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Análise de obras literárias

Brás, Bexiga e Barra Funda

Antônio de
Alcântara MachadO

Rua General Celso de Mello Rezende, 301 – Tel.: (16) 3603·9700


CEP 14095-270 – Lagoinha – Ribeirão Preto-SP
www.sistemacoc.com.br
Análise de obras literárias
Brás, Bexiga e Barra Funda

Antônio de
Alcântara MachadO

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Brás, Bexiga e Barra Funda

Antônio de
Alcântara MachadO
Brás, Bexiga e Barra Funda

1. Contexto social e HISTÓRICO

Na história do Brasil, o período compreendido entre os anos de 1894 e 1930,


aproximadamente, é chamado de República Velha, “a política do café com leite”,
porque ocupava a Presidência da República ora um governo mineiro, ora um
paulista, o que revela a importância dada à lavoura cafeeira somada à pecuária.
A manutenção desse regime dependia, sobretudo, do equilíbrio entre a produção
e a exportação de café. A elite agropecuária brasileira delegava ao Estado o papel
de comprador dos excedentes para garantir o preço em face das oscilações de
mercado. Exemplo típico dessa política foi o chamado acordo de Taubaté, em 1906,
segundo o qual São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais se comprometiam a retirar
do mercado os excedentes da produção cafeeira para garantir o nível dos preços.
A sociedade brasileira, no início do século XX, sofreu transformações gra-
ças ao processo de urbanização e à vinda dos imigrantes europeus para a região
Centro-Sul do país. Entretanto, ao mesmo tempo em que principiou o processo de
industrialização na região Sudeste, a mão de obra desqualificada dos ex-escravos
foi marginalizada, deslocando-se para a periferia e para os morros; a cultura
canavieira do Nordeste entrou em declínio, pois ela não tinha como competir
com o apoio dado pelo governo federal à “política do café com leite”.
No final do século XIX e início do século XX, duas realidades coexistiam
no Brasil: de um lado, a urbanização da região Centro-Sul , com sua consequente
industrialização, e, de outro, o atraso das regiões Norte e Nordeste. E um ter-
ceiro fator, ainda mais grave, somou-se a este quadro: as oligarquias rurais com
seus arranjos políticos não representavam os novos estratos socioeconômicos.
O resultado foi o surgimento de um quadro caótico que teve seu término com a
chamada Revolução de 30 e o Estado Novo de Getúlio Vargas.
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Antônio de Alcântara Machado

Na Bahia, tivemos a chamada Guerra de Canudos; em Juazeiro, no Ceará, o


fenômeno do jagunço e o caso do padre Cícero; os movimentos operários em São
Paulo; a criação do Partido Comunista; o tenentismo, que teve seu ápice na Coluna
Prestes, combatida por Arthur Bernardes e Washington Luís. É claro que esses
conflitos ocorreram em tempos e locais diversos, entre 1894 e 1930, parecendo
exprimir, às vezes, problemas bem localizados. Entretanto, no conjunto, reve-
lam a realidade de um país que se desenvolvia à custa de graves desequilíbrios.
O estouro da Bolsa de Nova York em 1929 e o movimento tenentista colocaram
fim à República Velha com a vitória na chamada Revolução de 30, dando início
ao chamado Estado Novo ou Era Vargas.
Os intelectuais brasileiros da década de 1920 não ficaram alheios a essas
transformações. Em São Paulo e no Rio de Janeiro, sobretudo, artistas e inte-
lectuais em contato com as novas tendências do pensamento europeu, como o
futurismo, o surrealismo, o dadaísmo, o expressionismo e o cubismo, prepararam
um evento, a chamada Semana de Arte Moderna, com o intuito de romper com a
mentalidade conservadora, representada na literatura pelos poetas parnasianos
e na política pelas oligarquias rurais.
De modo geral, a maneira encontrada pelos artistas da década de 1920 para
combater o formalismo parnasiano e a mentalidade acadêmica foi a valorização
do irracionalismo. Mário de Andrade com a sua poética do “desvairismo”, publi-
cada no Prefácio Interessantíssimo, de Pauliceia desvairada, Manuel Bandeira com
sua teoria do “alumbramento”, a poesia como revelação, isto é, como epifania, e
toda a obra de Oswald de Andrade são três bons exemplos de atitude artística e
intelectual que procurava subverter a ordem existente.
Em 1927, Antônio de Alcântara Machado publicou Brás, Bexiga e Barra
Funda, apresentando, numa linguagem próxima do jornalismo, os contos e as
crônicas da vida de um novo brasileiro, o imigrante italiano, e a sua inserção nas
transformações da paisagem urbana paulista.
A década de 1930 marcou a ascensão dos grandes ditadores da primeira
metade do século: Hitler na Alemanha, Mussolini na Itália e, no Brasil, o governo
de Getúlio Vargas.
Em literatura, o período entre 1930 e 1945 foi o momento do posicionamen-
to ideológico, político e social dos intelectuais brasileiros. A rebeldia estética da
primeira fase modernista cedeu lugar à literatura socialmente comprometida,
sobretudo no que diz respeito à prosa de ficção. Foi o momento do romance
regionalista de Graciliano Ramos, José Lins do Rego e Jorge Amado e da poesia
que se ergueu para defender a dignidade humana, como foi o caso de A rosa do
povo, de Carlos Drummond de Andrade, publicado em 1945.

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Brás, Bexiga e Barra Funda

2. Estilo literário da época


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Antônio de Alcântara Machado

O movimento modernista brasileiro teve como marco inicial a Semana


de Arte Moderna de 1922. Em fevereiro desse ano, por sugestão do pintor
Di Cavalcanti, um grupo paulista, formado por Mário de Andrade, Oswald de
Andrade, Paulo Prado, Guilherme de Almeida, Menotti del Picchia e outros, jun-
tamente com escritores mais jovens do Rio de Janeiro, como Ronald de Carvalho,
Renato de Almeida e alguns mais, promoveu no Teatro Municipal de São Paulo
a chamada Semana de Arte Moderna, com exposição de pintura e escultura,
concertos, conferências e declamações.
O Modernismo brasileiro começou pelas artes plásticas. Em janeiro de 1917,
a pintora paulista Anita Malfatti realizou em São Paulo uma exposição de pintura,
na qual, além dos seus quadros, marcados por influências do expressionismo
alemão, apresentava também alguns quadros cubistas de pintores estrangeiros.
A exposição criou polêmica, ganhando a simpatia de uns e a antipatia de outros.
Monteiro Lobato escreveu um artigo cujo título era Paranoia ou mistificação?,
negando valor artístico aos quadros. A exposição, entretanto, agradou a Mário
de Andrade e a Oswald de Andrade.
Em 1920, Oswald de Andrade conheceu o escultor Brecheret, cuja arte
refletia influência dos movimentos da vanguarda europeia, e, em novembro
desse ano, publicou um artigo intitulado O meu poeta futurista, citando versos
de Mário de Andrade do livro Pauliceia desvairada, que só viria a ser publicado
em 1922.
De modo geral, a literatura dos modernistas, na chamada fase heroica do
movimento ou primeira fase modernista, entre 1922 e 1930, provocou a subversão
dos gêneros literários. A poesia aproximou-se da prosa e esta adotou processos
de elaboração da linguagem poética. Houve uma aproximação dos diversos
ismos europeus, os movimentos de vanguarda que procuravam romper com as
normas acadêmicas, como o expressionismo, o cubismo, o dadaísmo, o futurismo
e o surrealismo.
A poesia abandonou as formas poéticas consagradas, como o verso com
métrica e rima, bastante praticado pelos poetas parnasianos. Aderiu à lingua-
gem coloquial, ao verso livre, aos temas do cotidiano, ao humor e à ironia. Os
modernistas desejavam provar que a poesia estava na essência do que é dito e
na sugestão ou no choque das palavras escolhidas, não nos recursos formais.
Na fase mais combativa do Modernismo brasileiro, de 1922 a 1930, a prosa
sofreu transformações significativas. Os períodos tornaram-se curtos, fragmenta-
dos, com espaços brancos na composição tipográfica e na própria sequência do
discurso, apresentando a realidade dividida em blocos sugestivos, cuja unifica-
ção exigia do leitor uma adequação aos novos processos construtivos, uma vez
que dispensava a concatenação lógica. Um bom exemplo é Brás, Bexiga e Barra
Funda, de Alcântara Machado. A aliteração (repetição dos sons das consoantes)
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Brás, Bexiga e Barra Funda

e a criação de neologismos passaram a integrar a linguagem da prosa. O melhor


exemplo dessa técnica encontra-se em Memórias sentimentais de João Miramar, de
Oswald de Andrade.
De 1930, data da publicação de Alguma poesia, de Carlos Drummond de
Andrade, a 1945, ano de morte de Mário de Andrade, temos o que se convencio-
nou chamar de a segunda fase do modernismo. As grandes experiências técnicas
com a linguagem cederam importância aos temas sociais. Surgiu uma literatura
que procurava denunciar certos aspectos da realidade brasileira, sobretudo na
prosa. Aí encontram-se os romances de Graciliano Ramos, como Vida secas (1938) e
S. Bernardo (1934), e de Jorge Amado, Capitães da areia (1937), Terras do sem-fim (1942),
entre outros.
De 1945 em diante, tivemos a chamada terceira fase modernista. Alguns
estudiosos delimitam essa fase entre 1945, ano da morte de Mário de Andrade,
e 1964, ano do golpe militar. A linguagem era empregada como instrumento
da busca do ser, sobretudo em João Guimarães Rosa, Sagarana (1946), e em
Clarice Lispector, Perto do coração selvagem (1944), A paixão segundo G.H. (1964) e
A hora da estrela (1977).
Brás, Bexiga e Barra Funda, de Antônio de Alcântara Machado, pertence à
primeira fase do movimento modernista. Numa prosa objetiva, leve e bem-hu-
morada, próxima da linguagem jornalística, retrata o cotidiano dos imigrantes
italianos nos bairros que dão título à obra.
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Antônio de Alcântara Machado

3. O AUTOR

Alcântara Machado
Antônio Castilho de Alcântara Machado D’Oliveira nasceu em São Paulo,
em 25 de maio de 1901, numa família ilustre, cujas origens remontavam à época
das capitanias hereditárias. Formou-se em Direito na Faculdade de Direito de
São Paulo em 1923. Aos 19 anos, estreou como crítico literário e passou, a partir
de então, a militar na imprensa, no Jornal do Comércio, como redator-chefe.
Em 1925, Alcântara Machado viajou para a Europa: Lisboa, Paris, Londres,
Itália e Espanha, de onde enviou crônicas de viagem e reportagens que mais
tarde comporiam seu livro de estreia Pathé Baby (Pathé Baby era o nome de uma
máquina de filmar), publicado em 1926 e prefaciado por Oswald de Andrade.
Além de colaborador de diversos jornais, comandou a revista Terra roxa
e outras terras, em 1926; a Revista de Antropofagia, em 1928; e a Revista Nova, em
1931, todas ligadas ao Modernismo. Em 1927, publicou seu mais importante
e conhecido trabalho, Brás, Bexiga e Barra Funda, e, em 1928, Laranja da China
foi editado.
A partir de 1961, Brás, Bexiga e Barra Funda foi editado juntamente com
Laranja da China, com o título de Novelas paulistanas.
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Brás, Bexiga e Barra Funda

Em 1929, foi publicada sua última obra em vida, Anchieta na capitania de


São Vicente, merecedora do Prêmio Capistrano de Abreu. De outubro de 1929 a
junho de 1930, viajou à Europa e, ao retornar ao Brasil, engajou-se como jorna-
lista e radialista na Revolução de 1932. No ano seguinte, mudou-se para o Rio de
Janeiro e, em 1934, elegeu-se deputado federal pelo Partido Constitucionalista
de São Paulo, mas não chegou a assumir, vindo a falecer aos 34 anos vítima de
uma apendicite, no dia 14 de abril de 1935.

Cronologia das obras


1926 – Pathé-Baby
1927 – Brás, Bexiga e Barra Funda
1928 – Laranja da China
1928 – Anchieta na capitania de São Vicente
1929 – Comemoração de Brasílio Machado
Mana Maria, publicada postumamente em 1936
Cavaquinho e saxofone, publicada postumamente em 1940
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Antônio de Alcântara Machado

4. A OBRA

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Brás, Bexiga e Barra Funda

Brás, Bexiga e Barra Funda – notícias de São Paulo contém onze contos (que tam-
bém podem ser crônicas) narrados em terceira pessoa por um narrador onisciente
que capta apenas a superfície do mundo das personagens que focaliza, procurando
deixar um registro desse mundo e das suas impressões como observador.
Com o intuito de registrar o modo de vida do imigrante italiano e o con-
texto urbano em que ele vive, o narrador procura reproduzir diretamente a fala
das personagens (discurso direto), apresentando suas falas em italiano puro
(“_ Evviva il campeonissimo!”) e as fusões do italiano com o português, o cha-
mado português macarrônico.
Integrado às propostas modernistas, Alcântara Machado emprega uma
série de recursos oriundos da linguagem jornalística na composição de seus
contos, como o uso de tipos em caixa-alta para destacar o aumento do som da
voz: “Solt´o rojão! Rebent´a bomba! Pum! Corinthians!”.
Outro recurso modernista é o uso de parênteses para indicar a interpola-
ção de um grito distante num determinado contexto (“Spegni la luce! Súbito!
Mi vuole próprio rovinare questa principessa!).
Quanto ao espaço das narrativas, embora sejam citados pontos conside-
rados “nobres” da cidade de São Paulo, as narrativas se passam nos bairros que
dão título à obra.
O tempo das narrativas é cronológico e normalmente breve. Mesmo em
contos como “Nacionalidade”, que aborda o abrasileiramento de Tranquillo
Zampinnetti desde a infância até o bacharelado do seu filho mais novo, a indi-
cação da passagem do tempo é sugerida por espaço em branco entre as partes
da narrativa (recurso, aliás, empregado em vários contos), o que revela o esforço
do narrador em ser o mais objetivo possível.
O autor tem uma nítida preocupação em caracterizar a época, o que pode
ser evidenciado nos vários registros que faz das marcas de produtos, como
goiabada Pesqueira, refrigerante Si-Si, cigarros Bentevi, jornal Fanfulla e Gazeta,
veículos Ford, Buick, Lancia, entre outros.
As personagens são retratadas em seu cotidiano, sem profundidade
psicológica. Suas imagens surgem, normalmente, em decorrência de fatos e dados
concretos, isto é, o autor não as descreve, deixa que os fatos falem por elas.
O livro principia por um prefácio que o autor chama de “Artigo de fundo”,
em que deixa claros sua formação e seu propósito jornalístico.

ARTIGO DE FUNDO
Assim como quem nasce homem de bem deve ter a fronte altiva, quem nasce jornal
deve ter artigo de fundo. A fachada explica o resto.
Este livro não nasceu livro: nasceu jornal. Estes contos não nasceram contos: nasceram
notícias. E este prefácio, portanto, também não nasceu prefácio: nasceu artigo de fundo.
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Antônio de Alcântara Machado

Brás, Bexiga e Barra Funda é o órgão dos ítalo-brasileiros de São Paulo.


Durante muito tempo a nacionalidade viveu da mescla de três raças que os poetas
xingaram de tristes: as três raças tristes.
A primeira, as caravelas descobridoras encontraram aqui comendo gente e des-
denhosa de “mostrar suas vergonhas”. A segunda veio nas caravelas. Logo os machos
sacudidos desta se enamoraram das moças “bem gentis” daquela, que tinham cabelos
“mui pretos, compridos pelas espadoas”.
E nasceram os primeiros mamalucos.
A terceira veio nos porões dos navios negreiros trabalhar o solo e servir a gente.
Trazendo outras moças gentis, mucamas, mucambas, munibandas, macumas.
E nasceram os segundos mamalucos.
E os mamalucos das duas fornadas deram o empurrão inicial no Brasil.
O colosso começou a rolar.
Então os transatlânticos trouxeram da Europa outras raças aventureiras. Entre
elas uma alegre que pisou na terra paulista cantando e na terra brotou e se alastrou como
aquela planta também imigrante que há duzentos anos veio fundar a riqueza brasileira.
Do consórcio da gente imigrante com o ambiente, do consórcio da gente imigrante
com a indígena nasceram os novos mamalucos.
Nasceram os intalianinhos.
O Gaetaninho.
A Carmela.
Brasileiros e paulistas. Até bandeirantes.
E o colosso continuou rolando.
No começo a arrogância indígena perguntou meio zangada:
Carcamano pé de chumbo
Calcanhar de frigideira
Quem te deu a confiança
De casar com brasileira?
O pé de chumbo poderia responder tirando o cachimbo da boca e cuspindo de lado:
A brasileira, per Bacco!
Mas não disse nada. Adaptou-se. Trabalhou. Integrou-se. Prosperou.
E o negro violeiro cantou assim:
Italiano grita
Brasileiro fala
Viva o Brasil
E a bandeira da Itália!
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Brás, Bexiga e Barra Funda

Brás, Bexiga e Barra Funda, como membro da livre imprensa que é, ten-
ta fixar tão somente alguns aspectos da vida trabalhadeira, íntima e quotidiana
desses novos mestiços nacionais e nacionalistas. É um jornal. Mais nada. Notícia.
Só. Não tem partido nem ideal. Não comenta. Não discute. Não aprofunda.
Principalmente não aprofunda. Em suas colunas não se encontra uma única linha
de doutrina. Tudo são fatos diversos. Acontecimentos de crônica urbana. Episódios de
rua. O aspecto étnico-social dessa novíssima raça de gigantes encontrará amanhã o seu
historiador. E será então analisado e pesado num livro.
Brás, Bexiga e Barra Funda não é um livro.
Inscrevendo em sua coluna de honra os nomes de alguns ítalo-brasileiros ilustres,
este jornal rende uma homenagem à força e às virtudes da nova fornada mamaluca. São
nomes de literatos, jornalistas, cientistas, políticos, esportistas, artistas e industriais.
Todos eles figuram entre os que impulsionam e nobilitam neste momento a vida espiritual
e material de São Paulo.
Brás, Bexiga e Barra Funda não é uma sátira.
A Redação

A intenção explícita, portanto, é a de registrar cenas e episódios dos bairros


pobres e operários habitados pelos imigrantes italianos.
Feito o prefácio, vem o primeiro conto do livro, talvez o mais conhecido,
a célebre estória de Gaetaninho.

GAETANINHO
– Xi, Gaetaninho, como é bom!
Gaetaninho ficou banzando bem no meio da rua. O Ford quase o derrubou e ele
não viu o Ford.
O carroceiro disse um palavrão e ele não ouviu o palavrão.
– Eh! Gaetaninho! Vem prá dentro.
Grito materno sim: até filho surdo escuta. Virou o rosto tão feio de sardento, viu
a mãe e viu o chinelo.
– Subito!
Foi-se chegando devagarinho, devagarinho. Fazendo beicinho. Estudando o terreno.
Diante da mãe e do chinelo parou. Balançou o corpo. Recurso de campeão de futebol. Fingiu
tomar a direita. Mas deu meia volta instantânea e varou pela esquerda porta adentro.
Êta salame de mestre!
Ali na Rua Oriente, a ralé quando muito andava de bonde. De automóvel ou carro
só mesmo em dia de enterro. De enterro ou de casamento. Por isso mesmo o sonho de
Gaetaninho era de realização muito difícil. Um sonho.
O Beppino por exemplo. O Beppino naquela tarde atravessara de carro a cidade. Mas como?
Atrás da tia Peronetta que se mudava para o Araçá*. Assim também não era vantagem.
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*
Cemitério do Araçá.

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Antônio de Alcântara Machado

Mas se era o único meio? Paciência.


Gaetaninho enfiou a cabeça embaixo do travesseiro.
Que beleza, rapaz! Na frente quatro cavalos pretos empenachados levavam a tia
Filomena para o cemitério. Depois o padre. Depois o Savério noivo dela de lenço nos
olhos. Depois ele. Na boleia do carro. Ao lado do cocheiro. Com a roupa marinheira e
o gorro branco onde se lia: Encouraçado São Paulo. Não. Ficava mais bonito de roupa
marinheira mas com a palhetinha nova que o irmão lhe trouxera da fábrica. E ligas
pretas segurando as meias. Que beleza rapaz! Dentro do carro o pai, os dois irmãos mais
velhos (um de gravata vermelha outro de gravata verde) e o padrinho Seu Salomone.
Muita gente nas calçadas, nas portas e nas janelas dos palacetes, vendo o enterro.
Sobretudo admirando o Gaetaninho.
Mas Gaetaninho ainda não estava satisfeito. Queria ir carregando o chicote. O
desgraçado do cocheiro não queria deixar. Nem por um instantinho só.
Gaetaninho ia berrar, mas a tia Filomena com a mania de cantar o “Ahi, Mari!”
todas as manhãs o acordou.
Primeiro ficou desapontado. Depois quase chorou de ódio.
Tia Filomena teve um ataque de nervos quando soube do sonho de Gaetaninho.
Tão forte que ele sentiu remorsos. E para sossego da família alarmada com o agouro tra-
tou logo de substituir a tia por outra pessoa numa nova versão de seu sonho. Matutou,
matutou, e escolheu o acendedor da Companhia de Gás, Seu Rubino, que uma vez lhe
deu um cocre danado de doído.
Os irmãos (esses) quando souberam da história resolveram arriscar de sociedade
quinhentão no elefante. Deu a vaca. E eles ficaram loucos de raiva por não haverem logo
adivinhado que não podia deixar de dar a vaca mesmo.
O jogo na calçada parecia de vida ou morte. Muito embora Gaetaninho não estava
ligando.
– Você conhecia o pai do Afonso, Beppino?
– Meu pai deu uma vez na cara dele.
– Então você não vai amanhã no enterro. Eu vou!
O Vicente protestou indignado:
– Assim não jogo mais! O Gaetaninho está atrapalhando!
Gaetaninho voltou para o seu posto de guardião. Tão cheio de responsabilidades.
O Nino veio correndo com a bolinha de meia. Chegou bem perto. Com o tronco
arqueado, as pernas dobradas, os braços estendidos, as mãos abertas, Gaetaninho ficou
pronto para a defesa.
– Passa pro Beppino!
Beppino deu dois passos e meteu o pé na bola. Com todo o muque. Ela cobriu o
guardião sardento e foi parar no meio da rua.
– Vá dar tiro no inferno!
– Cala a boca, palestrino!
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Brás, Bexiga e Barra Funda

– Traga a bola!
Gaetaninho saiu correndo. Antes de alcançar a bola um bonde o pegou. Pegou e
matou.
No bonde vinha o pai do Gaetaninho.
A gurizada assustada espalhou a notícia na noite.
– Sabe o Gaetaninho?
– Que é que tem?
– Amassou o bonde!
A vizinhança limpou com benzina suas roupas domingueiras.
Às dezesseis horas do dia seguinte saiu um enterro da Rua do Oriente e Gaetaninho
não ia na boleia de nenhum dos carros do acompanhamento. Ia no da frente dentro de
um caixão fechado com flores pobres por cima. Vestia a roupa marinheira, tinha as ligas,
mas não levava a palhetinha.
Quem na boleia de um dos carros do cortejo mirim exibia soberbo terno vermelho
que feria a vista da gente era o Beppino.

Comentário
Gaetaninho é o típico menino de família pobre; joga futebol na rua, brinca
em ruas movimentadas e, por isso mesmo, a mãe o chama para dentro de casa,
ameaçando uma surra. Gaetaninho entra e consegue desviar-se, num jogo de
corpo, da chinelada da mãe.
O menino sonha em passear de automóvel, o que, nas famílias pobres só ocorria
por ocasião de casamento ou de enterro. Ele chega a sonhar com a morte de sua tia
Filomena , motivo que lhe proporcionaria o passeio. Relata o sonho à tia, que fica pos-
sessa, e desperta o palpite dos irmãos para o jogo do bicho. Eles jogam no elefante.
Brincando novamente na rua, Gaetaninho faz inveja a Beppino, porque
passearia de carro no dia seguinte, por ocasião do velório de um amigo de seu
pai. Distraidamente, vai apanhar uma bola e é atropelado e morto por um bonde.
No bonde, vinha o pai de Gaetaninho.
A notícia corre e o enterro é preparado. No dia seguinte, Gaetaninho faz
seu passeio, mas como defunto. Beppino é quem usufrui do passeio.
A morte de Gaetaninho é apresentada como um fato corriqueiro dos bairros
pobres. O narrador procura registrar o fato sem interferências emotivas. Aliás,
o que contribui para tornar a cena dramática é o fato de o pai do menino estar
no bonde. O narrador, entretanto, apenas registra o fato, sem apelar para os
dramas subjetivos. É a sequência dos fatos que imprime ao conto o seu ritmo; a
objetividade do relato causa certo impacto no leitor porque a justaposição dos
fatos (o atropelamento e a presença do pai ) fala por si, isto é, constrói um qua-
dro, melhor seria dizer um retrato, da situação. Ao observar este retrato, o leitor
sente o impacto da cena, captando as grandes tristezas e as alegrias miúdas do
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cotidiano dos imigrantes italianos do começo do século.


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Antônio de Alcântara Machado

Carmela
O cotidiano de uma operária é o tema deste conto.

Dezoito horas e meia. Nem mais um minuto porque a madama respeita as horas
de trabalho. Carmela sai da oficina. Bianca vem ao seu lado.
A Rua Barão de Itapetininga é um depósito sarapintado de automóveis gritadores.
As casas de modas (AO CHIC PARISIENSE, SÃO PAULO-PARIS, PARIS ELEGAN-
TE) despejam nas calçadas as costureirinhas que riem, falam alto, balançam os quadris
como gangorras.
– Espia se ele está na esquina.
– Não está.
– Então está na Praça da República. Aqui tem muita gente mesmo.
– Que fiteiro!
O vestido de Carmela coladinho no corpo é de organdi verde. Braços nus, colo nu, joelhos
de fora. Sapatinhos verdes. Bago de uva Marengo maduro para os lábios dos amadores.
– Ai que rico corpinho!
– Não se enxerga, seu cafajeste? Português sem educação!
Abre a bolsa e espreita o espelhinho quebrado, que reflete a boca reluzente de carmim
primeiro, depois o nariz chumbeva, depois os fiapos de sobrancelha, por último as bolas
de metal branco na ponta das orelhas descobertas.
Bianca por ser estrábica e feia é a sentinela da companheira.
– Olha o automóvel do outro dia.
– O caixa-d’óculos?
– Com uma bruta luva vermelha.
O caixa-d’óculos para o Buick de propósito na esquina da praça.
– Pode passar.
– Muito obrigada.
Passa na pontinha dos pés. Cabeça baixa. Toda nervosa.
– Não vira para trás, Bianca. Escandalosa!
Diante de Álvares de Azevedo (ou Fagundes Varela) o Ângelo Cuoco de sapatos
vermelhos de ponta afilada, meias brancas, gravatinha deste tamanhinho, chapéu à Ro-
dolfo Valentino, paletó de um botão só, espera há muito com os olhos escangalhados de
inspecionar a Rua Barão de Itapetininga.
– O Ângelo!
– Dê o fora.
Bianca retarda o passo.
Carmela continua no mesmo. Como se não houvesse nada. E o Ângelo junta-se a
ela. Também como se não houvesse nada. Só que sorri.
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Brás, Bexiga e Barra Funda

– Já acabou o romance?
– A madama não deixa a gente ler na oficina.
– É? Sei. Amanhã tem baile na Sociedade.
– Que bruta novidade, Ângelo! Tem todo domingo. Não segura no braço!
– Enjoada!
Na Rua do Arouche o Buick de novo. Passa. Repassa. Torna a passar.
– Quem é aquele cara?
– Como é que eu hei de saber?
– Você dá confiança para qualquer um. Nunca vi, puxa! Não olha pra ele que eu
armo já uma encrenca!
Bianca rói as unhas. Vinte metros atrás. Os freios do Buick guincham nas rodas e
os pneumáticos deslizam rente à calçada. E estacam.
– Boa tarde, belezinha...
– Quem? Eu?
– Por que não? Você mesma...
Bianca rói as unhas com apetite.
– Diga uma cousa. Onde mora a sua companheira?
– Ao lado de minha casa.
– Onde é sua casa?
– Não é de sua conta.
O caixa-d’óculos não se zanga. Nem se atrapalha. É um traquejado.
– Responda direitinho. Não faça assim. Diga onde mora.
– Na Rua Lopes de Oliveira. Numa vila. Vila Margarida nº 4. Carmela mora com
a família dela no 5.
– Ah! Chama-se Carmela... Lindo nome. Você é capaz de lhe dar um recado?
Bianca rói as unhas.
– Diga a ela que eu a espero amanhã de noite, às oito horas, na rua... na.... atrás da
Igreja de Santa Cecília. Mas que ela vá sozinha, hein? Sem você. O barbeirinho também
pode ficar em casa.
– Barbeirinho nada! Entregador da Casa Clark!
– É a mesma cousa. Não se esqueça do recado. Amanhã, às oito horas, atrás da igreja.
– Vá saindo que pode vir gente conhecida.
Também o grilo já havia apitado.
– Ele falou com você. Pensa que eu não vi?
O Ângelo também viu. Ficou danado.
– Que me importa? O caixa-d’óculos disse que espera você amanhã de noite, às
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oito horas, no Largo Santa Cecília. Atrás da igreja.


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Antônio de Alcântara Machado

– Que é que ele pensa? Eu não sou dessas. Eu não!


– Que fita, Nossa Senhora! Ele gosta de você, sua boba.
– Ele disse?
– Gosta pra burro.
– Não vou na onda.
– Que fingida que você é!
– Ciao.
– Ciao.
Antes de se estender ao lado da irmãzinha na cama de ferro, Carmela abre o romance
à luz da lâmpada de 16 velas: Joana a Desgraçada ou A Odisseia de uma Virgem,
fascículo 2º.
Percorre logo as gravuras. Umas teteias. A da capa então é linda mesmo. No fundo
o imponente castelo. No primeiro plano a íngreme ladeira que conduz ao castelo. Descendo
a ladeira numa disparada louca o fogoso ginete. Montado no ginete o apaixonado caçula do
castelão inimigo de capacete prateado com plumas brancas. E atravessada no cachaço do
ginete a formosa donzela desmaiada entregando ao vento os cabelos cor de carambola.
Quando Carmela reparando bem começa a verificar que o castelo não é mais um
castelo mas uma igreja, o tripeiro Giuseppe Santini berra no corredor:
– Spegni la luce! Subito! Mi vuole proprio rovinare questa principessa!
E – raatá! – uma cusparada daquelas.
– Eu só vou até a esquina da Alameda Glette. Já vou avisando.
– Trouxa. Que tem?
No Largo Santa Cecília atrás da igreja o caixa-d’óculos, sem tirar as mãos do
volante, insiste pela segunda vez:
– Uma voltinha de cinco minutos só... Ninguém nos verá. Você verá. Não seja
má. Suba aqui.
Carmela olha primeiro a ponta do sapato esquerdo, depois a do direito, depois a do
esquerdo de novo, depois a do direito outra vez, levantando e descendo a cinta. Bianca
rói as unhas.
– Só com a Bianca...
– Não. Para quê? Venha você sozinha.
– Sem a Bianca não vou.
– Está bem. Não vale a pena brigar por isso.
– Você vem aqui na frente comigo. A Bianca senta atrás.
– Mas cinco minutos só. O senhor falou...
– Não precisa me chamar de senhor. Entrem depressa.
Depressa o Buick sobe a Rua Viridiana.
Só para no Jardim América.
22
Brás, Bexiga e Barra Funda

Bianca no domingo seguinte encontra Carmela raspando a penugenzinha que lhe


une as sobrancelhas com a navalha denticulada do tripeiro Giuseppe Santini.
– Xi, quanta cousa pra ficar bonita!
– Ah! Bianca, eu quero dizer uma cousa pra você.
– Que é?
– Você hoje não vai com a gente no automóvel. Foi ele que disse.
– Pirata!
– Pirata por quê? Você está ficando boba, Bianca.
– É. Eu sei porquê. Piratão. E você, Carmela, sim senhora! Por isso é que o Ângelo
me disse que você está ficando mesmo uma vaca.
– Ele disse assim? Eu quebro a cara dele, hein? Não me conhece.
– Pode ser, não é? Mas namorado de máquina não dá certo mesmo.
Saem à rua suja de negras e cascas de amendoim. No degrau de cimento ao lado
da mulher Giuseppe Santini torcendo a belezinha do queixo cospe e cachimba, cachimba
e cospe.
– Vamos dar uma volta até a Rua das Palmeiras, Bianca?
– Andiamo.
Depois que os seus olhos cheios de estrabismo e despeito vêem a lanterninha tra-
seira do Buick desaparecer, Bianca resolve dar um giro pelo bairro. Imaginando cousas.
Roendo as unhas. Nervosíssima.
Logo encontra a Ernestina. Conta tudo à Ernestina.
– E o Ângelo, Bianca?
– O Ângelo? O Ângelo é outra cousa. É pra casar.
– Ahm!...

ComentÁrio
O conto principia com um retrato em branco e preto da cidade de São Paulo às
seis e meia da tarde, num bairro operário, no início do século XX, no momento em
que os operários estão deixando a fábrica. O narrador faz questão de mencionar o
nome das ruas e das lojas da época, usando como pretexto o momento em que duas
costureiras deixam a fábrica. Carmela, em companhia de sua amiga Bianca, arruma-
se para encontrar o namorado Ângelo Cuoco, entregador da Casa Clark.
Como era de costume, os homens assediavam as moças que saíam da fá-
brica. Um sujeito num automóvel Buick tenta conquistar Carmela. Quando ela
se encontra com o namorado, este arma uma cena de ciúme.
Bianca, que havia deixado a amiga a sós com o namorado e seguia pela
calçada logo atrás deles, conversa com o motorista do Buick, que deseja marcar
um encontro com Carmela. Bianca acaba por lhe fornecer o nome e o endereço
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da amiga, marcando, inclusive, um encontro entre eles para o dia seguinte.


23
Antônio de Alcântara Machado

Ao saber do encontro que Bianca havia marcado, Carmela diz à amiga que
não irá comparecer. À noite, no seu quarto, lê um folhetim que alimenta suas
fantasias românticas. Fantasias, aliás, que são interrompidas por um grito do
pai, que lhe ordena em italiano que apague a luz.
No dia seguinte, vai ao encontro do motorista do Buick, mas leva sua
amiga junto.
No domingo seguinte, dispensa a companhia de Bianca e vai sozinha para
o encontro. As duas, entretanto, saem juntas de casa para que os pais de Carmela
não desconfiem de nada.
Sozinha, Bianca relata o episódio a uma outra amiga, explicando que o
Ângelo “é pra casar”.
O objetivo do conto é registrar aspectos da paisagem urbana dos bairros
italianos de São Paulo. Cerca de dez nomes de lojas e ruas são mencionados no
conto, o que permite ao leitor uma visualização do cenário por onde Carmela
passeia. O deslocamento da personagem pelo cenário conduz o leitor a um passeio
pelas ruas da antiga cidade de São Paulo. O narrador preocupa-se em registrar
os elementos que compõem a paisagem, mas preocupa-se também em registrar,
ainda que superficialmente, as aspirações e os preconceitos das personagens. A
linguagem direta das personagens, ora em português ora em italiano, confere ao
conto certa ironia, porque sugere o caráter temperamental que seria típico dos
imigrantes italianos, segundo o narrador.

Tiro de Guerra nº 35
O terceiro conto aborda a vida e o patriotismo ingênuo de Aristodemo
Guggiani, que no “grupo escolar da Barra Funda aprendeu em três anos a roubar
com perfeição no jogo e nas bolinhas (garantindo o tostão para o sorvete) e ficou
sabendo na ponta da língua que o Brasil foi descoberto sem querer e é o país
maior, mais belo e mais rico do mundo”. Após o grupo, Aristodemo trabalhou
na oficina do cunhado, namorou Josefina e apanhou do seu primo, ajudou a
empastelar O fanfulla, um jornal que falou mal do Brasil, e pensou em ser artista
de circo. Aos vinte anos, brigou com o cunhado, empregou-se como cobrador de
bonde da companhia Gabrielle d´Annunzio e arrumou uma admiradora.
Subitamente, desapareceu das vistas da admiradora. A revista A cigarra,
na seção “Colaboração das leitoras”, comenta seu desaparecimento. Aristodemo
havia se tornado soldado do Tiro de Guerra nº 35.
Aristodemo, influenciado pelo sargento cearense Aristóteles Camarão
de Medeiros, torna-se ainda mais nacionalista, obtendo o cargo de ajudante de
ordens e ficando encarregado de providenciar a letra do hino nacional para o
ensaio da companhia.
Na noite seguinte, o ensaio é interrompido por Aristodemo, que dá um tabe-
fe num alemãozinho, porque estava escrachando com a letra do hino nacional.
24
Brás, Bexiga e Barra Funda

O sargento repreende severamente os soldados, desligando o alemão


da companhia e dando uma suspensão de um dia para Aristodemo, dizendo,
entretanto, que o seu patriotismo deveria ser seguido, mas sem tanta violência.
O nacionalismo de Aristodemo chega a tal ponto que ele troca o emprego
de cobrador da Companhia Autoviação Gabrielle d´Annunzio pelo mesmo em-
prego na Sociedade de Transporte Rui Barbosa.

Amor e sangue
“Não adiantava nada que o céu estivesse azul porque a alma de Nicolino
estava negra”. Um amigo lhe diz, no caminho, que a Grazia havia passado por
ele sem ser vista. Nicolino a xinga “– Des-gra-ça-da!”
Na barbearia Ao Barbeiro Submarino, Nicolino ouve o comentário de um
freguês sobre um crime passional noticiado no Estado: o criminoso seria solto
porque havia alegado “privações de sentidos”. Nicolino fingia que não estava
ouvindo os comentários sobre o crime.
Nicolino tenta falar com Grazia, na saída da fábrica, mas ela se recusa e
o manda procurar a “fedida da Rua Cruz Branca”. Enraivecido, ele “apertou o
fura-bolos entre os dentes”.
No outro dia, na saída da fábrica, sendo rejeitado por Grazia, ele a
derruba com uma punhalada. Preso, alega que matou porque estava louco,
privado dos sentidos. Sua desculpa ganha fama e vira letra de música.

A sociedade
“– Filha minha não casa com filho de carcamano!
A esposa do Conselheiro José Bonifácio de Matos e Arruda disse isso e foi
brigar com o italiano das batatas. Teresa Rita misturou lágrimas com gemidos e
entrou no seu quarto batendo a porta. O Conselheiro José Bonifácio limpou as
unhas com o palito, suspirou e saiu de casa abotoando o fraque.” Adriano Melli,
filho de carcamano, está interessado em Teresa Rita e por isso passa e repassa
com seu automóvel Lancia na frente da casa da namorada.
Na vesperal do Clube Paulistano, Teresa Rita e Adriano Melli dançam e
conversam. A mãe de Teresa reitera ao marido que não quer saber de casamento
de sua filha com filho de carcamano.
O pai de Adriano, o carcamano Cav. Uff. Salvatore Melli (Cavaglieri Ufficiali,
literalmente Cavalheiro Oficial, um título vendido pela coroa italiana, contrastan-
do com o título de Conselheiro, dado pelo Império), em visita ao pai de Teresa
Rita propõe-lhe sociedade. O Conselheiro José Bonifácio entraria com terrenos
ociosos e gerenciaria o negócio, enquanto ele entraria com o capital “io tenho o
capital. O capital sono io”.
Mediante tal proposta, a mulher libera o Conselheiro para que aceite a
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sociedade.
25
Antônio de Alcântara Machado

Seis meses depois, Adriano pede Teresa Rita em casamento.


No chá do noivado o Cav. Uff. Adriano Melli na frente de toda a gente recordou à mãe
de sua futura nora os bons tempinhos em que lhe vendia cebolas e batatas, Olio di Lucca e
bacalhau português quase sempre fiado e até sem caderneta.

LiseTta
Quando Lisetta subiu no bonde (o condutor ajudou) viu logo o urso. Felpudo,
felpudo. E amarelo. Tão engraçadinho.
Dona Mariana sentou-se, colocou a filha em pé diante dela.
Lisetta começou a namorar o bicho. Pôs o pirulito de abacaxi na boca. Pôs, mas
não chupou. Olhava o urso. O urso não ligava. Seus olhinhos de vidro não diziam abso-
lutamente nada. No colo da menina de pulseira de ouro e meias de seda parecia um urso
importante e feliz.
– Olha o ursinho que lindo, mamãe!
– Stai zitta!
A menina rica viu o enlevo e a inveja da Lisetta. E deu de brincar com o urso.
Mexeu-lhe com o toquinho do rabo: e a cabeça do bicho virou para a esquerda, depois
para a direita, olhou para cima, depois para baixo. Lisetta acompanhava a manobra.
Sorrindo fascinada. E com um ardor nos olhos! O pirulito perdeu definitivamente toda
a importância.
Agora são as pernas que sobem e descem, cumprimentam, se cruzam, batem umas
nas outras.
– As patas também mexem, mamã. Olha lá!
– Stai ferma! [Fica quieta!]
Lisetta sentia um desejo louco de tocar no ursinho. Jeitosamente procurou alcançá-lo.
A menina rica percebeu, encarou a coitada com raiva, fez uma careta horrível e apertou
contra o peito o bichinho que custara cinquenta mil-réis na Casa São Nicolau.
– Deixa pegar um pouquinho, um pouquinho só nele, deixa?
– Ah!
– Scusi, senhora. Desculpe por favor. A senhora sabe, essas crianças são muito
levadas. Scusi [Desculpe-me]. Desculpe.
A mãe da menina rica não respondeu. Ajeitou o chapeuzinho da filha, sorriu para
o bicho, fez uma carícia na cabeça dele, abriu a bolsa e olhou o espelho.
Dona Mariana, escarlate de vergonha, murmurou no ouvido da filha:
– In casa me lo pagherai! [Em casa, tu me pagarás]
E pespegou por conta um beliscão no bracinho magro. Um beliscão daqueles.
Lisetta então perdeu toda a compostura de uma vez. Chorou. Soluçou. Chorou.
Soluçou. Falando sempre.
– Hã! Hã! Hã! Hã! Eu que...ro o ur...so! O ur...so! Ai, mamãe! Ai, mamãe! Eu
que...ro o... o... o... Hã! Hã!
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Brás, Bexiga e Barra Funda

– Stai ferina o ti amazzo, parola d’onore! [Fica quieta ou te estrangulo, palavra


de honra!]
– Um pou...qui...nho só! Hã! E... hã! E... hã! Um pou...qui...
– Senti, Lisetta. Non ti porterò più in città! Mai più! [Presta atenção, Lisetta.
Não te trarei mais à cidade! Nunca mais!]
Um escândalo. E logo no banco da frente. O bonde inteiro testemunhou o feio que
Lisetta fez.
O urso recomeçou a mexer com a cabeça. Da esquerda para a direita, para cima e
para baixo.
– Non piangere più adesso! [Não chores mais agora!]!
Impossível.
O urso lá se fora nos braços da dona. E a dona só de má, antes de entrar no pala-
cete estilo empreiteiro português, voltou-se e agitou no ar o bichinho. Para Lisetta ver.
E Lisetta viu.
Dem-dem! O bonde deu um solavanco, sacudiu os passageiros, deslizou, rolou,
seguiu. Dem-dem!
– Olha à direita!
Lisetta como compensação quis sentar-se no banco. Dona Mariana (havia pago
uma passagem só) opôs-se com energia e outro beliscão.
A entrada de Lisetta em casa marcou época na história dramática da família Garbone.
Logo na porta um safanão. Depois um tabefe, outro no corredor. Intervalo de dois
minutos. Foi então a vez das chineladas. Para remate. Que não acabava mais.
O resto da gurizada (narizes escorrendo, pernas arranhadas, suspensórios de
barbante) reunido na sala de jantar sapeava de longe.
Mas o Ugo chegou da oficina.
– Você assim machuca a menina, mamãe! coitadinha dela!
Também Lisetta já não aguentava mais.
– Toma pra você. Mas não escache.
Lisetta deu um pulo de contente. Pequerrucho. Pequerrucho e de lata. Do tamanho
de um passarinho. Mas urso.
Os irmãos chegaram-se para admirar. O Pasqualino quis logo pegar no bichinho.
Quis mesmo tomá-lo à força. Lisetta berrou como uma desesperada:
– Ele é meu! O Ugo me deu!
Correu para o quarto. Fechou-se por dentro.

Comentário
Mais um conto com sabor de crônica, um típico episódio das famílias
italianas do começo do século: a menina Lisetta, acompanhada da mãe, vê no
bonde em que está uma menina rica brincando com um ursinho. A menina rica a
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Antônio de Alcântara Machado

provoca, mostrando-lhe o brinquedo. Lisetta deseja tocá-lo, mas a menina faz-lhe


uma careta e lhe recusa o ursinho.
A mãe de Lisetta pede desculpas à mãe da menina, que finge não ouvir
o pedido. Envergonhada, a mãe de Lisetta lhe dá um beliscão. A menina chora,
grita, mas, como nada consegue, acaba sentando no banco para se consolar, o
que lhe vale outro beliscão, pois a mãe só havia pagado uma passagem.
Quando chegam em casa, a mãe lhe dá uma surra. Os irmãos observam
de longe. Quando o mais velho chega do trabalho, toma o partido da menina,
que não aguenta mais apanhar.
No dia seguinte, ganha um urso de lata do irmão. Um urso feio, mas que
ela deseja que seja somente dela, e por isso tranca-se no quarto para que ninguém
possa tocá-lo.
As reações da mãe diante das vontades da filha dão ao conto uma atmosfera
de compaixão, pois o que impedia a menina de ter um ursinho era a sua condição
de pobreza. Condição que a mãe deseja ocultar e que fica explícita quando ela
pede desculpas à outra mãe e esta ignora o seu pedido. Daí vem a raiva da mãe
de Lisetta, que desconta na filha a humilhação sofrida.

Corinthians (2) vs. Palestra (1)


Tratando-se de um livro sobre o registro dos costumes dos imigrantes
italianos em São Paulo, não poderia faltar o futebol.
Prrrrii!
– Aí, Heitor!
A bola foi parar na extrema esquerda. Melle desembestou com ela.
A arquibancada pôs-se em pé. Conteve a respiração. Suspirou:
– Aaaah!
Miquelina cravava as unhas no braço gordo da Iolanda. Em torno do trapézio verde
a ânsia de vinte mil pessoas. De olhos ávidos. De nervos elétricos. De preto. De branco.
De azul. De vermelho.
Delírio futebolístico no Parque Antártica.
Camisas verdes e calções negros corriam, pulavam, chocavam-se, embaralhavam-se,
caíam, contorcionavam-se, esfalfavam-se, brigavam. Por causa da bola de couro amarelo
que não parava, que não parava um minuto, um segundo. Não parava.
– Neco! Neco!
Parecia um louco. Driblou. Escorregou. Driblou. Correu. Parou. Chutou.
– Gooool! Gooool!
Miquelina ficou abobada com o olhar parado. Arquejando. Achando aquilo um
desaforo, um absurdo.
Aleguá-guá-guá! Aleguá-guá-guá! Hurra! Hurra! Corinthians!
Palhetas subiram no ar. Com os gritos. Entusiasmos rugiam. Pulavam. Dançavam.
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Brás, Bexiga e Barra Funda

E as mãos batendo nas bocas:


– Go-o-o-o-o-o-ol!
Miquelina fechou os olhos de ódio.
– Corinthians! Corinthians!
Tapou os ouvidos.
– Já me estou deixando ficar com raiva!
A exaltação decresceu como um trovão.
– O Rocco é que está garantindo o Palestra. Aí, Rocco! Quebra eles sem dó!
A Iolanda achou graça. Deu risada.
– Você está ficando maluca, Miquelina. Puxa! Que bruta paixão!
Era mesmo. Gostava do Rocco, pronto. Deu o fora no Biagio (o jovem e esperançoso
esportista Biagio Panaiocchi, diligente auxiliar da firma desta praça G. Gasparoni &
Filhos e denodado meia-direita do S. C. Corinthians Paulista, campeão do Centenário)
só por causa dele.
– Juiz ladrão, indecente! Larga o apito, gatuno!
Na Sociedade Beneficente e Recreativa do Bexiga toda a gente sabia de sua história
com o Biagio. Só porque ele era frequentador dos bailes dominicais da Sociedade não pôs
mais os pés lá. E passou a torcer para o Palestra. E começou a namorar o Rocco.
– O Palestra não dá pro pulo!
– Fecha essa latrina, seu burro!
Miquelina ergueu-se na ponta dos pés. Ergueu os braços. Ergueu a voz:
– Centra, Matias! Centra, Matias!
Matias centrou. A assistência silenciou. Imparato emendou. A assistência berrou.
– Palestra! Palestra! Aleguá-guá! Palestra Aleguá! Aleguá!
O italianinho sem dentes, com um soco, furou a palheta Ramenzoni de contenta-
mento. Miquelina nem podia falar. E o menino de ligas saiu de seu lugar, todo ofegante,
todo vermelho, todo triunfante, e foi dizer para os primos corinthianos na última fileira
da arquibancada:
– Conheceram, seus canjas?
O campo ficou vazio.
– Ó... lh’a gasosa!
Moças comiam amendoim torrado sentadas nas capotas dos automóveis. A sombra
avançava no gramado maltratado. Mulatas de vestidos azuis ganhavam beliscões. E riam.
Torcedores discutiam com gestos.
– Ó... lh’a gasosa!
Um aeroplano passeou sobre o campo.
Miquelina mandou pelo irmão um recado ao Rocco.
– Diga pra ele quebrar o Biagio que é o perigo do Corinthians.
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Antônio de Alcântara Machado

Filipino mergulhou na multidão.


Palmas saudaram os jogadores de cabelos molhados.
Prrrrii!
– O Rocco disse pra você ficar sossegada.
Amilcar deu uma cabeçada. A bola foi bater em Tedesco que saiu correndo com
ela. E a linha toda avançou.
– Costura, macacada.
Mas o juiz marcou um impedimento.
– Vendido! Bandido! Assassino!
Turumbamba na arquibancada. O refle do sargento subiu a escada.
– Não pode! Põe pra fora! Não pode!
Turumbamba na geral. A cavalaria movimentou-se.
Miquelina teve medo. O sargento prendeu o palestrino. Miquelina protestou
baixinho:
– Nem torcer a gente pode mais! Nunca vi!
– Quantos minutos ainda?
– Oito.
Biagio alcançou a bola. Aí, Biagio! Foi levando, foi levando. Assim, Biagio! Driblou
um. Isso! Fugiu de outro. Isso! Avançava para a vitória. Salame nele, Biagio! Arremeteu.
Chute agora! Parou. Disparou. Parou. Aí! Reparou. Hesitou. Biagio Biagio! Calculou.
Agora! Preparou-se. Olha o Rocco! É agora. Aí! Olha o Rocco! Caiu.
– CA-VA-LO!
Prrrrii!
– Pênalti!
Miquelina pôs a mão no coração. Depois fechou os olhos. Depois perguntou:
– Quem é que vai bater, Iolanda?
– O Biagio mesmo.
– Desgraçado.
O medo fez silêncio.
Prrrrii!
Pan!
– Go-o-o-o-ol! Corinthians!
– Quantos minutos ainda?
Pri-pri-pri!
– Acabou, Nossa Senhora!
Acabou.
As árvores da geral derrubaram gente.

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Brás, Bexiga e Barra Funda

– Abr’a porteira! Rá! Fech’a porteira! Prá!


O entusiasmo invadiu o campo e levantou o Biagio nos braços.
– Solt’o rojão! Fiu! Rebent’a bomba! Pum! Corinthians!
O ruído dos automóveis festejava a vitória. O campo foi-se esvaziando como um
tanque. Miquelina murchou dentro de sua tristeza.
– Que é-que é? É jacaré? Não é!
Miquelina nem sentia os empurrões.
– Que é-que é? É tubarão? Não é!
Miquelina não sentia nada.
– Então que é? Corinthians!
Miquelina não vivia.
Na Avenida Água Branca os bondes formando cordão esperavam campainhando
o zé-pereira.
– Aqui, Miquelina.
Os três espremeram-se no banco onde já havia três. E gente no estribo. E gente na
coberta. E gente nas plataformas. E gente do lado da entrevia.
A alegria dos vitoriosos demandou a cidade. Berrando, assobiando e cantando. O
mulato com a mão no guindaste é quem puxava a ladainha:
– O Palestra levou na testa!
E o pessoal entoava:
– Ora pro nobis!
Ao lado de Miquelina o gordo de lenço no pescoço desabafou:
– Tudo culpa daquela besta do Rocco!
– Ouviu, não é Miquelina? Você ouviu?
– Não liga pra esses trouxas, Miquelina.
– Como não liga?
– O Palestra levou na testa!
– Cretinos.
– Ora pro nobis!
– Só a tiro.
– Diga uma cousa, Iolanda. Você vai hoje na Sociedade?
– Vou com o meu irmão.
– Então passa por casa que eu também vou.
– Não!
– Que bruta admiração! Por que não?
– E o Biagio?
– Não é de sua conta.
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Os pingentes mexiam com as moças de braço dado nas calçadas.


31
Antônio de Alcântara Machado

Comentário
Miquelina e Iolanda assistem à partida de futebol no Parque Antártica.
Miquelina torce para o Palestra, em que joga seu atual namorado, o Rocco. O
namorado anterior, Biagio, joga no Corinthians. Como Biagio é frequentador da
Sociedade Beneficente e Recreativa do Bexiga, ela trocou de time e deixou de
frequentar a Sociedade.
Durante o intervalo do primeiro tempo, Miquelina pede ao seu irmão para
procurar pelo Rocco no vestiário e recomendar que ele quebre o Biagio.
No segundo tempo, faltando oito minutos para terminar o jogo, Rocco
segue as recomendações e faz pênalti em Biagio, que converte o lance em gol e
desempata para o Corinthians.
A torcida corinthiana comemora a vitória. Na volta para casa, no bonde
lotado, Miquelina escuta ofensas dirigidas ao Rocco.
À noite, Miquelina pede a Iolanda que ela e o irmão a levem à sociedade,
onde pretende ver Biagio.
O conto registra como era uma partida de futebol e como se comportava
a torcida; o que acontecia após o jogo; os casos de amor entre jogadores e tor-
cedoras; a rivalidade entre as duas torcidas. Alcântara Machado fixa no conto
alguns aspectos da sociedade paulistana nos bairros italianos durante e após
uma partida de futebol.

Notas biográficas de um novo deputado


O coronel recusou a sopa.
– Que é isso, Juca? Está doente?
O coronel coçou o queixo. Revirou os olhos. Quebrou um palito. Deu um estalo
com a língua.
– Que é que você tem, homem de Deus?
O coronel não disse nada. Tirou uma carta do bolso de dentro. Pôs os óculos.
Começou a ler:
Exmo. snr. coronel Juca
– De quem é?
– Do administrador da Santa Inácia.
– Já sei. Geada?
– Escute. Exmo. snr. coronel Juca. Rospeitosas Saudações. Em primeiro
lugar Saudo-vos. V. Ecia. e D. Nequinha. Coronel venho por meio desta res-
peitosamente comunicar para V. E. que o cafezal novo agradeceu bastante as
chuvarada desta semana. E tal e tal e tal. Me acho doente diversos incomodos
divido o serviço.
– Coitado.
– Mas não é isso. O major Domingo Neto mandou buscar a vacca... Oh
senhor! Não acho...
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Brás, Bexiga e Barra Funda

– Na outra página, Juca.


– Está aqui. Vá escutando. Em último lugar, vos communico que o seu
comprade João Intaliano morreu...
– Meu Deus, não diga?!
– ... morreu segunda que passou de uma anemia nos rim. Por esses
motivos recolhi em casa o vosso afilhado e orpham Gennarinho. Pesso para
V.E. que me mande dizer o distino e tal. E agora, mulher?
Dona Nequinha suspirou. Bebeu um gole de água. Mandou levar a sopa.
– E então?
Dona Nequinha passou a língua nos lábios. Levantou a tampa da farinheira.
Arranjou o virote.
– E então? Que é que eu respondo?
Dona Nequinha pensou. Pensou. Pensou. E depois:
– Vamos pensar bem primeiro, Juca. Não coma o torresmo que faz mal. Amanhã
você responde. E deixe-se de extravagâncias.
Gennarinho desceu na estação da Sorocabana com o nariz escorrendo. Todo chibante.
De chapéu vermelho. Bengalinha na mão. Rebocado pelo filho mais velho do administrador.
E com uma carta para o Coronel J. Peixoto de Faria.
Tomou o coche Hudson que estava à sua espera.
Veio desde a estação até a Avenida Higienópolis com a cabeça para fora do auto-
móvel soltando cusparadas. Apertou o dedo no portão. Disse uma palavra feia. Subiu as
escadas berrando.
– Tire o chapéu.
Tirou.
– Diga boa noite.
Disse.
– Beije a mão dos padrinhos.
Beijou.
– Limpe o nariz.
Limpou com o chapéu.
...........................................................................................................................................

Entre a carta recebida pelo coronel Juca comunicando a morte do compadre


italiano e pedindo instruções sobre o destino a ser dado ao afilhado órfão Gen-
narinho e a chegada dele à casa do coronel, o tempo é indicado por um espaço
em branco entre os dois acontecimentos.
Afeiçoando-se ao menino, o coronel e sua esposa não tardam a aportugue-
sar o nome do menino para Januário e acabam por matriculá-lo num colégio de
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padres, o Ginásio de São Bento.


33
Antônio de Alcântara Machado

O coronel em pessoa leva o menino para a escola, no carro fechado, com


motorista. A merenda do menino foi preparada por Dona Neguinha.
O menino é apresentado ao reitor do colégio como Januário Peixoto de Faria.
O coronel seguiu para o São Paulo Clube pensando em fazer testamento.
O título do conto contém certa dose de ironia, pois as notas biográficas contêm
um detalhe importante, que vem a ser a adoção do menino pelo coronel, motivo
mais que suficiente para introduzi-lo no seio de uma família tradicional e fazer dele
um deputado. Assim nasciam os deputados em São Paulo, ou seja, nada como um
padrinho importante para se conseguir um cargo na política brasileira.

O monstro de rodas
O Nino apareceu na porta. Teve um arrepio. Levantou a gola do paletó.
– Ei, Pepino! Escuta só o frio!
Na sala discutiam agora a hora do enterro. A Aída achava que de tarde ficava melhor.
Era mais bonito. Com o filho dormindo no colo Dona Mariângela achava também. A fumaça
do cachimbo do marido ia dançar bem em cima do caixão.
– Ai, Nossa Senhora! Ai, Nossa Senhora
Dona Nunzia descabelada enfiava o lenço na boca.
– Ai, Nossa Senhora! Ai, Nossa Senhora.
Sentada no chão a mulata oferecia o copo de água de flor de laranja.
– Leva ela pra dentro!
– Não! Eu não quero! Eu... não... quero!...
Mas o marido e o irmão a arrancaram da cadeira e ela foi gritando para o quarto.
Enxugaram-se lágrimas de dó.
– Coitada da Dona Nunzia!
A negra de sandália sem meia principiou a segunda volta do terço.
– Ave Maria, cheia de graça, o Senhor...
Carrocinhas de padeiro derrapavam nos paralelepípedos da Rua Sousa Lima. Passavam
cestas para a feira do Largo do Arouche. Garoava na madrugada roxa.
– ... da nossa morte. Amém. Padre Nosso que estais no Céu...
O soldado espiou da porta. Seu Chiarini começou a roncar muito forte. Um bocejo.
Dois bocejos. Três. Quatro.
– ... de todo o mal. Amém.
A Aída levantou-se e foi espantar as moscas do rosto do anjinho.
Cinco. Seis.
O violão e a flauta recolhendo de farra emudeceram respeitosamente na calçada.
Na sala de jantar Pepino bebia cerveja em companhia do Américo Zam-
poni (Salão Palestra Itália – Engraxa-se na perfeição a 200 réis) e o Tibúrcio
(– O Tibúrcio... – O mulato? – Quem mais há de ser?).
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Brás, Bexiga e Barra Funda

– Quero só ver daqui a pouco a notícia do Fanfulla. Deve cascar o almofadinha.


– Xi, Pepino! Você é ainda muito criança. Tu é ingênuo, rapaz. Não conhece a
podridão da nossa imprensa. Que o quê, meu nego. Filho de rico manda nesta terra que
nem a Light. Pode matar sem medo. É ou não é, Seu Zamponi?
Seu Américo Zamponi soltou um palavrão, cuspiu, soltou outro palavrão, bebeu,
soltou mais outro palavrão, cuspiu.
– É isso mesmo, Seu Zamponi, é isso mesmo!
O caixãozinho cor-de-rosa com listas prateadas (Dona Nunzia gritava) surgiu
diante dos olhos assanhados da vizinhança reunida na calçada (a molecada pulava) nas
mãos da Aída, da Josefina, da Margarida e da Linda.
– Não precisa ir depressa para as moças não ficarem escangalhadas.
A Josefina na mão livre sustentava um ramo de flores. Do outro lado a Linda tinha
a sombrinha verde, aberta. Vestidos engomados, armados, um branco, um amarelo, um
creme, um azul. O enterro seguiu.
O pessoal feminino da reserva carregava dálias e palmas-de-são-josé. E na calçada
os homens caminhavam descobertos.
O Nino quis fechar com o Pepino uma aposta de quinhentão.
– A gente vai contando os trouxas que tiram o chapéu até a gente chegar no Araçá.
Mais de cinquenta você ganha. Menos, eu.
Mas o Pepino não quis. E pegaram uma discussão sobre qual dos dois era o melhor:
Friedenreich ou Feitiço.
– Deixa eu carregar agora, Josefina?
– Puxa, que fiteira! Só porque a gente está chegando na Avenida Angélica. Que
mania de se mostrar, que você tem!
O grilo fez continência. Automóveis disparavam para o corso com mulheres de
pernas cruzadas mostrando tudo. Chapéus cumprimentavam dos ônibus, dos bondes.
Sinais da santa cruz. Gente parada.
Na Praça Buenos Aires, Tibúrcio já havia arranjado três votos para as próximas
eleições municipais.
– Mamãe, mamãe! Venha ver um enterro, mamãe!
Aída voltou com a chave do caixão presa num lacinho de fita. Encontrou Dona Nunzia
sentada na beira da cama olhando o retrato que a Gazeta publicara. Sozinha. Chorando.
– Que linda que era ela!
– Não vale a pena pensar mais nisso, Dona Nunzia...
O pai tinha ido conversar com o advogado.

ComentÁrio
O espaço em branco é empregado para demarcar o tempo e os ambientes da
casa. No primeiro parágrafo, na sala da casa, ante o desespero de Dona Nunzia,
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que perdeu a filha atropelada, vizinhos prestam-lhe solidariedade, velando o


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Antônio de Alcântara Machado

corpo da menina. Chove na madrugada. Ouve-se o barulho das carrocinhas do


padeiro e dos foliões que voltam para casa, pois é madrugada de carnaval.
Na sala de jantar, os homens discutem se quem atropelou e matou a menina
será punido ou fará parte do rol dos impunes da terra.
No dia seguinte, o enterro parte.
Durante o percurso até o Cemitério do Araçá, os acompanhantes falam
sobre futebol, alguns procuram ganhar votos para uma eleição, pessoas rendem
homenagem tirando o chapéu ou fazendo o sinal da cruz. Perto da Avenida An-
gélica, as moças disputam as alças do caixão.
Na última cena, uma das moças traz a chave do caixão para Dona Nunzia,
que admira a fotografia da filha publicada num jornal. O pai saiu para procurar
um advogado para tentar indenização.
O conto apresenta um contraste, um velório em pleno carnaval. Como o
olhar de Alcântara Machado procura registrar acontecimentos típicos, temos
aqui uma cena comum da realidade brasileira (comum desde o começo do sé-
culo): um motorista (certamente alguém da elite, pois o automóvel nessa época
é um veículo de pessoas ricas) durante o carnaval atropela e mata uma pessoa,
fugindo em seguida. Os aspectos do velório, do choro da mãe ao percurso pela
Avenida Angélica, justapostos à folia do carnaval, dão ao conto uma atmosfera
paradoxal, mostrando a tristeza dos pobres ao lado da alegria das pessoas bem
postas na sociedade paulistana.

Armazém Progresso de São Paulo


O armazém do Natale era célebre em todo o Bexiga por causa deste anúncio:

AVISO ÀS EXCELENTÍSSIMAS MÃES DE FAMÍLIA!


O
ARMAZÉM PROGRESSO DE SÃO PAULO

DE

NATALE PIENOTTO

TEM ARTIGOS DE TODAS AS QUALIDADES

DÁ-SE UM CONTO DE RÉIS A QUEM PROVAR

O CONTRÁRIO

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Brás, Bexiga e Barra Funda

N. B. – Jogo de bocce com serviço de restaurante


nos fundos.

Isso em letras formidáveis na fachada e em prospectos entregues a domicílio.


O filho do doutor da esquina, que era muito pândego e comprava cigarros no
armazém mandando-os debitar na conta do pai com outro nome, bulia todos os santos
dias com o Natale:
– Seu Natale, o senhor tem pneumáticos balão aí?
– Que negócio é esse?
– Ah, não tem? Então passe já para cá um conto de réis.
– Você não vê logo, Zezinho, que isso é só para tapear os trouxas? Que é que você
quer? Um maço de Sudan Ovais? E como é na caderneta?
– Bote hoje uma Si-Si que é também pra tapear o trouxa.
O Natale achava uma graça imensa e escrevia:
Duas Si-Si pro Sr. Zézinho - 1$200.
...........................................................................................................................................
O armazém de seu Natale e sua mulher está prosperando, antes só havia
uma porta e agora já possui quatro.
Natale observa a Confeitaria Paiva Couceiro, seu vizinho de frente, que
possui grande estoque de cebola, produto barato e por isso mesmo incapaz de
levar o português a quitar suas dívidas.
A esposa de Natale, Dona Bianca, diz ao marido que ouviu dos homens que
estavam no bocce que o preço da cebola vai subir, e sugere ao marido que aceite
o estoque do português como forma de pagamento de uma dívida.
O marido confirma a informação com o funcionário do Abastecimento José
Espiridião, que o aconselha a obter todo o estoque do português. O funcionário
do Abastecimento recebe do italiano a promessa de uma comissão.
Natale fecha negócio e comunica o fato à mulher, que coloca o filho para
dormir. A ocasião merece uma comemoração, ainda não com vinho italiano, mas
com cerveja.
A mulher, antes de dormir, olha para o filho doente e se imagina num caro
palacete da Avenida Paulista.

Nacionalidade
O barbeiro Tranquilo Zampinetti da Rua do Gasômetro não perde seu amor
pela Itália. Vibra a cada notícia que lê nos jornais sobre as vitórias da Itália na
guerra e surra os dois filhos que não querem falar italiano.
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Antônio de Alcântara Machado

O barbeiro sonha em regressar para a Itália, assunto que costuma conversar


com a mulher e os amigos, à noite, sentados nas cadeiras na calçada.
Um conterrâneo de Tranquilo, que aspirava a um cargo político, o convence
a votar aqui no Brasil, sem deixar sua cidadania italiana. O meio é ilegal, mas
Tranquilo experimenta e toma gosto pela falcatrua.
Com o passar do tempo, torna-se proprietário de vários imóveis, tem amigos
influentes e participa da política local. O filho mais velho, Lorenzo, fica noivo e
o mais jovem, Bruno, cursa o Ginásio do Estado. Quando solicitado a emprestar
dinheiro para a guerra na Europa, sua mulher protesta indignada. “Tranquillo deu
dois gritos patrióticos. Dona Emília deu três econômicos. Tranquilo cedeu”.
Pouco a pouco, o dinheiro o vai persuadindo a falar português. Ainda mais rico,
fecha a barbearia e manda construir uma capela para a família no cemitério Araçá.
Nasce seu neto brasileiro, filho de Lorenzo, e Bruno conclui o curso de
Direito. O primeiro trabalho do novo bacharel é o de requerer a naturalização
do pai, cidadão italiano residente em São Paulo.

Comentário
De cidadão italiano convicto, a ponto de surrar os filhos que não queriam
falar italiano, Tranquilo vai pouco a pouco se abrasileirando. O “abrasileiramento”
do italiano é apresentado de forma cômica, porque vêm a ser as práticas deso-
nestas que lhe conferem dinheiro e, por conseguinte, a nacionalidade brasileira.
A renúncia em voltar para a Itália pode ser constatada no fato de mandar erguer
uma capela para a família num cemitério paulista. Em outras palavras, Tranquillo
Zampinetti não retorna mais para a Itália nem morto.

5. Exercícios
1.
Texto 1
...) No fundo o imponente castelo. No primeiro plano
a íngreme ladeira que conduz ao castelo. Descendo a
ladeira numa disparada louca o fogoso ginete. Monta-
do no ginete o apaixonado caçula castelão inimigo de
capacete prateado com plumas brancas. E atravessada
no ginete a formosa donzela desmaiada entregando ao
vento os cabelos cor de carambola.
Antônio de Alcântara Machado, “Carmela”

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Brás, Bexiga e Barra Funda

Texto 2
(...) Íamos, se não me engano, pela rua das Mangueiras, quando voltando-nos, vimos
um carro elegante que levavam a trote largo dois fogosos cavalos. Uma encantadora
menina, sentada ao lado de uma senhora idosa, se recostava preguiçosamente sobre
o macio estofo e deixava pender pela cobertura derreada do carro a mão pequena que
brincava com um leque de penas escarlates.
José de Alencar, Lucíola

Nesses excertos, observa-se que a maioria dos substantivos são modificados por
adjetivos ou expressões equivalentes.
Comparando os dois textos:
a) aponte em cada um deles o efeito produzido por tal recurso linguístico;
b) justifique sua resposta.
2.
Alcântara Machado faz a seguinte apresentação para Brás, Bexiga e Barra Funda
em “Artigo de Fundo”:
Este livro não nasceu livro; nasceu jornal. Estes contos não nasceram contos: nasceram
notícias. E este prefácio portanto também não nasceu prefácio: nasceu artigo de fundo.
Dessa apresentação, pode-se concluir que:
a) os jornais brasileiros da época eram determinantes absolutos das vanguardas
artísticas e a literatura sofreu essa determinação.
b) o livro referido transformou-se em jornal, ou melhor, houve uma transposição
dos fatos e das personagens do mundo real para o literário.
c) o livro em questão é jornalístico, porque está preocupado em dar opiniões
sobre notícias da comunidade.
d) a linguagem do livro de Alcântara Machado, ao aproximar-se jornalisticamente
do cotidiano, afasta-se dos meios literários modernistas de sua época.
e) o livro está impregnado de uma atmosfera de reportagem, o que o aproxima
do jornal por captar o fato, o instantâneo da vida cotidiana.
3.
O conto “Gaetaninho” começa com a fala “Xi, Gaetaninho, como é bom!” e termina
com a seguinte afirmação: “Quem na boleia de um dos carros do cortejo mirim
exibia soberbo terno vermelho que feria a vista da gente era o Beppino”.
A fala inicial é de Beppino, mencionado também no último parágrafo.
a) A que ele se refere como sendo bom?
b) Ambos os trechos citados têm relação direta com o núcleo central da narrativa.
Que núcleo é esse?
c) Que relação há entre os nomes próprios e o título do livro?
4.
A obra Brás, Bexiga e Berra Funda, de Antônio de Alcântara Machado, foi escrita
em 1927. Dessa obra como um todo, é possível afirmar que:
a) configura a vida do imigrante italiano e do ítalo-brasileiro, em processo de
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aculturação na cidade de São Paulo.


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Antônio de Alcântara Machado

b) representa a caricatura do brasileiro classe média, homem da cidade, vivendo


momentos de revolta e indignação, arroubos de patriotismo e comicidades
cotidianas.
c) faz uma sátira às raças que constituem a nacionalidade brasileira: a que estava
aqui, a que veio nas caravelas e nos porões dos navios e a que os transatlânticos
trouxeram da Europa.
d) descreve a Europa em situações vividas pelo português, pelo espanhol, pelo italiano,
pelo francês etc., num cenário consoante à rapidez turística da viagem do autor.
e) busca, no tema do homem brasileiro, o recorte paulistano da família bandei-
rante, de raízes históricas e de tradições sociais.
5.
Em Brás, Bexiga e Barra Funda, Antônio de Alcântara Machado registra aspectos
do cotidiano dos imigrantes italianos ou “novos mamalucos”, a quem declara
homenagear com seus contos. Diz o autor em seu “Artigo de fundo” que a origem
dos onze contos é jornalística, pois eles registram cenas paulistanas, apresentadas
como notícias efêmeras, com grande objetividade. Isso significa que o autor:
a) pretende fazer uma complexa análise psicológica das personagens.
b) pretende analisar as relações sociais entre os imigrantes italianos e os brasi-
leiros de São Paulo.
c) deseja apenas registrar cenas da vida cotidiana dos bairros habitados princi-
palmente pelos imigrantes italianos.
d) deseja apenas registrar cenas da vida cotidiana dos bairros habitados prin-
cipalmente pelos imigrantes italianos, empregando, para isso, recursos da
sociologia e da psicologia.
e) tem como objetivo maior apresentar a contribuição intelectual e acadêmica
do imigrante italiano na constituição da cultura brasileira.

GABARITO
1. 2. E
a) Os adjetivos ou expressões equivalentes con- 3.
ferem às cenas um clima de beleza e luxo. No a) Beppino referia-se à sensação agradável de
texto 1, há ainda uma questão de paixão, de passear de carro, passeio que ele realizou
amor proibido. Em ambos os textos ocorre durante o enterro de sua tia Peronetta.
também a idealização da realidade. b) Trata-se do sonho de Gaetaninho de desfilar
b) O clima de sofisticação e beleza revela-se em ad- de carro.
jetivos como “imponente”, “fogoso”, “formosa”, c) Os nomes das personagens são de origem
“de capacete prateado”, “com plumas bran- italiana elas habitam os bairros (Brás, Bexiga
cas”, no primeiro texto; “elegante”, “fogosos”, e Barra Funda) que dão título ao livro.
“encantadora”, “de penas escarlates”, no segun- 4. A
do texto. A paixão, no primeiro texto, é indicada
5. C
pelos adjetivos “apaixonado” e “louca”.

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