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5327/Z1982-12472012000200010
Rodolfo A. M. AmbielI
Ana Paula Porto NoronhaI
Resumo
Este trabalho tem como objetivo apresentar o construto autoeficácia para escolha profissional, a partir da apresentação da Teoria Social Cognitiva
(TSC) e de sua aplicação ao contexto das decisões de carreira. Além disso, também aborda o percurso de sua aplicação ao campo do desenvolvimento
de carreira no contexto mais amplo da Teoria Social Cognitiva do Desenvolvimento de Carreira (TSCDC). Em seguida, o conceito de autoeficácia
para escolha profissional é explorado, sendo apresentadas várias pesquisas realizadas no contexto estrangeiro. Conclui-se que o construto, embora
carente de mais divulgação no Brasil, tem obtido espaço no meio científico nacional e pode se constituir como uma importante ferramenta de
compreensão, planejamento e avaliação do processo de escolha profissional.
Palavras-chave: Orientação vocacional; Teoria Social Cognitiva; desenvolvimento de carreira; avaliação psicológica.
Abstract
This paper aims to present the concept of professional choice self-efficacy by discussing Social Cognitive Theory (SCT) and its application to
the context of career decisions. It also addresses the course of its application in the field of career development in the broader context of Social
Cognitive Career Theory (SCCT). The concept of professional choice self-efficacy is also explored, including several international studies. It is
concluded that the construct, although lacking dissemination in Brazil, has had some space in national scientific discussions, and can become
an important tool to understand, plan and evaluate the process of career choice.
Keywords: Vocational guidance; Social Cognitive Theory; career development; psychological assessment.
I
Universidade São Francisco
artístico, social, empreendedor e convencional. têm assumido que essa é uma forma adequada para
Em síntese, a escala avalia quão bem a pessoa se julga avaliar o senso de competência para o engajamento
capaz de realizar atividades profissionais do tipo em tarefas de decisão de carreira. Diversos estudos
realista, como trabalhar em ambientes abertos, ou têm sido realizados com versões da CDMSES em
artístico, como tocar um instrumento musical. vários países do mundo com o objetivo de estudar
As duas citações acima dizem respeito a sua estrutura fatorial, as relações com outras variáveis,
avaliações da percepção de capacidade para realizar capacidade preditiva, padrões de crenças de diferentes
ações relacionadas a certas habilidades cognitivas grupos e precisão.
ou atividades profissionais, variáveis estreitamente Contudo, deve-se fazer uma ressalva no
ligadas à escolha profissional. Contudo, nenhum sentido de alertar o leitor de que esse não é o único
desses instrumentos visa avaliar o construto no instrumento para avaliação do construto, embora
domínio específico da escolha profissional. Nos tenha servido como base teórica para a construção de
próximos parágrafos, tal contextualização teórica outras escalas para a verificação da escolha profissional
será feita juntamente com a apresentação de algumas em diferentes países.
investigações. Deve-se esclarecer que não se tem Foram encontrados estudos com a CDMSES,
a intenção de esgotar o assunto, apenas destacar em sua forma original e adaptada, nos Estados
algumas pesquisas que versam especificamente sobre Unidos, China, África do Sul, Austrália, Portugal,
a avaliação da autoeficácia para a escolha profissional. França e Turquia, entre outros, bem como
Como já descrito anteriormente, Lent et al. instrumentos inspirados nela na Espanha e México,
(1994) afirmam que as escolhas acadêmicas e/ou sendo que uma quantidade considerável de trabalhos
profissionais são fruto do processo de formação dos preocupou-se em avaliar a estrutura fatorial das
interesses de carreira e podem ser submetidas às medidas. Destacam-se os achados de Lozano
influências contextuais e ambientais diversos, que (2006), na Espanha, e Ramírez e Canto (2007), no
abarcam características pessoais, familiares, culturais, México, que encontraram a estrutura teoricamente
socioeconômicas e políticas. Entretanto, antes da sugerida de cinco fatores com base nas competências
formulação da TSCDC, outros pesquisadores já de Crites (1961). Contudo, os estudos de Taylor
haviam iniciado estudos nessa direção, especialmente e Betz (1983), Peterson e delMas (1998), Watson,
no que toca a autoeficácia. Brand, Stead e Ellis (2001), Creed, Patton e Watson
A esse respeito, Hackett e Betz (1981) (2002), Hampton (2006), Chaney, Hammond,
introduziram a investigação do construto ao estudar Betz e Multon (2007), Silva et al. (2009) e Gaudron
o desenvolvimento de carreira de mulheres e, mais (2011) relatam diferentes estruturas fatoriais,
tarde, Taylor e Betz (1983) apresentaram uma escala variando entre dois e quatro agrupamentos de itens
de avaliação, a Career Decision-Making Self-Efficacy com intersecções entre as diversas competências,
Scale (CDMSES). É importante esclarecer que, para mas sempre concordantes quanto à possibilidade de
fins de padronização da linguagem, o termo em inglês avaliação do construto por meio de um único fator,
career decision-making self-efficacy é compreendido, abarcando todas as competências sugeridas.
no presente artigo, como autoeficácia para escolha Ao verificar resultados obtidos a partir da relação
profissional. Com relação à conceituação, o construto do construto com outras variáveis, foram observadas
é entendido como as crenças pessoais a respeito das correlações negativas com indecisão, neuroticismo,
próprias capacidades para planejar e se engajar em perfeccionismo desadaptativo e quantidade de
tarefas relativas à escolha profissional. mudanças de cursos; e positivas, com atitudes de
Na construção do instrumento, Taylor e decisão de carreira, desempenho escolar, autoeficácia
Betz (1983) basearam-se no modelo de maturidade geral, extroversão e realização (Taylor & Betz, 1983;
de carreira de Crites (1961) e construíram os Luzzo, 1993; Hampton, 2006; Page, Bruch & Haase,
itens tendo em vista as cinco competências para 2008). Lease e Dahlbeck (2009) encontraram dados
escolha profissional propostas pelo autor: correta que indicam que a percepção de estilo parental
autoavaliação, coleta de informações ocupacionais, autoritário e engajamento dos pais foi preditiva de
seleção de objetivos, planejamento do futuro e autoeficácia para a escolha profissional das mulheres.
solução de problemas, utilizando escala tipo likert de Da mesma forma como os resultados
11 pontos. Desde então, pesquisadores e psicólogos relacionados à estrutura fatorial, os estudos que
por Crites (1961) e, à medida que tais competências eficácia para escolha profissional. Revista IRICE,
não são consensuais em estudos em diferentes 22, 71-81.
culturas, uma pergunta importante que poderia Ambiel, R. A. M., & Noronha, A. P. P. (2011b).
ser feita é se de fato a proposta de Crites é a mais Construção dos itens da escala de auto-eficácia
adequada para esse fim. para escolha profissional. Psico-USF, 16(1), 23-32.
No Brasil, apenas recentemente notou-se Ambiel, R. A. M., & Noronha, A. P. P. (no prelo).
interesse no estudo da autoeficácia para escolha Escala de Auto-eficácia para Escolha Profissional:
profissional. Ambiel e Noronha (2011a; 2011b) e manual técnico. São Paulo: Casa do Psicólogo.
Ambiel, Noronha e Santos (2011) realizaram estudos Ambiel, R. A. M., Noronha, A. P. P., & Santos, A. A.
com a Escala de Autoeficácia para escolha profissional A. (2011). Escala de Auto-Eficácia para Escolha
(EAE-EP – Ambiel & Noronha, no prelo) a partir de Profissional: avaliação preliminar das propriedades
dados coletados junto a estudantes de ensino médio psicométricas. Psicología para América Latina, 21, 1-9.
e com foco na análise da qualidade psicométrica Azzi, R. G., & Polydoro, S. A. J. (2006). Auto-eficácia
do instrumento, integralmente construído no país em diferentes contextos. Campinas: Alínea.
com base na literatura estrangeira sobre o construto, Bandura, A. (1977). Self-efficacy: toward a unifying
não se tratando de uma tradução e adaptação da theory of behavior change. Psychological Review,
CDMSES. Nesses estudos, percebeu-se que também 84, 191- 215.
na realidade brasileira as cinco competências não Bandura, A. (1982). Self-appraisal and self-regulation.
foram encontradas nos fatores da EAE-EP e, nessa In J. Suls (Ed.), Psychological perspectives on the self.
direção, pode-se considerar que uma contribuição do Hilldsdale, NJ: Erlbaum.
instrumento seja a verificação de que diferentes meios Bandura, A. (1984). Recycling misconceptions of
de busca de informação, tais como a pesquisa em sites perceived self-efficacy. Cognitive Therapy and
ou reportagens e as relações interpessoais, podem Research, 8(3), 1231-1255.
explicar de forma mais ampliada o construto. Bandura, A. (1986). Social foundations of thought and
Assim, pode-se considerar que uma das action: a social cognitive theory. Englewood Cliffs,
principais utilidades da avaliação da autoeficácia para NJ: Prentice-Hall.
escolha profissional seja o planejamento de focos Bandura, A. (1995). Self-efficacy in changing societies.
de intervenção, bem como a avaliação da própria New York: Cambridge University Press.
intervenção. Para tanto, faz-se necessário que os Bandura, A. (1997). Self-efficacy: the exercise of control.
profissionais baseiem suas práticas interventivas New York: W. H. Freeman.
em teorias passíveis de avaliações de sua eficácia, na Bandura, A. (2005). The evolution of social cognitive
Psicologia brasileira de forma geral, e, especificamente, theory. In K. G. Smith & M. A. Hitt (Eds.).
na orientação profissional. Great minds in management: the process of theory
A autoeficácia para escolha profissional parece ser development. Oxford: Oxford University Press.
um construto capaz de auxiliar nesse sentido, uma vez Bohoslavsky, R. (1977). Orientação vocacional: a
que há um considerável arcabouço teórico construído estratégia clínica. São Paulo: Martins Fontes.
a partir de estudos empíricos a seu respeito, como Chaney, D., Hammond, M. S., Betz, N. E., &
pode ser observado ao longo desse texto. Entretanto, Multon, K. D. (2007). The reliability and factor
para esse fim, é necessário que pesquisadores e práticos structure of the career decision self-efficacy scale-
da área da orientação profissional e da avaliação SF with African Americans. Journal of Career
psicológica tenham familiaridade com a teoria e Assessment, 15(2), 194-205.
embutam esforços no sentido de publicar estudos Creed, P. A., Patton, W., & Watson, M. B. (2002).
que favoreçam a compreensão da abrangência e das Cross-cultural equivalence of the career decision-
limitações da avaliação da autoeficácia para escolha making self-efficacy scale-short form: an Australian
profissional no contexto brasileiro. and Shout African comparison. Journal of Career
Assessment, 10, 327-342.
Referências Cupani, M., & Pérez, E. R. (2006). Metas de
elección de carrera: contribución de de los
Ambiel, R. A. M., & Noronha, A. P. P. (2011a). intereses vocacionales, la autoeficacia y los rasgos
Avaliação preliminar dos itens da escala de auto- de personalidad. Interdisciplinaria, 23(1), 81-100.
Recebido em 09/01/2012
Revisto em 20/08/2012
Aceito em 24/09/2012