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CENTRO PRESBITERIANO DE PÓS-GRADUAÇÃO

ANDREW JUMPER

ALEXANDRE AMIN DE OLIVEIRA

DO CULTO RELIGIOSO: UMA COMPARAÇÃO ENTRE A CONFISSÃO


DE FÉ DE WESTMINSTER E ESCRITORES PURITANOS

SÃO PAULO
2016

CENTRO PRESBITERIANO DE PÓS-GRADUAÇÃO
ANDREW JUMPER

ALEXANDRE AMIN DE OLIVEIRA

DO CULTO RELIGIOSO: UMA COMPARAÇÃO ENTRE A CONFISSÃO DE


FÉ DE WESTMINSTER E ESCRITORES PURITANOS

Monografia apresentada ao Centro


Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew
Jumper como parte dos requisitos da
disciplina THS 301 - Confissão de Fé de
Westminster.
Prof.: Dr. Heber Carlos de Campos Jr.

São Paulo
2016

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...............................................................................................................1
1 O PURITANISMO E A ASSEMBLEIA DE WESTMINSTER ................................2
1.1 O MOVIMENTO PURITANO....................................................................................2
1.2 A ASSEMBLÉIA DE WESTMINSTER E A CONFISSÃO DE FÉ ...........................3
1.3 A CONTROVÉRSIA DA ADORAÇÃO .....................................................................5
2 DO CULTO RELIGIOSO............................................................................................6
3 JEREMIAH BURROUGHS ........................................................................................8
4 GEORGE GILLESPIE ..............................................................................................11
4.1 PURITANISMO ESCOCÊS ......................................................................................11
4.2 GILLESPIE E SUA DISPUTA CONTRA AS CERIMÔNIAS PAPISTAS ..............12
5 JOHN OWEN .............................................................................................................16
CONCLUSÃO................................................................................................................19
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................21
"1

INTRODUÇÃO

A Reforma na Ilha Britânica resultou na elaboração de diversos documentos


confessionais importantes para a Igreja Protestante. Os Símbolos de Fé de Westminster,
em especial a Confissão de Fé, destacam-se por sua profundidade e precisão teológica,
mas também por demonstrar uma preocupação mais em unir as diversas correntes
reformadas do que excluir.
A Confissão de Fé foi escrita pelo grupo conhecido como “puritanos”, um
movimento que buscou “purificar” a Igreja inglesa dos vestígios papistas que ainda
permaneciam arrolados nas doutrinas e práticas anglicanas. Uma de suas principais
preocupações foi com o culto público e a eclesiologia. Eles defenderem
apaixonadamente o que criam, o que transpareceu em algumas diferenças, por exemplo,
no entendimento de qual é o sistema de governo da Igreja mais coerente com o
ensinamento bíblico e se há a possibilidade de manter formas litúrgicas na adoração a
Deus.
O objetivo deste trabalho monográfico é demonstrar se a Confissão de Fé de
Westminster expressa um consenso reformado especialmente quanto à doutrina do culto
religioso, encontrada no capítulo 21 da Confissão. Serão analisados a ordem para o
culto, o objeto, a natureza, o método e os atos pertencentes à adoração. Pela natureza da
proposta, não é possível abordar em detalhes o contexto político, econômico e religioso
da época, o qual é vasto e complexo, mas apenas oferecer um breve panorama para
situar o período histórico em questão.
Para averiguar se a Confissão de Fé demonstra um consenso reformado, serão
analisadas algumas obras de três escritores puritanos, os ingleses Jeremiah Burroughs e
John Owen, e o escocês George Gillespie. Todos eles têm uma trajetória teológica
marcante, e contribuíram para o entendimento e propagação das doutrinas reformadas.
"2

1 O PURITANISMO E A ASSEMBLEIA DE WESTMINSTER

Os Símbolos de Fé de Westminster, dentre eles a Confissão de Fé, foram escritos


na Inglaterra na década de 1640, durante um período de guerra civil. Os puritanos foram
os responsáveis por impulsionar e redigir esses documentos que impactaram
profundamente não apenas a religião na Grã-Bretanha, mas também nos demais lugares
do mundo onde essas ideias chegaram.

1.1 O MOVIMENTO PURITANO

O termo “puritano” surgiu por volta dos anos de 1560, no início do reinado da
rainha inglesa Elizabete I, como uma palavra satírica e ofensiva para com aqueles que
estavam insatisfeitos com a religião oficial da Inglaterra1, e que, por isso, desejavam
“purificar” a Igreja inglesa 2. Como bem afirma Packer, o puritanismo foi,
essencialmente, “um movimento em prol da reforma eclesiástica, da renovação pastoral
e do evangelismo, bem como em prol do avivamento espiritual”3.
Este movimento preocupado com Deus e com a piedade cristã tem em suas
raízes no movimento iniciado por John Wycliffe, o primeiro tradutor da Bíblia para o
inglês, passou pela entrada das ideias de Lutero na Inglaterra, os esforços de William
Tyndale em levar a Escritura ao povo, as fortes repressões dos monarcas, viagens para
escapar das perseguições e continuou até o final do século XVII4. O alvo dos puritanos
era “completar aquilo que fôra iniciado pela Reforma inglesa: terminar de reformar a
adoração anglicana”5, principalmente em seu culto, teologia e forma de governo6. “Para

1 Cf. PACKER, J. I. Entre os gigantes de Deus. São José dos Campos: Editora Fiel, 1996, p. 17.
2
NOLL, M. A. Puritanismo. In: ELWELL, Walter A. (ed.). Enciclopédia Histórico-Teológica
da Igreja Cristã. Volume 3. São Paulo: Vida Nova, 2009, pp. 208-209.
3 PACKER, J. I. Op cit., p. 25.
4
Cf. Ibid., pp. 24-25.
5 Ibid., p. 25
6
Cf. MATOS, Alderi Souza de. Fundamentos da teologia histórica. São Paulo: Mundo Cristão,
2008, p. 187.
"3

eles, uma igreja mais pura significava uma igreja mais bíblica”7. O principal meio para
se conseguir isso era a pregação da Palavra e o ensino do evangelho.
Ao contrário do que muitos imaginam, os puritanos não eram pessoas de mentes
fechadas, fanáticos religiosos ou extremistas sociais, mas como Packer coloca, eram
“cidadãos de cultura, pessoas de princípio, decididas e disciplinadas, excepcionais nas
virtudes domésticas, e sem grandes defeitos, exceto a tendência de usar muitas palavras
ao dizer qualquer coisa importante, a Deus ou ao homem”8. De acordo com ele, os
puritanos exemplificaram a maturidade9. Tanto que no seu conjunto, as obras dos
puritanos compõem a mais extensa biblioteca de teologia sacra e prática que o
protestantismo possui10.

1.2 A ASSEMBLÉIA DE WESTMINSTER E A CONFISSÃO DE FÉ

Os reis ingleses e o Parlamento, desde a Reforma Protestante, no início do


século XVI, não haviam aderido profundamente aos princípios da fé reformada. Tendo-
se desligado de Roma, na época do rei Henrique XVIII (1509-1547), a situação parecia
favorável aos reformados. No entanto, após várias sucessões de reis e rainhas – Eduardo
VI (1547-1553), Maria I (1553-1558), Elisabete (1558-1603), Tiago I (1603-1625) e
Carlos I (1625-1649) –, a Reforma ainda não havia sido implantada como desejava
grande parte dos teólogos da época.
A crescente insatisfação com medidas “via média” – meio termo entre
anglicanismo e a plena reforma, como implantada no continente europeu – adotadas
pelos reis e rainhas, especialmente por Elisabete I, fez com que os puritanos se
posicionassem de maneira mais rígida em prol das mudanças. A situação ficou ainda
mais complicada quando o rei Carlos I, que também reinou sobre a Escócia, colocou
William Laud (1573-1645) como arcebispo da Cantuária. Laud era favorável ao

7 Ibid.
8
PACKER, J. I. Op cit., p. 18.
9 Cf. Ibid.
10
NOLL, M. A. Op cit., p. 211.
"4

arminianismo e impôs o “Livro de Oração Comum”, em todos os seus termos, não


apenas à Igreja inglesa, mas também à Igreja da Escócia.
Soma-se a isso um reinado controverso, principalmente as intrigas entre o rei e o
Parlamento e desajustes econômicos. O resultado foi uma guerra civil. Na época de
Carlos I, grande parte do Parlamento era favorável ao movimento puritano. E foi o
Parlamento, liderado por Oliver Cromwell (1599-1658), o responsável por conduzir a
nação contra o rei e em direção à reforma tão desejada. Foi convocada, então, no dia 12
de junho de 1643, uma Assembléia de teólogos para orientá-los com respeito ao modelo
a ser implantado. A Assembleia de Westminster, como ficou conhecida, continha além
de cento e vinte e um ministros ingleses nomeados pelo parlamento, oito comissários
escoceses 11. A entrada dos escoceses foi motivada pela assinatura da Liga e Pacto
Solenes, que visava unificar a religião na Ilha Britânica. O objetivo da Assembleia era
estabelecer o governo e a liturgia da Igreja da Inglaterra, Escócia e Irlanda, de acordo
com a Palavra de Deus e as demais igrejas reformadas.
Em primeira instância, os teólogos reunidos na Assembleia não visavam elaborar
novos documentos, mas revisar os Trinta e Nove Artigos da Religião, escritos em sua
primeira forma pelo arcebispo Thomas Cranmer, durante o governo de Henrique VIII.
No entanto, as revisões se tornaram tão profundas que eles perceberam ser necessário
um documento que pudesse abranger melhor o posicionamento deles. O título original
da Confissão deixa claro o espírito do documento elaborado e a relação estreita entre a
Igreja e o Estado na época: “O conselho humilde da Assembleia de teólogos, agora pela
autoridade do Parlamento, reunido em Westminster, concernente a uma Confissão de
Fé”12.
Havia diferentes grupos no movimento puritano, que fizeram parte da
Assembleia, o que trouxe maior riqueza à Confissão, que se mostra mais inclusiva do
que exclusiva, justamente na tentativa de unificar os cristãos dentro de uma perspectiva
reformada. Packer, um teólogo anglicano, declara de maneira elogiosa:

A Confissão de Fé de Westminster é uma declaração de fé Puritana, e não é por


acidente que se tornou uma expressão clássica da teologia do pacto. A percepção

11Cf. GONZÁLEZ, Justo L. História Ilustrada do Cristianismo: a era dos reformadores até a
era inconclusa. Volume 2. São Paulo: Vida Nova: 2011, p. 386.
12
Ibid., p. 386. Minha tradução.
"5

dos Puritanos sobre a glória e a grandeza de Deus, de Cristo e do pacto da graça


deixava os seus corações constrangidos, produzindo neles um ardente e
transbordante espírito de adoração13.

1.3 A CONTROVÉRSIA DA ADORAÇÃO

Packer elenca três indagações fundamentais para entender a controvérsia a


respeito da adoração entre os diferentes grupos puritanos14. Em primeiro lugar, em que
sentido a Bíblia é autoritária quanto à adoração cristã? Em segundo, quais os
regulamentos apropriados para a adoração cristã? E por fim, que disciplina é apropriada
em conexão com a adoração?
De acordo com ele, havia três modos diferentes de dirigir a adoração pública:
“contar com uma liturgia fixa, como o Livro de Oração; ter um manual de orientação
geral, como o Westminster Directory; ou deixar nas mãos do ministro ou da
congregação regulamentar à vontade de sua própria adoração”15. Essas alternativas
estavam ligadas respectivamente aos anglicanos, aos presbiterianos e aos independentes.
Não que os anglicanos discordassem que a Bíblia era a única regra de fé e
prática, especialmente no que cabe ao culto público, mas havia uma diferença na
interpretação e aplicação desse princípio. A Igreja da Inglaterra estava mais próxima da
reforma luterana, enquanto os puritanos da reforma calvinista. Davies coloca a questão
da seguinte forma:

A diferença real entre as reformas luterana e calvinista com relação ao culto podem
ser resumidas como segue: Lutero aceitaria o que não fosse especificamente
condenado pelas Escrituras; enquanto Calvino aceitaria somente o que fosse
ordenado por Deus nas Escrituras16.

13 PACKER, J. I. Op cit., p. 362.


14
Ibid., p. 266.
15 Ibid., pp. 268-269.
16
DAVIES, Horton. The Worship of the English Puritans. 2nd ed. Morgan, PA: Soli Deo Gloria
Publications, 2003, p. 16. Minha tradução.
"6

2 DO CULTO RELIGIOSO

Com relação ao culto religioso, a Confissão de Fé de Westminster trata a


respeito do dever do culto, da natureza, dos métodos, do objeto de culto e dos atos
específicos que as Escrituras revelam. Cada frase foi cautelosamente escolhida,
refletindo os embates da época, especialmente com a Alta Igreja Anglicana, marcada
pelas cerimônias ostensivas. A Confissão deixou claro a maneira que os puritanos
compreendiam a adoração a Deus.
O primeiro parágrafo preocupa-se com o dever de cultuar a Deus. Por Ele ter
domínio e soberania sobre tudo, deve ser “temido, amado, louvado, invocado, crido e
servido de todo o coração, de toda a alma e de toda a força”17 . O mesmo parágrafo
acrescenta que o modo aceitável de adorar a Deus é instituído por ele mesmo, na sua
vontade revelada. Por isso, “não pode ser adorado segundo as imaginações e invenções
dos homens, ou sugestões de Satanás, nem sob qualquer representação visível, ou de
qualquer outro modo não prescrito nas Santas Escrituras”18 . Era muito claro para os
teólogos de Westminster que Deus prescreveu o modo que deseja ser cultuado; e que
seria uma ofensa negligenciar suas prescrições.
Quando trata do objeto de culto, enfatiza a mediação única de Jesus Cristo, em
oposição a doutrina papista da mediação dos santos e dos sacerdotes. Também dá ênfase
à Trindade, em oposição à algumas correntes unitaristas de seu tempo: “O culto
religioso deve ser prestado a Deus o Pai, o Filho e o Espírito Santo – e só a Ele”19.
O terceiro e quarto parágrafos tratam a respeito da oração, como sendo uma
parte especial do culto religioso, pois é exigida por Deus de todos os homens20 . A
oração era um tema amplamente tratado pelos puritanos, em sua preocupação com a
piedade individual e comunitária. Só é aceitável diante de Deus as orações feitas em
nome do Filho, pelo auxílio do Espírito Santo; se vocal, deve ser proferida em língua

17A Confissão de Fé de Westminster – Assembleia de Westminster. 17 ed. São Paulo: Cultura


Cristã, 2001, 21.1.
18
Ibid.
19 Ibid., 21.2.
20
Cf. Ibid., 21.3.
"7

conhecida pelos presentes21. A. A. Hodge, ao comentar a Confissão de Fé, diz que a


oração expressa cada ato da alma ao entrar numa relação espiritual com Deus, por isso
envolve a adoração, confissão de pecados, súplica, intercessão e ações de graças22.
Também contestando as doutrinas romanistas, a Confissão afirma que a oração deve ser
feita apenas por coisas lícitas, não devem, portanto, ser feitas em favor dos mortos23.
A seguir, trata dos atos regulares do culto público exigidos por Deus e revelados
na sua Palavra: A leitura das Escrituras com temor, a pregação da Palavra, o cântico dos
salmos, a devida administração e digna recepção dos sacramentos instituídos por Cristo,
além dos juramentos religiosos, votos, jejuns solenes e ações de graças em ocasiões
especiais24. Por fim trata que sob o Evangelho, não havendo restrição de lugar, o culto
regular deve ser conduzido em assembléia pública, em família e privativamente em
secreto25.
Os teólogos de Westminster claramente se preocuparam com as coisas essenciais
do culto a Deus prescritas nas Escrituras, que faziam parte de uma grande controvérsia
na época. Entretanto, não entraram em pormenores com relação às questões de
aplicação prática como, por exemplo, se as orações devem ser apenas extemporâneas,
ou podem também ser lidas. O objetivo era, possivelmente, não entrar em detalhes que
poderiam dividir até mesmo o grupo já seleto de puritanos. O primeiro capítulo, que
trata a respeito da Escritura Sagrada, afirma que há circunstâncias, quanto ao culto a
Deus e ao governo da igreja, “as quais têm de ser ordenadas pela luz da natureza e pela
prudência cristã, segundo as regras gerais da palavra, que sempre devem ser
observadas”26.

21 Cf. Ibid.
22
Cf. HODGE, A. A. A Confissão de Fé de Westminster Comentada. Recife: Os Puritanos,
2013, p. 374.
23 Cf. A Confissão de Fé de Westminster. Op cit., 21.4.
24
Cf. Ibid., 21.5.
25 Cf. Ibid., 21.6.
26
Ibid.
"8

3 JEREMIAH BURROUGHS

Jeremiah Burroughs (c. 1600-1646) foi um puritano inglês, pastor zeloso e fiel e
escritor prolífico. Quase todos os seus livros são compilações de sermões, uma
característica comum entre os puritanos.
O ministério de Burroughs deu-se em quatro períodos27. Primeiramente, como
assistente de Edmund Calamy, de cerca de 1627 a 1631. Nesse período, os dois se
opuseram fortemente ao “Book of Sports”, que regulamentava a prática da dança, do
arco e flecha, o esporte de saltos e outros jogos como recreações legítimas no dia do
Senhor28. Num segundo momento, foi reitor da igreja de Tivetshall, Norfolk, de 1631 a
1636, quando foi expulso e despojado, por recusar-se a ler o “Book of Sports” durante
os serviços litúrgicos. Viveu um período na Holanda, de 1638 a 1640. E, por fim, de
1640 até sua morte em 1646, viveu em Londres, onde conquistou reconhecimento como
pregador e líder puritano. Pastoreou duas das maiores congregações de Londres:
Stepney e St. Giles, Cripplegate. Sua fama era tão grande, que alguns o chamavam de “a
estrela da manhã de Stepney”29.
Como membro da Assembleia de Westminster, acompanhou o grupo dos
independentes. Burroughs tornou-se um exemplo de moderação, tanto que Richard
Baxter escreveu: “Se todos os episcopais fossem como o arcebispo Ussher, todos os
presbiterianos como Stephen Marshall e todos os independentes como Jeremiah
Burroughs, as rupturas da Igreja logo seriam sanadas”30.
A obra em que Jeremiah Burroughs apresenta mais detalhadamente seu
pensamento a respeito do culto é “Gospel Worship”. Trata-se de uma série de sermões
no texto de Levítico 10.331, que narra a conversa de Moisés com Arão, após Nadabe e

27
Cf. BEEKE, Joel; PEDERSON, Randall J. Paixão pela pureza. São Paulo: PES –
Publicações Evangélicas Selecionadas, 2010, p. 189.
28 Cf. Ibid.
29
Ibid., p. 190.
30 Ibid.
31
“E falou Moisés a Arão: Isto é o que o Senhor disse: Mostrarei a minha santidade naqueles
que se cheguem a mim e serei glorificado diante de todo o povo”. Cf. Bíblia Sagrada. Traduzida
em português por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada no Brasil. 2 ed. Barueri:
Sociedade Bíblica do Brasil, 2008, Levítico 10.3.
"9

Abiú terem sido consumidos por Des por terem oferecido fogo estranho ao Senhor.
Muitos outros puritanos fizeram uso deste texto para tratar o tema da culto e da
adoração a Deus.
Burroughs inicia destacando a importância de se entender a santidade de Deus
para uma correta adoração. Ele elencou três pontos principais no versículo32.
Primeiramente, que na adoração, há uma aproximação de Deus. Em segundo lugar,
quando nos aproximamos de Deus, deve ser para santificar o seu nome. Em terceiro, se
não santificarmos o nome de Deus quando nos aproximamos dele, então Deus
santificará o seu próprio nome sobre nós. Ele coloca como atos específicos de adoração
a recepção da Palavra na pregação, a oração e os sacramentos 33.
Demonstrou forte oposição ao modelo que vigorava na Igreja da Inglaterra:

Qualquer coisa que inserirmos na adoração a Deus precisa ter autorização da


Palavra de Deus. […] É necessário que seja algo ordenado; não é suficiente que
não seja proibido. […] Quando se trata de assuntos da religião e da adoração a
Deus, precisamos de um mandamento ou algo extraído da Palavra de Deus em que
ele manifesta sua vontade, quer seja um mandamento direto, quer seja comparando
uma coisa com a outra, ou por meio de inferências claras do que está escrito34 .

Ele insistiu que, quando algo é elevado a um fim religioso para ser usado na
adoração, ao contrário de sua própria natureza, esse uso torna-se supersticioso. Ele dá
como exemplo o uso da sobrepeliz pelos bispos, dizendo que é uma instituição humana
não prescrita por Deus e, portanto, superstição35 . Adorar a Deus de acordo com
mandamento de homens é coisa vã36. Deus insiste até mesmo nas coisas pequenas,
mesmo que os homens pensem não fazer diferença entre fazer o que foi prescrito ou
alterar um pouco a determinação37.

32Cf. BURROUGHS, Jeremiah. Adoração Evangélica – Ou a maneira correta de santificar o


nome de Deus em geral. Recife: Os Puritanos, 2015, p. 21.
33
Cf. Ibid.
34 Ibid., p. 22.
35
Cf. Ibid, pp. 23-24.
36 Cf. Ibid., p. 25.
37
Cf. Ibid., pp. 26, 325.
"10

Quando aos deveres referentes à adoração, Burroughs elenca especificamente


três, que são os principais: ouvir a Palavra, receber os Sacramentos, e a oração38. E
sobre a oração, seguindo seus contemporâneos puritanos e criticando o costume dos
anglicanos, entendia que orar consistia em muito mais do que apenas ler um livro.
“Podes ver que orar é uma coisa difícil, um trabalho bastante difícil, e não admira que
temos feito em vão tantas das nossas orações”39.
Ao tratar de alguns erros praticados na Igreja da Inglaterra, que advinham dos
papistas, ele trata a respeito do costume de dar os elementos da Ceia do Senhor na boca
dos comungantes, achando que isso traria mais reverência ao Sacramento, por não sujá-
lo. Ele comenta que “é um grande perigo aceitar as invenções humanas para produzir
mais reverência. Precisamos olhar para a ordenança de Cristo”40.
Para ele, os ministros devem ater-se apenas à instituição de Cristo:

Quanto mais nos atemos à instituição de Cristo, e não misturamos nada que venha
de nós mesmos, mais glória, beleza, e excelência aparecerão nas ordenanças de
Jesus Cristo. Mas quando alguém mistura alguma de suas próprias invenções,
embora o faça com boas intenções, e pense estar acrescentando maior brilho ao
sacramento, a verdade é que aquilo que ele pensa ser maior brilho, reverência ou
honra, na verdade tira o brilho e a glória do sacramento. As instituições de Cristo
são gloriosas quando não existe nenhuma mistura que lhes tenha sido
acrescentada41.

Ele tratou do assunto da adoração como algo que deve ser feito com muita
preparação, entendimento, sinceridade, humildade, piedade e temor. Não é aceitável
apenas entender corretamente, mas é preciso pôr em prático tudo aquilo que se crê. As
disposições interiores precisam corresponder às expressões exteriores, senão não passa
de falsidade de coração42.

38
Ibid., p. 191.
39 Ibid., p. 375.
40
Ibid., p. 330.
41 Ibid., p. 332.
42
Ibid., p. 370.
"11

4 GEORGE GILLESPIE

4.1 PURITANISMO ESCOCÊS

A Reforma na Escócia no século XVI, impulsionada por John Knox


(1514-1572), foi muito mais profunda do que a Reforma na Inglaterra. Os escoceses
contaram com maior liberdade e apoio para adequar sua prática de acordo com a
Escritura. Isso fica visível, por exemplo, no sistema de governo adotado, o
presbiterianismo, que era completamente rechaçado no território inglês.
Quanto a usar o termo “puritano” aos escoceses, Ian Murray afirma: “Não
pedimos desculpas por tratar os escoceses sob o termo geral ‘puritanos’. É suficiente
justificativa que a palavra foi empregada com referência aos escoceses no próprio
século dezessete”43.
Mas as coisas nem sempre foram tão tranquilas. Pois o arcebispo Laud fez de
tudo para impor um novo “Livro de Oração Comum” à Igreja da Escócia, o que
provocou a luta entre os puritanos e o rei Carlos I. “Os escoceses se rebelaram contra
essa tentativa de mudar sua liturgia, sua administração e sua fé, em nome da
uniformidade das duas nações”44. Para defenderem a fé presbiteriana, em 1638, os
escoceses constituíram-se numa Aliança Nacional45.
Beeke e Pederson afirmam que os puritanos da Inglaterra e os presbiterianos da
Escócia “foram unidos pelos mais estreitos laços espirituais de doutrina, culto e ordem
eclesiástica”46. Tanto que os escoceses abraçaram avidamente a obra dos teólogos de
Wesminster e, em 1643, assinaram a Solene Liga e Pacto, que tinha como objetivo a:

Preservação da religião reformada da Escócia, em doutrina, culto, disciplina e


governo, e a reforma da religião nos reinos da Inglaterra e da Irlanda em doutrina,
culto, disciplina e governo, de acordo com a Palavra de Deus e o exemplo das
melhores igrejas reformadas47 .

43
Ian Murray, In: BEEKE, Joel; PEDERSON, Randall. Op cit., p. 768.
44CAIRNS, Earle E. O Cristianismo através dos séculos: uma história da igreja cristã. 3 ed.
São Paulo: Vida Nova, 2008, p. 308.
45
Cf. Ibid., p. 308.
46 BEEKE, Joel; PEDERSON, Randall. Op cit., p. 769.
47
Ibid., p. 769.
"12

Os documentos elaborados na Assembleia de Westminster – Confissão de Fé,


Catecismos Maior e Breve, Forma de Governo Presbiteriano e Diretório de Culto
Público – foram levados à Escócia e aprovados como padrões da Igreja escocesa 48.

4.2 GILLESPIE E SUA DISPUTA CONTRA AS CERIMÔNIAS PAPISTAS

George Gillespie (1613-1648) foi um notável teólogo escocês, um dos


componentes da comissão enviada como delegados da Igreja escocesa à Assembleia de
Westminster49. Ele iniciou sua carreira teológica como capelão doméstico. Era muito
amigo de Samuel Rutherford, que o influenciou profundamente50. Aos vinte e quatro
anos de idade, em 1637, publicou anonimamente a obra “A Dispute Against the English
Popish Ceremonies”, opondo-se vigorosamente ao episcopado inglês e às cerimônias da
Igreja Anglicana, que, no momento, estavam sendo introduzidas na Igreja da Escócia
pelo rei Carlos I e o arcebispo William Laud, especialmente através do “Livro de
Oração Comum” 51.
Ele foi ordenado em 1638, no ponto alto do presbiterianismo escocês, semanas
depois de a Aliança Nacional ter sido assinada e juramentada por milhares de
pregadores na Escócia, e no período em que a Assembleia Geral depôs os bispos que
tinham entrado na Igreja, condenou as cerimônias da Igreja da Inglaterra e restaurou o
governo presbiteriano52. Muito disso foi influenciado pela sua obra.
Em 1643, aos trinta anos, foi enviado como delegado da Igreja escocesa à
Assembleia de Westminster. Apesar de jovem, foi um participante notável. Robert
Baillie, integrante da comissão escocesa enviado juntamente com Gillespie, disse a seu
respeito:

48
Ibid.
49 Cf. BEEKE; PEDERSON. Op cit., p. 826.
50
Cf. Ibid.
51 Cf. Ibid., p. 827.
52
Cf. Ibid., pp. 827-828.
"13

Ele havia estudado tão acuradamente todos os pontos que ainda seriam trazidos à
nossa assembleia, e seu método de debate público era tão pronto, tão seguro e tão
sólido, que, apesar de haver na diversificada assembleia homens verdadeiramente
excelentes, em meu pobre juízo, não há ninguém que fale mais racionalmente e que
vá ao ponto com mais precisão do que esse bravo jovem tem feito53 .

Ao retornar à Escócia, em 1647, voltou com a reputação de ser o principal


teólogo escocês54. Foi escolhido para ocupar o lugar do recém falecido Alexander
Henderson como encarregado da St. Giles, em Edimburgo, um dos mais prestigiosos
púlpitos da Escócia. No ano seguinte, foi nomeado moderador da Assembleia Geral.
Contudo, meses depois, ficou muito doente e veio a falecer em dezembro de 1648, aos
trinta e cinco anos de idade55.
O livro “A Dispute Against the English Popish Ceremonies” divide-se em quatro
partes: (1) Contra a necessidade; (2) Contra a expediência; (3) Contra a legalidade; e (4)
A indiferença das cerimônias papistas inglesas. Beeke e Pederson afirmam que o livro
“caiu como um trovão, silenciando qualquer argumento”56 . Roy Middleton disse que o
ministério de Gillespie, embora curto, “estampou uma impressão permanente na
Confissão de Fé de Westminster, particularmente nos capítulos concernentes à
eclesiologia” 57.
Gillespie, no início da obra, mostra a situação religiosa e os perigos pelos quais
a Igreja da Escócia passava:

A Igreja da Escócia foi abençoada com uma reforma mais gloriosa e perfeita do
que qualquer uma das igrejas dos nossos vizinhos. […] Mas, agora, ai! Mesmo essa
igreja, a qual foi outrora uma bênção na terra, está profundamente corrompida, e se
desviou rapidamente do caminho (Ex 32.8). Tanto que essa é a contenda do Senhor
contra a Escócia: Eu mesmo te plantei como vide excelente, de semente mais pura;
como, pois, te tornaste para mim uma planta degenerada, como de vide brava? (Jr
2.21)58.

53 Ibid., p. 828.
54
Cf. Ibid., p. 829.
55 Cf. Ibid., p. 830.
56
Ibid., p. 831.
Roy Middleton, In: GILLESPIE, George. A Dispute Against the English Popish Ceremonies.
57

Dallas, TX: Naphtali Press, 2013, p. xv. Minha tradução.


58
GILLESPIE, George. Ibid., p. 5. Minha tradução.
"14

Ele afirma que este era um dia temido, em que as doutrinas papistas, que nunca
foram completamente expurgadas da Inglaterra e Irlanda estavam sendo aderidas em seu
país. De fato, ele trata com muito temor no coração, afirmando que se tratava de uma
ocasião de lastimável apostasia, a mutação que estava acontecendo com a noiva de
Cristo naqueles domínios59. Os elementos que o preocupavam e que colocavam a causa
da reforma escocesa em perigo eram, por exemplo, as cerimônias de ajoelhar-se no ato
do recebimento da Ceia do Senhor, o sinal da cruz no Batismo, o sistema de governo
episcopal, o uso de sobrepeliz, a celebração de dias sagrados, entre outras coisas que
carregavam o nome de indiferentes, mas não passavam de espetáculos vãos e sombras
que escondiam e obscureciam a substância da religião, sufocando e suprimindo a
verdadeira piedade60.
Gillespie foi muito claro ao tratar que aquilo que fazia parte da adoração a Deus
no culto público precisava ser prescrito nas Escrituras Sagradas61. Apenas as
circunstâncias, que não carregam nada de sagrado nelas, sendo de infinitas
possibilidades e não sendo prescritas na Bíblia62, podiam ser determinadas de acordo
com o bom senso dos homens63. Assim como era feito nas sinagogas, o horário para o
servição público divino, o tempo de duração, a ordem dos elementos e o tempo da
exposição da Lei, cânticos, orações, catequização, excomunhão, censuras, absolvição,
etc., os cristãos também podiam ordenar essas coisas, e essas apenas, como entenderem
mais apropriado, desde que proporcionasse mais edificação aos comungantes64.
A grande questão que ele procurou defender em sua obra foi que os homens não
têm o poder de sobrecarregar outros com ordenanças que não foram prescritas65.
“Concernente a adoração a Deus, eles precisam ter suas consciências livres de qualquer
jugo de tradições humanas, desde que esse é o domínio somente de Deus de prescrever

59
Ibid., pp. 5-6.
60 Ibid., p. 6.
61
Ibid., pp. 16, 265.
62 Ibid., p. 265.
63
Ibid., p. 16.
64 Cf. Ibid., pp. 267-268.
65
Ibid., p. 16.
"15

assuntos pertencente à religião”66. Ele questionou se algum sínodo ou igreja deveria ter
mais autoridade do que o sínodo dos apóstolos 67.
Um dos argumentos que ele refutou, foi o de que apenas os judeus não poderiam
modificar nada com relação ao culto, mas que os cristãos, sob a dispensação de Cristo
agora podem:

A igreja cristã não tem mais liberdade para adicionar aos mandamentos de Deus do
que a igreja dos judeus tinha; porque o segundo mandamento é moral e perpétuo, e
proíbe a nós assim como a eles as adições e invenções dos homens na adoração a
Deus68 .

66
Ibid., p. 41. Minha tradução.
67 Ibid., p. 44.
68
Ibid., p. 266. Minha tradução.
"16

5 JOHN OWEN

John Owen (1616-1683) é conhecido como “o príncipe dos teólogos ingleses”69.


Seu currículo é impressionante. Sua tamanha erudição e piedade o colocam em relação
direta com João Calvino, em termos de relevância teológica. Iniciou seus estudos cedo,
aos doze anos, na Universidade de Oxford. Estudou lá pelos próximos dez anos. Em
1637 foi capelão privado até 1643. Aos vinte e seis anos, “começou um período de
quarenta e um anos de produção literária que resultou em mais de oitenta obras” 70. A
partir desse ano, foi ordenado ao ministério pastoral. Pastoreou diversas igrejas na
Inglaterra, sendo conhecido por seu excelente trabalho de catequizar seus paroquianos.
Em 1648, foi convidado para pregar aos soldados ingleses. Owen foi ganhando
reconhecimento, até que foi convidado para pregar no Parlamento, onde se tornou o
pregador favorito e foi nomeado o capelão de Oliver Cromwell71. Em 1652, foi eleito
vice-chanceler da Universidade de Oxford. Durante os seis anos seguintes ele dedicou-
se à teologia, pregação, catequização e à oração. Em 1658, juntamente com outros
ministros independentes, ajudou a escrever a Declaração de Savoy, uma confissão de Fé
baseada na Confissão de Westminster, mas com um tom mais congregacional no sistema
de governo.
Os escritos de Owen tratam de uma ampla gama de assuntos, demonstrando a
perspicácia do autor, a natureza exaustiva dos seus estudos doutrinários, a profundidade
da sua teologia e o fervor de sua devoção72. Apesar disso, por conta de impossibilidades,
Owen não participou da Assembleia de Westminster.
Em seus muitos escritos, encontram-se dois sermões no texto de Efésios 2.1873,
intitulados “Natureza e beleza da adoração evangélica” 74. Neles, formulou o ideal

69 BEEKE, Joel; PEDERSON, Randall. Op cit., p. 558.


70
Ibid, p. 560.
71Cf. HULSE, Erroll. Quem foram os puritanos? e o que eles ensinaram? São Paulo: PES,
2004, p. 116.
72
Cf. BEEKE, Joel; PEDERSON, Randall. Op cit., p. 566.
73“Porque, por ele, ambos temos acesso ao Pai em um Espírito”. Bíblia Sagrada. Op. cit.,
Efésios 2.18.
74
OWEN, John. The Works of John Owen - volume IX (Edited by the Rev. William H. Goold).
New York, NY: Robert Carter & Brothers, 1851, pp. 53-84.
"17

puritano da adoração, em antítese ao formalismo de Laud e o “Livro de Oração


Comum”. De acordo com Owen, o erro deles estava em não entender a mediação
gloriosa de Jesus Cristo. Deixou bem claro que os rituais externos e carnais tiravam a
centralidade da obra de Cristo em nosso favor. O que eles chamavam de ordem, beleza e
glória, consistia em pobreza, diluição, miséria e carnalidade; tornavam-se inimigos de
Cristo e de seu Espírito, cegados pela eterna ruína 75.
Owen é muito claro no que diz respeito ao objeto de culto: “Se cada um de nós
vier não por meio de Jesus Cristo, ou não cumprir na força do Espírito Santo, ou não for
a Deus o Pai, transgrediremos as regras da adoração”76. Sua ênfase trinitária é clara, ele
afirma que em Cristo nós somos admitidos, no Espírito Santo somos assistidos, a
chegarmos ao Pai, para aceitação77.
Com relação ao que deve ser admitido no culto, ele disse que o homem, por sua
própria sabedoria, não tem como descobrir o que agrada a Deus ou não. O que agrada a
Deus é definido pelo próprio Deus 78. Há duas marcas que precisam dirigir todas as
nossas ações no culto a Deus. Primeiro, deve realizado para a glória de Deus. Segundo,
para a edificação do corpo. Tudo o que é feito precisa ter isso como propósito79.

A invenção arbitrária de qualquer coisa, com ordens para o seu uso necessário e
indispensável no culto público a Deus, como parte da adoração, e o uso de qualquer
coisa inventada ou ordenada nessa adoração, são ilegítimos, e contrários à regra da
Palavra. […] Todo o dever, então, da igreja, concernente ao culto a Deus, parece
repousar na precisa observância do que é apontado e ordenado por Ele80 .

Não se opunha a todas as formas de liturgia, como por exemplo à leitura da


Escritura prescrita previamente, as palavras de instituição dos Sacramentos ou a
composição das formas de oração ajustadas à natureza das instituições a que se
relacionam81. No entanto, opunha-se veementemente contra a obrigatoriedade das

75
Ibid., p. 63.
76 Ibid., p. 57. Minha tradução.
77
Ibid.
78 Ibid., p. 72.
79
Ibid., p. 74.
80OWEN, John. The Works of John Owen - volume XV (Edited by the Rev. William H. Goold).
Edimburgh: T. & T. Clark, 1862, pp. 33, 42. Minha tradução.
81
Ibid., p. 33.
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liturgias impostas, que continham homilias e orações escritas, e que deviam ser lidas
todas exatamente como estavam escritas, sob a pena de sanções a quem não o
fizesse82.“É somente sobre a imposição, e necessidade da sua observância pela virtude
da imposição, que nós discutimos”83. Ele entendia que a imposição e uso de tais
liturgias ou formas de palavras públicas são contrárias à regra da Palavra de Deus,
portanto pecaminosas 84. Entendia que a oração com ações de graças, o canto dos
salmos, a pregação da Palavra, a administração dos Sacramentos do Batismo e da Ceia
do Senhor e a disciplina eclesiástica eram as principais instituições a serem observadas
no culto a Deus85.
Para fundamentar o que pensava, Owen citava, assim como outros puritanos,
textos como: Ex 20.4,5; Dt 4.2; 12.32; Pv 30.6; Jr 7.31; Mt 15.9, 13; Mc 7.7,8; Ap
22.18, os quais deixam claro que Deus não se agrada que sua Palavra seja alterada ou
interpretada como o homem bem desejar. Por isso, “todo o dever, então, da igreja,
concernente ao culto a Deus, parece repousar na precisa observância do que é apontado
e ordenado por Ele”86.

82
Ibid.
83 Ibid., p. 34. Minha tradução
84
Ibid., p. 33.
85 Cf. Ibid., p. 477.
86
Ibid., p. 42. Minha tradução.
"19

CONCLUSÃO

O presente trabalho de pesquisa procurou comparar a doutrina do culto religioso


na Confissão de Fé de Westminster com as obras de três autores do puritanismo
britânico. Os ingleses Jeremiah Burroughs e John Owen e o escocês George Gillespie
destacam-se por sua abordagem vigorosa do assunto. Viver na Inglaterra, nos séculos
XVI e XVII, era um desafio para aqueles que desejavam viver conforme a regra da
Palavra de Deus, podendo custar até mesmo suas vidas. Imposições dos reis e da Igreja
inglesa forçaram os puritanos a elaborar defesas consistentes para o que entendiam ser
uma verdadeira e necessária reforma religiosa.
O que vigorava nos cultos públicos da época eram entendidos pelos puritanos
como adições perversas à regra estabelecida por Deus. Por exemplo, a obrigatoriedade
do uso de vestimentas no serviço público, as cerimônias de ajoelhar-se para receber os
elementos da Ceia do Senhor, o sinal da cruz no Batismo, a leitura de homilias
substituindo a pregação de sermões, as orações fixas e impostas pelo Livro de Oração
Comum, a tratativa idolátrica dos Sacramentos e a separação de outros dias como
santos, além do dia do Senhor.
Para eles, a adoração a Deus – tendo no culto público sua máxima expressão –
não poderia, de forma alguma, ser determinada pela vontade ou determinação dos
homens. A sabedoria humana, em decorrência da queda, é limitada e não alcança os
propósitos infinitos de Deus. Por isso mesmo o Senhor revelou a sua vontade, a fim de
que os homens saibam qual é a maneira correta e agradável de prestar culto à majestade
divina. Assim sendo, toda e qualquer imposição litúrgica que não se adequasse aos
padrões da Escritura Sagrada, deveria ser rejeitada como idolatria e perversão. Cultuar a
Deus é uma questão de obediência, em primeiro lugar.
Os puritanos, apesar de não serem unânimes, concordavam com a necessidade
da simplicidade do culto, tendo em vista o contexto da extravagância católico-anglicana,
e da observância especialmente da pregação da Palavra, dos cânticos, das orações com
ações de graças, da correta administração dos Sacramentos do Batismo e da Ceia do
Senhor, conforme instituídos por Cristo, da catequização e da disciplina eclesiástica.
Não havia espaço para adições ou invenções, todo o esforço era em direção à
"20

eliminação da confusão e a fim de enfocar o essencial. A regra para o culto era a glória
de Deus e a edificação do povo. De forma coerente, os pregadores fizeram dos sermões
públicos o principal meio para instruir o povo quanto a essas questões.
Apesar de se tratar de um período conturbado, e de não haver plena unanimidade
entre os puritanos em todos os assuntos, tendo-se analisado, de forma panorâmica, o
contexto religioso dos séculos XVI e XVII na Ilha Britânica, e três renomados autores
do puritanismo britânico, é possível perceber que a Confissão de Fé de Westminster
demonstra um consenso reformado quando a doutrina do culto religioso.
"21

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