Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
PERGUNIE
E
RESPONDEREMOS
ON-LlNE
Um livro Im loco:
ANJOS E DEMONIOS : REALIDADE OU MITO? .. ... . . . .• . 435
Um problema blbllco;
O CHAMADO "COMA JOANEU" (I Jo 5,11>-81) ",
Vala tudo?
"O AOUlT~RIO NÃO MAIS SERÁ CONSIOERADO CRIME" ? "2
COM APROVAÇAO ECLES'.4.STtCA
• • •
NO PRÓXIMO NOMERO :
Relo(õe, sexuais onles do CO lamento: o r:lebo:o ( o nlem-
poróneo. - As (rv~odcu medievais: obscurantismo o u
heroísmo? - E o mensagem do gola?
- - --x
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS ,.
Assinatura anual . . . . . .. . .. .. . C rS JOO!1
Número avulso de qualquer mcs . . . Cr$ 4,00
VOIUrrK!8 cncadcrn.3dO!li de 1958 e 1959 ( prcc:o unllârlol c.:rS 35,00
Indlce Geral de 1957 a 1004 . ..... ..... . ... . . . . . . . . . _. . . . Cr$ 10,00
Indlce de qual'1uer ano ..... .... . .. . C l"S 3,00
EDITORA LAUDES S. A .
REDACAO DE PR ADI\IINISTRAÇAO
Caixa Postal 2 .666 Rua Silo Rn fRei . 38. ZC·(lfl
zc-oo 20000 Rio do Janeiro ( aO )
!oono Rio ele Janelrn (001 TeIJII.: 263·0081 t! 2tJ3.!7IHi
o SEGREDO DA FELICIDADE
A procura da Felicidade corresponde a um dos anseIos mais
espontâneos do ser humano. Embora. os filósofos tenham con-
cebido as mais diversas creceitas» para proporcionar o encon-
tro da felicidade, a rotina da natureza. sugere que ela se encon·
trará em boa parte (se não exclusivamente) no cpresel'Val'--se
de incômodos»: .Para que fazer pOr mais . . . quando posso fazer
por menos? 1:: esta a filosofia da pOupança de si mesmo e da
subtração.
A experiência muitas vezes - mas nem sempre - com-
prova esta filosofJa ou creceita. de felicidade. Por mais irô-
nico que isto pareca, o poupar-se não é sempre fonte de alegrJa
e bem-estar; ilude o homem e. depois, deixa-o decepcionado.
Consciente desta verdade. a escritora Marina Colasantl
leva-nos a olhar em torno de nós e refletir um pouco:
EU SEI, MAS NAO DEVIA
"Eu sei que 8 gente 88 As bactérias da água potével.
acostuma. A contaminação da é.gua do
mar. A lenta morte dos rios .
Mas nAo devia. Se acostuma a nao ouvir pas-
A gente se acostuma a mo- sarinhos, a não ter galo de
rar em apartamento de fundos . madrugada, a temer a hidro-
e a não ter outra vista que nAo fobia dos cães, a não colhe,
as janelas ao redor. E, porque fruta no pé, a não ter sequer
não lem vista. logo se acostu· uma planta.
ma a não olhar para fora. E,
porque não olha parJ tora, lo- A genle se acostuma a col·
go se acostuma a nl o abrir de sas demais, para nAo sofrer.
todo as corllnas. E, porque Em doses pequenas. tentando
não abre as cortinas, logo se não perceber; vai afastando
acostuma a acender mais ce· uma dor aqui, um ressenti-
do a luz, E. à medida que se mento ali, uma revolta acolá .
acostuma, esquece o sol, es· Se o cinema eBté cheio, a
quece ·0 ar, esquece a ampli· gente senta na primeira fila e
torce um pouco o pescoço. Se
dao ... a praia está contaminada, a
A gente se acostuma à po- gente molha s6 os pés, e sua
luição, As salas fechadas, de no resto do corpo . Se o tr:lba-
ar condicionado e cheiro de Ino está duro, a gente se con-
cigarro. A luz arliflcial. de 11· 80la pensando no fim de se-
gelro tremor. Ao choque que mana. e, se no fim de sema-
os olhos levam na luz nalural. na, não há muito que fazer, a
- 421-
gente vai dormir cedo e ainda laca e da baioneta, para pou-
fica satisfeita, porque tem par o peilo.
sempre um sono alrasado .
A gente se acostuma para A gente se aC.:lstum a para
não se rala r na aspereza, para poupar a vida ... A vida que
preserva r a pele. Se acostu- aos poucos se gasta e que,
ma para evitar feridas, sangra- 9asta de tania se acostumar.
menlos, para esqu ivar-se da se perde de si mesma".
- 422 -
«PERCiUNTE E RESPONDEREMOS»
Ano XIV - Nt 166 - Outubro d. 1973
A linguagem do pa ••ado:
• • •
Comentário: O . 0 Estado de São Pau!o::o, de 6 e 8/N!73,
noticiou uma descoberta «sensacional» feIta na terra de Israel
e assim divulgada pelo mesmo jornal em sua edição de 6(IV(73:
-423 -
, cPERGUN'l'1:: E H8SPON1)EREMOS" 161.i/1973
- 428-
_ .__ ••_q.P:I:~{\""y~RSÃO DOS MANDAMENTOS?
,
vam recintos para depositar vIveres (dispensa) e instrumentos
de trabalho. Ao sul de Qwnran, ou seja, no oásis de Ain-
-Feshkha, os monges tulUvavam a terra e proviam à alimen·
tação da comunidade. Todavia não se encontraram dormitó-
rios nas ruinas de Qumranj ê o que ieva a crer que os monges
- todos ou quase todos - passavam as noites em tendas ou
grutas dos arredores do grande edif1cio onde oravam e traba-
lhavam conjuntamente. Levando-se em conta o número de tú-
mulos encontrados no cemitério, que deve ter servido ao mos--
tClro durante dois séculos, julga-se que no período âureo da
oc'1Jpação monástica a comunidade podia constar de duzentos
membros.
Embora, como dito atrás. numerosos historiadores IdenU-
tlquem os habitantes de Qumran com os essêniO$, há Q1.1em
prefira guardar reserva sobre o assunto. Como quer que seja.
esses moradores do deserto eram judeus movidos de espiritua-
!idade férvida e rigorosa.
3 . Com efeito, o dia em Qumran era consagrado ao tra-
balho man1.l81 e uma terça parte da noite (o serão) decorria
em estudo de textos btbllcos e oração. O sábado era rigorosa-
mente observado, com abstenção de toda atividade profana.
Os monges trajavam a veste sacerdotal de cor branca e subm~
liam-se d1.1rante o dia a diversas abluções e banhos rituais; a
pureza exterior devia exprimir e fomentar a pureza interior.
O candidato Que quisesse anexar-se à comunidade, devia
exercitar-se durante um primeiro ano (que hoje se chamaria
cpostulantado»), ao qual se seguiam dóis anos de provação
severa. As etapas de admissão na comunidade eram assina-
ladas peta entrega da veste branca, a partlclpação nos banhos
rituais e, por fim. o acesso 11. refeição sagrada, que tornava o
canc11dato membro da comWlldade com plenos dire1tos. Antes
da admlssio definitiva, o noviço se comprometia por ~uramento
solene a cconverter-se à lei de Moisés, segundo tudo que ele
prescreveu, com todo o coração e toda a alma •.
Os bens que o novo membro possuisse, eram entregues
ao superintendente da comunidade. Caso não respeitasse as
regras do convivio fraterno. era wbmetJdo a sanções, entre as
quais a exclusão temporária ou definitiva ou mesmo 8 pena
capital.
A cOmunidade de Qumran era distribuida em grupos de
dez membros, cada um dos quais tinha à frente um sacerdote,
- 429-
la cPERGUNTE E RESPONDEREMOS» 166/1973
3. O (Manuscrito do Templo))
Escreve o Pro!. Yadln Que tal manuscrito em 1967 lhe
chegou às mãos sob tonna de um rolo de 5 'Cm de diâmetro. FoI
aberto cautelosamente por processos especta11udos: exposto
durante certo tempo (sob vlglllncia continua) à umidade de
759'0 • o pergamInho amoleceu-se. dando finalmente uma longa
folha d~ R,6 m de comprimento e 0,1 mm de espessura. I Os seg-
mentos Que por cste processo não se descolaram ou abriram.
foram fotografados, em Infra·vermelho, u1tra·violeta e com o
tluxíllo de ralos X _ o Que posslbnltou obter informação fiel
do conteúdo do mant1S(!rlto em foco.
Este foi CElpiado por um escriba hábil de Qurnran. que usou
o estilo chamado cherodJano.; Isto quer dizer que a data de
origem de tal manuscrito oscila entre 50 a .C. e 30 d.C.; pode'
.se crer mesmo, com bom fundamento, que se;Ja. anterior a ·
SOa.C .
O texto do rolo aborda quatro temas:
1) prescr:lçóes religiosas referentes, entre outras coisas.
à pureza e à impureza rituais; o Pentateuco· (ou a Lei de
-430 -
OUTRA VERSÃO DOS MANDAMENTOS? 11
3 .3 . O Templo
- 434-
Um livro em foco;
-435 -
lU ._ _.. d~J;:!119~~,q:I·:_I~_ . f!._~~N~ER~~OS:. l~~!~?!- . _ _._
conccl'ncntes aos anjos e demônios, Dentre esses vãrios escritos,
merece especial atenção, peJa. riqueza de seus dados e pela
seriedade com que os aborda, o Uvro de Georges Tavard (em
colaboração com André Caquot e Johann Michl): eLes Anges.
(coleção cHlstoire dcs dogmes., tomo ll: cDieu Trlnlté, Lo
Creation, Le Péche», fasclculo 2 b) ,t
Visto que se trata de uma das obras mais recentes e do-
cumentadas sobre o assunto, apresentaremos, nas pãginas
que se seguem, um resumo do seu conteúdo, visando assim
contribuir para esclarecer uma questão Que multo- interessa ao
nosso público no Brasil.
1. Fundamentos bíbli«õ$
o mencionado livro de Tavard consta de 245 páginas,
distribui das em sete capitulos, Que abordam a mensagem bibUca
l'eferente aos anjos e à história dessa doutrina até nossos dias
(Incluindo a consideração do pensamento dos cristãos orientais
e da teologia protestante),
A presente resenha dará ênfase principalmente à análise
biblica, que se deve a André Caquot (Antigo Testamento) e
Johann Michl (Novo Testamento).
- 436-
ANJOS: MITO OU HEAUOA.oE'!
. - - 17
entre si. Note-se, por exemplo, o caso da visita dos três perso-
nagens a Abraão em Gên 185 (um deles fala como se fosse o
próprio Senhor); o aparecimento do anjo do Senhor e do pro-
prio Senhor na sarça ardente, em :E:x 3, 2-12; a vocação de Ge-
deão devida a um anjo do Senhor e ao próprjo Senhor (cf .
Jz 6,11-18).. . A contusão, nesses casos, entre o anjo e o
Senhor não é senão Ilusória; segundo as regras Iiteririas dos
antigos, O mensageiro 80 enunciar 8 mensagem de quem o en-
viou, usa sempre 11- priméira pessoa do singUlar, repetindo pa-
lavra por palavra o que o seu Senhor lhe disse. Por conseguin-
te, nos textos blblfcos citados é o anjo quem aparece e faJa, de
tal modo, porém. que o próprio Deus por ele quer manifestar
seus desígnios aos homens.
4 . Um dos títulos. que cal'acterizam os anjos nos textos
poê-tlcos, é o de beney Eldhlm, filhos de Deus. São, por exem-
plo, os filhos de Deus que aclamam o Senhor, segundo o salmo
28,1 e J638,7, como o aclamam os anjos em 51102,20 e 148,2. O
titulo evoca um motivo comum da poêSla e da mitologia dos po-
r vos de Canaã prê-israelltas; estes concebiam a Divindade Su-
prema, El, ólssentada em seu trono em melo a uma corte ou mul-
tIdão de divindades subalternas, que tinham os nomes genéricos
de «deuses_ (11m), «santos. (bD qdsf1) e etihos de eus::t (bn ilm).
A instauração da monarquia em Jerusalém deve ter inspirado
entre os israelitas semelhante concepção: Javé, o único Deus,
foi entendido como Rei elevado, cercado de sua corte de ctUhos
de Deus. (que, no caso, são OS anjos), os quais O adoram e
Lhe servem, e entre os quais Ele recruta, como um Soberano
da terra, os seus embaixadores e encarregados de missão. O
prólogo do lIvro de J6 é tlplco a este propósito, pois mostra
como Deus reune periodicamente os dilhos de DeUS;& ou anjos
para ouvir os seus relatórios (cf. Jô 1,6; 2,1).
5 . As mais antigas tradições não distinguem, entre os
anjos, personagens diferenciados uns dos outros por traços par'
ticulares. Após O exilio (587·538 a.C. ), porêm, nota-se a indi-
vidualização de Cêrtos anjo!, que chegam a ter nome próprio,
muitas veies relacionado com a função especifica que exercem.
O contato de Israel exilado com os documentos da cultura ba·
bilãnlca pode ter Inspirado wna nova maneira de representar
a corte divina, maneira mais variada e mais rica. Tenham-se
em vista, por exemplo, 8S visões do profeta Zaearlas: o anjo
do Senhor ai aparece como personalidade distinta e eminente,
à guisa de Prlmelro Ministro da corte divina, pois é ele quêm
recebe os relatos dos Inspectores que Deus enviou para visitar
- 438-
ANJOS: MITO OU REALIDADE?
-440 -
ANJOS: MITO OU REALIDADE? 21
- 442-
____________ ~~N~J~OS~:~M~lTO~~O~U~RE~A~U~D~A~D~E~'__________ ~
o antagonismo de tais seres celestiais ao plano de Deus e
ao bem dos homens não é cJaramente elucidado pelos textos
b1blicos. O tato de algwlS se mostrarem fiéis a Deus, enquanto
outros se lhe opõem, poderá ser expllcado, como no caso dos
anjos propriamente ditos, por uma opção livre e perversa Que
principados. dominações, tronos . .. fizeram no inicio da sua
história.
Not.c-se que principados. potestades, tronos.... comI)
também os querublns e serafins do Antigo Testamento, jamais
são chamados canjos:t nas Fscrtturas. - Isto se expUca pelo
tato de que canjo:t é nome derivado da fwlçã.o exercida por
certos seres celestiaJsj estes são ditos anjos quando fazem as
vezes de emissários ou mensage1ros. Todavia. os nomes diver·
sos das crl4turas celestiais MO nos obrigam a crer que tenham
naturezas diferentes; a Tradiçáo cristã sempre viu nos seres
celestiais de que faJa a Escritura, uma só grande categoria de
criaturas.
-444 -
25
2. Tradição cristõ
No decorrer da história do Cristianismo. a fê nos anjos
professada pelos textos bibllcos foi sendo objeto de aprofunda-
mento. Este não esteve Isento de desvios e aberraeõe9, que a
consclência da Igreja denunciou oportunamente.
Abaixo realçaremos al)@nas um ou outro tópico da hlst6-
ria da crença nos nnjos após os es~rltos do Novo Testamento.
1. Nos primeiros séculos, o agnosticismo e 8 filosofia
neoplatônlca sugeriram Interpretações não cristãs da doutrina
dos anjos. Estes seriam emanações da substância divina - o
que redundaria em professar o pantelsmo, em lugar do mono-
telsmo blblico.
-445 -
2G ..,PEIlGUNT8 E Rt.:SPONlJl::REMOS~ l(j(j) 1973
Comenta Tavard:
"$ti queremos lavar em conta o contexto histórico Imediato, poOemo.
alltmlr I plena autotldld. do Conefllo no loeante .lOS pontos segullim :
1) As criaturas eaplrllull. fotam criadas pela o",po'6ncll de DeVI;
o ato criador asllm .. opõe .. amanaçlo:
2) a crlaçlo comaçou no lampo, contrarlamante • Id61e da ume cria-
çlo e'ema:
31 loda. 1$ criaturas foram criadas boa.;
.c) alguma. dantr. elu lomaram-se mas por própria IniclaU."a" (p. 155).
9. A toologla dos orientais separados de Roma conservou
a crença nos anjos. bOns e maus até nossos dias, exprlmlndo-a
de maneira enfática mormente por ocasião das celebrações U-
túrglcas.
10 . Quanto às denominações protestantes, a pa.r:Ur do
séc. xvm começaram a pôr em xeque a exiStencla dos anOS
bons e maus como sendo dogma «paplsta:t. Esta atitude se
pode explicar por dois fatores:
- 447
28 PEnGUNTE I·; RESPONDEREMOS:. 16fi/ 1973
3. Recapitulação e perspectivas
-448 -
_ _ ____ _ _ _ ANJOS : MITO OU REALIDADE?
-449 -
;::u__ _ _ _!~§.RCU~.!!'t..~_ RESPONDEREMQ~1~6/1973___._ _
4. Gonclusõo
- 450-
Um problema blbllco:
-451-
~_ __ ._. c PERCUNn~ E RESPONDEREMOS:. 166/ 19'73
Ou em português:
"7 . .. Pois três são os que dão testemunho Ino céu: o Pai,
o Verbo e o Espfrlto Santoi e estes três eslio de acordo entre
,I. 8 E Ir65 ,ao OI que dlo teslemunho na terra] : o Esplrlto , a
.água e o sangue, e estes três estAo de acordo entre 51" .
- 452-
o CHAMADO .. COMA JOANEU~ 33
- 453-
bem ponderadas, mOClcr",das pelo culdalJo quo a Imponência da qUBslAo
IJ(~., podariam inclinor.... li negar a aurôlnrh:fdade oe 1 .JO 5,1·8, desde
qu pr<rIHS8ssem aullmlssl1io ao juIzo da Igreja, a quam J811US I,;rislo
C<WIlIou a la. a'. nAo somante da Interpretar. mas lambem da guel Oer 11111·
mente ai Sagradas e..crllUlas",
-454 -
o CHAMADO «COMA JOANEU.
texto não consta mais das ed1cÔes biblicas, que assJm apresen-
lam a passagem em foco:
"7 Porque trés são os que dlo testemunh.o: 8 o Esplrito,
a água e o sangue; e os três esHio de acordo".
Algumas edicões portuguesas ou brasUeiras da BIblla ainda
referem ao pé da página a antiga versão ampla, portadora da
mençt.o do paj, do Verbo e do Espirito Santa. OUtras edJções,
porém, IlÜO se referem em absoluto ao Coma,
Importa-nos agora analisar quais as razões que levam a
recusar a autenticidade das palavras controvertidas de 1 Jo 5,7s.
Tais razôcs derivam-se, como dito, do exame dos manus-
critos que nos transmiUram através dos séculos o texto de 1 Jo.
Esses manuscritos sAo gregos (ou orientais, de modo geral) e
latinos. Note-se que o texto (Iriginal de 1 Jo é o grego, e náe. o
latino.
Comecemos por examinar a tradição oriental para depois
passar aos manuscritos latinos.
1. Tradição orientol
1. Dentre as centenas de manuscritos gregos que apre-
sentam através da. h1stórla o texto de 1 Jo, apenas quatro (e
quatro manuscritos que tiveram oriJem no Ocidente) contêm
o chamado «Coma Joaneu». Ei-los:
1) Codelt il4lghlll. conservado em Nápoles e datado do
sé<: . XII. O Coma Joaneu ai se encontra não no texto, mas em
margem. Parece ser wna glosa Introduzida por um blbUotecârio
do '""'. xvn.
2) Codex Bavlanus, de Berlim, datado do séc. XVI. O
Coma' ai figura normalmente, mas ·o «Codex RavlanusJo parece
ter sofrido aeréscimos para se tomar corúorme a outras edições
do Biblla.
3) Codex Ottobonlanus, conservado no Vaticano. Data
dos séc. XV ou XVI. lt código b1llngUe (grego e latino) . Con-
~m o Coma no texto grego, mas, como julgam os criticas, o
Coma aí resulta da tendência dos copistas a harmonizar o
texto gl'(!go com o texto latino de 1 Jo. O Coma não parece,
pois, escrito de primeira mão no texto grego.
-455-
lU ..."PERCUN'I"E E RESPONOI:;HEMOS~_lli6/ 1973
2. Tradis:ãô ocidental
Distinguiremos o texto da Vulgata Latina (que da ta do
séc. V), as versões latinas anteriores à Vulgata e o testemunho
dos escritores cristãos antigos do Ocidente.
1 .1. Vulgata LaHna
-456 -
o CHAMAOO " COMA JOANEU:. 31.
- 458-
o CHAMADO .COMA JOANEU. 39
A propósito veJa-.e:
"La Salnte Blble" de Plrot-Clamer, \. XII. porls 1946, pp . 510-514.
A. Lemonnyer, "Commo Jonannlqu.", em "011:1100001,. da lo Blblo.
$uPPlémanf publté sous la dlrtcllon da Louls Plrot". t . I . Parts 1828,
col . 87-73.
E. Rlgganbl.eh, "Oas Comma Jahanneum". GuteralClh 10211.
J . l.brelon, "Hlstolrl du dogma de lo Trlnlté das origina. lU Concite
da Nte.e", I. I. Parll. 2' . ed., p. 1927 (noto K).
- 461-
Vale lucfo?
Em ,Inl... ; A l e~ l sl. "ve ja" (le S/IX/ 1973, p , 60, publicou uma c16·
nlca que a muitos leitores pareceu Insinuar llbertlnismo e revoluçAo de cos·
lumes nos pr6~lmos tempos da Igre ja: ad ul'e rlo, estupro, sodoml • . . . nlo
mais seriam consIderados crimes.
Ora a nollcl3 se rossente de led3çlo Inexata e sensacionalista. N.
verdade, econtace que a IgraJe esla procedendo à revlsAo do Direito Ca·
nônlco, a 11m de lorn4·lo Instrumenlo Que assegu/e (lInda com mels el1cAcla
a dl gnldada de coslumes nos IImblllnlos católicos . Entre os obJa:os de ra·
vlsilo, esla o Código Penal que recorre freq Oe ntemente a consuras 18X·
comunhlo, st.Jspenslo, Interdito) om termos que hoje em dia nilo preenchem
mais a linalidade de toda fi QUllIQuer pona. (que liá de ser tempro rnedkl·
nal), A posslvel au prasslo de certas penas ou censuras de toro externo
es ta long8 de slgnlllcllr que as lallas ou os pecado:; aos quais leia pena,
ostavam an8 .. 5, deh{a rlo de ae r 'aUas ou pecad05. Por conseguinte, odu['
ttrlo, SOdomia e male, congênere, jama!, se/lo (nem poder40 ser) tegln·
mados pela S. Igreja; lorlo sempre pecados. embora nlo sompre punidos
por tal ou lal pona pública.
Quanto li IndllSolubil!dade do casame nto, QUe a crOnlea de "VeJa"
pa/"Oce deixa r tob Intarrogaçlo, ela tol raaf!rmada recentemente por Impor·
lanle documenlo da Sanlll Sé, Que vai I,on:;erllo na segunda parte d o proseI')-
lo arUgo .
• •
Comentá.rio: A revista ..Veja., em sua edição de 5 de se-
tembro de 1973. p. GO, publicou uma crônica com o titulo
.: Abertura canônica», rcrerente fi rerorma do Código de Direito
Canônico que esta sendo realizada na Igreja Católica. O texto
dcssa noticia se- abre com as seguintes p.1lavras:
"O adul1êllo nlo mais ser. considerado crime. Os estupradorel. OI
IncestuolOS, OI bastlals, OI sodomltas, os e~plorad o res do lenocfnlo nlo
mais serAo declarado, Infames e exclu[c!os dos alo9- eclesiásticos ... Parece
limo; revoluçEio completa. Ma, ,So axalamen te esses algumas de! modlll·
caçOes proposta, pela comlulo e ncarregada de reformer o Código de OI·
relto Cen6r.Jco, Inalterado desde 1917. O, 170 membros e consultoru pon·
- 462
VALE TUDO? 43
mlclos, nomoldos n6 dez; an~ pita mudar a leglslaçlo eçIH"atlc., leva-
ram em conla nio aplnls a -evoluçlo da ciência Jurldlca. mas sobretudo
:. esplrllo do Concilio do Vaticine .. ".
sem que haja processo prévio; são penas ditas «lalae senten-
tioe:., isto é, dev1das a uma sentença proferida de antemão, uma
vez por todas, sobre todo e qualquer réu desse crime ou daque-
le delito. Pessoas atingidas por certas penas podiam ser consi-
deradas doravante infames; outras, depois de excomungadas,
deveriam ser evitadas pelos fiéis católicos. _ Verifica-se, porém,
que o grande número de tais penas ou censuras não logra o
efeito desejado, que há de ser sempre medicinal. Com oUtras
palavras:. .. não concorre para reprimjr os delitos, mas, ao
contrário. ocasiona situações jurldicas embaraçosas e novos pro-
blemas moraJs. Na verdade, pode acontecer, elltre outras coisas,
o seguinte: multas pessoas que cometem delitos nos quais uma
censura está anexa, ignoram tal censura e suas conseqüências.
Além disto, não se entende bem, hoje em dia, que alguém deva
ser punido no foro externo sem ser anteriormente julgado me-
diante um processo que verifique o grau de responsabilidade
e culpa que lhe tocou.
Por conseguinte, são QS censuras ou punições de foro ex-
terno ou público que os canonistas da Igreja estão revendo; em-
penhar-se-ão para que não entrem no novo Código de DIreito
sem que ha1a probabilidade real de serem medicinais e conco~
rercm para o bem da Igreja e da sociedade.
Estas ponderaçõcs. POrem. não querem dizer que os crimes
aos quais não se anexará mais tal ou tal sanção (excomunhão,
suspensão, Interdito), deixarão de ser crimes ou de ser faltas
morais, O adultério, por exemplo, a fornicação, o estupro, a
sodomia e males semelhantes continuarão a ser sempre con-
siderados faltas em si gt"aves e abomináveis, que um cristão
jamais poderá cometer licitamente.
Numa palavra: a reforma do Direito Canônloo não se re-
ferirá, em absoluto. à noeão de pecado; nada inovará na concei-
tuação e classiflcacão dos pecados. Estes são julgados pelos cri-
térios da Moral, que são critérios baseados, em última análise,
na lei natural (lei perene e universal, impressa por Deus na
consciência de todo homem e explicitada pelas auténlic-dS leis
positivas dos homens).
2. O citado artigo de f: Vejaa menciona tambêm a legis-
lação matrimonial da I greja.. Entre outros tópicos, ao abordar
o casamento uato e consumado:., afirma:
"Qualquer violência cometida por um dos cOnJuges poder' dar dlreilo
ao oulro de pedir a anulaçAo do easamenlo a um tribunal ecleslésllco".
- 464 -
Esta frase, ambigua e lacónica, parece insinuar a alguns
leitores Que n Igreja pensa em aceitar o divõrclo (anulação de
casamento vãlido e consumado). Ora não é realmente esta a
Intenção da S. Igreja: a indissolubilldade do casamento consu·
mado tem fundamento no conceito de matrimônio sacramental,
que a 19reja não tem autoridade para retocar.
A fim de evidenciar quanto seria errôneo julgar que aS .
Igreja se estã ~l"Icamin h ando para a aceitação do divórcio, vai
abaixo transcrito um documento dll'igido peJa Santa Sé aos
bispos do mundo inteiro em dato. recente.