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Santos, Laymert Garcia dos. Alie- Após estas distinções, Laymert, capital, privilegiando o capítulo A
nação e capitalismo, São Paulo, escreve que, a partir do século XIV, mercadoria). Finalmente, na conclu-
Brasiliense, 1983. 97 pp. a noção de alienação do espírito são, Laymert vale-se principalmente
inscreve-se na língua para designar· do célebre trabalho de Deleuze e
esse fenômeno individual que é o pro- Guattari, L 'antíoedipe (entre nós O
cesso de enlouquecimento. Entretan- anti-Édipo, publicado pela Editora
to, é no século XIX que a palavra alie- Imago).
nação acaba sendo convocada para
a nomeação de um fenômeno social,. Laymert afirma que muitos estu-
o que Marx chama de patologia in- diosos utilizam o conceito de aliena-
Laymert Garcia dos Santos, pro- dustrial. A partir daí, Laymert se faz a ção "no sentido marxista do termo",
fessor no Departamento de Jornalis- seguinte pergunta: "Que sociedade como se houvesse apenas e tão-
mo da PUC (São Paulo) e no Depar- é essa, em que o próprio modo de somente um sentido marxista de alie-
tamento de Ciências Sociais da Facul- produzir coisas produz, simultanea- nação; como se "na pena e na cabe-
'
dade de Educação da Unicamp, pro- mente, alienação em todos os que ne- ça de Marx alienação fosse sempre o
duziu um pequeno ensaio acerca do la vivem - como um mal incurável?" mesmo conceito, significasse sempre
temâ alienação nas sociedades capi- (p. 12). Levantar essa questão é, pa- o mesmo processo, sempre analisa-
tal sitas contemporâneas. Após uma ra o autor, interrogar a base da socie- do segundo o mesmo referencial e a
pequena introdução, em que procu- dade capitalista, é acompanhar o iti- mesma lógica" (p. 31 }. Chama ainda
ra situar os diferentes significados da ·nerário de Marx, aquele que, num a atenção para o fato de que, ao tra~
palavra alienação (no sentido jurídico mesmo movimento, "revelou a es- tarda alierração, Marx provocou uma
do termo, bem como em seus aspec- sência do capitalismo - a mercado- diversidade de leituras e interpreta-
tos psíquicos e políticos), o autor afir- ria -, e mostrou que a alienação ções entre autores que, de uma ou de
ma que "alienar é (.. J transferir para ancorava-se em seu cerne". Assim, a outra maneira reivindicam Marx co-
outrem o domínio de, é tornar alheio" razão de ser desse livro, seu fio con- mo principal fonte de suas elabora-
(p. 10). Apesardosváriossentidosda dutor "é o modo como o filósofo ale-- ções teóricas (p. 31). Assim, Lukács,
palavra, atualmente, quando se fala mão considera a alienação''. Para tan- Marcuse, Giannotti, Bedeschi e Le-
de alienação, pretende-se significar to, ao invés de refazer todo o itinerá- fort, entre outros, são mencionados
''falta de consciência dos problemas rio de Marx, Laymert optou por "pro- por Laymert. De acordo com ele, "há,
políticos e sociais. O que o alienado curar nele e valorizar algumas balizas, por exemplo, os pensado·res que in-
perde aqui é a chave da compreensão · alguns pontos de referência que nos vocam sua filiação marxista mas,são
-da sociedade em que vive, isto é, dos permitam compreender suas formu- na verdade hegelianos- como Geor-
mecanismos e fatores que o colocam lações do problema. Como numa via- ge Lukács em seu célebre artigo so-
·numa determinada posição na socie- gem, vamos reter apenas alguns mo- bre a reificação e a consciência do
dade e que produzem, inclusive, a sua mentos fortes. Como numa viagem, proletariado ou, ainda, como o filóso-
própria percepção dessa posição" (p. vamos partir de onde tudo começou, fo alemão Herbert Marcuse. Há tam-
11 ). isto é, do delírio hegeliano, deter-nos bém os teóricos que, apesar de dife-
Nesse sentido, torna-se necessá- no materialismo contraditório de renças abissais na interpretação, ope-
rio estabelecer uma distinção entre o Feuerbach e na identificação de Marx ram uma ruptura entre o jovem Marx
alienado e o alienado mental, pois com o pensamento desse filósofo, e o Marx adulto, e pensam o tema da
apesar de parecer sutil, essa distinção para depois, atravessando uma linha alienação segundo essa quebra - co-
é fundamental para a compreensão irreversível, caminharmos até o país mo Louis Althusser e José Arthür
do problema . Na verdade, as duas ex- do capital e sua realidade. Só então, Giannotti. Há, por outro lado, os que
pressões falam de problemas diferen- . reconhecendo o território que Marx vêem uma continuidade entre a teo-
tes: "o alienado mental fica fora de si, demarcou para nós, procuraremos in- ria da alienação no jovem Marx e a
o alienado deixa de se pertencer; o dagar de novo se a separação entre teoria do fetichismo das mercadorias
alienado mental torna-se o outro, o alienação mental e alienâção conti- elaborada n'O Capital - como Giu-
alienado torna-se coisa; o alienado nua pertinente. Dois teóricos contem- seppe Bedeschill (p . 31-2). Analisan-:
mental, o louco, é uma interrogação porâneos, Deleuze e Guattari, que já do as concepções de Claude Lefort,
permanente sobre o sentido das co .i~ se ocuparam com o assunto, Laymert sustenta que para o filósofo
sas", enquanto que o alienado "é es- garantem-nos: o capitalismo e a es- francês, a alienação "não é um esta-
cravo das coisas e dos progressos da quizofrenia andam de mãos dadas" do em que o indivíduo ou a socieda-
humanidade que se voltam contra (p. 12). de podem entrar e sair, mas um fenô-
ele; o alienado mental (diz-se) é vítima Assim, após a já mencionada intro- meno irredutível do processo social;
de sua estrutura psíquica, o alienado dução bem curta, o autor examina o a alienação não estaria então na cabe-
é vítima de condições externas (eco- tema da alienação em Hegel, em ça dos homens, mas na própria reali-
nômicas, políticas e sociais); o aliena- Feuerbach e em Marx (dedicando-se dade que o capitalismo cria e desen-
do mental é arrebatado, o alienado é às alienações nos Manuscritos de volve, é indissociável dela, é também
despedaçado" (p. 11 ). 7844, em A ideología alemã, e em O essa mesma realidade; o capitalismo

Rev. Adm. Emp. Rio de Janeiro 26(3):85-89 juL /set. 1986


seria precisamente um modo de pro- anteriores, gostaria de me concentrar de artifício, de fetiche. Nesse sentido,
dução que é modo de produÇão da no capítulo final do trabal ho de Lay- "quanto mais produz artifício, mais o
alienação, tornando assim impossível . mert, onde se estabelece a relação capitalism o inscreve a abstração na
a separação entre o real e ·suas ex- entre capitalismo e esquizofrenia. realidade, que dizer, na soc1edade (... ).
pressões imaginárias; contradição O motor do capitalismo é realização
inescapável, incontornável, que fez Como se sabe, a força de trabalho da abstração enquanto tal, capital se
do próprio marxismo um momento é a mercadoria fundamental que oca- reproduzindo, dinhe1ro gerando di-
de uma sociedade de alienação" (p. pitalista irá comprar para revendê-la nheiro, valor gerando mais-valia . Ora,
32; grifado no original). depois, sob a forma de produtos. En- esse mecanismo social que até ago-
tretanto, para que a força de trabalho ra chamamos de movimento de con-
O conceito de alienação aparece se ofereça no mercado como merca- cretização da abstração enquanto tal
em três momentos da obra de Marx. doria, são necessárias, digamos as- é o que Deleuze e Guattarí nomeiam
Num primeiro, ele se separa do velho sim, três "condições" · movimento de desterritorialização, de
mestre, fazendo a crítica de Hegel, es- decodificação, promovido pelo Cé1pi -
tando isso configurado nos Manuseá- . que seja vendida pelo seu próprio tal" (p. 88) .
tos de 1844 . "Mas a violência da se- possuidor, o que significa que ele é
paração não é suficiente para um proprietário da própria pessoa; De acordo com Deleuze e Guatta-
acerto de contas definitivo: Marx pen- ri, a tendência do cap1talísmo é justa-
sa contra Hegel ... pensando no entan- . que essa pessoa seja obrigada a mente a de decodificar tudo o que vai
to dentro do sistema hegeliano - vender sua força de trabalho, porque encontrando pela frente, desterrito-
porque pensa com Feue rbach ." Lay- não vender as mercadorias em que rializar tudo, isto é, "dissolver o sen-
mert prossegue afirmando que nos seu trabalho se realiza; tido que se atribuía anteriormente às
Manuscritos, Marx procura matar He- pessoas, às coisas, aos valores, para
gel, mas este ainda permanece vivo . finalmente, como qualquer merca- colocar em seu lugar o valor, quanti-
dentro dele. "E, por isso mesmo, tal- doria, a força de trabalho também dades abstratas de riqueza e de traba-
vez não fosse exagero considerar a tem um valor e, como todos os ou- 1ho, para fazer com que o artifício ga-
trajetória que vai da Crítica à filosofia tros, o seu valor é o tempo de traba- nhe corpo" (p . 88-9) .
do direito, de Hegel à Ideologia ale- lho necessário para a sua produção.
Explorando as pegadas de Marx,
mã, passando pelos Manuscritos, co- O valor da força de trabalho é o valor
Deleuxe e Guattari revelam que o mo-
mo o processo que Freud chamou de do tempo de trabalho necessário pa-
vimento constante do capitalismo,
'trabalho do luto'" (p. 33; gritos do ori- ra a produção de seus meios de sub-
como desterritorialização, como de-
ginal). Nesse processo, para Marx, a sistência, sendo esse valor sempre in-
codificação, é também um movimen-
filosofia de Hegel já não existe mais ferior ao valor produzido pelo traba-
to de desindividualização. Ou seja, "a
como verdade : " Marx perdeu a afei- lhador em sua jornada de trabalho. De
própria noção de individualidade, da-
ção pelo mestre, mas os laços com o acordo com Marx, "o consumo da·
quilo que nos dá uma identidade e a
objeto aniquilado continuam presen- força de trabalho é ao mesmo tempo
certeza de que somos únicos e sing·u-
tes no esforço para despregar-se do produção de mercadorias e de mais-
lares, vai ser corroída; pois o capita-
mestre e assumir a realidade da per- valia" (p. 87).
lismo desmantela o sen lido do que
da, na agressividade para com o 'mor-
costumamos chamar 'as pessoas'"
to', no tempo e na energia que inves- Nesse sentido, foi dado mais um
(p . 89}.
te em sua crítica. Trabalho do luto que passo em direção à concretização da
se realizará integralmente quando abstração enquanto ta!. Seguindo ou- Decodificando, desterritorial izan·
Marx acabar 'matando o morto', tras formas teorizadas por Marx, do, inscrevendo o abstrato no real: as-
libertando-se a um só tempo de He- observa-se que elas vão "traçando o sim prossegue o capitalismo. "No co-
gel e de seu Outro, Ludwig Feuer- movimento de realização da abstra- ração do Capital, Marx mostra o en-
bach. Nesse sentido, a Ideologia Ale- ção. Essa me parece ser a contribui- contro de dois elementos 'principais'.
mã marcaria o segundo momento, o ção essencial d'O Capital, o nervo da de um lado, o trabalhador desterrito-
momento em que se consuma a rea- obra" (p. 88) . É precisamente a análi- rializado, transformado em trabalha-
lidade da separação e, em se tratan- se da me.rcadoria, a teorização de um dor livre e nu que tem de vender sua
do de uma separação dalógiça hege- movimento real - "o movimento de força de trabalho; de outro, o dinhei-
liana, a própria possibilidade de co - realização do fetiche enquanto feti- ro decodificado, transformado em ca-
meçar a entrever a realidade. Final- che - que liquida de vez a dialética pital e capaz de comprá-la" (Deleuze
mente, foi escolhido como expressão da consciência. E é a partir qessa des- Guattari, apud por Laymert, p. 90).
do terceiro momento o primeiro capí- coberta feita por Mélr{<, tomando-a co-
tulo d'O Capital, intitulado 'A Merca- mo dada, que Gilk.{.() Deleuze e Felix Os autores relacionam, a seguir, os
doria' . Vale dizer: momento de es- Guattari vão poder estabelecer, no li- vários processos de decodificação e
plendor em que, inventando um no- vro O anti-Édipo - capitalismo e es- desterritorialização que conduziram a
vo método, Marx circunscreve a es- quizofrenia, a relação entre a dinâmi- esse resultado, quer do lado do traba-
trutura da alienação capitalista" (p . ca do capital e a dinâmica da esqui- lhador, como também do lado doca-
33}. zofrenia" (p. 88). pital. Do lado do trabalhador observa-
se: "desterritorialização do solo atra-
Ao invés de comentar mais deta- O movimento do capitalismo é vés da privatização; decodificação
lhadamente os capítulos aos quais produção de mercadoria . E, como dos meios de produção através da
me referi brevemente nos parágrafos produção _de mercadoria, produção apropriação; privatização dos meios

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de consumo através da di_ssolução da "o esquizofrênico é a tendência de- na esse farrapo porque se vê reduzi-
família e da corporação; decodifica- senvolvida, o superproduto, o prole- do a testemunha única, solitária e mu-
ção do próprio trabalhador em favor tário e o anjo exterminador do capita- da de um processo universal: o pro-
do trabalho e da máquina ." Do lado lismo . O esquizofrênico é o limite ab- cesso de desterritorialização capitalis-
do capital tem-se a ''desterritoria!iza- soluto do processo de desterritoriali- ta, o processo de concretização da
ção da riqueza através da abstração zação do capitalismo, um processo ir- abstração enquanto tal" (p. 95).
monetária; decodificação dos fluxos reversível" (pp. 93-4}.
de produção através do capital mer-
cantil; decodificação dos Estado::; Oeleuze e Guattari ponderam que,
através do capital financeiro e das dí- ao afirmarem ser a esquizofrenia a
Afrânio Mendes Catani
vidas públicas; decodificação dos nossa doença, a doença da nossa
Professor no Departamento de
meios de produção através da forma- época, "não se quer dizer apenas que Administração da Faculdade de Educação
ção do capital industrial etc." (p. 90}. a vida moderna deixa louco . Não se da Unicamp .
trata de modo de vida, mas de proces-
A tendência fundamental do capi- so de produção L.J De fato, quere-
talismo é a desterrítorialização, sen- mos dizer que o capitalismo, em seu
do precisamente o seu caráter dester- processo de produção, produz uma
ritorializante, decodificante, que o faz carga esquizofrenizante formidável
esquizofrenizante (p. 92-3). Como di- sobre a qual ele descarrega todo o pe-
zem Deleuze e Guattari, "o que é o es- so de sua repressão, mas que está
quizofrênico senão aquele que per- sempre reproduzindo como limite do
deu a identidade, que não pode mais processo . Pois, o capitalismo está
dizer eu? O que é o esquizofrênico se- sempre contrariando, inibindo sua
não um fluxo migratório, errante, que tendência, ao mesmo tempo em que
não reconhece um lugar, que não tem se precipita nela; está sempre repelin-
o seu lugar, que desterritorializa em do o seu limite, ao mesmo tempo em
todas as direções? O que é o esquizo- que tende para ele. O capitalismo ins-
frênico senão aquele 'que passa de taura ou restaura todos os tipos de
um código a outro, qu~ em baralha to- territorialismos residuais e factícios,
dos os códigos num deslize rápido - imaginários ou simbólicos, nos quais
como Antonin Artaud, que mistura tenta, bem ou mal, recodifícar, tam-
até a genealogia : 'Eu, Antonin Artaud, par as pessoas de·rivadas das quanti-
sou meu filho, meu pai, minha mã, e dades abstratas C.J Quanto mais a
eu'?" (p. 93) máquina capitalista desterritorializa,
decodificando e axiomatizando os
Desterritorialização, decodificação · fluxos para deles extrair a mais-valia .
(do capitalismo, do esquizofrênicof. mais seus aparelhos anexos, burocrá-
Isso quer dizer, apenas, que se trata ticos e policiais reterritorializam na
de um mesmo processo, mas em re- marra, absorvendo ao mesmo tempo
gistros diferentes, ou seja, "registro _ u ma parte crescente de mais-v:tlia"
do capital ao nível do social" e "regis- (p , 94).
tro do esquizofrênico ao nível do de-
sejo" (p . 93). Para os pensadores fran- Laymert Garcia do Santos termina
ceses, a esquizofrenia "é a produção seu livro ponderando que nesse mo-
desejante como limite da produção mento se observa a união da aliena-
social'' . Nesse sentido, o esquizofrê- ção social com a alienação mental de
nico seria, portanto, aquele que sen- maneira paradoxal. isto porque o es-
te com toda a viol ência a intensidade quizofrênico - "precisamente aque-
do processo." A sociedade capitalis- le que leva ao nível individual o pro-
ta é desterritorializadora, decodifica- cesso social até as últimas conse-
dora, e por isso mesmo os autores di- qüências" -será apontado, entre to-
rão que é esquizofrênica ao nível de dos os alienados mentais, como "o
sua infra-estrutura: 'Nossa sociedade alienado por excelência"' porque ele
produz esquizofrênicos como xam- é "a recusa viva de todas essas outras
pus Dopou carros Renault, com a úni- alienações que os aparelhos do Esta-
ca diferença que eles não são vendá- do capitalista fabricam para
veis'" (p. 93). convencê-lo de que ele não deriva de
quantidades abas tratas - valor, tra~
Enquanto "doença mental", sabe- balho abstrato, mercadoria-fetiche"
mos, a esquizofrenia é incuráveL O (p. 94-5). Entretanto, adverte Laymert,
esquizofrênico (já se desterritoriali- não se pretende glorificar o esquízo-
zou, decodificou-se inteiramente) frênico nem negar a sua condição de
encontra-se no limite do capitalismo. farrapo humano. Pretende-se deixar
Como escrevem Deleuze e Guattari, claro que "o esquizofrênico só se to r-

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