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CAPÍTULO 1

A Marcha para o DSM-5


O processo para o desenvolvimento do DSM-5 (o qual foi chamado de
DSM-V durante boa parte desse processo) começou em 1999, cinco anos após a publica-
ção do DSM-IV. Steven E. Hyman, M.D., na época diretor do National Institute of Mental
Health (NIMH), Steven M. Mirin, M.D., então presidente da American Psychiatric Associa-
tion (APA), e David J. Kupfer, M.D., que presidia o Comitê da APA sobre Avaliação e Diag-
nóstico Psiquiátrico, reuniram-se e concordaram que a APA e o NIMH deveriam realizar
um trabalho conjunto para expandir a base científica para a definição da classificação e do
diagnóstico psiquiátrico.
Conforme descrito por Regier e colaboradores (2011), as questões incluíam:
1. A definição básica de doença mental.
2. A opção de adicionar critérios dimensionais aos transtornos.
3. A possível separação de avaliação de prejuízo e avaliação diagnóstica.
4. A necessidade de abordar as diferentes expressões de uma doença ao longo da vida.
5. A necessidade de abordar diferentes expressões de transtornos mentais condicionados
por gênero e cultura.
Uma conferência copatrocinada pelas duas entidades foi realizada naquele ano para
definir as prioridades de pesquisa. Entre os participantes estavam especialistas em epide-
miologia e genética, neurociência, ciência cognitiva e comportamental, desenvolvimento
infantil e de adultos e avaliação de incapacidade. Para estimular um pensamento inovador,
as pessoas que estiveram intimamente envolvidas no desenvolvimento do DSM-IV não
foram incluídas. Os participantes reconheceram a necessidade de uma série de relatórios
para guiar a pesquisa futura e promover uma discussão aprofundada sobre temas abran-
gentes que perpassam muitos transtornos psiquiátricos. Grupos de trabalho foram criados
para discutir questões relacionadas a desenvolvimento, lacunas no sistema diagnóstico
atual, incapacidade e deficiência, neurociência, nomenclatura e questões transculturais.
Darrel A. Regier, M.D., M.P.H., foi recrutado do NIMH no ano 2000 para ser diretor do
American Psychiatric Institute for Research and Education (APIRE) da APA e para coordenar
o desenvolvimento do DSM-5. Outras conferências foram realizadas para definir a pauta de
pesquisa do DSM-5, propor o planejamento dos membros dos grupos de trabalhos e realizar
reuniões presenciais. Esses grupos, que incluíam representantes dos National Institutes of
Health (NIH) e da comunidade psiquiátrica internacional, desenvolveram uma série de rela-
tórios, que foram publicados no livro A Research Agenda for DSM-V (Kupfer et al. 2002). Uma
segunda série de relatórios, com o título Age and Gender Considerations in Psychiatric Diagnosis,
foi encomendada posteriormente pela APA e publicada em 2007 (Narrow et al., 2007).

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Em 2002, o APIRE e o diretor Darrel Regier trabalharam com líderes da Organização


Mundial da Saúde (OMS) e da World Psychiatric Association para criar uma subvenção
do NIMH a fim de implementar uma série de conferências para planejamento de pesquisa
com o objetivo de focar nas evidências científicas para revisões de áreas diagnósticas espe-
cíficas. Com Regier como investigador principal, foi concedida uma verba no valor de 1,1
milhão de dólares resultante de um acordo cooperativo entre o NIMH, o National Institute
on Drug Abuse e o National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism.
Essa verba plurianual (2003-2008) forneceu apoio financeiro a 13 conferências inter-
nacionais. Para cada uma dessas conferências, os participantes prepararam relatórios que
abordaram questões diagnósticas específicas, e, a partir desses documentos, uma pauta de
pesquisa foi determinada. Mais de cem artigos científicos foram escritos e posteriormente
compilados em monografias. Uma recomendação consistente foi a necessidade de uma
melhor integração dos critérios de avaliação categóricos e dimensionais (Helzer et al. 2008).
Os membros da Força-tarefa do DSM-IV haviam considerado a viabilidade de usar medi-
das dimensionais para avaliar os limiares de transtorno e a gravidade. Em vez disso, foram
incorporados ao DSM-IV textos sobre “sofrimento ou prejuízo clinicamente significativo”
para todos os transtornos, mas o único componente dimensional foi o Eixo V (do esquema
diagnóstico multiaxial), que possibilitou a avaliação do funcionamento global.
A Força-tarefa do DSM-5 foi criada em 2006 pelo Presidente da APA, Steven S.
Sharfstein, M.D., e pelo Chefe de Equipe Médica da APA, James H. Scully Jr., M.D., com
o Dr. Kupfer como presidente e o Dr. Regier como vice-presidente. Outros membros fo-
ram designados para a Força-tarefa, incluindo os presidentes dos 13 grupos de trabalho
de diagnósticos responsáveis pela revisão da pesquisa e da literatura utilizada para basear
suas recomendações.
O Conselho da APA estabeleceu princípios de designação, exigindo limites de recebi-
mento de investimentos e remunerações da indústria farmacêutica, definindo que no má-
ximo dois representantes de qualquer universidade poderiam participar da Força-tarefa
ou do mesmo grupo de trabalho e exigindo que um processo de veto ou revisão fosse im-
plementado por um subcomitê do Conselho. Os presidentes dos grupos de trabalho, em
conjunto com os Drs. Kupfer e Regier, recomendaram candidatos considerados grandes
especialistas em sua área aos sucessivos presidentes da APA (Drs. Pedro Ruiz e Carolyn Ro-
binowitz). Os membros da Força-tarefa foram anunciados em julho de 2007, e os membros
dos grupos de trabalho, em maio de 2008.
A Força-tarefa do DSM-5 tinha quatro princípios norteadores:
1. Dar prioridade à utilidade clínica; ou seja, quaisquer alterações nos critérios ou na or-
ganização do manual deveriam ser úteis para os clínicos.
2. Usar evidências de pesquisa acumuladas desde a publicação do DSM-IV como guia
para realizar alterações.
3. Manter a continuidade histórica com relação às edições anteriores, especialmente ao
DSM-III e ao DSM-IV.
4. Não estabelecer a priori quaisquer limites às mudanças sugeridas pelos grupos de
trabalho.
Os membros da Força-tarefa respeitaram esses princípios e compreenderam que quais-
quer alterações no manual afetariam potencialmente o atendimento clínico, a prevalência
dos transtornos, os protocolos de pesquisa e as práticas de codificação e faturamento. Os
avanços de diagnóstico seriam alcançados por meio de um processo cuidadoso e transpa-
rente envolvendo revisões de literatura detalhadas, análises secundárias de conjuntos de
dados existentes e análises primárias de dados coletados recentemente.

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Capítulo 1 A Marcha para o DSM-5 3

A Força-tarefa recebeu a responsabilidade de abordar questões conceituais por meio de


seis grupos de estudo (diferentes dos grupos de trabalho). Cada um desses grupos recebeu
a incumbência de orientar o desenvolvimento geral das revisões para uma das seguintes
áreas diagnósticas específicas:
1. Espectros diagnósticos e harmonização DSM/CID: Este grupo avaliou os espectros das sín-
dromes entre os limites diagnósticos existentes, fez recomendações para a estrutura
global das categorias do DSM e identificou 11 critérios potenciais para se testar a vali-
dade dos diagnósticos de transtorno mental, representando uma expansão dos cinco
critérios de validação originais propostos por Robins e Guze (1970).
2. Abordagens de desenvolvimento ao longo da vida: Este grupo focou em diferentes expres-
sões dos transtornos mentais que podem surgir em idades progressivas nos estágios da
vida do desenvolvimento humano.
3. Questões transculturais e de gênero: Este grupo foi estabelecido para avaliar as diferentes
expressões de equivalência de sintomas dos transtornos mentais mediados por gênero
e cultura.
4. Interface entre clínica geral e psiquiatria: Este grupo foi formado para analisar as abor-
dagens que facilitariam uma melhor interface entre as abordagens ao diagnóstico dos
transtornos clínicos gerais e dos transtornos mentais.
5. Deficiência e incapacidade: Este grupo foi formado para analisar o desenvolvimento de
estratégias globais de avaliação de deficiência e incapacidade.
6. Instrumentos de avaliação diagnóstica: Este grupo considerou a necessidade de abordar
questões de medição e avaliação.
Finalmente, um sétimo grupo de estudo foi criado com o objetivo de revisar análises de da-
dos secundários propostos à APA para financiamento a fim de avaliar a base de evidências
para as revisões propostas.
Os grupos de trabalho reuniam-se regularmente por videoconferência e realizavam
reuniões duas vezes ao ano. Uma tarefa inicial para os grupos foi analisar em que medida
o DSM-IV funcionou ou falhou em satisfazer as necessidades dos clínicos. Por exemplo,
os grupos de trabalho estudaram a melhor maneira de avaliar a gravidade dos sintomas
e de lidar com o problema de múltiplas comorbidades. Outras metas incluíram a redução
de diagnósticos “sem outras especificações” (considerados problemáticos e usados em de-
masia) e o aprimoramento de critérios diagnósticos pouco precisos. Os grupos de trabalho
também tiveram como objetivo especificar melhor os alvos de tratamento para auxiliar os
clínicos a identificar os sintomas que poderiam ser abordados no tratamento. Além disso, a
Força-tarefa do DSM-5 concentrou-se na melhor maneira de incluir a avaliação de sintomas
comuns não abordados entre os critérios diagnósticos para uma doença específica (p. ex.,
sintomas de insônia que podem ocorrer em um paciente com esquizofrenia).
Também foi solicitado que os grupos de trabalho realizassem as seguintes tarefas:
1. Esclarecer os limites entre os transtornos mentais para reduzir a confusão dos transtor-
nos entre si e ajudar a orientar o tratamento efetivo
2. Considerar sintomas transversais (aqueles que comumente ocorrem em diferentes
diagnósticos)
3. Demonstrar o ponto forte da pesquisa para as recomendações com base no máximo
possível de níveis de evidência
4. Esclarecer os limites entre transtornos mentais específicos e o funcionamento psicoló-
gico normal

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As revisões dos critérios diagnósticos foram desenvolvidas pelos grupos de trabalho


com base em uma revisão de evidências de pesquisa, análises de dados selecionados e con-
senso de especialistas. Resumos das principais questões dos grupos de trabalho foram pos-
tados no site do desenvolvimento do DSM-5, e buscou-se incentivar a participação do pú-
blico e de profissionais da área mediante comentários. A fase final do desenvolvimento do
DSM-5 incluiu interações entre os grupos de estudo e os grupos de trabalho de diagnóstico.
Um dos objetivos foi estabelecer uma estrutura com vistas ao desenvolvimento do sis-
tema diagnóstico para aprimorar a prática clínica e facilitar a testagem contínua dos crité-
rios diagnósticos. A Força-tarefa concluiu que um avanço importante seria incorporar me-
didas dimensionais simples para avaliar síndromes tanto dentro de categorias diagnósticas
abrangentes quanto entre essas categorias (Regier, 2007).

DSM-V ou DSM-5?
Um dos objetivos da Força-tarefa foi definir o DSM-5 como um documento “vivo”, para
que alterações futuras pudessem ser feitas rapidamente em resposta a avanços científicos.
Os membros da Força-tarefa concluíram que a capacidade de responder de maneira rápida
e ágil seria mais bem alcançada por meio do uso do numeral arábico no lugar dos numerais
romanos, os quais têm sido usados desde que o DSM-II foi publicado, em 1968; portanto,
adotou-se a nomenclatura de DSM-5 em vez de DSM-V. Como a tecnologia permite a ime-
diata disseminação da informação em todo o mundo, os numerais romanos foram considera-
dos muito limitantes, sobretudo considerando que a ocorrência de futuras revisões textuais
parecia provável. Por exemplo, uma designação “TR” (como em DSM-IV-TR) somente pode
ser usada uma vez. Para simplificar, alterações que ocorrerão antes da próxima revisão com-
pleta do manual poderão ser designadas como DSM-5.1, DSM-5.2, e assim por diante.

Avaliação Dimensional
Um dos desafios de se diagnosticar precisamente os transtornos mentais consiste em ser
capaz de avaliar totalmente uma variedade de sintomas e outros fatores nos pacientes.
Desde o DSM-III, os transtornos têm sido descritos e organizados em categorias, com uma
lista específica de critérios para cada transtorno mental. Com esse sistema categórico, uma
pessoa tinha ou não tinha um sintoma, e era preciso apresentar determinado número deles
para que um diagnóstico pudesse ser estabelecido. Se esse número de sintomas não fosse
alcançado, o transtorno não era diagnosticado.
O uso de critérios representou um grande aprimoramento em comparação com as dire-
trizes anteriores disponíveis para diagnosticar pacientes com transtornos mentais, mas as
abordagens categóricas nem sempre se ajustam à realidade da variedade de sintomas que
as pessoas apresentam. Por exemplo, pessoas com esquizofrenia frequentemente têm ou-
tros sintomas que não condizem com os critérios para diagnosticar esse transtorno (p. ex.,
depressão, ansiedade). Já que os critérios diagnósticos exigem uma decisão do tipo sim/
não do clínico, na maioria dos casos não há um método no DSM-IV que dê conta da gravi-
dade do transtorno nem uma maneira fácil de determinar se o paciente está melhorando
com o tratamento.
Solicitou-se aos grupos de trabalho que considerassem maneiras de incorporar um mé-
todo simples que permitisse aos clínicos captar os sintomas e a gravidade dos transtornos

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Capítulo 1 A Marcha para o DSM-5 5

mentais com a utilização de medidas dimensionais, as quais os capacitariam a avaliar os


pacientes considerando toda uma gama de sintomas. As avaliações dimensionais permi-
tem que os clínicos classifiquem a presença e a gravidade dos sintomas (p. ex., como muito
grave, grave, moderado ou leve). Essa classificação também pode ser usada para acompa-
nhar a evolução do paciente com o tratamento e pode servir como uma maneira de obser-
var melhoras mesmo quando os sintomas não desaparecem. Também se solicitou que os
grupos de trabalho examinassem as evidências científicas disponíveis e determinassem as
avaliações dimensionais adequadas para a doença específica que estivesse sendo revisada,
além de fornecerem aos clínicos orientação específica sobre seu uso. As avaliações dimen-
sionais são discutidas no Capítulo 20, “Instrumentos de Avaliação”.

Confiabilidade Diagnóstica e Ensaios de Campo


Os membros da Força-tarefa do DSM-5 entenderam a necessidade de uma confiabilidade
diagnóstica. A confiabilidade se refere ao grau de certeza com que se pode prever que clíni-
cos diferentes estabelecerão o mesmo diagnóstico para o mesmo paciente. Embora a con-
fiabilidade diagnóstica raramente seja absoluta em qualquer campo da medicina, ela tem
uma importância enorme. Se dois clínicos fornecerem dois diagnósticos diferentes para um
mesmo paciente, um deles provavelmente está errado. Métodos de testagem da confiabi-
lidade foram desenvolvidos para o DSM-5 para oferecer um quadro mais preciso da con-
fiabilidade clínica real em relação ao que ocorreu com os ensaios de campo para as edições
anteriores (Kraemer et al., 2010, 2012). A confiabilidade foi avaliada por meio de uma série
de ensaios de campo; o processo incluiu o exame de critérios diagnósticos específicos, as-
sim como alterações globais aplicáveis a vários transtornos, como a integração de medidas
dimensionais e escalas de gravidade diagnóstica.
Os ensaios de campo utilizaram dois delineamentos. No primeiro, um delineamento
de grande escala implementado em 11 centros médicos acadêmicos, aproximadamente 2
mil pacientes foram atendidos. No segundo delineamento, criado para ser usado por clí-
nicos que trabalham sozinhos ou em pequenos grupos, aproximadamente 1.450 pacientes
foram atendidos. Os delineamentos forneceram uma oportunidade de examinar a confia-
bilidade, a utilidade clínica e a viabilidade das alterações propostas tanto em ambientes de
prática de pesquisa de grande volume quanto em ambientes de atendimento clínico diário.
As entrevistas diagnósticas foram realizadas por psiquiatras e outros profissionais da área
da saúde mental, dos quais se esperava que fossem utilizar o manual no atendimento diá-
rio dos pacientes. As entrevistas foram naturalísticas, não empregando entrevistas estrutu-
radas, para replicar o que os clínicos fazem no dia a dia.
Nos ensaios de campo para as edições anteriores do DSM, o principal método para me-
dir a confiabilidade foi o teste interobservador, no qual um ou mais observadores revisam o
material do mesmo paciente ao mesmo tempo. O delineamento é responsável pelo “ruído”
da inconsistência clínica, mas não pode ser responsabilizado pelas diferenças na maneira
como os pacientes com a mesma condição podem se apresentar ou pelo fato de um mesmo
paciente apresentar-se de maneira diferente em dias diferentes. Por isso, o teste de confia-
bilidade interobservador pode produzir um escore que talvez não reflita a realidade clínica.
A confiabilidade teste-reteste foi examinada nos ensaios de campo do DSM-5. Esse delinea-
mento exige que os mesmos pacientes sejam observados separadamente por dois ou mais
avaliadores em um intervalo de tempo durante o qual a condição clínica dos pacientes tem
pouca probabilidade de ter mudado; além disso, a estatística kappa é calculada.

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As inovações nos ensaios de campo incluíram seleção aleatória de pacientes com pou-
cos critérios de exclusão; uso de clínicos não selecionados de acordo com uma especia-
lização nos transtornos que estavam sendo avaliados; aplicação do sistema completo do
DSM-5 em cada avaliação (em vez de focar em um diagnóstico de cada vez); e orientações
aos clínicos participantes para que estabelecessem diagnósticos de acordo com sua prática
habitual, e não com base em uma entrevista diagnóstica padronizada (raramente utilizada
na prática clínica). Essas mudanças foram implementadas para serem testadas com crité-
rios diagnósticos de fidedignidade ideal desenvolvidos para clínicos do mundo real que
tratam pacientes reais.
Os resultados preliminares dos ensaios de campo foram apresentados no encontro
anual da American Psychiatric Association em 2012. Os critérios do DSM-5 foram ade-
quadamente confiáveis para a maioria dos estudos de transtornos, enquanto as clas-
sificações dimensionais apresentaram resultados melhores. Os valores kappa dos tes-
tes conduzidos nos centros acadêmicos ficaram na faixa “excelente” para os seguintes
transtornos: transtorno do espectro autista, 0,69; transtorno de estresse pós-traumático,
0,67; transtorno de déficit de atenção/hiperatividade, 0,61; e transtorno neurocognitivo
maior, 0,78. Os seguintes transtornos ficaram na faixa “bom”: transtorno bipolar tipo
I, 0,54; esquizofrenia, 0,46; transtorno esquizoafetivo, 0,50; lesão cerebral traumática
leve, 0,46; e transtorno da personalidade borderline, 0,58. Outros transtornos tiveram um
desempenho pior: transtorno de ansiedade generalizada, 0,20; e transtorno depressivo
maior, 0,32. Embora a síndrome de psicose atenuada tenha apresentado um resultado
razoavelmente bom (0,46), o intervalo de confiança de 95% estendeu-se a zero, o que
sugere um ensaio falho.
Embora os valores kappa relatados para o DSM-III e para o DSM-IV tenham apre-
sentado resultados melhores (p. ex., 0,59 para transtorno depressivo maior), as amostras
de pacientes diferiram muito nesses ensaios de campo iniciais em que os pacientes com
comorbidades psiquiátricas foram excluídos.

Aprovação final
As revisões sugeridas para o DSM-5 passaram por uma análise rigorosa e de múltiplas
etapas antes da aprovação do Conselho da APA. Durante 2011 e 2012, as alterações su-
geridas continuaram a passar por revisão, com contribuições dos membros da APA e de
outras pessoas por meio de três postagens no site do desenvolvimento do DSM-5. Os dados
dos ensaios de campo foram analisados, discutidos e integrados às sugestões durante o
processo de revisão. Um comitê de revisão científica foi encarregado de revisar a ciência
que validava as evidências para as revisões. Houve um processo de revisão por pares, no
qual centenas de revisores especialistas consideraram os riscos e os benefícios clínicos e de
saúde pública de se implementar alterações em relação ao DSM-IV. A Assembleia da APA,
seu corpo administrativo, debateu o DSM-5 e votou para aprovar o novo manual no seu
encontro anual em novembro de 2012.
Por fim, houve uma revisão geral realizada pela Força-tarefa do DSM-5, a qual enviou
as recomendações finais em conjunto com todos os dados de apoio ao Conselho da APA
para a revisão final. O esboço final foi aprovado pelo Conselho em dezembro de 2012 e
então submetido à American Psychiatric Publishing, uma divisão da APA. O lançamento
oficial do DSM-5 foi marcado para o 166º Encontro Anual da APA em São Francisco, de 18
a 22 de maio de 2013.

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Controvérsias envolvendo o DSM-5


O processo de revisão não ficou imune a controvérsias, mas isso deve ser colocado em
perspectiva: todas as edições anteriores do DSM foram acompanhadas por consternação
pública considerável, e o DSM-5 não foi exceção. Uma onda de críticas começou cedo, tanto
entre os especialistas na área quanto entre o público em geral.
As principais preocupações de vários críticos estavam nos fatos de que faltou abertura
e transparência ao processo do DSM-5; as decisões foram tomadas de maneira voluntariosa
e não seguiram as evidências; não foi realizada uma revisão científica independente; as ta-
xas de confiabilidade eram inaceitavelmente baixas; as taxas de prevalência aumentariam
porque os limiares para categorias importantes (p. ex., transtorno de déficit de atenção/
hiperatividade, transtorno neurocognitivo leve, transtorno disruptivo da desregulação do
humor) eram muito frouxos; e muitos membros da Força-tarefa e dos grupos de trabalho
tinham conflitos de interesse.
As alegações de conflito de interesse foram parcialmente incitadas por um artigo de
uma revista eletrônica que sugeria que a política de divulgação de informações financeiras
não havia resultado em uma redução dos conflitos (Cosgrove e Krimsky, 2012). O artigo
fazia comparações com o processo de desenvolvimento do DSM-IV (para o qual havia pou-
cos requisitos limitadores a serem divulgados) e sugeria que houve aumento dos conflitos
entre os membros da Força-tarefa do DSM-5 e dos grupos de trabalho. A APA respondeu
que os dados mostravam que 72% dos membros da Força-tarefa e dos grupos de trabalho
não tinham relação com a indústria farmacêutica em 2011. Dos 28% restantes, 12% relata-
ram somente apoio financeiro por meio de subsídios, 10% relataram consultorias pagas, e
7% informaram que receberam honorários.
Várias categorias diagnósticas receberam uma crítica especial. Um das principais
preocupações era a introdução do diagnóstico dos transtornos do espectro autista, no qual
cinco diagnósticos do DSM-IV-TR (transtorno autista, transtorno de Asperger, transtorno
desintegrativo da infância, síndrome de Rett, transtorno global do desenvolvimento sem
outra especificação) foram consolidados. Os grupos de interesse liderados por aqueles que
queriam preservar o transtorno de Asperger estavam preocupados com o fato de que os no-
vos critérios relegariam os indivíduos com esse transtorno ao abandono diagnóstico. A de-
cisão de retirar a “exclusão do luto” para transtorno depressivo maior foi criticada por pes-
soas que alegaram que a mudança transformaria o luto normal em um transtorno mental.
A síndrome de psicose atenuada foi duramente criticada por alguns que foram motivados
pela preocupação de que o diagnóstico estigmatizaria injustamente as pessoas pelo simples
fato de serem consideradas estranhas pelos outros ou por causa de sua história familiar e
de que não é possível identificar de maneira confiável as pessoas com probabilidade de
desenvolver psicose; além disso, como não há tratamentos comprovados para o transtorno
proposto, o diagnóstico simplesmente aumentaria o uso não indicado de antipsicóticos em
uma tentativa fútil de tratar o transtorno. (O Grupo de Trabalho de Transtornos Psicóticos
depois recomendou a inclusão da síndrome de psicose atenuada na Seção III, “Condições
para Estudos Posteriores”.) Da mesma forma, o transtorno disruptivo da desregulação do
humor foi criticado por rotular as crianças irritáveis como com um transtorno mental, o
que também aumentaria o uso não indicado de antipsicóticos.
Por fim, mais críticas foram direcionadas a todo o capítulo de transtornos da persona-
lidade (discutido em mais detalhes no Capítulo 18). Além de recomendar que o número
de transtornos fosse reduzido de 10 para 6, o Grupo de Trabalho de Personalidade e de
Transtornos da Personalidade sugeriu alterar os critérios diagnósticos para os transtornos

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restantes e incorporar um esquema complexo para classificar até cinco domínios de traços
de personalidade e 25 facetas. Os críticos apontaram que os novos critérios eram tão com-
plexos que seriam impraticáveis para clínicos muito ocupados e que um grupo já margina-
lizado de pacientes seria ainda mais marginalizado por clínicos que ignoravam os novos
critérios. O fato de dois membros do grupo de trabalho terem-se retirado em 2012 acirrou
ainda mais as críticas. O Conselho da APA então votou para incluir os critérios de trans-
tornos da personalidade do DSM-IV na Seção II e incluir o modelo proposto na Seção III.
Apesar desses vários desafios, a Força-tarefa e os 13 grupos de trabalho persistiram, e,
ainda que a programação inicial não pôde ser seguida (o plano inicial era que o lançamento
acontecesse em 2012), o DSM-5 surgiu saudável e forte e provavelmente muito aprimorado
devido ao intenso interesse (e às contribuições) de clínicos e pesquisadores, assim como do
público.

Resumo
O processo que levou ao DSM-5 começou há 14 anos e foi muito parecido com o pro-
cesso que levou às versões anteriores – DSM-III, DSM-III-R e DSM-IV –, por envolver a
participação ativa de líderes na área da psiquiatria e centenas de psiquiatras e psicólo-
gos. O processo foi de trabalho intenso, aberto e transparente e teve múltiplas etapas de
revisão. A Força-tarefa declarou desde o início que o DSM-5 deveria ser transformador
e cumpriu essa promessa, criando um documento de 947 páginas (sem incluir a lista de
classificação e o prefácio) que introduziu a avaliação dimensional de uma maneira mais
fundamental do que seus predecessores, introduziu muitos novos diagnósticos, consoli-
dou muitos outros e eliminou alguns. Dentro do possível, as alterações foram baseadas
nas melhores evidências científicas, em análises de bancos de dados e em novos dados
de ensaios de campo.

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