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Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, Suplem en to 12: 71-78, 2011.

Estabelecim ento e perm anência do espaço religioso em um a colônia


grega do Ocidente: o templo da C oncórdia em Agrigento

Regina H. Rezende*

REZEN D E, R.H. Estabelecimento e permanência do espaço religioso em uma colônia


grega do Ocidente: o templo da Concórdia em Agrigento. Revista do Museu de
Arqueologia e Etnologia, São Paulo, Suplem ento 12: 71-78, 2011.

R e su m o : A partir da apresentação do tem plo da C on córd ia, cuja existência


é atestada na pólis de A grigento em 440-30 a.C ., pretendem os abordar questões
relativas ao estabelecim ento dos tem plos nas colônias gregas do O cidente du­
rante o período A rcaico, sua perm anência nos períodos C lássico e H elenístico
e sua m anutenção com o espaço de culto durante a ocupação rom ana até a A lta
Idade M édia qu an d o, no século VI d .C . seu espaço foi rem anejado e usado
para o culto cristão.

Palavras-chave: Tem plos gregos - C olôn ias gregas do O cidente - Espaços de


culto.

N
ossa proposta aqui é expor a m aneira aspectos sócio-políticos, diferente daquela que
com o o espaço religioso na colônia ocorreu durante o estabelecim ento da m aioria
grega de A grigento foi sendo estabelecido, desta­ das colônias dos séculos VIII e VII a.C .: Verone­
cando o assim ch am ado tem plo da C on córd ia, se, a partir de Tucídides (VI, 4,4), afirm a que a
construído na pólis p or volta de 440-430 a.C . A cidade nasce, de fato, com o um a subcolônia da
partir dos dad os que as pesquisas arqueológicas sua vizinha G ela, cerca de 108 anos depois da
nos revelam a respeito deste tem plo, discuti­ sua fundação, d an do à nova fun dação o nom e
remos, ainda que de form a breve, questões a do rio A kragas. O s colonos foram guiados nessa
respeito da perm anência deste espaço en quanto em preitada pelos oikistas A riston oo e Pistilo
um local de culto religioso. (Veronese 2006: 435).
U m a das últim as colônias gregas estabeleci­ A cidade passou a se cham ar A grigento a
das na Sicília, A grigento, que em época grega se partir de 210 a.C ., q u an d o foi definitivam ente
cham ava Akragas, foi fun dada, segundo Tucídi- ocup ada pelos rom anos e este continua a ser
des (VI 5, 4), 153 anos depois de Siracusa, em o nom e pela qual é conhecida atualm ente. E
582 a.C . (Fig. 1). Essa cronologia é em grande por esse m otivo que decidim os usar o nom e de
m edida confirm ada pelo m aterial arqueológi­ A grigento, m esm o qu an d o tratam os da pólis de
co m ais antigo. Su a fun dação foi, por alguns época grega.
Essa pólis se estabeleceu n o cum e (a cerca
de 300-350 m sobre o nível d o mar) de duas co­
(*)D outoran d a em Arqueologia C lássica pelo Labeca - M AE linas estreitas e longas, dispostas grosseiram ente
/ USP. Bolsista da Fapesp. reginahr@ usp.br no sentido leste-oeste, a colina de G irgenti a

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Estabelecimento e permanência do espaço religioso em uma colônia grega do Ocidente: o templo da Concórdia em Agrigento.
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Fig. 1. M apa da Sicilia, com Agrigento em destaque.

oeste e a Rupe A tenea a leste, ligadas por um A grigento teve seu desenvolvim ento urbano
estreito istm o; com a sua costa term inando m arcado pelas obras dos tiranos. Pouco m ais de
em precipício ao sul (a colina dos Tem plos) e dez anos depois de sua fun dação impõe-se sobre
um am plo vale central quase plan o (o Vale dos
Tem plos), estava disponível um am plo espaço
destinado ao desenvolvim ento urbano regular.
O vale ao norte das duas colinas é atravessado
por dois rios, o A kragas (atual S. Biagio) a norte
e a leste e o H ypsas (atual S. A nn a) a oeste, que
se ju n tam próxim o à cidade, para desem boca­
rem no m ar com o um único curso d ’água (atual
S. Leone), em cuja foz foi estabelecido o porto
antigo de A grigento. Pela necessidade de abarcar
tod o o sistem a de alturas - a Rupe A tenea e as
colinas de G irgenti e dos Tem plos - a fim de se
criar um com plexo de fácil defesa, a superfície
da pólis abrange um a enorm e extensão de terri­
tório, de cerca de 4 5 0 hectares. A área habitada
se estabeleceu no cham ado Vale dos Tem plos e
n o centro, entre as três colinas (Fig. 2). Su a im­
plan tação é datada da m etade d o século VI a.C .
e obedece em linhas gerais ao traçado “hipodâ- Fig. 2. Planta de Agrigento, com o Templo da Concór­
m ico” (C oarelli e Torelli 1988: 129). dia em destaque. (Fonte: Coarelli; Torelli 1988: 130).

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a pólis o tirano Fálaris. S ob o seu com an d o, a U m dos trabalhos alm ejava erigir o m aior
nova cidade prosperou rapidam ente e tornou-se de todos os tem plos, com toda p robabilidade de­
m uito poderosa, sen d o su perada apenas p or S i­ dicado a Zeus, m as acabou por n ão ser realizado
racusa (Veronese 2006: 437-438). D urante esse por com pleto, p or falta de recursos, problem as
período de tirania foram construídos provavel­ construtivos ou, talvez, p or dispu tas políticas
mente a m uralha que cerca a cidade, abraçan do internas ou externas, das qu ais n ão tem os
a Rupe A tenea e o perím etro da C o lin a dos conhecim ento.
Tem plos, e da qual ain da restam m uitos traços, N o âm bito da arquitetura religiosa foram
e os prim eiros edifícios sacros, edificados sobre construídos em um curto espaço de tem po dois
antigos santuários indígenas que os precederam , tem plos dóricos, o tem plo de H era, em cerca de
dedicados desde o seu surgim ento ao culto das 4 5 0 a.C . e o cham ado tem plo da C on córd ia, ini­
divindades ctônias. A política expansionista an­ ciado em cerca de 440-430 a.C . Segun do Ceei,
dou junto com o crescim ento da cidade, e ainda “ os dois m onum en tos são gêm eos,
com Fálaris é construído o prim eiro tem plo quase iguais em m edidas, na estrutura arquitetô­
dedicado a Zeus na acrópole, provavelm ente no nica e na im plantação, m as a precisão com que
local onde hoje se encontra a catedral, e do qual foram construídos é m uito diferente: a meticu-
não resta m ais nada. N o final do século VI a.C . losidade construtiva do tem plo da C on córd ia,
foi iniciada a construção d o prim eiro grande a precisão no corte e na disposição das pedras,
tem plo canônico, o tem plo dito de H ércules, são enorm es se com paradas ao tem plo de H era
no setor sul, ju n to à p orta Á urea da m uralha da (2005: 133).
cidade. M esm o em época grega esta p orta devia N o final do século V a.C . os cartagineses,
ser o principal acesso à pólis. que haviam recuperado sua força, voltam a ata­
N o início d o século V a.C . um novo tirano, car as colônias gregas. D epois de oito m eses de
Téron (488-472 a.C .), assum e o p oder (Jannelli assédio eles entram em A grigento, saqueando-a
e Longo 2004: 96), que intencionava levar a e incendiando-a. C o m essa derrota a cidade
pólis à suprem acia absolu ta de toda a Sicília. perde seu território e sua im portância, passan do
Seu período de d om in ação foi m arcado pela por um período de total ab an d on o que dura
presença dos C artagin eses, um perigo externo cerca de m eio século. A penas em 340 a.C .,
que foi derrotado por A grigento e outras cida­ época de Tim oleonte, que venceu os cartagine­
des gregas aliadas em 4 8 0 a.C ., na grande bata­ ses, A grigento é reconstruída e vive um novo
lha de H im era. O p eríodo posterior à grande m om ento de expansão urbanística (Jannelli e
batalha significou para A grigento, assim com o Longo 2004: 98). C on h ecem os essa etapa do
para outras cidades, com o Siracusa, o apogeu do seu desenvolvim ento através das escavações
seu p oder político e econ ôm ico. O poeta grego relativam ente recentes que foram em preendidas
Píndaro descreve a A grigento dessa época com o no bairro helenístico-rom ano da pólis (C oarelli
“a m ais bela cidade dos m ortais... e com um a e Torelli 1988, passim) e pela docum en tação de
incrível op u lên cia” (Píndaro, Pyth 12.3: 1-2). época rom ano-republicana, que deixou registros
A vitória na batalh a de H im era trouxe ricos e significativos.
consigo um significativo afluxo de recursos e O tem plo da C o n có rd ia foi construído em
de mão-de-obra servil, fato que é atestado pelas A grigento em 440-430 a.C (C oarelli e Torelli
fontes, o que perm itiu ao tirano T éron e à 1988: 138). E um tem plo grandioso e atual­
“dem ocracia” que foi restaurada posteriorm ente m ente encontra-se perfeitam ente conservado.
em preenderem um am bicioso program a de tra­ M uitos estudiosos acreditam que sua preserva­
balhos públicos, que se concentrou sobretudo ção se deve ao fato de ter sido transform ado em
na construção de tem plos e da kolymbetra, um basílica cristã no século VI d .C . D e fato, esse
gigantesco reservatório de água extra-urbano. E é um dos tem plos m ais bem conservados d o
o início de um a fase de excepcional florescim en­ m u n d o grego, juntam ente com o H efesteu de
to para A grigento, que se desenvolveu ao longo A tenas e o tem plo de Poseidon em Poseidônia
de tod o o século V a.C . (Paestum). E ch am ado de tem plo da C o n có rd ia

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devido a um a inscrição que foi en contrada no estruturais e da habilidade na utilização da ordem


século X V I d .C ., m as a divindade ao qu al foi dórica (Fig. 3), com o havia sido estabelecido no
dedicad o em época grega é ain da desconh ecida templo de Olím pia. A perístasis, de 6x13 colu­
(Jannelli e Longo 2 0 0 4 : 108). nas, é apoiada em um krepidoma de 4 degraus, de
O templo se apresenta com o um belo exem­ 16,91 m de largura por 39,44m de comprimento
plo das criações da arquitetura sacra grega graças (Fig. 4). Tanto o exterior quanto o interior do tem­
ao equilíbrio e a perfeição dos seus elementos plo eram revestidos de estuque com policromia.

Fig. 3. O Partenon, um exemplo de templo grego construído na ordem dórica.


(Fonte: Acervo Pessoal set./2009).

.i , . + -H ----------------------- 1-----------------------1----------------------- (----------------------- 1-----------------------1


K> 0 50M

Fig. 4. Planta típica do templo grego, destacando seus ambientes principais.


(Fonte: M inà 2005: 55).

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C o m o já foi m e n c io n a d o , esse tem plo p ared es d o s d o is lad o s m aiores d a cela, o n d e


foi tra n sfo rm ad o n o sé cu lo VI d .C . em um a se co n stru iu a nave ca n ô n ica da igreja. A nave
igreja cristã. E ssa o co rrê n cia p rovo cou u m a cen tral co in cid iu assim co m a largu ra d a cela
tran sfo rm ação su b sta n cial n a estru tu ra d o ed i­ e as d u as naves laterais o cu p avam a p erístasis.
fício, qu e se co n stitu iu no reap ro veitam en to O altar de ép o ca clássica foi d e stru íd o e no
d o esp aço d o tem plo grego p ara su a utiliza­ lad o Leste foi acrescen tad a a S acristia. D essa
ção co m o igreja. N e sse caso a tran sfo rm ação form a o ed ifício se to rn o u um o rg an ism o com
em igreja cristã co m p o rto u u m a inversão da a p erfeita form a de b asílica. A igreja tin h a um
o rien tação an tiga: p ara tan to a p ared e d o fu n ­ n ártex, a ce ssad o p o r u m a escad a e o c u p a n d o
d o da cela, qu e a d iv id ia co m o o p istó d o m o , o esp aço o n d e, n o tem plo origin al, estava a
foi d em o lid a, os in terco lú n io s foram fecha­ tran sição entre o o p istó d o m o e a cela (Figs. 5,
d o s e foram feitas 12 ab ertu ras em arco nas 6 e 1).

Fig. 5. Planta do Templo da Concórdia, em Agrigento, com ajustes para o uso como basílica cristã.
(Fonte: Griffo 2005: 80).

Fig. 6. Vista da cela do Templo da Concór- Fig. 7. Vista externa do Templo da Concórdia, em Agrigento. (Fonte:
dia, em Agrigento, detacando as aberturas Mertens 2006: 390).
feiras na parede, incorporando as naves lat­
erais à igreja cristã. (Fonte: Griffo 2005:80)

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D etivem o-nos na descrição d o Tem plo da inspiram os n a escola dos A nnales, escola de
C o n córd ia, m as vale a pen a destacar que este h istória econôm ica e social organizada por
n ão é o único edifício em A grigento on de o uso historiadores franceses na prim eira m etade do
en qu an to espaço religioso se m an tém para além século X X , e a partir da sua concepção de tempo
d o p eríodo de ocupação grega. Podem os n otar histórico bu scam os observar essas estruturas na
essa ocorrência em m ais dois lugares: a igreja de longue dureé - a longa duração. N os alinham os
S an ta M aria dei Greci, que conserva em suas à postu ra de arqueólogos com o Levy (1995: 4)
fun dações um tem plo dórico de 480-60 a.C ., e B in tliff (1977) por acreditarm os que a longue
períptero - de dim ensões: 3 4,70 x 15,30m - de durée se m ostra adequ ada à pesquisa arqueológi­
6x13 colunas, com pronaos, cela e op istódom o; ca por se tratar de um processo que abrange um
e, in corporado à pequen a igreja m edieval de grande intervalo de tem po, que evidencia em
São Biagio, foi en contrado um tem plo dedicado seu sistem a os dad os que tam bém a arqueologia
às divindades ctônias. O tem plo, de tam anh o procura interpretar. A pesar da crítica que tem
m édio - de dim ensões: 3 0 ,2 0 x 13,30m - era sido feita nos últim os anos sobre a aplicação dos
dórico in antis, e dele se conservou apenas o conceitos desenvolvidos pela escola dos A nnales
em basam ento (C oarelli e Torelli 1988: 134-135; em estudos na área de A rqueologia, acredita­
Jannelli e Longo 2004: 108). m os que essa m aneira de ver a m udan ça e /o u
Enfim , o Tem plo da C on córd ia de A grigen­ a perm anência em um longo p eríodo histórico
to nos traz um exem plo da perm anência de um a deve ser considerada no desenvolvim ento dessa
form a arquitetônica para um uso específico - o pesquisa.
culto religioso. Se observarm os além dos dados O uso da longa du ração para a interpreta­
m ateriais, podem os entender as m udanças ção arqueológica de um a form a arquitetônica é
form ais que foram identificadas nesse espaço um postura interpretativa que foi adotada em
com o alterações necessárias para ajustar o nossa dissertação de m estrado (Rezende 2008:
antigo tem plo a um culto diferente do que an­ 1-3). Foi ali tam bém que bu scam os construir
teriorm ente era realizado nesse m esm o espaço. n ossa m etodologia a partir de autores que pro­
O que percebem os ao observar com o o edifício curam ver o espaço n ão apenas em sua materia­
foi reestruturado para uso com o igreja cristã é lidade, mas, sobretudo, com o um a m anifestação
que a m udança d o culto não exigiu m udanças concreta da cultura que o cria e faz uso dele.
drásticas em sua form a. D estacam os entre os estudiosos que nos apre­
A questão da perm anência do espaço reli­ sentaram essa m aneira de ver a arqueologia e a
gioso - desde o tem plo grego até a igreja cristã arquitetura: Pearson e Richards (1997), McGui-
- foi tratada em nossa dissertação de m estrado re e Schiffer (1983), Lawrence e Low (1990) e
(Rezende 2008: passim) e perm anece com o um R ap op ort (1982).
pon to a ser aprofun dado no desenvolvim ento N a pesquisa que desenvolvem os atualm ente
do n osso do utorado. N o m estrado, essa ocorrên­ continuam os a adotar essa linha m etodológica,
cia foi observada em duas colônias do O ciden ­ que é usada tam bém por outros pesquisadores
te grego, em A grigento e em Siracusa, onde do Labeca - Laboratório de estudos sobre a ci­
existiram casos de tem plos gregos que tiveram dade antiga, grupo dentro do qual esta pesquisa
a sua estrutura adaptada, durante a A lta Idade se insere. D estacam os nesse grupo o trabalho
M édia, e continuaram a serem u sados com o de C ibele A ldrovandi (A ldrovandi 2006: 99),
igrejas cristãs, m antendo sua existência enquan­ que tam bém assum e essa postura ao lidar com o
to espaço religioso por um período de cerca de estudo de registros arqueológicos.
um m ilênio (Rezende 2008: 160-165). A arquitetura p ossui um a linguagem
A existência de um santuário grego, própria, m uitas vezes difícil de ser representa­
en ten dido com um espaço destinado ao culto d a por palavras. Estabelecendo um a form a de
às divindades por um determ inado grupo que com unicação não-verbal com os indivíduos que
partilha de um a m esm a cultura, é algo que a utilizam, é por m eio dessa linguagem que ela
dura cerca de três séculos ou até m ais. N os dá as pistas sobre com o agir em determ inado

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espaço (R ap o p o rt 1982: 65-67). É a partir dessa C o m o procuram os dem on strar com esse
postura teórica que vem os a perm an ên cia da exem plo, entre o tem plo grego e a igreja cristã
form a e d o espaço religioso do tem plo grego nas existe a perm anência do uso d o edifício para
igrejas cristãs. Essa form a tradicional das igrejas culto religioso, e isso exigiu poucas m udan ças
cristãs - um retângulo dividido em 3 partes, for­ form ais. N o m u n d o grego de época arcaica o
m an do um a nave central e du as naves laterais, tem plo é o edifício que recebe em prim eiro lu­
um a de cada lado da nave central - cham ada gar a m onum entalização e a religião se configura
de basílica, está presente tam bém n a civilização nessa realidade com o um aspecto de integração
rom ana. E xploram os bastante essa continuidade entre as diferentes com un idades. D evido ao seu
da form a arquitetônica tam bém no período caráter m onum en tal, o tem plo é a form a arqui­
rom ano na nossa dissertação de m estrado, e n ão tetônica on de se m anifesta o poder da pólis, tan­
caberia aqui expor as nossas análises. E im por­ to internam ente, para os seus cidadãos, quanto
tante destacar a esse respeito que, a partir das externam ente, frente às outras pólis. M ais ainda,
nossas pesquisas enten dem os que a form a de ba­ o culto religioso que se desenvolve no tem plo é
sílica é um a estrutura de longa duração, qu e se um a m anifestação de identidade entre os gregos:
m antém através dos séculos e passa p or diversas é grego aquele que cultua determ inados deuses
culturas e diversos m om entos: a G récia C lássica, seguindo certos rituais. N o caso grego o culto
o Im pério R o m an o e a Idade M édia. religioso é realizado do lado de fora do tem plo,
A pesar de toda a m udan ça - cultural, polí­ no altar, onde todos os habitantes da pólis têm
tica, social e religiosa - que ocorre na região do acesso ao ritual.
M ar M editerrâneo desde o Período A rcaico, por A basílica cristã, que tom a form a durante a
volta dos séculos VIII e VII a.C . até a A lta Idade A lta Idade M édia, tem com o finalidade abrigar
M édia, que se inicia n o século IV d .C ., a form a o ritual religioso cristão. Ela é configurada com o
do tem plo grego, em linhas gerais, perm anece um espaço que propicia a reunião da assembléia
nas igrejas paleocristãs. N o s aprofun darem os em seu interior, mas para que o culto se realize é
nessa questão da perm anência, e para isso reto­ necessária a presença do sacerdote, que é o indiví­
m am os o exem plo que foi apresentan do aqui: duo apto a estabelecer o contato dos cristãos com
o Tem plo da C o n có rd ia de A grigento. Tendo o seu D eus. O culto cristão se diferencia m uito
em vista os ou tros d o is exem plos desse tipo do culto grego, mas podem os ver igualmente nes­
de preservação d o espaço que tam bém foram sas duas situações a m anifestação do poder por
m encionados nesse texto, p od em os afirm ar que parte de um grupo dom inante pelas estruturas
esta não é u m a ocorrência isolada, que o culto arquitetônicas e o uso que se faz delas.
religioso se manteve estritam ente no m esm o C o n sid eran d o essas duas situações, aparen­
espaço físico para culturas diferentes, em tem ente tão diferentes, procuram os m ostrar que
tem pos históricos diferentes. E ssa perm anência existe um a sem elhança, que reside no uso desses
dem an dou um a p equ en a alteração form al na edifícios com o um a m anifestação do poder
configuração no espaço. Q u al o interesse que vigente. E sob esse aspecto que a perm anência
essa cultura tem em preservar esse espaço com a do uso com o espaço de culto religioso por essas
m esm a função: o culto religioso? diferentes culturas passa a fazer sentido.

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Revista do Museu de Arqueologia e Etnobgia, São Paulo, Suplemento 12: 71-78, 2011.

R EZEN D E, R.H . Establishm ent and preservation o f the religious space in a Western
Greek colony: the temple o f C oncordia in Agrigento. Revista do Museu de Arqueologia
e Etnobgia, São Paulo, Suplem ento 12: 71-78, 2011.

A bstract: From the presentation o f the tem ple o f C on cord ia, whose exis­
tence is attested in the polis o f A grigento in 440-30 B C , we intend to address
issues abou t the establishm ent o f the tem ples in the W estern G reek C olon ies
during the Archaic period, their preservation in the C lassical and H ellenistic
periods and their stay as a place o f w orship during the R om an occupation until
the M iddle A ges when, in the sixth century A D , their space was rearranged and
used for C hristian worship.

K eyw ords: G reek tem ples - W estern G reek colonies - Places o f w orship.

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