Sei sulla pagina 1di 14

Pedagogia Hospitalar

Juliana Dallarmi Gil1


Ercília Maria Angeli Teixeira de Paula2

RESUMO

Este texto é um relato de experiência pedagógica desenvolvida através do


Projeto de Extensão: Pedagogia Hospitalar, que envolve acadêmicos estagiá-
rios do Curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Ponta Grossa em
hospitais infantis desta cidade. Constitui-se em uma área de estudos que tem a
preocupação com o desenvolvimento integral da criança hospitalizada, bem
como com o bem estar dos seus familiares e funcionários dos hospitais. O
Projeto proporciona a formação ampla do pedagogo, fortalecendo sua com-
petência profissional e seu comprometimento político-social num espaço de
alternativas educacionais.

Palavras-chave: pedagogia, criança hospitalizada, educação, recreação e de-


senvolvimento humano

O Projeto de Extensão: Pedago- paço permanente de discussão, expe-


gia Hospitalar, com o apoio da rimentação de novas alternativas edu-
PROEX- Pró-Reitoria de Extensão e cacionais e redimensionamento da
Assuntos Culturais, contempla os se- prática pedagógica; formar profissi-
guintes objetivos do Curso de Peda- onais que tenham uma visão de tota-
gogia da Universidade Estadual de lidade do processo educativo e que
Ponta Grossa: constituir-se num es- possam intervir de forma competente

1
Professora Mestre do Departamento de Métodos e Técnicas de Ensino da Universidade Esta-
dual
2
de Ponta Grossa.
Professora Mestre do Departamento de Educação da Universidade Estadual de Ponta Grossa.

Olhar de professor, Ponta Grossa, 2 (2):135-148, nov. 1999.


na organização do trabalho pedagó- ação das acadêmicas do Curso de
gico. Nesse sentido, de acordo com a Pedagogia através do Projeto de Ex-
Reformulação do Curso de Pedago- tensão. As atividades nesse novo es-
gia da referida Universidade, a pers- paço iniciaram-se em março de 1999.
pectiva da formação do pedagogo é a Nesse mesmo período, a Prof.a Ercília
de qualificação do profissional, para Maria Angeli Teixeira de Paula inte-
que, na docência ou em outras fun- grou-se ao projeto e também um novo
ções pedagógicas, ele tenha uma prá- grupo de acadêmicos.
tica social voltada para a interven- A parceria Universidade-Hospital
ção superadora da realidade e com- tem contribuído para o desenvolvimen-
prometida com os anseios de uma so- to integral da criança enferma, para a
ciedade mais justa e humana. recuperação mais rápida de sua saúde,
O referido Projeto de Extensão proporcionando-lhe oportunidades
iniciou as suas atividades em março para desenvolver-se intelectual, cul-
de 1998, a partir de solicitações dos tural, físico e socialmente, através de
acadêmicos do Curso de Pedagogia atividades recreativas educacionais.
da Universidade Estadual de Ponta A experiência tida até o momento
Grossa, no Seminário de Avaliação de permite afirmar que o atendimento pe-
Estágios do ano de 1997. A partir dagógico às crianças internadas em hos-
desse Seminário elaborou-se o refe- pitais infantis é relevante pelos benefí-
rido projeto, que foi encaminhado cios que se podem alcançar. As inter-
pela professora Juliana Dallarmi Gil venções dos acadêmicos do Curso de
para os diretores de duas instituições Pedagogia compreendem recreação,
hospitalares desta cidade: Hospital da estimulando a criatividade e a imagina-
Criança Prefeito João Vargas de Oli- ção. Através de atividades motoras,
veira e Clínica Infantil Pinheiros, sen- lúdicas, integração sensório-motoras e
do bem recebido para sua implanta- desenvolvimento de habilidades
ção e operacionalização. conceituais e sociais, integram-se as
Durante o ano de 1998 participa- inteligências: lingüística, lógico-mate-
ram do projeto 24 acadêmicos do mática, espacial, musical e cinestésico-
Curso de Pedagogia, através de está- corporal (GARDNER, 1995).
gios de extensão e/ou curricular, sob Os acadêmicos atuam em salas de
a coordenação da Prof a Juliana recreação, nas enfermarias e nos quar-
Dallarmi Gil. No final daquele mes- tos, contando histórias, dramatizando,
mo ano, a Chefia da Divisão de Pedi- realizando teatros, utilizando-se de
atria do Município solicitou a inclu- fantoches, além de realizarem canti-
são do Centro Nutricional3 para a atu- gas de roda e apresentações de ativi-

3
Programa da Divisão de Pediatria da Secretaria Municipal de Saúde ( Ponta Grossa-Pr. )

136
dades artísticas e culturais referentes tanto, que chegam a chamar para
à datas comemorativas, oportuni- que não esqueçamos do quarto de
zando sempre a participação das cri- seu filho. (estagiária, 1999)
anças. As atividades estão voltadas à
diversão, à alegria, à amabilidade, ao Segundo MASETTI (1998), as
relaxamento das tensões, ao ânimo brincadeiras, na medida em que dão
festivo e ao prazer. um descanso à ansiedade e ao stress
Os familiares das crianças enfer- da rotina hospitalar, ajudam os peque-
mas, muitas vezes, participam de tais nos, seus pais e o próprio corpo mé-
atividades. Seguem relatos de acadê- dico a lidar melhor com a doença.
micos estagiários do Curso de Peda- A mesma autora revela a mudan-
gogia: ça de comportamento das crianças
sobre os efeitos do trabalho realiza-
Um dia começamos a atividade do pelos Doutores da Alegria4 . Cri-
com as crianças cantando a músi- anças que estavam prostradas se tor-
ca: Era uma casa muito engraça- naram mais ativas; diminuindo a an-
da. Em seguida, partindo de um siedade da internação passaram a se
quadrado falei que faríamos uma alimentar melhor e aceitar mais as me-
casa e uma mãe disse: ‘eu não dicações e os exames.
acredito que nós vamos fazer uma Para a criança enferma, a rotina
casa de papel.’ Depois da hospitalar é estressante, porque está
dobradura feita ela ficou encan- privada do convívio com os amigos e
tada e, quando perguntei o que familiares, sendo que esse tipo de pri-
faltava ( janela, porta, etc.), pedi vação pode interferir no seu quadro
para que desenhassem, ela disse clínico. Existem muitos casos de cri-
que não sabia e acabou por apren- anças hospitalizadas que sentem-se
der com o próprio filho a fazer o fragilizadas com a internação. Algu-
que faltava. Esta foi uma experi- mas dessas crianças passam por uma
ência que ela teve num hospital, fase de rejeição ao tratamento, pois
que proporcionou um são submetidas a procedimentos do-
estreitamento da relação mãe e fi- lorosos. É evidente a mudança de
lho que, talvez, ela nunca tivesse comportamento das crianças, antes e
tido esta oportunidade antes. (es- depois das atividades dos acadêmicos
tagiária, 1999) envolvidos, que proporcionam às cri-
anças hospitalizadas um bem estar
Os pais, além de surpresos, gostam emocional, favorecendo a recupera-

4
No Brasil, em 1991, teve início com a atuação de Wellington Nogueira. Atualmente o grupo é
composto de 25 atores, que atuam em seis hospitais de São Paulo, dois do Rio de Janeiro e um de
Campinas, com o patrocínio da Itaú Seguros.

137
ção mais rápida de sua saúde, uma vez mesmos e para uma conseqüente me-
que elas aceitam melhor a internação lhor atuação no ambiente de trabalho.
e as medicações. Suas intervenções Como enriquecimento do estágio
possibilitam, também, um estreita- nesse Projeto de Extensão, os alunos
mento dos laços familiares, pois pais envolvidos têm contato com práticas
e filhos conjugam juntos momentos desenvolvidas no Hospital Infantil
de dor, mas também de alegrias. Pequeno Príncipe, em Curitiba, por
acadêmicas de Cursos de Pedagogia
La mayoria de los problemas se de instituições de Ensino Superior
agravan, por las consecuencias de daquela cidade.
la propria enfermedad (fadiga, Após um ano de execução do pro-
apatía, dolores, malestar, etc.) y jeto, os médicos responsáveis pelos
por las características y la hospitais infantis revelaram a impor-
organización de los centros tância do trabalho, através dos seguin-
hospitalarios (uniformidad, mono- tes depoimentos:
tonia, etc.). El contexto hos-
pitalario es aquí fundamental. Nu- Ao final de um ano de trabalho em
merosos autores consideran que la parceria, queremos ressaltar a im-
mayoría de las alteraciones psico- portância que a equipe de Pedago-
lógicas generadas por la gia proporcionou à nossa institui-
hospitalización en el ninõ se deben ção, tornando-a um local agradá-
principalmente al hecho de la vel, graças ao direcionamento de
separación parental. (SI-MAN- ações de lazer, recreação, educativa
CAS e LORENTE , 1990, p.129) e social, evitando, com certeza, con-
flitos psicológicos nos pacientes e
O trabalho na comunidade hospi- familiares. Certos de continuarmos
talar, através do estágio do referido com esta parceria, nossos cumpri-
Projeto de Extensão, abrange orienta- mentos e agradecimentos pelo ex-
ção aos pais e/ou responsáveis que, celente trabalho desenvolvido.
participando das atividades, melhoram (M.B.e O.A.S., 1998)
seu estado emocional para ajudar a cri-
ança enferma, como também obtêm Na área específica da pediatria, a
trocas de conhecimentos sobre cuida- melhoria das condições de vida da
dos básicos com a saúde da família. população, o avanço das cobertu-
Em relação à integração entre os ras vacinais, um melhor acesso
funcionários dos hospitais, os acadê- aos Postos de Saúde e o aleitamen-
micos do Curso de Pedagogia propor- to materno, têm contribuído para
cionam, através de dinâmicas de gru- que haja uma diminuição dos
po, momentos que contribuem para a internamentos. Mas para aquelas
melhoria da qualidade de vida dos crianças que necessitam permane-

138
cer no ambiente hospitalar, o tra- que está passando, através da
balho paralelo desenvolvido atra- interação com o lúdico, o que torna o
vés do Projeto: Pedagogia Hospi- ambiente de internação pediátrica um
talar, vem contribuir para uma re- espaço mais agradável e acolhedor.
cuperação mais rápida da saúde Embora a atenção com o enfermo
perdida, além de amenizar o so- se apoie principalmente no médico e
frimento dos pacientes e familia- auxiliares da área de saúde, a atuação
res. Espero que esta parceria con- do pedagogo pode contribuir de for-
tinue no próximo ano e que juntos ma importante. Também, interferin-
possamos trazer um pouco mais de do no núcleo familiar, orientando-o
alegria às nossas crianças. Muito para melhorar sua qualidade de vida.
Obrigado, em meu nome e de to- Assim, Educação e Saúde devem
dos os pacientes do Hospital da caminhar juntas para uma melhor qua-
Criança. (A. R. B., 1998) lidade de vida da população, consti-
tuindo um importante fato para a Pe-
Gostaríamos que os acadêmicos dagogia Hospitalar.
do Curso de Pedagogia estivessem Como afirma SIMANCAS e
todos os dias, aqui na Clínica. LORENTE (1990, p.17):
(Clínica Infantil Pinheiros, 1998/
99) Las instituciones hospitalares
constituyen un nuevo ámbito en el
Existe hoje uma preocupação da que puede –y hasta debe –
Chefia de Divisão Pediátrica do mu- proyectar-se la acción matizada de
nicípio em integrar o Profissional los pedagogos y los educadores.
Pedagogo na equipe de saúde, reves-
tindo-se então de grande importância Segundo a Declaração Universal
e responsabilidade a sua atuação, o de Direitos Humanos (1948), “todas
que justifica também o significado as pessoas têm direito à educação”;
dessas intervenções, bem como estu- sendo assim, a criança hospitalizada
dos e produções de pesquisa na área. não pode ficar excluída do atendimen-
Entende-se Pedagogia Hospitalar to educacional.
como um ramo da Pedagogia, cujo De acordo com a CONSTITUI-
objeto de estudo e dedicação é a cri- ÇÃO FEDERAL (1988), em seus ar-
ança hospitalizada (SIMANCAS e tigos 205 e 227, é dever da família, da
LORENTE, 1990). Por meio da co- comunidade, da sociedade em geral e
municação e do diálogo, aspectos es- do Poder Público assegurar à criança
ses essenciais para a formação inte- e ao adolescente, com absoluta priori-
gral da pessoa, propõe-se ajudar a dade, a efetivação dos direitos referen-
criança enferma, para que possa en- tes à vida, à saúde, à alimentação, à
frentar a situação de fragilidade por educação, ao lazer, à profissio-

139
nalização, à cultura, à dignidade, ao
respeito, à liberdade e à convivência A Lei n.º 9.394, de 20 de dezem-
familiar e comunitária, além de colocá- bro de 1996, de Diretrizes e Bases da
los a salvo de toda forma de negligên- Educação Nacional, contempla, já em
cia, discriminação, exploração, violên- seu artigo 1º, que a educação abran-
cia, crueldade e opressão. ge os processos formativos que se
A Conferência Mundial sobre desenvolvem na vida familiar, na con-
Educação para todos, de 1990, vivência humana, no trabalho, nas ins-
enfatizava a necessidade de garantia tituições de ensino e pesquisa, nos
desse direito a todos, independente- movimentos sociais e organizações da
mente de suas diferenças particulares. sociedade civil e nas manifestações
E ressaltava que a educação, direito culturais, nos dando respaldo da vi-
de todos e dever do Estado e da famí- são abrangente da Educação.
lia, será promovida e incentivada com Para CAVALCANTE (1998), a lei
a colaboração da sociedade, visando n.º 9.394/96 assegura a presença do
ao pleno desenvolvimento da pessoa. professor em hospitais. Mas a autora
O Estatuto da criança e do adoles- afirma que:
cente (1990), especialmente em seus
artigos 3º e 4º, afirma que a criança e embora autoridades e especialis-
o adolescente gozam de todos os di- tas estejam empenhados em dar
reitos fundamentais inerentes à pessoa assistência pedagógica à criança
humana, sem prejuízo da proteção in- hospitalizada, sente-se a necessi-
tegral, assegurando-se-lhes, por lei ou dade de formar profissionais para
por outros meios, todas as oportuni- atuar em locais e circunstâncias
dades e facilidades, a fim de lhes fa- tão especiais, para tanto sugere-
cultar o desenvolvimento físico, men- se a preparação de professores.
tal, moral, espiritual e social, em con- (1998, p.45)
dições de liberdade e de dignidade.
Segundo CECCIM e CARVA- Esse apoio legal, no que se refere
LHO (1999), a Resolução n.º 41, de ao direito da pessoa e da criança em
13 de outubro de 1995, do Conselho especial, confirma a necessidade de
Nacional dos Direitos da Criança e do atendimento integral à criança, inde-
Adolescente, que trata dos direitos da pendente de suas condições físicas,
criança e do adolescente hospitaliza- sociais e culturais.
dos, assegura o No que diz respeito aos direitos
do enfermo hospitalizado, compreen-
Direito de desfrutar de alguma for- de-se a necessidade da prática
ma de recreação, programas de
educação para a saúde e acompa- pediátrica estar completa, em equipe
nhamento do currículo escolar, du- multidisciplinar, para que a criança
rante a sua permanência hospita- continue se desenvolvendo de forma
lar. integral, com as características que lhe

140
são próprias. tou que no Brasil há 30 classes hospi-
Ricardo CECCIM e Paulo R. talares distribuídas e em funciona-
Antonacci CARVALHO (1997) orga- mento em 11 unidades federadas (10
nizaram uma coletânea de artigos a Estados e o Distrito Federal). Esse
respeito de trabalhos realizados com tipo de atendimento decorre, em sua
crianças hospitalizadas, promovidos maioria, de convênio firmado entre as
pela Universidade Federal do Rio Secretarias de Educação e de Saúde
Grande do Sul - UFRGS, Faculdade dos Estados, embora existam classes
de Educação e Medicina. Consideran- hospitalares resultantes de iniciativas
do os estágios de acadêmicas do Cur- de entidades filantrópicas e Univer-
so de Pedagogia, CECCIM confirma sidades. Oitenta professores atuam
a importância dessas intervenções: nessa modalidade de ensino e aten-
dem a um quantitativo de mais de
Pensar a criança com todas as suas 1500 crianças/mês, na faixa etária
necessidades específicas, e não só entre 0 e 15 anos de idade.
na necessidade de recomposição do FONSECA (1998) conclui que há
organismo doente, e organizar uma necessidade de formular propostas,
assistência hospitalar que com vistas a atingir o objetivo de dar
corresponda ao seu nível de desen- continuidade ao processo de desen-
volvimento e realidade biológica, volvimento psíquico e cognitivo das
cognitiva, afetiva, psicológica e crianças e jovens hospitalizados. Para
social demonstra uma iniciativa de isso, faz-se necessária a elaboração de
reformulação do modelo tradicio- uma política voltada para as necessi-
nal de atendimento pediátrico para dades pedagógico-educacionais e os
integrar conhecimentos, visões e direitos à educação e à saúde dessa
experiências de atendimento infan- clientela em particular etapa de vida,
til, cotejados com as diferentes áre- quanto ao crescimento e desenvolvi-
as de elaboração do saber sobre a mento físico e emocional.
infância e para despertar projetos CAVALCANTE (1998), da Uni-
construtivos. (CECCIM, 1997, versidade Estadual de Maringá- Pr.,
p.76 ) que desenvolve Projeto similar com
estagiários do Curso de Pedagogia,
Eneida Simões da FONSECA considera que a ação mediadora do
(1998), pesquisadora sobre desenvol- professor ou da professora em ambi-
vimento e educação de crianças hos- ente hospitalar deve ser uma ação em
pitalizadas, realizou um levantamen- função do sujeito ativo, transforma-
to nacional dos Estados federativos dor, construtor de significados, capaz
que oferecem o atendimento de clas- de usar a sua saúde, as suas compe-
se hospitalar, destacando as formas tências, para reagir à doença e às li-
como o mesmo é ministrado. Consta- mitações que ela acarreta. Como pes-

141
quisadora-colaboradora do Projeto ceu até que estava em um hospi-
Saúde e Brincar, no Hospital Mater- tal. (estagiária,1999)
no Infantil, da Fundação Oswaldo
Cruz, no Rio de Janeiro, confirmou a O psiquiatra CHUTORIANSCY
teoria walloniana como referência aos (apud. EISFELD, 1999), o qual ves-
efeitos do ato pedagógico sobre a re- te-se diariamente de palhaço, desde
dução do sofrimento e do distúrbio 1998 desenvolve o projeto: “Conto
emocional, entendendo que o apren- com você- magia e encantamento”, no
der, nesse caso, alivia a dor infantil. Hospital Infantil Getúlio Vargas Fi-
Considerando essas práticas lho de Niterói - Rio de Janeiro. Afir-
educativas-recreativas, o Projeto de ma que os resultados ultrapassam as
Extensão da Universidade Estadual expectativas, aumentando a auto-es-
de Ponta Grossa identifica a impor- tima do paciente, quebrando o qua-
tância das mesmas como um caminho dro depressivo e, assim, diminuindo
para o reconhecimento legal dos di- o tempo de internação.
reitos da criança hospitalizada quan- Para Daniel Chutorianscy essas
to ao acesso a essas atividades. intervenções são importantes no con-
O Projeto de Extensão tem cons- texto hospitalar, pois:
tatado resultados significativos,
possíveis de serem evidenciados O humor está ligado diretamente ao
através da participação e interesse fator imunológico, porque aumenta
das crianças hospitalizadas nas ati- a produção leucocitária, este tipo de
vidades propostas. estímulo diminui a tensão, causado-
Dos depoimentos recebidos, ra do estresse oxidativo que culmi-
como por exemplo o de uma criança na na formação de radicais livres.
de 9 anos: “Ai, que bom que vocês O funcionamento do sistema nervo-
chegaram!” (D., 1998),5 pode-se ve- so central também é auxiliado com
rificar a alegria demonstrada por essa o aumento da serotonina, ligada à
criança, o que vem favorecer seu criatividade e imaginação, da
tratamento de saúde. noradrenalina, responsável pelo ra-
Uma das acadêmicas estagiárias
ciocínio, da dopamina, que aumen-
do Projeto relata:
ta a força de vontade, e das
Meu vizinho diz que sua filha quer endorfinas, que são responsáveis
voltar ao hospital para ver o pa- pela sensação de prazer. A
lhaço. Nesta fala eu percebi que a descontração melhora o equilíbrio
criança, naquele momento, esque- psicológico e assim acelera a re-

5
Nos depoimentos dos pacientes, familiares e funcionários dos hospitais estão especificadas
apenas as iniciais dos nomes, a fim de preservar a identidade dos mesmos.

142
cuperação, além de diminuir a ne- trabalho muito bonito. (G. F.)
cessidade de uso de medicamentos
antidepressivos. (apud. EISFELD, Com essas atividades, o vínculo
1999, p.44) da família entre pais e filhos são for-
talecidos, compreendendo suas di-
Os médicos hoje avaliam essas mensões afetivas e emocionais.
atividades como grandes auxiliares Também são realizadas orienta-
em qualquer tratamento de saúde, ções sobre cuidados básicos com a
como se pode verificar na seguinte saúde da família, para os pais e/ou
afirmativa do pediatra Walid Salomão responsáveis das crianças hospitaliza-
Mousfi (apud. CAMARGO e GINO, das. Assim como nas dinâmicas de
1999, p.01): grupo trabalhadas para auxiliar na
superação do strees, constata-se que
a Medicina deveria ser ainda mais esses momentos propiciam trocas de
humanizada, pois um médico pre- informações e contribuem para a
cisa entrar na freqüência dos pa- melhoria da qualidade de vida dos
cientes, principalmente das crian- mesmos, conforme evidenciam os
ças. depoimentos a seguir, ocorridos nos
anos de 1998 e 1999:
Os familiares das crianças hospi-
talizadas relatam as transformações Em um lugar tão desgastante como
ocorridas com os pacientes após o tra- este, só mesmo esses momentos
balho realizado pelas acadêmicos es- que vocês proporcionam para gen-
tagiários no ano de 1998: te, fazem a gente se sentir melhor.
Muito obrigado. (J.)
Gostei muito deste trabalho, aju-
da o nosso filho a recuperar-se Parabéns por essa participação de
mais depressa. Obrigado.(C.) levar ao público informações im-
portantes sobre as doenças infec-
Gostei muito, continuem sempre ciosas, muitas pessoas nem sabem
assim e voltem sempre para ale- o quanto é essencial estar por den-
grar as crianças. (F.) tro dessas informações e muito
agradeço por fazerem mais uma
Minha filha adorou participar da criança a rir. Jesus esteja sempre
recreação, parabéns pela iniciati- contigo. (J.)
va. Deus lhes pague o carinho para
com todas as crianças.(T.) Eu gostei muito das informações que
Eu achei muito legal, era bom se fi- são muito importantes para todos
zessem todos os dias, assim as mães nós. Precisamos mais de pessoas as-
e crianças aprendem muito. É um sim como vocês. Obrigada. (M.)

143
indo para o aprimoramento das inte-
Vocês estão de parabéns. Obriga- ligências intra e interpessoais
da pelas informações e pela aten- (GARDNER 1995), e na superação
ção ao meu filho. (S.) do stress, muitas vezes causado pela
rotina hospitalar.
Gostei muito da explicação, foi Alguns depoimentos dos funcio-
muito útil para as mães que aqui nários, no ano de 1999, revelam es-
estiveram. Muito obrigada a sas considerações:
vocês meninas, pela orientação
tão valiosa. (R.) Espero ansiosa o dia do Projeto,
valorizamos essa oportunidade,
Eu gostei muito do trabalho de os momentos fazem a gente se
vocês e peço que Deus recompen- descontrair e pensar mais no pró-
se muito vocês. (V.) ximo. (B.)

Eu achei muito legal, era bom se Me sinto muito à vontade com os


fizessem todos os dias, assim as acadêmicos do Curso de Pedago-
mães e crianças aprendem mui- gia, falo até dos meus problemas
to. É um trabalho muito bonito. particulares.(A)
(F.)
O dia da semana de que mais gos-
Obrigado pela gentileza das mo- to é o dia em que os acadêmicos
ças de virem aqui no hospital dar do Curso de Pedagogia vêm aqui.
uma tarde, ensinar sobre saúde (G.)
para nós. (C.)
Estava com dores nas costas e dor
Eu gostei muito da palestra, que de cabeça antes do relaxamento,
bom que todos os hospitais tives- agora me sinto bem melhor, pois
sem também. (L.) acho que estava muita tensa, nos-
so trabalho é desgas-tante. ( M.)
Eu gosto de vir aqui, pois vejo os
outros com problemas também e Estava muito tenso, depois desta
não me sinto só. (M.) atividade estou me sentindo bem
melhor. (H.)
Portanto, as atividades desenvol-
vidas com os funcionários dos hos- Os planejamentos das atividades
pitais pelos acadêmicos estagiários realizadas nos hospitais requerem
do Curso de Pedagogia proporcio- criatividade e flexibilidade. Como já
nam momentos de integração, constatou BARBOSA (1991), a es-
descontração, relaxamento, contribu- colha dos temas, dos recursos mate-

144
riais, das estratégias dependem das mina a referida lei e contribuído para
possibilidades concretas do momen- que a formação profissional e pes-
to. soal dos alunos nele inseridos, cons-
No Projeto de Extensão, as ativi- tituindo-se em um desafio que re-
dades são previamente planejadas quer iniciativa, criatividade, respon-
nas dependências da Universidade, sabilidade, flexibilidade e sensibi-
considerando que, em algumas situ- lidade na convivência com as cri-
ações, as atividades são readaptadas anças doentes. O contato com essa
conforme a circunstância na qual a realidade educativa ajuda-os a resol-
criança hospitalizada se encontra. ver problemas práticos subsidiando-
Nesses planejamentos semanais, se nas teorias pedagógicas aprendi-
ocorrem discussões coletivas e ava- das. Consegue-se uma realimenta-
liações do estágio. ção valiosa entre teoria e prática,
Pretende-se que as acadêmicas do prática e teoria.
curso de Pedagogia, no estágio em Esses aspectos estão expressos
hospitais infantis, tenham a oportu- nos depoimentos de alguns acadê-
nidade de pôr em prática os conhe- micos do Curso de Pedagogia:
cimentos teóricos que vão adquirin-
do. As experiências têm contribuído Atuar no Projeto: Pedagogia
para a sua formação pedagógica, no Hospitalar foi gratificante. Só
desenvolvimento de capacidades e observar o sorriso das crianças,
habilidades, compreendendo várias quando estávamos no quarto já
atividades educativas, as quais envol- era suficiente. Também mostrou-
vem a Pedagogia Hospitalar. me como pedagoga, a forma de
Segundo a Lei 9.394/12/96, Ca- aplicar teoria e prática ao ensi-
pítulo IV- Da Educação Superior - nar as crianças internadas, o en-
Art. 43, a educação superior tem por sino é mais peculiar (1998).
finalidade: VI- estimular o conheci-
mento dos problemas do mundo pre- Este projeto contribuiu muito
sente, em particular os nacionais e para o meu próprio crescimento
regionais, prestar serviços especia- e principalmente serviu para que
lizados à comunidade e estabelecer eu pudesse me ver frente a um
com esta uma relação de reciproci- grupo de pessoas fora da Univer-
dade. sidade. Tenho certeza de que só
A experiência tida até o momen- teve pontos positivos, achei mui-
to permite afirmar que o estágio dos to interessante a receptividade
acadêmicos do Curso de Pedagogia com que as crianças recebem
em hospitais infantis, através do Pro- uma novidade, mesmo estando
jeto de Extensão: “Pedagogia Hos- doentes. Certamente este mo-
pitalar” tem cumprido o que deter- mento servirá de reflexão para

145
que outros projetos sejam reali- ação de atividades, de acordo
zados com o mesmo objetivo, de com as crianças que vão desde
contribuir e favorecer a melhora bebê, até aquelas que já estão em
do próximo. Adorei esta oportu- idade escolar. Favorece também
nidade. (1998) para que nos tornemos mais cri-
ativas, devido ao número de ati-
Este projeto foi muito gratifican- vidades variadas que temos que
te, aprendi muito com este está- preparar. (1999)
gio, até a dar mais valor à vida.
Cresci muito com a participação Percebemos o bem que fazemos
neste estágio. (1998) nas horas que passamos com as
crianças. A cada olhar brilhante,
Obrigado de todo coração por ter a cada lágrima que cessa, a cada
tido a oportunidade de participar palavra dita, a cada expressão do
de um projeto onde a prioridade rosto, palavras como: ‘volte
maior é a “Cidadania”. Eu, aqui’, ‘quero ver a Filó’, ‘onde
como pedagoga tinha o dever de está a Filó?’, gestos de carinho,
participar deste projeto de soli- expressões de tranqüilidade, de
dariedade e cidadania, onde as calma, sossego, quando chegam
pessoas com as quais encontrei o palhaço, a fada, a minnie, ou
tiveram o melhor de mim e rece- quando os marionetes de teatro
bi destas o melhor. Pude também entram nos quartos, com alegria,
ajudar, para que as pessoas tives- vibração, entusiasmo (porque é
sem uma melhor qualidade de isto que nós queremos deixar). A
vida. Só tenho a agradecer esta cada sorriso que estampa os
oportunidade, que será lembra- rostinhos meigos e abatidos, a vi-
da por toda a nossa vida. (1998) bração que se espalha, o olhar
expressivo ao ver uma bexiga co-
O estágio está nos proporcionan- lorida, um brinquedo diferente,
do o desenvolvimento do lado ar- uma dança, uma música. As cri-
tístico que, talvez, nem nós sabí- anças percebem outra imagem do
amos que existisse. Estas experi- hospital, salta-nos a alegria de
ências, com certeza, irão nos dar poder realizar este trabalho. O
subsídios para nossa prática en- trabalho é compensador e gene-
quanto professores, nos favore- roso, as crianças com certeza têm
cendo meios para que o nosso muito mais vontade de ficar bem
trabalho pedagógico venha se e de brincar, isto chama-se “estí-
adequar à realidade do nosso mulo ao viver. (1999)
aluno, pois no hospital vivemos
uma constante adaptação e vari- Os acadêmicos do Curso de Pe-

146
dagogia da Universidade Estadual de ria Universidade-Hospital.
Ponta Grossa6 que participaram do
Projeto em muito contribuíram para
modificar a realidade dos hospitais REFERÊNCIAS
infantis, através da competência pro- BIBLIOGRÁFICAS
fissional por eles exercida e do seu
comprometimento político-social nes- 1 ADANS, Patch, 1.945. O amor é
sa alternativa educacional. contagioso. Trad. Fabiana
As intervenções pedagógicas re- Colasanti. Rio de Janeiro:
alizadas com os enfermos infantis, Sextante, 1999.
bem como as variadas atividades de- 2 ANTUNES, Celso. As inteligênci-
senvolvidas com os familiares e fun- as múltiplas e seus estímulos.
cionários dos hospitais têm contribu- Campinas: Papirus, 1998.
ído para a progressiva formação do 3 ARIES, P. História Social da Cri-
pedagogo. ança e da Família. Rio de Ja-
neiro: Guanabara, 1981.
A importância da execução do
4 BARBOSA, Maria Carmem
mencionado Projeto confirma-se pela
Silveira. Atendimento pedagó-
consistência de seus resultados, atra- gico às crianças em idade es-
vés dos benefícios alcançados, não colar internados no HCPA.
somente para as crianças hospitaliza- Prospectiva, Porto Alegre- RS,
das, como também para todos os pro- n. 20, p. 36-38, 1991.
fissionais e pessoas nele envolvidos. 5 BENJAMIM, W. Reflexões: a crian-
Analisando todo esse contexto, ça, o brinquedo, a educação. Trad
acredita-se que o mesmo pode contri- de Marcus Vinícius Massari. São
buir para a ampliação de práticas, in- Paulo: Summus, 1984.
vestigações, estudos e produções cien- 6 BRASIL. Constituição do Brasil. Rio
tíficas sobre intervenções recreativas- de Janeiro: Bloch Editores,
educacionais nas rotinas de internação 1988. 140 p.
pediátrica. Espera-se que a produção 7 BRASIL. Estatuto da Criança e do
deste trabalho continue apresentando Adolescente. Ministério da
contribuições significativas na parce- Ação Social/Centro Brasileiro

6
Ana Cecília Mansur, Ana Maria C.Dias, Andréa S. Daniel, Andrea Siqueira Prestes, Andresa Marcon,
Aurélio R. Nazareth, Claracei Schirlo, Claudete Aparecida de Oliveira, Cleusa A. Pansolin, Eliane V.
dos Santos, Eliara I. Chiaradia, Elisângela C. G. da Costa, Elizabeth Gomes da Silva, Elizabeth
Munhoz, Elisete Feld, Lisandra A. de Lima, Lícia Mara L. Afonso, Jacqueline de F.Carraro, Yara C.
Gomes, Flávia M. M. Kruk, Joselane Carneiro, Karen Patrícia Kraushaar Leila V. Dutka de Oliveira,
Lucélia H. Rodrigues, Luciana Nair Moretto, Luciane C. Bombardelli, Maria de Lurdes M. Cerri,
Marcia A. G. Woruby, Marisa de Oliveira, Marisa T. Ribas, Marinês Poczapski, Marta M. M.
Zyskowski, Neusa de F. Steves, Patrícia W. de Freitas, Reni T. Nadal, Rosilene Moreira, Silvana R. da
Rosa, Sirlei Amaral, Susana C. de Mello, Taís C. Waiga e Vanderléa Aparecida Nunes.

147
para a Infância e adolescência, ções na realidade hospitalar.
1990. 61p. São Paulo: Palas Athena,
8 BRASIL. Lei nº 9394 - 20 de de- 1998.
zembro de 1996. Lei de Diretri- 16 ONU. Declaração Universal de Di-
zes e Bases da Educação Naci- reitos Humanos, 1948
onal. Diário Oficial da Repúbli- 17 RIBEIRO, M.J. O atendimento à
ca federativa do Brasil, Brasília, criança hospitalizada: um
23 de dezembro de 1996. estudo sobre serviço recrea-
9 CAMARGO, Paulo; GINO, Ca- tivo-educacional em enfer-
mila. A vida pode ser bela. maria pediátrica.1993, Dis-
Gazeta do Povo, Curitiba, 31 sertação (mestrado). Universi-
de março de 1999. dade Estadual de Campinas.
10 CAVALCANTE, R. T .Professo- 18 SIMANCAS, José Luis Gonzáles;
res com necessidades espe- LORENTE, Aquilino Polaino.
ciais. Teoria e Prática da Pedagogia Hospitalaria -
educação. Maringá, UEM v. Actividad educativa en am-
1, p.45-54, Set, 1998. bientes clínicos. Madrid:
11 CECCIM, Ricardo Burg; CAR- Narcea, 1990.
VALHO, Paulo A. C. Crian-
ça hospitalizada: atenção in-
tegral como escuta à vida.
Porto Alegre: Editora da Uni-
versidade UFRGS, 1.997.
12 CHUTORIANSCY, Daniel. A cura
pela alegria. In: EISFELD,
Aiula. Manchete, São Paulo,
p.42-45, abril, 1999.
13 FONSECA, Eneida. Atendimen-
to pedagógico-educacional
para crianças e jovens hos-
pitalizados: Realidade Naci-
onal. Rio de janeiro:UFRJ/
Classe Hospitalar Jesus –
SME/RJ, [1998]. 2 p.
14 GARDNER, Howard. Inteligên-
cias Múltiplas: a teoria na
prática. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1995.
15 MASETTI, Morgana. Soluções
de palhaços- transforma-

148

Potrebbero piacerti anche