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Projeto

PERGUNIE
E
RESPONDEREMOS
ON-LlNE

Aposto lado Veritatis Splendor


com autorização de
Dom Estêvão Tavares Bettencourt, osb
(in memoriam)
APRESENTAÇÃO
DA EDiÇÃO ON-LlNE
Diz São Pedro que devemos
estar preparados para dar 8 razao da
nossa esperança a todo aquele que no-Ia
pedir (1 Pedro 3,15),
Esta necessidade de darmos
conta da nossa esperança e da nossa fé
, ..... . hoje é mais premente do que oU1rora,
:$ .....
. . .7'... , .' visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrárias à fé católica. Somos
assim Incilados a proOJrar consolidar
nossa crença católica mediante um
aprofundamento do nosso eSludo.
Eis o que neste site P~ngunte e
Responderemos propõe aos seus leitores:
aborda queslões da alualidade
controvel1idas, elucidando-as do ponto de
vista cristão a fim de que as dúvidas se
..' dissipem e a vivênda católica se fortaleça
._ , ,,, no Brasil e no mundo. Queira Deus
abençoar este trabalho assim como a
equipe de Veritatis Splendor que se
encarrega do respectivo site.
Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.
Pe. E$tev'o Beuencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convênio com d. Estevão Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre alual
conteúdo da revista teológico - filosófica · Pergunte e
Responderemos·. que conia com mais de 40 anos de publicação.
A d, Estêvão Benencourt agradecemos a conllaça
depositada em nosso Irabalho, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados,
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ANO XV Nt 172
Índice
p'g.

o OUELO OA VIDA COM A MORTE .. . ...... . ..... _. .. •. ... . .. 133


Pita r.nedo IndlYkfual • comu"lt,bla:
"A EVANGELIZAÇAO DOS POVOS" .. . ... .
'"
OUTRO DOCUMENTO DE A UTORIDADE • ... • .•.••• . • • .•• • •.•..•
Um ,.n6m. no dOi nOl'OI di.. :
'"
SEITA E ESPIAITO SECT-'.RIO : QUE 51.0? ...... . •. . • .•.••.. . 155
M... uma VIZ no clnem. :
"JESUS CRISTO SUPEAS1AR" ......... . .......... . .......... . '66
Inicllçlo crisll:
PRIMEIRA CONFISSAO E PRIMEIRA COMUNHAO .... . . •...
RESENHA DE LI VROS
'"
176

COM APROVAÇÃO ECLES,ASTlCA

• • •
NO PROXIMO NOMERO :
In!ercomunhõo e ucaríllica paro católicas, protestanles e orto-
d oxos, _ . 0 exorcista » : um romance -filme em fo co. - Um filme
dinClmeHq Uês sobra 1.,u, Crilto..

x ---
AOI nonOI enino"I., pedimtu queir.am relevar a qualidade do
papel de PRo Deve-se à crise do merc.odo, que esperamos superar
em breve.
x
. PERGUNTE E RESPONDEREMOS .
Ass Inatura anual ............. . .... . .......... . .......... Cr$ 40.00
Numero avu lso de q ua.IQucr mês ... .... ... .. ........ . ... e l $ 5 .00
Volum~s encadernados de 1!JS8 e 1959 (preço unItário ) ... C r$ 35,00
IndlCe Ceral de 1957 a 1001 .. . .. ... . ..... ................ Cr$ 10,00

E DI TORA LAUDES S. A .
RlmAçAO DE rito ADI\IINISTRAÇAO
Cal:u }'0511\1 2.866 Rua Silo RllI'ael, 38, ZC-OO
ZC&O 20000 RIo de. l anelro (OB)
20.000 nlo de JlI.llelro 1GB) Tels.: 21HHI981 e Zaa'Z7Dtl

Na OH, li. Rua. Real Grandeza 108, a. Ir. ~Ia.ria. Rosa Porto
tem 11111 d epósito de PR e reeebe pedidos d e a..~·dnllt\lra da
revisla. Te!. : 226·1822.
o DUELO DA VIDA COM A MORTE
Abril, no calendârlo cristão de 1974, ê o mês da Páscoa.
festa em que se celebra o duelo da Vida contra a Morte, com a
vitória final da ,V ida .
Essa ce1ebraçio é apta a encontrar eco em todo homem.
Com efeito, não há aspiração mais arraigada e espontAnea no
ser humano do que a asplraçáo li. vida; esta é 'O bem fundamen-
tal, sem o qual ninguém pode aspirar a QUtros valores . Obser-
ve-se, por exemplo. quanto é comwn a exclamado . Vlva . .. !.-
Os gregos pré-cristãos tanto estimavam a vida que 8 julga.
vam preI'l'ogativa dos deuses; estês eram imortais (a.thánatol),
ao passo que OS homen~ são fadados a morrer. O que, segundo
o helenismo, düerenclava dos homem; os deuses, era precisa-
mente a imortalidade (atbaaula) . Sófocles, em belo poema,
canta as grandezas do homem: este domina a Mãe-.TeInl, sem·
pre fecunda, que ele rasga pela lavoW'8.t para aiTan~lhe os
trutos; domlna os animais terrestres, que ele caça; domina os
ares, cujos pássaros ele consegue captar; domina: as águas, em
cujas profundidades ele penetra, anoebatando-lhes os peixes e
corais , Todavia não consegue dominar a morte, diante da qual
ele f1nalmente se prostra, inexoravelmente venddo .
Entre 09 judeus, eram freqüéntes as laIÍlentAc&s do justo
que se via cedo ou tarde entregue ~ morte; d . SI 6,6; 87,2-19;
89,9-15; Is 38, 10-15. .
Ainda hoje os homens experimentam o incoerclvel desejo
de Viver no pleno sentido da palavra, mas aJnda têm que se
dobrar diante do enigma da morte .
Pergunta-se então: por que tal paradoxo? Por Que terá
Deus incutido a.o homem o desejõ na.tural e veemente de viver.
fazendo, porém. que. desde o deSpertar da razão. ele se saiba
condenado à morte?
Em resposta, dizemos Que a pergunta, intrigante e desa-
fIadora como é, está mal fonnulada, aOS olhos de um crl.stão.
Ela tem que ser recolocada .
Na verdade, a vida para a qual Deus fez o homem, não é ·a
presente vida.; esta é lnsuficiente ou exfgua demals para o hcr
mem, que tem a sede e a capacidade do InfL"lito . Segundo as
Escrituras Sagradas. Deus ê a Vid:l. o Deus vivo . Por con·
seguinte. viver, no sentido blblico, ê fruir do consórcio do Se-
nhor Deus. ê estar com Ele para sempre.
Acontece, porém, que na existência presente a adesão a
Deus ou à Vida é contraditada pelo pecado, que habita no ho-
-133 -
mem e o indta a se afastar do Supremo Bem, para cair na
morte. AS . Escritura 1nsIste em associar Deus e vida. Pecado
e morte: cDeus não é o autor da morte, nem se çompraz na
perdição dos viventes . .. Deus criou o homem para a imortali-
dade e tê-lo à imagem da sua própria natureza . Por inveja do
demônio é que e. morte entrou no MWldo:t (Sab 1.13; 2,23s:
d . Ez 18,32) .
Sendo assim; diz a Escritura, Deus se dignou assumir a
vida mortal do homem : o li"ilho de neus feito homem, JeSus
Cristo. atraves90u a própria morte do homem, com seus pre-
cursores (o sofrimento, 8 agonia, a cruz) . Atravessando-os,
P!)rém, em atitude de ódio 80 pecado e amor ao Pal, Cristo
d1vin1zou~, dando-lhes o valor de canais para a posse defini·
tiva. da Vida.
O cristão tem consciência disto. Ele sabe também que foi
enxertado em Cristo pelo Batismo e a Eucaristia, de modo que
nele duas vidas lie encontram: a vIda física, precária, à qual tão
facilmente o homem se apega, vida, porém, mortal segundo as
leis da própria bloloJtia . A outra vida que o cristão traz dentro
de si, é a vida etema, recebida de Cristo; esta não conhece
ocaso, mas, ao contrArio, tende a se abrir cada ' vez mais, a
fIm de chegar à sua estatura definitiva. Por isto nos dias de
nossa vida terrestre dá-se um 'paradoxal processo: «Estando
ainda vivos, somos a toda hora entregues à morte por amor de
Jesus, para que a vida de Jesus se manifeste também em nossa
carne mortal .. . Ainda que o nosso homem ~exterior seja des--
truido, o nosso homem interior se renova de dia para dia:t (2
Cor 4,11.16) .
Eis, pois, a resposta do Senhor Deus aos anseios mais
espontâneos do homem: a Vida-Vida, a vida sem morte, Cristo
no-la trouxe, quando entrou em nossa vida·morte. Agora tra~
ta-se, para o cristão, de trocar e. vida-morte pela Vida...Vida .
Este é um ptocesso QUê diariamente Sê vai realizando. na medi-
da em que carregamos a nossa morte natural (nossas renúncias,
nossas moléstias e tad1gas • •. ) em atitude de amor ao Pai, não
simplesmente em etitude de confonnismo cabisbaixo .. . . Então
a nossa Cl"llZ se ' nos torna motivo de ma.ls intima .cotúiguracão
Aquele que ê o Senhor da Vida (cf. At 3,15).
São Paulo amplia ainda o horizonte, quando nos diz que
esse morrer-ressuscitar cotidiano com Cristo tem valor reden·
tivo em favor de nossos innãos . Cf 2 Cor 4,10.12.15 .
Tal é a mensagem que este mês de a bril nos comunica . Ele
nos lembra que a testa de P ãscoa se prolonga nas m ais come--
zlnhas realidades da nossa existência cOtidiana .
E.R.
-134 -
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS»
Ano XV - N' 172 --.:.. Abril de 1974

Para refledo IndividuaI e comunitária:

"a evangelização dos povos"


(texto-basa P". o Slnodo MundIal dos Bispos
Roma, outubro 74)

"Em outubro IPf., Munir-se-á em Roma mais wn Sínodo


Mundial dos Bispos, OU seja. uma assembléia de representantes
do episcopado de todas as partes do mundo. Te.is assembléias
têm lugar periodicamente a fim de estudar questões atinentes
à vida da Igreja de ho1e e fornecer subsidios ao governo central
da S. Igreja. .
P ara o próximo Sinodo foI escolhido o tema cA Evangeliza-
ção dos Povos ~, ou seia. os problemas concernentes à ~munica­
çio da Boa-Nova (lU do Evangelho aos homens de hoje . Sabe-
-se, com efeito. que motivos fUosófieos, como também razões
práticas decorrentes da mentalidade e da civilizaçãO contem-
porineas. dificultam essa tarefa palmar da S. Igreja, Que é a
de anunciar a Boa-Nova de Jesus Cristo; esta foi concebida
pa.r~ troos os homens e todos os tempos.

A f1m de preparar os estudos do Sinodo. a Santa Sé ela-


borou um documento que incita os bispos do mundo inteiro a
refletir desde lA sobre o assunto, podendo associar a essa re-
flexão outros membros do Povo de Deus. O documento está
muito bem elaborado, de modo a prestar-se a proveitosos estu·
dos do clero. e do lalcato católico. Eis por que vai publlOlldo
nas páginas que se seguem, à guisa de Incitamento e subsidio
para a reflexão em grupos ou em particular sobre a' capital
questão da comunicação da Boa·Nova ao mundo de hoje.

Como se poderá. ver, o texto consta de três partes: 1) To--


mada de consciência do problema: fatores que 'hoje em dia favo-

-135 -
4 cPERCUNTE E m:sPONDEREMOS:. 1"7211974

recem e dlftcu1tmD • evangellzaçio; 2) O que a 19n!ja entende


propriamente 'por evaogelba!:iO: apresentação de llnhas teoló-
gicas, dlsslpaçfio de mal-entendidos e equlvocos; 3) OrIentações
e sugestões para atender à problemiUca proposta.
O documento vai aquJ tn.nscrlto segwldo a tradução por-
tuguesa que veio diretamente de Róma . Apenas nos permitimos
adaptar a grafia de certas palavras ao uso comum no Brasil.

EVANGEUZAÇAO DO MUNDO CONTEMPORANEO

lNTRODUÇAO
1. O mundo moderno encontra-se em plena evoluçao:
as pessoas e as comunidades, de fato, constroem com a sua
própria atividade a vida Individuai e social. Começa um novo
modo de viver, em virtude da Industrialização, da urbanização,
de Independência alcançada por novas nações, etc. Mais ainda:
naa próprias consciências dos homens estão em mudança os
critérios d~ ajuizar e a escala dos valores.

2. Nesta nova configuração que o mundo está a assu-


mir, Cristo, com 8 sua j)aixão e com a sua RessurrelçAo, tem
de estar presente: como principio da vida et9rna, à qual todos
somos chamados, como sentido da hlst6ria, como modelo do
homem novo, isto é, como fundamento da esperança do
homem todo.

3. Esta presença salvadora de Cristo realiza-se através


da medlaçAo da Igreja: Deus, na verdade. quer que todos
os homens se selvem na unidade do Povo de Deus e pelo
ministério deste Povo. " mediação da Igreja é exercida com
a evangellzaçao.
4. Com a palavra "evangelização" entendem~se hoje em
dia, comumente, diversas coisas. Este termo pOde designar,
em primeiro lugar, toda a atividade por melo da qual o mundo
é transformado, dê ClualCluér modo. em cOnformidade com a
vontade de Deus criador e redentor. Depois, exprlmo-se com
a mesma palavra aquela atividade, a um tempo real e pro-
fética, pela qual é edificada a Igreja, segundo a Intenção de
Cristo. Mais freqOentemente, dé:~se ao termo uma te;rcelra
acepção: aquela com que S9 significa a atividade mediante

-136 -
a qual O Evangelho é proclamado e explicado, e mediante a
qual a fé vlv.a é suscitada nos nAo-crlstAos e alimentada -nos
crlslãos (pregaçao ml..lon6rla. BIIvld.de catequéll!:à. hcmllé-
tlca, etc.). Por fim, o significado da palavra é restringido, para
indicar apenas o primeiro anúncio do Evangelho feito a08 ·
nA~ristios, pelo · qual é suscitada a fé (pregação · mlssloné.·
ria· kerigma). .

Este9 v6.rlos sentidos da palavra, no entanto, estão de


tal maneira .conexos entre si , que nio podem distinguir-se
adequadamente as atividade por eles desIgnadas. AssIm, nas
discussões sucede nascerem multas vezes amblguldades, por
isso mesmo que, por "evangelização", uns entendem uma
coisa, e outros entendem outra. Por um motivo de clareza,
portanto, nestas páginas, que são um "Instrumento de traba·
lho", a palavra "evangellzaçAo" é entendida no terceiro ssn·
tIdo acima apontado; ou seja: a atividade com a qual a Igreja
proclama o Evangelno, para Clue dai nasca, se esclareça e
tome lR'Cremento a fé.
5. Dado, porém, que na multipllcidac1e de situações em
que se acha a IgraJa universal, as várias Igrejas particulares
obtêm resultados diferentes e têm de fazer face a falhas e a
necessidades diversas, é sobremaneira útil que se faça a cO w
munlcação das experiêncIas positivas e negativas entre as
me9mas igrejas, umas .com aa outras e com a Sé Apo9tóllca,
a fim de que a ação coord9na~a do Povo de. Deus, a partir
disso. seja orientada com maior eficiência para a evangelf·
zação.

PRIMEIRA PARTE
PAMORAMA DA EVAMGELIZAÇAO M" HODIERM"
SITUAÇAO DO MUNDO

Com o Intuito de uma reflexão teol6gico--pastoral e para


dela deduzir orientaçOes práticas, é preciso descrever as si·
tuações nas quais a Igreja se acha a exercer a evangelização.
Desse modo tornarws&-é possfvel Indicar os aspectos comuns
a toda a Igreja, e aqueles que são caracterlstlcos de cada
uma das Igrejas. 1

1lgreJ" • Ig,..,.. p.rtleu'..... . 10 el!prasal5es que nesle Documento


sIgnIfIcam dlOCftn ~u b"pactot (nota do radator da mista).

-137-
cPERGUNTE E RESPONDEREMOS,. 172/1974

FATORES QUE, PODEM SER FAVORÁVEIS


A EVANGELlZAÇAO

Anles de mais nade, será útil pOr em realce aqueles el~


menlos que na situaçãa hodierna podem abrir os caminhos à
evangelização e dispor os homens para a receber. Indicamos \
alguns de entre esses ,elementos, acerca dos quais se poderA
perguntar se estes precisamente, ou outros, se encontram pre-
sentes nas Igrejas particulares, e se verdadeiramente favore-
cem a· evangelizaçlo.
A) OS homens buscam um novo estilo de vida, a liber-
tação de todas as formas de servidão e a evolução e promo-
ção do homem todo.
B) Na sociedade humana também os Individues, singu-
larmente, procuram o sentido da vida e cada dia mais se
vêem Imersos nesta discussão.
C) A Insatisfação nAo nasce apenas devido à falta de
progresso. mas cresce também com o advento do pt6prio pro-
gresso.
D) A Igreja é cada vez menos Identificada com as estru-
turas polltlias da sociedade e tem a posslbll1dade de mani-
festar mais claramente a sua natureza religiosa.
E) Observa·se uma certa reação conlra o conformismo
e contra o imobilismo, que se manifesta na contestação das
estruturas Impostas do exterior.
F) As novas formas comunitérias, de qualquer gênero.
que vão su rgi~do por toda a parte, manifestam a inclinação
do homem para incre.mentar a solidariedade mútua.
G) Aumenta o sentido da responsabilidade pessoal.
H) As formas menos nobres de religiosidade sãó enca-
radas como coisas vãs, e são ou rejeitadas ou então corrigi-
das; aumenta. pelo contrário, o apreço em relação a ume
experiência religiosa mais autêntica e esta é mesmo procurada.'
I) As várias religiões e ideologias do mundo convergem
na procura da paz e da justiça.

-138 -
«EV ANGELlZAÇ.A.O DOS POVOS:. 7

II

FATORES QUE PODEM CONSTITUIR OBSTÁCULO


PARA A EVANGEUZAÇ.lO

Há outros elementos que parecem ser, prevalentemente.


nocivos para a evangell2:açAo,; será bom examinar ' também
quais sio eles, e c:lelermlnar qu al é a sua verdadeira função.
Indicam-se aqui alguns exemplos.

A) Alguns ob.Uculos que s. descobrem fora da Igreja

1. A cultura moderna, conforme se manifesta quer nas


ciências humanas (psicologia, sociologia, antropologia, etc.),
quer nas tendências filosóficas, econOrntcas, etc., e conforme
também se difunde nas camadas populares, apresenta con-
cepções do homem e InterpretaçOes da existência humana fe-
chadas 8 Deus e 80 Evangelho.

Sob que formas, em quais ambientes e .::om Qual eficácia


se observam tais influxos nessa Igreja particular? 1
2. M\Jltas vezeS afi rma-se que o alefsmo p~ogride no
mundo atual. Isso é verdade? Quais "as formas que aSsume
- se porventura existe - o atefamo nessa Igreja particular?
3. Em muitos palses torna-se cada véz mais extensa a
seculari28ç.!io das Instituições (escolas, hospitais, etc.). JulgaIs
ser um obstâculo para a evangelização uma tal secularizaç.!io7
E de que maneira 7
4. As condições sociais da vida estão 8 mudar (urbanlza· ·
çAo, mlgraçOes, etc .). Impedem tais transformaçOes a evanga.
Ilzaçlo? E até (lue ponto a Impedem?
5. As relaçOes Intemaclonals exercem uma influência
cada dia maior na vida dos povos e os acontecimentos são
prontamente conhecidos no mundo inteiro. Afetam todas estas
cols'as, em sentldo negativo, li evangelização? .
6. Os valo.res tradicionais (a famllia, a pátria, a honra,
ele.) são mudados; e os pr&ceilos morais que vigoravam em

J A Inllrrogaçlo li dirigida l dloclsa nl qual o documento esteja sendo.


esludada (nola do (adalor dll rllvlsla).

-139-
8 . PERGUN'l'E E -ResPONDP!R.EMOS,. 1'721lr74

tempos passados slo postos em dúvida. Qual é o alcance de


semalhanta transformaçAo nessa raglA01 Está 8 evangellzaç!o
~ari~~1 sujeita 80S ,Inconvenlentes qua comportam tais mu-

B) Algunt obttjculot que .e observam no 1810 da Igreja


1. A fé. em muitos crlst60s. estA exposta a provaçOes e
chega mesmo a vacilar. Como se poclerá descrever esta fra-
gili<lacle da fé, .como poderA ser expl~ada e de que maneira
Influi ela na evangelização?

2. Certas tendências, que encontram a sua expressA0


naS teorias da "morte de Deus" e do "cristianIsmo sem ral)'
glio", em parte conscientemente a em parte .de forma incons.-
ciente e Implicitamente, vão sendo difundidas. Verifica-se entra
VÓ8 • Influência d. . .molhanle, Idél..? Impede lal Influência
a evangelização 1
3. Observa-se uma certa Insegurança na fé, que se torna
manifesta mesmo no interpretar a Sagrada Escritura, e algu-
mas vezes vai até ao ponto de atingir os ensinamentos cen-
trais do Evangelho (Identidade <le ' Cristo, a sua verdadeira
divindade, a ressurreição. a rndole escatológica do Evangelho,
o significado universal do dom messlAnlco trazido por Cristo,
a natureza da salvação crlst!, etç.). Como se poderá fazer a
evangelização, quando todas estas coisas do postas em
causa? , -

4. As vezes dá-se a dlvisãq entre os membros da pró-


pria Igreja, ao Interpretar as exigências morais do Evangelho
(ética Incl lvidual, femUla, polll1ca. etc.). Verilica·se esta divisa0
nessa Igreja particular? Diminui ela a autoridade moral da
Igreja e a firmeza da consciência dos fiéis?

5. Os cristãos experimentam dificuldade quando se trata


de exprimir a própria fé numa linguagem Inteliglvel para 0&
nossos .,contemporAneos. SerJa, acaso. a mesma formulação
blblica e tradicional da experiência cristA um obstáculo, 'pelo
qual se é Impedido de comunicar estas experiências hoje aos
outros?
6. Não raro, a Igrej a é acusada de ser uma Instituição
que, em vez de revelar, esconde o Evangelho. Qual será a

-140-
cEVANGELlZACAO DOS POVOS> 9

.causa ou 8. ocasião de semelhante acusação? Existem na


realidade, entre vós, algumas formas de vida eclesl6s1lca que
pareçarr. ocultar o Evangelho?

. 7. A Igreja não pode ·manter as suas Instituições sem


meios materiais; entretanto, o uso de tais meios, 80S olhos
de muitos. lorna-a suspeita de colaborar com alguns órgãos
do. poder econômico e poUtlco, talvez Injustos. Será que se
verifica entre vós esta cooperaçAo e .constitui ela um obstA-
culo à evangelização?

8. A acentuação do pluralismo na ígreja leva a uma dI-


versidade nos usos, na discIplina, na liturgia a, quiçá, mesmo
na própria formulaçlo da fé. Por força de uma tal variedade
flcaré dlmlnurda .aquela unidade, que constitui uma "nota" da
Igreja (cfr. Jo 17,23)?

SEGUNDA PARTE

JUIZO TEOLOGICO ACERCA DA SITUAÇAO ATUAL


DA IGREJA RELACIONADA COM A EVANGELlZAÇAO

A descriç40 desta situação já demonstra que a crise da


evangeJlzaç!oi no mundo dos nossos dias, de modo nenhum
poderé ser superada simplesmente com uma adaptação da
Igreja às exigências da sociologia, da psicologia, etc.; mas,
mais do q,ue Isso. se requer sejam aprofundadas certas noç&s
fundamentais. implicadas no ministério da evangelização, como
por ex. a salvação, a fé, a conversão, a pessoa de Cristo, a
Igreja, etc.; depois, que .à luz de tais noçOes sejam repensa-..
dos os princlplos teológicos da evangelização.

Ora tudo Isto poderá fazer-se. oportunamente, nas atua is


circunstâncias. Para tanto, será bom que algumas intulçOes
missionárias, já indicadas pelo 11 eoncflfo do Vaticano, sejam
Ilustradas no seu sentido genulno', o que propomos na allne. 11;
depois, que .certas antinomias, as quais, em base a soluç&s
demasiado unilaterais, determinam posições contrastantes, se-
jam revistas, em ordem a uma certa slntese, o que propomos
na 811n98 111_ Entretanto, para se poder chegar a fazer isto,
. impõe-se recapitular, em primeiro lugar, alguns prin.clplos tão-
lógl-cOs acerca do ministério da Palavra, acerca do seu des-
tino e da sua eficácia, o que se afigura necessário, quer para

-141_
10 (PERGUNTE E RESPONDEREMOS, 112/1974

que as al.udldda6 i~tulçOes sejam vistas com maior clarez~, quer


para que.as tais antinomias possem ser resolvidas; e é o ,qlJe.
passamos a fazer na .Un•• I. . " .

ALGUNS PRINCIPIOS DA TEOLOGIA DA . ÉVANGELlzAÇ.lO

A) O 11 Con.clllo do Vaticano exprime o principio funda-


mentai da teologia : da evangelização da seguinte maneira :
" Aprouve a Deus, na sua bondede e sabedoria, revelar-se a SI
mesmo e dar a conhecer o mistério da sua vontade (efr. Ef
1, 9), segundo o qual os homens, por meio de Cristo, Verbo
Encarnado. têm acesso ao Pai. no Espfrito Santo, e se tornam
participantes da natureza divina (cfr. Ef 2. 18; 2 Pedr 1,' 4).
Com efeilo, em virtude desta revelação, Deus invisfvel (cfr.
Co11, 15; 1 Tlm 1, 17) na rique2a do seu amor fala aos homens
como amigos (cfr. Ex 33, 11; Jo 15, 14-15) e convive .com eles
·(err. Bar 3, 38), para os convidar e admilir à comunhão com
ele" (Const. Oel Verbum, n. 2). A realidade e o valor, assim
eomo a necessidade e a eficácia da evangelização, portanto,
não recebem a sua inteliglbllidade última de uma considera-
ção emprrica das real1dades criadas, mas sim da revelação dO
mistério da salvação, estabelecida Jiberrlmamente por Deus,
desde toda a eternIdade.
B) No centro deste mistério está. Cristo. Ele próprio con-
suma a obra da salvação que lhe foi confiada pelo ·Pai, com
a sua encarnação, com palavras e obras, sinais e milagres, e
sobretudo com a sua morte e ressurreição e com a sua perene
presença no mundo; assim , reconcilia 10das as coisas com
Deus e comunica aos homens os bens divInos (cfr~ Const. Del
Verbum,n. 4). Ele é, efetlvamen1e, a luz verdadeira que ilumina
todo o homem (cfr. Jo 1, 9) e o único nome que foi dado aos
homens debaixo do céu, pelo qual eles devem ser salvos
(cfr. At 4, 12). Os homens. por conseguinte, em tanto chegam
à salvação em quanto (a Isso mesmo de modo inconSCiente)
forem .conduzidos pelo Esplrlto de Cristo a participarem da pie--
nilude do mesmo Cristo; o que po~erâ ser obtido com tanta
maior facilidade, com quanta maior perfeição eles o conhece-
rem e o segUirem como dlscfpulos fiéis.
C) Cristo glorificado, que permanece presente no mundo,
congrega a Igreja pela proclamação da Palavra. viviffca-a pelo

-142 -
, <EVANGEUZACAO DOS 'POVOS~ 11

' Espfrito Santo ÊI envla·a' p'or todo o mundd, para-' atüiJ.r: a óbra
da redençBo: ' , '- . . .':-" .
A Igreja, por sua vez, des.empenha esta missão, não obs-
tante a presença do mlst6rlo da Iniqüidade operante no mundo.
Ela, para isso, anuncia: o Evangelno, proeura COI'f'I a sua vida
dar dele testemunho, insere 0$ homens em Cristo pel.o sacra·
mento do Batismo, e' pelos demais sacramênto8, .Sob~retudo
pela Eucaristia, leva' essa Inserção' até à sua· maturidade. Com
a evangelização, a Igreja exerce um seu direito especrflco e
sagrado, do qual nAo pode licitamente ser Impedida P?r
ninguém. Entretanto, ao proclamar o Evangelno, a mesma Igre)a
não pretende estender o próprio domrnio sobre os homens e
submet~los à sua autoridade; mas intenta sobretudo servi-los,
abrir-Ines o caminho da salvação e proporcionar a cada um
deles aqueles bens que lhe são indispensáveis,
D) A proclamação da Palavra de Deus corresponde a fé,
pela qual o homem se entrega totalmente a Deus, de modo livre,
prestando ao mesmo "Deus que se revela o obséquio pleno da
inteligência e da vontade e dando voluntariamen1e o pr6prlo
assentimento à Sua revelaçilo" (clr. Const. Del Verbum, n. 5);
e essa fé , quando atinge B sua perfeição, determina a ordena-
Çao da vida toda, em .conformidade com a vontade de Deus.
A personalidade do homem. com a fé , não só não IIca
diminulda, mas, pelo contrário, é levada à sua plenitude. Efeti-
vamente, pela fé, Já nesta v.ida presente, realiza-se a unidade
e a perfeição' da existência; 8 pessoa humana insere-se orde-
nadamente na sociedade humana e no universo criadO por
Deus, raconcilia-se com o mesmo Deus, sem o Qual -o coração
humano não consegue ter paz, e, sobretudo, são-Ihe conferidos
o penhor e as prlmlclas da vida eterna .
Todas estas coisas hAo-de ser consideradas como efeito
e beneficio da evangelização. Assim, embora Deus, por cami-
nhos s6 por Ele conhecidos, possa conduzir os homens que
ignoram o Evangelno sem culpa sua, àquela fé sem a qual é
Impossrvel agradar-lhe (H.br 11. 6; .cfr. Oecr. Ad Genla.. n. 7),
este obJetivo, todavia, mais dificilmente poderá ser alcançado
sem a evangellzaçao .
. E) O Evangelho tem como destinatários todos os homens,
uma vez que Cristo morreu ,e ressuscitou por Kldós e para
20dos mereceu a graça da salvação. A Igreja, portanto, deve
/'
-143 -
12 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS~ 172/1974

prosseguir sem cessar a obra da evangellzaçio, a fim de que


aqueles que ainda nAo crêem cheguem ê. fé, e aqueles que Já
acreditam cresçam 'na sua fé.

11
EXAME APROFUNDADO DE ALGUMAS INTUIÇOES
APOSTOUCA~ DO II CONClUO DO VATICANO

O 11 Concilio do Vaticano propOs algumas orlentaçOes COO·


cernentes à evangelização. Parece ter chegado 'a hora de o
Sfnodo examinar: aquilo em que os gérmens assIm lançados,
já frutificaram ; aquilO que até agora foi traduzido na prática
de maneira insuficiente ou menos acertadamente; e, enfim,
aquilo que talvez tenha dado azo a desvios ou at' mesmo a:
erros. Para semelhante exame, propOem-se, a segui" alguns
exemplos à consideração de todas e de cada uma das Igrejas.

A) O 11 Concilio do Vaticano ensinou que CrIsto oferece


8 salvação a todos os homens e que o seu Influxo salvador
não se estende somente à unidade vlslvel da Igreja (cfr. Const.
Lumen Gentlum. n. 16; Decr. Ad Gente., n. 7; Const. Gaudlum
et Spe" n. 22). Pergunta·se: tará esta afirmação feito diminuir
o fervor na evangelização? Como há-de ala ser relamente
explicada, a fim de não prejudicar a mesma evangelização,
mas, ao contrArio, poder servir-lhe de auxflio? No contexto, o
que se hé~de pensar da teoria dos "crIstãos anônimos", da "fé
Impllclta suficiente para a salvação", da "salvação sem Evan-
gelho", etc.?
B) O 11 Concilio do Vaticano ilustrou bem o valor da liber-
dade de consciência (Decr. Dlgnlt.U. Humenee, n. 2) e ao
mesmo tempo e09ll'1ou que o Evangelho e916 ordanado para a
liberdade do homem (COnst. Dal V,mum, n. 5). Como pode
ser salvaguardada a liberdade de' outrem, sem que se ponha
de parte a insistência em convidar os nossos semelhantes para
qua abracem o Evangelho? (Cfr. a problemática acerca do
Batismo das !Crianças, acerca da Instrução religiosa, da distin-
ção anlre proselitismo e apostolado. atc.).

C) O 11 Concnio do Vaticano Insiste na necessidade de o


EvangelhO penetrar de maneira cada vez mais profunda, nos
coraçOes, e de ele ser mais seriamente posto em prática (cfr.
por ex. Consl. Lumen GenUum, n. 14). Teria, acaso, esta Insls·

-144 -
<lEVANGELlZACJ.O DOS POVOS. 13

têncla num .catolicismo "qualitativo" feito diminuir o desejo da


trazer o maior namaro passlval de homens ê unidade da Igreja?
Como é que um e outro aspecto (o qualitativo e o quantitativo)
co catolicismo podem ser conciliados? (Cfr. a eclestolcgla do
"pequeno rebanho", do "êxodO", do "deserto", etc.)•.

Dl O 11 Concilio do Vaticano ensinou que as religiões


não:eristÁs contêm 8utêntlco~ valores religiosos (Decl. Nostra
Ae'lte, n. 2) e que elas. constituem um caminho para o Evan-
"alho (Const. lumen Genllurn, n. '6). Alguns afirmam QUe Isto
se pode Interpretar neste sentido: que eSS88 rellglOes têm em
si mesmas um valor de salvaçlo' (nlo somenta ê maneira de
preparação para o Evangelho) a t assim, que o Evangelho é
apenas uma das vias da salvaç l o, se bem que privilegiada.
Julgais que semelhante lnterpretaçAo se pode concil iar com a
novldede e absoluta originalidade do Evangelho?
E) No 11 Concilio do Vaticano Cristo Senhor é apr••on-
tado como Aquele em quem o mistério do homem se esclarece
(Oecr. Ad Gent••, n. 8; Consl. Gaudlum at SP'.t n. 22), e em
quem os homens chegam à plena maturlda~e e liberdade hu-
mana (Const. O.udlum at Spes, n. 41). Pergunta-se: como é
que Isto se há-de explicar, de maneIra a nio pôr em causa
Quer a transcendência do Verbo Encarnado, quer a unidade do
fato Irrepetlvel de Cristo?

F) O 11 Concilio do Vaticano ensina que o Esprrlto Crla~


dor opera continuamente no mundo; a, por Isso, considera os
fenOmenos humanos em si como elnais dos tempos. Ora Isto,
não raro, é entendido de tal maneira que as tendências e as
aspirações human a!! são tomadas como se conttltulssem um
"lugar teoI6gl.co". Dado, porém, que no mundo opera também
conjuntamente· o mistério da Iniqüidade, diz-se que .0 8 sinais
da verdadeira presença de Deus hão-de ser Interpretados à luz
do Evangelho. Por Isso pergunta-se: de q!J9 modo hio-de ser
Interpretadas os sinais dos tempos, de molde 8 servirem à
causa da evangelização?

G) O 11 Concmo do Vaticano Insiste nisto: que o Evange-


lho pode e deve ser adaptado 8 todas as culturas e lIumln'~las
de tal modo que os valores autênticos que nelas se encerram
sejam referidos I!I Cristo, como fi. aua fonte (efr. Decr. Ad
Gentes, n. 22; Const. Gaudfum e. Spn, n. 62). PergunlfrSe,
pois, qual é a relaçlo que existe entro a evangellzeçao tomada
c:omo algo que deve iluminar e unificar as culturas, e a evan~

-145 -
14 <PERGUNTE E RESPONDEREMOS~ 172/1974

gellzaçAo como algo l que há.ode provocar também a conversA0


das melmaa culturas para ·Crlsto1 (Problemas do 8Incretlsmo).

111
ANTINOMIAS DA EVANGEUZAÇAO QUE HAO-DE
CONGRAÇAR-SE NUMA SINTESE
A experiência nO ,campo da evangelização demonstra dar-
-Se às vezes a tendência para acentuar algumas verdades de
tal maneira que outras verdades complementares parecem ser
virtualmente negadas. A compreensão teológica da evangellza-
ç40 exige que não sejam simplesmente afirmadas ao mesmo
tempo aquelas coisas que se opOem; mas, sim, que as ver..
dades. parciais e que aparentemente se excluem sejam também
coadunadas em ordem a uma slntese, através de uma penetra-
çio mais aprofundada da unidade das mesmas. Apontam-se a
seguir algumas dessas antinomias, com o Intuito de as várias
Igrejas poderem examinar se a slntese, porventura entrevista
numa linha teorética, é suscetlvel de eliminar as unllaterall-
dadas e os. exageros, pernl.closos para a evangelização,
A) Julga-se algumas vezes que o fim da evangelização é
a transmissão de uma determinada doutrina objetiva; outras
vezes pensa-se, ao contrário, que toda a evangelizaçAo hé-de
levar a este resultado : tornar presente o mistério de Cristo,
pela experiência cristã, Será: que uma coisa exclui a outra?
Como se poderã demonstrar Que, na verdade, uma coisa exige
a outra para a sua perfeição e plenitude?
B) Há quem pense que a evangelização consiste somente
no fato de dar tes1emunho, com a existência cristã, da virtude
e da beleza do Evangelho; outros, por sua vez, opinam que ...a
evangelizaçAo consiste meramente na proclamação do mesmo
Evangelho. Como se poderá demonstrar que a credibilidade
das palavras depende.do testemunho, e que a Intellglbilldade
do testemunho, por seu tumo, se encontra nas palavras?
C) A finalidade da evangellzaçlo é a conversão. que li
uma ruptura na vida do homem e uma reconstrução da mesma
em tomo de um novo centro (que é Cristo). Isso pode ser des--
crlto quer como uma "morte", quer como o In[clo de uma
"vld~" mais plena. Pergunta-se: como poderão estes dois
aspectos ser reduzidos à unidade, na evangelização? (PrQble-
ma do "humanismo crISllo").

-146-
d!VANGELIZA.CAO DOS POV~ 15

D) Há alguns que descrevem a evangellzaçAo de tal modo


que se nca com a ImpressAc de ela se situar num pleno menr
mente espiritual e religioso, e dever libertar o tlomem apenas
d08 laços do pecedo. Outros, pelo contrário, por descreverem
Cristo domo ' um novo 'Moisés. consideram que O Evangelho
.- pelo menos na presente fase da história - se ordena s0-
mente para a promoçAo humana. Pergunta-se se h4-de falar de
duas finalidades da evangelização (Intimamente conexas entre
Si), ou se um e outro aspecto da evangelliaçAo 89 harmonizam
numa unidade. E. entAo. o que se hé-da acentuar mais? O que
pensar das maneiras de dizer "8 Igreja, ao evangelizar, huma-
nlza", e "a Igreja. ao humanizar, evangellza"? (Cfr. os proble-
mas da teologia polltlca, da teologia de IIbertaçllio e da rev.o-
luçao).

E) A evangeJlzaçto constlJul a mlsdo da Igreja no mun-


do. Há alguns. no entanto. que, por Julgarem B Igreja Institu-
cIonal como um Impedlmento fiara Essa atividade. pensam que
é preciso evangelizar, prescindindo da mesma Igreja Institucio-
nal: Pergunta-se: de que natureza 6 ZI relação que existe entra
B InstituIção eclesiástica e a promoçao das pessosas ou mesmo
das comunidades? De Igual modo, para que fim hé-de ser pri-
mariamente orient ada 8 evangelização - para a ediflcaçao da
Igreja ou para a salvação dos homens?

F) A evangellzaçAo. ordinariamente, sem o testemunho


da vida eclesial. com muita dificuldade pode vIr 8 ter bom êxito.
Dal haver quem pense que se deve renunciar à evangellzaçilo.
até quando a Igreja se nlo reformar Interiormente de molde a
aparecer em plenitude como sinal de Deus no mundo. Pergun-
ta-se: deverá. a Igreja. efetivamente, renunciar à evangelização
dos não-cristãos. para primeiro S8 reformar intemamente a si
pr6prla? Ou. por outro lado. hão-de 8S duas atividades - re-
formadora no seu Interior e missionária para O exterior
- coexistIr simultaneamente? E. mais ainda, nao serão elas
tão Intimamente conexas entre si que nAo se poderá atuar uma
sem a outra?

G) Considerada a Insistência do Evangelho no dever de


promover a unidade. e dado por outro lado o fato do alhea-
mento e· da separaçlo dos outros. O que iI conaiderado por
muitos um mal grav/ssimo, parece ~ue 8 6vangelizaçAo terã
de ser concebida como o esforço para reunir todos ôs homens
nessa unidade. O Evangelho, por outro' lado, ensina que 08
diacfpulos slo arrl?ncados ço mundo e estão sujeitos 80 ódio

-147-
16 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS, 172/1974

e iI: persegulçlo. Pergunta·se: tratar·.' de uma alternativa,


ou antes de dois aspecto8 da mesma reaJldade? (Problemática
<Ia Identidade ou da singularidade da existência crlstê).

H} O ecumenismo Intenta realizar 8 unidade de lodos os


cristãos: e, no diélogo, frisa 09 elemenlos que "existem em
comum 43ntre eles. e evita aqueles que os separam. Pergunta-se:
como poderé. harmonlZ8r~se esta tendência para a unidade com
a missão da Igreja, de proclamar a verdade integral do Evan-
gelho? De que maneira há·de ser julgada a diminuIção das
conversões ~e pessoas de outras profissões cristAs? Dever-se-é
atribuir tal fato, entre outros motivos, a um ecumenismo mal
entendido?

TERCEIRA PARTE

DE QUE MANEIRA HÁ-DE SER PROMOVIOA EM NOSSOS


DIAS A EVANGELlZAÇAO

Depois de se ter descrito a "situac"Ao da evangelização e


da se ter formulado um Juizo teológico acerca de tal situaçAo,
surge espontaneamente a pergunta: como há--de entio ser re-
novada a atividade da evangelização na Igrejs, de molde a que
a mesma Igreja possa desempenhar com mal.or eficiência a
pr6pria missão no mundo dos nossos dias? Em ordem a deli-
near tlma resposta, passam a ser Indicadas agora: ·num primeIro
momento, "algumas orientaçõe$ "ger81$; e, em seguida, algumaa
sugestões para as aplicações práticas.

INDICAÇAO DE ALGUMAS ORIENTAÇOES

Da descrlçlo feita nas páginas precedentes, já vieram à


baila determinadas opções fundamentais, como algo de indis-
pensável para o renovamento da evangellzaçaio. Recapitulare-
mos algumas dessas opçOes, com o Intullo de. por elas. as
Igrejas partleulares poderem dar-se conta de qtlais Mo·de ser
os princlplos por que deve reger~se a planificação ml$Slonárla
e de Quais as prioridades a serem obsarvada$ na linha opera-
tiva, para se seguir uma ordem acertada.

A) Dado que 8 fil é o fundamento de toda a vida cristA,


é necesúrfo qtle tudo aquilo que se faz na Igreja (pregaçAo,

-148-
cEVANGELlZACÃ,O DOS POVOS .. 17

invostlgaçlo teológica. organlzaçAo,· culto, InstltuiçOes, etc.)


seja orientado pa,ra este obJetivo: levar tanto os Indlvfduos
como 8S comunidades a converterem-s9 para Deus, que se nos.
comunk:a em Cristo, e a continuarem a viver sempre, em cons-
1ante progresso, essa conversão.

a) A vida de fé, sobretudo no selo da sociedade secularI-


zada dos nossos dias, não se nutre e não cres.c:e Sénlo em
comunidade. Assim aparece clara a necessidade: primeiro. que
surjam 9 se desenvolvam comunidades de todos os gêneros,
nas quais os membros possam comunicar uns aos oulr·;,5, recI-
procamente, a fé, cemprovt-Ia e faz~la aumentar; depois, que
as mesmas comunidades di1undam para o exterior a 1é, a co--
muniquem e a c.onsolldem, onde isso lhes for proporcionado.

C) A Igreja nAo pode renunciar ao dIreito nem declinar O


dever de anunciar o Evangelho, para que. desse modo, suscite
novos dlsc[pulos de Cristo. Os cristãos, portanto, nunca devem
envorgonhar-se do Evangelho, mesmo quando estão conscientes
de proclamar uma mensagem que repugna à debilidade humana.

Dl A tlm de 8 fé ser anunciada com eficácIa, é preciso


8 Igreja .estar ativamente presente naqueles centros em que se
elaboram as .concepções do mundo, do homem e da sua hist6ria
(ou seja. no campo das ciências naturais, humanas, filosóficas,
e no das diversas artes), de tal maneira que .os cristãos cola~
borem para o progresso cullural; isso fará com que as menlall·
dades, determinantes em ralação à vida humana, permaneçam
abertas aos problemas religiosos e aos valores transcendentes.

E) Atendendo a Que a opinião pública hoje em dia é for·


m·ada e orientada em larga escala pelos meios de comunicação
social {imprensa, c Inema, rádio, televIsão, etc.), a .Igreja deve
procurar estar presente neste campo . Um bom uso dos mes·
mos meios normalmente implica:

1 . a pré-evangelização, ou seja: a Informação exala,


prévia à fé, acerca da doutrina cristã, da ética cristã, da rela-
ção entre a Igreja e o mundo, etc.;

2. uma contribulçlio para a evangelização, a Hm de que


8 catequese e a pregação sejam ilustradas com os meios audlo- · .
-visuaIs e, através das Imagens. penetrem na consciência dos
hom!'tns, de modo conforme com a cultura moderna;

-149-
18 (PERGUNTE E RESPONDEREMOS. 1'12119T4

3. um melo direto para 8 8vangellzaçlo, para que esta


penetre também naquelea ambientes que, geralmente, estio
fechados ê. prsgaç!o; e Isso. ainda, com aquela freqQêncla
que não é dado à pregação imediata alcançar.

F) Quando a Igreja recomenda a cada um dos fiéis que ·


.colabore na promoção humana (como o fez no 11 ·Conclllo do
Vaticano, em numerosos documentos e no último Srnodo), de
modo algum esquece que o seu múnus pr6prio, em tal promo·
ç!o, consiste em tomar manifesto ao homem qual é o seu 11m
último, à luz do qual O mesmo pr.ogresso hé·.de redundar num
verdadeiro bem para o homem .

' G) A Igreja, pela sua pr6prla existência e pela aua vida.


é um sinal da verdade do Evangelho. no mundo; e como tal
hé-de aparecer sempre. Nos nossos tempos, porém, aigumas
vezes a Igreja parece ser objeto de uma tal ou qual descon-
. . fiança. quer devido à fragilidade dos homens,· quer por causa
de uma certa sua IigaçAo com as estruturas temporais. ~ ne-
cessário, pois, que a Igreja se renove profundamente nestas
coisas em que aparece falha, para tornar vlslvel Cristo, que
nela está .presente.

II

SUGESTOES PARA ALGUMAS APLlCAÇOES

~assamós agora às aplicações práticas; Indlcaremos, à


maneira de exemplos, alguns aspectos da evangellzaçao que
hA-de ser renovada, mediante os quais seja despertada a Ima-
ginação criadora, a fim de que em ceda uma das Igrelas se
Individuem as necessidades mais urgentes.e se descubram para
eias os remédios. Faremos iSlo, seguindo a ordem das "orien-
taç6ês" acima enunciadas.

A) Quanlo ao primeiro ponto:

1. Estão as rLOssas comunidades (dioceses. paróquias.


etc.) conscientes de serem responsáveis tanto pela evangelizlr
çAo dos próprios membros quanto pela dos que não crêem ou
que perderam a fé?
2. Sucede, acaso, que a organização, a administração,
etc., nas comunidades, absorvem tantas energias, que, por Isso,

-150 -
cEVANGELtZAÇAO DOS POVOS,. 19

8 evangellzaçAo propriamente dita (homilia, catequese, · e~.)


fique ' preJudicada?
3 . ~ Na reforma litúrgica. tem-se em conta a rndole didé--
tlce e pastoral do clllto (<cfr. a adaptaçAo da Ilngua. 88 (redu-
ções da Sagrada ,Escritura, a preparação para os sacramentos
da Inlclaçlo tCrlstA, etc.)?

B) Quanto ao segundo ponto:


1. O que é que se faz · nt~S8a diocese. para que 8S fam/-
lias cristAs dêem 80S pr6prlos filhos a primeira e fundamental
educação cristã?
2. As nossas paróquias são verdadeiras comunIdades?
De que maneira contribuem elas para fomentar a vida comu-
nitária? .
3 . Existem nessa diocese organismos eClesl4stLcos de
particlpaçAo 8 de c.orresponsabilidade, como o Çonselho PreSo--
blteral e o Conselho Pastoral? é a 'sua função

ettcai.?
.1

4. Acham-se as comunidades religiosas (mesmo as con:"


templativ8=S) organicamente' inseridas na vIda das . Igrejas' par·
ticulare.5? E de que' maneira contribuem para a promóyér? '
5 . Que S8 deve dizer das pequénas comunloades, que
surgem pOr toda a parte (comunidades de base, grupos espon-
tâneos etc.)?
S'. De que maneira se hâ--de conceber a presenç!l do
Bispo na sue diocese, para que ele seja o cer,tro" da vida
comunitária?

C) Quanto ao terceiro ponto:


1. Têm os Bispos o cuidado por que se conserve, na
evangelização, a Integridade do Evangelho, no que se refere
às verda~es dogmáticas e morais, apesar de algumas vezes
poderem parecer contrárias à mentalidade moderna?
2. Sucede, acaso, que na pregação 9 na catequese se
deixam em silêncio 'ou do atenuados ou, ainda, são falsamente
interpretados temas fundamentais, como a divindade de Cristo,
a necessidade da fé, a vida de graça, os novlsslmos do
homem, etc. ?

-151_
'-O cPERGUNTE E RESPONDEREMOS) 17211974

3 . O que é que se faz para UI1)8 (ormaçtio continuada


do clero em ordem à evangelização {Institutos de pastoral, cur-
sos, bIbliotecas, etc.}?
4 . Orienta-se a formaçlo dos candidatos ao sacerdócio
para a sua futura ativIdade de evangelização?

5 . São os leigos praparados convenIentemente para o


apostolado, adotando os recursos adequados para l a! fim (es--
pirllualldade apostólicl\l:, doutrina teológica. técnicas da comu-
nicação, meios de sustentaçlo)?

D) Quanto ao quarto ponto :

1. O que se passa com as Universidades Catóncas ?

2 . O que se passa com as escolas primArias e secun-


dárias católicas?

3 . O que iJ que se faz pelos jovens que estudam nas


escolas não.-eatóllc8S?

4. São 08 jovens, Que dão moatras de particular talento


e se demonstram fervorosos, ajudados, de molde a poderem
tomar-se exlmlos nas ciências e nas artes?

E) Quanto ao quinto ponto :

1 . Tem-se a preocupaçlo de a Igreja (dentro das possl·


bllldades) ter Influência nas maios de comunlcaçlo social?
2 . SAo fornecidas informações exatas e Interessan1es
acerca da vida da Igreja e procura fazer-se a retltlcaçlo de
erros. n~s programaa. em geral?
3 . 810 cuidados os programas (ou rubricas) de car6ter
religioso, com a adaptação b várias Idades e condlç6al dos
homens?
4 . SAo preparadas pessoas capazes e formadas na fé
cristã. que- possam utilizar estes meios? . j

5. Pro.cura formar-se no povo cristão D sentido crItico


em relação équilo que é difundido por estes melas?

-152-
cEVANGELIZAÇA.O DOS POVOS» :n
F) Quanto ao sexto ponto:

1. Exorco a Igreja nessa região o mlJnus profético numa


crftlca construtiva das instituições sociais·?

2 . Slo apresentados os motivos da fé. para que a par~


tlclpaçAo na promOção- humana se verifique segundo o e'spl-
rito evangélico?

3 . Procura-se evUar a tenlaçlo de deduzir 8OIuç'08s téc~


nkas dos princIpias evangélk:oa?

4 . Tem-se a particular preocupaçlo de a Igreja estar


presente no " mundo do trabalho" 1

5. Não se póe uma apllcaçAo tio grande na promoçlo


humana que seja esquecida a mlssAo espaclflca da Igreja, de
levar os homens a Cristo? ' /

G) Quanto 80 sétimo ponto:

1. 04 essa Igreja um verdadeiro exemplo da pobreza


de Cristo?
2. Pelo que S8 rafare .. luta de clasSes, evlta-se que ' 8
Igreja dê a Impresslo da astar ligada apenas a uma das partes
8 que perca desse modo 8 liberdade apostólica?

3. Têm-se em conta os preconceilos com 08 qual! aque-


les que se encontram fora da Igreja a Julgam, para evitar que
a vida da mesma Igreja 'dê oeaalAo ao éacAndalo, .mesmo in-
fundado '1 . '
4 . Na vkta da Igreja dlspensa-se um cuidado especial
ao çultlvo daquelas virtudes que hoJe em dia alo de tal ma-
neira apreciadas que podem ser lomadas çon\O o sinal de.
autenticidade da mesma Igreja, e cuja ausência oculta o seu
verdadeIro rosto (Justiça, caridade, solidariedade; eqOltativa
dlstrlbulçAo doa bans, etc.)?
5. Demonstra 8 Igreja compartilhar a predileção de
Cristo para ç.om o. pobres? .

Estes são alguns tópIcos a partir dos quais se poder' .dla-.


-cutlr nas Igrejas particulares, a fim de que, durante o Srnodo,

-153-
OS Bispos permutem entre 51, uns com os outros e com 8 Sé
Apostólica, as experiências feitas e as teorias e programas
alabQrados i a, desse modo, a evangellzaçlo vantla a receber
um novo Impulso, em toda 8 Igreja.

• ••
Possa a leitura destas pâJinas avivar nos fiéis católicos
(clérigos e leigos) a consciêncIa do imperioso dever que. a todos
toca, de promover a·difusão da Boa·Nova de Cristo em toa.os
os ambientes da vida contemporânea! Cada um dos uautos é
importante; de cada qual Cristo e a Igreja esperam generosa
colaboração dentro das respectivas possibilidades. Ninguém é
tão pobre que nada possa dar ou fazer, como também ninguém
'ê tão rico que nada possa receber ou aprender ,

x
UM DOCUMENTO DE AUTORIDADE
T.ltemunhar a .. viva am pureza e unldacle. Docume nto da Con'.
r'nela Nacional dos Bispos do 8rnll. - EdI~l)es Pal,l llnu, S60 Paulo 1973,
124x 180 mm, . 29 pp. TamWm publicado pala .Edltora Vozes de Petrópoll•.

I'.. Conl.rtm:1a Nacional doa Slspos do erasll (eNS8), visando servir


.os fltlls em nos.a p'trla, publicou recentamenle I,Im dOC\lmenlo sobra a f'.
i:: o re.ultado de .studos leitos por oculto d. reunllo da Comisslo Repr$<-
.enteUva da CNBB entre 8 • 13 de novembro da 1973. O docuiunlo, Ai,..
1Ivamente breve, compreende Ir6$ perte.: I) /lo f6 como dom divino: 11) /lo
li • O mlnllterlo d. Palavra : 111) Ao 16 na lua purtlza e unidade.
O documento 101 cuidadosemente redigido em vlala da cria. de f6

de I' nlo .aberem o que pertence ao depoallo da I.


que alela mullos membros do povo da 001,11 am none palda. OU\l9m ...
num.roa •• t.teS • tllpõleses qu. dolxam multas pessoa. perplexas, a ponlO
e o que poda ser
POSIO em dúvida. Alendendo a laI s1tvaçlo, os BIspoa lembrem, en.ri
outras c oisas :
1) A I' do erialio depende de uma InlefYltnçAo expllella de Deus na
hist6r1.. da humanidade, Inlsrvençlo que tem InIcio com a manllestaçlo .0
Patriarca AbraJo (see. XIX 111. C.) a cvlmlna em JO$us Cristo. Cr1$lo, por
sva Y8!:, a~ prolonga na Igreja e nos ,.cramenlos leI. n9 17·18, pp. HI·21).
2) Todavia a fi tem a55ento oportul"lO na pr6prle natureza do homem,
qve Da". faz para B ve rd a48 e ti amor. Esta. anseios" verdada e ao emor
eonstlluam a abertu ra que lodo homem tru em ai mes.mo, para o mlalerlo
de Deus (cl. n9 16, pp. '85).
(Conllnu. na p'g, 173)

-154 -
Um fenem.no d. nouo. di..:

seita e espirltosedárlo: que são?

Em ,1. . .: Por ..M.., no CrisUanilmo, antend.lft-SII grupo. dlald.rI-


I •• da ~"Ja que .. c....cl.rlzam 'pala r'pllca a detarmlnado a,tado óe
eolaas, que os membrot da Mlta Juloam decadenle ou m<lr.lmante pan:lldo.
t principalmente a panlr da Retonna de Lutero (56c. XVI) qua ali regi...
tram .. lel. dls.lcllnclu: ai.. .vem • Nr reformas da Relorma. Cada '1Ilte
.oleraca um amblanta frat.mo. em qua a ajuda mútua' rlgorosamenle ac.n-
tuada. Dlslingua-aa 'amDêm pelo exagerado Nalca dado 8 tal ou lal pro--
pO$lçlo d. I' (. ,.gunda vinda de Cristo ou a açlo do Esplrlto Santo nos
Ilals ..• ) em detrimento da outr.. verdad.... _. p.lo uso da SIbila desvln-
cul.do da axagese clanUllca • obJatlva, paio lundamanlelbmo (proflsslo da
proposll,ôOas tiradas da lelta do tallto aagr~o),." pelo rigorismo moral, .. ,
pelo desinteresse rrenle 60s quntOH polltlc;aa e aoc:lals"., pelo ardor pro-
$elltllta ou mlsalon6rlo (que t, por vazes, agraulvol.
O 'en-Omeno das sellu - notevelmente numerosas em nossos dlu -
nlo spresenta apens.. as notss negativas do l,nsUsmo 111 da oba.salo. t
da c.rto modo, manlfllll8çlo du aaplraç/)8S religiosas do crlstlo contem·
porAnao. Atr.vê, d •• Mlt.. •• dapreende como alo Importantee p.ra o
crlsllo de hOJe. v.lorlzaçlo d. pesa0. dentro da comu,!klada, .. • a ,"uma
de gl'Upos em que todol conhecem a todOl a .a IIOlIdarlza entra sim, . •. a
dlstlnçlo entra moral ç1l.\I. , licenciosidade do mundo Iam Crls!o, .. .. o
. emol" à P.. I.... r. de Oaus•• . . o zelo mlaslonirlo ... ~ a ' neça!lSldade de l i
avlv.rem a cultlv.,.m tal. v.lere. ~ (tlplcamenta católicos) dentro da Igrela
Católica que a observaçlo da, aeltas contamporlneas 8ugeRl eloqOant.-
mar.le . .
• • •
OomeDtá.rio: Um dos fen Omenos religiosos mais Interessan-
tes dos ·nossos tempos é o surto de grande número de grupos
de crentes designados pelo nome de seitas. No Brasil, elas
aparecem oro. como rebentos do protestantismo, ora como re-
bentns do espiritismo ou ainda do ocu1tismo e do esoterismo. 1
Esses agrupamentos são geralmente muito atuantes e prosell-
1 Por oculUlmo enl.nd.... toda doutrina que diz conhecar forçu ocul-
ta••Iuantas no un lvlrao a dllpor de meios aptos a atr.lr .a torça. boa. e
alaslar as maléflcu. o. adeptos das ciências oculta, dizem qlJ8 dascobrl-
ram as leI, que regam. açêo dessas lorças ml5letlosu. Mults vez~ .s
ciências ocultas 110 um derivado (um tanto l"aClcnal) daS autênllcas c:ran-
elas . Alarm, lO lado da qulmlcl, surgiu a etqulmla (que procurava a pedra
tilosolal, o elixir da 10noa vida • .. )i ao lado da. ..ttanemla. 8\1rglu .li astrolo-
gia: ao lado da psicologia, e metapslqulca, atc . . - O oculllsmo tam por
vozas afinld.de com. magl. e a bruxaria.
Esoterllmo é toda doutrIna IlIosóllcl. ou religiosa qua, para manter a
pUrGõES do seu çont$1ldo, O guarda am sagredoi aO o raltllla a candidatos que
silo gradatlv.mente Iniciados la pOlse da,se aegredo.

-155 -
24 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS, 172/1974

tlstas; tenham-se ,em vista. entre outras, certas . comunl~


de batistas, 'mOnnons, pentecostats. adventfstas; te&temume.s
de Jeová .. .
Em todos os tempos da história do Cristianismo, reg1strou-
-se a tendência à formação de seitas, ou seja, de grupos dissi-
dentes que se opunham à Igreja porque queriam professar com
ênfase especial tal e tal doutrina. (.a maUrla é má, hâ pecados
lrremIsslve1s, a Igreja consta dê santos apenas .. . ») ou tal e
tal gênero de vida (eMa haja posse pessoal de dinheiro, recuse-
-se o casamerito, rejêltem-se certas InstltuiCóeS do Estado cJy1J,
etc . •• »).

Todavia é a partir do séc. XVI, após a Reforma luterana


(1517) e dentro do Protestantismo, que se registra de maneira
mais notável o fenômeno das seitas. Estas até hoje se multi-
I?llcam a partir das confissões protestantes, tomando novas e
novas caracterIsticas, â pontO de por vezes não terem quase
mais nada de comum eom o protestantismo do séc. XVI;
tenham-se em vista os mórmons, as testemunhas de Jeová . ..
Anás, o principio do dlvre exame" segundo o qual. cada crente
pode int~l'P.retar a Blblla sem magistério algum, guiado unica-
mente pela dnspiração» subjetiva do EspirIto Santo, devia logi-
camente contribuir para fracionar o Protestantismo em wna
multidão de seitas, A propósito dizia o escritor francês BoUeau
(t 1711) que "todo protestante é um Papa com a Blblia na
mão» (c.Satires_ :xn, v . 224).

Abaixo procuraremos descrever o que seja uma ~ta com


as suas características de pensamento. A seguir, analisaremos
o signlfi<:ado Que o fenômeno das seitas possa ter para o Cato-
licismo e as confissões protestantes tradicionais,

1. Seita: que é?
1. A palavra seita vem do substantivo latino secta e do
verbo fe4ul, Que significa legulr. Quer dIzer escola ou também
modo de pensar e de viver (segue-se uma escola, segue·se wn
modo de vida ... ) . A palavra, em seu sentido original, não tem
significado pejorativo: o próprio Cristianismo, na tradução lati-
na da Biblia Vulgata, é chamado 1eCta. (cf. At 26,5). Com o
tempo, porém, o vocâbuJo tomou sentido negativo, que trans-
parece claramente na expressão cesplrlto seCtárlo~ (= espirito
ferrenho, estreito, agressivo, maquIavélIco ... ),

-156 -
SEITA E ESP1RITO SECI'ÁRlO 2S

Dadas as conotações.pejora.tivas da palavra «seita., certos


estudiosos contemporântoSt re!erinda.se;u novas e novas cem-
flss6es protestantes dissidentes, preterem chamá~las c.movimen-
tos relIgiosos livres. . Esta designação exprime bem uma das
notas tiplcas desses agrupamentos, ou seja, a sua escassa lnsti-
tuc1onalfz.ação e ·a acentuaCio da lIberdade espontlnea. que
inspira o comportamento de tais comunidades. J.J1As. no mundo
anglo-saxio, quàndo esses gnJp05 surgimm, receberam por ve-
zes o nome cFree Churches. ,(Igi'ejas...livres); foi o que &;e deu
com o Exêrc1to da Salvação.,. certos ramos batl.stas.' .. S tam-
bém oportWla a designação -creav1vamento:. (correspondente ao
inglês revival) I dado que, corno veremos, as seitas equivalem a
férvido despert1!-r da consciência religiosa .
Na linguagem comwn, porem, tala-se de !leU... entendendo-
-se por este vocábulo 11m agruramento religioso de número res-
trito de fiéis que aderem às revelações feitas ao seu fundador
ou, ao menos, aos ensinamentos que este entregou aos seus dis-
cípulos; tais revelações ou tais ensinamentos são tidos como
absolutamente neeessãrl.os para se entender a Escritura Sagra-
da, nas seitaS protestantes. .
2 . Podem-se assinalar algumas notas que caracterizam
evidentemente as seitas e as distinguem das chumadas <lIgrejas.
protestantes. (o 'Iuteranlsmo, o calvinismo) e da dgreja epJs...
copaI ou anglicana".'
Com e(eito, As Igrejas protestantes e a anglicana. datam
do século XVI; são animadas por espirlto sério e tradicional:
conservam o garbo e a nobreza do tipo aDJtlo-saxãoj seus adep-
tos têm contribuido com· estudos valiosos para "O progresso da
lingUlstica e da exegese blbUca.s (tenham..se em vJsta os nomes
de O. Cullmann, Joachim Jeremias, E. Nestlé, E.-Aland,
K .-BJack . .. ). Ao contririo, as dissidências ou seitas ou movi-
mentos livres apresentam as seguintes notas:
JÂ palavra IgreJ. IÓ Improprlament. pode ser empreg.da no plural,
16 hi uma Ig ...Ja de CrI,to: aqunta que remonta Inlnlenupt.m....te al6
poli;
os Ap6etoloa e o próprio Cristo . M out,., "Igr.las" alo, com mIl. acerto,
chamed.. "Comunld.des eclaial," .
Co.tum.... dlltlngulr entre Prole,lanllamo n Anglicanismo. Este, de,&-
vando-se do clima provocado por Henrique VI1I em 153ot, teve origem e
)nlenço.. Iniciais dlverIU das do Luleranllmo, do Cll!vlnlsmo e do ZWlnglta-
nl.mo . Acontece, por6m, que. teologia cultlveda pelos angllcanol 101 forte-
mente Influenciada pelos pro'"tanta . é: o que explica .eJam conald.rlldos
proteetanlM. MUIt03 angllcanoa atlmam conatltulr uma denomlnaçlO-ponte
.ntra Catolicismo e prole.lentlamo.

-157 ~
26 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS,. 172/1974

1) Orlglnam· .. por repU.. ClU lO8Çio contra a Igreja ofl.


cial (AngUcanlsmo, por exemplo) ou contra 'ft, . denominaçio
religiosa. (Metod1Bmo, Congregac1onal1sm.o. , ,) a que pertenr.e
originariamente o fundador, Essa denominação orlglnêrla pu:e-
ce ao iniciador de seIta estar corrupta. ou contaminada . . Assim
toda seita é uma «reforma da Reforma (protestante)~ ou mes-
mo creforma ·de retonna ... da Retorma:..
2) ' Em conseqUéncla, as seitas sio levadas • rooIçar exa-
geradamente .. verdade ou. as verdadea que elas julgam dever
salvar do esquecimento; tais seriam, por exemplo, a segunda .
vinda ·do Senhor Jesus ou os dons: do Esplrito Santo concedidos
em Pentecostes (entre esses dons, o das Unguas e o das' curas
ocupam lugar eminente .. . ) . Essa ênfase excessiva ou unila·
teral dada a certas proposições quebra o equilíbrio que marea a
mensagem cristã. Sim; esta. hannoniu 1nstitUiCão e carisma,
graÇa e natureza, vida eterna e vida temporal, tendência e con-
sumacão .. . em síntese tranqUila e grandIosa, que as seitas não
conservam . .
3) A persuasão de que estão escapando da corrupção do
povo de Deus e do mundo. explica que as seitas constituam
grupos ·de pessoas «puras e salva5». grupos nos quais não têm
entrada os pecadores. porque pertencem ao mundo ou (o que
ver a ser o mesmo) a outras Igrejas.
Essa mesma conviccão estimula o senso de solidariedade
e fratemJdade entre os membros de wna seita; cada wn conhe-
ce a toclos os que participam da mesma assembléia e é por todos
conhecido; os problemas da famflia e profissão são facilmente
comunicados por cada qual aos seus companheiros de culto de
domingo ou sábado . Jt o que entretem calor humano e cristão
na assembléia. e proporciona reconforto mora) aos membros
das seitas, que -assIm estimam mais e mais a sua comunidade.

4) Ao Biblia vem a ser Interpretada em sentido estrita-


mente literal. Em geral, os crentes. nas seitas, rejeitam as re-
gras observadas por católicos e protestantes para penetrar no
sentido do texto sagrado: estudo dos gêneros literários, averi-
guação do ambiente social e do contexto histórico em que tal
ou talllvro ·tenha sido escrito. pesquisa das tontes ou das tradi-
ções orals e escritas que estejam na origem de determinada
parte da Biblia (fontes J, E, P, D, por exemplo, no Pentateu-
co ... ) . Isto redunda em afirmações pouco cientificas ou pouco
condizentes com a intenção e a mensagem dos autores sagrados
-158-
SEITA E ESPlRlTO SECTJJtIO ·

(o mundo terã sldo.lelto em seis dias de 24 horas, mais um dia


de repoUSOj o homem tem sido criado a partir do barro; a mu-
lher saiu de uma costela de Adio .•. ). O entendlr:lento literal
e pouco esclll;l'ecldo da. Biplla chega mesmo a criar contradições
e desvios doutrinários em re1ação à TradJçio cristã mais antiga
(tenha-se em vista, por exemplo, a "revalorização do sãbado. no
adnntismo, em lugar do domingo) _

O receio de se perder a fidelidade à. Bibl1a leva as seitas a


professar o que se chama c:FUndamentalismo:t, ou seja. algumas
poucas doutrinas tidas como fundamentaIs e deduzidas da Bíblia
medjante interpretação estritamente literal. O que. além dessas
doutrinas, se encontre na Tradição crIstã, é rejeitado como
perversão.
5) Vê-se também assim Que o mvellDtelectuaJ. e eultwel
dos: fiéis que aderem às seitas, nio eostuma. lJ8J' elevado; poucos
estudam a BíbUa em suas Unguas originais (o hebraico, o ara-
maico e agrego), nem se interessam por recorrer a uma tradu~
ção mais próxima dos originais do que a que comumente lhes
é oferecida (a de Ferreira de Almeida, no Brasil) .

Esse baixo nlve1 cultural dificulta o diálogo entre católicos


e membros das seitas . Estes geralmente desconfiam das ten-
dências ecumênieas . .t mediante o ~do, principalmente, que
alguém compreende o Que é o ecwnenlsmo e qual o valor que
tem.
Nota-se também que em várias seitas são muito evocados
o sentimento, a emoção, a experiência pessoaJ. com tudo o que
esses elementos têm de espontAneo e Impro~dor. Ao contri-
rio. nas clássicas assembléias do CatoUcismo e do Prote5tantls- '
mo, o comportamento dos fiéis é motivado por nonnas que
impõem certa ordem e austeridade às cerimônias litúrgicas e ao
comportamento dos 5eUS participantes .
6) No tocante à Moral, os fiéis d!o.s seitas protestantes
tendem ao rigorismo: costumam não beber, não fumar, não
dançar; às vezes também n lo tomam cafê; abstêm-se de tele-- .
visão, rejeItam os jogos de azar, iÍlclualvé il Lotérla Esportiva.
As mulheres não se pintam nem vestem ca1ca comprida, nem
usam cabeleira: recusam corno coisa diabólica a minl-saJa e O
blqulni. Este rigorismo se explica pela consciência que têm, de
que devem ser puros, a fim de escapar à corrupção e à ruina
que pesam sobre o mundo; este lhes parece imerso no pecado.
-159 -
28 ..PERGUNTE E RESPONDEREMOS, 172/1974

- Dai o pessimismo que professam em relação à situação geral


da sociedade. Dai tan)bém o fanatismo com que aderem às suas
crenças; abrir mão-de alguma proposição doutrinária ou moral
da seIta equJvalerla a condenar~se com o · resto da humanidade.

7) Destas premissas aecoITe certo desinteresse pelos pro--


blemaa políticos e aoclais. Cada crente deve dar o seu teste-
munho cristão em. meio ao mundo (e o faz geralmente com
grande zelo), mas a comunidade dos crentes como tal não costu~
ma pronunciar-se sob~ 05 mesmos.
8) O culto div1n9 nas seitas costuma ser entuslbttco: é.
por isto, pouco estruturado ou assaz flexlvel; tem por centro a
leitura ~ Bibll a, a pregação e cânticos, que levam a · pessoa a
uma conversão pessoal ou conflnnam cada vez mais o crente
já convertido. Este aceita. renovadamente Jesus como seu único
e suficiente Salvador.

Nâo raro, nas assembléias de culto das chamadas «seitas,.


os fiéis pedem e aguardam fenômenos extraordinários (curas,
dons de llnguas, etc.). Tais manifestações estranhas do espí-
rito religioso nem sempre são sadias, mas resultam, antes, de
taJsa visão teóJ6gica e desequllibrio nervoso. Tenha-Sê em vista,
por exemplo, o seguinte caso noticiado pela revista «-:rime,. (ed.
latino-americana), september 10, 1973, p. 49:

Lawrence Parker, de 34 anos ele idade, era wn operário


desempregado em Barstow (Califórnia) , que, com sua familia.
professava o pentecostalismo protestante. Tinha um filho, cha~
mado Wesley, de 11 anos, que, havIa. cinco anos, sofria de dia-
bete . Ora recentemente Lawrence e Alice Parker (sua esposa)
resolveram levar o menino à assembléia de Deus para ser tra-
tado por um pastor sul·americano que usegurava ter sido cura-
do mediante a oração . • Cremos que a té cura., dizia p,arker .
Ao sairem da assembléia, pai e mãe estavam convictos de que
seu filho estava. são, como lhes havia dito o pregador do culto;
em conseqüência, deixaram de dar insulina 80 menino .

Dois dias mais tarde, Wes1ey entrou em estado de incons-


ciência. O Rev . Gary Nash, pastor que assistia ao casal, foi
fazer oração sobre o menino; mas Wesley reagiu apenas com
poucas palavras . Diante do fato, a mãe do jovem resolveu ir
comprar insulina ; mas seu marido a deteve . FinaJmente, Wes--
ley morreu. Foi sepultado no cemitério local, sem a presenca
dos pais ou parentesi estes ficáram em casa durante o enterro,
-160-
SEITA E ESP1Rrro SECTÁRIO 29

afjrman"do que "·WesJey ressuscitaria do· sepulcro. Dizia o pai


Lawrence:"cereJo que Deus está permitindo que as coisas cor-
ram de modo e. ser glorlfica'do ao mâxlmo quando Wesley res~
Ruscitar~. T~vi~ o pastor Nash, abalado, repllcou: eNão há
razão para que Jesus ressuscite esse menino. Parece-me que o
casal Parker foi Uudido por Satã . Na verdade, Wesley não
ressuscitou.

Neste episódio, é digna de admiração a fé dos genltores .


Todavia pod~r-se-ia desejar que fosse uma fé mais esclarecida.
O senhor prometeu atender a toda prece humilde e confiante
(cf. Lc 11, 9s); todavia o Pai Celeste nem sempre atende de
acordo com os ' moldes ou os termos que nós, ·em nosso limi-
tado modo de ver, Lhe propomos . Não temos certeza de Que
tal ou tal graça que tanto desejamos, nos será necessariamente
concedida pelo Senhor em troca de nossa fé e de nossas preces,
pois, na verdade, fé e oração não são elementos mAgieos (não
são receitas que forcem cegamente os poderes da Divindade) .
Não há dúvida, nenhuma oração bem felta é perdida ou inútil;
Deus Pai sempre lhe responde; quando não nos dá aquilo que
lhe sugerimos (por não convir ao nosso verdadeIro bem), dá~
-nos algo de melhor (que correspor.de realmente ao nosso autên-
tico bem).

9) 1; de notar igualmente o acentuado espírito missioná-


rio das seitas; que procuram livrar da perdição os pecadores.
Esse espírito, porém, degenera Mão raro em proselitismo, que
procura conquistar adeptos para o seu Credo recorrendo meSmo
à pol@:mica contra outros Credos.

Tais são os principais tracos caractelisticos das seitas.


Tem-::;e observado. porém, que estas são assaz sujeitas à evolu-
ção ou à mobilidade. As notas marcadamente sectãrlas com Que
começam a se afIrmar, cedem multas vezes à institucionaliza-
do, que toma a selta semelhante a umll comunidade ecles1al
tradicional . Tal foi o caso de maiJ de uma denominação batis-
ta. Semelhante fenômeno se verifica hoje especialmente entre
os pentecostals. No Chile, duas comunidades pentecostais já
têm bispos. Vê-se uslm quão complexo é o panorama das sei-
tas e quão necessário é acompanhar as mesmas em sua evolu-
ção para se poder analisar fIelmente a sua configuração .

Examinaremos agora o significado que as seItas possam


ter no conjWlto 'das denominações cristãs ou do Crlsdantsmo.

-161-
30 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS~ .Í72!1974

2. A...Ita" que .Ignlfieam?


Como dito, as palavras cseIta. e csectArlO:t costumam
sJgn1tlcar algo de peJorativo, ou seja, espirito ferrenho, fanático
ou mesmo agressivo . Todavia nio se poderia ver nos movimen·
tos reUglosos livres que chamamos seIt:ut apenas algo de nega·
tivo; através dos exageros e erros das seitas. exprlmem-se c:er-.
tas aspirações da alma hwnana que o estudioso não pode deixar
de considerar. pois ~m caracteri%ar o pensamento religio-
so de multidões de gente simples em nossos dias .
Cremos, pois, poder d1zer que através das manifestações
das seitas vêm à baila importantes atitudes e tendências reli·
giosas do Cristianismo do séc. XX . Tais seriam:
1) A necessidade de coDversão pessoal {não apenas cole-
tiva ou social) e de onção espontânea .ao Senhor. Tem-se ai
a réplica à demasiada objetlvacáo dos valores religiosos e à
r igida instituclonallzacão do culto sagrado.
A acentuação do grupo ou da comunidade e dos valores
constantes e 1.lnlversais da Igreja pode, às vezes, ser tão rígida
que ela não pennita que se explicitem as características pró-
prias das pessoas que constituem tal ou tal grupo (acontece.
sim. que a consciência do nós por vezes impede que o eu de
cada um se afirme diretamente em assembléias religiosas).
Ora antigamente os valores e as normas objetivas, impessoais,
eram mais facllmente aceitos e asslmUados do que em nossos
dias , As seitas representam, pois, O desejo do homem moderno
de se encontrar como tal, com suas notas e preocupações
pessoais, dentro das expressões do conjunt() a que ele pertence.
A propósito, porém. pode-se notar que o Individualismo e a
subseqUente espontaneIdade sem regulamentacão são capazes
de levar a improvisaÇões e abusos na vida de uma comunidade.
Esta não pode ser apenas a expansão do entusiasmo, nem o
culto pode ser cinventado. todos os dias, mas há de ter suas
normas objeUvas, para que todos os fiéis possam rezar em toda
parte confonne o mandamento deixado por Cristo e a Tradição
da Igreja .
A Igreja Cat6Uca. consciente do problema, abrandou as
rubricas extremamente precisas que regravam o seu culto sa-
grado, pennltindo, dentro dos devidos limItes. certa flexiblll-
daôe das fonnas de. oração , Ela procura assim chegar a sadio

-162 -
SEITA E ESPlRITO SECTÁRIO· 31 ·

. equillbrfo entre espontaneidade e tnstuticionallzacão nas assem-


bléias litúrgicas ! e rios 1Ul1bientes . comunitários católicos. lt
claro que sempre poderá. naver novas ·e vâlidas maneiras de
conjugar' o espontlneo :e d institucional.
2) As seitas exprimem também o desejo que· o homem
moderno tem, de encontrar na sua Igreja o.m. ambiente frater--
no, animado pelo amor mútuo de seus membros . Tem-se nota· ·
do que as assembléias muito conconidas e as reunJÔf'.s de m8S~
sas tomam impoSsivel o relacionamento pessoal e fraterno de
cada pessoa com as demais pessoas da assembléia. Outrora'
este fato não impressionava muito 1)5 homens; hoje, porém, ele
chama a atenção .
A Igreja Católica sente-se interpelada por tal realidade.
Tem-Se empenhado pela formação de chamadas «comunidades
de base», ou seja, de núcleos de tiêis que, não. sendo multo nu-
merosos, possam realmente viver em espírito comunitário; tais
são os grupos de casais do Movimento FaII:liliar CrIstão, de
cursilhistas, de focolarinos ... O Concílio do Vaticano TI mani-
festou o desejo de que cada celebraÇ.ão eucaristica. concorra
para formar ou para corroborar uma autêntica comunidade de
fé e de amor entre seus participantes . :e preciso, porém, 10-
mar cuidado para que as pequenas comunidades fraternas não
degenerem em <panelinhasa ou «quistos», sepaJ:ando-se da vid~
da Igreja em geral .
3) Nas seitas se maTÚfesta também a consciência que os
cristãos têm, de não poder dl2er um Sim irrestrito ao mundo
cada vez mais lalcizado, secnlarizado e pennissivo. Embora
estejam no mundo, do qual o Senhor nâo os quis separar fisi'C8.-
mente, os Clistãos não são do mundo (el . Jo 17,14s) . Por con~
seguinte, devem exprimir claramente sua opção cristã sempre
que necessário ou todas as vezes que se virem dIante de . um
dilema. . -
Esta expressão peculiar do cristão, segundo o Catolicismo,
não há. de significar agressão ao mundo, mas há de consistir
num estOo de vida próprio ou evangélico _ estilo de vida que
não exclui necessariamente cigarros, bebida, cinema... (con-
tanto que estes nAo violem as leis da temperança ou da d~­
ela) . Todavia é verdade que a abstenção até das coisas licitas
e a sobriedade pertencem ao estilo de autêntica vida cristã.
Ao invés das seitas, a Igreja Católica e as denominações
protestantes tradiclonais ~o preocu~da$ com o que se cha-
-163-
32 ,PERGUNTE E RESPONDEREMOS, 172/1974

ma cpresença no mundo_ ou com a rnlssio confiada por Cristo


aos seus d1sclpulos de ser cIermento na. massa, sal da terra e
luz do mundo_ (d . Mt 13,33j 5,13s) . Os cristãos têm que levar
à Cidade Secular ou profana o sabor, o estilo e os valores espe-
cificamente cristãos, sem se deixar diluir OU embotar pelo se-
cularismo.

4) Nas seitas manifesta-se também a fome e sede que o


homem de hoje tem da PaIa.vra de Dem. Esta é lida. relida e,
não raro, citada de mêm6r1a pelos crentes.

Na Igreja Católica, o Concilio do Vaticano n exprimiu


ardentemente o desejo de que as Escrituras Sagradas venham
a ser o Pão da Palavra saborosamente ass1milado pelos fi~ls, de
tal sorte qUe a piedade católica seja profundamente inspirada
pela Bíblia. A exegese clentifJca, vaUdamente cultivada pelos
estudiosos católicos, deve completar-se pela oração, beneflclan·
do todo o povo de Deus. Não M. dilema entre exegese cienti·
fica e piedade blbUca; esta. nada lucra. mas SÓ se prejudica, caso
rejeite ou condene o estudo cientifIco das Escrituras. Para que
um cristão seja fervoroso, nio é necessário qUe rejeite a clênciaj
mas, ao contrário. tanto mais sólida e convicta será a sua pie-
dade quanto mais estiver ancorada nas conclusões da sadia
exegese cat6lica.
5) Os membros das seitas modernas dão também o tes-
temunho de que não têm respeito humano. Apresentam·se
como arautos do Evangelho nas precas públicas, nas ruas . .. ;
distribuem folhetos e livros nos hospitais. nas prisões, nas casas
particulares. não se importando com as reações de deSagrado
das pessoas interpeladas. Esta sua atitude ·decorre da cons.-
ciência SUbjetiva Que t êm de Que o mundo vai mal, caminha
para a sua perdição, de sorte que é preciso salvar da ruina espi-
ritual o maior número possível de ~os . Assim fazendo. os
crentes das seitas julgam estar imitando São Paulo, que d.i.zia
não se envergonhar do Evangelho (cf. Rom 1, 16).
Ora o espírito de missão das seItas incita os fiéis católicos
a refletir: alegando respeito para com as consciências alheias,
muitos se interessam apenas pela promoção humana das eJasses
desfavorecidas, não levando em conta que a fome e a se<le de
Deus merecem em prbneiro lugar (embora não exclusivamen-
te) a atenção e o zelo dos dlsclpulos de Cristo. Entre as últimas
palavras do Senhor Jesus, esta. a ordem de ir pregar o Evan-
gelho a toda criatura (cf. Mc 16,15). A Igreja deverá ser sem-
-164-
,~__-2~~
. ~~~~~S~~~~~OL-________~~
I
pre mlsslolJãria, levando o anúncio do Remo e da vocacão à
santidade a todos os homens. ricos e pobres. Esta. há de ser
sempre a sua tarefa palmar.

3. Conclusão
Em. conclasio, deve-se dizer que o problema das seitas con·
temporlneas não é algo que se possa considerar com tndiCeren-
ça ou menosprezo. Os diversos erros e exageros dos membros
das seitas provocam o fiel catóUoo a um exame de consciêncla.
Na raiz das aberrações desses innãos separados, há cernes de
verdade e de bem. verdade e bem que por si pertencem essen-
cialm,e nte à Igreja de Cristo (ou seja, à Igreja Católica, Apostó-
lica, Romana) . - 1: nesta. por excelência, que o esplrito de
fraternidade, a colaboraçao . mútua, o fervor, o entusiasmo, a
pureza de costwnes, o amor à Palavra de Deus, o ze]o missio-
nárlo .. . devem ser cultivados e apresentados 80 mundo. Ver..
dade é que em toda grande sociedade (como é a Igreja Cató-
lica, com seus seiscentos mUhões de fiéis) a tibieza, a mornura
e a infidelidade atingem maior número de membros do que
numa sociedade pequena. Isto, poI:ém, não quer dizer qu~, para
viver o ideal do Evangelho. se devam constituir sempre novos
e novos grupos separados e independentes uns dos outros (como
são os reavivamentos ou as seitas protestantes) : A quebra de
unidade e o esfacelamento serão sempre rontrirloo ao Evange.-
lho , É dentro do grande povo "de Deus WlO e coeso que cada
cristão católico deve viver os valores evangélicos", O antidoto
da rotina e da tibIeza náo é a separação ou o cisma. mas a to-.
mada de cOnsciência sempre renovada de que ser cristão é ser
portador do Reino de Deus, é viver nio mais para 51, mas para
Aquele que viveu, morreu e ressuscitou por todos os homens
(cf. Rorn 14,7-9; 2 Cor 5,14», Quem cede à rotina e 'à indHe-
rença, não é respongAvel apenas perante á sua consciência. mas
perante todos os Innãos que ele assim prejudica .
São estas algumas reflexões que o fenômeno das seitas de
hoje sugere. Uma. realidade tão alastrada como essa não pode
deIxa r de impressIonar e de ter seu significado,
A prop6sllo vel....
B. Muniz de Souza, "A experl6nelc da aalvaçlo". Sílo P.ulo 1969 .
Waldo A. CHar" "Para uma .oelologla do Proteslanlls mo brullalro" ,
Pelrópolls 1913.
H..ch. Ch6ry, "L'ollenl l... das lectes". Parls 1954. .
J. MaJla, "EI problema da lu lIamadas seelas", am "ertfarto" 1e73,
1I(V11I/73, PI). <4,a..418,
P.evl:sla "Conclllum" n9 89 (1873): "R6vells Splrltuels".

-165 -
Mal, uma vez no cInema:' .

"jesus cristo sup,erstar"

Em afnte.e: A poça do tealro "Juua Cristo Superslar" 8s14 sando 'Pro-


sentada oos ch,.mu do Bràsll, ben.flclando-se d .....riedad. de racursos
(centrlos, .rU"clos .•. ) que. clnamalograUe ofarece. ê filmado o s.u enre-
do na terra de Israel, de modo a apresanta~ notivals pais agens.
O contaüdo do IIIme do OI últimos dias da ...Icia tarrestre do Jesus
Cristo: reverenciado peles multidões como MeMlas, Ela' desafiado por
Judas, que o aeula da lI)ldlr o povo e ceder a vis pretensõel . Flnalmante
é condenado t morte de crucllbclo; ap6s 'haver expirado, Cristo reapareco
8 caminhar em dlreçlo da cruz alrÃS da qual se .... 1 lev.ntarldo o sol -
sim bolo de ressurrelçlo e nova vida,
o eslllo do filme é rock; musicas. cantos a bailados se sucedem com
exuberllOcla, por vezes astrldente e desnacess'rla. fa.2Bndo contrasta com
8 IIgura d. Jasus Cristo, que no filme fica sendo séria e clássica.

São Jançadai a Cristo, principalmente no final da pallcula, algumu


InlerrogaçOes decisivas como: "Crês que és o que dizem que és?", "Qual
8 razao do t.u sactiflclo?", "Oubeste morrer assim ou losla enganado?"
Estas e outras perguntas ae encontram nos lãblos de mullos dos nossos
con1emporaneos . Parecem ser apresentadas no Iilme com sincerIdade. Nor-
man Jawison, o produtor, sugero a essas Indagações uma resposta valida,
pois dê a ver como, at ra~es dO humano em Jesus, a Dlvindada transpareca:
Maria Madalena, per axamplo, a Pfostlluta que S8 chega a Jesus, é por
este translermada. Em suma, " Jesus Cristo ' Superstar", com seu eSlNo
rock e SUb c.nas lantulSlas, ., no mlnlmo, mais uma forte 8llPresslo da
" mania de Jasus", de qua 1101 fata o pr6prlo fUme. O homem de hoJa
sente-sa vivamente alraldo por Jasus Crlflto, porque descobra nele a resposta
qua nem a sociedade de consumo, nem as drogas nem a completa liberdade
saxual polM'" dar .

• • •
Comentário: Está de novo em foco a peça cJesus Cristo '
Superstar•• não mais no teatro, mas nos nossos cinemas. De-
pois de ter feito relativo ou desigual· sucesso nos diversos pal-
cos do mundo, o enredo é apresentado na tela, onde naturalmen-
te a arte goza de mais recursos e artificios de expressão. A
transposiCão para o cinema se deve a Nonnan Jewison, cineasta
canadense,. que tol premiado com o Oscar pelo fUme «No calor
da Noite,. Como se sabe, o scrlpt de cJesus Cristo Superstar.
é de Tim Rlce (26 anos) e .a música roek de Andrew LJoyd
Webber (23 anos) .
-166~
cJESUS CRlSTO SUPERSTAR~ 35

Todas as cenas de cJesus Cristo Supersw> foram filma-


das na terra de Israel, tla qual mais de trinta locais serviram
como cenãrio ao trabalho cinematográfico, que durou quatorze
semanas, mobUl2ando uma equipe (relativamente pequena para
um fIlll1e blblico) ~ duzentas pessoas (lnc1u1dos atores e figu-
rantes). O orçamento da produção subiu a 3.500.000 dólares.
O conjunto do fUme l! grandioso e impressionante; pelo que, tem
merecido a atenção do público brasileiro. Eis por que também
não PQdenamos deIxar de lhe dedicar algumas reflexões em
PR, depois de haver abordado a peça de teatro correspondente
em PR 153/ 1972, pp . 4Q8.:4ló.

1. aJesus. Cristo Superstar»


1. O papel de Jesus tocou a Ted Neeley, de 29 anos de
idade. escolhido por Jewison após longa procura. Teci já fizera
semelhante papel durante a temporada de ópera rock em Los
Angeles.
Maria Madalena. foi representada por Yvonne Elliman, "de
17 anos, nascida em Honolulu .
Quanto a Judas, foi o at-or-cantor negro Carl Anderson,
que os críticos juJgam perfeitamente enquadrado em seu papel.

2. O filme comeca focaJizandc Jesus Cristo prestigiado e


reverenciado pelas multidões como cSupersta.r~ (SuperestIela),
Messias e Deus. mas desafiado p<lr Judas como ilusor do povo
e provocador de violenta Intervenção dos romanos em Israel:
_Tu :nentiste. Devias ter ncado no teu lugar de carpinteIro .
EsQueces Que teu país está sob ocupação:. . Jesus, porém, ·não
se furta a dizer aos seus seguidores (imbuídos de nacionalismo
e aspirações politicas) que eles não compreendem o que são o
poder e a gl6rla; OS habitantes de Jerusalém enganam-se quan-
to aos planos de Jesus.
A fama de que o Mestre goza. junto aos seus discípulos,
irrita igualmente os sacerdotes e maiorais de Israel, máx1me
quando assistem lã. entrada triunfal de Cristo em .Jerusal~m no
domingo de Ramos . Nesta ocasião, como ainda antes e depois
no decorrer do filme, toca papel saliente a Madalena, prostituta.
Que se chega a Jesus, acaricJa O Mestre, ma.. sente algo de mis-
terioso ao contato com Cristo: parece-lhe ser' um homem como
tantos já conheceu; não obstante, ela se assustaria se Ele lhe

-167 - .
36 cPERGUN'TE E RESPONDEREMOS. 1721197'

dissesse que a ama. e dele se afastarta; a sua vIde. mudou de-


pois que conheceu Jesus.

O Senhor expulsa os vendilhóes do Templo com grande


aparato - o que desperta ainda mais a sanha de seus adversá-
rios . Finalmente ê, vendido por Judas ao SInédrio de.-Israel . Na
quinta-feira santa, após ter ceado com os seus'" Apóstolos, é tral-
do, preso e levado ao tribunal de catrãs; este o envia a Pilatos,
que aparece em sua ma.jestade .romana . Sabedor de que Jesus
ê Gellleu, Pllatos manda· entregar Jesus a Herodes . Este, em
atitude de deboche, cercado de bailarinos e bailarinas, desafia
Jesus a que faça milagres, caminhando, por exemplo, sobre as
águas do lago em que o monara\ se acha Instalado, ou multipli-
cando pães. Todavia, já. que Jesus não responde, é enxotado e de..
volyjdo a PUatos . Este O manda acoitar e entregai crucifixão.
O Governador romano diz a Jesus: «Não impedirei tua autodes-
truJcáo, equivocada mártir! ..
Enquanto Jesus está. para morrer, Judas volta à cena inter-
pelar.do-o aproximadamente nos seguintes termos: «Só quero
saber. Jesus Cristo, quem és tu? Que sacrlf1caste? Quiseste
morrer assim ou foste enganado? Crês que és o que dizem que
tu és? Dize-me o qUe pensas: qual é o maior - Buda ou
Maomé?
Depois de carregar a cruz, Jesus morre no calvârlo •..
Vêem-se finalmente os atores do flime a subir no ônibus que
os havia Jevado ao deserto de Judi para fazerem a filmagem.
enquanto Jesus fica no local; por detrãs da cruz do Calvário,
aparece o sol a despontar e brilhar; Jesus se encaminha na
direção desse slmbolo de ressur.re.lcio e vida nova. Assim se
~noerra o ~o .
Pergunta-se agora:

2. Oue dizer?
Procuraremos 'resumir algumas ponderações em três :Itens;
2.1. D. MMo leral. ..

1) Pode-se crer que a intenção prlmeira e capital do cine-


asta foi a rle fazer eco ao interesse cu mesmo à inquietação dos
homens de hoje a respeito de Jesus Cristo . O Senhor Jesus está
muito em foco, como se depreende dos diversos meios de comu-
-168-
cJESUS CRISTO SUPERSTAR:t

nieacio socIal. Todavia nem todos os que por Ele se Interessam,


penetram até o lmago do mistério de Cristo. Por isto o fllme
reproduz as lnterrogaçOes d~adoras que se poderiam ' ouvir.
nos lábios de muitas pessoas de nossos dias: -Jesus Crlsto. dize..
-me quem és'! Por que assim morreste! l!::s superior a Buda e
Maomé? Jts realmente Deus feito homem. como dhem os teus
discipulos 1::.
A essas perguntas - que não parecem irônicas., na inten-
ção do cineasta - o fume parece Insinuar resposta positlva,
embora tenuemente esboçada. Com efeito, Jesus é aprefentado
como personagem misterioso, transcendental, que transt'onna
Madalena, provoca o remorso em Judas, prediz a t.ra.ição de
Pedro e. finalmente. aparece vivo após ter morrido sobre a
cruz . ,., vIvo como um sol que desponta a irradia r luz e calor
por trás da sllueta da cruz,

Tem-se a ' lmpressá-o de que no filme a afirmacão de Jesus


Me"'4Slas e OeJ,1s é multo mais clara do que na peca. de teatro
«Jesus Cristo Superstar:t . Assim entendido. o filme pode ser
úUl aos espectadores, embora talvez nem todos percebam. a
mensagem positiva ou a confissão de fê que nos parece insi-
nuada atravél!; dos temas da fibne . O tato de que Judas (cujo
papel é extremamente saliente no fUme) é o principal portador
das ob~s contra JI!S\lS. não quer di2er, conforme ,o cineasta,
que tais invectivas hoje em dia são precisamente inspiradas pelo
tentador e pelo Mallgno?
2) Dita isto. é preciso agora reconhecer que Norman
Jewison estabeleceu um contraste violento entre a pessoa de
J esus Cristo digna, ~ássica. vestida de túnica branca. e as figu-
ras que aparecem. em torno de C~o . Estas vestem·se como
bailarinos e bailarinas rock, dançando por vezes de . maneira.
febril e frenética, Principalmente o rei Herodes e sua comiUva
fazem papel debochado, que destoa da dignidade e da nobreza
da figura de Cristo, que ê a figura principal do enredo. Seria
para desejar mais sobriedade de estilo nos personagens que
acompanham o Mestre,

Em particular, merêCe atencão


2 .2 . Â fig",ro do Cristo •

As últimas cenas do filme susc~tam algumas questões na


mente do espectador . Assim, por exemplo,
-169 -
38 (PERGUNTE E RESPONDEREMOS~ "í17211974

". a) ' ·«Tudo 811'6 .tsUlto,) ,,~ , D.v. i cumprl:r~.. JM ,s rMt ..26j241.:54) :
'f' .,' .,' .,' )' ·j','l ·.' . ,,·:',:. '; .. 1 ;lj . u '. !.'iI :; ,. :'1 I ' tli"l l ' ,1 :.:1
, ,,'Estas' paJàvras 'db\ mm""n!p;êtIdIÜV/lOt'; 1~' . 'i>di',iJüllliS'
sugerem. ti. multaS péssÓ8s"~fatál1sri1Q' e' õdiõsa f"Pted~ti~ol dós'. "
homens pllí'a'o pecadõ e 'if' cõDdéríáÇAô~ ,.p~ . .: .. ,,~ : . ,; "" ,1' ' 1" 1-
.. '. . ;,; ';c. .. /., " ' L'" " rj'," '~,'~' c., · ·:H'~;.: ; ., ,.j '.. ,i : " , .~i~

. Não- é este, porém, o sentido do cDrtá - escrito'~~" i:)ii)Ü$:}


·Esta expressão apenas lembra que os aconteclmentos referentes ., , I
ao MésStãs· já"forântpreViStoS 'ê anUnoaaâS ibss 'Escri "'; á:s do i
Anti" ,TeStamento; DeüSr ' ' : Qfjén1"'8'~êlo e1 ó fUt!8'estão· !
, semfr!e presentes; ' 'houVe:W 'bem':"i~veI8.r .p~ôs PrO!etU 'Jo!;~ I
prlncJpB..ls fracoS da Õbril; élo.tUtüro 'MesstâS, plU'â' que ós homenS'" ,
compreendessem que á Paixão tói" abtêntica' obra salvtfic8; de
Deas. Isto, porém, niil quer ' dizer Que; ao .preVer e ptedizer,
Deus haja' coagido algwn homem a proceder deste ou daquele
modo. ".
,
No filme, Judas diz: cMinha '~ente está-nas treVas: NlIllCB·
saberei por que me escolheste para o crime!, Estas palavras
não condizem com os autênticos ensinamentos 'da teologia. Com
efeito; esta, baseando-se n,as Escri~, "diz que Deus fez o ho-
mem livre e nunoa. lhe retil'a A. liberdade de arbitrlo ; ·apenas
se encarrega de fazer que as linhas (às vezes, tOrtuosas) escri-
tas pel~ hom~ns conool'I'4J"O para a recJ&Ã;ão de uma mensagem ,
final altamente positiva. Foi o que. se deu com Judas: apesar
dos apelos de Cristo, e 'da ação da 'graÇa. (que Deus sempré OA '
aos homens para que não pequem), este 1l{J6stolo preferiu áten-
der a outros interesses; em conseqüência" traiu o Mestre, ,abu-
sando de sua liberdade - ' 0 que, dep;ais. lhe cauSou tremendos
. remorsos, ' Note-se, porém, que, embora Judas se tenha entre-
gue ao' desespero e ao 'sulcidlo, nAO se pode afirmar que esteja
no Inferno; nJnguém ~be O que ocorre no intbno de um mori-
'bunda, mesmo quando este põe fim vIolento à sua vida: a graça .
de Deus é rl~ em meios de salvação .

.verdade é que se costuma mencionar neste contexto a fa-


mosa passagem de Mt 26,24, em que Jesus assim se refere a
Judas : cAi daquele "omem pelo qual o Filho do homem .será
tra!do! Melhor seria para esse homem, se não tivesse nascido!.

ora nem mesmo estes dizeres podem .servir para se df;finir


a sorte eterna de Judas . Na verdade, quem considera atenta-
mente os pronomes do texto original grego, verifIca que se deve
traduzir de modo diferente, e. saber:
-170 -
(

.- . , .. .-JESUS CRISTo SUPERSTAR~ " ..39


cAI. do homem 'aquele tal (ekelnoói) pOr quem o Filho do :
homem ê entregUe! 'Melhor tóra para este -(àutooi, 'o FUhõ dó .' I
homem) se não tivesse ·n~cIao aquele . (ekefn<is)' hotriem!~ ' "i;: . • :. :;
" .' " '. , ' . ;' 1 :. ,,; ; ", . : . ; ; ' '": -. ', ' 'I!. -"j : .. "
. ':e esta a verde adotãd~! péta tradt.lc6o llteial de H. Nin~t : .~ -~'
- nas· · recentéS LS\.nopsês ' 'evan~lIca!i
edltad8S pelos PadiêS:i>elsS " ... :
e BenOtt-Bolsnulrd . .~ 'Jesus designa Judás: ~o 'oemónstr8.tlVó . l;: ~
gÍ'ego ekelnos' tanto no
iDIclo'!como no fim. aa
SUa declüá~o; ' ' ..
ekelnoS ' é tra~élo por
aqu.ele·::: No'. mel~ •. 'pót'éin; ,êl4.,,~dà ': "
frase, Jesus não usa "8kelnos, 'mas ' iLutóS (no ' datiVO, ao:tOOl); "
pareée, portanto, .rêterir-Se a'outra pessoa. que- não JúdáS~ ' ou -J

seja, ao p[-oprio.Senhor Jesus . Crlstó. então .terá intencionadO


dizer que mais ·fellz teria sido a sorte do própria Jesus (e nãó
a de . Judas) se não tivesse nascido Judas o traidor. SObre 8:
sorte eterna de Judas. nada estaria dito no teXto do S : Evan-
gelho.

As observac6es de lI. Pernot são proceden~ " e merecem


consideração. .
Quanto à exclamação Ali (ooal, em grego), que 1n1c1a a
,-
sentença' de Jesus, equivale a uma interjeição hebraica. que não
exprime maldlçAo, mas apenas manifesta tristeza e compaixão.
Fot o que Jesus experimentou -em sua alma quando se referiu
.
a ' Judas; o Senhor nã.o proferiu imprecação sobre o traidor.
- -
bl ..Meu Deus, meu Deus, por que me abaftdonast~?D . (Mt
27,46; d. SI 21,2)
. J esus exclama estas palavras pouco antes de morrer na
cruz. Mais: no horto das OUveiras, Cristo, em oração ao Pai;
profere, segundo o filme, os seguintes dizeres: «Quando eome-
ceio sentia-me inspirado; agora estou cansado. Os meus três
anos de luta parecem-me trinta ou noventa . . , Vou beber o
cálice .. . Mat~-me antes que eu mude de idéia!>
Tais pronunciamentos de Jesus não são compreensíveis à
prImeIra vista. Para entendê-Ios, notemos logo o seguinte: na
cena ·do horto das Oliveiras, os Evangelistas não nos referem
senão ,que Jesus suou sangue ao prever a PaIxão.Que havia de
sofrer, e pediu ao Pai: .:Se",possivel, passe este cálice sem que
eu o beba. Faça.-~; porém, a tua vontade, ' e não a minhal.
(Mt 26,39) . Não insinuou decepção diante do plano do Pai nem
per:st>ectiva de derecção ou apostasia. . ' I

-171_
,
, , Feita ~ observação, llIIrmamos agora , que Jesus"tanto
no Getsênuml CODio na ~ quis Ident1llC8Ne totalmente com
o, hom... , experlment8ndq aquilo que a / fragWdada I)uàuim

=v~:S=~~~:'=oa:::am~=
mente infligem • Seus ~ e bent:e1tores. a repulsa nat1:Jra1
cUante da morte... Jesus, como homem, o c;iuis .experJmen.tar
:Para. ~tlllear todas estas ·sftuacóes. dando-nos a certeza de ,-
Que não hé. sofrimento 'em noSl!u~ vida que Dão posSa ser santl- !
ficado ou, divinizado; prostrado pela dor (que é tio nossa •
Que se ldent1tlca com o pea.do) , Jesus dlsse: cPaI, taça-se a tua
vontade; e n,Ao a minhal» RepeUndo ta1s palavras cOm Cristo.
o cti.stão faz de seu sofrimento o caminho de volta ao Pai.
QUanto à exclamaÇão «Meu Deus, por que me abandonas-
te?" em especial, note-se qUe ela. não tol ~nCêbtda por Jesus.
mas é o verslcuJo inicial do salmo 21, atrlbuldo a Davi, que des.
creve de maneira extremamente vivaz os sofrimentos do Messias
(<<traspassaram as minhas mãos, e os meus pés .• " repartem
entre si as minhas vestes e lançaram sortes sobre elas ... :10) •
JA Que este salmo prediz iielmente à sofrimentp do Messias,
Jesus o deve ter dito' por inteiro quando pregado à cruz, excla-
mando as suas primeiras palavras em alta Voz. Voluntaria-
mente então o Senhor, embora inoeente, quis sentir o que todo
homem. experimenta depois do pecado: Q Impressão de estar
ifastado de Deus como se De\lS o tivesse abandonado. Na ver-
dade, Deus Pai não abandonou o seu rubo pregado à cruz como .
homem, nem abandona algum homem, por mais envolvido que
esteja no lodo; é o homem que abandona a Deus pelo pecado•
. mas que sempre encontra o Pai de braços abertos. desde que' a
Ele queira voltar como o filho pródigo da parábola' (cf • .Le
15,11-32) .

2 .3 . A eman&a d. J.IUS. r
Por duas vezes esta expressão ocorre no filme . .. Ela tra-
"duz o interessé que mo~ hoje em dia os homens a considerar
a figura de Jesus Cristo. Neste ~rloso personagem da h1!rt6-
ria parecem até os maia levianos estar. encontrando a grande'
resposta para os seus anseios. A mensagem de Jesus permane-
ce de pé, perene, mesmo depoÜl que 08 homens se desiludem da
soc1edade . de corurumo, das 'drogas, do llbertinlsmo sexual •••
AtrEl.vés dos traços humanos de Jesus, muitos descobrem· a sua .
Divindade. A este propósito, é tipica a imagem de Ma"dalena

'-172 -
<JESUS CIUSTO SUPERSTAR>
,
no rfim.'-acostumada aos pramoes sensuafs, :ela -Pe!tebe _em
CrIsto -oUtro encanto, outra voltlpla, outro tipo de -BDiàr •• ; _ -
.;t' para desejar que estas lnsInuaçãea de iJesus Crlsto Su-
perst.ar» ~ tJlme que. se nio tivesse outras benemerências,
..teria .., menos a de.. exprlmlr .. manta de Jesus - ealem prO-
_tundamente no esplrlto dos espectadores e os ajudem a desro.
brir cada vez mais as insondáveis e Inflnltas riquezas da intimi-
dade com CrIsto! ' - .. .
~--X

(Contlnu&Glo da "';. 154)


... 3) O depÓ8110 da fé recebido de Crlalo • tnlnsmltldo na Igreja vai
..ndo ml1e • mil, compreendido I aprcfundado 'no daCClrrar do. temp.oe;.
P.ra tanto, concorrem oa. lantas. os mllllcoa 8, tllTlWm, oa te6logce. ~te ..
CGmO «:onclullo de H\III ".'tvdO., prop~ nov.... novas fonnulllÇ6el ~
perene. Imuitvel varel'da f1IYIIlada por Deu.. Para hilgar tais propoelç.5es,'
Cristo Instituiu o M'\11116110 aa igreJa : ",., autoridade" do Magll16rfo • dlvto
naman" garantida na mlasto de reger o · Qnlco rebanho d8 Crllto nl lui té~
Id6nt!c. sempre, mal umpr. em crnclmllnto lO longo da .Hlat6r1a. A àulo-
rldeda doa tllÓlogos . nlo .. altua no mIamo' nlvll di aulorldade doá 'pu-
tores (~
, a, por 1110, nao lhes lu concorrtncla", , .
15, pp. 171) • •
.' ' ,. ,,'
4) Entre os PulorM, a quem Crlato ,cdnnou ' a- mla.lo'· de lnllrpJ1lI.t
lulentleamente a verdada revelada, ' IOb...... I · a "II'Url: do Sumo Ponlfflca; '
ClMlle do Colégio dOI. Blap08. O 'Papa gou ·de ·lnfallbll1clade em ' maljr1a de
..... mo~I, segundo c» termoa DefInidos peto ~CpneJIIc ..~ .YIUcano I (1870).
0.. Blepoa gcum oulrotalm. da Infallbllldade quando...antlnam...m comunhlo
cOmo o Plpe. aObr.·u.unIOl de f6, e,tla moral•.êS"·rh~ô" çõnpordar; àUmil
deflnlçlo a aer proleaaada por lodo o 'povo de Deu-. ' . , , : . .•.• .. ~
.. . ' , ." : \ .", ::
. ·- Cada .Blapo deve procurar fonntilar a verdade' rtMtIBdl ·.em :comul)hllo
,cOm ·o papa ,' todo ' o CoI6glo Ep1lc:opill (el, n99, P: 1.0.1•• ,\ " :': I

, ' 5) ,,'0 poVo sim~I"'. ~ô


eonlalo-eorri ,! . vlda a·,IU. du~ .rein~,!d!lii:
tem por veze.· cer1aa Inlu~
'da 'li "Allda • ponto <kI Inla"'a"t'en'I aa-
proprlo. te6logc» e ao rnag18tério d~ tgntJa (el. "' '., p. 18). . " I,
: ' :' . . . . . . . ' . -:~ l i I ' .' I

f"
.,AIIIm "O legado da '16 li 'conflado • Igreja InteIra.· 'glIll'llldo ' Ni- nal . ', ',
.. Tracllçlo" 'madl.nta o 18nso ~b~natural . da p~nte , ~.' tç4q : o " ~;
(LG 12.1), garantido pelo Eep(rlto Santo. qua. nunca delxart • IgreJa. apOsta-
', ..'
','
ia, da .eu Fundador, C I •• Ie klgado que O' Mlglsldl1a :.ti
",,,culldO . a ,," ,
ao qUII 8e deve ref.rlr em lUas decl..5tI, o :qu. :nio ·'.'Ohlfl,crI' 'qUcf·e.ln ,
reeebam leU valor do eonsenllmanlo do povo" (n9 4, p. 8l, .. ' '
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"ti. Ela algumaa daa 1311:00.. linho do documanto em foco: -'Iud.,.. . os '
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Gelln é dos bons ~x~getas franceses do Antigo Testamento. O Uvro
que aqui apresentamo., retoma um 8ssunte» que Gelln sempre abordou
eorn especial carinho. Estuda o sentido da pobreza na Blblla .
Nos primeiros tempos da hlstórla de Israel, o pobre era aeralmen-
te tJdo como O homem punido por Dêus por causa de seus pecados, ao
puso que o rico era COn:Jlderaao homem, que Deus queria premiu por
a ua fidelidade l lei do Senhor; cf . SI 1,3; 112.1-3. 'l'ooavla o ltvro de
Jó pOs em xeque tais concepções; J6 tornou·se pobl'e e enfermo, sem
que tivesse anteriormente otendldo a Deu., de maneira ira~ , Na ver·
a nde a experiência ensina. que hi muitos ricos arrogantes e ImpiO$, ao
p&!so que numerosos pobres 510 fi~[s aos p rE!C1! ltos do Senhor. Final·
mente, após o extllo t587·S38 a . C .) o conCt!lto de ( pobre,. em Israel
atingiu a última etapa de lua evohlç'IO : os judeus que voltaram da
Babilônia para reconstruir J erusalém e o Templo df! })eUI, não foram
os r iros, pois estes J6. se haviam acomodado no estrangeiro e, por causa
do $t!U bem·estar material, n3.o tinha m mais n lê c a eoragt!m pari!
recomeçar a vida na Terra Senta. ucm voltou para reconstituir o
povo de Deus em Judi, forem os pobres e pequeninos, que, nlio tendo
lIusão nas r iqunlS, conservara m viva a consciência de lJue Javé era
a R'rnnde fon te de esperança e a valiosa riqueza de Israel . De entAo
por diante, o povo de Israel estabeleckl.o em Judâ ficou l'endo carac·
terlzado l.omo um povo de pobres - os pobres de J avé, que t inham o
coraç'lo voltado para o Senhor. com simplici dade, humllaade e amor.
No Novo Testamento, o conceito de cpobre. é identUleado com o
de ccllente de Deus, livre das ilusões que as riquezas suscltann . O
pobre que vive em a utêntico esplrlto de pobreu, conserva avisA0
lúcida uc que a criatura nada tem de Vl'.1Joso que nAo lhe tenha sido
dado por Deus; é humilde, des pretensioso. vive a verd.J.de. e por Isto
q ue Jesus proclama a bem·aventurança dos pobres (cf. Lc 6,:lO; Mt
~.3); o próprio Jesus aparece no Evangelho como anaw 0 1.1 pobre - o
que também pode significar cm.:mso e humilde de coraçlo. {el . Mt
11, 2&30; 21,5,.
Silo estas as Jdéias que GeUn desenvolve no seu Interessante livro,
o qual se termina com uma frase de S. Tereslnha de LlsJeux: <Não
rennas medo: qua nto mais pobre :fores. mais Jesus te amarA~. Segue·
-se ao último capitulo uma col~ão de- treze textos sobre ti pobreza
tirados do! Bibli., dos escritos cristãos desde o sk. IV até nossos dias,
assim como das a ntigas literat uras eglpda e hindu .
A obra de Gelln se ~comenda vivamente a todos quantos de.seJem
conhecer melhor a Blblia e sua mcnsai:'cm altamente construtiva. O
au tor sabe usar de estilo assaz compre<!nslvel e atrl.:entc.
Acontece que quem comeea, a se Interessar pela Blolla, .em de·
mora sente a necessidade de uma Introdução geral à mesma; sem Isto,
o leitor ~6 conslder.o. facetas e aspectos parciais do Livro de Deus.
Eis por que abaixo apresentamos dURJI obr.as acesslvel, e de valor
capital para Iniciar o estudioso na S . Escritura .
A TndlçAo Blbllea, por Georges Au'Zou . Tradução de Frei Ellseu
de Lucena Lopes . Coledo cA Pa lavra. de Deus. - 4. Uvrarla Duas
Cidades. São Paulo 1971, 137 x 210 mm, 373 pp .
O a utor, jA conhecido no Brasil pela sua obra cÁ Palavra de Deus•.
percorre a história do povo de Deus detde Abraão e os Patriarca. alé
Jesus Cristo e os apóstolos; apresente. OI fatos salientes de cada época,
as quest6es doutrinArias que loram então surgindo, e colota cada lIYr'o
blbllco em seu contexto histórico e geogrAJ'lco. Assim o leitor adquire
uma vl!ão panorAmlca da paulaUna formação das pAginas da Biblla;
comprende que esta. se foi originando lentamente, sempre a partir de
latos concretos e em dependfooa 4as tradl~H orais qu~ eram trans·
mltidas de i'eraç!o em geraçlo entre os judeus e os primeiros cristãos.
A leitura do livro de Auzou ajuda o leitor a libertar-se da tentação
- tão compreensivel - de supor que a Blblla tenha sido redigida mais
ou m~nos A semelha.nça de um livro moderno. que em geral depen4e,
quase que só, das pesquisas, reUe.xOes e da redação d ireta do respec-
tivo autor. - Ao contrir1o, quando S~ aborda um livro biblico. deve·
·se guardar viva a consciência de que ele tem sua pré·hlstórla : pré-
·hlatorla ptíbllca., As vezes longa, que coincide com o perlodo em que
os dizeres do llvro eram transmitidos de boca em boca, de geraçl.o em
geraçlo, recebendo através deste processo as caracterlsticas que os
homens e os quadros históricos lhes podiam imprimir .
O reconhecimento deste fato nio quer dlter que a Palavra de Deus
comunicada a Abraão, Isaque. Jacó, Moisés, Davi, Sa.lornllo .. • tenha
.sIdo deturpada pelos homens através dos tempos (como costuma, acon·
tecer com as tradlç6es meramente humanu) . O cristlo sabe que a
Biblia é Palavra de Deus, palavra redigida sob a lnsplraclio do E.pirlto
Santo, que assegurou a veracidade dOS escritos sagrados ; por con·
seguinte, a S . Escritura comunica a verdade que Deus quis transmJtlr
aos homens em vbta da sua salvação eterna (cl. Const o cOei Verbum,.
n" 11) . A critica contemporânea pOde comprovar, em numerosos casos,
a veracidade da BibUa tanlo no setor da hlstoriosrafla como nos da
geografia , arqueoloela •.. A historiografia d~ Israelitas é reconheelda
como tínlca e Inconfundlvel no Oriente antigo, sobre~a.1ndo sobre ..
crônicas do! povos de outrora por sua elt(!nsio e pelo esmero 040s
respectivos e~ritores {que naturalmente MO puderam contar COJ1I "
documentacão d(: que um hlstoriodor moderno dlspôe ).
Todavia a veracidade da Blhlia foi velcllIada e formulada attaves
de Instrumentos humanos, que marcal'8m vivamente o texto por seu
estilo, seu vocabul6.rlo, sua mentalidade . O mistério da Encarna(io,
pelo qual Deus 5e quis comunIcar aos homens na plenitude dos tem·
pos através da humalndade de CristD, jã teve seu precedente anAlogo
na conlecçlio dos livros sagrados, pelos qual. a Palavra de Deus entrou
dentro da palavra dos homens, assum indo, $em erro. os condlclona·
mentos que esta traz em sI.
Introdupio l BI.b lla, por Pedro Grelot, Tradução das monjas bene.
dlUnu, Abadia de SUlfa Maria, São Pa.ulo . Coleção Bibltca·ll. - Ed.
Paullnas, SAo Paulo 1971, 145 x 215 mm, 456 pp .
Este livro, devido a outro j'rande exegeta francês, também. conhe·
cldo m BraaU, serve A mesma 11nalldade que o anteriormente recen·
seado nest.s péglnas. Dlferencla·se, porém, de cA Tradlçlo Blbllca,. por
ser mais volumoso, mais rico em documentaçAo e UustraçOes escritas :
transen!ve, sim, 55 textos famosos. antigo. e modernos, cristãos e nAo
crlstios aptos a Ilustrar a mensaj'tm blbllca; apresenta, cinco tabelas
cronológicas, .assim como bibUoj'ratla cuidadosamente lm:llcada para
cada tema . Após cada capitulo, são re1erldos ctemas de estudo,., ou
seja, surestOes e qut.stôes que esUmulem o leitor a aprofundar o
contelldo do respectivo capitulO.
Grtlot assim oterece um. trabalho substancioso, de Ilj'radâvel leltu·
ra e altamente compensador para qualquer estudioso de cu1tuTA média.
Talvez se possa dizer que Auzou se dlrlB'e preponderantemente l
e.scola e l dldãUca blbllcas, ao passo que Grelot ultrapassa os moldes
da "coLa, ~n\ delxtlr de servir também a QSta. 1:. sem dtívlda, para
de:;eJar que o nosso ptíbllco se interesse a vidamente por um ou outro
destes estudos Introdutórios na Blblla .
E.B.

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