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Lógica

Material Teórico
Lógica dos Métodos Científicos e Lógica Dialética

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Dr. Valter Luiz Lara

Revisão Textual:
Profa. Ms. Fátima Furlan
Lógica dos Métodos Científicos
e Lógica Dialética

• Introdução
• Lógica da Ciência Experimental
• Lógica Dialética
• Conclusão

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Aprender a refletir, aplicar e comparar criticamente a lógica formal
clássica com os fundamentos e princípios das lógicas simbólicas,
matemáticas e dialética tanto da filosofia como das ciências modernas
e contemporâneas.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como o seu “momento do estudo”.

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo.

No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão,
pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato
com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.
UNIDADE Lógica dos Métodos Científicos

Contextualização
Você já parou para pensar sobre o que de fato tem lógica no sentido de uma
razão que não se contradiz, é coerente e tem validade naquilo que afirma ou nega,
independentemente de qual seja o conteúdo do que se afirma ou nega? A resposta
a essa questão produziu o que os estudiosos chamaram de ciência do pensamento
correto, a ciência das formas corretas de se pensar. Isso é o que se define como
lógica desde os tempos de Aristóteles.

O problema é a realidade tanto fora (externa) de nosso pensamento, quanto a


realidade do próprio pensamento (interna) que visa exatamente entender, captar e
representar a realidade. Mas afinal, a realidade é de fato coerente, sem contradições,
“quente ou frio”, “certo ou errado”, “verdadeiro ou falso” como pretende nosso
desejo de certezas? Ou há situações em que não se pode determinar de maneira
simples e dualista, isto é, binária restritivamente entre o verdadeiro e o falso? Há
graduações entre um e outro? Ou, quem sabe, há uma gradação que ultrapasse
a ambos? Uma realidade pode não ser nem totalmente falsa, nem totalmente
verdadeira? Haveria espaços e condições para se pensar uma lógica de situações
subjetivas, contraditórias e que transitam entre o verdadeiro e o falso, certo e o
errado, válido e inválido?

Os juízos éticos e estéticos, por exemplo, cabem somente nos valores binários
da lógica clássica do certo e errado, do verdadeiro e falso ou haveria outras
possibilidades para se pensar outros valores entre um e outro, ou além destes?

A lógica não seria a expressão, como num jogo, de submissão a um conjunto de


regras que só valem porque os sujeitos assim o admitiram? Lógica, neste sentido,
é um sistema de regras acordadas, fruto de convenção por aqueles que adotam a
submissão a um mesmo sistema de comunicação. Por isso, lógico não é só o que uma
determinada forma de racionalidade impõe, mas qualquer forma de comunicação
que seja possível ser compreendida dentro de um sistema de significação, cujos
significantes e seus respectivos significados sejam compartilhados pelos sujeitos
que os usam no processo comunicativo.

Neste sentido, é preciso considerar a possibilidade de uma variedade aberta de


modelos ou sistemas lógicos. A presente unidade é a demonstração de parte desse
mundo de múltiplas lógicas: lógica formal clássica de avaliação do discurso válido
e das proposições verdadeiras, lógica simbólica que independe do idioma, mas se
determina pelos termos matemáticos e que permite avaliar qualquer que seja o
conteúdo representado pela linguagem e a lógica dialética, cujos valores ultrapassam
de longe a fixação binária de avaliar o mundo em perene transformação.

Aproveite bem essa Unidade de ensino sobre outras lógicas e parafraseando um


velho ditado popular, comece a considerar que o mundo tem razões que aquela
única forma de entender a razão lógica, de fato, desconhece.

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Introdução
A lógica é de verdade a lei que rege o funcionamento de toda e qualquer realidade
passível de ser compreendida por uma inteligência racional? Mas que lógica é essa?
É a lógica do raciocínio dedutivo que, de certa forma, independe da observação
experimental, tal como, por exemplo, se define que todo triângulo tem três lados?
Ou é uma lógica que precisa da comprovação do que de fato pode ser verificado
pelos nossos sentidos, tal como, por exemplo, se afirma que as borboletas voam?

No primeiro caso, há uma lógica bastante abstrata, é geometria ou matemática


pura. É uma lógica que se aplica a seres concretos, mas não é necessariamente
concreta, pois é forma pura, isto é, que independe da experiência para ser
inteligível. Enquanto no segundo caso, é preciso ter visto e saber que existe um
ser que se chama borboleta, que ela voa e que outras como ela voam, para só
depois poder concluir que uma borboleta qualquer voa. No primeiro caso, temos
uma lógica dedutiva: de uma lei universal chegamos a conclusões particulares; no
segundo temos uma lógica indutiva: de uma observação particular que se repete
regularmente, deduz-se uma conclusão universal.

Lógicas dedutiva e indutiva, demonstradas nesses dois simples exemplos,


ilustram que não há uma só possibilidade de compreender a lógica como método
de conhecimento. A diversidade de lógicas na constituição de novas metodologias
científicas e de novas abordagens da filosofia moderna e contemporânea é o tema
dessa unidade. Evidentemente que dedução e indução lógicas podem fazer parte de
uma mesma racionalidade e não são necessariamente excludentes.

Entretanto, você já parou para observar o comportamento dos animais? Eles


são seres ilógicos ou são seres que possuem suas próprias lógicas? De fato eles
são considerados irracionais e nós, humanos, seres racionais. Mas será que essa
distinção é suficiente para entender o ciclo da vida e a organização de sociedades,
por exemplo, como a das formigas ou das abelhas? Já esteve atento ao movimento
do girassol? Já reparou as análises e explicações dos estudiosos sobre o clima e suas
alterações? São lógicas as explicações que eles dão para os fenômenos climáticos?
Claro que são. Foram construídas ao longo de anos de estudos e de observação
desses fenômenos. Trata-se de uma lógica que se constrói com base na observação
da regularidade da natureza. É o que se denomina de lógica do método científico.

As lógicas científicas baseadas no critério da observação indutiva, bem como


lógicas derivadas de compreensão filosóficas distintas da metafísica clássica e
outras lógicas implicadas no desenvolvimento de novas tecnologias como a da
computação , transformaram o mundo da lógica clássica provocando o nascimento
de outras lógicas.
Explor

Para uma introdução à lógica aplicada ao mundo da tecnologia da computação consultar


SOUZA (2008).

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UNIDADE Lógica dos Métodos Científicos

No entanto, o questionamento da lógica moderna não significa necessariamente


a negação da lógica clássica, mas na maioria das vezes é apenas a sua ampliação. A
lógica, desde os tempos da filosofia moderna e, sobretudo, na contemporaneidade,
tem avançado para novas possibilidades. Hoje há um universo bem maior no cam-
po do pensamento lógico não mais restrito às determinações da filosofia clássica
orientada pela Metafísica. Há uma lógica científica que desenvolveu lógicas com
diferentes nomes. A lógica simbólica, matemática e computacional são alguns desses
exemplos de desenvolvimento da lógica científica voltada para a fundamentação do
método experimental, indutivo e rigoroso do raciocínio requerido pelos avanços da
ciência e da tecnologia.
Além do horizonte das lógicas nomeadamente clássicas da modernidade, surgiram
também outras lógicas que levam em conta uma abordagem mais dinâmica e flexível
da realidade, procurando superar o caráter fixista, permanente e imutável da lógica
que serviu à metafísica do ser concebido como estático e perene. Trata-se da lógica
dialética e das lógicas plurivalentes, as quais assumem, para além dos valores
binários de verdade e falsidade, válido e inválido, outras variedades de se pensar o
conhecimento da realidade segundo não mais o critério único do ser, mas do devir,
do movimento, do possível e do provável.

Lógicas plurivalentes: são aquelas que adotam sistemas que ultrapassam o sistema
Explor

binário de valor, restrito aos valores de verdade e falsidade, daí o nome “plurivalente” para
designar o caráter múltiplo de diferentes sistemas lógicos. Para uma introdução às lógicas
plurivalentes sugerimos a leitura do Capítulo 4 (Para lá da lógica clássica) da obra de
HOTTOIS, 2002, p. 105-128.

Sendo assim, a presente unidade propõe como objetivo apresentar, não os


conteúdos, mas as principais noções de lógica moderna e contemporânea, primeiro
como fundamento da ciência experimental (1) e depois como possibilidade de
percepção do mundo à luz da filosofia dialética (2). No primeiro tópico, o estudo se
concentra na apresentação das lógicas que abriram o caminho para o avanço da
ciência experimental (1) e no segundo, apresenta-se o conceito e as principais leis
do que habitualmente se convencionou chamar de lógica dialética (2).

Lógica da Ciência Experimental


Toda ciência tem um método que precisa provar com rigor, a validade e os meios
através dos quais se atingiu um novo conhecimento. O método científico da ciência
moderna nasceu sob a exigência da razão experimental. A ciência moderna e seu
respectivo método pressupõem uma nova lógica diferente daquela que fundamentava
a reflexão filosófica do mundo antigo e medieval. E que lógica é essa? É a lógica
que permite compreender a regularidade dos fenômenos como expressão de leis que
conectam os efeitos às suas causas.
Explor

Para completar e aprofundar as características do método experimental e da nova lógica


da ciência moderna leia LIARD (1968, p. 71-154).

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A mecânica celeste, o movimento dos astros teria se desenvolvido sem a
observação cuidadosa da regularidade que existe nestes movimentos? Mas será que
tudo tem mesmo essa lógica da regularidade observada pelo sujeito moderno? Que
lógica é essa capaz de apreender as leis que regulam a natureza? A Matemática?
Sim. A matemática permitiu a Isaac Newton (1642-1727) descrever o movimento
dos corpos e as leis que regem a proporcionalidade da atração entre eles? A
relação entre massa, aceleração, distância entre os corpos, tempo e espaço é de
uma lógica matemática perfeita, não é mesmo? Será que a Matemática é mesmo a
linguagem dos seres inteligentes para compreender a lógica que domina a natureza
como pensava Galileu Galilei (1564-1642)?

A segunda lei de Newton é um bom exemplo. Ela rege a relação existente entre a força
Explor

aplicada em um corpo e a mudança na velocidade que ele sofre. A variação da velocidade


de um corpo é diretamente proporcional à resultante das forças nele aplicadas. Isso
significa que quando há variação de velocidade, em um determinado intervalo de
tempo, encontramos a aceleração desse corpo no espaço. A expressão matemática dessa
lei encontra-se na equação: Fr = m.a – força resultante é igual ao produto da massa
pela aceleração. Observe como corpo, massa, velocidade, tempo e espaço são grandezas
diretamente relacionadas.

A lógica, desde Aristóteles (384 - 322 a.C.), foi concebida como instrumento
do conhecimento. Instrumento é organum em latim; é palavra que, traduz a grega
“organon”, título da obra de Aristóteles sobre lógica. Portanto, lógica não é um
objeto do conhecimento que se define por algum conteúdo distinto de seu método
ou das formas pelas quais se atinge o conhecimento verdadeiro ou válido do
ponto de vista de sua razoabilidade. Lógica é sempre um caminho para garantir
credibilidade racional aos diferentes objetos de conhecimento. É, pois, a base de
todo método científico.

Os vínculos da lógica com a forma verdadeira ou falsa dos juízos e a validade


dos raciocínios fizeram dela o fundamento de qualquer método de conhecimento.
A princípio do conhecimento filosófico, mas, sobretudo, a partir da modernidade,
do conhecimento científico.

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UNIDADE Lógica dos Métodos Científicos

Lógica Indutiva e Matemática da Nova


e Moderna Ciência Experimental
Nas origens da ciência moderna, o filósofo inglês Francis Bacon (1561-1626)
é considerado um dos pais da lógica moderna exatamente por ter dado a essa
disciplina a responsabilidade dos fundamentos do método científico experimental.
Com ele nasce o Novum Organum, título de sua obra mais importante. Numa
alusão à obra antiga de Aristóteles (Organum), o trabalho de Bacon representa
o esforço por superar a linguagem da lógica clássica que era a seu ver baseada
estritamente na argumentação dedutiva.
A novidade da nova lógica foi oferecer um método de abordagem do conheci-
mento da natureza cuja base de estudos dos fenômenos é a experimentação e não
o raciocínio silogístico com clara dependência da argumentação dedutiva.
Bacon achava que o saber é produto da observação e verificação cuidadosa dos
fatos. O método de raciocínio indutivo apurado mediante o controle da observação
que se verifica quando se pode testemunhar a regularidade dos fenômenos é a
garantia da verdade do conhecimento. Fenômenos aparentemente dispersos e
aleatórios são explicados através de leis equacionadas, isto é, quantificadas em
constantes matemáticas capazes de demonstrar relações de causa e efeito entre
eles. Controle e previsibilidade dão ao conhecimento o que Bacon definia como
objetivo prático do saber. Por isso, ele concebia o saber como poder, ou seja, como
controle e domínio sobre a natureza.

Lógica Matemática e Lógica Simbólica


Trocando ideias...Importante!
O propósito dessa Unidade não é ensinar os conteúdos mais complexos da lógica
matemática e simbólica, mas apenas apresentar noções fundamentais de compreensão
do modo como elas operam, quais são seus pressupostos, suas formas de linguagem e
suas principais referências.

A lógica formal é sempre uma área do conhecimento que busca demonstrar a


validade de um argumento. O seu conteúdo é a forma do raciocínio correto. Por
isso, não importa se o conteúdo do discurso faz referência a esta ou aquela coisa,
se a uma pessoa, a uma flor, ou planeta. Por isso, a inferência simples que pode ser
expressa pela condicional “se chove então cai água”, pode, do ponto de vista da
lógica ser transformada em linguagem simbólica tal como é a natureza da linguagem
matemática. “Se chove então cai água” pode ser representado simbolicamente da
seguinte forma: “Se A então B”. Observe o raciocínio:

1ª Proposição – 1ª premissa: Todo ser humano é mortal.


2ª Proposição – 2ª premissa: Carlos é ser humano.
3ª Proposição – conclusão: Logo, Carlos é mortal.

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Esse é um raciocínio silogístico e categórico. Ele tem um conteúdo bem definido
por seus termos em três proposições, sendo que a conclusão é resultado incon-
testável que se extrai quando a relação entre a primeira e a segunda proposição
produz uma relação entre os três termos: ser humano, mortal e Carlos. Se para a
lógica formal importa a forma e não o conteúdo, à sua estrutura pode ser aplicada,
no lugar dos elementos da linguagem conceitual, uma estrutura de linguagem obje-
tivamente simbólica. Desse modo, o argumento anterior ficaria assim:

Se A é B = 1ª Proposição: Todo ser humano (A) é mortal (B).


C é A = 2ª Proposição: Carlos (C) é ser humano (A).
Então C é B = Conclusão: Logo, Carlos (C) é mortal (B).

Desse jeito, pode-se focar o que de fato importa na lógica, a forma do argumento,
independentemente de seu conteúdo. A, B e C são termos que podem representar
qualquer coisa. Na estrutura das proposições acima exemplificada, eles autorizam
a conclusão, independentemente da verdade de seu conteúdo. Essa é a lógica
tradicional das proposições da qual derivou mais tarde a lógica simbólica ou lógica
matemática. Há uma variedade de lógicas com essa matriz simbólica, algumas são
complementares e outras de fato, distintas, pois estabelecem critérios diferentes
para estabelecer suas leis de conexão correta dentro de um dado sistema.
A lógica contemporânea, a propósito, não consiste em apenas uma teoria
lógica [...]. Hoje em dia há vários sistemas lógicos – ou lógicas – dife-
rentes, alguns complementando-se, outros rivalizando entre si (A teoria
do silogismo de Aristóteles é apenas um exemplo de uma teoria lógica
simples). A diversidade desses sistemas se explica a partir de duas coisas:
primeiro algumas lógicas se distinguem por usarem linguagens (artificiais)
com poder de expressão diferente (MORTARI, 2001, p. 62).

Os estudos do raciocínio correto, tomando os símbolos e não termos conceituais


como referência, surgiram na Era moderna quando se pretendeu objetivar e validar
com maior precisão um método científico que servisse para quaisquer que fossem
os conteúdos da experiência.

Lógica Simbólica é Lógica Matemática


Por isso, a lógica assumiu a linguagem da representação simbólica semelhante
à da matemática. Assim como na matemática se opera com símbolos numéricos
relacionando entidades abstratas quantificadas que se aplicam aos seres concretos,
a lógica simbólica também segue sistema semelhante de operações. A equação
“2 + 2 = 4” é uma sentença matemática cujos termos são aplicáveis a quaisquer
objetos: grãos, mesas, pessoas, cidades, canetas etc. São unidades ou especificações
de quantidade que se aplica aos seres. Assim se pode fazer com proposições.
Se os elementos das proposições discursivas são transformados em símbolos
convencionais elas perdem o caráter da ambiguidade discursiva e ganham a forma

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UNIDADE Lógica dos Métodos Científicos

abstrata da matemática. Desse modo, a lógica simbólica como lógica matemática


adapta-se melhor às exigências da metodologia científica, garantindo, ao mesmo
tempo, universalidade, objetividade, precisão e racionalidade na abordagem de
seus postulados.

Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716), depois de Francis Bacon (que buscou criar o que
Explor

hoje entendemos por lógica simbólica), provavelmente seja o mais influente filósofo da
lógica matemática moderna, pois procurando construir uma linguagem que fosse universal
e válida para todo o pensamento, em sua obra Dissertatio de arte combinatória, publicado
em 1666, traçou um modelo de linguagem lógica semelhante ao da álgebra, transformando
a lógica em cálculo matemático. Mais tarde, No século XIX o matemático inglês George
Boole (1815 - 1864), criador da Álgebra que leva o seu nome, a Álgebra Booleana, descreveu
operações de lógica e de probabilidades que se transformou na base do que hoje é a
matemática computacional.

Lógica do Cálculo Proposicional

Importante! Importante!

A lógica do cálculo proposicional segundo a maioria dos estudiosos da lógica


está inserida no que habitualmente se denomina de lógica clássica do cálculo
de predicados. O cálculo é de predicados na medida em que reflete a análise de
proposições declarativas do tipo “S é P”, isto é, Sujeito é Predicado. Por isso, a atenção
está na verificação do predicado, ou seja, se realmente o predicado pode ou não ser
adequado e aplicado ao sujeito que ele predica (identifica, qualifica ou especifica).
Mortari (2001, p. 63), por exemplo, chama o que vai ser exposto a seguir como parte
do CPC – Cálculo Proposicional Clássico. Ele também chama de CQC – Cálculo
Quantificacional Clássico a lógica que busca entender os predicados como conjuntos
possíveis de características que podem ser aplicadas aos sujeitos. Por isso, a ideia de
quantificação do predicado. Por exemplo: quando afirmo Maria é professora de
português, o predicado é professora de português pertence a uma realidade muito
mais diversificada que a realidade singular do sujeito Maria, pois muitas outras pessoas
também são professoras de português. O conjunto “professoras de português” é muito
maior do que o sujeito “Maria”. A representação simbólica das proposições oferece essa
possibilidade da análise quantificacional do predicado que Mortari chama de Cálculo
Quantificacional Clássico (CQC).

Do mesmo modo como se calcula o resultado numa operação ou equação


matemática, pode-se calcular uma equação feita com proposições. É isso que se
convencionou chamar de cálculo proposicional ou sentencial. Para realizar tais
operações os lógicos desenvolveram símbolos válidos para qualquer situação. Alguns
deles são termos, outros são conectivos que afirmam, negam ou expressam alguma
forma de relação entre os termos. Veja um exemplo de cálculo proposicional. Mas
antes, uma breve e simplificada codificação de alguns desses símbolos.

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Explor
A seguir optamos pelo uso da palavra “proposicional” e não mais “sentencial”, pois toma-
mos como referência a “proposição” e não a “sentença”, embora alguns entendam as duas
palavras como sinônimos. Desde o princípio deve ficar claro que ambas são expressões váli-
das, cujo uso varia conforme a preferência dos autores.

» As proposições simples com apenas uma declaração são representadas por


letras minúsculas do alfabeto: x, y, p, q. Exemplo: Sócrates é ser humano = p.

» Proposições complexas com mais de uma declaração são representadas por


letras maiúsculas do alfabeto: X, Y, P, Q. Exemplo: Sócrates é ser humano
(p) e seres humanos são mortais (q) = X. A representação então dessas duas
proposições afirmadas é: X(p,q).

» Os conectivos unem proposições simples, termos e representam negação


ou afirmação.

– Não p = ~p = Sócrates não é ser humano ou não é verdade que Sócrates


seja um ser humano.

O cálculo proposicional procura estabelecer os valores de verdadeiro ou falso


para as proposições quando elas são relacionadas entre si. Uma vez estabelecida a
verdade ou falsidade de uma ou mais proposições se pode calcular a possibilidade
das alternativas de proposições com os mesmos códigos simbólicos. Com o
exemplo dado acima de proposição já se pode calcular ou uma tabela simples de
verdade para p:

p ~p
V F
F V

Essa tabela se lê: quando a proposição p é verdadeira, a proposição não p é falsa; quando
p é falsa, a proposição não p é verdadeira. O princípio lógico é o da não contradição.

Considere outros três exemplos mais complexos de cálculo proposicional em


que no primeiro caso a conjunção, no segundo a disjunção e no terceiro o tipo
condicional entre duas proposições. Conjunção é quando se une pelo conectivo
“e” duas proposições declarativas; disjunção quando o conectivo é “ou” e as
proposições se excluem; e condicional é quando as proposições estabelecem uma
condicionante entre uma e outra através dos conectivos “se... então...”.

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UNIDADE Lógica dos Métodos Científicos

Lógica do Cálculo Proposicional de Duas Proposições Conjuntivas


As proposições conjuntivas são aquelas que estão unidas pela conjunção
aditiva “e”; a representação simbólica do conectivo “e” pode ser “.” ou “Λ”.
Sendo assim, verifique a seguir, como fica a representação simbólica da seguinte
conjunção proposicional:

Maria é professora de português = p


Valter é professor de filosofia = q
e = (Λ )
p Λ q=Y
(Y) = Maria é professora de português (p) e (Λ) Valter é professor de filosofia (q)
= Y(p Λ q)

A tabela do cálculo proposicional dessa conjunção é a seguinte:

(p Λ q) Y
1ª V V V
2ª F F F
3ª V F F
4ª F V F

E a tabela se lê assim:

»» 1ª linha horizontal: quando p e q são verdadeiras, a conjunção Y (qΛp)


também é verdadeira.
»» 2ª linha horizontal: quando p é falsa e q é falsa, Y é falsa.
»» 3ª linha horizontal: quando p é verdadeira e q é falsa, Y é falsa.
»» 4ª linha horizontal: quando p é falsa e q é verdadeira, Y é falsa.

Observe: basta que uma das proposições – ou p ou q seja falsa – para que
toda a conjunção seja falsa. Ou seja, para que o enunciado de conjunção seja
verdadeiro é preciso que ambas as proposições que o compõem sejam verda-
deiras como se vê representado na 1ª linha da tabela de cálculo proposicional
dos enunciados de conjunção.

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Lógica do Cálculo Proposicional de Duas Proposições Disjuntivas
As proposições disjuntivas são aquelas que estão unidas pela disjunção
expressão pela conjunção alternativa “ou”; a representação simbólica do co-
nectivo “ou” é “V”. Trata-se de expressão lógica de exclusividade. Ou uma ou
a outra proposição. Serão dadas as mesmas proposições como exemplos para
facilitar a comparação com as proposições conjuntivas. A representação simbó-
lica da disjunção se faz da seguinte maneira:

Maria é professora de português = p


Valter é professor de filosofia = q
ou = (Λ)
p Λ q=Y
(Y) = Maria é professora de português (p) ou (Λ) Valter é professor de filosofia (q) =
Y(p Λ q)

A tabela do cálculo proposicional dessa disjunção é a seguinte:

(p V q) Y
1ª V V V
2ª V F V
3ª F V V
4ª F F F

A tabela se lê assim:

» 1ª linha horizontal: quando p e q são verdadeiras a disjunção Y(qVp)


é verdadeira.
» 2ª linha horizontal: quando p é verdadeira e q é falsa, Y é verdadeira.
» 3ª linha horizontal: quando p é falsa e q é verdadeira, Y é verdadeira.
» 4ª linha horizontal: quando p é falsa e q é falsa, Y é falsa.

Observe: basta que uma das proposições – ou p ou q seja verdadeira – para


que toda a disjunção seja verdadeira. Ou seja, para que o enunciado de dis-
junção seja falso é preciso que ambas as proposições que o compõem sejam
falsas como se vê representado na 4ª linha da tabela de cálculo proposicional
dos enunciados de disjunção.

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UNIDADE Lógica dos Métodos Científicos

Lógica do cálculo proposicional de duas proposições condicionantes


As proposições condicionantes são aquelas que estão unidas pela determina-
ção condicional, isto é, de consequência necessária entre uma e outra. O enunciado
condicionado se expressa pelo uso das palavras “se... então...” . A representação
simbólica dos conectivos “se... então...” é dada pelo sinal “→”. O enunciado con-
dicionado expressa uma relação de condicionamento entre a primeira e a segunda
proposição: se p então q. Seguindo as mesmas proposições dos tipos anteriores,
as proposições condicionantes, são assim representadas simbolicamente:

Maria é professora de português = p


Valter é professor de filosofia = q
“se... então...” = (→)
p→q =Y
(Y) = Se Maria é professora de português, (p) (V) Valter é professor de filosofia (q) =
Y(p → q)

Importante! Importante!

Há também as proposições bicondicionantes representadas pelos conectivos “se e


somente se... então...”. A representação dos conectivos bicondicionantes faz-se pelo
sinal “ ↔ ” e sua tabela de verdade no cálculo proposicional é a seguinte: se p é V e q é V,
p ↔ q é V; Se p é V e q é F, p ↔ q é F; Se p é F e q é V, p ↔ q é F; Se p é F e q é F, p ↔ q é V.

A tabela do cálculo proposicional desse enunciado condicional é a seguinte:



(p→q) Y
1ª V V V
2ª V F F
3ª F V V
4ª F F V

A tabela se lê assim:
»» 1ª linha horizontal: quando p e q são verdadeiras, a conjunção Y (p→ q)
também é verdadeira.
»» 2ª linha horizontal: quando p é verdadeira e q é falsa, Y é falsa.
»» 3ª linha horizontal: quando p é falsa e q é verdadeira, Y é verdadeira.
»» 4ª linha horizontal: quando p é falsa e q é falsa, Y é verdadeira.

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Observe: Só será falso o enunciado Y(p → q) quando p for verdadeira e q for falsa.
Pois a falsidade do enunciado só se dá quando a proposição condicionante (p) é
verdadeira e o resultado que deve ser necessário (a proposição consequente q) não
se confirma. Ou seja, para que o enunciado condicional seja verdadeiro é preciso:
a. que as duas proposições sejam verdadeiras como se vê representado na 1ª
linha da tabela;
b. ou que pelo menos a proposição consequente seja verdadeira ainda que
sua antecedente seja falsa como se vê na 3ª linha da tabela que dá a condição
seja verdadeira de cálculo proposicional dos enunciados de conjunção;
c. ou ainda se as duas proposições sejam falsas, pois a consequência necessária
não precisa ser seguida (ser verdadeira) quando a primeira também é falsa,
afinal a condicionante falsa deve seguir uma consequente falsa, para tornar a
falsidade de ambas, numa implicação verdadeira.

O cálculo proposicional permite concluir cinco grandes verdades quando são


consideradas as relações entre proposições e suas respectivas tabelas de verdade
para os diferentes tipos de enunciados até aqui demonstrados:
1. A negação (~) tem valor lógico contrário à afirmação.
2. A conjunção (Λ ) só é verdadeira quando as duas roposições
componentes são verdadeiras.
3. A disjunção (V) só é falsa quando as duas proposições componentes
são falsas.
4. A condicional (→ ) só é falsa quando a primeira proposição componente
é verdadeira e a segunda é falsa (BASTOS & KELLER, 1991, p. 101).

As relações entre proposições para efeito do cálculo proposicional pode variar


e apresentar níveis muito maiores de complexidade quando se misturam diferen-
tes tipos de enunciados numa linha de conjunções, implicações, alternativas
e disjunções. Entretanto, o que até aqui foi exposto é suficiente para se ter uma
ideia da lógica segundo uma linguagem de representação matemática e simbólica
muito presente quando se procura expandir o raciocínio para além da lógica que
trabalha com os conceitos da linguagem meramente discursiva e conceitual.

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UNIDADE Lógica dos Métodos Científicos

Explor
Para aprofundar os estudos da lógica proposicional, tabelas de verdade e cálculos
proposicionais bem mais complexos pode-se consultar os trabalhos de autores im-
portantes como Alfred Tarski (1901-1983), Gottlob Frege (1848-1925) e Kurt Gödel
(1906-1978) entre outros, considerados precursores de novas e influentes teorias no
campo da lógica simbólica e matemática como Bertrand Russell (1872-1970) e Alfred
North Whitehead (1861-1947) que juntos publicaram em 1910 o primeiro volume da
famosa obra Principia Mathematica, impulsionando de vez a contemporânea lógica
matemática, além é claro de George Boole (1815 - 1864), considerado o pai da Álge-
bra que leva o seu nome. Uma seleção bibliográfica de livros, compêndios, ensaios e
artigos sobre lógica ao longo da história, sobretudo moderna e contemporânea pode
ser consultada mediante o levantamento criterioso feito por João ALBERTO PINTO sob
o título Lógica uma bibliografia Geral (2000), postado no site da Biblioteca Central da
Faculdade de Letras da Universidade do Porto em 2000.
Disponível em: https://goo.gl/EtqOXf postado no site da Biblioteca Central da Faculdade de Letras da Universi-
dade do Porto em 2000. Outra obra importante sobre a história dos diferentes modelos de lógica foi publica
por D’OTTAVIANO, I. M. L e FEITOSA, H. A. (2003).

Lógica Dialética
O debate que discute o caráter lógico da dialética pressupõe de um lado a op-
ção entre a suficiência da lógica formal concebida como único modelo de lógica
possível, e do outro, a admissão de que há outras formas de pensar a realidade
que não aquela que é determinada pela rigidez do que a lógica formal clássica
entendeu como princípios da razão lógica, a saber, os princípios de identidade,
da não contradição, do terceiro excluído e da tríplice identidade. Tais princípios
assim se definem:

1º Princípio da identidade - uma coisa é sempre idêntica a si mesma uma vez


que seja considerada no mesmo tempo e sob os mesmos aspectos. Numa
fórmula simples o princípio pode assim ser traduzido: A é A; não pode ser
outra coisa. Por exemplo, eu só posso ser eu mesmo e mais ninguém.

2º Princípio da não contradição - uma coisa não pode ser o que é e ser o
que não é ao mesmo tempo. É a formulação inversa do primeiro princípio
e numa fórmula simples o princípio pode assim ser traduzido: se A é A; não
pode ser não-A. Por exemplo, se eu sou eu, não posso ser eu e outra pessoa
ao mesmo tempo.

3º Princípio do terceiro excluído - se eu tenho duas proposições com o


mesmo sujeito e o mesmo predicado, uma é afirmativa e a outra é negativa,
sendo que uma delas é necessariamente verdadeira e a outra falsa, então não
pode haver outra possibilidade, isto é, uma terceira alternativa. Exemplo:
Se eu tenho um sujeito (Paulo) e um predicado (é homem). Se a proposição
afirmativa “Paulo é homem” é verdadeira, a negativa “Paulo não é homem”
é necessariamente falsa e não há outra possibilidade entre essas duas: uma é

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verdadeira e a outra é falsa. Uma terceira opção, por exemplo, as duas são
verdadeiras ou as duas são falsas, ou ainda, nenhuma das duas é verdadeira
ou falsa, está excluída.

4º O princípio da tríplice identidade - Duas coisas que são idênticas a uma


terceira são idênticas entre si. A representação desse princípio pode ser feita
da seguinte maneira: Se A é o mesmo que B e B é o mesmo que C, então
A é o mesmo que C.

Sem entrar no debate que afirma ou nega a suficiência da lógica formal, o fato é
que os proponentes de lógicas complementares ou alternativas consideraram a lógica
formal, também denominada de clássica, insuficiente. Uma das razões alegadas para
essa insuficiência é que a primeira não consegue oferecer um método para se pensar
objetiva, universal e cientificamente os objetos da realidade que é objeto de nossa
experiência sensível, uma vez que eles são passíveis de mudança constante.

O problema da lógica formal já foi levantado pelo debate filosófico no tempo


dos pré-socráticos entre Heráclito (540-470 a.EC) e Parmênides (530-460 a.EC).
Parmênides negou a realidade do ser mutável enquanto Heráclito admitiu a
contradição implicada na admissão do movimento que está no centro da realidade
experimentada pelo sujeito. Enquanto Parmênides preferiu ficar com a lógica do
pensamento e afirmar as leis da razão acima mencionadas, Heráclito preferiu
admitir o conflito do movimento no ser como realidade contraditória em si mesma.
A lógica clássica é produto da filosofia de Parmênides, Sócrates (470 - 399 a.EC),
Platão (427 - 347 a.EC) e Aristóteles (384 - 322 a.EC).

A dialética como lógica é um legado da filosofia de Heráclito, embora filósofos


sofistas, bem como Sócrates, Platão e mesmo Aristóteles, a entendessem como
método do discurso, arte do diálogo, da persuasão do argumento. O vocábulo grego
dialektiké está na origem da palavra dialética em português. O seu significado
mais amplo é assumido como método de análise da evolução contraditória dos
fenômenos. As alterações, mudanças dos seres e tudo o que há na realidade é
marcado pela contradição de forças em constante movimento de afirmação,
negação e superação desse primeiro estágio de conflito.

Contudo, Friedrich Hegel (1770-1831) e filósofos influenciados por ele (hegelia-


nos) como Karl Marx (1818-1881), ao final da filosofia moderna propuseram uma
noção mais abrangente e fundamentada da filosofia dialética, abrindo as portas
para a compreensão de que havia uma necessidade de fundar uma lógica dialética
que fosse capaz de formalizar as leis do pensamento dialético.

A lógica dialética nasce desse interesse numa lógica que pudesse captar as leis do
movimento inerente à realidade concreta acessível à experiência. Os princípios de
identidade e da não contradição já não bastavam para captar aspectos da realidade
imunes a essa formalidade lógica do pensamento. O princípio de que A não pode
ser não-A já não cabe numa realidade concebida como movimento segundo
outras variáveis no tempo e sob diferentes aspectos, dimensões ou sistemas de
compreensão. O que isso significa? Significa que A pode ser muitas vezes, sob

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UNIDADE Lógica dos Métodos Científicos

outros pontos de vista, sobretudo, quando se considera o fator tempo, como não-A
e até mesmo não-A pode novamente transformar-se em A. Ao caráter estático e
permanente da lógica formal é acrescentado o caráter dinâmico e contraditório da
lógica dialética.
Aqui, portanto a contradição não é mais inteiramente a contradição for-
mal. [...] Essa contradição dialética tem sua raiz profunda no conteúdo,
no ser concreto: nas lutas nos conflitos, nas forças em relação e em
conflito na natureza, na vida, na sociedade, no espírito humano. Não
apenas A, a identidade imóvel, não basta e não se basta como também
no real e no pensamento, A torna-se necessariamente, ao mesmo tempo,
A’ e não-A’, depois A’’, etc.

A contradição dialética (na condição de ser tal, e não uma oposição formal
ou uma simples confusão) deve ser encarada como sintoma de realidade.
Só é real aquilo que apresenta contradições, aquilo que se apresenta como
unidade de contradições (LEFEBVRE, 1975, p. 192).

Por isso, a dialética não é apenas lei do discurso ou da argumentação, como


pensavam os antigos desde os sofistas, Sócrates, Platão e Aristóteles mas do próprio
ser em geral, ou seja, da realidade como um todo, inclusive do próprio pensamento
(LEFEBVRE, 1975, p. 186-187).

Mas quais são as leis de uma lógica dialética?

As Leis da Lógica Dialética

Leis da Lógica Dialética: As leis da dialética têm por base a filosofia de Hegel no
Explor

entendimento de Henri Lefebvre, que ele prefere denominar de “leis do método dialético”
(LEFEBVRE, 1975, p. 237-241). Assumimos e transcrevemos tais leis segundo uma linguagem
mais acessível, didática, resumida e simples daquela encontrada na obra do referido autor.

Abaixo estão assinaladas apenas o que consideramos as principais leis para a


compreensão da lógica dialética.

1ª Lei da conexão universal entre os seres. Não há nada que esteja isolado
no mundo, pois todo objeto concreto e singular possui uma relação a ser
compreendida com o todo.

2ª Lei do movimento universal. Não há nada que possa ser considerado fora
do movimento interno e externo dos seres. Tudo está envolvido num grande
movimento de interação universal (1ª lei).

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3ª Lei da unidade e superação das contradições. A contradição não é ne-
cessariamente exclusão dos termos que se contradizem, mas faz parte de um
processo de superação permanente criadora de novas contradições: uma tese
afirmada provoca uma antítese que é sua negação. Esse movimento de forças
que se opõem (tese X antítese) gera uma síntese que, por sua vez, se consti-
tuirá em nova tese e assim sucessivamente o processo dialético se perpetua.

Tese → Antítese → Síntese = Nova Tese →


Tese → Antítese → Síntese = Nova Tese →
Tese → Antítese → Síntese = Nova Tese →
... e assim o processo dá-se contínua e infinitamente...

Conclusão
Esperamos que ao final dessa unidade a ideia de uma lógica absoluta e única tenha
sido colocada em questão. A lógica, embora tenha nascido do questionamento pro-
fundo de filósofos que procuraram dar maior rigor à linguagem e ao pensamento em
seu movimento de percepção e entendimento da realidade, acabou por se libertar de
correntes filosóficas presas ao modo restritivamente metafísico de raciocinar. Nesse
modo de conceber metafisicamente o mundo e o próprio conhecimento do mundo,
não havia lugar para o movimento da realidade, mas apenas para as certezas das
verdades imutáveis declaradas pelo pensamento.

A lógica dialética e as lógicas derivadas da linguagem simbólica e matemática


assumiram novas formas de se pensar possibilidades, probabilidades, diversidades
e, numa palavra, o caráter múltiplo do ser e da razão.

Com os grandes avanços da ciência e a admissão do caráter complexo da


realidade, a lógica das leis do pensamento estático adequado para captar as verdades
de um mundo pretensamente estático revelou-se insuficiente. A complexidade e
o dinamismo que transparecem no mundo quântico e subatômico, as inúmeras
possibilidades de se pensar o universo macro cósmico, além das transformações
proporcionadas pelo advento da computação, o aparecimento do mundo virtual e
da rede mundial de comunicação (internet), as consequentes alterações do padrão
da vida em sociedade provocadas pelas tecnologias digitais são realidades que
atestam o aparecimento e a necessidade de novas lógicas.

A necessidade de novas lógicas consideradas alternativas e não apenas complementares à


Explor

lógica clássica surgiram com os trabalhos do polonês Jan Lukasiewicz (1878-1956) e do


russo Emil Post (1897-1955).

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Contudo, o aprendizado da lógica permanece um desafio para o diálogo, a


busca de verdades e critérios para validar formas de se pensar o ser, o discurso,
o conhecimento e a realidade como um todo. Agora não mais determinada pela
ideia única de racionalidade, mas como produto de acordos, cujas linguagens e seus
símbolos, de fato, possam adequar, ao mesmo tempo, a compreensão dos sujeitos
e do mundo que eles pretendem conhecer e representar.

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Sites
Lógica Matemática
Para ler algo mais sobre lógica proposicional e tabelas de verdade consulte o site do Professor
Luiz Bianchi.
https://goo.gl/XrESgM

Livros
Lógica e Dialética. Lógica, Dialética, Decadialética
O livro do filósofo brasileiro Mario Ferreira do Santos publicado pela Editora Paulus em 2007 é um
excelente complemento para o estudo e aprofundamento dessa Unidade: SANTOS, Mário Ferreira
dos. Lógica e dialética. Lógica, dialética, decadialética. São Paulo: Paulus, 2007. 304p.

Introdução à lógica dialética


Para a compreensão da dialética não apenas como método ou lógica do conhecimento, mas
também como filosofia materialista dialética, a sugestão é a leitura de PRADO JR., Caio. Intro-
dução à lógica dialética. 4ª edição. São Paulo: Brasiliense, 1979. 261p.

Vídeos
Lógica Dialectica
Para um breve e resumido panorama da lógica dialética sugerimos dois vídeos: o primeiro foi
preparado pelos seguintes autores: Maria Eugênia Martinez, Dayanna Pereira Rhenals, Loraine
Viloria Menco, Yoryeth Escandon Calderon e Sorelvis Murillo Arreola.
https://youtu.be/iKBICsGA-bM
O que é Dialética
“O que é Dialética”, do Projeto Mini Aula.
https://youtu.be/oDF74ca7j6U

Leitura
Uma Introdução sobre Lógicas Não-Clássicas
Leia em PDF o artigo de 2010, “Uma introdução sobre lógicas não-clássicas” de Kleidson
Êglicio Carvalho da Silva Oliveira da Faculdade de Ciências da Universidade Estadual
Paulista (UNESP), Campus de Bauru/SP. Trata-se de um texto panorâmico e conceitual sobre
diversas lógicas consideradas complementares e alternativas à lógica clássica, apresentando
autores, definições e campos de atuação dessas novas lógicas.
https://goo.gl/fCK2II

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UNIDADE Lógica dos Métodos Científicos

Referências
ALBERTO PINTO, João. Lógica uma bibliografia Geral. Biblioteca Central da Fac-
uldade de Letras da Universidade do Porto: Porto, 2000. Disponível em <http://web.
letras.up.pt/smiguens/mlag/mlag_library/log_geral.html> Acesso em 30/12/2016

BASTOS, Cleverson L. & KELLER, Vicente. Aprendendo Lógica. Petrópolis:


Vozes, 1991. 143p.

COPI, Irving Marmer. Introdução à lógica. Tradução de Álvaro Cabral. 2.ed. São
Paulo: Mestre Jou, 1978. 488p.

D’OTTAVIANO, I. M. L; FEITOSA, H. A. Sobre a História da Lógica, a Lógica


Clássica e o Surgimento das Lógicas Não-Clássicas. Texto produzido para o
mini-curso “Historia da lógica e o surgimento das lógicas nao-classicas” realizado
no V Seminário Nacional de História da Matemática na UNESP de Rio Claro em
2003. Disponível em PDF: <ftp://ftp.cle.unicamp.br/pub/arquivos/educacional/
ArtGT.pdf> Acesso em 09/01/2017 às 23h11.

HOTTOIS, Gilbert. Pensar a lógica. Uma introdução técnica e teórica à filosofia


da lógica e da linguagem. Lisboa: Instituto Piaget. 2002. 243p.

LEFEBVRE, Henri. Lógica formal lógica dialética. Tradução de Carlos Nelson


Coutinho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1975. 301p.

LIARD, L. Lógica. Tradução de Godofredo Rangel. 7.ed. São Paulo: Companhia


Editora Nacional, 1968. 211p.

LIMA, Luciano; GARCIA DA SILVA, Roni Antônio; STEFANO, Luciane


Ap. Munhoz. Análise de custos na Cooperativa Mista de Produção e
Comercialização Camponesa do Paraná. Lógica formal versus lógica dialética.
Artigo científico de professores pesquisadores da Universidade Estadual do
Centro-Oeste sobre projeto financiado pelo Programa Estadual Universidade
Sem Fronteiras que faz. Disponível em: https://www.academia.edu/7172678/
L%C3%93GICA_FORMAL_VERSUS_L%C3%93GICA_DIAL%C3%89TICA
Acesso em 30/12/2016 às 21h30.

MARITAIN, Jacques. Elementos de Filosofia 2. A ordem dos conceitos. Lógica


Menor (Lógica Formal). Tradução de Ilza das Neves. 9.ed. Rio de Janeiro: Livraria
Agir, 1980. 318p.

MORTARI, Cezar A. Introdução à lógica. São Paulo: UNESP, 2001. 393p.

PLEKHANOV, Georgui. Fundamental Problems of Marxism. Dialectics and


Logic. Marxist Library Volume I. Tradução de Romerito Pontes. New York: Inter-
national Publishers, 1928. Disponível em: <https://www.marxists.org/portugues/
plekhanov/1907/mes/dialetica.htm> Acesso em 31/12/2016 às 14h35

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PRADO JR., Caio. Introdução à lógica dialética. 4.ed. São Paulo: Brasiliense,
1979. 261p.

SANTOS, Mário Ferreira dos. Lógica e dialética. Lógica, dialética, decadialética.


São Paulo: Paulus, 2007. 304p.

SOUZA, J. N. Lógica para Ciência da Computação. 2.ed. Rio de Janeiro:


Elsevier, 2008.

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