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DIREITO PENAL III

Daniela Costa de Medeiros

AUTORES UTILIZADOS: BITENCOURT, CEZAR ROBERTO; GRECO, ROGÉRIO; CUNHA, ROGÉRIO


SANCHES.
OBS: O resumo/fichamento não substitui o estudo doutrinário, normativo e jurisprudencial da matéria. Deve-se usá-lo apenas para revisão.

DAS LESÕES CORPORAIS


Lesão corporal (ART. 129, CP)

CRIME COMUM Pois pode ser praticado por qualquer pessoa independentemente de condição ou qualidade
(EXCEÇÕES: ART. 129, IV especial.
do § 1º; inc. V do § 2º; e
§ 9º)

CRIME MATERIAL Pois somente se consuma com a ocorrência do resultado, que é uma exigência do tipo.

DE FORMA LIVRE Pois podem ser praticados de qualquer modo pelo agente, não havendo, no tipo penal,
qualquer vínculo com o método.

COMISSIVO Pois exige uma atividade concreta do agente, uma ação, isto é, o agente faz o que a norma
proíbe (ex: matar alguém mediante disparos).

OMISSIVO IMPRÓPRIO Exige do sujeito uma concreta atuação para impedir o resultado que ele devia (e podia)
(OU COMISSIVO POR evitar.
OMISSÃO)

INSTANTÂNEO Pois se esgota com a ocorrência do resultado. Não significa que será praticado rapidamente,
mas, uma vez realizados os seus elementos, nada mais poderá fazer para impedir sua
consumação. Em algumas situações, a exemplo da perda de membro, quando pode ser
considerado como instantâneo de efeitos permanentes.

DE DANO Pois exige que o bem jurídico protegido pela norma seja efetivamente lesado.

MONOSSUBJETIVO (OU Pois pode ser praticado por apenas um sujeito, entretanto, admite-se a coautoria e a
UNISSUBJETIVO) participação.

PLURISSUBSISTENTE Pois pode ser constituído por vários atos que fazem parte de uma única conduta.

NÃO TRANSEUNTE Pois deixa vestígios, logo, o exame de corpo delito, direto ou indireto, será obrigatório.

Lesão corporal consiste em todo e qualquer dano produzido por alguém, sem animus necandi, à integridade física ou à
saúde de outrem. A conduta típica do crime de lesão corporal consiste em ofender, isto é, lesar, ferir a integridade corporal ou
saúde de outra pessoa. O bem jurídico protegido é a INCOLUMIDADE PESSOAL (física, fisiológica e/ou mental).

O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, assim como o sujeito passivo, mas com exceção das figuras qualificadas. Por
outrem devemos entender, como raciocínio inicial, tão somente o ser humano vivo. Assim, não há possibilidade de se cogitar de
lesões corporais em pessoas jurídicas, animais ou, ainda, coisas inanimadas. Outrem, portanto, é o ser vivo. Dessa forma, com
essa definição, também são excluídos os cadáveres.

Cabe também destacar que a AUTOLESÃO não tipifica o crime de lesão corporal. No entanto, poderá constituir
elementar de uma figura do crime de estelionato, quando, por exemplo, o agente lesa a própria integridade física ou saúde com o
fim de obter indenização ou valor de seguro.

Lesão corporal compreende toda e qualquer ofensa ocasionada à normalidade funcional do corpo ou organismo
humano, seja do ponto de vista anatômico, seja do ponto de vista fisiológico ou psíquico. Mesmo a desintegração da saúde
mental é lesão corporal, pois a inteligência, a vontade ou a memória dizem com a atividade funcional do cérebro, que é um dos
mais importantes órgãos do corpo. Não se concebe uma perturbação mental sem um dano à saúde, e é inconcebível um dano à
saúde sem um mal corpóreo ou uma alteração do corpo. Quer como alteração da integridade física, quer como perturbação do
equilíbrio funcional do organismo (saúde), a lesão corporal resulta sempre de uma violência exercida sobre a pessoa.

As lesões corporais são classificadas em: a) lesão corporal leve (caput); b) lesão corporal grave (§ 1º); c) lesão corporal
gravíssima (§ 2º) ; d) lesão corporal seguida de morte (§ 3º); e) lesão corporal culposa (§ 6º); f) lesão corporal majorada (§ 7º); e
violência doméstica (§ 9º).

LESÃO CORPORAL LEVE (COMPETÊNCIA DO JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL)

A definição de lesão corporal leve é formulada por exclusão, ou seja, configura-se quando não ocorre nenhum dos
resultados previstos nos §§ 1º, 2º e 3º. Logo, a lesão corporal leve é a lesão tipificada em seu tipo fundamental, ou seja, a ofensa
à integridade física ou à saúde de outrem, nos limites do caput do art. 129.

A lesão tipificada no caput é sempre dolosa, e será suficiente que a ação humana seja orientada pelo animus laedendi.
Assim, por exemplo, o agente desfere uma “porretada” na vítima, que, agilmente, desvia-se do golpe, mas ressalva, perde o
equilíbrio e cai, ferindo-se na queda. Nesse caso, o agente agressor responde por lesão corporal dolosa.

Requisitos essenciais para a lesão corporal dolosa:

a) integridade física ou à saúde de outrem;


b) relação causal entre ação e resultado;
c) animus laedendi.

LESÃO CORPORAL GRAVE

O §1º menciona as hipóteses que qualificam a lesão corporal:

 INCAPACIDADE PARA AS OCUPAÇÕES HABITUAIS POR MAIS DE 30 DIAS


Aqui, trata-se da efetiva impossibilidade de realização de sua atividade ocupacional, tradicional, regular, de natureza
lícita. A lei brasileira fala em ocupações habituais, o que significa que não se limita ao trabalho da vítima, mas a toda atividade
laborativa, não entendida só a atividade de natureza lucrativa, pois o conceito é funcional e não econômico. Entenda-se como
atividade corporal, física ou intelectual, razão pela qual pode ser sujeito passivo tanto o ancião, como a criança ou o adolescente
incapacitado de continuar sua preparação profissional. Outrossim, é necessário que a atividade não seja juridicamente ilícita,
podendo ser eticamente desvalorada.
Somente o exame de corpo de delito é insuficiente para a caracterização da qualificadora da incapacidade para as
ocupações habituais por mais de 30 dias, devendo de complementado por outro exame. Quando o exame pericial tiver a
finalidade de determinar a gravidade da infração penal, o exame complementar deverá ser realizado logo que tenha decorrido o
prazo de 30 dias, a contar da data do fato.

 PERIGO DE VIDA
Trata-se de qualificadora de natureza culposa, sendo as lesões corporais 544 qualificadas pelo perigo de vida um crime
eminentemente preterdoloso, ou seja, havendo dolo no que diz respeito ao cometimento das lesões corporais e culpa quanto ao
resultado agravador. Não se trata de merda possibilidade, mas de probabilidade concreta e efetiva de morte.
Se o agente, quando agredia a vítima, atuava com dolo no sentido de causar-lhe perigo de vida, na verdade agia com o
dolo do delito de homicídio, razão pela qual, sobrevivendo a vítima, deverá responder por tentativa de homicídio, e não por lesão
corporal qualificada pelo perigo de vida.
O perigo deve ser pericialmente comprovado, logo, o laudo pericial deve descrever objetiva e fundamentadamente em
que consiste o perigo de vida. Vale relembrar também, que, a probabilidade de morte da vítima não deve ser objeto do dolo do
agente, caso contrário deveria responder por tentativa de homicídio, e não por lesão corporal grave com risco de vida.

 DEBILIDADE PERMANENTE DE MEMBRO, SENTIDO OU FUNÇÃO


Debilidade, no sentido empregado pela lei penal, significa enfraquecimento ou redução da capacidade funcional.
Permanente, por sua vez, é a debilidade de duração imprevisível, que não desaparece com o correr do tempo, não é necessário
que seja definitiva, perpétua ou impassível de tratamento reeducativo ou ortopédico.
Membros são partes do corpo que se prendem ao tronco, podendo ser superior e/ou inferior. Sentido é a faculdade de
percepção, de constatação e, por extensão, de comunicação: visão, audição, olfato, paladar e tato. Função é a atividade específica
de cada órgão do corpo humano (ex.: respiratória, circulatória, digestiva, secretora, locomotora, reprodutora e sensitiva).
Tratando-se de órgãos duplos, a exemplo dos rins, a perda de um deles se configura em debilidade permanente da
função renal, e não perda dessa referida função. Obviamente que, no caso sugerido, se a vítima somente contava com um dos
rins, uma vez que já havia se submetido a uma cirurgia para extração do outro órgão, a perda do segundo rim, obrigando-a a
realizar, em regime de urgência, um transplante, importará na aplicação da qualificadora correspondente à lesão gravíssima,
prevista no inc. III do § 2º do art. 129 do Código Penal.

 ACELERAÇÃO DE PARTO
A aceleração de parto é a antecipação do nascimento do feto com vida. É a expulsão precoce do produto da concepção,
mas em tal estado de maturidade, que pode continuar a viver fora do útero da mãe. É indispensável que o feto esteja vivo, nasça
com vida e continue a viver, caso contrário, se morrer, no útero ou fora dele, configurar-se-á aborto, e a lesão corporal será
classificada como gravíssima.
Além disso, é necessário que o agente tenha conhecimento da gravidez da vítima. Se este não conhecer da gravidez da
vítima, o crime será desclassificado para lesões leves.
A qualificadora da aceleração de parto somente pode ser atribuída ao agente a título de culpa, sendo a infração penal,
ou seja, a lesão corporal qualificada pela aceleração de parto, de natureza preterdolosa. Se o agente atuava no sentido de
interromper a gravidez com a consequente expulsão do feto, o seu dolo era o de aborto, e não o de lesão corporal qualificada
pela aceleração de parto.

LESÃO CORPORAL GRAVÍSSIMA

O §2º, por sua vez, relaciona cinco hipóteses que qualificam a lesão corporal (na forma gravíssima). Nas lesões
gravíssimas, ao contrário das graves, a dimensão das consequências do crime é consideravelmente mais grave. Os efeitos da
lesão, de regra, são irreparáveis, justificando, por isso, sua maior penalidade.

 INCAPACIDADE PERMANENTE PARA O TRABALHO


Esse resultado qualificador pode ter sido produzido dolosa ou culposamente. Admite-se tanto o dolo direto quanto o
eventual; na modalidade culposa, como já temos alertado nos estudos anteriores, faz-se mister seja o resultado previsível para o
agente. A incapacidade diz respeito à impossibilidade, de caráter duradouro, para o trabalho. Aqui, a incapacidade é permanente
e para o trabalho em geral, e não somente para a atividade específica que a vítima estava exercendo.
Nesta espécie de lesão, a incapacidade não é para as ocupações habituais da vítima, mas somente para a atividade
laborativa, profissional, lucrativa. Aqui a incapacidade também não é temporária, mas definitiva. No entanto, não se exige que
seja perpétua, bastante um prognóstico firme de incapacidade irreversível.

 ENFERMIDADE INCURÁVEL
Enfermidade é um processo patológico em curso. Enfermidade incurável é a doença cuja curabilidade não é conseguida
no atual estágio da Medicina, pressupondo um processo patológico que afeta a saúde em geral. A incurabilidade deve ser
conformada com dados da ciência atual, com um juízo de probabilidade.
No caso concreto, se individualizará, diretamente, o cálculo de probabilidade. Se se apura alteração permanente da
saúde do ofendido; se somente em casos excepcionais, ela pode ser tida como curável, está caracterizada a incurabilidade para
fins deste artigo.
São inexigíveis intervenções cirúrgicas arriscadas ou tratamentos duvidosos. A medicina aponta algumas doenças que
são entendidas como incuráveis, a exemplo da lepra, da tuberculose, da sífilis, da epilepsia etc.

 PERDA OU INUTILIZAÇÃO DE MEMBRO, SENTIDO OU FUNÇÃO


Há perda quando cessa o sentido ou função, ou quando o membro ou órgão é extraído ou amputado. A perda pode
operar-se por meio de mutilação ou amputação: a primeira ocorre no momento da ação delituosa; a segunda decorre de
intervenção cirúrgica, com a finalidade de minorar as consequências. Na inutilização o membro permanece ligado ao corpo, mas
inoperante em sua atividade própria ou função.
Comparativamente à lesão grave que importe em debilidade, mais do que o simples enfraquecimento, a qualificadora
em exame exige a perda, isto é, a ablação de qualquer membro, superior ou inferior, ou mesmo sua completa inutilização. Isso
significa que, mesmo existindo o membro, não possui ele qualquer capacidade física de ser utilizado. Quando a vítima, por
exemplo, sofre lesões no braço, tornando-o débil, fraco, mas ainda podendo ser utilizado, embora não mais com a força e a
capacidade anteriores, a hipótese será resolvida como sendo debilidade; ao contrário, se as lesões sofridas pela vítima fazem com
que seu braço, embora fisicamente ainda preso ao seu corpo, não possa mais ser utilizado para qualquer movimento rotineiro, o
caso será o de inutilização.

 DEFORMIDADE PERMANENTE
Repercute no plano estético. A deformidade, para caracterizar essa qualificadora, precisa representar lesão estética de
certa monta, capaz de produzir desgosto, desconforto a quem vê e vexame ou humilhação ao portador.
Deformar significa, aqui, modificar esteticamente a forma anteriormente existente. A deformidade não se limita ao
rosto da vítima, mas pode ser em qualquer outra parte do corpo onde o defeito seja visível, como, por exemplo, lesão óssea em
membros inferiores, obrigando a vítima a coxear, ou na coluna vertebral, tornando-a gibosa etc. Pode, em muitas situações, ser
visto tão somente por um número limitado de pessoas, a exemplo dos danos ocorridos em partes do corpo da vítima que
somente serão percebidos pelo seu parceiro sexual ou cônjuge, por exemplo.
A deformidade, de acordo com o raciocínio antes expendido, deverá modificar de forma visível e grave o corpo da
vítima, mesmo que essa visibilidade somente seja limitada a algumas pessoas.
A deformidade não perde o caráter permanente quando pode ser dissimulada por meios artificiais, como, por exemplo,
cirurgia plástica, a que ninguém está obrigado.

 ABORTO
Trata-se de crime preterdoloso, ou seja, há dolo em relação à lesão corporal e culpa em relação ao aborto. Para que o
aborto qualifique as lesões corporais sofridas pela vítima, o resultado não poderá ter sido querido, direta ou eventualmente, pelo
agente, sendo, portanto, um resultado qualificador que somente poderá ser atribuído a título de culpa.
É necessário, também, que o agente tenha conhecimento da gravidez, sem, contudo, querer o aborto. Se o agente visar
o aborto, o crime será o do art. 125. O desconhecimento da gravidez, porém, afasta a qualificadora, constituindo erro de tipo.
Não se deve confundir as figuras dos arts. 127, 1ª parte e 129, §2º, V, pois há uma inversão de situações: na primeira, o
aborto é querido e lesão não; na segunda, a lesão é o resultado desejado, enquanto o aborto não, nem mesmo eventualmente.

LESÃO CORPORAL SEGUIDA DE MORTE (COMPETÊNCIA DO JUIZ SINGULAR)


Cuida-se, no caso, de crime eminentemente preterdoloso (homicídio preterdoloso). A conduta do agente deve ter sido
finalisticamente dirigida à produção das lesões corporais, tendo o resultado morte sido produzido a título de culpa.
A tipificação do crime como lesão corporal seguida de morte está condicionada a que as circunstâncias do fato
acontecido evidenciem que o querer do agente não inclui, em mesmo eventualmente, o resultado “morte” que produz. Se o
resultado não foi objeto de querer do agente, mas situa-se na esfera da previsibilidade, o crime é preterdoloso.

LESÕES MAJORADAS

 LESÃO CORPORAL PRATICADA POR MILÍCIA PRIVADA


Na prática dos crimes de homicídio e de lesão corporal, a pena será aumentada de 1/3 até a metade se o crime for
praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio.

 LESÃO CORPORAL DOLOSA CONTRA POLICIAIS E FAMILIARES


Se a lesão for praticada contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do
sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu
cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até 3º grau, em razão dessa condição, a pena é aumentada de um a dois terços.

FIGURAS PRIVILEGIADAS

Motivo de relevante valor social é aquele que tem motivação e interesse coletivos, quem age sob a pressão de
sentimentos nobres segundo a concepção da moral social, como por exemplo, por amor à pátria. Podemos traçar um paralelo
com a morte de um político corrupto, por um agente revoltado com a situação de impunidade no país.

Motivo de relevante valor moral é aquele que, embora importante, é considerado levando-se em conta os interesses
do agente, como por exemplo: o pai que espanca o estuprador de sua filha; a compaixão ou piedade ante o irremediável
sofrimento da vítima, ou seja, a eutanásia.

Sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima significa que o agente deve estar
completamente dominado pela situação. [EMOÇÃO é uma descarga emocional, passageira, de vida efêmera; PAIXÃO é o estado
crônico da emoção, que se alonga no tempo; NÃO EXISTE CRIME PASSIONAL NO DIREITO PÁTRIO]. Não é qualquer emoção que
pode assumir a condição de privilegiadora, no homicídio, mas somente a emoção intensa, violenta, que domina, segundo os
termos legais, o próprio autocontrole do agente, que age sob o ímpeto do choque emocional. Vale mencionar que é fundamental
que a provocação tenha partido da própria vítima e seja injusta, que justifique, de acordo com o consenso geral, a repulsa do
agente, a sua indignação. Logo em seguida denota relação de imediatidade, de proximidade com a provocação injusta a que foi
submetido o agente. Isso não significa, contudo, que logo em seguida não permita qualquer espaço de tempo. O que a lei busca
evitar, com a utilização dessa expressão, é que o agente que, provocado injustamente, possa ficar “ruminando” sua vingança,
sendo, ainda assim, beneficiado com a diminuição da pena. Injusta provocação não se confunde com injusta agressão, uma vez
que esta última permite a atuação do agredido em legítima defesa, afastando a ilicitude da conduta.

Quando reconhecida uma privilegiadora, é INADIMISSÍVEL, pelo mesmo motivo, admiti-la como atenuante, para se
evitar o BIS IN IDEM, que, no caso concreto, beneficiaria, injustamente, o infrator.

LESÃO CORPORAL CULPOSA

A lesão corporal será culposa desde que presentes os seguintes requisitos:

 Comportamento humano voluntário


 Descumprimento do dever de cuidado objetivo
 Previsibilidade objetiva do resultado
 Lesão corporal involuntária

O julgador deve realizar um trabalho de adequação à figura típica, haja vista tratar-se de tipo penal aberto. As
considerações que fizemos sobre o homicídio culposo aplicam-se às lesões corporais culposas.

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

A Lei 11.340/2006 alterou a redação do § 9°, tomando mais rigorosa (em tese) a punição nos casos de violência
doméstica e familiar. Pois foi dentro desse mesmo espírito que o§ 9°, de aplicação exclusiva à lesão corporal dolosa de natureza
leve (art. 129, caput), qualifica o delito, aumentando a pena máxima de um para três anos (deixando, consequentemente, de ser
de menor potencial ofensivo) se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com
quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de
hospitalidade.

Em suma, violência doméstica haverá quando o crime for praticado contra:

a) Ascendente, descendente ou irmão: Aqui não importa se o parentesco é legítimo ou ilegítimo


(aliás, diferenciação odiosa, repudiada há tempos pela Constituição Federal). Inclusive o resultante
da adoção, segundo cremos, faz incidir o tipo majorante. Entendemos, nesses casos, dispensável a
coabitação entre o autor e a vítima, bastando existir a referida relação parental. Assim, se numa
confraternização de família, que há muito não se reunia, um irmão, vindo de Estado longínquo,
agride o outro, ferindo-o na sua saúde física ou mental, terá praticado o crime de violência
doméstica.

b) Cônjuge ou companheiro: Em que pesem decisões em sentido contrário, a majorante cônjuge


persiste mesmo no caso de separação de fato ou judicial (até porque seria alcançado pela hipótese
seguinte), não retirando dos envolvidos a qualidade pessoal de casados. A inovação legislativa
buscou proteger, também, a vítima companheira (união estável), até então desamparada por
qualquer agravante, em respeito ao princípio da legalidade estrita.

c) Com quem conviva ou tenha convivido: Haverá violência doméstica na agressão contra pessoa
(que não ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro) com quem o agente conviva
ou tenha convivido (caso da república de estudantes, por exemplo). A necessária interpretação
restritiva que o tipo incriminador merece é facilmente alcançada ao se exigir que a lesão corporal
tenha sido provocada em razão da vivência, atual ou pretérita. Aliás, comungar do primeiro
entendimento é excluir do alcance da qualificadora em comento as agressões entre familiares (por
exemplo, irmãos) que jamais conviveram.

d) Prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade:


Considerando o alerta, e sabendo que prevalecer tem o sentido de levar vantagem, aproveitar-se
da condição (ou situação), pensamos que a hipótese necessariamente pressupõe que o agente se
valha da vantagem doméstica, de coabitação ou de hospitalidade em relação à vítima, merecendo
interpretação restritiva. Aqui enquadramos, por exemplo, as agressões praticadas pela babá contra
a criança, desde que, é claro, não se revista de requintes de tortura.

Se além das hipóteses previstas no§ 9°, a vítima (homem ou mulher) for portadora de deficiência, incidirá um aumento
de pena de um terço.
O conceito de pessoa portadora de deficiência é trazido pelo art. 2° da Lei n° 13.146, de 06 de julho de 2015:

Art. 2° Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em
interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.

§ 1° A avaliação da deficiência, quando necessária, será biopsicossocial, realizada por equipe multiprofissional e interdisciplinar e considerará:

I - os impedimentos nas funções e nas estruturas do corpo;

II - os fatores socioambientais, psicológicos e pessoais;

III - a limitação no desempenho de atividades;

IV- a restrição de participação.

Obviamente que, para incidir esta majorante, é imprescindível que o agente conheça da deficiência portada pela vítima,
evitando-se, desse modo, responsabilidade penal objetiva.

LESÃO CORPORAL CONTRA AUTORIDADE OU AGENTE DE SEGURANÇA PÚBLICA

Majora-se a pena da lesão corporal (dolosa, leve, grave, gravíssima ou seguida de morte) de um a dois terços quando
praticada contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da
Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou
parente consanguíneo até 3° grau, em razão dessa condição.

Trata-se, assim como na qualificadora relativa ao homicídio, de norma penal em branco a ser complementada pela
Constituição. Por meio deste mesmo diploma, a Lei 8.072/90 foi alterada para que no rol dos crimes hediondos fossem inseridas
duas modalidades de lesão corporal de acordo com o art. 1°, inciso I-A, daquela lei, são hediondas a lesão corporal dolosa de
natureza gravíssima (art. 129, § 2°) e a lesão corporal seguida de morte (arr. 129, § 3°), quando praticadas contra qualquer dos
agentes de que trata esta majorante.

AÇÃO PENAL

Em regra, a pena do crime de lesão corporal será perseguida mediante ação penal pública incondicionada.
Excepcionalmente, porém, no caso da lesão dolosa de natureza leve (art. 129, caput) e culposa (§ 6°), o oferecimento da ação
penal dependerá de representação da vítima ou de seu representante legal (art. 88 da Lei 9.099/95).

E no caso de violência doméstica e familiar? Temos que separar:

a) Se a vitima for homem, a ação penal será pública condicionada nas hipóteses dos §§ 9° e 11, pois,
apesar de não mais de menor potencial ofensivo, permanecem de natureza leve; a ação, contudo,
será pública incondicionada, se estivermos diante do § 10 (lesão grave ou seguida de morte).
b) Tratando-se de vítima mulher, não fica dúvida de que, na hipótese do § 1º, a ação penal é pública
incondicionada. Já nas demais (§§ 9° e 11), havendo lesões somente leves, a discussão era
inevitável- considerando que foi a Lei 9.099195 que alterou, nesses casos, o tipo de ação penal,
passando de incondicionada para condicionada; considerando, porém, que o art. 41 da Lei
11.34012006 proíbe aos crimes contra a mulher, no ambiente doméstico e familiar; a aplicação dos
dispositivos da citada lei (Lei 9.099195), qual, afinal o tipo de ação penal????????

A Súmula 542 do STJ, fala sobre ação penal da Lei Maria da Penha: “A ação penal relativa ao crime
de lesão corporal resultante de violência doméstica contra a mulher é pública incondicionada”.
Logo, a ação penal é, em regra, pública e incondicionada, salvo quando a lei dispuser o
contrário. Isso incluía o crime de lesões corporais (art.129 CP ), pois o CPB não previu condições
alguma para a promoção da ação penal. Acontece que, posteriormente, a Lei 9.099/95: "
Art. 88. Além das hipóteses do Código Penal e da legislação especial, dependerá de
representação a ação penal relativa aos crimes de lesões corporais leves e lesões culposas."

Portanto, o crime de lesão corporal resultante de violência doméstica contra a mulher,


por não se aplicar a Lei 9.099 /95, desafiará ação pública incondicionada. Nos casos de crime,
por exemplo, em que o CPP indique se tratar de ação penal condicionada à representação (
ameaça, art. 147 CPB ), ainda que seja praticado no contexto da Lei 11.340 /2006, permanecerá
sendo exigível a condição de procedibilidade da representação da vítima, visto que a referida l ei
especial não afastou a incidência dessa regra.
DIREITO PENAL III

Daniela Costa de Medeiros

AUTORES UTILIZADOS: BITENCOURT, CEZAR ROBERTO; GRECO, ROGÉRIO; CUNHA, ROGÉRIO


SANCHES.
OBS: O resumo/fichamento não substitui o estudo doutrinário, normativo e jurisprudencial da matéria. Deve-se usá-lo apenas para revisão.

DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE


PERIGO DE CONTÁGIO DE MOLÉSTIA GRAVE (ART. 131 , CP)

Art. 131 - Praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de que está contaminado, ato capaz de produzir o contágio:

Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

CRIME FORMAL Pois ocorre quando a intenção do agente é presumida de seu próprio ato, que se
considera consumado independentemente do resultado.

CRIME PRÓPRIO
QUANTO AO SUJEITO
ATIVO Pois somente a pessoa contaminada é que poderá praticá-lo

COMISSIVO (OU Pois exige uma atividade concreta do agente, uma ação, isto é, o agente faz o que a
COMISSIVO POR norma proíbe. Comissivo por omissão nos casos em que o agente goze do status de
OMISSÃO) garantidor.

PLURISSUBSISTENTE Pois pode ser constituído por vários atos que fazem parte de uma única conduta.

DOLOSO Sendo o dolo direto ou eventual.

Pois a simples prática da conduta expondo a perigo o bem jurídico tutelado já configurará
DE PERIGO COM o tipo penal, e com dolo de dano porque exige a finalidade de transmitir a moléstia grave,
DOLO DE DANO que, potencialmente, produzirá um dano.

Pois pode ser praticado por apenas um sujeito.


UNISSUBJETIVO
(MONOSSUBJETIVO)
Pois pode o agente praticar atos de qualquer natureza que possuam eficácia
DE FORMA LIVRE para a transmissão da moléstia de que está contaminado.

O bem jurídico protegido é a incolumidade física e a saúde da pessoa humana. Apresenta a particularidade
relativamente ao meio através do qual o bem jurídico pode ser atingido: contágio de moléstia grave.

Da mesma forma que o artigo anterior, esta norma penal não define ou exemplifica o que é “moléstia grave”, ficando o
encargo de classificação para a medicina. Assim, a norma aqui discutida (art. 131) é uma norma penal em branco.
Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, homem ou mulher, desde que esteja contaminado por moléstia grave e
contagiosa. Sujeito passivo, igualmente, pode ser qualquer pessoa, desde que não esteja contaminada por igual moléstia. Dessa
forma, caso o sujeito ativo não tenha a doença ou o sujeito passivo já a contenha (deve ser a mesma), configurar-se-á crime
impossível.

A conduta do agente é dirigida finalisticamente à produção de um dano, qual seja, a transmissão de moléstia grave de
que está contaminado. Contudo, a lei penal se satisfaz simplesmente com a exteriorização do comportamento dirigido a esse fim,
independentemente da efetiva produção desse resultado.

O agente pode valer-se de meios diretos ou indiretos à consecução da transmissão da moléstia grave. Meios diretos
dizem respeito àqueles em que houver um contato pessoal do agente, a exemplo do aperto de mão, do beijo, do abraço etc.
Indiretos são aqueles que decorrem da utilização de quaisquer instrumentos capazes de transmitir a moléstia grave, a exemplo de
seringas, bebidas etc. Pode, até mesmo, valer-se de atos sexuais para o fim de transmitir doença que não seja de natureza
venérea.

E se os objetos ou coisas que o agente utilizar, com o fim de transmitir moléstia grave, estiverem infectados por
micróbios ou germes dos quais não é portador? Responderá pelo crime descrito no art. 131? Certamente não, pois falta
a elementar típica “de que está contaminado”. Poderá, eventualmente, configurar o crime do art. 132, ou, se o contágio
se concretizar, quem sabe, o crime de lesão corporal, dependendo das circunstâncias.

A conduta realizada tem de ter a finalidade de transmitir a moléstia. Assim, por exemplo, se a “mãe de leite”
amamentar a criança, desconhecendo que está contaminada ou então ignorando que a moléstia grave que porta é contagiosa,
não responderá por esse crime. Se, contudo, sobrevier lesão corporal ou a morte da criança e ficar comprovada a existência de
culpa, a “mãe de leite” responderá por lesão corporal culposa ou homicídio culposo, conforme o caso. Se, ao contrário, a criança
transmitir a moléstia grave à ama-seca, os pais da criança não responderão por esse crime; se houver dolo dos pais, responderão
por perigo para a vida ou a saúde de outrem, lesão corporal, tentativa de homicídio ou homicídio, conforme o caso concreto e a
natureza do dolo que orientou suas condutas.
De acordo com Bittencourt, o perigo de contágio de moléstia grave está tipificado no art. 131; contudo, se forem
venéreas as moléstias e o meio do perigo de contágio for ato de libidinagem (relação sexual ou outro ato libidinoso), tipificará o
crime descrito no art. 130. No entanto, se, a despeito de serem venéreas as moléstias graves, o meio de transmissão for qualquer
outro, poderá tipificar o crime deste art. 131.
Consuma-se o delito com a prática dos atos destinados à transmissão da moléstia grave, independentemente do fato de
ter sido a vítima contaminada ou não. Admite-se a tentativa, uma vez que podemos fracionar o iter criminis, tratando- -se,
portanto, de um delito plurissubsistente.
No caso da vítima que morre em virtude da doença grave, se o dolo era de lesão, ou seja, o de ofender a integridade
corporal ou a saúde da vítima, e se esta vem a morrer em decorrência de seu organismo não resistir à moléstia grave que lhe fora
transmitida, o caso deverá ser resolvido como hipótese de lesão corporal seguida de morte, devendo, aqui, ser observada a regra
contida no art. 19 do Código Penal. Já no caso de querer o agente transmitir o vírus HIV, entendemos que o seu dolo será o de
homicídio, e não o do delito tipificado no art. 131 do Código Penal.
A ação penal é pública incondicionada.

QUESTÕES ESPECIAIS (BITTENCOURT)

 Lesão corporal gravíssima → Havendo eventual contaminação da vítima integra-se o próprio tipo do art. 131. Somente se
se configurar lesão corporal gravíssima o agente responderá exclusivamente por ela (art. 129, § 2º). Logo, entendemos
que a própria lesão corporal grave (art. 129, § 1º) é abrangida pelo exaurimento do crime, em que pese o máximo da
pena ser pouco acima do máximo da pena do crime previsto no art. 131. Somente se configurar lesão corporal gravíssima
o agente responderá exclusivamente por ela (art. 129, § 2º). Logo, entendemos que a própria lesão corporal grave (art.
129, § 1º) é abrangida pelo exaurimento do crime, em que pese o máximo da pena ser pouco acima do máximo da pena
do crime previsto no art. 131, e isso se deve ao dolo que orientou a conduta do agente — transmitir a moléstia grave —,
pois é exatamente o elemento subjetivo que nos permite identificar e classificar a conduta do agente. Nessa descrição
típica do art. 131, o legislador já sopesou o desvalor do resultado, que, provavelmente, deve atingir a integridade e a
saúde do ofendido. Convém destacar que a superveniência da morte da vítima, com o mesmo dolo, não é atribuída ao
agente a título de dolo, mas tão somente a título de preterdolo. Assim, seria incoerente atribuir aquela lesão a título de
dolo.
 Morte da vítima: preterdolo → O dolo que orienta a conduta do agente objetiva a transmitir a moléstia grave. Pois é
exatamente o elemento subjetivo que nos permite identificar e classificar a conduta do agente. Nessa descrição típica do
art. 131, o legislador já sopesou o desvalor do resultado, que, provavelmente, deve atingir a integridade e a saúde do
ofendido. Convém destacar que a superveniência da morte da vítima, com o mesmo dolo, não é atribuída ao agente a
título de dolo, mas tão somente a título de preterdolo. Assim, seria incoerente atribuir aquela lesão a título de dolo. Se
sobrevier a morte da vítima, com efeito, em razão da contaminação, o agente responderá por lesão corporal seguida de
morte (art. 129, § 3º). S e a intenção for matar a vítima, poderá configurar homicídio doloso (tentado ou consumado). S e
o sujeito ativo agir com dolo eventual, ou seja, assumir o risco de produzir o contágio de moléstia grave, não responderá
pelo crime, que exige dolo direto. Contudo, se produzir lesão corporal responderá por ela. S e, no entanto, agir com culpa
na transmissão de moléstia grave, responderá por lesão corporal culposa ou homicídio culposo, de acordo com o
resultado que produzir.
 Elemento subjetivo e resultado → Se sobrevier a morte da vítima, em razão da contaminação, o agente responderá por
lesão corporal seguida de morte (art. 129, § 3º). Se a intenção for matar a vítima, poderá configurar homicídio doloso
(tentado ou consumado). Se o sujeito ativo agir com dolo eventual, ou seja, assumir o risco de produzir o contágio de
moléstia grave, não responderá pelo crime, que exige dolo direto. Contudo, se produzir lesão corporal responderá por
ela. Se, no entanto, agir com culpa na transmissão de moléstia grave, responderá por lesão corporal culposa ou homicídio
culposo, de acordo com o resultado que produzir.
 Concurso formal: contágio e epidemia → Se, por fim, com sua ação, der causa ao surgimento de uma epidemia,
responderá pelo crime dos arts. 131 e 267, § 2º (modalidade culposa), em concurso formal.
 Desclassificação: dificuldade → Dificilmente será possível a desclassificação para o crime de perigo de contágio venéreo,
porque a ação penal do delito do art. 130 do CP é pública condicionada à representação (§ 2º), que, normalmente, não
terá sido satisfeita antes do prazo decadencial.
DIREITO PENAL III

Daniela Costa de Medeiros

AUTORES UTILIZADOS: BITENCOURT, CEZAR ROBERTO; GRECO, ROGÉRIO; CUNHA, ROGÉRIO


SANCHES.
OBS: O resumo/fichamento não substitui o estudo doutrinário, normativo e jurisprudencial da matéria. Deve-se usá-lo apenas para revisão.

DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE


OMISSÃO DE SOCORRO (ART. 135 , CP)

Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao
desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública:

Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte.

Pois há uma abstenção do agente. O dever de agir é para evitar um resultado concreto.
Há somente a omissão de um dever de agir, imposto normativamente, dispensando, via
CRIME OMISSIVO
de regra, a investigação sobre a relação de causalidade naturalística
PRÓPRIO

INSTANTÂNEO Pois se consuma imediatamente, em um instante definido.

CRIME COMUM Pois pode ser praticado por qualquer pessoa, independentemente de condição ou
qualidade especial do sujeito ativo

CRIME DE PERIGO Devendo ser demonstrado que a omissão do agente trouxe, efetivamente, uma situação
CONCRETO de perigo para a vítima.

DOLOSO Pois não há previsão na modalidade culposa.

DE FORMA LIVRE Pois podem ser praticados de qualquer modo pelo agente, não havendo, no tipo penal,
qualquer vínculo com o método.

MONOSSUBJETIVO Pois pode ser praticado por apenas um sujeito.


(UNISSUBJETIVO)

PLURISSUBSISTENTE Pois pode ser constituído por vários atos que fazem parte de uma única conduta.

TRANSEUNTE (EM Pois deixa vestígios.


REGRA)
A lei obriga a todo indivíduo que vive em sociedade o dever de, em certos casos, quando possível fazê-lo sem risco
pessoal, prestar assistência a pessoas que, pela sua condição (e situação), dela necessitam, ou, subsidiariamente, quando
impedido de prestar a assistência pessoal, pedir o socorro da autoridade pública competente.

O núcleo deixar está colocado no texto do art. 135 do Código Penal no sentido de não fazer algo, ou seja, não prestar
assistência, não assistir, não ajudar, quando possível fazê-lo, sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa
inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública.

Por criança abandonada ou extraviada devemos entender aquela que, de acordo com o art. 2º do Estatuto da Criança e
do Adolescente (Lei nº 8.069/90) não tenha, ainda, completado 12 anos de idade e que tenha, por algum motivo, sido
abandonada à própria sorte por aqueles que eram seus responsáveis ou, no caso da criança extraviada, que tenha com eles
perdido o contato ou a vigilância, não sabendo retornar ao seu encontro. Pessoa inválida é toda aquela que, entregue a si
mesma, não pode prover a própria segurança, seja isto por suas próprias condições normais ou por acidente (velhos, enfermos,
aleijados, paralíticos, cegos etc.). Pessoa ferida é aquela que teve ofendida sua integridade corporal ou saúde, seja por ação de
terceiros, caso fortuito ou até mesmo por vontade própria, como no caso daquele que tentou contra a própria vida e conseguiu
sobreviver, sendo incapaz de, por si mesmo, buscar auxílio a fim de evitar a produção de um dano maior à sua pessoa.

Esse crime não se confunde com os de abandono de incapaz ou abandono de recém-nascido, porque nestes é o próprio
sujeito ativo que abandona a vítima, enquanto no crime de omissão de socorro o sujeito ativo já encontra a criança abandonada
ou extraviada e não lhe presta socorro ou assistência; criança extraviada é aquela que perdeu o rumo de casa, está perdida, não
sabe onde reside nem voltar para lá desconhece o caminho de volta. Com efeito, criança extraviada não se confunde com criança
abandonada.

O bem jurídico protegido é, a exemplo dos artigos anteriores, a preservação da vida e da saúde do ser humano, e o
fundamento da criminalização da omissão de socorro é o desrespeito ao dever de solidariedade humana, um princípio moral
erigido, por esse dispositivo, à condição de dever jurídico.

O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, não requerendo nenhuma condição particular, pois o dever genérico é de não
se omitir. O sujeito ativo deve estar no lugar e no momento em que o periclitante precisa do socorro; caso contrário, se estiver
ausente, embora saiba do perigo e não vá ao seu encontro para salvá-lo, não haverá o crime, pois o crime é omissivo, e não
comissivo. Sujeito passivo do crime de omissão de socorro somente pode ser:

a. criança abandonada ou extraviada


b. pessoa inválida ou ferida, desamparada
c. qualquer pessoa em grave e iminente perigo

É indiferente quem criou a situação de perigo, se a própria vítima, terceiros ou fenômenos naturais etc. No entanto, se
a situação de perigo foi criada pelo próprio omitente, dolosa ou culposamente, este transforma-se em garantidor e responderá
não simplesmente por crime de perigo, mas por eventual resultado que advier da situação que criara, nos termos do art. 13, § 2º,
do CP.

Somente responderá pelo delito de omissão de socorro o agente que podia prestar a assistência sem risco pessoal.
Havendo risco para o agente, o fato será atípico no que diz respeito à sua assistência direta, mas não o exime de
responsabilidade, se também, podendo, não procura socorro com a autoridade pública. 582 Não havendo possibilidade de
assunção de qualquer dos comportamentos, vale dizer, prestar diretamente a assistência, ou buscar o socorro da autoridade
pública competente, o fato será atípico.

Risco moral ou patrimonial não afasta a tipicidade da omissão. Risco para terceiro não exclui a tipicidade, mas poderá
excluir a ilicitude por meio do estado de necessidade (art. 24). Destaque-se que o perigo não pode ter sido provocado, dolosa ou
culposamente, pelo sujeito ativo, que, nessa hipótese, passaria à condição de garantidor (art. 13, § 2º , c).
Consuma-se a omissão de socorro no lugar e no momento em que a atividade devida tinha de ser realizada, isto é, onde
e quando o sujeito ativo deveria agir e não o fez. A consumação realiza-se num só momento, embora a situação criada possa
prolongar-se no tempo.

 Tentativa: inadmissível → A omissão de socorro, crime omissivo próprio ou puro, por excelência, não admite a
tentativa, pois não exige um resultado naturalístico produzido pela omissão. Tratase de crime de ato único,
unissubsistente, que não admite fracionamento. Se o agente deixa passar o momento em que devia agir,
consumou-se o delito; se ainda pode agir, não se pode falar em crime. Até o momento em que a atividade do
agente ainda é eficaz, a ausência desta não constitui crime.
 Tentativa no omissivo impróprio → Tratando-se de crime omissivo impróprio, ao contrário, como a omissão é
forma ou meio de se alcançar um resultado, a consumação ocorre com o resultado lesivo e não com a simples
inatividade do agente, como nos delitos omissivos puros. Naqueles, que produzem resultado naturalístico, ao
contrário dos omissivos próprios, admitem tentativa.

 AGENTE QUE NÃO SOCORRE VÍTIMA ATROPELADA TEMENDO AGRAVAR A SITUAÇÃO

Nesse caso, o agente não se nega simplesmente a socorrer. Há uma motivação justa que permite afastar a
censurabilidade de seu comportamento, sob o argumento da inexigibilidade de conduta diversa. Contudo, embora, segundo a sua
concepção, não possa prestar diretamente o socorro à vítima, obrigatoriamente, deverá buscar o auxílio da autoridade
competente, sob pena de ser responsabilizado pelo delito de omissão de socorro.

 AGENTE QUE IMAGINA QUE CORRE RISCO, QUANDO, NA VERDADE, ESTE NÃO EXISTE

Aplicam-se, in casu, as regras relativas ao erro de tipo, uma vez que, para o agente, segundo a sua concepção, havia risco
pessoal. Como incorreu em erro sobre uma elementar existente no tipo do art. 135 do Código Penal – sem risco pessoal –, o fato
não lhe poderá ser imputado a título de omissão de socorro.

 RECUSA DA VÍTIMA EM DEIXAR SOCORRER

Se o agente verificar, no caso concreto, que se trata de criança abandonada ou extraviada, ou pessoa inválida ou ferida,
ao desamparo ou em grave e iminente perigo, deverá, mesmo contra a vontade expressa da vítima, prestar- -lhe o necessário
socorro, sob pena de ser responsabilizado pelo delito tipificado no art. 135 do Código Penal.

Isso porque os bens juridicamente protegidos pelo tipo penal, que define a omissão de socorro, são indisponíveis. Não
estamos nos referindo, por exemplo, a qualquer lesão que a vítima pudesse sofrer se não fosse socorrida a tempo, mas, sim,
como esclarece a própria lei penal, ao perigo grave e iminente para a sua saúde, para sua integridade física, único bem, in casu,
que se poderia cogitar de disposição, já que a vida, em qualquer situação, é um bem de natureza indisponível.

 FORMA CULPOSA

Não há forma culposa. O erro quanto à existência do perigo exclui o dolo. No entanto, sobrevindo dano (lesão corporal ou
morte), o agente responderá pelo crime culposo (art. 20 e § 1º). O elemento subjetivo desse crime é o dolo (de perigo),
representado pela vontade de omitir com a consciência do perigo, isto é, o dolo deve abranger a consciência da concreta situação
de perigo em que a vítima se encontra. O dolo poderá ser eventual, por exemplo, quando o agente, com sua conduta omissiva,
assume o risco de manter o estado de perigo preexistente.

 CONCURSO DE PESSOAS
Os crimes omissivos próprios, em nossa concepção, admitem tanto a coautoria quanto a participação em sentido estrito.
A distinção entre coautoria e participação deve ser encontrada na definição desses dois institutos e não na natureza do
crime, omissivo ou comissivo.
 Coautoria em crime omissivo → Se duas pessoas deixarem de prestar socorro a uma pessoa gravemente ferida,
podendo fazê-lo, sem risco pessoal, praticarão, individualmente, o crime autônomo de omissão de socorro.
Agora, se essas duas pessoas, de comum acordo, deixarem de prestar socorro, nas mesmas circunstâncias, serão
coautoras do crime de omissão de socorro.
 Participação em sentido estrito → A participação também pode ocorrer nos chamados “crimes omissivos
impróprios” (comissivos por omissão), “mesmo que o partícipe não tenha o dever jurídico de não se omitir”.
Claro, se tivesse tal dever seria igualmente autor, ou coautor, se houvesse a resolução conjunta de se omitir. É
perfeitamente possível que um terceiro, que não está obrigado ao comando da norma, instigue o garante a não
impedir o resultado.

 CAUSAS DE AUMENTO DA PENA

Não há crime de omissão de socorro qualificado, pois a omissão é crime de perigo, e eventual resultado “qualificador” a
transformaria em crime de dano. Na realidade, eventual resultado decorrente da omissão — lesão grave ou morte — não
constitui “forma qualificada”, como alguns, pouco afeitos à precisão terminológica, chegam a afirmar. Com efeito, a
superveniência de lesão corporal grave ou morte da vítima constitui circunstância de aumento de pena, isto é, majorante, que
deve ser apreciada, no momento da aplicação da pena, na terceira operação (se houver antes agravantes ou atenuantes). Logo,
esse resultado majorador não altera o tipo penal, que mantém os mesmos limites mínimo e máximo do caput.

 AÇÃO PENAL E COMPETÊNCIA PARA JULGAMENTO


A competência para o julgamento do delito de omissão de socorro, pelo menos ab initio, será do Juizado Especial
Criminal. Ocorrendo lesão corporal de natureza grave, aumentando-se a pena de metade, ou morte, caso em que a pena será
triplicada, ainda assim persiste a competência do Juizado Especial Criminal, haja vista que, mesmo triplicando a pena máxima
cominada em abstrato, seu limite não ultrapassa os dois anos, o que permite que seja, ainda, considerada como infração penal de
menor potencial ofensivo.
A ação penal é de iniciativa pública incondicionada.
DIREITO PENAL III

Daniela Costa de Medeiros

AUTORES UTILIZADOS: BITENCOURT, CEZAR ROBERTO; GRECO, ROGÉRIO; CUNHA, ROGÉRIO


SANCHES.
OBS: O resumo/fichamento não substitui o estudo doutrinário, normativo e jurisprudencial da matéria. Deve-se usá-lo apenas para revisão.

DOS CRIMES CONTRA A HONRA


CALÚNICA, DIFAMAÇÃO E INJÚRIA (ART. 138, 139 e 140 , CP)

Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime:

Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.

§ 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala ou divulga.

§ 2º - É punível a calúnia contra os mortos.

Exceção da verdade

§ 3º - Admite-se a prova da verdade, salvo:

I - se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido não foi condenado por sentença irrecorrível;

II - se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no nº I do art. 141;

III - se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível.

CRIME COMUM Pois o tipo penal não exige qualquer qualidade ou condição especial tanto para o sujeito ativo
como para o sujeito passivo

CRIME FORMAL Uma vez que a sua consumação ocorre mesmo que a vítima não tenha sido, efetivamente,
maculada em sua honra objetiva, bastando que o agente divulgue, falsamente, a terceiro, fato
definido como crime.

DOLOSO Pois não há previsão na modalidade culposa.

DE FORMA LIVRE Pois podem ser praticados de qualquer modo pelo agente, não havendo, no tipo penal,
qualquer vínculo com o método.

MONOSSUBJETIVO Pois pode ser praticado por apenas um sujeito.


(UNISSUBJETIVO)

PLURISSUBSISTENTE OU Pois que o ato de caluniar pode ser concentrado ou, ainda, fracionado, oportunidade em que se
UNISSUBSISTENTE poderá visualizar a tentativa.

INSTANTÂNEO Pois se consuma em apenas um instante, de imediato, sem produzir um resultado que se
prolongue no tempo, embora a ação possa perdurar.
Podendo ser, também, omissivo impróprio, desde que o agente goze do status de garantidor
COMISSIVO
Sendo que, em algumas situações, poderá ser considerado não transeunte, a exemplo do agente
TRANSEUNTE que divulga a terceiro, por meio de carta, um fato definido como crime falsamente atribuído à
vítima.

Podendo o agente não somente caluniar a vítima, como também se esforçar no sentido de divulgá-
DE CONTEÚDO la a mais pessoas, devendo responder, portanto, por uma só infração penal.
VARIADO

O bem jurídico protegido, pela tipificação do crime de calúnia, para aqueles que adotam essa divisão, é a honra
objetiva, isto é, a reputação do indivíduo, ou seja, é o conceito que os demais membros da sociedade têm a respeito do
indivíduo, relativamente a seus atributos morais, éticos, culturais, intelectuais, físicos ou profissionais. É, em outros termos, o
sentimento do outro que incide sobre as nossas qualidades ou nossos atributos.
Honra objetiva constitui o sentimento ou o conceito que os demais membros da comunidade têm sobre nós, sobre
nossos atributos. Objetivamente, honra é um valor ideal, a consideração, a reputação, a boa fama de que gozamos perante a
sociedade em que vivemos.
Assim, podemos indicar os três pontos principais que especializam a calúnia com relação às demais infrações penais
contra a honra, a saber:

a) a imputação de um fato;

b) esse fato imputado à vítima deve, obrigatoriamente, ser falso;

c) além de falso, o fato deve ser definido como crime.

Também ocorrerá o delito de calúnia quando o fato em si for verdadeiro, ou seja, quando houver, realmente, a prática
de um fato definido como crime, sendo que o agente imputa falsamente a sua autoria à vítima. Dessa forma, tanto ocorrerá a
calúnia quando houver a imputação falsa de fato definido como crime, como na hipótese de o fato ser verdadeiro, mas falsa a sua
atribuição à vítima.

Merece ser ressaltado, ainda, que o fato imputado pelo agente à vítima deve ser determinado. Não basta, por
exemplo, dizer que a vítima furtou. É necessário particularizar as circunstâncias bastantes para identificar o acontecido, embora
sem as precisões e minúcias que, muitas vezes, só poderiam resultar de investigações que não estariam ao alcance do acusador
realizar”.

CONSENTIMENTO DO OFENDIDO COMO EXCLUDENTE DE TIPICIDADE

A honra, quer objetiva, quer subjetiva, é um dos bens jurídicos disponíveis por excelência, pois, em princípio, o
ordenamento jurídico pátrio reserva-lhe praticamente todos os institutos destinados aos crimes de exclusiva iniciativa privada.
Dentre esses institutos destacam-se a renúncia (art. 104) e o perdão (arts. 105 e 106), que, se ocorrerem, extinguirão a
punibilidade. Da aplicabilidade desses institutos, qual seja, deixando à absoluta discricionariedade do sujeito passivo a decisão de
processar ou não o sujeito ativo, e, mesmo após ter decidido iniciar a ação penal, facultando-lhe poder renunciar ao direito de
queixa ou perdoar ao agente, decorre, inevitavelmente, que o consentimento do ofendido exclui a tipicidade da conduta do
“ofensor”.

SUJEITO ATIVO E SUJEITO PASSIVO

O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa física, desde que seja imputável, sem necessidade de reunir qualquer outra
condição. A pessoa jurídica, por faltar-lhe a capacidade penal, não pode ser sujeito ativo dos crimes contra a honra.

Os inimputáveis, seja qual for a causa, não podem ser sujeito ativo do crime de calúnia, pelas razões que exporemos,
embora, teoricamente, possam, a nosso juízo (Bitencourt), ser sujeitos passivos dos crimes contra a honra, dependendo,
logicamente, da capacidade de entender o significado ultrajante da imputação.
Qualquer pessoa pode ser sujeito passivo (inclusive os inimputáveis), não se lhe exigindo, literalmente, qualquer
condição especial. Embora os inimputáveis não possam praticar crimes, podem ser sujeitos passivos do crime de calúnia, pois,
apesar de inimputáveis, não podem ser privados da proteção jurídica e deixados à mercê da agravação de qualquer um, pois
também têm direito à proteção legal da reputação e do sentimento de dignidade.

Os mortos também podem ser caluniados (art. 138, § 2º), mas seus parentes serão os sujeitos passivos. A honra é um
atributo dos vivos; somente estes têm personalidade, à qual se liga a honra. Contudo, como com a morte se extingue a
personalidade, a ofensa punível não atinge a “pessoa” do morto, mas a sua memória. O que fundamenta a incriminação é o
interesse dos parentes em preservar o bom nome do finado, e, por isso, eles é que são os sujeitos passivos desse crime. Não é
criminalizada no Direito brasileiro, por ora, a difamação e a injúria contra os mortos.

ELEMENTO NORMATIVO DO TIPO: FALSAMENTE → ERRO DE TIPO

A imputação, para constituir crime, tem de ser falsa. A falsidade da imputação pode recair sobre o fato ou sobre a
autoria. Na primeira hipótese o fato é inexistente; na segunda, a existência ou ocorrência do fato é verdadeira; falsa é a
imputação da autoria. Qualquer das duas falsidades satisfaz a elementar normativa exigida pelo tipo penal.

Se o agente está convencido de que a imputação é verdadeira, não responde pelo crime, pois incorre em erro de tipo,
por ignorar uma elementar do tipo — falsamente —, ou seja, não sabe o que faz. A certeza do agente, embora errônea, de que a
imputação é verdadeira impede a configuração do dolo.

CONSUMAÇÃO E TENTANTIVA

Consuma-se o crime de calúnia quando o conhecimento da imputação falsa chega a uma terceira pessoa, ou seja,
quando se cria a condição necessária para lesar a reputação da vítima. Ao contrário da injúria, neste crime, não se consuma o
crimequando somente o ofendido toma conhecimento da imputação ilícita, pois não é o aspecto interno da honra que é lesado
pelo crime. Nesse sentido, deve haver publicidade, caso contrário não existirá ofensa à “honra objetiva”.

Como regra, o crime de calúnia não admite a tentativa, embora, em tese, ela seja possível, dependendo do meio
utilizado, mediante escrito, por exemplo, quando já não se tratará de crime unissubsistente, existindo um iter criminis que pode
ser fracionado.

EXCEÇÃO DA VERDADE

Exceção da verdade significa a possibilidade que tem o sujeito ativo de poder provar a veracidade do fato imputado
(art. 138, § 3º, do CP) através de procedimento especial (art. 523 do CPP). Calúnia é, por definição, a imputação falsa, ou seja, é
da essência da calúnia a falsidade da acusação, quer em relação à existência do fato, quer em relação à autoria do fato. Provada
pelo agente que a imputação que faz é verdadeira, não se há que falar em calúnia.

Chama-se exceção da verdade a faculdade atribuída ao suposto autor do crime de calúnia de demonstrar que,
efetivamente, os fatos por ele narrados são verdadeiros, afastando-se, portanto, com essa comprovação, a infração penal a ele
atribuída.

AGENTE QUE PROPALA OU DIVULGA A CALÚNIA

Os verbos núcleos, nesta forma de calúnia, são propalar ou divulgar, que têm sentido semelhante e consistem em levar
ao conhecimento de outrem, por qualquer meio, a calúnia de que, de alguma forma, tomou conhecimento. Embora tenham
significados semelhantes, a abrangência das duas expressões é distinta: propalar limita-se, em tese, ao relato verbal, à
comunicação oral, circunscreve-se a uma esfera menor, enquanto divulgar tem uma concepção mais ampla, que seria tornar
público por qualquer meio, inclusive através da fala.

Não é necessário que um número indeterminado de pessoas tome conhecimento da imputação; é suficiente que se
comunique a outrem, mesmo em caráter confidencial. A propalação ou a divulgação são atividades, são condutas tipificadas e
não resultado. Nesta modalidade, o propalador não cria a imputação falsa, que já foi obra de outro; quem a ouve leva-a adiante,
sabendo que a imputação é falsa. Com essa conduta, embora não tenha criado o fato desonroso, amplia a sua potencialidade
lesiva.

PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE

a) Código Penal x Lei de Segurança Nacional: calúnia contra o Presidente da República, do Senado Federal, da Câmara
dos Deputados ou do Supremo Tribunal Federal, praticada com motivação política, configura delito contra a segurança nacional
(art. 26 da Lei 7.170/83);

b) Código Penal x Código Penal Militar: o art. 214 do Decreto-lei 1.001/69 pune a calúnia praticada na forma do art. 9°
daquele diploma;

c) Código Penal x Lei de Imprensa: a Lei 5.250/67 tipificou nos arts. 20, 21 e 22 os delitos contra a honra praticados por
meio da imprensa. No entanto, o STF, na ADPF 130, ajuizada pelo PDT, julgou que a Lei 5.250/67 não foi recepcionada pela CF/88,
ferindo, frontalmente, a liberdade de imprensa, consagrada na Carta Maior. Com a decisão suprema, as infrações contra a honra
praticadas pela imprensa devem se subsumir às normas gerais do CP e do CPP;

d) Código Penal x o Código Eleitoral: a Lei 4.737/65, no art. 324, tipifica o crime de calúnia na propaganda eleitoral ou
visando fins eleitorais.

DIFERENÇA ENTRE CALÚNICA E DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA

Para que ocorra a calúnia, basta que ocorra a imputação falsa de um fato definido como crime; para fins de
configuração da denunciação caluniosa (art. 339 do CP), deve ocorrer uma imputação de crime a alguém que o agente sabe
inocente, sendo fundamental que o seu comportamento dê causa à instauração de investigação policial, de processo judicial,
instauração de investigação administrativa, inquérito civil ou ação de improbidade administrativa.

DIFERENÇA ENTRE A CALÚNICA E DIFAMAÇÃO

I) na calúnia, a imputação do fato deve ser falsa, ao contrário da difamação que não exige a sua falsidade;

II) na calúnia, além de falso o fato, deve ser definido como crime; na difamação, há somente a imputação de um
fato ofensivo à reputação da vítima, não podendo ser um fato definido como crime, podendo, contudo,
consubstanciar-se em contravenção penal.

DIFERENÇA ENTRE A CALÚNICA E INJÚRIA

A primeira diferença entre a calúnia e a injúria reside em que naquela existe uma imputação de fato e nesta o que se
atribui à vítima é uma qualidade pejorativa à sua dignidade ou decoro. Com a calúnia, atinge-se a honra objetiva, isto é, o
conceito que o agente presume gozar em seu meio social; já a injúria atinge a chamada honra subjetiva, quer dizer, o conceito ou
atributos que o agente tem ou acredita ter de si mesmo. Assim, por exemplo, imputar falsamente a alguém a prática do tráfico de
entorpecentes configura-se calúnia; chamar alguém de traficante de drogas caracteriza o crime de injúria
DIREITO PENAL III

Daniela Costa de Medeiros

AUTORES UTILIZADOS: BITENCOURT, CEZAR ROBERTO; GRECO, ROGÉRIO.


OBS: O resumo/fichamento não substitui o estudo doutrinário, normativo e jurisprudencial da matéria. Deve-se usá-lo apenas para revisão.

DOS CRIMES CONTRA A HONRA


DIFAMAÇÃO (ART. 139 do CP)

Art. 139 - Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação:

Pena — detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa. Exceção da verdade

Parágrafo único. A exceção da verdade somente se admite se o ofendido é funcionário público e a ofensa é relativa ao exercício de suas funções.

CRIME COMUM Pois o tipo penal não exige qualquer qualidade ou condição especial tanto para o sujeito ativo
como para o sujeito passivo

CRIME FORMAL Uma vez que a sua consumação ocorre mesmo que a vítima não tenha sido, efetivamente,
maculada em sua honra objetiva, bastando que o agente divulgue, falsamente, a terceiro, fato
definido como crime.

DOLOSO Pois não há previsão na modalidade culposa.

DE FORMA LIVRE Pois podem ser praticados de qualquer modo pelo agente, não havendo, no tipo penal,
qualquer vínculo com o método.

MONOSSUBJETIVO Pois pode ser praticado por apenas um sujeito.


(UNISSUBJETIVO)

PLURISSUBSISTENTE OU Pois que o ato de caluniar pode ser concentrado ou, ainda, fracionado, oportunidade em que se
UNISSUBSISTENTE poderá visualizar a tentativa.

INSTANTÂNEO Pois se consuma em apenas um instante, de imediato, sem produzir um resultado que se
prolongue no tempo, embora a ação possa perdurar.

Podendo ser, também, omissivo impróprio, desde que o agente goze do status de garantidor
COMISSIVO
Sendo que, em algumas situações, poderá ser considerado não transeunte, a exemplo do agente
TRANSEUNTE que divulga a terceiro, por meio de carta, um fato definido como crime falsamente atribuído à
vítima.

Podendo o agente não somente caluniar a vítima, como também se esforçar no sentido de divulgá-
DE CONTEÚDO la a mais pessoas, devendo responder, portanto, por uma só infração penal.
VARIADO

DIFAMAÇÃO
Para que se configure a difamação deve existir uma imputação de fatos determinados, sejam eles falsos ou verdadeiros,
à pessoa determinada ou mesmo a pessoas também determinadas, que tenha por finalidade macular a sua reputação, vale dizer,
sua honra objetiva. Quando certas ofensas vão além dos limites suportáveis, justifica-se a sua punição, podendo configurar-se um
dos crimes contra a honra disciplinados no nosso ordenamento jurídico.

Tem-se por consumada a infração penal quando terceiro, que não a vítima, toma conhecimento dos fatos ofensivos à
reputação desta última. Exige-se, em geral, que esses mesmos fatos cheguem ao conhecimento da vítima para que, se for da sua
vontade, possa ser proposta ação penal contra o agente difamador, no prazo de 6 (seis) meses, sob pena de ocorrer a decadência
do seu direito de ação.

Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, sem qualquer condição especial. Por ora, a pessoa jurídica não está legitimada a
praticar este tipo de crime, a despeito da decantada responsabilidade penal desta. Igualmente qualquer pessoa pode ser sujeito
passivo. Os inimputáveis também podem ser sujeitos passivos do crime de difamação, isto é, podem ser difamados, desde que
tenham capacidade suficiente para entender que estão sendo ofendidos em sua honra pessoal. Honra é um valor social e moral
do ser humano, bem jurídico imaterial inerente à personalidade, e, por isso, qualquer indivíduo é titular desse bem, imputável ou
inimputável.

O delito de difamação somente admite a modalidade dolosa, seja o dolo direto, seja mesmo eventual, não sendo
punível a difamação culposa, por ausência de previsão legal. Como regra, não é admitida a exceção da verdade no delito de
difamação, pois que, mesmo sendo verdadeiros os fatos ofensivos à reputação da vítima, ainda assim se concluirá 633 pela
tipicidade da conduta levada a efeito pelo agente. Contudo, o parágrafo único do art. 139 ressalvou admitir a exceção da verdade
se o ofendido é funcionário público e se a ofensa é relativa ao exercício de suas funções, em razão de o Estado-Administração
ter interesse em apurar a autenticidade da imputação, que, inclusive, pode constituir falta administrativa, embora não caracterize
crime. Não há animus diffamandi na conduta de quem se limita a analisar e argumentar sobre dados, fatos, elementos,
circunstâncias, sempre de forma impessoal, sem personalizar a interpretação. Na verdade, postura comportamental como essa
não traduz a intenção de ofender.

Vai-se ampliando a corrente que admite a possibilidade de a pessoa jurídica também ser sujeito passivo de crimes
contra a honra. As pessoas jurídicas tanto de direito público quanto de direito privado podem ser sujeito passivo do crime de
difamação. Ninguém ignora os danos e abalos de créditos que as pessoas jurídicas podem sofrer se forem vítimas de imputações
levianas de fatos desabonadores do conceito e da dignidade que desfrutam no mercado.

É indispensável que a imputação chegue ao conhecimento de outra pessoa que não o ofendido, pois é a reputação de
que o imputado goza na comunidade que deve ser lesada, e essa lesão somente existirá se alguém tomar conhecimento da
imputação desonrosa. Para que ocorra a difamação é necessário que o fato seja determinado e que essa determinação seja
objetiva, pois a imputação vaga, imprecisa ou indefinida não a caracteriza, podendo, eventualmente, adequar-se ao crime de
injúria. Difamação é a imputação de fato, repetindo, fato determinado, individualizado, identificado, e não de defeitos ou de
qualidades negativa.

 EXCEÇÃO DA VERDADE

Ninguém tem o direito de invadir a privacidade de ninguém, intrometendo-se na vida alheia, e, evidentemente, muito
menos o de propalar ou divulgar o que outrem faz ou deixa de fazer. Por isso, a imputação de qualquer fato que atinja a honra de
alguém tipificará o crime de difamação, e o agente não tem o direito de demonstrar que o fato é verdadeiro, pois o Estado não
confere a ninguém o direito de arvorar-se em censor da honra alheia. Como na difamação não há imputação de fato definido
como crime, o Estado não tem interesse em saber o que as pessoas andam dizendo ou divulgando.

Com efeito, a difamação não admite exceção da verdade, salvo quando o fato ofensivo é imputado a funcionário
público e relaciona-se ao exercício de suas funções, pois, nesse caso, o Estado tem interesse em saber que seus funcionários
exercem suas funções com dignidade e decoro.
 ADVOGADO E EXCESSO VERBAL

Nos crimes contra a honra, é imprescindível a demonstração da intenção de ofender ou, no caso da calúnia, de se
imputar a prática de crime. É entendimento pacífico que o advogado, na sua atuação, não comete os crimes de injúria e
difamação, por força da imunidade que lhe é conferida pelo art. 7º, § 2º, da Lei nº 8.906/1994.

 AUMENTO DE PENA
Pode ser majorada em um terço, se o fato é cometido contra o Presidente da República ou chefe de governo
estrangeiro; contra funcionário público em razão de suas funções; na presença de três ou mais pessoas, ou por meio que facilite a
divulgação da ofensa (art. 141, I, II e III), ou duplicada, quando é praticada mediante paga ou promessa de recompensa (art. 145,
parágrafo único).

 NATUREZA DA AÇÃO PENAL


A ação penal, como regra geral (nos crimes contra a honra há inversão da regra geral), é de exclusiva iniciativa privada
(art. 145). Será, porém, pública condicionada quando:
a) praticada contra Presidente da República ou contra chefe de governo estrangeiro (a requisição do Ministro da
Justiça);
b) contra funcionário público, em razão de suas funções (a representação do ofendido) (art. 145, parágrafo único).
DIREITO PENAL III

Daniela Costa de Medeiros

AUTORES UTILIZADOS: BITENCOURT, CEZAR ROBERTO; GRECO, ROGÉRIO.


OBS: O resumo/fichamento não substitui o estudo doutrinário, normativo e jurisprudencial da matéria. Deve-se usá-lo apenas para revisão.

DOS CRIMES CONTRA A HONRA


INJÚRIA (ART. 140 do CP)

Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:

Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

§ 1º - O juiz pode deixar de aplicar a pena:

I - quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria;

II - no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria.

§ 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou pelo meio empregado, se considerem aviltantes:

Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência.

§ 3o Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência:

Pena - reclusão de um a três anos e multa.

CRIME COMUM Pois o tipo penal não exige qualquer qualidade ou condição especial tanto para o sujeito ativo
como para o sujeito passivo

CRIME FORMAL Uma vez que a sua consumação ocorre mesmo que a vítima não tenha sido, efetivamente,
maculada em sua honra objetiva, bastando que o agente divulgue, falsamente, a terceiro, fato
definido como crime.

DOLOSO Pois não há previsão na modalidade culposa.

DE FORMA LIVRE Pois podem ser praticados de qualquer modo pelo agente, não havendo, no tipo penal,
qualquer vínculo com o método.

MONOSSUBJETIVO Pois pode ser praticado por apenas um sujeito.


(UNISSUBJETIVO)

PLURISSUBSISTENTE OU Pois que o ato de caluniar pode ser concentrado ou, ainda, fracionado, oportunidade em que se
UNISSUBSISTENTE poderá visualizar a tentativa.

INSTANTÂNEO Pois se consuma em apenas um instante, de imediato, sem produzir um resultado que se
prolongue no tempo, embora a ação possa perdurar.

Podendo ser, também, omissivo, desde que o agente goze do status de garantidor
COMISSIVO
Como regra, ressalvada a possibilidade de se proceder a perícia nos meios utilizados pelo
TRANSEUNTE agente ao cometimento da infração penal.

INJÚRIA

De todas as infrações penais tipificadas no Código Penal que visam proteger a honra, a injúria, na sua modalidade
fundamental, é a considerada menos grave. Entretanto, por mais paradoxal que possa parecer, a injúria se transforma na mais
grave infração penal contra a honra quando consiste na utilização de elementos referentes à raça, cor, etnia, religião, origem ou à
condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência, sendo denominada, aqui, de injúria preconceituosa.

Como regra, na injúria não existe imputação de fatos, mas, sim, de atributos pejorativos à pessoa do agente. Dessa
forma, chamá-lo de bicheiro configura-se como injúria; dizer à terceira pessoa que a vítima está “bancando o jogo do bicho”
caracteriza difamação.

O objeto da proteção, neste crime, também é a honra, sobre a qual já discorremos longamente ao analisarmos os dois
crimes anteriores. A diferença é que, neste dispositivo, para aqueles que adotam essa divisão, trata-se da honra subjetiva, isto é,
a pretensão de respeito à dignidade humana, representada pelo sentimento ou concepção que temos a nosso respeito.

Importante destacar a impossibilidade de se punir o agente por fatos que traduzem, no fundo, a mesma ofensa. No
exemplo citado, mesmo tendo o agente falado com terceira pessoa, na presença da vítima, que esta se enriqueceu à custa de ter
explorado o jogo do bicho, afirmando, logo em seguida, ser o ofendido bicheiro, não podemos considerar uma mesma situação
fática para imputar duas infrações penais diferentes ao agente, que nesse caso são a difamação e a injúria. Aqui, a infração mais
grave, a difamação, absorverá a infração penal menos grave, a injúria.

Sujeito ativo do crime de injúria pode ser qualquer pessoa, sem qualquer condição especial. A pessoa jurídica, segundo
o entendimento doutrinário-jurisprudencial mais aceito, não está legitimada a praticar este tipo de crime, apesar do crescimento
do entusiasmo pela responsabilidade penal. Sujeito passivo Qualquer pessoa, igualmente, pode ser sujeito passivo, inclusive os
inimputáveis. No entanto, relativamente aos inimputáveis, com cautela se deve analisar casuisticamente, pois é indispensável
que tenham a capacidade de entender o caráter ofensivo da conduta do sujeito ativo, isto é, devem ter consciência de que está
sendo lesada sua dignidade ou decoro.

As pessoas jurídicas, a exemplo do crime de difamação, também podem ser sujeito passivo do crime de injúria? Afinal,
alguém ignora os danos e abalos de crédito que podem sofrer quando são vítimas de assaques desabonadores ao conceito e à
credibilidade de que desfrutam no mercado? Contudo, ainda predomina o entendimento segundo o qual a pessoa jurídica não
possui honra subjetiva e, por isso, não pode ser sujeito passivo do crime de injúria, embora se admita que os titulares da pessoa
jurídica podem ter a honra lesada, nessas circunstâncias, passando à condição de vítimas do crime

Considerando que o delito atinge a honra subjetiva, consuma-se a injúria no momento em que a vítima toma
conhecimento das palavras ofensivas à sua dignidade ou decoro. Entretanto, não se faz necessária a presença da vítima no
momento em que o agente profere, por exemplo, as palavras que são ofensivas à sua honra subjetiva.

Há necessidade do chamado animus injuriandi, pois, caso contrário, o fato será atípico. Assim, as palavras, por exemplo,
ditas com animus jocandi, ou seja, com a intenção de brincar com a vítima, mesmo que essa última seja extremamente sensível,
não poderão configurar o delito de injúria.

A injúria pode ser:


 Imediata (quando proferida pelo próprio agente);
 Mediata (quando se utilizar outro meio ou outra forma para executá-la: uma criança, um papagaio repetindo
ofensas etc.);
 Direta (quando se refere ao próprio ofendido);
 Indireta ou reflexa (quando, ofendendo alguém, atinge-se também terceiro);
 Explícita (quando é induvidosa);
 Equívoca (quando se reveste de incertezas, de vacilações).

 ESPÉCIES DE INJÚRIA

O Código Penal trabalha com três espécies de injúria:

 Injúria simples, prevista no caput do art. 140;


A injúria simples pode ser praticada de qualquer forma: gestos, palavras, símbolos, atitudes, figuras
etc. A injúria pode ser praticada por todos os meios idôneos para manifestar o pensamento.

 Injúria real (forma qualificada), consignada no § 2º do art. 140;

A injúria real, definida no § 2º do art. 140, é um dos chamados crimes complexos, reunindo, sob sua
proteção, dois bens jurídicos distintos: a honra e a integridade ou incolumidade física de alguém.
Contudo, destacadamente, o bem visado e atingido, prioritariamente, é a honra pessoal. A violência
ou vias de fato representam somente os meios pelos quais se busca atingir o fim de injuriar, de
ultrajar o desafeto.

 Injúria preconceituosa, tipificada no § 3º do art. 140.


Na injúria preconceituosa deve estar presente especialmente a consciência de que ofende a honra
alheia em razão de raça, cor, etnia, religião ou origem.

 INADMISSIBILIDADE DA EXCEÇÃO DA VERDADE

A injúria é o único crime que em hipótese alguma admite a exceção da verdade, pois, como vimos na calúnia, sua
admissão é a regra, na difamação, exceção, quando for praticado contra funcionário público em razão do exercício de suas
funções. Desnecessário repetir que nos crimes de calúnia e difamação há a imputação de fato (definido como crime, no primeiro;
somente desonroso, no segundo), enquanto na injúria não há imputação de fato, mas atribuição de conceito depreciativo ao
ofendido. Nunca é demais repetir, a veracidade ou autenticidade dos juízos depreciativos que maculam a honra subjetiva do
ofendido é absolutamente irrelevante para a caracterização da injúria.

 PERDÃO JUDICIAL

É considerado como uma faculdade do julgador e ocorrerá, nos termos dos incs. I e II do § 1º do art. 140 do Código Penal
quando:
a) o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria e;
b) no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria.

As duas hipóteses, embora semelhantes, são inconfundíveis: na provocação reprovável há somente uma injúria, a de
quem reage à provocação, pois a conduta do provocador não assume a condição de injúria, caso contrário haveria retorsão; na
retorsão imediata, por sua vez, há duas injúrias, a inicial, a originadora do conflito, que é revidada com outra injúria.

 MAIS SOBRE INJÚRIA PRECONCEITUOSA

O delito de racismo previsto na Lei 7.716/89. Neste, pressupõe-se sempre uma espécie de segregação (marginalizar, pôr
à margem de uma sociedade) em função da raça ou da cor. No caso do § 3° do art. 140, o crime é praticado através de
xingamentos envolvendo a raça, cor, etnia, religião ou origem da vítima. A diferença tem relevância e repercussão prática.
Xingar alguém fazendo referências à sua cor é injúria, crime de ação penal pública condicionada à representação da
vítima, afiançável e prescritível; impedir alguém de ingressar numa festa por causa da sua cor é racismo, cuja pena será
perseguida mediante ação penal pública incondicionada, inafiançável e imprescritível.
DIREITO PENAL III

Daniela Costa de Medeiros

AUTORES UTILIZADOS: BITENCOURT, CEZAR ROBERTO; GRECO, ROGÉRIO; CUNHA, ROGÉRIO


SANCHES.
OBS: O resumo/fichamento não substitui o estudo doutrinário, normativo e jurisprudencial da matéria. Deve-se usá-lo apenas para revisão.

DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO


DO FURTO (ART. 155 do CP)

Furto

Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:

Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

§ 1º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante o repouso noturno.

§ 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a
dois terços, ou aplicar somente a pena de multa.

§ 3º - Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico.

Furto qualificado

§ 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido:

I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;

II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;

III - com emprego de chave falsa;

IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.

§ 4º-A A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se houver emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum.

§ 5º - A pena é de reclusão de três a oito anos, se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior.

§ 6o A pena é de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos se a subtração for de semovente domesticável de produção, ainda que abatido ou dividido em partes no local da
subtração.

§ 7º A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem
sua fabricação, montagem ou emprego.

CRIME COMUM Pois pode ser praticado por qualquer pessoa independentemente de condição ou qualidade
especial.

DOLOSO O tipo penal não fez previsão expressa da modalidade culposa.

DE DANO Pois consuma-se apenas com lesão efetiva ao bem jurídico tutelado
FORMA LIVRE Pois podem ser praticados de qualquer modo pelo agente, não havendo, no tipo
penal, qualquer vínculo com o método.

COMISSIVO Pois exige uma atividade concreta do agente, uma ação, isto é, o agente faz o que a
norma proíbe.

INSTANTÂNEO Pois se consuma num único instante.

PERMANENTE Pois que na modalidade de furto de energia elétrica, por exemplo, a consumação se prolonga
no tempo, enquanto durar o comportamento do agente.

MONOSSUBJETIVO Pois pode praticado por apenas um sujeito, entretanto, admite-se a coautoria e a participação.

PLURISSUBSISTENTE Pois pode ser constituído por vários atos que fazem parte de uma única conduta.

NÃO TRANSEUNTE Pois deixa vestígios, logo, o exame de corpo delito, direto ou indireto, será obrigatório. Será
possível, na maioria dos casos, o exame pericial.

O art. 155 do Código Penal prevê o delito de furto, isto é, a subtração patrimonial não violenta. Percebe-se, portanto,
que o mencionado tipo penal é composto por vários elementos: o núcleo subtrair; o especial fim de agir caracterizado pela
expressão para si ou para outrem; bem como pelo objeto da subtração, ou seja, a coisa alheia móvel.

A finalidade de ter a coisa alheia móvel para si ou para outrem é que caracteriza o chamado animus furandi no delito
de furto. Não basta a subtração, o arrebatamento meramente temporário, com o objetivo de devolver a coisa alheia móvel logo
em seguida. Caso contrário, seu comportamento será considerado um indiferente penal, caracterizando-se aquilo que a
doutrina convencionou chamar de furto de uso, cuja análise será levada a efeito mais adiante.

 NÃO PODEM SER OBJETO DE FURTO

Objeto de furto somente pode ser coisa móvel. O ser humano, vivo, não pode ser objeto de furto, pela singela
razão de que não se trata de coisa. Poderá responder por inúmeras outras infrações, não de natureza patrimonial, tais
como sequestro, cárcere privado, subtração de incapazes, lesão corporal etc. A própria subtração de cadáver, em princípio,
não pode ser objeto material de furto; constitui, na verdade, crime contra o respeito aos mortos (art. 211). No entanto,
quando, eventualmente, o cadáver for propriedade de alguém, passando a ter valor econômico, pode ser objeto de furto,
como, por exemplo, quando algo que pertence a uma instituição de ensino para estudos científicos é furtado.
Não podem ser objeto do crime de furto, por exemplo, aquelas coisas que não pertencem a ninguém, tais como
res nullius (coisa que nunca teve dono), res derelicta (coisa que já pertenceu a alguém, mas foi abandonada pelo
proprietário) e res commune omnium (coisa de uso comum, que, embora de uso de todos, como o ar, a luz ou o calor do
Sol, a água do mar e dos rios, não pode ser objeto de ocupação em sua totalidade ou in natura). E assim o é porque a coisa
subtraída, para constituir objeto de furto, deve pertencer a alguém, e em qualquer das hipóteses antes mencionadas não
pertence a ninguém.

A maioria de nossos doutrinadores entende ser a posse o bem jurídico precipuamente protegido pelo tipo penal do
art. 155 do diploma repressivo, além da propriedade, e também a mera detenção sobre a coisa alheia móvel.
Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo do delito de furto, desde que não seja o proprietário ou mesmo o possuidor da
coisa. O proprietário, entretanto, poderá ser considerado sujeito ativo do delito de furto de coisa comum, em virtude de
previsão expressa nesse sentido, constante do art. 156 do diploma repressivo. Sujeitos passivos são o proprietário e o possuidor
da coisa alheia móvel, podendo, nesse caso, figurar tanto a pessoa física quanto a pessoa jurídica.
O delito de furto somente pode ser praticado dolosamente, não havendo previsão legal para a modalidade culposa.
Além do chamado animus furandi, ou seja, a vontade do agente dirigida à subtração, há necessidade que esta se dê com a
finalidade de ter a coisa alheia móvel para si ou para outrem, visualizando-se, por meio dessa expressão (para si ou para
outrem), o chamado especial fim de agir.
O agente deve ter a intenção de não devolver a coisa à vítima (animus rem sibi habendi). Subtraindo coisa apenas para
usá-la momentaneamente, devolvendo-a, logo em seguida, haverá mero furto de uso, um indiferente penal (caso de atipicidade
por ausência do elemento subjetivo caracterizador do delito- animus forandi).
São, em resumo, requisitos do furto de uso:
I. intenção, desde o início, de uso momentâneo da coisa subtraída;
II. coisa não consumível;
III. sua restituição imediata e integral à vítima.

COISA PERDIDA, ABANDONADA E COISA COMUM

A coisa perdida não se encontra na posse de ninguém. Mas coisa perdida não é coisa abandonada;
consequentemente, o dono não renunciou a sua propriedade, apenas e tão somente ignora o local onde ela se encontra. Por
isso, a coisa perdida não pode ser objeto de subtração.

O FURTO FAMÉLICO (PARA SACIAR A FOME) É CRIME?

A jurisprudência tem reconhecido o estado de necessidade (art. 24 do CP), desde que presentes os seguintes
requisitos (ônus da defesa):

a) que o fato seja praticado para mitigar a fome;

b) que seja o único e derradeiro recurso do agente (inevitabilidade do comportamento lesivo);

c) que haja a subtração de coisa capaz de diretamente contornar a emergência;

d) a insuficiência dos recursos adquiridos pelo agente com o trabalho ou a impossibilidade de trabalhar.

CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

O STF e o STJ já se decidiram consumado o delito no momento em que o proprietário perde, no todo ou em parte, a
possibilidade de contato material com a res ou de exercício da custódia dominical, seja porque o agente logrou bem sucedida
fuga, seja porque destruiu a coisa apoderada. HUNGRIA destacava circunstâncias em que o furto deve ser considerado perfeito
mesmo que ares furtiva permaneça no âmbito pessoal ou profissional da vítima:

"É o caso, por exemplo, da criada que sub-repticiamente empolga uma joia da patroa e a
esconde no seio ou mesmo nalgum escaninho da casa, para, oportunamente, sem despertar suspeitas,
transportá-la a lugar seguro”.

Nessas hipóteses, o ofendido perde a possibilidade de exercer seu poder de livre disposição sobre a coisa, e o crime,
portanto, se consumou. A tentativa é possível.

QUALIFICADORAS, MAJORANTES DE PENA, FORMA PRIVILEGIADA E CLÁUSULA DE EQUIPARAÇÃO


 Majorante: repouso noturno (§1º)

Em síntese, o critério para definir repouso noturno é variável, não se identificando com a noite, mas sim com o tempo
em que a cidade ou local costumeiramente recolhe-se para o repouso diário. Para a configuração da circunstância majorante do
§ 1º do art. 155 do Código Penal basta que a conduta delitiva tenha sido praticada durante o repouso noturno, dada a maior
precariedade da vigilância e a defesa do patrimônio durante tal período e, por consectário, a maior probabilidade de êxito na
empreitada criminosa, sendo irrelevante o fato de uma das vítimas não estar dormindo no momento do crime.

 Furto privilegiado ou mínimo (§2º)

O privilégio foi, originariamente, instituído em favor dos autores primários de subtração de coisa de valor
insignificante, movidos por necessidade de uso. O § 2º do art. 155 prevê a possibilidade de reduzir a sanção cominada para o
crime de furto, quando se tratar de réu primário e de pequeno valor a coisa subtraída. Em outros termos, o pequeno desvalor
do resultado e a primariedade do agente recomendam menor reprovação deste, determinando, em obediência ao princípio da
proporcionalidade, a redução da sanção para adequá-la à menor gravidade do fato. Este dispositivo procura corrigir, pela
equidade, o excessivo rigor da sanção cominada a um simples crime de furto; aplica-se tanto ao furto simples quanto ao furto
durante o repouso noturno, excluindo-se, segundo interpretação majoritária, do furto qualificado.

 Cláusula de equiparação (§3º)

O § 3° equipara à coisa móvel a energia elétrica e outras (genética, mecânica, térmica e a radioatividade), desde que
tenham valor econômico. Para afastar qualquer dúvida, é expressamente equiparada à coisa móvel, e consequentemente
reconhecida como possível objeto de furto, a “energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico”. Toda energia
economicamente utilizável e suscetível de incidir no poder de disposição material e exclusiva de um indivíduo (como, por
exemplo, a eletricidade, a radioatividade, a energia genética dos reprodutores etc.) pode ser incluída, mesmo do ponto de vista
técnico, entre as coisas móveis, a cuja regulamentação jurídica, portanto, deve ficar sujeita.

 Qualificadoras (§§ 4º e 5º)

Notadamente quanto ao modo de execução, o furto pode revestir-se de circunstâncias que lhe imprimem um cunho
de maior gravidade. A presença de apenas uma delas é suficiente para qualificar o crime, mudando sua capitulação e,
substancialmente, sua punição; eventual concurso de duas ou mais qualificadoras não modifica a pena abstratamente
cominada; contudo, deve ser considerada na medida da pena concretizada, ou seja, uma delas, a nosso juízo (de Bitencourt) a
mais grave ou mais bem comprovada nos autos, servirá para estabelecer a pena base, fixando o marco do tipo penal derivado,
enquanto as demais devem ser trabalhadas na operação dosimétrica da pena, visando encontrar o resultado definitivo.

 Com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa

Somente a violência empregada contra a coisa caracteriza a qualificadora do furto, pois quando for utilizada
contra a pessoa o crime será de roubo. A violência deve ser contra obstáculo que dificulte a subtração e não
contra a própria coisa que é o objeto da subtração. Obstáculo é tudo o que é empregado para proteger a coisa
contra eventual ação delitiva. Não se considera obstáculo aquilo que integra a própria coisa, como, por
exemplo, os vidros do automóvel, a menos que sejam rompidos para subtrair objetos que se encontram no
interior do veículo, mas não para subtrair o próprio.

 Abuso de confiança

Trata-se de circunstância subjetiva, reveladora de maior periculosidade do agente que não só furta, mas viola
a confiança nele depositada. Pode tanto o criminoso captar propositadamente a confiança da vítima, para
cometer o furto , como valer-se da confiança já existente. Ressalte-se que para configurar esta qualificadora
exige-se um especial vínculo de lealdade ou de fidelidade entre a vítima e o agente, sendo irrelevante, por si
só, a simples relação de emprego ou de hospitalidade.

 Fraude

Trata-se de meio enganoso capaz de iludir a vigilância do ofendido e permitir maior facilidade na subtração do
objeto material. Ex.: O sujeito se fantasia de funcionário da companhia telefônica para penetrar na residência
da vítima e subtrair-lhe bens. Há furto com fraude no caso dos dois sujeitos que entram num estabelecimento
comercial, sendo que, enquanto um distrai o ofendido, o outro lhe subtrai mercadorias. O furto mediante
fraude não se confunde com o estelionato. Naquele, a fraude visa a diminuir a vigilância da vítima e
possibilitar a subtração. O bem é retirado sem que a vítima perceba que está sendo despojada. No estelionato,
a fraude visa a fazer com que a vítima incida em erro e entregue espontaneamente o objeto ao agente. A
vontade de alterar a posse no furto é unilateral (apenas o agente quer); já no estelionato é bilateral (agente e
vítima querem).

 Escalada

Qualifica o crime quando cometido mediante escalada, isto é, o uso de via anormal para ingressar no local em
que se encontra a coisa visada. Não implica, necessariamente, subida, mas a utilização de qualquer meio
incomum, como, por exemplo, a penetração via subterrânea.

 Destreza

Configura-se furto mediante destreza subtração de coisa ou valor que alguém traz consigo, com tal habilidade
que não é pela vítima percebida a atuação do agente. Aqui, o agente, por meio de peculiar habilidade física ou
manual, pratica o crime sem que a vítima perceba que está sendo despojada de seus bens (ex: batedores de
carteira). A jurisprudência condiciona a aplicação desta qualificadora à vítima trazer o bem junto ao corpo,
pressuposto lógico para se avaliar a habilidade do punguista.

 Chave falsa

Chave falsa é todo o instrumento, com ou sem forma de chave, destinado a abrir fechaduras. Ex.: gazuas,
grampos, pregos, arame etc.

 Concurso de pessoas

Para que se configure a mencionada qualificadora basta, tão somente, que um dos agentes seja imputável,
não importando se os demais participantes possuam ou não esse status, embora haja decisão jurisprudencial
em sentido contrário: O Código Penal é o código das pessoas maiores de idade. Por isso, entende o Relator, a
qualificadora do concurso de duas ou mais pessoas pressupõe, nos crimes de furto e roubo, por exemplo,
concurso de pessoas imputáveis. Não é, portanto, qualificado o furto praticado por pessoa imputável e pessoa
inimputável (menor de 18 anos). Da mesma forma, basta que um deles tenha sido descoberto, não havendo
necessidade, até mesmo, de saber as qualificações dos demais agentes.

Súmula 442, STJ → É inadmissível aplicar, no furto qualificado, pelo concurso de agentes, a
majorante do roubo.

 Furto de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior

O objeto material da nova qualificadora é o veículo automotor (automóveis, caminhões, lanchas,


motocicletas, etc.), desde que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior. Dessa forma, se
o agente subtrai veículo automotor sem a finalidade de ultrapassar a barreira de seu Estado, o furto será
simples, e não qualificado. A qualificadora de furto de veículo automotor transportado para outro Estado ou
para o exterior configura-se quando há a efetiva transposição da fronteira, independentemente da intenção
do agente em fazê-lo.

 Subtração de semovente domesticável de produção, ainda que abatido ou dividido em partes no local da
subtração

O crime de abigeato, ou furto de animais, é uma forma terrível de atingir a vida do produtor rural, suprimindo
bens que garantem sua subsistência e de sua família. O abigeato representa a perda de ativos para o produtor
rural, que já tem que lidar com uma realidade difícil, em termos econômicos e ambientais, em nosso país.
Trata-se de uma prática criminosa que é a raiz de outras tantas violações à segurança e à saúde públicas. O
comércio de alimentos oriundos de animais furtados é, pois, uma atividade econômica clandestina que tem
impactos negativos tanto do ponto de vista da sonegação de impostos, como em relação à saúde da
população. Tome-se, por exemplo, o comércio de carne de um animal furtado que tenha sido recentemente
vacinado. Determinadas vacinas permanecem no organismo do animal por um período de até 40 (quarenta)
dias, tornando-o impróprio para consumo. Por semovente domesticável de produção entende-se um animal
não selvagem, destinado à produção pecuária de alimentos, a exemplo do que ocorre com os gados bovinos,
suínos, ovinos, equinos, bufalinos, caprinos e os asinos, ou seja, que dizem respeito à criação para o abate de
mercado de bois, vacas, carneiros, ovelhas, cavalos, búfalos, burros, cabras e bodes.

Quando o tipo penal exige, expressamente, que o semovente domesticável seja de produção, com isso quer
afastar dessa modalidade de subtração todos os animais que sejam considerados como de estimação, a
exemplo do que ocorre com os cães, gatos, hamsters etc. Por outro lado, se um animal que, normalmente,
seria destinado à produção, é tratado também como de estimação, a exemplo do que tem ocorrido com
porcos, o furto também não poderá ser considerado como o de semovente domesticável de produção, se
amoldando a outra espécie de subtração.

 Subtração de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua


fabricação, montagem ou emprego.

A Lei 13.654/18, com a inclusão no artigo 155 do parágrafo 7º, também pune com reclusão de 4 a 10 anos,
mais multa, a subtração de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente,
possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego. Pune-se, a rigor, com maior severidade, a simples
subtração de explosivos ou de acessórios, por sua própria natureza e finalidade.

Não se pune a utilização, como meio, de substâncias explosivas (ao contrário da previsão do parágrafo 4º -A),
mas por tê-las como objeto da subtração, cujo objetivo — e a realidade cotidiana de nosso país tem
demonstrado — é conseguir material explosivo para a prática de crimes. O legislador já pune com maior
severidade o crime de furto, em razão da natureza e finalidade do objeto, como ocorre com a conduta descrita
no parágrafo 5º deste mesmo artigo (subtração de veículo automotor).

Na hipótese deste parágrafo 7º a gravidade da punição decorre não apenas do valor do objeto material —
substâncias explosivas ou de acessórios similares —, mas do maior desvalor da ação pela natureza e
finalidade do seu objeto (utilização para prática de outros crimes), ou seja, pelos gravíssimos danos que o
objeto da ação propriamente — material explosivo — pode causar à sociedade em um futuro imediato. Dito
de outra forma, a gravidade da ação tipificada não decorre da sua forma de execução ou do meio utilizado,
mas do desvalor da própria ação executada em razão direta da natureza do objeto da subtração.

CRIME IMPOSSÍVEL
Tem-se discutido se a utilização de aparelhos de monitoramento eletrônico no interior dos estabelecimentos
comerciais, ou mesmo de pessoas responsáveis pela sua segurança impediriam o reconhecimento do crime de furto. O Superior
Tribunal de Justiça entendendo, corretamente, pela possibilidade de reconhecimento do delito de furto publicou, no DJe de 29
de fevereiro de 2016, a Súmula nº 567, que diz:

Súmula nº 567 → Sistema de vigilância realizado por monitoramento eletrônico ou por existência de
segurança no interior de estabelecimento comercial, por si só, não torna impossível a configuração do
crime de furto.

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