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A propósito da criatividade:

os três métodos *
JEAN PZAGET
JEAN-CLAUDE BRZNGUZER

JEAN-CLAUDE BRMGUIER -Haverá iwta di- vismo lógico. V i com prazer que os estudantes ameri-
ferença entre a criação cientifica tal como você a canos aplaudiam tudo o que demonstra que essa
pratica e outros tipos de mcnação,a de um pintor ou escola está em decadência. O positivismo ldgico é o
de um escritor? Será comparável? empirismo radical, pura o qual tudo provém da per-
JEAN-PIAGET- Tenho muita dificuldade em lhe cepção no conhecimento, e da linguagem no domínio
responder, por não conhecer essas outras criações. Idgico e matemático.
3.43. B. -Nunca perguntou isso a si próprio? 3.-Cl. B. -Pois, o inimigo principal serve para
J. P. -Não, nunca. Nunca. Há alguns anos, uns avançar, serve de motor ...
esfiudantes da Universidade Johns Hopkins, em Bal- J. P. - E claro.
timore, organizaram uma série de conferências sobre J.Cl. B. -Gostaria, apesar de tudo, que comen-
a crianatrvidadee convidaram-me a fazer uma dessas tasse os dois primeiros aspectos, isto é: não ler nada
conferências. E claro que falei da criatividade da do domínio em que pesquisa e sd ler depois.
criança, mas eles pretendiam saber como é que eu J. P.- Não ler nada, é elementar. Se se começa
encontrava as minhas prdprias ideias. Fiquei bastante por ler tudo o que já foi escrito sobre um assunto
embaraçado porque nunca tinha reflectido sobre isso, que se quer abordar, é muito mais difícil encontrar
mas depois de pensar um pouco disse-lhes que seguia coisas novas. Ao passo que se se vai para diante sem
três métodos. hesitar e s6 se compara depois, então ou se descobre
J.421. B. -Três? que o que se fez já foi feito, ou então que há algumas
J. P. - (Ri-se.) Tks! Primeiro: Mo ler nada sobre diferenças. E que podem ser fnrtuosas.
o domínio que se aborda, e s6 ler depois. Segundo J.421. B. -Ali& penso que quando você lê autores
método: ler o mais possível nos domínios vizinhos, que trabalham no seu sector intelectual. você não lê,
e no que toca ò inteligência teremos, evidentemente, absorve.
a biologia, por um I&, a matemática e a lógica, por J. P. -(Ri.) Ora ai está uma forma gentil de falar
outro, etc., incluindo o domínio socioldgico, enfim. da assimilação!
tudo o que envolve o sujeito em questão. Terceiro .
J.-CI. B. -Você .. você caça!
método: ter um inimigo principal. O meu, é o positi- J. P. -E verdade.
J.-CI. B. - Você reencontra os seus itinerários e os
seus territórios nos dos outros, e á isso que lhe inte-
ressa
* Agradecemos B Livraria Bertrand a possibilidade J. P. -Já que tanto insiste.
de publicar aqui esta entrevista, décima segunda de J.41. B. -No fundo, o pensamento dos outros
urna série de catorze conversas entre Piaget e Bnn- cientistas enquanto tais, interessa-lhe pouco.
guier que constituem a obra Conversas com Jean
Piaget, a publicar brevemente em Portugal com um
J. P. -Ah. aí, espere um pouco! Ah, ai ...
estudo preliminar de Jorge Correia Jesuino. Cf. Re- J.41. B. -Não no processo.
censão desta obra neste número de Análise Psicoló- J. P. -Ah. pelo contrário, se há discrepâncias nas
gica. opiniões, é muito frutuoso. Claro. Para se ver quem
tem razão, é sobretudo preciso ver se é possível ultra- os educadores no campo das matemáticas modernas.
passar a alternativa. Mas atenção, é necessário ensinar as matemáticas mo-
J.-Cl. B. -E porque é que é preciso ler à volta? dernas com uma pedagogia igualmente moderna, e não
J. P. -E preciso ler à volta porque todo o ensaio com uma pedagogia arcaica. Logo, o grande erro ...
sobre o conhecimento deve ser de natureza inter- J.-CI. B. -Senão é um estoiranço.
disciplinar. E impossível dissociar os procedimentos -
J. P. E claro. Logo, o g r d e erro que alguns
reais da inteligência da axiomatização. da formalização cometeram foi passar demasiado depressa à formali-
que dela fazem o lógico ou o matemático, etc. za& com alunos que não estavam capazes de a
E também impossível isolar o indivíduo d o seu assimilar. As matemáticas modernas devem partir do
meio social, etc. espírito da criança e daquilo que nele encontramos já
J.-CI. B. -E todavia a Universidade traçou qua- como raizes, no campo da topologia, da teoria dos
dros bastante definidos; no ensino encontramos a coniuntos, nas operações de estruturas, em geral. Ao
sociologia, a biologia, isto e aquilo. Boas etiquetas ... passo que se queimarmos etapas e quisermos ensinar
J. P. - A questão está em saber se se trata de um matemáticas modernas com os métodos dos mate-
bem ou de uma catástrofe. máticos modernos, os métodos formalizadores e a i o -
J . 4 1 . B. -E é uma catástrofe? máticos, estoira tudo.
J. P. -Evidentemente. J.Cl. B. -E estamos de novo a impor.
J.-Cl. B.-E aqui voltamos àquilo que me dizia J. P. -E claro, estamos a impor.
há dias, a essa ideia de que tudo o que se ensina à J.-Cl. B. -Acaba de afirmar que as raízes aencon-
criança é u m obstáculo a que d a o invente. Voltamos tramo-las já na criançm. Onde começam essas raízes,
a isso, ao fim e ao cabo. Porque inventar é circular o que é que é dado, no mínimo?
entre disciplinas. J. P. -Ora, tudo começa mesmo antes da lingua-
J. P. -Não hâ dúvida gem. O período mais criativo da vida humana situa-se,
J.-C1. B. -Nesse caso poderíamos perguntar, indo creio, entre o nascimento e os dezoito meses. E espan-
u m pouco mais longe, e entrando no campo da polí- toso e ...
tica, em sentido lato, qual seria o sistema mais apto J.-Cl. B. -Entre o primeiro reflexo ...
para permitir esse tipo de educação? Qual o sistema J. P. -Sim. E a construção do espaço, da casua-
óptimo de governo, de Estado, de sociedade, pura se lidade d o tempo, da permanência do objecto, etc.
atingir esse objectivo? J.-Cl. B. -Aprende-se mais nesse período do que
J. P. -Está a fazer-me perguntas para as quais em todos os que se lhe seguem?
não tenho nenhuma competência J. P. - N o que respeita a rapidez e fecundidade,
J.-Cl. B. -Sim e não. Está a ser demasiado mo- sempre achei que era o período máximo de criativi-
desto. Penso por exemplo nesse ano. ai por volta de dade. A criação cognitiva e, note bem, antes da lin-
1952, creio* quando com Liechnerovicz e outros, como guagem. em acção! Depois, ao nível d o pensamento
Dieudonné, creio ... e da representqão, tudo isso vai ser reconstruido,
J. P. -Sim, Dieudonné. reestruturado no terreno conceptual, no plano con-
J.-CI. B -Formularam os princípios de uma rees- ceptual.
truturação do ensino das matemáticas. J.-Cl. B. -E essas etapas podem ser aceleradas?
J. P. -Não, não. J. P. -Não há vantagem nenhuma nisso.
J.-Cl. B. -Então o que foi essa reunião de Melun? J.-C1. B. -Porquê?
J. P. -Não, não, essa reunião era para comparar J. P. -Porque cada qual tem o seu ritmo próprio.
as estruturas mentais e as estruturas matemáticas. e nós conhecemo-lo muito mal. O ritmo óptimo nunca
J.-Cl. B. - E não desembocava num método de foi alvo de investigações rigorosas.
ensino? J.43. B. - A velocidade.
J. P. -Não. J. P. -A velocidade, sim. Falávamos há tempos
J.43. B.- Ah, pensei que sim. Porque isso veio do gatito que cresce mais depressa d o que o bebé
depois, não? Talvez não directamente, mas todo o humano na descoberta do objecto permanente. Sim,
ensino das matemáticas, tal como felizmente invadiu consegue fazer com quafro meses aquilo que o bebé
o nosso ensino, vem dessas reuniões, não? só consegue fazer pelos oita ou nove meses, mas de-
-
J. P. Sim, se quiser ... pois pára Portanto, não é em vão que o crescimento
J.-CI. B. -E provavelmente dessa reunião? é mais demorado n o bebé: as assimilações são em
J. P. -Em parte. Pude demonstrar que as estru- maior número e muis profundas. A v ~ a muitor de-
turas construídas espontaneamente pela criança estão pressa torna menos fecunda a possibilidade de assi-
mais próximas das matemáticas modernas, ou ditas milação posterior.
modernas, d o que das que se eram classicamente en- (Silêncio. Medita.)
sinadas, e portanto, é claro, a psicologia pode auxiliar Há talvez u m ritmo comum, uma velocidade
óptima comum. mas não sei nada acerca disso. Cada J. P. -Exacto. Ora para mim a educação consiste
qual tem a sua. Quando você escreve u m livro, se em produzir criadores, mesmo que não sejam muitos,
o escreve muito depressa é porque não é bom. Mas mesmo se as criações de um são limitadas em relação
se o fizer demasiado devagar também não fica bem. àr criações de outro. Mas é preciso produzir inven-
Há u m ritmo óptimo para a redacção. tal como há tores, inovadores, e não conformistas.
u m para a criação de ideias. J.41. B. -Quanto a si, acha que todos os indiví-
J.-CI. B.-E todavia sonha-se aqui e ali -os duos podem ser criadores?
americanos sem dúvida que sim - com a aceleração. J. P. -Em graus diversos, é claro. Mas há sempre
J. P. -Sempre. u m domfnio no qual o sujeito pode ser criador.
J.41. B. -Porquê? J.-Cl. B. -Fala de criação. Há pouco deu-me algu-
(Encolhe os ombros suavemente, sem responder.) mas receitas que lhe são próprias. Três receitas.
J.-Cl. B. -Deixe-me dizer-lhe o seguinte: você J. P. -Receitas, não! Métodos.
mostra reticências sempre que se trata das consequên- J.-Cl. B. -Bom, métodos ... Mas o talento não
cias ou das aplicações da teoria. Senti isso há bocado depende de uma questão de método, é uma coisa
a propósito da reunião de Melun, e agora senti o diferente. O que é o talento?
mesmo. Os problemas pedagógicos ... (Silêncio muito prolongado.)
I. P.- Escute! Eu não tenho 'opinião no campo J. P. -E um segredo. O mais misterioso dos se-
da pedagogia. O problema da educação interessa-me gredos.
vivamente, porque tenho a impressão de que há J.-Cl. B. -Que diabo de resposta na boca de um
imensa coisa a transformar e a reformar, mas penso cientista.
que o papel do psicólogo é fornecer os dados que o J. P. -Não. E o mais desconhecido dos problemas
pedagogo pode utilizar, e não pôr-se no lugar de no campo da psicologia da inteligência. Todos os inves-
educador, ou dar-lhe conselhos. E ao pedagogo que tigadores que tentaram sacar os factores e as condi-
compete ver como é que pode utilizar aquilo que lhe ções do génio rebentaram com as suas cabeças, porque
é oferecido. A pedagogia não é apenas uma pedago- não se consegue perceber a questão. Não é um diabo
gia aplicada. E além disso u m conjunto de técnica de uma resposta. E a confissão de uma lacuna.
que compete ao especialista ajustar. J.-Cl. B. -Mas um dia sabê-lo-emos?
J.41. B.-Mas tem ou não tem a sensação de I. P. -Espero bem que sim. Porque não?
que os seus trabalhos teóricos influenciaram a peda- J.41. B.-E u m problema que o ocupe pessoal-
gogia? Há pouco falávamos das matemáticas. mente?
J. P. -Alguns deles, sim. -
J. P. Ah, com certeza que sim! Tenho u m antigo
J.-Cl. B.- Mas não de forma geral? colalmrador, u m colega americano, Gruber, que de-
J. P.- Acho que não. N o que toca às matemá- dica rodo o seu tempo ao estudo da génese das ideias
ticas modernas que se ensinam às crianças, existe uma nos cientistas, e nos génios, a partir de Darwin. E in-
espantosa convergência com aquilo que nós descobri- crível como esse problema é complexo. D m i n undou
mos do ponto de vista da Psicologia. E aqui podemos às voltas durante três, quatro anos, para descobrir
falar de aplicação directa Mas acabamos de ver as algo que já estava logicamente contido no que dissera
dificuldades! E, por outro lado, o que me choca é quatro anos antes. E um pmblema dos diabos.
que não se faz nada para desenvolver o espírito ex-
perimental na criança Dá-se-lhe lições, mostra-se-lhe
experiências, mas mostrar-lhas não é a mesma coisa
que fazê-las pessoalmente. Estou convencido de que
se poderia fazer um ensino activo formidável dando
às crianças dispositivos com os quais elas pudessem
experimentar e descobrir sozinhas montes de coisas.
Orientadas, é evidente. Mas enfim. é preciso que sejam
os profissionais a ver como é que tudo isso se pode
realizar na prática.
J.-CI. B.-Constato que (sem fazer pedagogia!) está
a apontar para uma certa concepção da educação que
não é vulgar, ao fim e ao cabo.
J. P. -Nada disso. A educação, na perspectiva
corrente. consiste em tentar tornar a criança conforme
ao tipo de adulto da sociedade a que pertence.
J.-CI. B. -Conforme aos homens de que se tem
necessidade ...

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