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Política

Maternidade e
aborto: breve
apontamento
jusfilosófico
por Filipe Rosa Chagas Francisco | jun 25, 2018 | Atualidades, Blog,
Conservadorismo, Direito, Política | 0 Comments

Definir termos, princípios e perspetivas é fundamental para tratar

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de qualquer assunto de forma relevante, mesmo que tal
relevância seja em um sítio eletrônico, que por si, é «informal».
Diante disso, deixo-vos de forma notória que: i) não sou pai; ii)
não sou casado; iii) me posiciono de forma terminantemente
contrária a qualquer tipo de aborto, não se trata de um direito
«da mulher»; iv) aborto e maternidade não são assuntos que
apenas mulheres podem refletir sobre, justamente porque
envolvem «bens básicos autoevidentes» (e sobre esse termo,
retornaremos mais adiante); v) esse texto é a perspetiva de um
jurista; vi) obviamente que nem todos os juristas coadunam
comigo, mas não há assuntos que não existam posições
contrárias; vii) existir posições contrárias, não significa que não
exista uma que seja verdadeira. O próprio fato de existir
divergência entre posições é porque aqueles que labutam em
prol de suas assertivas, acreditam que elas sejam verdadeiras, ou
seja, acreditam numa verdade absoluta, senão seria tolo
confrontarem ideias opostas. A verdade absoluta é daqueles
chicotes que nos açoitam quando tentamos negá-la: afirmamos
que ela absolutamente não pode existir e tal negação reafirma
mais uma vez sua existência; viii) Daí que eu defendo minha
posição como verdadeira. Não o faço por arrogância científica,
mas porque falo de um bem autoevidente; ix) charlatões
politicamente corretos que afirmam ser arrogante quando
alguém assume sua posição como verdadeira, quando ao
fazerem isso, arrogam para si, aquilo que confrontam e caem em
contradição; x) isso não significa que muitos em nome de um
ideal de verdade e justiça falaram e fizeram besteiras, mas não
porque o vício estava na verdade e na justiça, mas na natureza
humana que é falha; xi) desse modo obviamente que posso falhar
e estar errado em algum aspeto de minha construção textual,
entretanto estou plenamente convencido que o «bem básico»

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que irei tratar que é a vida, é autoevidente, portanto, impossível
de negá-lo. Deste modo, qualquer equívoco é culpa minha, o que
não torna o bem destituído do que é em si, na verdade, nada o
pode destituir; xii) finalmente, a presente análise é a análise de
um observador. Alguém que se preocupa com o progresso e bem
da humanidade e que se sente na responsabilidade de escrever,
mesmo sabendo que não sou tão relevante ou que minhas ideias
têm propagação gigantesca (e por favor, não pensem que isso é
algum modo autocomiseração, para que por meio da «pena»,
vocês prestem atenção ao meu texto. Se uma pessoa, somente
uma, ler, e consultar as ideias que aqui escreverei e as fontes
citadas, eu de algum modo cumpri minha missão. Alguém pode
ser um porta-voz bem melhor do que eu).

Nos últimos dias, em consulta popular, os cidadãos Irlandeses


mostraram-se favoráveis a legalização do aborto e também, a
câmara dos deputados da Argentina, aprovou a legalização do
aborto por meio de trâmite legislativo impulsionado por um
movimento de mulheres. Em ambas ocasiões, muitos vibraram
sobre os ideais de progresso, liberalismo e liberdade de escolha,
foram expostos vídeos de pessoas literalmente chorando,
bradando com grande alegria, a maior das atrocidades que
podemos cometer: matar! E não apenas matar – como se não
fosse o suficiente para ser absurdo-, mas matar alguém
totalmente indefeso.

Naturalmente que com tais acontecimentos, outros choraram,


pela ofensa a vida, a dignidade da pessoa humana e o
egocentrismo que nos encontramos, eu fui um destes.

O momento em que nos encontramos, é uma espécie de clímax


do ideal existencialista que circunda a nossa vida. Vivemos em

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uma sociedade «líquida». E não é segredo para ninguém que o
termo «liquidez» é um empréstimo do Sociólogo Zygmunt
Bauman. Gosto tanto deste termo, e por isso estou sempre a usá-
lo, pois eu penso que ele foi cunhado de uma forma e inteligência
incalculável. Bauman, usou o ref., termo para definir o «tempo
sombrio» em que estamos vivendo: Alguns teóricos, chamam de
pós-modernidade, uma modernidade continuada, outros falam
de uma hipermodernidade, e alguns têm se utilizado do termo
pós-verdade. Independente dos conceitos (e aqui desafio você a
pesquisá-los), é notório que vivemos em um tempo de
relativismo, de egoísmo, de relações que se desintegram com
facilidade e na falta de paciência para esperar (qualquer coisa
que for).

E por isso inclusive, que eu concordo com o termo liquidez. O que


melhor poderia descrever uma geração que não é sólida, em que
tudo se evapora rapidamente, que se dilui, mistura e se move tão
depressa? Liquidez é perfeito. E qual a relação entre liquidez e o
assunto que estamos a tratar?

Bauman comenta que buscamos relacionamentos para nos


satisfazer e naturalmente falhamos. Seja qual for o
relacionamento, o amor do nosso tempo não está baseado na
experiência em relação ao outro, mas na experiência em relação
a nós. Por isso, tratamos relacionamentos como «investimentos»,
similares a investimento na bolsa de valores. Investimos nossos
recursos, esperando que o retorno seja rentável, pois buscamos
segurança. Entretanto, num mundo de investidores, qualquer
ação que seja melhor que aquela que estamos investindo e
promete ser mais rentável, vai captar nossa atenção. E se capta a
nossa atenção, por qual motivo não haveria outra que captaria a
atenção daqueles que estão a se relacionar connosco? Por isso,

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tragicamente àqueles que se relacionam pautados em
«investimentos» caem na própria armadilha, nas palavras do
sociólogo[1]:

“Parece que esse dilema não tem uma boa solução. Pior ainda,
que ele está impregnado de um paradoxo do tipo mais
desagradável: não apenas a relação falha em termos da
necessidade que deveria (e esperávamos que pudesse)
cumprir, mas torna essa necessidade ainda mais afrontosa e
exasperante. Você busca o relacionamento na expectativa de
mitigar a insegurança que infestou sua solidão; mas o
tratamento só fez expandir os sintomas, e agora você talvez se
sinta mais inseguro do que antes, ainda que essa “nova e
agravada” insegurança provenha de outras paragens. Se você
pensava que os juros de seu investimento em companhia
seriam pagos na moeda forte da segurança, parece que sua
iniciativa se baseou em falsos pressupostos”.

Ora, isso explicita muito o espírito da nossa época: o «eu» é a


referência de tudo. Um relacionamento que começa a eliminar
toda «liquidez» e construir bases realmente sólidas é aquele em
que ambos não são centrados em si. Da mesma forma que a
preservação da vida de um bebé, é algo que deve ser centrado,
também no outro.

Reducionista? Aparentemente, mas deixa-me explicar: será que já


paramos para pensar na forma como muitos de nós nos
relacionamos com animais, tratando eles como «filhos»? Vocês já
pensaram na quantidade de casais que cada vez menos querem
ter filhos? (Isso claro, sem falar na quantidade de pessoas que
não quer ter relacionamentos sólidos, duráveis e eternos, pois

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arrefecem o espírito da época). A causa é sempre comum:
egocentrismo. E não estou tratando ainda daquelas causas mais
complexas como gravidez por estupro, ou gestação de um bebé
anencéfalo, em todos os casos eu sou obviamente contrário ao
aborto, mas não são apenas nesses casos que os liberais labutam
para autorização, eles afirmam a completa «liberdade de escolha»
da mulher.

É muita mais fácil ter um animal que não nos dá trabalho,


preocupações, que nunca poderá nos machucar emocionalmente
seja com palavras, gestos ou atos e que mesmo após receber
toda a nossa ira de um dia estressante de trabalho, logo em
seguida irá correr atrás de nós a abanar o rabo por estarmos com
um biscoito na mão, do que ter relacionamentos que requeiram
abdicação, amor genuíno e pensar no outro antes de nós (e sim,
fui extremamente redundante nestes três exemplos).

Vamos ousar em dizer o que ninguém tem coragem de dizer:


filhos atrasam a vida, não é mesmo? Filhos impedem o avanço
individualista, egoísta dos pais. Assim como a estabilidade em
relacionamentos, destroem o individualismo. Filhos não são
objetos, são presentes, responsabilidades e compromissos que
destoam de toda e qualquer estrutura individualista, faz os pais
saírem de si e olharem para o outro, deixarem uma estrutura de
vida «líquida», pelo menos nesse relacionamento de
paternidade/maternidade e crescerem em serviço e amor. …

Devemos observar também, que as pressões para legalização do


aborto, de um lado está associada a individualistas, egoístas, que
pensam em si acima de tudo, mas por outro lado, de conclaves da
indústria económica, obviamente também egoísta. Não se
engane: aborto é um mercado, fetos são «objetos valiosos»

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(pesquise sobre a Planned Parenthood) e muitos canalhas sabem
disso! Afinal, os melhores oportunistas são aqueles que querem
vender algo que o espírito da época quer comprar! Mais uma vez,
Bauman[2], é profético:

“Nos dias de hoje, os shopping centers tendem a ser


planejados tendo-se em mente o súbito despertar e a rápida
extinção dos impulsos, e não a incômoda e prolongada criação
e maturação dos desejos. O único desejo que pode (e deve)
ser implantado por meio da visita a um shopping é o de
repetir, vezes e vezes seguidas, o momento estimulante de
“abandonar-se aos impulsos” e permitir que estes comandem
o espetáculo sem que haja um cenário predefinido. A curta
expectativa de vida é o trunfo dos impulsos, dando-lhes uma
vantagem sobre os desejos”.

Dessarte, são iniquidades que se complementam: o


individualismo exacerbado e a coisificação e mercantilização das
pobres vidas destes bebés. Algo semelhante ocorre em templos
de igrejas «cristãs» neopentecostais: Cafetões da teologia da
prosperidade, vendem uma mensagem infiel ao evangelho de
Jesus, reduzindo o criador do universo a posição de um serviçal
que dará todo o bem terreno àqueles que literalmente pagarem
por isso. É uma troca: investimos dinheiro e em retorno Deus
deveria realizar todas as nossas cobiças imundas… Infelizmente
existem «cafetões» da maternidade. …

Obviamente que todo esse individualismo severo e essa


mercantilização da vida humana é revestida de um discurso
aparentemente inofensivo, tentando invocar direitos e garantias,
para demonstrar ser uma «luta» digna. Não nos esqueçamos,

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entretanto, que os próprios direitos humanos, foram usados
como argumento para as maiores barbaridades (Cfr., «A filosofia
dos direitos do homem» de Guy Haarscher – professor da
Universidade Livre de Bruxelas).

E ainda, esses discursos, são incoerentes. Recentemente vi um


vídeo em que uma jovem ironizava, ao dizer, que o que conferia
direitos humanos era o canal do «parto mágico» em que quando
os bebés passavam por ele recebiam tais direitos[3]. Ou seja, ao
sair do corpo da mamãe, o bebé agora é «gente», agora tem
«direitos»…

E também, esses mesmos argumentos libertinos, afirmam que


nós conservadores somos intolerantes porque agimos por
crenças. Sobre isso, é interessante observar alguns
apontamentos de Richard Dawkins[4]:

“Uma razão pela qual eu sou confrontado com a ideia de que a


ciência é no fundo uma religião é porque eu acredito de fato
na evolução, e acredito com uma convicção apaixonada
[grifo nosso]. (…) A ciência é na verdade uma das disciplinas
mais morais e honestas que existem (…) A ciência é capaz de
fornecer uma visão da vida e do universo que, como já
observei, com inspiração poética humilde, supera em muito
quaisquer crenças mutuamente contraditórias e as tradições
recentes e lamentáveis das religiões no mundo. […] Quero
ainda retornar à acusação de que a ciência é apenas uma fé. A
versão mais extrema desta acusação – e que vejo com
frequência tanto em cientistas quanto em racionalistas – é a
acusação de haver um fanatismo e uma intolerância tão
grandes em cientistas e em religiosos. Às vezes pode haver
um pouco de justiça nesta acusação, mas como fanáticos

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intolerantes nós cientistas somos meros amadores. Nós
nos contentamos em discutir com aqueles que discordam
de nossos pontos de vista. Nós não matamos”.

Esquece-se, entretanto, Dawkins[5], que poucas linhas depois, ele


afirma:

“Nós deveríamos, por exemplo, seguir o lobby do direito à


vida, que está inteiramente voltado para a vida humana, e
valorizar mais a vida de um feto humano, que tem as
faculdades de um verme, que a de um chipanzé que pensa e
sente? Qual é a base desta cerca que erguemos em volta do
Homo sapiens – mesmo em volta de uma pequena peça de
tecido fetal”?

Afirmar que crê profundamente na evolução é ter a ciência como


um sistema de crenças e ver comparar um bebé com um verme
ou mero tecido fetal (objeto) é abrir caminho para a morte, o que
em última análise é matar.

Assim, é descabido o argumento que nós conservadores somos


intolerantes e agimos por pressupostos religiosos, na verdade,
qualquer cientista age por pressupostos metafísicos (pretendo
falar disso em futuros textos).

Há tanta repressão e avanço na prática do aborto, porque ele é


contrário a nossa natureza de valoração da vida, principalmente
quando aplicada no contexto mãe/filhos. Sei que é um
argumento sócio/antropológico e sei que há exceções, mas a
maternidade muda a vida de uma mulher. Conheço inúmeros e
inúmeros casos, de mulheres que se transformaram. As mamães

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leitoras podem dar seu contributo quanto a isso. É como o
desabrochar de uma flor.

Com isso não quero dizer: i) que mulheres apenas se tornam


plenas quando se tornam mães; ii) que mulheres sem filhos são
de uma relevância menor que as que têm filhos; iii) que mãe é
apenas aquela que concebe um bebé. Eu quero dizer que a
maternidade desde o seu início, quando da fecundação, depois
na gestação, até o nascimento do bebé e depois criá-lo, esse
processo todo, muda a mulher.

Recentemente vi mulheres que flertavam com o aborto,


tornarem-se mães e toda essa conexão com o bebé, desmontou
qualquer argumento que usavam, e não digo que desmontou por
terem engravidado e decidido manterem a vida do bebé, as
desmontou porque a conexão com a vida e o amor que doaram e
que pensavam nunca poder doar, aconteceu em suas vidas.

Recentemente, em uma determinada pesquisa, crianças de dois a


quatro anos eram colocadas por suas mães numa sala totalmente
fechada e deixadas sozinhas. Enquanto as crianças choravam,
uma equipa, fazia o som dos batimentos do coração da mãe
chegar à sala. Em um cenário de beleza infinita, aquelas crianças
se acalmavam, paravam de chorar e lembravam da vida
intrauterina. Isso é mágico. Não no sentido «Disney» de magia,
mas no sentido que nossa razão não explica. Não explica toda
essa conexão. Mesmo naqueles casos mais absurdos como de
estupro, esse amor e essa conexão, quando levados adiante e
priorizados, são mais fortes e mais satisfatórios que qualquer
crueldade de tirar a vida a outrem.

Esse contexto todo, me leva a tecer os últimos comentários, agora


de ordem jurídica e por fim metafísica/teológica.

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A Declaração Universal dos Direitos do Homem em seu 3º art.,
ressalta: «Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à
segurança pessoal.»; A Constituição da República Federativa do
Brasil de 1988, no seu art., 5º, caput, ressalta: « Art. 5º Todos são
iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade; E ainda a Constituição da República
Portuguesa em seu art., 24º expressa: « 1. A vida humana é
inviolável.2. Em caso algum haverá pena de morte.

Comecei essa parte por citar os textos da Declaração Universal de


Direitos do Homem e das Constituições Brasileira e Portuguesa,
não para fundamentar o direito a vida e dizer que ele deriva
destes textos, até porque em todos esses textos, de algum modo
a vida é relativizada. Entretanto, são instrumentos importantes
que expressam o senso de uma sociedade justa e de algum modo
revela o que está incutido no interior de cada um de nós: A vida é
de fato autoevidente.

Os textos jurídicos mais importantes, como as constituições e a


Declaração que em certo sentido tem força normativa
internacional, vinculando os Estados (e ao meu ver, mesmo
aqueles que não são signatários, pois ela fala de Direitos
Humanos inalienáveis), são uma demonstração em si, que agimos
e buscamos pressupostos maiores e transcendentes a nós. Esses
textos não dão força a ideia de vida, a vida é que faz os textos ser
tornarem importantes. O texto não surgiu para validar ou
fortalecer a vida é exatamente o contrário.

John Finnis, jurista e filósofo, professor em Oxford, em seu livro


«Lei Natural e Direitos Naturais» trata de bens básicos, esses bens

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são comuns a todas as pessoas e são autoevidentes. Negá-los, é o
mesmo que fortalecê-los (como falei no início desse texto, ao me
referir sobre a verdade absoluta). Exempli gratia: um dos bens
básicos é o conhecimento, e quando alguém quer negá-lo, usa de
«conhecimentos» para assim proceder e assim, toda labuta para
negar o bem, fortalece e reafirma ele.

O bem básico da vida não é diferente. Finnis[6] sobre ele


comenta:

“Um primeiro valor básico, correspondente ao impulso de


auto preservação, é o valor da vida. O termo “vida” aqui
significa cada aspecto da vitalidade (vita, vida) que põe um ser
humano em uma boa forma para a autodeterminação. Daí
que aqui avida inclui a saúde corporal (inclusive a cerebral) e
estar livre de dor que indica mau funcionamento ou dano
orgânico. E o reconhecimento, a busca e a realização desse
propósito humano básico (ou grupo de propósitos
intrinsecamente relacionados) são tão variados quanto o
esforço e a prece do homem que caiu no mar e está tentando
ficar à tona até que seu navio volte para recolhê-lo; o trabalho
de equipe dos cirurgiões e de toda a rede de apoio, serviços
auxiliares, faculdades de medicina etc.; leis e programas de
segurança nas estradas; campanhas de erradicação da fome;
agricultura, criação e pesca; comercialização de alimentos;
reanimação de suicidas; tomar cuidado ao atravessar a rua”.

Note que a vida não tem relação apenas quando um bebé é


concebido, ou quando alguém é executado. A proteção ou
banalização da vida está associada a vários componentes como
nos alimentarmos de forma saudável, tomarmos um remédio

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para nos ver livre de dor ou a luta para erradicação da fome. Em
cada ato de autopreservação, conclamamos que a vida é
soberana, por isso, tirá-la de um bebé, é relativizá-la. É esmagá-la
por inclinações egoístas e banais.

Não se trata do direito de liberdade versus o direito à vida. Se


trata da vida versus o egoísmo. Não existe liberdade a algo
que não pode ser cedido, vendido ou entregue. E ainda que
fossemos reconhecer que se trata de um embate de liberdade
versus vida, as declarações dos ideários de direitos humanos,
como a francesa, a DUDH, os pactos civis, as constituições, todos
os textos normativos importantes, ressaltam que a minha
liberdade termina quando começa a do outro. Se liberdade se
encontra limitada por liberdade, o que dirá da liberdade,
limitada pela vida.

E esse sentido básico e comum de vida é encontrado em cada


comunidade e em cada cultura e povo. Nisso mais uma vez
Finnis[7] é assertivo:

“Todas as sociedades humanas demonstram uma


preocupação como valor da vida humana; em todas, a auto
preservação é aceita, em geral, como um motivo apropriado
para a ação, e em nenhuma delas o homicídio é permitido
sem alguma justificativa bem definida. Todas as sociedades
humanas encaram a procriação de uma nova vida humana
como, em si mesma, uma boa coisa, a menos que existam
circunstâncias especiais. Nenhuma sociedade humana deixa
de restringir a atividade sexual; em todas as sociedades existe
alguma forma de proibição de incesto, algum tipo de oposição
à promiscuidade ilimitada e ao estupro, alguma preferência
por estabilidade e permanência nas relações sexuais”.

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Logo, fica claro que existe bens básicos, autoevidentes e comuns
a todas as pessoas, em todos os lugares e isso é prova irrefutável
de uma legislação incutida em nossa mente. Sobre isso, não
menos importante e também profético, Clive Staples Lewis[8],
comenta:

“(…) neste ano, neste mês ou, com maior probabilidade, hoje
mesmo, todos nós deixamos de praticar a conduta que
gostaríamos que os outros tivessem em relação a nós.
Podemos apresentar mil e uma desculpas por termos agido
assim. Você se impacientou com as crianças porque estava
cansado; não foi muito correto naquela questão de dinheiro –
questão que já quase fugiu da memória -porque estava com
problemas financeiros; e aquilo que prometeu para fulano ou
sicrano, ah!, nunca teria prometido se soubesse como estaria
ocupado nos últimos dias. Quanto a seu modo de tratar a
esposa (ou o marido), a irmã (ou o irmão) — se eu soubesse o
quanto eles são irritantes, não me surpreenderia; e, afinal de
contas, quem sou eu para me intrometer? Não sou diferente.
Ou seja, nem sempre consigo cumprir a Lei Natural, e, quando
alguém me adverte de que a descumpri, me vem à cabeça um
rosário de desculpas que dá várias voltas ao redor do pescoço.
A pergunta que devemos fazer não é se essas desculpas são
boas ou más. O que importa é que elas dão prova da nossa
profunda crença na Lei Natural, quer tenhamos consciência de
acreditar nela, quer não. Se não acreditássemos na boa
conduta, por que a ânsia de encontrar justificativas para
qualquer deslize? A verdade é que acreditamos a tal ponto na
decência e na dignidade, e sentimos com tanta força a pressão
da Soberania da Lei, que não temos coragem de encarar o fato
de que a transgredimos. Logo, tentamos transferir para os

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outros a responsabilidade pela transgressão”.

Se a moralidade representasse apenas «aquilo que cada povo


aprova ou desaprova», não haveria qualquer razão para
fundamentar a ideia de que uma nação está mais correta do que
a outra, nem que o mundo se torna moralmente melhor ou
pior[9]. Por isso, a Irlanda ou a Argentina, manifestando o seu
desejo de relativizar a vida, não faz da vida um bem menor.

O homem racionaliza por valores absolutos e por meio desses


valores, age em todos os contextos e relações de sua vida. Esses
valores básicos e autoevidentes podem obviamente ser negados
em detrimento da prática do mal, mas nunca deixarão de existir e
de ser autoevidentes.

Sendo assim, o homem é responsável pelos seus atos, pois


racionalmente age de maneira moral ou imoral. O próprio Estado
Constitucional parte do princípio de que o homem como
indivíduo singular, é dotado de uma competência racional que o
distingue de qualquer outro ser ou objeto, sejam animais ou
máquinas[10].

Essa moralidade e racionalidade do homem, estão em profunda


sintonia com os fundamentos judaico-cristãos, visto que os
valores bíblicos são expressados de maneira inteligível ao
homem, pois a própria narrativa bíblica afirma que o homem é a
imagem e semelhança de Deus, logo que esse é um ser moral e
racional, pois Deus o é.

Sobre essa relação do homem racional e moral com o ser de


Deus, Jónatas Machado[11] contribui:

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“Essas premissas morais e racionais do Estado e do Direito
correspondem inteiramente aos axiomas que encontramos
nos textos sagrados judaico-cristãos. Para estes, o ser humano
tem valor intrínseco e é dotado de razão (pensamento
abstrato, raciocínio e lógico) e de capacidade de escolha moral
(capacidade para amar, odiar, fazer o bem e fazer o mal), por
que criado a imagem e semelhança de um Deus racional e
moral. (…) A razão humana é o reflexo da natureza racional de
Deus, sendo por isso dotada da capacidade moral cognitiva de
participar na lei eterna de Deus, de compreender
racionalmente o mundo e de organizar racionalmente a vida”.

Diante disso, o último aspeto do assunto aborto, é o que vimos


acima, sua relação metafísica com o ser de Deus. A vida é um
bem básico e transcendente, mas que tem sua fundação no ser
de Deus. Defendo que Ele é o legislador supremo e que, quando
estabeleceu a vida e a colocou como bem básico infinito, incutiu
isso em nossa mente de forma que, mesmo que tentemos negá-
la, iremos reafirmá-la.

Tratar de fé em relação ao direito, não torna isso uma não


ciência, ou uma ciência menor. Pelo contrário, os pressupostos
existem para serem discutidos, e ciência se faz através da
pesquisa, discussão e elucidação. A verdade é absoluta, compete-
nos buscá-la.

Finnis, desenvolveu a sua teoria, pautado nos escritos de


Aristóteles e Tomás de Aquino, por isso, antes que alguém diga
que o direito natural já está ultrapassado, ou que ninguém mais
trata dele, surge um professor, que foi aluno de Hart (teórico
positivista), e é de Oxford, e que trabalha tal tema. Não se trata
de ser ultrapassado, se trata de não ser observado na maior

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parte dos nossos contextos académicos, porque é um forte
oponente ao cientificismo e ao positivismo que tenta extirpar a
moral da lei.

Por fim, termino esse breve contributo sobre aborto, citando um


versículo da bíblia, e logo em seguida, uma frase bem pertinente
ao ref., caso, e peço que os leitores leiam, com todo o escopo do
que até então foi dito:

1ª Timóteo, 2:15 – «Todavia, [a mulher] será preservada através


de sua missão de mãe.»

«O aborto é a paródia demoníaca da Eucaristia feita pelo


Anticristo. É por isso que usa as mesmas santas palavras, ‘isto é o
meu corpo’, com o blasfemo sentido oposto.» – Peter Kreeft.

Referências:
[1] BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade dos
laços humanos. Zahar, 2004, p.15

[2] Ibid., p.,14

[3] Cfr., https://www.youtube.com/watch?v=d6CdLV7Cq4M

[4] DAWKINS, Richard. A ciência é uma religião? Trad. Eliana


Curado, professora da Universidade Católica de Goiás.

[5] Ibid.,

[6] FINNIS, John. Lei natural e direitos naturais. São Leopoldo:


Unisinos, 2007, p.91

[7] Ibid., p.90

[8] LEWIS, Clive Staples. Cristianismo puro e simples. São Paulo:

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Ed. Martins Fontes, 2005, pg. 1

[9] Ibid., p.13

[10] MACHADO, Jónatas Eduardo Mendes. Estado constitucional e


neutralidade religiosa: entre o teísmo e o (neo)ateísmo. Porto
Alegre: Livraria do Advogado, 2013. p.39.

[11] MACHADO, Jónatas Eduardo Mendes. Estado constitucional e


neutralidade religiosa: entre o teísmo e o (neo)ateísmo. Porto
Alegre: Livraria do Advogado, 2013. p.39
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