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Resumo: Esta pesquisa tem por objetivo analisar as relações de exploração do trabalho no
mundo capitalista, discutir sobre o papel que a educação vem desempenhando neste cenário,
como aparelho ideológico da classe dominante, assim como refletir acerca do real papel da
educação frente às desigualdades impostas pela luta de classes no sistema capitalista. Buscar-
se-á, deste modo, por intermédio da leitura dos autores Marx (2004), Gramsci (2001) e Chauí
(1984) pensar sobre a relação entre homem, trabalho e educação, a fim de desvelar a face oculta
da escola enquanto mecanismo de transformação social pelo viés da alienação e da inculcação
dos ideais dominantes como únicos vigentes, de modo que as condições sociais e materiais da
classe dominada sejam enxergadas como imutáveis. Analisar-se-á, ainda, no contato com o
pensamento de Freire (2005), Tonet (2016), Rodrigues (2007) e Althusser (2007), os meios
pelos quais a escola pode configurar como mecanismo de redenção e/ou de autonomia frente às
desigualdades impostas pelo capitalismo.
INTRODUÇÃO
Graduada em Pedagogia pela Faculdade Alfredo Nasser no semestre letivo 2018/2.
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Nas mais diversas definições do conceito de trabalho, desde as mais simples às mais
complexas, é lugar comum a relação entre a natureza humana e a transformação que o homem
produz na natureza mediante seus esforços. Tais concepções compreendem o trabalho como
elemento intrínseco à humanidade. O trabalho é visto como elemento essencial para a
construção e transformação do espaço. E, logo, na construção humana como reflexo do meio
construído individual ou coletivamente.
Segundo Marx, nos Manuscritos Econômico-Filosóficos, o trabalho humano é o que
diferencia os indivíduos dos demais animais, tornando-os conscientes de si mesmos, a ponto de
cada sujeito se ver como produtor de sua própria existência material que, por sua vez, reflete na
essência espiritual.
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[...] a propriedade privada capitalista. Aqui a divisão social do trabalho alcança seu
ápice: de um lado, os proprietários privados do capital (portanto dos meios,
condições e instrumentos da produção e da distribuição), que são também os
proprietários do produto do trabalho, e, de outro lado, a massa dos assalariados ou
dos trabalhadores despossuídos, que dispõem exclusivamente de sua força de
trabalho, que vendem como mercadoria ao proprietário do capital. (CHAUÍ, 1984,
p.63)
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Desse modo, o trabalho como resultado da produção do meio pelo homem é substituído
pelo trabalho alienado. A alienação do trabalho acarreta no distanciamento do homem consigo
mesmo, como se a produção material interviesse diretamente na produção espiritual.
Segundo Marx e Engels (2007) no período medieval o trabalho ainda possuía caráter
humano, uma vez que o trabalhador, ao executá-lo, sentia-se inteiramente ligado ao seu objeto
de trabalho. Diferente do trabalhador moderno que tem no objeto de trabalho apenas o meio de
obtenção de seu salário. A indústria moderna distanciou o trabalhador da concepção genérica
de trabalho. O caráter satisfatório do trabalho deu lugar ao descontentamento do trabalhador
que não se reconhece em sua produção.
É por isso que, nos artesãos medievais, ainda se encontrava um interesse por seu
trabalho específico e pela habilidade em executá-lo, o que muitas vezes podia
elevar-se até a um limitado sentido artístico. Mas é por isso, também, que cada
artesão medieval estava plenamente absorvido em seu trabalho, tinha com ele uma
aprazível relação servil e estava mais submetido a ele do que o trabalhador moderno,
para quem seu trabalho é indiferente [...] A grande indústria criou uma classe que
tem em todas as nações o mesmo interesse e na qual toda nacionalidade já está
destruída; uma classe que, de fato, está livre de todo o mundo antigo e, ao mesmo
tempo, com ele se defronta. A grande indústria torna insuportável para o trabalhador
não apenas a relação com o capitalista, mas sim o próprio trabalho. (MARX;
ENGELS, 2007, p.61)
Essas transformações nas relações de trabalho, advento do sistema capitalista, são frutos
da divisão social de classes. A classe detentora do poder – que, no caso do capitalismo, é a
classe que detém os meios necessários para a produção e fabricação de produtos com o objetivo
de gerar lucro – e a classe não possuidora dos meios de produção – que para satisfazer suas
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necessidades básicas, não possuindo meios para tal feito, fica a depender do trabalho que lhes é
ofertado – trocam a única coisa que lhes é cabível por outra coisa, o dinheiro. Nas palavras dos
autores:
O proletário, por exemplo, que, como qualquer outro ser humano, tem a vocação de
satisfazer as suas necessidades e que não consegue satisfazer nem mesmo as
necessidades que tem em comum com qualquer outro ser humano, que é subjugado
pela obrigatoriedade da jornada de trabalho de catorze horas diárias no mesmo nível
do animal de carga, rebaixado pela concorrência à condição de coisa, de mercadoria,
que é desalojado de sua posição de mera força produtiva, a única que lhe deixaram,
por outras forças produtivas mais poderosas – este proletário tem, já por isso, a
missão real de revolucionar suas condições. É claro que ele pode conceber isso
como sua “vocação”; ele também pode, caso queira fazer propaganda, expressar essa
sua “vocação” de tal maneira que a vocação humana do proletário seja fazer isto e
aquilo, tanto mais porque sua posição não lhe permite satisfazer nem mesmo as
necessidades que decorrem de sua condição natural mais imediata. (MARX;
ENGELS, 2007, p.280)
No modo de produção capitalista o homem não é mais visto como indivíduo, mas como
mão-de-obra, fonte de riquezas para aquele que paga por seu trabalho. Segundo Lombardi,
Saviani e Sanfelice (2002) Gaudêncio Frigotto afirma que:
Diferente do animal, que vem regulado por relações causais, programado por sua
natureza, e por isso não projeta sua existência, não a modifica, mas se adapta e
responde instintivamente ao meio, os seres humanos criam e recriam, pela ação
consciente do trabalho, sua própria existência. O trabalho humano, enquanto
atividade consciente, não é de caráter causal, mas teleológico. Engendra, por isso,
opção, escolha e liberdade. [...] Não se trata, porém, de uma escolha isolada, fora de
condições históricas socialmente construídas. Trata-se da célebre tese de Marx de
que “os homens fazem a história, mas não em condições escolhidas por eles”. As
condições não escolhidas se referem a um conjunto de determinações que
produziram uma determinada estrutura e superestrutura social que nos condiciona.
Não se trata, porém de uma estrutura e superestrutura produzidas por uma
causalidade relacionada às forças da natureza, mas de um processo teleológico
tecido nas relações de força ou de poder entre os próprios seres humanos.
(FRIGOTTO, 2002, p. 63).
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Essa parcela de seres humanos vende a sua força de trabalho em troca dos subsídios
necessários à obtenção dos recursos mínimos para a sua sobrevivência, como moradia,
alimentação e vestuário. Apesar da relação de exploração entre as classes, a sociedade de
massas, maior parte da população, se mantém refém deste processo. Submissa, aceita a
realidade na qual está inserida como verdade absoluta e vê no modo como vive o único
possível.
Parte deste controle social é possibilitada pelo fato de que a classe dominante vende,
através de um processo ideológico, suas ideias como universais. A ideologia dominante aparece
como a única válida no imaginário coletivo e serve como mecanismo de alienação e submissão
da classe dominada perante os ideais elaborados pelos dominantes.
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A ideologia dominante prega a ilusão de que, através de seus esforços, qualquer indivíduo
conseguirá atingir altos patamares sociais na sociedade na qual está inserido. Faz parte da
mentalidade do proletariado a ideia de que sua situação de subordinado é passageira, fruto de
seu desempenho, relacionada ao tamanho de seu esforço e que, no entanto, depende apenas
dele a obtenção dos meios necessários para melhorar sua condição de vida.
A ideologia burguesa, através de seus intelectuais, irá produzir ideias que confirmem
essa alienação, fazendo, por exemplo, com que os homens creiam que são desiguais
por natureza e por talentos, ou que são desiguais por desejo próprio, isto é, os que
honestamente trabalham enriquecem e os preguiçosos, empobrecem. Ou, então, faz
com que creiam que são desiguais por natureza, mas que a vida social, permitindo a
todos o direito de trabalhar, lhes dá iguais chances de melhorar – ocultando, assim,
que os que trabalham não são senhores de seu trabalho e que, portanto, suas
“chances de melhorar” não dependem deles, mas de quem possui os meios e
condições do trabalho. Ou, ainda, faz com que os homens creiam que são desiguais
por natureza e pelas condições sociais, mas que são iguais perante a lei e perante o
Estado, escondendo que a lei foi feita pelos dominantes e que o Estado é
instrumento dos dominantes.(CHAUÍ, 1984, p.78-79)
Os burgueses pagam bem o seu Estado e fazem com que a nação inteira também o
faça para que eles, os burgueses, possam pagar mal sem correr perigo; eles
asseguram para si, mediante bom pagamento aos serviçais do Estado, uma força
protetora, uma polícia; eles contribuem de bom grado e fazem toda a nação pagar
altos tributos para que eles possam, sem correr riscos, descontar novamente dos seus
trabalhadores, como tributo (como desconto do salário), aquilo que pagaram.
(MARX; ENGELS, 2007, p. 198)
O Estado serve assim aos interesses da burguesia. E se coloca muita das vezes como
mecanismo de alienação. Propaga os ideais dominantes como se fossem interesses gerais.
Criam leis que os beneficiam, dissemina sua ideologia como se fosse para o bem geral e
promovem uma política ideológica que oprime e dá poder a quem se quer oprimir e a quem
paga por poder.
O Estado aparece como a realização do interesse geral (por isso Hegel dizia que o
Estado era a universalidade da vida social), mas, na realidade, ele é a forma pela
qual os interesses da parte mais forte e poderosa da sociedade (a classe dos
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A concepção que faz parte do imaginário coletivo da classe dominada é de que, sob o
domínio da burguesia, são mais livres que antes, uma vez que o emprego garante a estes os
recursos mínimos para sua sobrevivência, que outrora eram incertos e duvidosos. Porém, a
realidade é que o proletariado vive uma falsa liberdade, em um mundo que, apesar de ser
criado através do seu trabalho, não reflete suas vontades e no qual o indivíduo, construtor do
meio no qual está inserido, não se reconhece enquanto construtor. Um lugar em que as coisas
fabricadas não espelham o reflexo do fabricante, onde o artesão, o construtor, o operário não
passam de uma coisa.
2. CAPITALISMO, ALIENAÇÃO E EDUCAÇÃO
A história de todas as sociedades até hoje existentes é a história das lutas de classes.
Homem livre e escravo, patrício e plebeu, senhor feudal e servo, burgueses de
corporação e oficial, em suma, opressores e oprimidos, estiveram em constante
oposição uns aos outros, travaram uma luta ininterrupta, ora oculta ora aberta, uma
luta que terminou sempre ou por uma transformação revolucionária da sociedade
inteira, ou pela destruição das duas classes em conflito. (MARX, ENGELS, 2005,
p.40)
Através de seu trabalho, o homem transformou por milênios o meio social ao qual
esteve inserido. Essas transformações, por sua vez, transcendem gerações e influenciam os
homens em seu pensamento e aprendizado, geração após geração. Desse modo, o homem de
seu tempo parece possuir uma visão embaçada da realidade na qual está inserido. Segundo
Rodrigues, o trabalhador não reconhece a relação de exploração a que está sujeitado e
assimila tal realidade como a única possível.
Na cabeça dos homens que vivem sob este sistema, isso é percebido, no plano das
ideias, como algo normal, natural. Ao trabalhador lhe parece natural que certas
pessoas tenham que trabalhar em troca de um salário para viver, como se isso
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sempre houvesse existido e, mais ainda, como se tivesse que continuar existindo
para sempre. Esse indivíduo não vê a sociedade capitalista como uma sociedade
historicamente construída pela luta entre uma classe com intenção de ser a classe
dominante e outras classes, que acabaram sendo submetidas a esta. (RODRIGUES,
2007, p.37)
[...] toda nova classe que toma o lugar de outra que dominava anteriormente é
obrigada, para atingir seus fins, a apresentar seu interesse como o interesse comum
de todos os membros da sociedade, quer dizer, expresso de forma ideal: é obrigada a
dar às suas ideias a forma da universalidade, a apresentá-las como as únicas
racionais, universalmente válidas. (MARX; ENGELS, 2007, p. 48)
Toda classe que assume o poder busca, através da dominação, manter-se no poder.
Isso ocorre de maneira ostensiva e na maioria das vezes de maneira silenciosa, ideológica.
Para isso, a classe dominante conta com um aparelho ideológico irrefutável, a escola. A
educação figura neste cenário como mecanismo de afirmação das ideologias dominantes,
auxiliando na disseminação de sua cultura como única e universal.
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Para Gramsci (2001), a escola não pode ser dividida em classes. O autor defende a
ideia de escola unitária, sem distinção entre os valores absorvidos por classes diferentes, para
que desta forma cada classe possa produzir seus próprios intelectuais. Segundo Rodrigues,
Fica claro que a preocupação de Gramsci é abrir a todas as classes, e não apenas às
dominantes, a capacidade de formar seus próprios intelectuais, pois sem isso a luta
pelo poder fica extremamente desequilibrada nas sociedades complexas. Se todos
não tiverem acesso a uma escola que lhes permita uma formação cultural básica, que
possa ser eventualmente expandida em seguida, a "batalha das ideias’' vai ser
sempre ganha pelas classes dominantes. (RODRIGUES, 2007, p. 80)
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Peço desculpa aos professores que, em condições terríveis, tentam voltar contra a
ideologia, contra o sistema e contra as práticas em que este os encerra, as armas que
podem encontrar na história e no saber que «ensinam». Em certa medida são heróis.
Mas são raros, e quantos (a maioria) não têm sequer um vislumbre de dúvida quanto
ao «trabalho» que o sistema (que os ultrapassa e esmaga) os obriga a fazer, pior,
dedicam-se, inteiramente e em toda a consciência à realização desse trabalho (os
famosos métodos novos!). Têm tão poucas dúvidas, que contribuem até pelo seu
devotamento a manter e a alimentar a representação ideológica da Escola que a torna
hoje tão «natural», indispensável-útil e até benfazeja aos nossos contemporâneos,
quanto a Igreja era «natural», indispensável e generosa para os nossos antepassados
de há séculos. (ALTHUSSER, 2007, p. 67-68)
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O ser menos leva os oprimidos, cedo ou tarde, a lutar contra quem os fez menos. E
esta luta somente tem sentido quando os oprimidos, ao buscarem recuperar sua
humanidade, que é uma forma de criá-la, não se sintam opressores, nem se tornem,
de fato, opressores dos opressores, mas restauradores da humanidade em ambos. E
aí está a grande tarefa humanista e histórica dos oprimidos – libertar-se a si mesmos
e aos opressores. (FREIRE, 2005, p. 40)
Entretanto, é preciso observar que, apesar de o professor ser caracterizado como uma
figura pública, e de sua função poder ser exercida em diferentes lugares dentro do espaço
social, existe um lugar específico onde seu papel possui maior relevância e visibilidade: a
escola. O espaço escolar deveria permitir com maior intensidade que o professor
desempenhasse sua função enquanto intelectual orgânico, quando, no entanto, este se encontra
limitado e refém de um sistema educacional condicionado às necessidades capitalistas.
O que incorpora à sua prática é a ideia de progresso pessoal como algo cumulativo e
carente de limites, através da experiência da soma de anos de escolaridade, matérias
cursadas, créditos, títulos, etc., e de sua sempiterna insuficiência. Por outro lado, não
é difícil associar à escola a convicção de que qualquer tempo futuro será melhor:
frente ao cinza do presente escolar, o futuro de trabalho pode parecer pintado com
todas as cores do arco-íris; e, mesmo que se o anteveja cinza, pelo menos será
remunerado. (ENGUITA, 1989, p. 179).
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Não basta que as condições de trabalho apareçam num pólo como capital e no outro
como pessoas que não têm nada para vender, a não ser sua força de trabalho.
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O trabalho sempre esteve vinculado à humanidade. Através dele, o homem obteve seu
sustento e os meios cabíveis para alcançar o progresso que se vislumbra hoje. Ainda através
do trabalho, foram formados os laços entre os sujeitos e forjada a sociedade humana. No
mundo antigo, ainda que o trabalho fosse destinado às classes inferiores, girava em torno dele
uma atmosfera criativa e potencializadora das habilidades humanas. Nessa perspectiva, o
trabalho na sociedade capitalista moderna teve sua gênese alterada.
Com o crescimento do capitalismo e a divisão social em classes, o trabalho passou a
ser objeto de negação humana. O trabalho deixa de ser voltado para o atendimento às
necessidades humanas e adquire caráter de mera reprodução e acumulação do capital: o
indivíduo que possuir meios para não trabalhar é também o mais poderoso. Não trabalhar
passa a ser sinônimo de status, até mesmo diante daqueles que trabalham. Para Marx (apud
TONET, 2016, p. 77):
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Neste cenário, figura a educação como elemento dominante de formação social. A classe
dominante, chamada por Marx de burguesia, utiliza-se da educação como mecanismo de
manutenção do seu poder na sociedade atual. Os valores ensinados na escola para crianças das
classes menos abastadas, são superficiais e imbuídos de ideologias, com um único propósito: a
formação de mão-de-obra para o capital. “Com a entrada em cena da sociedade de classes,
também a educação foi, por assim dizer, “sequestrada”, isto é, organizada, em seu conteúdo e
em seus métodos, de modo a atender os interesses das classes dominantes”. (TONET, 2016, p.
79)
A educação é configurada, assim, de maneira a reproduzir os valores da classe
dominante, fazendo com que a classe dominada aproprie-se deles como se fossem seus. O
conteúdo é ministrado nas escolas como se o aluno fosse um recipiente vazio, no qual todo
aquele emaranhado de informações sobre como ele deve ser e agir é depositado.
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Assim, é mantida a desigualdade que afeta a classe dominada e esta se mantém sob
controle, aceitando seu destino, como se toda a segregação a qual é submetida fosse parte
natural de sua existência.
Mais uma vez se antagonizam as duas concepções e as duas práticas que estamos
analisando. A “bancária”, por óbvios motivos, insiste em manter ocultas certas
razões que explicam a maneira como estão sendo os homens no mundo e, para isto,
mistifica a realidade. A problematizadora, comprometida com a libertação, se
empenha na desmitificação. Por isto, a primeira nega o diálogo, enquanto a segunda
tem nele o selo do ato cognoscente, desvelador da realidade. (FREIRE, 2005, p. 83).
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assim, possam transformar o mundo em que se vive ao mesmo passo que o indivíduo é
transformado por ele.
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social dos discentes. Assim a educação, poderá, através da figura do professor enquanto
intelectual orgânico da classe proletária, incutir nos sujeitos a ideia da consciência de classe,
contra o individualismo e contra o fatalismo, mostrando-lhes a possibilidade de se assumir
como agente transformador do mundo no qual estão inseridos.
Do mesmo modo que a escola serve aos interesses dominantes, ela também poderá
servir ao desmantelamento deste sistema desigual. A educação segundo Freire, é “uma forma
de intervenção no mundo. Intervenção que além do conhecimento dos conteúdos, bem ou mal
ensinados e/ou aprendidos, implica tanto o esforço de reprodução da ideologia dominante,
quanto o seu desmascaramento.” (FREIRE, 1996, p. 98). É preciso, no entanto, ter cuidado
com os extremos. Esta transformação, por sua vez, não representa necessariamente um
movimento de rebeldia, nem de tomada do poder de uma classe sobre outra, mas da
importância de se ter consciência das classes estabelecidas para que se possa, a partir dessa
percepção, evidenciar ações que amenizem as diferenças pela promoção gradual da equidade
entre elas. Como nas palavras de Freire:
Não se trata obviamente de impor à população explorada e sofrida que se rebele, que
se organize para defender-se, vale dizer, para mudar o mundo. Trata-se, na verdade,
de simultaneamente com o trabalho específico de cada um desses campos, desafiar
os grupos populares para que percebam, em termos críticos, a violência e a profunda
injustiça que caracterizam sua situação concreta. Mais ainda, que sua situação
concreta não é destino certo ou vontade de Deus, algo que não pode ser mudado.
(FREIRE, 1996, p. 79-80)
A verdadeira e única luta na qual a educação não peca ao entrar, é a luta pela equidade
de direitos, pelo respeito ao gênero humano em sua totalidade e da consciência e criticidade a
respeito do mundo. E neste sentido fazer-se entender que por mais que este sistema pareça
imutável, há no simples ato de reconhecê-lo, uma forma de protesto.
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Segundo Paulo Freire, o ideal do oprimido não deve jamais ser o de assumir o lugar dos
que oprimem, mas libertar a si e aos oprimidos. Afinal, uma vez que uma classe usa de seu
conhecimento para promover a dominação sobre a outra, o verdadeiro propósito da aventura da
educação fracassou. Segundo Freire “Quando a educação não é libertadora, o sonho do
oprimido é ser o opressor”. (apud BIAGOLINI, 2009, p. 66).
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alienada e que, de modo mais consciente, crítico, por meio do enfrentamento da mera educação
disciplinadora de corpos e mentes alienadas.
Abstract: This research aims to analyze the relations of labor exploitation in the capitalist
world, discuss the role that education has played in this scenario as the ideological apparatus
of the ruling class, as well as to reflect on the real role of education in face of the inequalities
imposed by the struggle of classes in the capitalist system. In this way, through the authors
Marx (2004), Gramsci (2001), Chauí (1984), we try to think about the relation between man,
work and education, in order to unveil the hidden side of the school as a mechanism of social
transformation by the bias of alienation and inculcation of dominant ideals as unique. So that,
through this, the conditions, social and material, of the dominated class are seen by them as
immutable. It will also be analyzed through Freire (2005), Tonet (2016), Rodrigues (2007),
Althusser (2007) the means by which the school can be configured as a mechanism of
redemption and / or autonomy in face of the imposed inequalities by capitalism.
REFERÊNCIAS
ENGUITA, Mariano Fernández. A face oculta da escola. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. 41. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
______. Pedagogia do oprimido. 49. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.
GENTILI, Pablo. Três teses sobre a relação trabalho e educação em tempos liberais. In:
LOMBARDI, J. C; SAVIANI, Dermeval; SANFELICE, José Luís. (Org.). Capitalismo,
trabalho e educação. Campinas: Autores Associados, 2002.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã. São Paulo: Boitempo, 2007.
TONET, Ivo. Educação contra o capital. 3. ed. São Paulo: Instituto Lukács, 2016.
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