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Carlos Nougué
O Uróboro
Notas prévias
Ou seja, por esta demonstração quia (como pelas outras quatro) chega-se a que Deus é
in rerum natura a partir justamente da experiência com as coisas sensíveis
(“Encontramos coisas que podem ser e não ser, pois, se as vemos gerar-se e corromper-
se, é porque podem ser e não ser”), enquanto Kant, para refutá-la, se detém em sua
experiência com as aparências impenetráveis, sem atentar sequer a que nesta via não se
trata de conceitos ou definições de essências. Trata-se tão somente, para ponto de
partida, da mesma experiência sensível que tanto Kant reclama. Mas Kant é como a
serpente que morde a própria cauda.
• Ademais, insiste Kant em que este argumento procede ao infinito. Mas diz Tomás,
cujo texto, repito-o, provavelmente o Alemão não conheceu de modo direto: “Ademais,
não é possível proceder ao infinito nas coisas necessárias que têm uma causa para sua
necessidade, assim como tampouco nas causas eficientes”. Pois bem, exponha-se como é
impossível fazer remontar ao infinito as causas eficientes.
Diz Santo Tomás no Comentário à Física: “Não é possível que a causa que se diz ‘unde
principium motus’, isto é, a causa eficiente, proceda ao infinito, como quando dizemos
que o homem é movido a deixar o agasalho por causa do ar quente, que o ar foi
esquentado pelo sol, que o sol foi movido por alguma outra coisa, e assim ao infinito”. E
isso é assim pelo seguinte. Na causalidade eficiente, o efeito é sempre posterior à causa
(ainda que seja posterior só por natureza, e não na duração: como se vê de que, sendo
Deus a causa eficiente primeira e estando todavia fora do tempo, nada lhe pode ser
posterior na duração, sendo-lhe tudo porém posterior por natureza). Por conseguinte, se
há três coisas que se ordenam causalmente entre si como primeira, média e última,
necessariamente a primeira será causa das posteriores, ou seja, tanto da média como da
última. Não se pode dizer que a última seja causa das outras, porque não pode ser causa
de nenhuma: se fosse causa de alguma, não seria última. Repita-se: o efeito é sempre
posterior à causa no âmbito da causalidade eficiente. Mas tampouco pode suceder que
uma causa média seja causa de todas, porque não pode ser causa senão da seguinte. Se
porém não houver uma só coisa média, mas muitas, para estas valerá igualmente o que se
disse para aquela: não podem ser causas de todas, porque enquanto são médias não
podem ser causa da anterior.[11] Mas – atenção! – dá-se o mesmo se as causas médias
são potencial e sequencialmente infinitas em número (ou seja, efetivamente sem começo
e potencialmente sem fim no tempo, não sem começo nem fim na eternidade, donde a
possibilidade de que o mundo tivesse sido criado desde sempre):[12] porque, enquanto
A quinta via é tomada do governo das coisas. Com efeito, vemos que as coisas
desprovidas de cognição, como os corpos naturais, operam conforme a um fim, o que
se mostra pelo fato de que, sempre ou frequentemente, têm o mesmo modo de operar,
para alcançar o ótimo; donde se patenteia que não por acaso, mas por uma intenção,
alcançam seu fim. Ora, aquilo que é desprovido de cognição não tende a um fim senão
na medida em que é dirigido por algo cognoscente e inteligente, assim como a flecha o
é pelo arqueiro. Logo, há algo inteligente pelo qual todas as coisas naturais são
ordenadas a seu fim, e a este algo chamamos Deus.[14]
II
Por fim, não terá sido difícil observar as várias vezes em que Kant incorre em
paralogismos. É que, como antecipado, Kant de fato nunca se debruçou sobre o ínfimo
dos manuais lógicos aristotélico-tomistas, ou, se o fez, não o entendeu. Mas, mais que
incorrer em paralogismos, Kant vê-se o tempo todo preso no referido círculo, que quanto
à “existência” de Deus parte da necessidade de um “ser transcendental” como condição
de possibilidade de todas as coisas, passa porém pela negação da possibilidade de
conhecê-lo, e no entanto volta a afirmar que sem ele não se dá tal condição, ainda que
negue a possibilidade de conhecê-lo – e assim sucessiva, circular e indefinidamente, sem
jamais encontrar saída. É isso o que pode explicar de algum modo a “inadvertência” de
Kant quanto à contradição em que incorre ao implicar na Dialética, primeiro, que a
prova ontológica é inválida e na Crítica do Juízo, depois, que a prova ontológica é
válida.
Apêndice 1[15]
1) Para que se compreendam as vias pelas quais alcançamos a ciência, é preciso antes
de tudo precisar perfeitamente três noções que estão implicadas naquelas: princípio,
causa e elemento.
Pois bem, princípio é aquilo que na ordem de um processo vem por primeiro,
enquanto causa é aquilo de que algo depende segundo o ser (esse) ou o fazer-se (fieri).
Desse modo, o que se chama causalidade implica um processo ordenado em que
primeiro vem a causa e depois o causado, razão por que toda e qualquer causa pode dizer-
se princípio do mesmo processo causal. Há todavia processos ordenados que não são
causais, razão por que nem todo princípio pode ter-se por causa. Por seu lado, elemento é
aquilo de que se compõe primeiramente uma coisa permanecendo nela, razão por que
todo e qualquer elemento pode considerar-se causa: porque todo composto depende do
elemento tanto segundo seu ser como segundo seu fazer-se. Nem toda causa, porém, é
elemento, porque há causas que se dão ou fora da coisa, ou na coisa mas não
primeiramente.
Desse modo, a aurora é princípio do dia e o ponto é-o da linha, mas não são suas
respectivas causas. O fogo, por outro lado, é causa do calor da água, mas, por aplicar-se
exteriormente, não é elemento seu. Ademais, a água é causa (material) do chá que se
bebe, mas não é elemento seu porque não é algo primeiro; enquanto, na ordem das
substâncias, o hidrogênio e o oxigênio são elementos da água, porque não só a compõem
como algo primeiro, mas se mantêm nela. Diga-se algo análogo na ordem das coisas
artificiais (os exemplos são nossos): as letras são os elementos da escrita, assim como as
notas o são da música.
Há quatro e só quatro espécies de causas: eficiente/final, material/formal, das quais
dependem as coisas em seu ser. Mas podem chamar-se princípios às causas motoras ou
Apêndice 2
I. Apresentaram-se-nos as seguintes objeções à terceira das cinco vias com que Tomás
de Aquino demonstra que Deus é.
[1]Chama-se deísmo à doutrina que considera a razão como a única via capaz de
assegurar-nos a “existência” de Deus. O deísmo difundiu-se sobretudo entre os filósofos
enciclopedistas e foi uma das causas do ateísmo moderno. – Veja-se porém que
tampouco os deístas tinham efetivo conhecimento do tomismo: este, com efeito, diz que a
razão pode alcançar só por si que Deus é (como repetirá o Concílio Vaticano I, sob pena
de anátema). Sucede todavia que, no estado de natureza caída em que se encontra o
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