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define por uma função, isto é, pela ativi- que denominavam “de massa”. Com isso,
dade que lhe cabe em um conjunto cu- criava-se a chamada mass culture (cultura
jas partes são necessariamente solidárias” de massa), partindo-se do princípio de que
(POLISTCHUK E TRINTA, 2003, P. 84). o receptor é passivo, e a mídia é onipotente,
O funcionalismo acreditava que o de- capaz de influenciar comportamentos.
senvolvimento dos meios de comunicação É justamente, neste território que se
fizesse surgir “novas necessidades sociais”. desenvolve a cultura industrial; mesmo
Por isso, esses meios deveriam proporcionar havendo hibridização da cultura no universo
a satisfação do público que se encontra ex- global, a fonte de alimentação é a cultura de
posto à ação destes veículos. Neste caso, o massa. “A tendência homogeneizante é ao
funcionalismo pode ser compreendido como mesmo tempo uma tendência cosmopolita,
uma corrente teórica, com base no pensa- que tende a enfraquecer as diferenciações
mento sociológico, no qual os processos so- culturais nacionais em prol de uma cultura
ciais são estruturados em sistemas, tendo em das grandes áreas transnacionais"(MORIN,
vista a manutenção do funcionamento da so- 1997, p.43).
ciedade de forma equilibrada. Desse modo, a cultura de massa se carac-
O paradigma funcionalista-pragmático teriza pela transmissão em massa, de uma
tem por pátria os Estados Unidos, a partir mensagem homogênea para públicos que
das concepções de filósofos que acredi- embora possam ser heterogêneos, possuem
tavam no rigor científico do positivismo e a mesma identidade de consumo de deter-
nas atitudes produzidas pelo pensamento minados produtos tidos como "universais".
pragmático. Segundo Morin (1997, p.47) “a cultura de
Buscava-se explicar a organização so- massa é, portanto, o produto de uma dia-
cial, assim como a sobrevivência dos cos- lética produção-consumo, no centro de uma
tumes e das tradições formuladas pelas dialética global que é a da sociedade em sua
funções exercidas pelo homem. Para os totalidade".
funcionalistas “cada indivíduo e cada insti-
tuição existentes contribuem funcionalmente 1.3 O modelo de Harold Lasswell
para a manutenção da organização social”
(POLISTCHUK E TRINTA, 2003, P. 86). (1902-1978)
Diante disso, o conceito de função ganha um Um dos teóricos fundadores da Escola
importante destaque, uma vez que o objetivo Americana de Comunicação ou Mass Com-
é apresentar qual o sentido, a importância do munication Research foi Harold Lasswell.
papel desempenhado pelos meios de comu- Tendo participado durante a Segunda Guerra
nicação, e de que forma a sociedade se be- Mundial de projetos de Pesquisa em comu-
neficia dessa comunicação midiática. (SAN- nicação de guerra do governo norteameri-
TOS, 2008, p. 82). cano, Lasswell retomou o modelo retórico de
No tocante à comunicação, estudaram Aristóteles para observar o relevo persuasivo
o alcance “psicossocial” das mídias, da propaganda e determinar a estrutura e a
ocupando-se da influência e dos efeitos função da comunicação na sociedade.
produzidos pelos meios de comunicação, O contexto teórico em que se situava Lass-
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well era definido pelo ímpeto da comuni- patrimônio cultural de uma sociedade,
cação política e publicitária, que o incumbi- de uma geração para a outra.
ram de formular o paradigma clássico da co-
municação. A partir deste modelo, o ato co- Entre as conclusões de Lasswell,
municativo passava a ser descrito como uma Polistchuck e Trinta (2003, p. 89) destaca:
sequencia interrogativa: Quem diz o quê, por
que meio, a quem e com que efeitos? • A mídia afeta o público pelos conteúdos
Quanto ao seu modelo, Lasswell (1971, que dissemina;
p. 105) explica que o estudo científico em
• Os efeitos produzidos equivalem a
comunicação tender a avaliar uma dessas
reações manifestas do público;
questões: quem – refere-se à questão do co-
municador e os seus interesses; diz o que – • Essas reações compreendem: atenção,
é a análise do conteúdo de uma mensagem; compreensão, fruição, avaliação, ação;
em que canal – significa a análise dos meios
escolhidos no processo; para quem – sinaliza • As reações do público dependem de
a preocupação com o receptor, e entender a identificações projetivas, anseios e ex-
sua compreensão; e por fim, com que efeito pectativas, latentes ou não, dos mem-
– é a questão dos efeitos causados por uma bros que o compõem;
comunicação específica.
• Há clara influência do contexto (so-
Após apresentar a estrutura da comuni-
cial, cultural, ideológico) e de predis-
cação, Lasswell demonstra que a comuni-
posições especiais nas reações manifes-
cação tem três funções (1971, p. 106):
tas pelo público;
• Vigilância sobre o meio ambiente – a • Os conteúdos disseminados pela mídia
mídia funciona como um vigilante ao estão inseridos no contexto;
relevar tudo o que pode ser uma ameaça
ao sistema de valores de uma sociedade, • Os conteúdos disseminados constituem,
e dessa forma as pessoas podem con- portanto, um dos fatores que provocam
viver naturalmente frente aos problemas reações por parte do público.
sociais que possam acontecer;
Embora reconheça, implicitamente que
• A correlação das partes de uma so- haja feedback (realimentação). Lasswell não
ciedade em resposta ao meio – a comu- menciona em seu modelo o contexto onde se
nicação permite o relacionamento e in- dá a comunicação, nem os modos pelos quais
teração entre as pessoas, a fim de traba- uma mensagem pode ser recebida e suscitar
lharem e cooperarem de forma conjunta respostas.
tendo em vistas a harmonia social;
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aleatórias, mas as fazem de acordo com con- produção. O trabalho de comunicação segue
texto social em que estão inseridas. um padrão estabelecido e convencionado pe-
Para o entendimento do emissor e do los profissionais.
processo de produção da comunicação de De acordo com Shaw, os meios de comu-
massa, dois conceitos devem ser destacados: nicação não fornecem apenas uma infinidade
o gatekeeper e o newsmaking. de notícias e conteúdos, mas as estruturam
de acordo com suas categorias, nas quais os
Gatekeeper é um conceito criado
usuários podem visualizá-las de modo repre-
pelo psicólogo Kurt Lewin, cujo
sentativo e com determinado valor de utili-
significado é aquele que controla o
dade. (apud WOLF, 2007, p. 146).
fluxo de informação. Trata-se de
Nesta perspectiva, “as influências exer-
um formador de opinião, mesmo
cidas pelos meios de comunicação e os
que informal, que tem a capaci-
efeitos que, efetivamente, provocam, atuam
dade de influenciar a decisão de
em conjunto com outras influências (so-
uma pessoa ou um grupo de pes-
ciais, culturais, situacionais) reconhecidas.”
soas (SANTOS, 2008, p. 85).
(POLISTCHUCK e TRINTA, 2003, p. 96).
O conceito surge em decorrência de um Segundo a proposição teórica a que chegou
estudo promovido por Lewin, em 1947, com Klapper tudo é questão contextual, porque
a finalidade de entender a dinâmica de in- não existem causas obrigatórias para analisar
teração em grupos sociais. Nesse trabalho, seus efeitos, o que se deve buscar são as
ele identificou que existem zonas-filtro, que causas cooperantes.
são controladas por gatekeepers, ou seja, in- Nos estudos dos efeitos a longo prazo
divíduos com o poder de escolher se deixar situa-se ainda nos estudos da Comunicação
transmitir ou interromper uma determinada a hipótese do agenda setting, que em con-
informação. (apud WOLF, 2007, p. 184). sequência da ação dos jornais, da televisão
O newsmaking, por sua vez, é o estudo da e dos outros meios de informação, assegura
forma como são produzidas as notícias, no que o público têm tendência para incluir
qual tenta se analisar os caminhos e as regras ou excluir dos seus próprios conhecimentos
que os meios de comunicação se utilizam aquilo que os mass media incluem ou ex-
para contar um determinado acontecimento. cluem do seu próprio conteúdo. Deste modo,
Segundo Wolf (2007, p. 194), o newsmaking a teoria da agenda sustenta a ideia de que
se articula em dois elementos: o primeiro diz o público valoriza determinada informação e
respeito à cultura profissional do jornalista descarta outra frente às inúmeras divulgadas
e/ou comunicador. A forma como um co- pelos diversos veículos de comunicação.
municador produz uma informação está di- A partir disso surge então o interesse
retamente relacionada à sua formação profis- na investigação da apropriação que os in-
sional, aos seus princípios e aos elemen- divíduos fazem das mensagens recebidas
tos culturais que possui, assim sendo, o seu dos veículos midiáticos, uma espécie de
repertório dá forma ao conteúdo a ser trans- ’leitura negociada’. A grande diferença
mitido. O segundo elemento refere-se à or- dessa hipótese é que o receptor é visto
ganização do trabalho e dos processos de como um agente ativo capaz de interpre-
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tar suas necessidades e buscar sua satisfação mento do debate acerca das funções desem-
(ARAUJO, 2008, p. 129). penhadas pelos meios de comunicação.
O modelo teórico dos usos e satisfações Convém dizer que a abordagem funciona-
foi apresentado como uma tentativa de se lista não acaba completamente suplantada
produzir provas sobre os efeitos da mídia no por outros paradigmas, mas se prolonga até
público. A partir disso, surgia um movi- aos dias de hoje, por exemplo, nas pesquisas
mento que superaria, em tese, a abordagem sobre os efeitos a longo prazo, em que se
positivista do funcionalismo para ensaiar os remete às funções dos meios de comuni-
estudos da recepção de mensagens, por parte cação no contexto social.
do público.
Referências
Considerações Finais
ARAÚJO, Carlos Alberto. A Pesquisa
Neste artigo, tivemos a intenção de conden- Norte-Americana. In: HOHLFELDT,
sar os estudos da comunicação situados no Antonio; MARTINO, Luiz C.;
paradigma funcionalista, a fim de trazer a FRANÇA, Vera Veiga. Teorias da
tona uma reflexão sobre os efeitos da mídia, Comunicação: conceitos, escolas e
e suas abordagens teóricas. tendências. 8. ed. Rio de Janeiro:
É interessante ressaltar que essas teo- Vozes, 2008.
rias são fundamentais quando objetivamos
traçar um itinerário teórico-metodológico da MORIN, Edgar. Trad. Maura Ribeiro
pesquisa em comunicação no século XX. Sardinha. Cultura de massas no século
Apesar de observarmos que essas pesquisas XX: neurose. Rio de Janeiro. Forense
possuíam um caráter quantitativo e sua ên- Universitária, 1997.
fase recaía na emissão, já que nessa época POLISTCHUCK, Ilana e TRINTA, Aluizio
herdara da Escola de Frankfurt a ideia de Ramos – Teorias da comunicação: o
que o receptor era considerado um sujeito pensamento e a prática da Comunicação
passivo, atualmente o que presenciamos é Social, Rio de Janeiro: Elsevier, 2003.
uma atualização dessas abordagens, em que
o contexto e a maneira como os atores so- SANTOS, Roberto Elísio dos. As Teorias
ciais ressignificam as informações transmiti- da Comunicação: da fala à internet.
das pelos meios de comunicação são funda- 2.ed. São Paulo: Paulinas, 2008.
mentais para a pesquisa em comunicação no
século XXI. WOLF, Mauro. Teorias da comunicação.
Mediante o exposto, podemos considerar Lisboa: Presença, 2003.
que a teoria funcionalista representa um
dos momentos mais significativos para as
pesquisas de comunicação. É tanto que,
pesquisas posteriores, apesar de inseridas
explicitamente em outros paradigmas con-
têm aspectos que são úteis para o enriqueci-
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