. Quanto à questão de raça, Stuart não se
desenvolve.
Stuart quer se agarrar à noção, que considera estar implícita em ambos os exemplos
dados, que os movimentos provocam momentos teóricos. E as conjunturas históricas
insistem em teorias: são momentos reais na evolução de teoria.
Aleida começa por afirmar que os estudos culturais, ao longo dos anos, se
desenvolveram numa disciplina acadêmica bastante unificada com um conjunto de
autoridades canonizadas, terminologias e textos lidos, discutidos e utilizados em todo
o mundo. Posteriormente, diz que o seu objetivo neste trabalho é o de iluminar um
pouco no que diz respeito aos desenvolvimentos históricos dos estudos culturais. Na
sua primeira parte do trabalho ela pretende enfatizar as diferenças locais e históricas
no surgimento de estudos culturais e analisar as circunstâncias históricas que
produziram e moldaram as suas diferentes orientações.
A sua primeira tese consiste, portanto, na ideia de que os estudos culturais não são só
uma mistura global de teorias e terminologias mas, visto de um perspetiva histórica,
revela ligações com problemas e histórias locais especificas.
Mencionando o surgimento dos estudos culturais britânicos, Aleida deixa claro que o
surgimento deste novo movimento teve tanto um impulso negativo como positivo.
Focando-se no negativo afirma que os estudos culturais britânicos estavam
direcionados contra o conceito de cultura tal como fora consagrado, até então, nas
humanidades. Cultura, de acordo com os seus standards, era uma empresa para um
dado grupo de pessoas capazes de manter o vigor da cultura e da vida cultural. Esse
conceito de cultura estreito, conservador e elitista foi desafiado por uma nova geração
de estudiosos literários que estudavam textos de Marx, Foucault e Gramsci. Para eles,
a cultura não foi consagrada por herança nacional, ao invés, era uma luta contínua
pelo poder que o mundo contemporâneo testemunhava, uma vez que sofreu uma
rápida transformação na cultura de massa. O surgimento dos estudos culturais foi a
resposta para pressões sociais e politicas imediatas. O seu impulso positivo foi a visão
de cultura e uma vocação histórica que Hall define como “A vocação cultural dos
estudos culturais tem oferecido a chance às pessoas para compreender o que se está a
passar e, especialmente, fornecer formas de pensamento, estratégias de sobrevivência
e recursos para resistência[…]”.
Segundo Aleida, há ainda uma outro diferença. A sua terceira tese defende que os
Kulturwissenschanften resolvem-se em torno de um conceito central de memória que,
tanto quanto ela pode ver, está a faltar nos estudos culturais do Reino Unido e apenas
marginalmente presente nos Estados Unidos. E, mais uma vez, essa diferença só pode
ser contabilizada se analisarmos os desenvolvimentos históricos. Ao contrário dos
outros dois países, a Alemanha não teve uma tradição continua de
conhecimento/cultura mas sim uma que tinha sido, durante 12 anos, violentamente
imposta pelo regime Nazi que só tiveram fim em 1945 afetando as tradições
intelectuais e culturais mas, de qualquer forma, estas tradições não foram
imediatamente restauradas após a guerra.
Na ultima secção do seu texto, Aleida pretende apresentar um exemplo concreto que
demonstre como os estudos literários podem ser prolongados/interligados com os
estudos culturais. Para tal, escolhe uma cena do livro de Aphra Behn’s Oroonko or
The Royal Slave que publicou em Londres, em 1688, como A True History. Nas linhas
que se advém Aleida faz um resume da cena colocando alguns exemplos da mesma.
O seu objetivo consiste, portanto, na clara demonstração das barreiras
comunicacionais interculturais e a designação e diferenciação dos termos shame-
culture e guilt-culture . Honra seria a palavra-chave de shame-culture e a alma estaria
relacionada com guilt-culture. Aleida escolheu este texto também para demonstrar
como os textos literários não só estão estão relacionados com outros textos literários
mas, também, que podem ser estudos no âmbito dos estudos culturais. É de interesse
dos estudos culturais desenvolver esta competência especial para práticas simbólicas,
uma competência que pode nos ajudar a tornar-se mais autorreflexivos em relação à
nossa própria cultura e a desenvolver uma maior consciência sobre os links que
existem entre a construção de símbolos e o estabelecimento de relações de poder.
Walter Benjamin: The Work of Art in the age of its technological reproduction
Bourdieu está, neste texto, a descrever o mundo literário, ou como ele chama, o campo
literário da literatura francesa em meados do século XIX. Uma maneira de pensar
sobre o projeto de Boudieu é dizer que ele quer entender a lógica e estrutura
institucional em que emergiu a autonomia literária. Ao fazê-lo, Bourdieu apresenta
uma nova teoria da produção cultural. Seu principal passo é insistir que existe um
campo literário independente dos outros campos sociais, que funciona de acordo com
suas próprias lógicas, ou seja, não está totalmente determinado pela lógica do
mercado. Os escritores assumem assim uma posição dentro deste campo que eles não
controlam. No período em que Bourdieu estava preocupado com o campo literário
francês este foi dividido em três posições principais: arte social, arte burguesa e arte
por causa da arte. Ele argumenta que a posição em que os escritores se encontraram
dependia em grande parte da posição de classe e finança que trouxeram para eles para
a vocação. Argumenta, também, que aqueles com capital mais cultural e financial
tendem a assumir a posição de arte por arte, o que lhes permitiu realizar as suas
fantasias de viver livremente, renunciando aos ganhos mais simples e mais
materialistas que controlam o resto do campo literário.
Bourdieu tem sido importante para os estudos culturais porque, para ele, a produção
cultural não é nem a expressão de um povo ou de uma nação, nem a loja do melhor
que foi pensado e falado, nem existe em relação à ideologia, nem o faz possuir a
possibilidade de emancipação da forma da mercadoria. Em vez disso, tem funções
particulares e leis particulares que podem ser explicadas de forma racionalizada e, se
bem entendidas, desmistificam a velha oposição entre "alto" e "baixo", o que significa
que a arte elevada não possui mais valor inerente do que outras formas da produção
cultural. Depois de Bourdieu, a cultura da arte elevada parece radicalmente reduzida,
um resultado que pode tanto ser celebrado ou rejeitado.
Bourdieu começa seu texto definindo o que é o campo. Para ele, o campo é um
universo social separado que tem suas próprias leis de funcionamento independentes
das políticas e da economia. A existência do escritor, como fato e como valor, é
inseparável da existência do campo literário como um universo autônomo dotado de
princípios específicos de avaliação de práticas e obras. Ele diz que, para entender
Flaubert ou Baudelair ou qualquer escritor, é necessário entender o que o status do
escritor consiste no momento considerado; isto é, mais precisamente, as condições
sociais da possibilidade dessa função social, desta personagem social. De fato, a
invenção do escritor, no sentido moderno do termo, é inseparável da invenção
progressiva de um jogo social particular, que ele designa o campo literário e que se
constitui como estabelece sua autonomia, que é dizer, suas leis específicas de
funcionamento dentro do campo de poder.
Para dar uma ideia preliminar sobre o que ele quer dizer com isso, Bourdieu usa a
antiga noção de "República das Letras" porque tem várias propriedades fundamentais
do campo, como: a guerra de todos é a todos, isto é, a competição universal, a
fechando o campo sobre si mesmo, o que faz com que ele seja seu próprio mercado e
faz com que cada um dos produtores busque seus clientes entre seus concorrentes e a
ambiguidade. Mas ainda é necessário, como afirma Bourdieu, tornar a definição mais
precisa. O campo literário é um universo social independente com suas próprias leis
de funcionamento, suas relações específicas de força, seus dominantes e seus
dominados, e assim por diante. De outro modo, falar de campo é lembrar que as obras
literárias são produzidas em um universo social particular dotado de instituições
particulares e obedecendo a leis específicas que relacionam os trabalhos diretamente
às condições econômicas e sociais do momento. Este campo é um universo social
variável onde, de acordo com suas leis particulares, acumula uma forma particular de
capital e onde as relações de forca de um tipo particular são exercidas. Este universo
é o lugar de lutas inteiramente específicas, nomeadamente no que se refere à questão
de saber quem é parte do universo, que é um verdadeiro escritor e quem não é. esse
universo social autônomo funciona como um prisma que refuta toda determinação
externa: eventos demográficos, econômicos ou políticos são sempre retransmitidos de
acordo com a lógica específica do campo, e é por esse intermediário que atuam na
lógica do desenvolvimento de obras.
De acordo com Bourdieu, conhecer Flaubert, para entender o seu trabalho, é para
entender, antes de tudo, o que é este universo social inteiramente específico. é
entender, em primeiro lugar, como é definido em relação ao campo do poder e, em
particular, em relação à lei fundamental deste universo, que é a economia e o poder.
O campo literário é o mundo econômico invertido; isto é, a lei fundamental deste
universo específico, que estabelece uma correlação negativa entre sucesso temporal e
valor artístico apropriado, é o inverso da lei da troca econômica. O campo artístico é
um universo de crenças segundo Bourdieu. a produção cultural distingue-se da
produção dos objetos mais comuns na medida em que deve produzir não só o objeto
em sua materialidade, mas também o valor desse objeto, isto é, o reconhecimento da
legitimidade artística. Em segundo lugar, esse campo autônomo ocupa uma posição
dominada no campo. Aqueles que entram neste jogo social completamente particular
participam da dominação, mas como agentes dominados: não são dominantes, simples
e simples, nem são dominados (como eles querem acreditar em certos momentos de
sua história). Em vez disso, ocupam uma posição dominada na classe dominante, são
proprietários de uma forma dominada de poder no interior da esfera de poder. Esta
posição estruturalmente contraditória é absolutamente crucial para diminuir as
posições tomadas.
Escritores e artistas são colocados em uma posição precária que os destina a uma
espécie de objetivo, portanto subjetivo, indeterminado. o escritor - ou o intelectual -
é encarregado de um duplo status, que é um pouco suspeito: como possuidor de um
poder fraco dominado, ele é obrigado a situar-se em algum lugar entre os dois papéis
representados. Significativamente, todos os inquéritos estatísticos mostram que as
propriedades sociais dos agentes, assim suas disposições, correspondem às
propriedades sociais das posições que ocupam. Os campos literário e artístico atraem
uma forte proporção de indivíduos que possuem todas as propriedades da classe
dominante "minues one": dinheiro. O escritor é o "parente pobre", o "idiota da família
burguesa". A ambiguidade estrutural de sua posição no campo do poder leva
escritores e pintores, há "burgueses sem dinheiro" nas palavras de Pissarro, para
manter uma relação ambivalente com a classe dominante com o poder do poder,
aqueles a quem eles chamam de "burgueses" também como com os dominados, as
"pessoas". De forma semelhante, eles formam uma imagem ambígua de sua própria
posição no espaço social e de sua função social: isso explica o fato de que eles estão
sujeitos a grandes flutuações, notadamente na área da política. As características das
posições ocupadas por intelectuais e artistas no campo do poder podem ser
especificadas em função das posições que ocupam no campo literário ou artístico. Em
outras palavras, a posição do campo literário dentro do campo de poder afeta tudo o
que ocorre dentro do último. Para entender o que os artistas podem dizer ou fazer, é
preciso sempre ter em conta a sua pertença a um universo dominado e a maior ou
menor distância deste universo da classe dominante, uma distância deficiente que
varia de diferentes períodos e sociedades e também, em qualquer momento, com
várias posições dentro do campo literário. Um dos grandes princípios da diferenciação
dentro do campo literário, de fato, reside na relação com a posição estrutural do campo
e, portanto, com o escritor, favorecem posições de posições diferentes no campo
literário; ou se preferir, nas diferentes formas de realizar essa relação fundamental,
isto é, nas relações diferenciais com o poder econômico ou político, e com a fração
dominante, que estão associadas a essas diferentes posições.
"Arte social", "arte pelo amor da arte" e "arte burguesa", deve ser entendida primeiro
como tantas formas particulares da relação genérica que une os escritores, dominados-
dominantes, dominantes-dominantes. Os partidários do arte burguês, que escrevem o
principal para o teatro, estão intimamente ligados à classe dominante pelo estilo de
vida e pelo sistema de valores, e eles recebem, para além dos significativos benefícios
materiais, todos os símbolos da honra burguesa. Em pintura, o público burguês é
apresentado com uma versão atenuada, suavizada e diluída do romantismo -
celebrando o casamento, boa gestão da propriedade, a colocação honorável de
crianças na vida. assim, os defensores da arte por causa da arte ocupam uma posição
central mas estruturalmente ambígua no campo que os destina a sentir com
intensidade duplicada as contradições inerentes à posição ambígua do campo da
produção cultural no campo do poder. Sua posição no campo obriga-os a pensar em
si mesmos, tanto no plano estético como político, em oposição aos artistas burgueses.
Esses conflitos são sentidos sucessivamente ou simultaneamente, de acordo com o
clima político. como resultado, os membros deste grupo são levados a formar imagens
contraditórias dos grupos em que se opõem e de si mesmos. dividindo o mundo social
de acordo com critérios que são, antes de tudo, estéticos, um processo que os leva a
lançar os burgueses, que estão fechados à arte e o povo preso pelos problemas
materiais da saída cotidiana, na mesma classe desprezada, eles podem se identificar
simultaneamente ou sucessivamente com uma classe trabalhadora glorificada ou com
a nova aristocracia do espírito. quando o burguês ameaça os boêmios, eles podem ser
incitados pelo seu desgosto pelo artista burguês ou burguês para proclamar sua
solidariedade com todos aqueles que a brutalidade dos interesses e preconceitos
burgueses rejeitam ou excluem: o boêmio, o jovem artista, o prostituta, etc. O seu
disfarce para os burgueses, a quem eles rejeitam tanto como ele o rejeita, é alimentado
no campo intelectual, o primeiro horizonte de conflitos estéticos e políticos, pelo
desgosto pelo artista burguês, aquele concorrente desleal que se assegura sucesso
imediato e honra burguesa negando-se como escritor. Da mesma forma, os partidários
da arte por causa da arte, para o proletariado literário que estão com ciúmes de seu
sucesso, inspiram a imagem que eles têm da "população".
Essa dupla rejeição dos dois polos opostos do espaço social e do campo literário, a
rejeição do burguês e do povo, ao mesmo tempo que rejeitam a arte burguesa e a arte
social, manifestam-se continuamente no domínio puramente literário do estilo. A
tarefa de escrever é experimentada como uma luta permanente contra dois perigos
opostos. Flaubert, em seus esforços para distanciar-se dos dois polos do campo
literário, e, por extensão do campo social, ele vem recusar qualquer marca, qualquer
sinal distintivo que possa significar apoio, ou mesmo adesão. a necessidade de
distanciar-se de todos os tipos sociais vai de mãos dadas com a vontade de recusar
todo tipo de referência às expectativas do público. a revolução simbólica através da
qual os artistas se livram dos demãos burgueses e se definem como os únicos mestres
de sua arte, ao se recusar a reconhecer qualquer mestre que não a sua arte - este é o
próprio significado da expressão arte por causa da arte - tem o efeito de eliminar o
mercado. o artista triunfa sobre os burgueses na luta pela imposição de critérios
estéticos, mas, ao mesmo tempo, o rejeita como um inventor potencial. à medida que
a autonomia da produção cultural aumenta, o mesmo tempo é o tempo necessário para
que as obras imponham as normas de perceção que trazem. O intervalo de tempo entre
oferta e demanda tende a tornar-se uma característica estrutural do campo de produção
restrito, um mundo econômico muito especial em que os únicos clientes dos
produtores tendem a ser seus próprios concorrentes. em contraste com os artistas
burgueses assegurados aos clientes imediatos, os partidários da arte por causa da arte,
obrigados a produzir seu próprio mercado, estão destinados a uma gratificação
econômica diferida. No limite, a arte pura, como o amor puro, não é feita para ser
consumida. O sucesso imediato é muitas vezes visto como a marca da inferioridade
intelectual. estamos realmente confrontados com um mundo econômico reverso, um
jogo onde o perdedor ganha: o artista pode triunfar no terreno simbólico apenas na
medida em que ele perde no econômico e vice-versa. o artista inventa-se no
sofrimento, como diz Bourdieu, em revolta, contra os burgueses, contra o dinheiro,
inventando um mundo separado onde as leis da necessidade econômica são suspensas
e onde o valor não é medido pelo sucesso comercial.
Bourdieu tentou mostrar que os partidários da arte pela arte estavam predispostos à
sua posição no campo intelectual de experimentar e expressar de uma maneira
particularmente aguda as contradições inerentes à posição de escritores e artistas no
campo do poder. Da mesma forma, ele acreditava que Flaubert estava predisposto por
todo um conjunto de propriedades a expressar de forma exemplar as potencialidades
inscritas no campo da arte pela arte. Algumas dessas características são
compartilhadas por todo o grupo, por exemplo, o contexto social e educacional como
cada um deles estudou direito porque seu pai os queria em uma posição alta da
sociedade.
Nesta posição dentro do espaço social do que era o tempo chamado les capacités -
profissões liberais - pode-se ver o princípio de afinidades particulares entre escritores
que emanam dessa posição e arte pela arte que ocupa, como vimos, uma posição
central em o campo literário: les capacités ocupam uma posição intermediária entre
o poder econômico e o prestígio intelectual. a relação objetiva estabelecida entre as
capacidades e as outras frações da classe dominante sem dúvida orientou as
disposições subconscientes e as representações cuscuz da família de Flaubert e do
próprio Flaubert.
Bourdieu foi diretamente ao espaço em que estava inserido, tentou abrir a caixa maior,
o campo do poder, para descobrir do que se tratava o escritor, o que Flaubert era como
um escritor definido por uma posição predeterminada nesse espaço. Então, ao abrir a
segunda caixa, ele tentou reconstituir essa dominada-dominante no campo literário,
onde Bourdieu encontrou uma estrutura homóloga à do campo do poder: de um lado
os artistas burgueses, dominados-dominantes com ênfase na dominantes, e do outro
lado a arte social, dominada-dominantes com ênfase na dominada, entre os dois, a arte
pela arte e Flaubert, dominada-dominantes sem ênfase em nenhum dos lados, instável
entre os dois polos.
Assim, o status do escritor dedicado à arte pura, situado a igual distância das duas
posições polares, também aparece como um meio de manter a recusa de pertencer,
manter e ser mantido.
Na primeira instância do ensaio, percebemos que ele está no topo do World Trade
Center, olhando para a cidade. De Certeau afirma que Nova York nunca aprendeu a
arte de envelhecer jogando em todos os seus passados. Seu presente se inventa, de
hora em hora, no ato de jogar fora suas conquistas e desafiar o futuro. É uma cidade
composta de lugares paroxísticos em relevos monumentais e o espectador pode ler
nele um universo que está constantemente explodindo.
A história dos pedestres começa no nível do solo, com pegadas; eles são uma miríade
mas não compõem uma série; sua massa fervilhante é uma coleção inumerável de
singularidades; seus caminhos entrelaçados dão forma a espaços. É verdade que as
operações de caminhar podem ser traçadas nos mapas da cidade, de modo a
transcrever seus caminhos e suas trajetórias. Pesquisas de rotas perdem o que foi: o
próprio ato de passar. A operação de caminhar, perambular ou "vitrine" é
transformada em pontos que traçam uma linha totalizante e reversível no mapa. Eles
nos permitem apreender apenas uma relíquia colocada no nowhen de uma superfície
de projeção. O traço deixado para trás é substituído pela prática. Exibe a propriedade
que o sistema geográfico tem de transformar a ação em legibilidade, mas, ao fazê-lo,
faz esquecer o modo de estar no mundo.
A caminhada dos passageiros oferece uma série de voltas e desvios que podem ser
comparados a voltas de frases ou figuras estilísticas. A arte de transformar fases
encontra um equivalente na arte de compor um caminho. Esta arte implica e combina
estilos e usos. O estilo especifica uma "estrutura linguística que se manifesta no nível
simbólico (...) e o modo fundamental de estar do indivíduo no mundo"; conota um
singular. O uso define o fenômeno social através do qual um sistema de comunicação
se manifesta no fato real; Refere-se a uma norma. Estilo e uso ambos têm a ver com
uma maneira de operar (de falar, andar, etc.).
Ruas numeradas e números de ruas orientam o campo magnético das trajetórias assim
como podem assombrar os sonhos. De Certeau dá o exemplo de um amigo que
inconscientemente reprime as ruas que têm números e, por esse fato, transmite sua
ordem ou identidades da mesma forma que convocações e classificações; Em vez
disso, ela segue por caminhos que não têm nome ou assinatura, mas sua caminhada
ainda é controlada negativamente por nomes próprios. Saint-Pères, Praça Vermelha,
etc., tornam-se disponíveis para os diversos significados dados pelos transeuntes;
separam-se dos lugares que deveriam definir e servem como pontos de encontro
imaginários em itinerários que, como metáforas, determinam por razões estranhas ao
seu valor original, mas podem ser reconhecidas ou não pelos transeuntes. Vinculando
atos e passos, abrindo significados e direções, essas palavras operam em nome de um
esvaziamento e desgaste do papel principal. Eles se tornam espaços liberados que
podem ser ocupados. Eles insinuam outras rotas na ordem funcionalista e histórica do
movimento. Coisas que significam nada ou quase nada, simbolizam os passos dos
caminhantes orientais: nomes que cessaram precisamente de ser apropriados.
Em última análise, como os nomes próprios já são "autoridades locais" ou
"superstições", eles são substituídos por números: no telefone, não se marca mais o
Opera, mas 073. Eles são objeto de uma caça às bruxas, como De Certeau coloca, o
muito lógico da tecnoestrutura. Mas seu extermínio torna a cidade uma ordem
simbólica suspensa. O id da cidade habitável anulado. É a oportunidade que eles
oferecem para armazenar ricos silêncios e histórias, ou melhor, através de sua
capacidade de criar adegas em todos os lugares, as lendas locais. Certamente, andando
e viajando substituto para saídas, para ir embora e voltar, que anteriormente eram
disponibilizados por um corpo de lendas que hoje faltam lugares. Viajar (como andar)
é um substituto para as lendas que costumavam abrir espaço para algo diferente.
Histórias sobre lugares são coisas improvisadas. Eles são compostos com os
escombros do mundo. Os materiais (todos os detalhes retóricos de sua
"manifestação") são fornecidos pelas sobras de nomeações, taxonomias, predicados
heroicos ou cômicos, isto é, por fragmentos de lugares semânticos espalhados. Esses
elementos heterogêneos e até contrários preenchem o homogêneo da história. As
coisas extras e outras se inserem na estrutura aceita, a ordem imposta. Assim, tem-se
a própria relação entre as práticas espaciais e a ordem construída. A superfície dessa
ordem está em toda parte perfurada e rasgada por elipses, desvios e vazamentos de
significado: é uma ordem de peneira.