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A Broca-do-Abacate
(Stenoma catenifer)
I APAR/ I NF ORM E DA PES Q U I SA Nº 14 7 - MAI O/06
aspectos biológicos,
comportamento,
danos e manejo
Informe da Pesquisa N≥ 147 ISSN 0100-9508
novembro/05
A BROCA-DO-ABACATE
(Stenoma catenifer )
aspectos biológicos,
comportamento, danos e manejo
introdução
Dentre as frutíferas cultivadas, o abacate é uma das mais versáteis,
tanto por seu valor culinário quanto pela sua utilização na indústria farmacêutica
e de cosméticos.
O Paraná é o terceiro maior produtor nacional de abacate, com área ao
redor de 1.600 ha onde foram produzidas cerca de 26 mil toneladas, resultando
no valor bruto de aproximadamente R$ 8.5 milhões na safra de 2003.
O cultivo do abacateiro era uma das atividades agrícolas com maior
potencial de retorno econômico até que a broca do fruto, Stenoma catenifer
Wals. (Lepidoptera: Elachistidae) adquiriu o status de praga, no final da década
de 80. O inseto também tem sido registrado em outros países da América
Latina como Venezuela, México e Peru. O fato de os danos serem diretos no
fruto aumenta a sua importância e a demanda por estratégias de controle
eficientes durante curto espaço de tempo, ou seja, da eclosão da lagarta até a
sua penetração no fruto. Outro aspecto a ser considerado é a indisponibilidade
de inseticidas registrados para o controle da praga no Paraná. Esses fatores
têm ocasionalmente levado agricultores a encerrar a atividade. Com vistas a
minimizar os problemas, a Área de Proteção de Plantas do Instituto Agronômico
do Paraná - IAPAR vem desenvolvendo estudos sobre a bioecologia e os fatores
que afetam as populações desta lepidobroca para definir métodos adequados
de manejo da praga. O presente Informe disponibiliza as informações obtidas
ao longo dos anos a extensionistas e produtores para que, conhecendo melhor
a biologia, ecologia e comportamento do inseto, e adotando práticas de manejo
integrado aqui apresentadas, possam minimizar os sérios prejuízos causados
pela broca-do-abacate.
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Hohmann & Meneguim
descrição
O adulto é uma mariposa de coloração amarelo-palha com pontuações
escuras sobre as asas, e aproximadamente 15 mm de comprimento (Fig. 1A).
Existe dimorfismo sexual, mais facilmente detectado nos adultos, sendo que
os machos apresentam maior pilosidade na região ventral das antenas.
Os ovos são minúsculos, medem cerca de 0,5 mm de comprimento,
têm forma ligeiramente oblonga e apresentam estrias longitudinais (Fig. 1B).
São branco-esverdeados a princípio tornando-se branco-leitosos com manchas
irregulares de coloração marrom-clara à medida que o embrião vai se
desenvolvendo em seu interior.
As lagartas são inicialmente branco-acinzentadas, têm a cabeça escura,
tornando-se posteriormente roxas; atingem em seu desenvolvimento máximo
cerca de 20 mm de comprimento (Fig. 1C). A fase larval tem cinco ínstares.
As pupas são marrons e medem aproximadamente 10 mm de
comprimento (Fig. 1D).
A
10 dias 3 dias
D Mariposa – 15 mm
B
25 1 C – 60 10% UR
C
Ovo – 0,5 mm
Pupa – 10 mm
15 dias 6 dias
Lagarta – 15 mm
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A BROCA-DO-ABACATE (Stenoma catenifer)
aspectos biológicos e
comportamento
Stenoma catenifer possui hábito noturno e prefere colocar os ovos em
frutos da parte superior do abacateiro. As posturas são geralmente isoladas, e
depositadas principalmente em pequenas depressões na base do pedúnculo,
e na epiderme do fruto. Em avaliações realizadas em frutos provenientes de
pomar comercial de Arapongas e Cambé, PR, no período de out/01 a mar/03,
mais de 50% das posturas concentravam-se no pedúnculo (Figs. 2A e 2B).
Ovos de S. catenifer têm sido encontrados durante todo o período de
desenvolvimento e maturação dos frutos, o que denota a existência de gerações
múltiplas da praga ao longo do ano.
Em laboratório (25 ± 1°C; 60 ± 10% UR) a proporção de machos e fêmeas
foi de 1:1, a longevidade destes de cerca de cinco dias e o número médio de
ovos por fêmea de 164.
A B
Pedúnculo 50%
Pedúnculo 64%
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Hohmann & Meneguim
danos
Após a eclosão, a lagarta de primeiro ínstar move-se ao longo do fruto
até encontrar o local adequado para iniciar o ataque. Apesar de as fêmeas
preferirem colocar os ovos no pedúnculo, a maioria dos orifícios de penetração
concentra-se na parte inferior do abacate (Figs. 3A e B). À medida que as
lagartas vão se desenvolvendo, alimentam-se da polpa do abacate movendo-
se em direção ao caroço, onde o inseto se aloja e completa a fase larval,
construindo galerias no seu interior. A lagarta abandona o fruto e transforma-
se em pupa no solo, sob detritos de folhas, à profundidade de 0,5 a 1,5 cm, ou
no interior de frutos caídos.
A B
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A BROCA-DO-ABACATE (Stenoma catenifer)
100 20
% de danos 18
o
N de ovos
80 Colheita 16
% de frutos danificados
14
N de ovos
60 12
o
10
40 8
20 4
0 0
OutNovDez Jan FevMarAbrMaiJun Jul Ago Set OutNovDez Jan FevMar
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Hohmann & Meneguim
A B
manejo da broca
O controle da broca-do-abacate é dificultado pelo seu hábito de ovipositar
sobre o fruto, pela falta de técnicas eficientes e exeqüíveis de monitoramento
e pela inexistência de inseticidas registrados para combater a praga. Entretanto,
muitos avanços foram conseguidos nos últimos anos. Há hoje uma série de
informações sobre a biologia e comportamento do inseto, sobre a ação da
fauna benéfica, além de práticas que podem auxiliar na redução das infestações
e, conseqüentemente, nos prejuízos causados pela praga. A seguir são
apresentados e discutidos resultados dos trabalhos que vêm sendo conduzidos
ao longo dos últimos anos, e medidas alternativas de controle que podem
auxiliar no manejo da broca-do-abacate.
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A BROCA-DO-ABACATE (Stenoma catenifer)
controle cultural
A preferência dos produtores pela cultivar Margarida é notória no Paraná.
A grande vantagem da sua utilização é a oferta do produto na entressafra o
que permite maior retorno financeiro. No entanto, deve-se considerar que
quanto maior o espaço de tempo em que os frutos permanecem na planta
maior a probabilidade de aumentarem os prejuízos. Além disso, colheitas muito
tardias favorecem a perpetuação da praga no pomar, aumentando as chances
de maiores infestações na safra seguinte. Portanto, no planejamento da colheita
deve-se levar em consideração a relação risco/benefício. Essa relação é melhor
em pomares orgânicos já que os frutos, por serem colhidos mais cedo, alcançam
melhores preços no mercado, compensando possíveis perdas com os
aumentos no valor do produto nos meses subseqüentes.
Uma medida preventiva para reduzir o ataque da broca-do-abacate, mais
apropriada para pomares pequenos e/ou orgânicos, é a catação e destruição
dos frutos caídos. Isso impede que a praga complete o ciclo no solo reduzindo
as populações das gerações seguintes. Outra opção seria a deposição dos
frutos atacados caídos em gaiolas, dentro do próprio pomar, que além de evitar
as reinfestações da praga permitiria a multiplicação de parasitóides de lagartas.
As gaiolas podem ser confeccionadas com armação de madeira, ou outro
material disponível na propriedade, tendo na parte inferior uma tela para permitir
a passagem da água da chuva. A gaiola deve ser coberta por tecido voil que
permita o escape dos inimigos naturais, mas impeça a saída das mariposas.
Sobre o fundo da gaiola deve-se colocar uma camada de solo, folhas e outros
resíduos em decomposição de aproximadamente 5 cm para criar um ambiente
propício para o desenvolvimento da pupa. Além de proporcionar a redução da
infestação da broca, a adoção da prática permite o acompanhamento do período
de emergência das mariposas. Essa informação é importante para detectar o
início das posturas e evolução das infestações, e conseqüentemente a
aplicação de medidas de controle.
A presença de outras culturas nas proximidades do pomar de abacate,
de cultivo intercalar ou mesmo de ervas daninhas entre as linhas aumenta a
diversidade de plantas e insetos hospedeiros, e permite o estabelecimento de
vários grupos de inimigos naturais que podem contribuir na redução das
populações da broca.
Essa condição foi documentada em um pomar de Arapongas onde
espécies de tricogramatídeos foram coletadas em ovos da broca-do-abacate,
da lagarta das folhas e frutos do caqui, Hypocala andremona, do mandarová
da mandioca, Eryniis ello, da lagarta da espiga do milho, Helicoverpa zea, em
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Hohmann & Meneguim
resistência varietal
Um método ideal para prevenir danos por insetos às plantas é o cultivo
de variedades com alto grau de resistência ou imunidade ao ataque das pragas.
Ao contrário das culturas de ciclo curto, programas de melhoramento visando
resistência ou tolerância a insetos fitófagos em plantas perenes não são
comuns. Isso se deve, principalmente, ao longo ciclo dessas plantas comparado
com o de culturas anuais. Comparações entre cultivares de abacateiro
pertencentes à coleção do IAPAR têm revelado diferenças marcantes no
prejuízo causado aos frutos (Tabela 1). Embora algumas cultivares tenham
mostrado menor porcentagem de dano, entre elas a Margarida, a maioria não
tem aceitação comercial ou sofre danos severos em condições de altas
infestações. Estudos comparando os danos causados pela broca-do-abacate
às cultivares Margarida e Beatriz indicaram que no início da infestação os
danos foram maiores a cv. Beatriz (72,1%) do que a Margarida (28,4%), mas
a suscetibilidade entre ambas diminuiu com o transcorrer da safra. Apesar dos
resultados, estudos buscando selecionar cultivares precoces e tolerantes ao
ataque da broca e com aceitação comercial merecem consideração.
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A BROCA-DO-ABACATE (Stenoma catenifer)
controle biológico
Vários grupos de inimigos naturais de S. catenifer foram detectados em
diferentes pomares do Norte do Paraná, principalmente nos municípios de
Arapongas e Cambé onde tem se concentrado a maioria dos trabalhos do
IAPAR. Entre os inimigos naturais, estão parasitóides de lagartas pertencentes
às famílias Ichneumonidae (Eudeldeboea costanetoi) e Braconidae (Apanteles
desantisi), com níveis de parasitismo próximo a 10% e presença de nematóides
entomopatogênicos em cerca de 18% dos espécimes coletados. Contudo, os
inimigos naturais mais freqüentes pertencem à família Trichogrammatidae:
Trichogramma pretiosum Riley, Trichogramma bruni Nagaraja e
Trichogrammatoidea annulata De Santis, sendo esta última espécie a mais
comum. Espécies de Trichogramma têm sido o grupo de inimigos naturais
mais estudado e extensivamente utilizado em programas de controle biológico
do mundo para controle de uma infinidade de pragas agrícolas e florestais.
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A BROCA-DO-ABACATE (Stenoma catenifer)
80
70 Colheita
60
% de ovos parasitados
50
40
30
20
10
0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar
Figura 11. Parasitismo médio de ovos da broca-do-abacate por tricogramatídeos em Arapongas,
PR (jan/01 a mar/03)
70
60
% de ovos parasitados
50
40
30
20
10
0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out
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controle fitossanitário
Como a mariposa prefere a região do pedúnculo para colocar seus ovos
e a larva prefere a parte inferior do fruto para o ataque, existe um intervalo de
tempo, embora pequeno, entre a eclosão da larva e sua penetração no fruto.
O monitoramento e as ações de controle devem se concentrar nesse período,
e especialmente na parte superior do abacateiro, onde as mariposas da broca-
do-abacate preferem ovipositar.
Não existe atualmente inseticida liberado para controle da broca na
cultura do abacateiro no Paraná. Estudos realizados no início da década de
1990 pelo IAPAR demonstraram a eficiência de inseticidas do grupo dos
piretróides, e indicaram intervalos de aplicação para controle da broca (Fig.
13). As vantagens de seu uso são a alta eficiência de controle de lepidópteros-
praga, maior poder residual e menor toxicidade quando comparados aos
princípios ativos paratiom metílico e fenitrotiom anteriormente registrados para
o controle do inseto. Os piretróides, contudo, se não utilizados com critério,
podem destruir a fauna benéfica e aumentar as populações de ácaros
acarretando prejuízos à cultura.
Deve-se ressaltar, no entanto, que o IAPAR não recomenda a utilização
desse grupo de inseticidas visto não haver registro para a praga no Paraná.
Uma dificuldade adicional na utilização de inseticidas para o controle da
broca é a altura e arquitetura do abacateiro e a falta de equipamentos
adequados e seguros para o aplicador.
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100
AB
80
% de dano
60
A
40
A
20 A A
0
15 30 45 60 Sem controle
dias
Figura 13. Influência do intervalo de aplicação de inseticidas sobre os danos causados pela
broca. Arapongas, PR, 1992
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Hohmann & Meneguim
agradecimentos
À Dra. Sueli S. Martinez pela revisão do manuscrito, Hugo Muramoto e Wagner
O. Santos pelas fotos, e Maria Giovana Y. Sonomura pelo desenho da figura 10.
À Adauto Crispim, Adauto Pedro Costa, Hugo Muramoto, Wagner O. Santos e
Walter Neves pela colaboração nos trabalhos de campo e laboratório, e aos Srs. Aderson
Tokushima e Massake Makyama por cederem as áreas para os estudos.
literatura consultada
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Tiragem: 2.000 Exemplar es